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TEXTO DE APOIO – SOCIOLOGIA – 1º Bim. Surgimento da Sociologia A Sociologia é uma ciência social que surge em consequência das ideias iluministas e da busca de diferentes intelectuais de compreender a sociedade e suas dinâmicas. O principal fator social que conduz ao surgimento deste campo de conhecimento foi a Revolução Industrial e suas consequências, como a divisão do trabalho e o processo de urbanização. Autores como Karl Marx, Friedrich Engels, Alexis de Tocqueville, Le Play, Spencer, se dedicaram a estudar os problemas da nova sociedade que surgia na Europa. Em diferentes países começava a aparecer, no século XIX, o interesse de conhecer os problemas sociais e políticos a partir de um ponto de vista científico e todo esse processo indicava o surgimento de um novo campo de conhecimento. O nome “Sociologia” foi criado por Auguste Comte, também considerado o pai do positivismo. Comte observava uma transformação da sociedade europeia, mais especificamente da sociedade francesa, em que a sociedade militar e teocrática era substituída por uma sociedade industrial e científica (LALLEMENT, 2008, pg. 71). Essa crise poderia ter consequências catastróficas, e a memória do que havia sido a Revolução Francesa ainda era muito recente para desejar que outras revoltas acontecessem. É assim que surge, no século XIX, a Sociologia, enquanto campo de estudos da sociedade e suas dinâmicas. A sociologia francesa é conhecida como a principal responsável pela institucionalização da disciplina, quando Émile Durkheim foi convidado a ministrar a disciplina em Bordéus em 1887. Assim sendo, foi primeiramente na França que a disciplina passou a ser considerada uma ciência e a fazer parte das disciplinas universitárias. Émile Durkheim, foi na verdade o primeiro a estabelecer um método sociológico e a definir o objeto de análise dessa disciplina, é por isso que ele também é considerado um dos pais da Sociologia. Assim como Comte, Durkheim também pretendia entender a sociedade e seus problemas para evitar crises e revoltas sociais. O problema que mais o inquietava era o da anomia social, ou seja, a falta de solidariedade e o crescimento do individualismo. Ele também foi responsável por conceituar o fato social enquanto saber coletivo, formas de agir e pensar, que coagem os indivíduos. Outro autor que também é considerado um dos fundadores da sociologia é Gabriel Tarde. Ele também se dedicou a compreender o que constitui o vínculo social e o fato social, mas sua teoria se distanciava da de Durkheim por considerar que o fato social poderia ser definido a partir das interações entre as consciências individuais. Para Tarde o fundamento do vínculo social era a imitação, os homens imitam os atos dos outros homens e ao reunirem esses atos em comum, de pequenas ações, de modos de pensar, essas similitudes formam um conjunto, o coletivo. Por fim, é na virada do século XIX para o XX que a Sociologia realmente se estabelece como uma ciência e uma disciplina universitária. Foi na França, na Alemanha, nos Estados Unidos e na Inglaterra que surgiram suas principais teorias. E autores como Max Weber, Georg Simmel, Thorstein Veblen, Robert E. Park, dentre outros são também importantes neste início. Referências Bibliográficas: LALLEMENT, M. História das ideias sociológicas: das origens a Max Weber. Petropólis, RJ: Vozes, 2008. BERTHELOT, J.M. Que sais-je? Paris, PUF, 1991. Por Marcele Juliane Frossard de Araujo Mestre em Ciências Sociais (PUC-Rio, 2015) Graduada em Ciências Sociais (UERJ, 2012) https://www.infoescola.com/sociologia/surgimento-da-sociologia/ O estranhamento e a desnaturalização dos fenômenos sociais na prática pedagógica Num primeiro momento, é importante destacar um princípio epistemológico que caracteriza a estrutura da pesquisa e do ensino das Ciências Sociais, ou seja, que aparece como perspectiva, como fundamento para o desenvolvimento do ensino da Sociologia no Ensino Médio: O movimento de estranhamento e desnaturalização. O movimento do estranhamento é o ato de estranhar no sentido de se admirar, de se espantar diante de algo que não se tem conhecimento ou costume; pode-se alcançar o “estranho” ao perceber algo ou alguém de forma diferente do que se conhece, ao assombrar-se em função do desconhecimento de certos fatores, ao se sentir incomodado diante de um fato novo ou de uma nova realidade, ao não se conformar com algo ou com a situação em que se vive; ao não se acomodar. Ao rejeitar. O Estranhamento, nesse sentido, se apresenta ao ensino das Ciências Sociais como uma via que possibilita no individuo o surgimento de uma vontade primeira do saber, de uma vontade em se conhecer o novo, em se habituar a ele e assim o entender melhor. Surge como uma ferramenta essencial para o início da problematização de um fenômeno social a partir das perguntas que suscita em cada aluno: “Por que isso ocorre?”, “Sempre foi assim?”, “É algo que só existe agora?”. Por exemplo, frente à questão da violência podemos perguntar: “Houve violência em todas as sociedades?”, “Como era a violência na Antiguidade?”, “Em outros países, há a violência que vemos no nosso cotidiano?”, “Há um só tipo de violência?”, “Quais as razões para tais e quais tipos de violência?”, etc. Estranhar as situações, inclusive as que fazem parte da experiência de vida do aluno, é uma condição necessária às Ciências Sociais. O estranhamento possibilita o início de um movimento capaz de caminhar para além das interpretações marcadas pelo senso comum. Surge como uma maneira de se começar a estruturar o objetivo de uma análise sistemática da realidade. Ao lado do estranhamento, outro movimento epistemológico tem papel importante na fundamentação do ensino da disciplina de Sociologia: a desnaturalização. É comum ouvirmos no cotidiano da prática pedagógica a expressão: “Isso é natural”. Esta expressão aponta para a ideia de algo que sempre foi, é ou será da mesma forma, imutável na relação tempo e espaço. Em consequência, por exemplo, podemos nos deparar com uma situação assim: “É natural que exista a desigualdade social, é normal, afinal ela sempre existiu e sempre existirá. O mundo é assim mesmo”. Dessa forma, os indivíduos manifestam o entendimento de que os fenômenos sociais são de caráter natural, ou seja, não lhes é sabido que tais fenômenos são na verdade constituídos socialmente, isto é, historicamente produzidos e reproduzidos, resultado das relações sociais em suas mais diversas estruturas. A desnaturalização das concepções a respeito dos fenômenos sociais surge como um papel central do movimento do pensamento sociológico. Há desestruturação da tendência de se compreender as relações sociais, as instituições, os modos de vida e de organização das sociedades, o aparato político, etc., a partir de argumentos “naturalizadores” possibilita o resgate, primeiro, da historicidade desses fenômenos e, segundo, da noção de que certas mudanças ou continuidades históricas decorrem e dependem de um jogo de poder calcado em razões objetivas. Um paralelo entre a noção do estranhamento e da desnaturalização nos leva de encontro à noção de que a vida em sociedade estrutura-se de forma dinâmica, ou seja, está em constante processo de transformação; constitui-se a partir da multiplicidade das relações sociais que, por sua vez, são capazes de revelar as mediações e as contradições da realidade objetiva de um período histórico. É também apreendida por um conjunto de ações capazes de alterar o curso dos acontecimentos, provocando transformações notórias nas formas de organização humana. O saber sociológico, portanto, pode ser construído a partir da sistematização teórica e prática do processo social. Dessa forma, a postura inicial de atuação das Ciências Sociais no Ensino Médio pode ser compreendida pela superação do senso comum em direção a uma análisecientífica da sociedade. O movimento de estranhamento e desnaturalização mesmo diante de situações tidas como óbvias, como, por exemplo, na temática familiar, confere especificidade ao ensino da Sociologia, pois permite que fenômenos aparentemente consolidados suscitem dúvidas, revelem contradições, etc. O processo de estranhamento oferece ao aluno um ponto de partida, uma possibilidade para o desenvolvimento de um saber capaz de levar o indivíduo de encontro a um debate mais amplo. Somado a isso, a desnaturalização surge como o início da superação de certas noções consolidadas naturalmente, o que permite que o aluno ultrapasse os limites do senso comum. Esse movimento permite ao individuo inquietar-se criticamente com questões corriqueiras e consagradas pela normalidade. O pensamento sociológico propicia aos jovens o exame de situações que fazem parte do seu dia a dia, imbuídos de uma postura crítica e investigativa, quando traz à tona a tarefa do estranhamento e da desnaturalização dos fenômenos sociais. Despertar no aluno a sensibilidade para perceber e modificar o mundo à sua volta deve ser a tarefa de todo professor. Bibliografia: Coordenação Amaury César Moraes. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2010. (Coleção Explorando o Ensino; volume 15). O processo de socialização Na sociologia, o processo de socialização é fundamental para a construção das sociedades em diversos espaços sociais. É através dele que os indivíduos interagem e se integram por meio da comunicação, ao mesmo tempo que constroem a sociedade. Para o sociólogo brasileiro Gilberto Freire, a socialização pode ser definida da seguinte maneira: “É a condição do indivíduo (biológico) desenvolvido, dentro da organização social e da cultura, em pessoa ou homem social, pela aquisição de status ou situação, desenvolvidos como membro de um grupo ou de vários grupos.” A socialização (efeito de ser tornar social) está relacionada com a assimilação de hábitos culturais, bem como ao aprendizado social dos sujeitos. Isso porque é por meio dela que os indivíduos aprendem e interiorizam as regras e valores de determinada sociedade. Quanto a isso, vale lembrar as palavras do sociólogo francês Durkheim, quando afirma que: “A educação é uma socialização da jovem geração pela geração adulta”. De tal modo, o processo de socialização é desencadeado por meio da complexa rede de relações sociais estabelecidas entre os indivíduos durante a vida. Assim, desde criança os seres humanos vão se socializando mediante as normas, valores e hábitos dos grupos sociais que o envolvem. Observe que nesse processo, todos os sujeitos sociais sofrem influência comportamentais. Importante notar que existem diferentes processos de socialização de acordo com a sociedade em que estamos inseridos. Qualquer que seja a classe social e a realidade, os processos de socialização são muito diversos. Tanto podem ocorrer entre pessoas que vivem numa favela como entre os burgueses que habitam a zona sul de São Paulo. Seja qual for a cor, a etnia, a classe social, todos os seres humanos desde cedo estão em constante processo de socialização, seja na escola, na igreja, na faculdade ou no trabalho. Alguns fatores podem afetar esse processo, tal como um local marcado por guerras. As consequências dos processos de socialização geralmente são positivas e resultam na evolução da sociedade e dos indivíduos. Por outro lado, as pessoas que não se socializam podem apresentar muitos problemas psicológicos, determinados, por exemplo, pelo isolamento social. O processo de socialização vem se alterando ao longo do tempo, através das mudanças da sociedade. Note que os processos de socialização da antiguidade e da atualidade são bem distintos, o que decorre da evolução dos meios de comunicação e do avanço tecnológico. Os processos de socialização estão classificados em dois tipos: Socialização Primária: como o próprio nome já indica, esse tipo de socialização ocorre na infância e se desenvolve no meio familiar. Aqui, a criança tem contato com a linguagem e vai compreendendo as relações sociais primárias e os seres sociais que a compõem. Além disso, é nesse estágio em que são interiorizados normas e valores. A família torna-se a instituição social mais fundamental desse momento. Socialização Secundária: nesse caso, o indivíduo já socializado primariamente vai interagindo e adquirindo papéis sociais determinados pelas relações sociais desenvolvidas, bem como a sociedade que está inserido. Se por acaso o sujeito social teve uma socialização primária afetada, isso poderá gerar diversos problemas na sua vida social, uma vez que o primeiro momento de socialização é essencial na construção do caráter do indivíduo. Juliana Bezerra Bacharelada e Licenciada em História, pela PUC-RJ https://www.todamateria.com.br/processo-de-socializacao/ O Trabalho nas Diferentes Sociedades Nelson Dacio Tomazi O TRABALHO NAS SOCIEDADES TRIBAIS A idéia de trabalho, como uma coisa separada das outras atividades, é algo que não existe nessas sociedades, isto porque as atividades vinculadas à produção nas sociedades tribais estão associadas aos ritos e mitos, ao sistema de parentesco, às festas, às artes, enfim a toda a vida social, econômica, política e religiosa. O trabalho separado das outras coisas não tem sentido, não tem valor em si. As sociedades tribais com as mais diferentes estruturas sociais, políticas e econômicas possuíam uma organização do trabalho em geral baseado na divisão por sexo, em que os homens e mulheres executavam atividades diferentes. Os seus equipamentos e instrumentos são muitos simples e rudimentares, ainda que muito eficazes, classificando-os como sociedades de economia de subsistência e de técnica rudimentar. Essas sociedades não só tinham todas as suas necessidades matérias e sociais plenamente satisfeitas, como também dispunham de mínimo de horas diárias vinculadas à atividade de produção, sendo classificadas como "sociedades do lazer", ou as primeiras "sociedades de abundância". O fato de se dedicar menos tempo às tarefas vinculadas à produção não significa que se tenha uma vida de privações. Ao contrario, essas sociedades viviam muito bem alimentadas. É importante ressaltar que isso foi antes do contato com o "mundo civilizado". A explicação para o fato de trabalharem muito menos que nós, está no modo como se relacionam com a natureza. Não são os homens que produzem ou caçam, pois eles simplesmente recebem aquilo que precisam da mãe "natureza". Por outro lado, há um profundo conhecimento do meio que vivem o que faz com que conheçam as plantas, os animais, a forma como crescem, reproduzem. Não se tem a idéia de que se deve produzir mais para poupar ou acumular riquezas. A sua riqueza está na vida e na forma como passam os dias. O aspecto mais importante das comunidades tribais é o sentido de unidade existente no cotidiano dessas sociedades. O TRABALHO NA SOCIEDADE GRECO-ROMANA Os gregos faziam uma distinção clara entre o trabalho braçal, o trabalho manual, e atividades do cidadão que se discute e resolve os problemas da sociedade. Os gregos possuíam três concepções para a idéia de trabalho: labor, poiesis e praxis. Para labor entendia-se o esforço físico voltado para a sobrevivência do corpo, sendo, portanto, uma atividade passiva e submissa ao ritmo da natureza. Em poiesis a ênfase recai sobre o ato de fabricar, de criar alguma coisa ou produto através do uso de algum instrumento ou mesmo das próprias mãos. Praxis é aquela atividade que tem a palavra como seu principal instrumento, isto é, que utiliza o discurso como um meio para encontrar soluções voltadas para o bem-estar dos cidadãos. É necessário que se entenda a questão da escravidão no interior dessas sociedades. A sociedade greco-romano não era constituída somente de escravos e senhores,apenas a quarta parte da mão-de-obra era escrava, pois havia uma serie de outros trabalhadores. Mesmo assim a escravidão caracteriza essas sociedades, uma vez que todos os trabalhadores viviam, de uma forma ou de outra, oprimidos pelos senhores e proprietários. Nessas sociedades, o escravo era propriedade de seu senhor e, portanto, podia ser vendido, doado, trocado, alugado, não só ele, mas todos da família e todos os bens que porventura tivesse. Para a maioria dos escravos, a finalidade precípua de suas vidas era tornarem-se livres, mesmo que isso não lhes desse a condição de cidadão, já que só o seriam se tivessem bens e propriedades. Havia uma classe de ricos e notáveis senhores que viviam de renda e eram desobrigados de qualquer atividade que não fosse à arte de discutir os assuntos da cidade e o bem-estar dos cidadãos. Por isso a escravidão era tão fundamental nessas sociedades, pois era o trabalho escravo que dava o suporte material para que os cidadãos não precisassem viver do suor de seu rosto. O TRABALHO NA SOCIEDADE FEUDAL O fim do Império Romano do Ocidente fez com que todo aquele imenso território, antes mantido unido por Roma e seus exércitos, se fragmentassem a tal ponto que surgissem muitas formas de organização social e política, dependendo das condições de cada região naquele momento. Mas, apesar desse fracionamento e de toda a diversidade de estruturação do sistema feudal, podem-se definir algumas características predominantes nesse sistema: A terra é o principal meio de produção, e as principais relações sociais desenvolvem-se em torno dela, uma vez que se tem uma economia fundamentalmente agrícola. Mas a terra não pertence aos produtores diretos, pertencem aos senhores feudais, devidamente hierarquizados. Os trabalhadores têm direito ao usufruto e à ocupação das terras, mas nunca à propriedade delas. Os senhores através de laços feudais, tem direito de arrecadar tributos sobre os produtos ou sobre a própria terra. Uma rede de vínculos pessoais de direitos e deveres e de honra entre os senhores, e entre estes e os servos, em que uns trabalham em regime de servidão, no qual não se goza de plena liberdade, mas, também, não se é escravo. O que há é um sistema de deveres para com o senhor e deste para com os seus servos. A sociedade feudal é uma organização social que se estrutura em estamentos, e estes tem uma relação entre si muito diversa e complexa. Os servos além de trabalharem em suas terras, eram também obrigados a trabalhar nas terras do senhor, bem como na construção e manutenção de estradas e pontes. Essas obrigações se chamavam corvéia. Havia uma serie de outras obrigações que os servos tinham para com os senhores, como um imposto que se pagava por pessoa e atingia unicamente os servos. O censo era outro imposto, mas esse era pago somente pelos homens livres. A tacha era uma taxa que se pagava sobre tudo o que se produzia na terra e atingia todas as categorias dependentes. As banalidades consistiam em outra obrigação devida ao senhor, e eram pagas pelos servos e camponeses pelo uso do moinho, do forno, dos tonéis de cerveja e pelo fato de, simplesmente, residirem na aldeia. Os senhores feudais e o clero viviam do trabalho dos outros. Algo parecido com a sociedade greco-romana, ainda que em outras condições históricas. As associações dos trabalhadores de diferentes ofícios são traços marcantes da sociedade feudal. Havia uma regulamentação que estabelecia o conceito de oficio, criava os mecanismos de controle da profissão e ainda determinava um grupo de conselheiros encarregados de fazer observar os estatutos da associação. Essas associações se tornaram conhecidas como corporações de ofícios. No topo da escala da corporação encontrava-se o mestre, que controlava o trabalho de todos os que faziam parte de uma determinada corporação, encarregando-se de pagar os direitos ao rei ou ao senhor feudal e de fazer respeitar todos os compromissos com a corporação. Abaixo dele vinha o oficial, que ocupava uma posição entre o mestre e o aprendiz. O aprendiz, que ficava na base dessa hierarquia, devia ter entre 12 e 15 anos e pertencer a um só mestre. Segundo a concepção feudal, com base na Igreja Cristã, o trabalho era uma verdadeira maldição e deveria existir somente na quantidade necessária à sobrevivência, não tendo nenhum valor em si mesmo. O trabalho na sociedade capitalista COMO O TRABALHO SE TRANSFORMA EM MERCADORIA Trabalho se transforma em força de trabalho quando se torna uma mercadoria que pode ser comprada e vendida. E, para que ele se transforme em mercadoria, é necessário que o trabalhador seja desvinculado de seus meios de produção, ficando apenas com a sua força de trabalho pra vender. O processo que levou à desvinculação entre o trabalhador e seus meios de produção foi longo e está relacionado com todas as transformações que permitiram a constituição do modo de produção capitalista. Vários foram os fatores que concorreram para que houvesse essas transformações. Os mais significativos foram os cercamentos das terras comunais e a expropriação dos camponeses, o que permitiu a liberação de terras para a produção de lã, bem como a expulsão de milhares de pessoas sem trabalho para cidades, ou seja, pôde-se dispor de muita matéria-prima e, ao mesmo tempo, de um exercito de pessoas que possuíam apenas a sua força de trabalho para vender. O processo resultante da conjugação de todos esses fatores passou a ser conhecido com acumulação primitiva do capital. É dessa forma que um grupo de pessoas conseguiu acumular riquezas e ter dinheiro nas mãos para aplicar em empreendimentos voltados para fabricação de mercadorias em outra escala de produção e com a finalidade de vender exclusivamente. Com isso financiaram e organizaram a produção de mercadoria através de duas formas de coordenação do processo de trabalho dos artesões: ou reunia os artesões de um determinado oficio em um mesmo local de produção ou eles podiam trabalhar dispersos por vários locais, inclusive na sua própria casa. Entretanto, quem definia o que produzir e quanto produzir era o dono do capital, que financiava tudo. A cooperação simples é o processo no qual os trabalhadores ainda mantém a hierarquia da produção artesanal, entre o mestre e o aprendiz. Neste sistema o artesão ainda desenvolve, ele próprio, todo o processo produtivo. A diferença é que agora ele está à serviço de quem lhe financia não só a matéria-prima como até mesmo alguns instrumentos de trabalho, e ainda define o local e as horas a serem trabalhadas. A manufatura ou a cooperação avançada é a segunda forma de organizar a força de trabalho antes da forma especificadamente capitalista. Na manufatura há a dissolução inicial desses processos de trabalho baseados nos ofícios. O trabalho artesanal continua sendo a base, só que reorganizado e decomposto através da fragmentação de suas tarefas, definindo assim uma nova divisão de trabalho. Nessa cooperação no final de uma produção se tem um produto que foi produzido por vários artesãos, mas por nenhum em particular. A manufatura é o segundo passo para que surja o trabalho coletivo. MUDANÇA NA CONCEPÇÃO DE TRABALHO Ate então o trabalho foi sempre visto como uma verdadeira tortura, entretanto, as mudanças ocorridas nas relações sociais fizeram com que o trabalho passasse a ser visto como o criador de toda a riqueza. A Reforma Protestante desenvolveu uma analise que alteraria o pensamento cristão sobre o trabalho. Na nova visão a profissão de cada um passa a ser vista como vocação, e a preguiça, como uma coisa perniciosa e má, que se contrapõe à ordem natural do mundo. O trabalho passa a ser encarado como uma virtude, e ao se trabalhar arduamente, pode-se chegar ao êxito na vida material, o que é expresso nas bênçãos divinas sobre os homens. O cristão protestante deve levar uma vida ascética, e costumes simples, e o quese pode poupar deve ser reinvestido no trabalho, dessa forma gerando mais oportunidade para outros trabalharem. Nessa concepção, a riqueza em si não é condenável, mas sim aquilo a que ela pode levar: o não-trabalho, o desfrute ostentatório e a preguiça que ela pode causar. TRABALHO E CAPITAL: UMA RELAÇÃO CONFLITUOSA A cooperação simples e a manufatura são dois momentos que precederam e que possibilitaram a emergência de um novo modo de produzir: a maquinofatura, ou seja, a produção de mercadorias por meio de maquinas reunidas num mesmo local: a fábrica. A mecanização revoluciona o modo de produzir mercadorias, não só pelo fato de incorporar as habilidades dos trabalhadores, mas também porque os subordina a maquina. A fonte de energia está fora deles. Este, agora, serve a maquina, ela o domina, dá-lhe o ritmo de trabalho. O trabalhador ao necessita ter um conhecimento especifico sobre algum oficio. Ele não precisa ter qualificação determinada. Aparentemente, o que vemos entre o capitalista e o trabalhador é uma relação entre iguais, uma relação entre proprietário de mercadorias, que se dá mediante a compra e a venda da força de trabalho. O trabalhador ao assinar um contrato para trabalhar numa determinada empresa, esta dizendo ao seu proprietário que se dispõe a trabalhar, por exemplo, oito horas diárias, por um determinado salário. O capitalista passa a ter direito de utilizar essa força de trabalho no interior da fábrica. O que acontece é que o trabalhador, em apenas cinco ou seis horas de trabalho, produz um valor correspondente ao seu salário total, sendo o valor produzido nas horas restantes apropriado pelo capitalista. O que se produz nessas horas restantes chama-se mais-valia, que faz com que o capitalista enriqueça rapidamente. Esse processo denomina-se acumulação de capital. Para obter mais lucros, os capitalistas aumentam as horas de trabalho, gerando a mais-valia absoluta, ou, passam a utilizar equipamentos e diversas tecnologias para tornar o trabalho mais produtivo, decorrendo daí a mais-valia relativa. Os conflitos entre os capitalistas e os operários aparecem a partir do momento em que os trabalhadores percebem que estão trabalhando mais e que estão cada dia mais miseráveis. Essa forma de analisar a questão do trabalho na sociedade capitalista foi desenvolvida por Karl Marx. Existe outro pensador, Émile Durkheim, que analisa as relações de trabalho na sociedade capitalista de forma diferente. Para ele, há dois tipos de solidariedade: a mecânica e a orgânica. A solidariedade mecânica deriva da aceitação de um conjunto de crenças e de tradições comuns. O que une as pessoas não é o fato de uma depender do trabalho da outra, mas toda uma gama de sentimentos comuns. A orgânica, ao contrario, pressupõe não a identidade, mas, a diferença entre os indivíduos nas suas crenças e ações. FORDISMO No período da maquinofatura o trabalhador ainda tem algum contato com a máquina, pois precisa ficar observando e alimentando a máquina, o que o faz trabalhar por ele e o mantém subordinado a ela. A maquinofatura desenvolveu-se, e a produção passou a organizar-se em linhas de montagem. O aperfeiçoamento contínuo dos sistemas produtivos deu origem a uma divisão do trabalho muito bem detalhada e encadeada, que resultou na diminuição de horas de trabalho. Essa forma de organização do trabalho passou a ser chamada de Fordismo. Essa expressão nasceu a partir da forma como Henry Ford estruturou a produção na sua fabrica de automóveis. As mudanças introduzidas por Ford visavam à produção em série de um produto para o consumo em massa. Ele implantou a jornada de 8 horas de trabalho por cinco dólares por dia. Iniciava-se assim, aquilo que veio a se chamar a era do consumismo: Produção em massa para consumo em massa. Junto com as propostas introduzidas por Ford já existiam as propostas de Fredrick Taylor que propunha aplicar princípios científicos na organização do trabalho, buscando maior racionalização do processo produtivo. A partir daí as expressões fordismo/taylorismo passaram a ser usadas para identificar um mesmo processo: aumento de produtividade com uso mais adequado possível de horas trabalhadas, através do controle as atividades dos trabalhadores, divisão e parcelamento das tarefas, mecanização de parte das atividades com a introdução da linha de montagem, e um sistema de recompensas e punições conforme o comportamento dos trabalhadores. Outros dois exemplos externo a fabrica contribuíram muito para o sucesso das medidas propostas por Taylor e Ford: O atrelamento do movimento sindical aos interesses capitalistas. A presença significativa do Estado. PÓS-FORDISMO O capita, na sua busca incessante de valorizar-se, procurou novas formas de elevar a produtividade do trabalho e a expansão dos lucros. Assim desenvolve-se uma nova fase no processo produtivo capitalista, que poderíamos chamar de pós-fordismo ou a da acumulação flexível, caracterizada por: Flexibilização dos processos de trabalho, Flexibilização e mobilidade dos mercados de trabalho, Flexibilização dos produtos e também dos padrões de consumo. Com a automação, assistimos à eliminação do controle manual por parte do trabalhador. Substituído por tecnologias eletrônicas, o trabalhador só intervém no processo para fazer o controle e a supervisão. A robótica, tecnologia responsável pela automação de processos produtivos, entra como um componente novo nas indústrias de bens de consumo duráveis, e estar alterando profundamente as relações de trabalho. Os mercados de trabalho foram flexibilizados. Os empregadores desenvolveram a tendência de utilizar as mais diferentes formas de trabalho: trabalho doméstico e familiar, trabalho autônomo, trabalho temporário, entre outros. Elas substituem a forma clássica de emprego regular, com contrato, permitindo uma alta rotatividade da mão-de-obra e, consequentemente, baixo nível de sindicalização e forte retrocesso da ação dos sindicados na defesa dos direitos trabalhistas. Com a crescente utilização de tecnologia computadorizadas e automatizadas, com a flexibilização da produção e do mercado de trabalho, criou-se uma grande instabilidade para os trabalhadores, que passam a não ter mais segurança de um trabalho estável. O desemprego é hoje o maior problema em todas as sociedades industrializadas. Em algumas das economias mais avançadas, os trabalhadores ainda podem contar com um seguro-desemprego estável e de valor significativo. Entretanto, na maioria dos paises a situação é terrível, deixando os desempregados em uma situação desesperadora. Uma das alternativas para o desemprego é elevar o número de trabalhadores ocupados através da diminuição das horas de trabalhos semanais. Não se pode prever se essas políticas conseguirão aliviar o desemprego, mas é um dos caminhos possíveis: trabalhar menos horas para que todos possam ter um emprego e renda.