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Cândido Rangel Dinamarco - Instituições de Direito Processual Civil, 1

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INSTITUIÇOES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL - Volume I - Livro I - Os Fundamentos e as Instituições Fundamentais
Sumário
5Livro I - Os Fundamentos e as Instituições Fundamentais	�
7PREFÁCIO	�
9Livro I	�
9OS FUNDAMENTOS E AS INSTITUIÇÕES FUNDAMENTAIS	�
9Título I - O DIREITO PROCESSUAL CIVIL	�
9Capítulo I -AS GRANDES PREMISSAS	�
91. solução imperativa de conflitos	�
92. o direito processual civil	�
93. direito formal, sem formalismo.	�
104. direito processual e direito material	�
105. dois planos distintos (Infra, n. 5I)	�
106. o direito processual material	�
117. institutos processuais particularmente influenciados pelo direito material	�
118. direito público	�
129. denominação	�
1210. A ciência processual civil	�
1211. a teoria geral do processo	�
1212. direito processual constitucional (Infra, n. 74)	�
1313. direito processual civil internacional	�
1314. direito processual civil comparado	�
1315. o ramo juridico, a técnica, a ciência e a arte	�
1416. instrumento ético e não puramente técnico	�
14Capitulo II -A LEI PROCESSUAL CIVIL	�
1417. a norma processual civil e seu objeto	�
1518. normas processuais e normas procedimentais	�
1519. normas secundárias	�
1620. normas processuais civis cogentes ou dispositivas	�
1621. fontes formais da norma processual civil	�
1622. A Constituição Federal	�
1623. Tratados internacionais	�
1724. a lei	�
1725. leis federais ordinárias	�
1826. leis complementares federais	�
1827. Constituições e leis estaduais	�
1828. regimentos internos dos tribunais	�
1929. a jurisprudência - usos-e-costumes judiciários	�
1930. conhecimento da lei processual	�
1931. interpretação e integração da lei processual civil	�
2032. as dimensões da lei processual civil: normas de superdireito	�
2033. dimensão espacial da lei processual civil. Territorialidade	�
2134. dimensão temporal da lei processual civil. vigência e eficácia	�
2135. início e fim da vigência da lei processual civil	�
2236. eficácia da lei processual civil no tempo	�
2237. regras de direito processual civil intertemporal	�
2238. conta: preservação da garantia de tutela jurisdicional (remissão ao direito processual material)	�
23Título II - O ACESSO À JUSTIÇA E A TUTELA JURISDICIONAL	�
23Capítulo III - OS CONFLITOS E A ORDEM JURÍDICA JUSTA	�
2339. tutela jurisdicional a pessoas ou grupos - ao autor ou ao réu - contra o processo civil do autor	�
2440. processo civil de resultados	�
2441. sistema de promessas e limitações	�
2442. a universalização da tutela jurisdicional e as ondas renovatórias	�
2543. acesso à justiça	�
2544. os conflitos (crises jurídicas: infra, n. 58)	�
2645. meios alternativos de acesso à justiça (justiça parajurisdicional)	�
2646. equivalência funcional - o valor social da conciliação, da mediação e da arbitragem	�
27Capítulo IV - OS ESCOPOS DO PROCESSO CIVIL E A TÉCNICA PROCESSUAL	�
2747. abandono da visão puramente jurídica do processo civil	�
2748. o fundamental escopo social. Pacificação	�
2849. outro escopo social. Educação	�
2850. escopos políticos	�
2851. o escopo jurídico do processo civil - as teorias unitária e dualista do ordenamento jurídico (supra, n. 5)	�
2952. escopos do processo civil e técnica processual	�
2953. os processos, provimentos e procedimentos como técnicas	�
3054. equilíbrio entre exigências contrapostas	�
3055. certeza, probabilidade e risco em direito processual civil	�
31Capítulo V - ESPÉCIES DE TUTELAS JURISDICIONAIS E A REALIDADE DOS CONFLITOS	�
3156. as situações da vida, o direito substancial e as técnicas processuais	�
3157. provimentos jurisdicionais	�
3258. as crises jurídicas e as tutelas cognitiva e executiva	�
3259. tutela preventiva, reparatória ou sancionatória - tutela inibitória - tutela específica ou inespecífica (ressarcitória)	�
3360. entre a tutela individual e a coletiva	�
3461. meios processuais adequados	�
3462. tutelas jurisdicionais de urgência	�
3563. tutelas jurisdicionais diferenciadas - cognição sumária (infra, nn. 771, 774, 777 e 976)	�
3564. escolha da tutela jurisdicional adequada	�
3565. espécies de processos	�
3666. disponibilidade e indisponibilidade nas escolhas	�
36Título III - O PROCESSO CIVIL BRASILEIRO	�
36Capítulo VI - O MODELO PROCESSUAL CIVIL BRASILEIRO	�
3667. sistema processual e modelo processual	�
3668. o direito processual civil e o mito das famílias do direito	�
3769. elementos relevantes para a identificação do modelo processual civil	�
3770. o pensamento jurídico processual brasileiro	�
3771. elementos para a identificação do modelo processual civil brasileiro no plano constitucional e no técnico-processual	�
3872. o modelo constitucional do processo civil brasileiro (supra, n. 12 e infra, nn. 74 ss.)	�
3973. o modelo infraconstitucional do processo civil brasileiro (técnico-operacional)	�
39Capítulo VII -OS FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS: PRINCÍPIOS E GARANTIAS DO PROCESSO CIVIL	�
4074. processo e Constituição	�
4075. valor sistemático dos princípios - o processo como direito público	�
4176. tutela constitucional do processo civil -princípios e garantias constitucionais	�
4177. princípios gerais e regras técnicas - os princípios formativos do processo	�
4178. os princípios constitucionais do processo civil (princípios gerais)	�
4279. princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional	�
4280. a imparcialidade do juiz e as garantias do juiz natural	�
4381. o juiz natural	�
4382. princípio da igualdade	�
4483. a garantia constitucional da igualdade e os privilégios do Estado no processo civil brasileiro	�
4584. o princípio do contraditório e sua dupla destinação	�
4585. contraditório e partes	�
4586. o contraditório no processo executivo	�
4687. contraditório e tutela coletiva	�
4688. contraditório e juiz	�
4789. princípio da liberdade das partes	�
4991. princípio da publicidade dos atos processuais	�
5092. Princípio do duplo grau de jurisdição	�
5193. exigência constitucional de motivação das sentenças e demais decisões judiciárias (infra, n. 1.223)	�
5194. a convergência dos princípios e garantias constitucionais do processo civil. devido processo legal	�
5295. o acesso à justiça como princípio-síntese e objetivo final	�
5296. interpretação sistemática e evolutiva dos princípios e garantias constitucionais do processo civil	�
5297. tutela jurisdicional aos princípios e garantias constitucionais do processo civil	�
53Capítulo VIII - PASSADO E FUTURO DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL BRASILEIRO: TENDÊNCIAS	�
5398. três fases metodológicas na história do processo civil	�
5499. os grandes mestres de direito processual civil (panorama internacional)	�
56100. a ciência processual civil brasileira na segunda metade do século XIX e na primeira metade do século XX	�
56101. Liebman, a Escola Processual de São Paulo e o moderno processo civil brasileiro	�
57102. sucessão histórica das fontes formais do direito processual civil brasileiro	�
58103. dois Códigos substancialmente análogos	�
58104. o constitucionalismo e a abertura para a perspectiva metajurídica do processo civil (a sétima fase da história do processo civil brasileiro)	�
59105. influências do processo civil da common law	�
59106. albores de uma integração latino-americana	�
60107. tendências modernas do processo civil brasileiro: prognósticos e aspirações	�
601- universalização da jurisdição.	�
61II - súmulas vinculantes.	�
61III - aceleração do processo.	�
61IV - ações executivas lato sensu.	�
61V - efetividade da tutela jurisdicional.	�
61Título IV - OS INSTITUTOS FUNDAMENTAIS	�
61Capítulo IX- INSTITUTOS FUNDAMENTAIS DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL	�
61108. dos fundamentos aos institutos fundamentais	�
62109. jurisdição (Infra, nn. 117-132)	�
62110. processo (Infra, nn. 386-392)	�
62111. o objeto do processo e a lide	�
62112. ação e defesa (Infra, nn. 539-559)	�
63113. demanda (infra, nn. 430-458)	�
63114. a jurisdição como instituto central do sistema	�
63115. os meios (provas e bens) (infra, nn.721-724)	�
63116. coisa julgada (infra, nn. 952-970)	�
64Livro II - A FUNÇÃO DO ESTADO NO PROCESSO: JURISDIÇÃO	�
64Título V - JURISDIÇÃO E PODER	�
64Capítulo X - A JURISDIÇÃO CIVIL	�
64117. conceito - a jurisdição no quadro do poder estatal	�
64118. inevitabilidade	�
65119. definitividade (imunidade)	�
65120. atividade secundária ou primária	�
65121. dimensões da jurisdição	�
66122. espécies de jurisdição	�
66123. jurisdição voluntária	�
67124. jurisdição civil ou penal	�
67125. jurisdição comum ou especial	�
67126. jurisdição inferior ou superior	�
67127. jurisdição de direito ou de eqüidade	�
68128. unidade da jurisdição e pluralidade dos órgãos que a exercem: competência	�
68129. o Estado juiz e os juízes no exercício da jurisdição	�
68130. impessoalidade, imparcialidade e indelegabilidade	�
69131. poderes e deveres do juiz	�
69132. limitações à jurisdição e ao seu exercício – territorialidade	�
69Capítulo XI - A JURISDIÇÃO E OS DEMAIS ESTADOS: COMPETÊNCIA INTERNACIONAL	�
69133. autolimitação do poder por normas de direito interno	�
70134. exclusão por inviabilidade	�
70135. exclusão por desinteresse	�
70136. exclusão por razões de convivência internacional	�
70137. a competência do juiz brasileiro	�
71138. competência internacional concorrente	�
71139. domicílio do réu	�
71140. país de cumprimento da obrigação	�
71141. atos praticados no Brasil ou fatos aqui ocorridos	�
72142. competência internacional exclusiva	�
72143. imóveis situados no Brasil	�
72144. inventários e partilhas	�
72145. prorrogação da competência internacional	�
72146. extinção do processo	�
72147. litispendência estrangeira	�
73148. competência internacional e direito substancial estrangeiro	�
73Título VI - ÓRGÃOS E ORGANISMOS ENCARREGADOS DA JURISDIÇÃO	�
73Capítulo XII- OS ÓRGÃOS DA JURISDIÇÃO E SUA INDEPENDENCIA: ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA	�
73149. conceito e enquadramento sistemático - a tutela constitucional da organização judiciária	�
74150. o Judiciário entre os Poderes do Estado	�
74151. linhas-mestras da organização judiciária	�
75152. conteúdo das normas de organização judiciária	�
75153. competência legislativa	�
75154. a Justiça e a –Magistratura	�
75155. autonomia do Poder Judiciário é independência dos juízes	�
76156. períodos de trabalho forense	�
76Capítulo XIII - OS ORGAOS DA JURISDIÇÃO: ESTRUTURA JUDICIÁRIA BRASILEIRA	�
76157. número fechado de órgãos jurisdicionais	�
77158. dimensões da estrutura judiciária brasileira	�
77159. estrutura judiciária: o modelo brasileiro	�
78160. órgãos de convergência e órgãos de superposição	�
78161. as Justiças e sua estrutura	�
79162. juízos singulares na jurisdição civil inferior	�
79163. a composição dos tribunais	�
79164. a divisão judiciária brasileira: linhas gerais	�
80165. conceito de foro	�
80166. os foros em segundo grau de jurisdição	�
80167. os foros em primeiro grau de jurisdição	�
81168. juízos	�
81169. juízos da mesma espécie ou de espécies diferentes	�
81170. foros regionais e varas distritais	�
81Capítulo XIV - O ESTATUTO CONSTITUCIONAL DA MAGISTRATURA E A INDEPENDENCIA DOS JUÍZES	�
82171. o estatuto constitucional da Magistratura	�
82172. as carreiras judiciárias	�
82173. recrutamento de juízes	�
82174. o ingresso nas carreiras judiciárias: concurso	�
82175. outros modos de recrutamento	�
83176. o quinto constitucional	�
83177. diferentes níveis ou classes	�
83178. promoções alternadas por merecimento e por Antigüidade	�
83179. remoções	�
84180. garantias dos juízes	�
84181. a tríplice garantia, sua legitimidade democrática e sua relatividade	�
84182. vitaliciedade	�
84183. inamovibilidade	�
85184. irredutibilidade de vencimentos	�
85185. impedimentos dos juízes (imparcialidade)	�
85186. deveres do juiz	�
85187. síntese das garantias, impedimentos e deveres	�
86188. a independência funcional do juiz	�
86189. o controle da Justiça e da Magistratura	�
86190. escolas da Magistratura	�
�
DINAMARCO, Cândido Rangel; Instituições de Direito Processual Civil, vol. 1, Editora Malheiros, São Paulo: 2001
CÂNDIDO RANGEL DINAMARCO é Professor Titular de Direito Processual da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo e Desembargador aposentado do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Foi Procurador de Justiça do Estado. Especializou-se em Direito Processual Civil na Universidade Estatal de Milão, Itália, junto ao Prof. Enrico Tullio Liebman. Integrou a Comissão de Revisão dos Códigos, do Ministério da Justiça.
-	Além de artigos e colaborações em re-vistas jurídicas, no País e no estrangeiro, é autor dos seguintes livros: "Direito Processual Civil" (1975); "Juizado Especial de Pequenas Causas" (1985), em cooperação; "Manual de Direito Processual Civil", de Enrico Tullio Liebman (tradução e notas; 2a ed., 1987), e "Manual das Pequenas Causas" (1985).
Por esta Editora publicou, além deste Instituições de Direito Processual Civil: 
Execução Civil (711 ed., 2000); 
Fundamentos do Processo Civil Moderno (2 vs.) (4á ed., 2001);
A Instrumentalidade do Processo (92 ed., 2001);
Intervenção de Terceiros (2;1 ed., 2000); 
Litisconsórcio (6? ed., 2001); 
Manual dos Juizados Cíveis (2á ed., 2001);
A Reforma do Código de Processo Civil (51 ed., 2001);
Teoria Geral do Processo (174 ed., 2001), em colaboração com Ada Pellegrini Grinover e Antonio Carlos de Araújo Cintra.
MALHEIROS :v: EDITORES INSTITUIÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
VOLUME I
FUNDAMENTOS E INSTITUTOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL;
JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA;
ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA 
MINISTÉRIO PÚBLICO;
ADVOGADO; 
SERVIÇOS AUXILIARES DA JUSTIÇA;
-MALHEIROS :v :EDITORES - OBRAS DO AUTOR
Execução Civil, 7á ed., 2000;
Fundamentos do Processo Civil Moderno (2vs.), 4í1 ed., 2001; 
Instituições de Direito Processual Civil (3 vs.), 2001;
A Instrumentalidade do Processo, 9á ed., 2001;
Intervenção de Terceiros, 2á ed., 2000; 
Litisconsórcio, 611 ed., 2001;
Manual dos Juizados Cíveis, 22 ed., 2001
A Reforma do Código de Processo Civil, Sá ed., 2001 
Teoria Geral do Processo (em colaboração), 17~1 ed., 2001 
Direito Processual Civil, 1974
 Cândido Rangel Dinamarco
INSTITUIÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL - VOLUME I - INSTITUIÇOES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL © 
CÂNDIDO RANGEL DINAMARCO
ISBN DA COLEÇÃO 85-7420-237-1 
ISBN DESTE VOLUME 85-7420-212-6
Direitos reservados desta edição por MALHEIROS EDITORES LTDA. 
Rua Paes de Araújo, 29, conjunto 171 CEP 04531-940 - São Paulo - SP 
Tel.: (Oxxll) 3078-7205 Fax: (Oxxll) 3168-5495 
URL: www.malheiroseditores.com.br 
e-mail: malheiroseditores@zaz.com.br
Composição PC Editorial Ltda.
Capa Arte: PC Editorial Ltda.
Impresso no Brasil Printed in Brazil 08-2001
ESCLARECIMENTO AO LEITOR:
Esta obra foi programada para ser composta de quatro volumes, três dos quais são agora entregues ao público leitor. Esperamos oferecer o quarto volume no primeiro semestre de 2002, incluindo o estudo da execução civil, das medidas de urgência e do processo perante os tribunais (recursos, ação rescisória, incidentes etc.).
A EDITORA e o AUTOR.
Agradecimento:
a Ana Lúcia Pereira Santos pela minuciosa revisão, pelas utilíssimas sugestões e sobretudo por sua abnegada paciência diante das rabugices de um autor exigente.
PLANO DA OBRA
Volume I
Livro I - Os Fundamentos e as Instituições Fundamentais
TÍTULO I - O DIREITO PROCESSUAL CIVIL
CAPÍTULO 1 - AS GRANDES PREMISSAS
CAPITULO 11 - A LEI PROCESSUAL CIVIL
TITULO II - O ACESSO À JUSTIÇA E A TUTELA JURISDICIONAL
CAPÍTULO III - OS CONFLITOS E A ORDEM JURÍDICA JUSTA 
CAPITULO IV - OS ESCOPOS DO PROCESSO CIVIL E A TÉCNICA PROCESSUAL 
CAPITULO V - ESPÉCIES DE TUTELAS JURISDICIONAIS E A REALIDADE DOS CONFLITOS
TÍTULO III - O PROCESSO CIVIL BRASILEIRO
CAPÍTULO VI - 0 MODELO PROCESSUALCIVIL BRASILEIRO
CAPÍTULO VII - OS FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS: PRINCÍPIOS E GARANTIAS DO PROCESSO CIVIL
CAPITULO VIII - PASSADO E FUTURO DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL BRASILEIRO: TENDÊNCIAS
TÍTULO IV - OS INSTITUTOS FUNDAMENTAIS
CAPÍTULO IX - INSTITUTOS FUNDAMENTAIS DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
Livro II - A Função do Estado no Processo: Jurisdição
TITULO V - JURISDIÇÃO E PODER 
CAPITULO X - A JURISDIÇÃO CIVIL 
CAPITULO XI - A JURISDIÇÃO E OS DEMAIS ESTADOS: COMPETÊNCIA INTERNACIONAL
TÍTULO VI - ÓRGÃOS E ORGANISMOS ENCARREGADOS DA JURISDIÇÃO 
CAPITULO XII - OS ORGÃOS DA JURISDIÇÃO E SUA INDEPENDÊNCIA: ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA;
CAPÍTULO XIII - OS ÓRGÃOS DA JURISDIÇÃO: ESTRUTURA JUDICIÁRIA BRASILEIRA; 
CAPÍTULO XIV - O ESTATUTO CONSTITUCIONAL DA MAGISTRATURA
E A INDEPENDÊNCIA DOS JUIZES;
TÍTULO VII - A DISTRIBUIÇÃO DO EXERCÍCIO DA JURISDIÇÃO: COMPETÊNCIA
CAPÍTULO XV - O EXERCÍCIO DA JURISDIÇÀO: COMPETÊNCIA TEORIA GERAL; 
CAPITULO XVI -- COMPETÊNCIA DOS TRIBUNAIS DE SUPERPOSIÇÃO;
CAPÍTULO XVII - COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM;
CAPITULO XVIII - COMPETÊNCIA TERRITORIAL;
CAPÍTULO XIX - COMPETÊNCIA DE JUÍZO;
CAPITULO XX - COMPETÊNCIA INTERNA DOS ÓRGÃOS JUDICIÁRIOS;
CAPÍTULO XXI - COMPETÊNCIA ABSOLUTA OU RELATIVA;
CAPÍTULO XXII – PREVENÇÀO;
CAPÍTULO XXIII - COMPETÊNCIA DOS FOROS REGIONAIS;
TÍTULO VIII - O EXERCÍCIO DA JURISDIÇÃO CIVIL: SERVIÇOS PARALELOS
CAPÍTULO XXIV - ATIVIDADES PARALELAS AO EXERCÍCIO DA JURISDIÇÀO;
CAPÍTULO XXV - SERVIÇOS COMPLEMENTARES À JURISDIÇÃO: OS AUXILIARES DA JUSTIÇA;
CAPÍTULO XXVI - FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA: O MINISTÉRIO PÚBLICO;
CAPITULO XXVII - FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA: O ADVOGADO;
CAPÍTULO XXVIII - OUTRAS FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA;
Volume II
Livro III - O Método de Exercício da Jurisdição: Processo:
TITULO IX - PROCESSO CIVIL: CONCEITO E FUNÇÃO:
CAPÍTULO XXIX - O CONCEITO DE PROCESSO E SEU REGIME JURIDICO;
CAPÍTULO XXX - ESPÉCIES DE PROCESSOS E SEUS RESULTADOS ( O PROCESSO E A VIDA DOS DIREITOS);
TÍTULO X - FORMAÇÃO DO PROCESSO CIVIL E LITISPENDÊNCIA:
CAPÍTULO XXXI - A FORMAÇÃO DO PROCESSO CIVIL E A LITISPENDÊNCIA;
CAPITULO XXXII - EFEITOS PROCESSUAIS DA LITISPENDÊNCIA;
CAPITULO XXXIII - EFEITOS SUBSTANCIAIS DA LITISPENDÊNCIA;
TÍTULO XI - A DEMANDA E O OBJETO DO PROCESSO CIVIL
CAPITULO XXXIV - A DEMANDA;
CAPITULO XXXV - RELAÇÕES ENTRE DEMANDAS;
CAPITULO XXXVI - CUMULAÇÃO DE DEMANDAS;
CAPITULO XXXVII - O OBJETO DO PROCESSO CIVIL;
TÍTULO XII - RELAÇÃO JURÍDICA PROCESSUAL CIVIL
CAPITULO XXXVIII - RELAÇÃO JURÍDICA PROCESSUAL;
TITULO XIII - SUJEITOS DO PROCESSO CIVIL
CAPITULO XXXIX - O JUIZ NO EXERCÍCIO DA JURISDIÇÃO;
CAPITULO XL - OS AUXILIARES DA JUSTIÇA NO EXERCÍCIO DAS FUNÇÕES COMPLEMENTARES;
CAPÍTULO XLI – PARTES;
CAPITULO XLII - AÇÃO E DEFESA: SÍNTESE DAS POSIÇÕES DAS PARTES NO PROCESSO; CAPITULO XLIII – LITISCONSÓRCIO;
CAPÍTULO XLIV - AS INTERVENÇÕES DE TERCEIROS;
CAPÍTULO XLV - O MINISTÉRIO PUBLICO COMO PARTE NO PROCESSO CIVIL;
TITULO XIV - O PROCEDIMENTO E OS ATOS PROCESSUAIS CIVIS
CAPITULO XLVI - 0 PROCEDIMENTO NO PROCESSO CIVIL BRASILEIRO 
CAPITULO XLVII - ATOS PROCESSUAIS CIVIS
CAPITULO XLVIII - ATOS DE COMUNICAÇÃO PROCESSUAL: CITAÇÃO E INTIMAÇÃO 
CAPÍTULO XLIX - ATOS DE COOPERAÇÃO JURISDICIONAL: AS CARTAS 
CAPÍTULO L - A FORMA DOS ATOS PROCESSUAIS CIVIS
CAPITULO LI - PRAZOS PROCESSUAIS CIVIS
CAPITULO LII - DEFEITOS DOS ATOS PROCESSUAIS E DO PROCEDIMENTO 
TITULO XV - OS MEIOS INSTRUMENTAIS DO PROCESSO CIVIL
CAPITULO LIII- OS MEIOS INSTRUMENTAIS DO PROCESSO CIVIL: PROVAS E BENS
TÍTULO XVI - OS PRESSUPOSTOS E AS CRISES
CAPITULO LIV - PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DA TUTELA JURISDICIONAL CIVIL
CAPÍTULO LV - ÓNUS DA INICIATIVA E DEVER DE IMPULSO
CAPÍTULO LVI - AS CRISES DO PROCESSO CIVIL: SUSPENSÃO E EXTINÇÃO DO PROCESSO -INCIDENTES CRÍTICOS
TÍTULO XVII - O REGIME FINANCEIRO DO PROCESSO CIVIL
CAPÍTULO LVII - O CUSTO DO PROCESSO CIVIL E OS ENCARGOS DA SUCUMBËNCIA
CAPITULO LVIII - ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA
VOLUME III 
LIVRO IV - O PROCESSO CIVIL DE CONHECIMENTO
TÍTULO XVIII - O PROCESSO CIVIL DE CONHECIMENTO
CAPITULO LIX - O PROCESSO CIVIL DE CONHECIMENTO: CONCEITO E TEMAS FUNDAMENTAIS
TÍTULO XIX - TEORIA GERAL DA PROVA
CAPITULO LX - A PROVA CIVIL: VISAO SISTEMÁTICA
CAPITULO LXI - OBJETO DA PROVA
CAPITULO LXII - ÔNUS DA PROVA
CAPÍTULO LXIII - FONTES CONCRETAS E MEIOS DE PROVA 
CAPÍTULO LX[V - VALORAÇÃO DA PROVA CIVIL 
CAPÍTULO LXV - A PRESUNÇÃO E A PROVA
TÍTULO XX - PRESSUPOSTOS E CRISES NO PROCESSO CIVIL DE CONHECIMENTO 
CAPITULO LXVI - PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DO JULGAMENTO DO MÉRITO
CAPÍTULO LXVII - SUSPENSÃO DO PROCESSO CIVIL DE CONHECIMENTO 
CAPÍTULO LXVIII - EXTINÇÃO DO PROCESSO CIVIL DE CONHECIMENTO 
TÍTULO XXI - A TUTELA JURISDICIONAL NO PROCESSO CIVIL DE CONHECIMENTO
 CAPITULO LXIX - A TUTELA JURISDICIONAL NA SENTENÇA DE MÉRITO 
CAPÍTULO LXX - TUTELA JURISDICIONAL DECLARATÓRIA
CAPÍTULO LXXI - TUTELA JURISDICIONAL CONDENATÓRIA (INCLUSIVE A MANDAMENTAL)
CAPÍTULO LXXII - TUTELA JURISDICIONAL CONSTITUTIVA 
CAPITULO LXXIII - FALSAS SENTENÇAS DE MÉRITO
CAPITULO LXXIV - CORRELAÇÃO ENTRE A TUTELA JURISDICIONAL E A DEMANDA 
TÍTULO XXII - OS RESULTADOS DO PROCESSO CIVIL E SUA IMUNIZAÇÃO - COISA JULGADA MATERIAL
CAPITULO LXXV - COISA JULGADA
TITULO XXlll - OS PROCEDIMENTOS NO PROCESSO CIVIL DE CONHECIMENTO EM PRIMEIRO GRAU DE JURISDIÇÃO
CAPITULO LXXVI - PROCEDIMENTOS
LIVRO V - O PROCEDIMENTO COMUM NO PROCESSO CIVIL BRASILEIRO DE PRIMEIRO GRAU DE JURISDIÇÃO
TÍTULO XXIV - O PROCEDIMENTO ORDINÁRIO
CAPÍTULO LXXVII - AS FASES DO PROCEDIMENTO ORDINÁRIO
CAPÍTULO LXXVIII - A PETIÇÃO INICIAL E A PROPOSITURA DA DEMANDA
CAPÍTULO LXXIX - DEFERIMENTO OU INDEFERIMENTO DA PETIÇÃO INICIAL
CAPÍTULO LXXX - CITAÇÃO
CAPÍTULO LXXXI - INTIMAÇÒES
CAPITULO LXXXII - RESPOSTA À DEMANDA INICIAL 
CAPITULO LXXXIII - CONTESTAÇÃO
CAPITULO LXXXIV - AS EXCEÇÕES RITUAIS 
CAPÍTULO LXXXV - RECONVENÇÃO 
CAPÍTULO LXXXVI - AÇÃO DECLARATÓRIA INCIDENTAL 
CAPÍTULO LXXXVII - OUTRAS RESPOSTAS DO RÉU 
CAPÍTULO LXXXVIII - ÔNUS DE RESPONDER E EFEITO DA REVELIA
CAPÍTULO LXXXIX - A FASE ORDINATÓRIA E O SANEAMENTO DO PROCESSO - JULGAMENTO CONFORME O ESTADO DO PROCESSO
PREFÁCIO
Este é o livro de minha vida.
Não estou a afirmar méritos nem a propor comparações com outros escritos meus e muito menos com as notáveis obras de direito processual civil produzidas no Brasil e no mundo ao longo de mais de um século de ciência do processo. Vejo nestas Instituições de direito processual civil o meu próprio espelho, o espelho da minha vida de processualista, das minhas reflexões, convicções, dúvidas, vacilações e erros. Já se passaram mais de quarenta anos desde quando, guiado pelo Mestre Luís EULÁLIO DE BUENO VIDIGAL, no terceiro ano da Faculdade do Largo de São Francisco, comecei a sentir minhas primeiras curiosidades e uma enorme perplexidade diante desse universo desafiador que é o processo civil. Vivenciei o processo como promotor de justiça, como juiz e como advogado. Esse tem sido um longo estágio de absorção de conceitos e princípios, de tomadas de posição e sobretudo de busca de soluções. Estou convencido de que o processo civil, como toda técnica, só será uma boa técnica na medida em que for capaz de oferecer soluções boas - processo justo é o processo que produz soluções justas. Continuo aprendendo conceitos, reverenciando princípios, desvendando estruturas e buscando soluções boas, mediante o longo e intenso aprendizado que é a docência da disciplina durante trinta anos em minha velha e sempre nova Academia.
É esse o universo de imagens espelhadas nas presentes Instituições. Elas foram escritas a partir de pensamentos e conceitos já ensinados em aulas, expostos em livrose artigos, sustentados em pareceres, defendidos em arrazoados e impostos em decisões. São o espelho de meus acertos e desacertos, ou o espelho de minha vida de processualista. O livro de minha vida, portanto.
N a realidade, duas foram as vidas dos processualistas da minha geração.
Como todos de meu tempo, nasci para a ciência processual em um clima de intenso apego à distinção entre a função do processo e a do direito material, de exagerado culto ao valor da ação entre os institutos processuais, de um zelo irracional pelos interesses do autor sem a correspondente preocupação pelos do demandado, de um pacato conformismo diante das ineficiências do sistema e de um constantemente renegado, mas inconscientemente cultivado culto à forma. Os rumos que durante nossas vidas tomou a ciência do processo puseram-nos a repensar nosso modo de ver o sistema processual, para podermos marchar no mesmo compasso das mutantes exigências da sociedade por um processo civil mais efetivo e dinâmico - o que fomos obrigados a fazer pagando o preço de alguns atos de humilde penitência e inevitavelmente fazendo algumas correções de rota. Foi no curso dessas quatro décadas que tomou vulto o movimento mundial pela bandeira da efetividade do processo, especialmente na obra grandiosa dos condotttieri MAURO CAPPELLETTI e VITTORIO DENTI. Este, na Universidade de Pavia e aquele, em Florença e no mundo, passaram a discorrer sobre a justiça social a ser promovida pelos canais do processo, sobre as ideologias que devem estar presentes na configuração dos institutos processuais, sobre a indispensável consciência dos interesses dos consumidores dos serviços judiciários, sobre a caminhada da Justiça ao encontro do cidadão, sobre a imperiosidade da universalização do acesso à justiça etc.
O jovem que hoje se inicia recebe já os frutos maduros dessa evolução multifacetária e seus olhos já se abrem para a ciência processual pela óptica do processo agilizado, coletivizado, humanizado. Os que produziram antes dessa evolução, encerrando sua vida de processualista sem haverem recebido o sopro dos novos ventos, também viveram em paz de espírito e não passaram por essa espécie de provação. Minha geração de processualistas ficou a cavalo de uma fase de mudança de método e isso foi ao menos angustiante para quem já havia assimilado os pensamentos e uma visão inerentes às velhas colocações metodológicas; quase de repente, vimo-nos atropelados por rápidas transformações no sistema, que nos cobraram uma revisão geral, se não quiséssemos ficar à margem com saudosistas lamentações. O que havíamos aprendido e ensinado deixou de ser a verdade universal e aceita.
Havíamos aprendido que o processo é um instrumento meramente técnico a serviço do direito substancial, não tendo o juiz qualquer compromisso com o valor do justo: se sua sentença fosse portadora de alguma injustiça, ensinaram-nos, que fosse esta debitada ao legislador e não a ele, a quem cumpre exclusivamente impor a lei conforme fora posta em vigor - merecia execração e caricatas humilhações a figura do bon juge Magnot. Condicionaram-nos também a nos empenharmos na busca de conceitos muito precisos e delimitações muito seguras entre os institutos do processo, sem qualquer preocupação com o ângulo externo do sistema e, portanto, sem pensarmos na eficiência deste em face dos conflitos que angustiam pessoas e instabilizam grupos e sociedades; jamais cuidaram de colocar-nos a problemática dos conflitos que permanecem sem solução e pessoas que sofrem lesões e os males da litigiosidade contida, porque o processo sempre foi assim e tem suas irremovíveis limitações, não se podendo aspirar a soluções que estivessem além das possibilidades do sistema e das forças de seus operadores tradicionais.
Quando nos demos conta, essas verdades eternas estavam minadas de morte: entravam no burburinho de uma usinagem de alta pressão e principiavam a sair na outra ponta com novas feições, ou em outras vestes, ou simplesmente sendo lançadas no depósito de material imprestável. 0 pensamento moderno caminhou para a afirmação de um intenso coeficiente ético e deontológico no sistema processual, especialmente endereçado ao espírito do juiz, de quem hoje todos esperam um solene compromisso de realizar processos justos e équos e terminar o processo com a oferta de uma efetiva justiça substancial aos litigantes. Caminhou também para a universalização da tutela jurisdicional, em busca da redução dos resíduos conflituosos não jurisdicionalizáveis - efeitos da pobreza, da ignorância e de um atávico conformismo.
Não foi sem angústias, incertezas e riscos que nossas vidas mudaram. Esse é o preço a ser pago por quem vive em duas épocas e não quer ser sepultado entre as páginas viradas do livro da História. Eis como e por que os processualistas de minha geração foram obrigados a viver duas vidas em uma vida só.
Na realidade, este livro é portanto o resultado de minhas duas vidas de processualista
quero que este livro possa ser objeto de três leituras.
A primeira leitura que ele se destina a ter é a leitura da didática e do aprendizado. Porque é acima de tudo um curso de direito processual, ele precisa ser suficientemente claro, além de completo na explicação dos princípios, conceitos, institutos e normas, a ponto de ser entendido pelo principiante ainda desprovido de premissas no espírito e, portanto, necessitado de explicações que principiem pelas raízes. Daí a explicação dos fundamentos legitimadores do próprio direito processual e do processo mesmo, como conjunto de técnicas destinadas a eliminar conflitos; daí o empenho em demonstrar os modos como direito e processo se associam em face do objetivo de oferecer tutela jurisdicional a quem tiver razão; daí a proposta de uma leitura moderna de velhos princípios instalados na Constituição e na consciência dos povos; e daí o inevitável risco de às vezes dizer o óbvio, para melhor ser entendido pelos principiantes. Este é um livro dedicado sobretudo aos meus estudantes e é a eles que o endereço em primeiro lugar.
A segunda leitura esperada é a leitura profissional. Como profissional de intensa militância no processo, procuro retratar aqui uma experiência de quarenta anos, associando soluções a conceitos, sem ficar só nestes e sem deixar de ver o que se passa na realidade do dia-a-dia perante os tribunais. Daí as informações jurisprudenciais, as figurações e os exemplos de caráter prático intercalados no texto, com vista à sua utilidade para advogados, promotores de justiça e magistrados.
A terceira leitura é a dos estudiosos em busca de profundidade no conhecimento do direito processual civil. Sobre cada tema, cada instituto, cada polêmica de que tenho conhecimento, tratei de externar meus pontos-de-vista, consciente do risco de errar e do perigo das críticas a que me exponho. Não quero dizer verdades eternas, mas não me resigno a permanecer nas planícies sem ventos dos entendimentos pacíficos. Ao assumir uma entre duas ou mais posições construídas ao longo da história da minha ciência, ou quando ouso propor pensamentos novos, sei que alguma turbulência virá, mas sei também que sem esses tremores ou abalos a ciência não caminha. Dos destinatários dessa terceira leitura espero a homenagem de uma aceitação generosa ou de sua crítica racional, na qual saberei ver os movimentos de uma ciência que não se estagna, não se conforma com verdades sabidas e quer manter-se inquieta diante dos problemas a resolver.
Este livro teve várias origens.
Ele foi construído sobre a base dos planos de aula que vim elaborando, ampliando, atualizando e corrigindo nessa vida de trinta anos junto aos estudantes do Largo de São Francisco. Às vezes, respondendo à indagação de um jovem que se inicia, o professor vê-se obrigado a buscar explicações melhores, associar conceitos ou mesmo penitenciar-se de erros. Não erra quem nada faz e nada diz. Muito do que aqui está escrito teve origem em cursos de pós-graduação, que por índole e destinação devem ser abertos ao diálogo e aomais amplo dos debates, sendo nocivo o docente que se preocupa em expor suas verdades, sem saber que a verdade nem sempre está onde ele pensa que está. Sempre começo meus cursos dizendo aos mestrandos e doutorandos que vejo em nosso convívio um laboratório ao qual levo meus conhecimentos de colega mais adiantado, as teses que elaborei, minhas convicções e também minhas dúvidas. Muitas de minhas suposições puderam ali ser desenvolvidas, muitas propostas foram aprimoradas, muitos enganos foram corrigidos e muitas dúvidas, desfeitas. A tese A instrumentalidade do processo, que me valeu a titularidade acadêmica de direito processual civil, é para mim o mais gratificante dos frutos desses debates.
Como é natural, este livro é também fruto de uma evolução cultural desenvolvida pelos pensadores de meu país e do mundo todo. Não se faz ciência por saltos e ninguém pensa sozinho, ainda quando se iluda ao crer que está pensando sozinho (CARNELUTTI). O que escrevo eu, o que escreveram meus antecessores e o que continuará a ser escrito são passos de uma caminhada cujo começo se conhece razoavelmente mas cuja consumação, não ocorrerá jamais, enquanto o homem for homem e enquanto o gênio humano for capaz de criar. Todos procuramos criar algo, mas dependemos todos do que já foi criado antes.
Com a consciência dessa pequenez histórica do que em um livro se diz e das limitações criativas de quem não é mais que um entre os milhares de construtores de uma ciência, sei que também algo de mim próprio está nesse livro; como elo de uma longa corrente ou mero passo de uma caminhada de que todos participamos, ele foi também alimentado pelo produto de minhas próprias reflexões e do modo como, em minhas duas vidas de processualista, hoje vejo meu instrumento de trabalho. Essa é a principal mola propulsora da produção científica - a esperança de ver progredir as próprias idéias, sem o obcecado temor inerente a um sentimento de autocrítica que inibe o progresso da ciência.
Este livro tem também a sua história.
É uma história muito pessoal, que me agrada contar apesar do risco de trazer tédio aos leitores. O sonho de produzi-lo parecia uma quimera fugidia que se afasta e se afasta sempre que pensamos caminhar ao seu encontro. Não fui capaz de conciliar a redação de minhas Instituições com as atividades de promotor de justiça, juiz do Tribunal de Alçada, desembargador ou advogado. Em determinado momento, ousei. Por três anos consecutivos isolei-me durante longos períodos em uma pequena ilha ao Sul da Itália, onde em um chalé e longe das solicitações profissionais consegui dar corpo ao sonho. Colho hoje o fruto dessas fugas, mas a memória das próprias fugas é também uma saudade que alimenta. Saudade da pequenina Canneto, da ilha de Lipari, do arquipélago das Ilhas Eólias; saudade de don Gennaro, que nos acolhia hospitaleiro entre os fiéis da paróquia de San Cristoforo; do quitandeiro Michele, que sempre nos vendia mais do que queríamos comprar; do bar do Tano, onde tomava meus cafezinhos diários em meio aos seus comentários sobre os últimos fatos da política e do futebol; da família Fonti, que nos hospedou em sua Residence La irlletta - Mimmo, Rita, Ariana e Roberta foram testemunhas do meu trabalho e da minha alegria ao escrever este livro, quase tanto quanto a LAís e nossos filhos.
A história deste livro inclui também o modo como foi escrito. No refúgio em que me abriguei, contei somente com meus próprios apontamentos de aula, com minha memória sobre os temas a desenvolver e com a obra de THEOTÔNIO NEGRÃO. As glosas adicionadas pelo grande advogado paulista a cada artigo do Código de Processo Civil valeram-me como indicação dos problemas que surgem perante os tribunais e informação sobre como eles estão sendo resolvidos. Orgulho-me em dizer que em alguma medida este livro é a condensação sistemática dos pontos suscitados no monumental Código de Processo Civil e legislação processual em vigor.
Elaborado desse modo, este livro não contém referências doutrinárias e não pretendo que ele seja uma fonte de pesquisa. Se o estudante, meu primeiro leitor, captar bem as mensagens que lhe transmito, sua iniciação estará consumada e ele poderá depois formar suas próprias convicções mediante outras leituras que fará. Ao segundo leitor, o operador do processo, estou convencido de que as colocações conceituais e os informes de jurisprudência fornecidos poderão trazer alguma ajuda útil ao exercício profissional. Ao terceiro leitor, que se preocupa com profundidades, espero que cada afirmação feita seja reveladora de uma tomada de posição em relação a temas atuais ou eternos da ciência processual. Como ato de respeito a esses três leitores, cuidei somente de identificar pensamentos de autores que me precederam, mediante simples indicação do nome de cada um e com o objetivo de afastar qualquer suspeita de indevidos apossamentos de idéias alheias.
Espero que este livro tenha também ™o seu futuro.
Deus me dê vida, forças e humildade suficientes pwá recolher as observações, sugestões e críticas que certamente virão e saber analisá-las ao aperfeiçoamento das idéias que as Instituições propõem. Esse é um imperativo do caminhar incessante dos conhecimentos científicos. As respostas de crítica sadia são tão animadoras quanto as manifestações de apoio, fazendo parte da glória de quem escreve. A miséria de quem escreve é a que vem do silêncio e da indiferença.
ARCADAS DE São FRANCISCO, fevereiro de 2001
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Livro I - OS FUNDAMENTOS E AS INSTITUIÇÕES FUNDAMENTAIS
TITULO I - o direito processual civil: CAPÍTULO I - as grandes premissas; CAPITULO II - a lei processual civil. TITULO II - o acesso à justiça e a tutela jurisdicional. CAPÍTULO III - os conflitos e a ordem jurídica justa; CAPÍTULO IV - os escopos do processo civil e a técnica processual; CAPÍTULO V - espécies de tutelas jurisdicionais e a realidade dos conflitos. TÍTULO III - o processo civil brasileiro: CAPITULO VI - o modelo processual civil brasileiro; CAPÍTULO VII - os fundamentos constitucionais: princípios e garantias do processo civil; CAPÍTULO VIII -passado e futuro do direito processual civil brasileiro: tendências. TITULO IV - os institutos fundamentais: CAPÍTULO IX - institutos fundamentais de direito processual civil.
Título I - O DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Capítulo I -AS GRANDES PREMISSAS
1. solução imperativa de conflitos - 2. o direito processual civil - 3. direito formal, sem formalismo - 4. direito processual e direito material - 5. dois planos distintos - 6. o direito processual material - 7. institutos processuais particularmente influenciados pelo direito material - 8. direito público - 9. denominação - 10. a ciência processual civil - 11. a teoria geral do processo - 12. direito processual constitucional - 13. direito processual civil internacional - 14. direi to processual civil comparado - 15. o ramo jurídico, a técnica, a ciência e a arte - 16. instrumento ético e não puramente técnico
1. solução imperativa de conflitos
Processo civil é, resumidamente, técnica de solução imperativa de conflitos (infra, n. 48). Indivíduos e grupos de indivíduos envolvem-se em conflitos com outros, relativamente a bens materiais ou situações desejadas ou indesejadas, nem sempre chegando a uma solução negociada. Às vezes são pretensões que encontram a resistência da pessoa que poderia satisfazê-las e não as satisfaz, sendo vedada a autotutela (infra, n. 44) e até incriminada penalmente (crime de exercício arbitrário das próprias razões, art. 345 CP): isso se dá, de modo geral, no campo das pretensões ou direitos ditos disponíveis, especialmente em matéria obrigacional ou mesmo real, entre privados. Outras vezes trata-se de pretensões que a própria ordem jurídica exclui que sejam satisfeitas por ato do sujeito envolvido, o que se vê especialmente em relações de família (p.ex., a anulação de casamento) e, de modo geral, sempre que se trate de pretensões ou direitos indisponíveis. Em ambas as hipóteses, se não houver a resignaçãodo sujeito quanto ao bem da vida que constitui objeto da pretensão, o único caminho civilizado e permitido para tentar a satisfação será o processo - sendo indiferente, para a realização deste, se a razão está com o sujeito que tomou a iniciativa de acorrer ao sistema judiciário ou com o seu adversário.
Vens da vida são todas as coisas, situações ou mesmo pessoas que de algum modo possam ser objeto de aspirações e de direitos. As coisas são bens materiais (móveis, imóveis), as situações relevantes para o direito são bens imateriais (p.ex., a liberdade ou o estado de casado) e as pessoas podem ser objeto de uma relação jurídica, p.ex., quando se trata de sobre elas exercer o pátrio-poder ou a guarda. Fala-se em bens da vida porque é em relação a eles que, na vida comum e independentemente de qualquer atividade processual, os direitos são exercidos e as pretensões incidem (pretensão, no sentido de aspiração ou atitude mental endereçada à obtenção ou conservação do bem da vida: infra, n. 430).
Falar em solução imperativa de conflitos corresponde a afirmar que o processo civil constitui monopólio estatal. É o Estado quem o conduz, por obra de agentes específicos que são os juízes e seus auxiliares e mediante o exercício do poder estatal. Consiste este na capacidade de decidir imperativamente e impor decisões - e o que faz o Estado juiz no processo civil é precisamente isso: ele decide segundo certos critérios valorativos e produz resultados práticos até mesmo mediante emprego da força se for necessário. No processo civil moderno ressaltam-se os poderes do juiz, endereçados a fazer cumprir rigorosamente as suas decisões, sob pena de o exercício do poder ficar truncado - decidindo mas não impondo a efetivação do decidido. A efetividade do processo é um dos temas de maior destaque no processo civil moderno. Como se dá em todos os setores do exercício do poder estatal, o juiz atua no processo de modo inevitável, o que significa que a efetividade de suas decisões não deve depender da boa-vontade dos sujeitos envolvidos (disposição a obedecer) nem da sua prévia disposição a aceitar os resultados futuros. O processo não resulta de qualquer ajuste de vontades entre os litigantes e, para ter início, basta a iniciativa de um deles. O outro, chamado a participar, poderá ser mais ou menos diligente e pode até omitir-se por completo (revelia etc.), mas sua vontade é indiferente para que o processo se realize ou para que produza os resultados adequados em cada caso.
Existem possibilidades de solução de conflitos por terceira pessoa e sem a marca da imperatividade. São os chamados meios alternativos de solução dos conflitos, representados pela arbitragem, pela conciliação e pela mediação, de grande utilidade social e fortemente incrementados pelo direito moderno. O direito estimula a autocomposição por ato de boa-vontade de ambos os envolvidos (transação) ou de um deles (renúncia, submissão) mas, quando por nenhum desses meios se chega à pacificação, não há como eliminar o conflito sem a resignação e sem o processo civil.
2. o direito processual civil
Direito processual é o conjunto de princípios e normas destinados a reger a solução de conflitos mediante o exercício do poder estatal (infra, n. 117). Esse poder, quando aplicado à função de eliminar conflitos e pacificar pessoas ou grupos, constitui o que se chama jurisdição e esta é a função do juiz no processo. Em todos os povos, mas notadamente no Estado-de-direito, é natural que o exercício da jurisdição se submeta a um complexo conjunto de regras jurídicas destinadas ao mesmo tempo a assegurar a efetividade dos resultados (tutela jurisdicional), a permitir a participação dos interessados pelos meios mais racionais e a definir e delimitar a atuação dos juízes, impondo-lhes deveres e impedindo-lhes a prática de excessos e abusos. Essas regras, postas pelo Estado de modo imperativo, são regras de direito e vinculam todos os sujeitos do processo. Elas integram o direito processual, como ramo do ordenamento jurídico nacional. Observá-las é dar efetividade a um valor muito exaltado no Estado democrático moderno, que é o devido processo legal - sistema constitucional e legal de disciplina e limitações ao exercício do poder (infra, n. 93).
O direito processual, assim entendido, apresenta-se nas subespécies direito processual civil e direito processual penal.
No sistema brasileiro o direito processual civil é o responsável pelo exercício da jurisdição com referência a pretensões fundadas em normas de direito privado (civil, comercial) e também público (administrativo, tributário, constitucional). Nisso o processo civil brasileiro diferencia-se de importantes modelos europeus e latino-americanos em que há certas limitações relacionadas com o Estado em juízo. Nosso sistema é o da chamada jurisdição una e também o Estado se sujeita aos juizes integrantes do Poder Judiciário e às regras do direito processual civil. Aqui inexiste o contencioso administrativo e o processo diferenciado para certas causas regidas pelo direito público. Excluem-se do âmbito do processo civil brasileiro, exclusivamente, as causas de natureza penal.
Esses contornos do direito processual civil tornam difícil delimitar de modo positivo o âmbito de sua incidência, sendo usual a afirmação de que ele é o ramo do direito processual destinado a dirimir conflitos em matéria não-penal.
Também essa colocação é imperfeita. Os litígios regidos pelo direito do trabalho ou pelo eleitoral são excluídos do âmbito do processo civil comum, embora conduzidos mediante as regras de um processo civil lato sensu. É muito grande a aplicação subsidiária das normas do processo civil comum ao trabalhista (CU, art. 769).
3. direito formal, sem formalismo.
O direito processual é eminentemente formal, no sentido de que define e impõe formas a serem observadas nos atos de exercício da jurisdição pelo juiz e de defesa de interesses pelas partes. A exigência de formas no processo é um penhor da segurança destas, destinado a dar efetividade aos poderes e faculdades inerentes ao sistema processual (devido processo legal); o que se renega no direito formal é o formalismo, entendido como culto irracional da forma, como se fora esta um objetivo em si mesma. Forma é a expressão externa do ato jurídico e revela-se no modo de sua realização, no lugar em que deve ser realizado e nos limites de tempo para realizar-se. Opõe-se conceitualmente à substância do ato, que se representa pelo seu conteúdo, varia caso a caso e corresponde ao encaminhamento a ser dado ao processo e ao litígio em cada situação específica.
A sentença deve conter relatório, motivação e decisório, sendo nula se não motivada. Tal é o modo típico de realização desse ato, ou a sua forma exigida pelo direito (Const., art. 93, me. IX; CPC, arts. 131 e 458). Mas o conteúdo de cada uma dessas suas partes estruturais será o que cada caso concreto impuser, sendo que no decisório estará o julgamento da causa a ser ditado pelo juiz. Toda sentença deverá ser composta daquelas três partes, mas cada uma apresentará um conteúdo substancial correspondente ao caso e composto pelo juiz segundo seu livre convencimento.
Uma das características do processo civil moderno é o repúdio ao formalismo, mediante a flexibilização das formas e interpretação racional das normas que as exigem, segundo os objetivos a atingir. É de grande importância a regra da ins4rumentalidade das formas, concebida para conduzir a essa interpretação e consistente na afirmação de que, realizado por algum modo o objetivo de determinado ato processual e não ocorrendo prejuízo a qualquer dos litigantes ou ao correto exercício da jurisdição, nada há a anular ainda quando omitido o próprio ato ou realizado com transgressão a exigências formais. Não há nulidade sem prejuízo (CPC, arts. 244 e 249, § 1- e 2-). As exigências formais estão na lei para assegurar a produção de determinados resultados, como meios preordenados a fins: o que substancialmente importa é o resultado obtidoe não tanto a regularidade no emprego dos meios (infra, rln. 702, 714 etc.).
A citação é um dos atos essenciais de maior importância no processo, pois é a primeira das providências destinadas à efetivação da garantia constitucional do contraditório (participação dos litigantes) (Const., art. 54, inc. LV, e CPC, art. 213). Mas se o demandado comparece e defende-se mesmo sem ter sido citado, a omissão em nada o prejudicou porque o objetivo do ato, que era a ciência da propositura da causa, foi inteiramente realizado por outro meio. Inexiste a nulidade do processo, em situações assim, embora não cumprida a exigência de citar o demandado (CPC, art. 214).
4. direito processual e direito material
Conceitual e funcionalmente, direito processual opõe-se a direito material, ou substancial.
Ele não cuida de ditar normas para a adequada atribuição de bens da vida aos indivíduos, nem de disciplinar o convívio em sociedade, mas de organizar a realização do processo em si mesmo. A técnica da solução de conflitos pelo Estado - ou seja, o processo - está definida nas normas integrantes de um específico ran}o jurídico, que é o direito processual civil. Ao estabelecer como o juiz deve exercer a jurisdição, como pode ser exercida a ação por aquele que pretende alguma providência do juiz e como poderá ser a defesa do sujeito trazido ao processo pela citação, o direito processual não estabelece norma alguma, destinada a determinar o teor dos julgamentos; nem fixa critérios capazes de definir qual dos litigantes tem direito ao bem da vida pretendido (direito à tutela jurisdicional) e qual deles há de suportar a derrota.
Jurisdição, ação, defesa e processo são as quatro grandes categorias jurídicas que compõem o núcleo estrutural do direito processual (os seus institutos fundamentais) (infra, nn. 108 ss.). Em torno delas gira todo o conteúdo dogmático dessa ciência. Tutela jurisdicional é a proteção que, por meio do processo e pelo exercício da jurisdição, o Estado dá ao sujeito que tiver razão no litígio (infra, nn. 39 ss.).
A instituição de normas contendo critérios para a solução de conflitos (critérios para seu julgamento) constitui tarefa do direito substancial, que é integrado pelo direito civil, comercial, agrário, administrativo, ambiental, tributário, financeiro, econômico, eleitoral etc., residindo principalmente nos respectivos Códigos e leis específicas (entre as quais, modernamente, as leis ambientais, o Código de Defesa do Consumidor, o Estatuto da Criança e do Adolescente etc. ). As normas substanciais dirigemse aos sujeitos viventes em sociedade e estabelecem critérios para a atribuição de bens a eles (v.g., as normas sobre propriedade ou posse, as que estabelecem a obrigação de reparar por danos contratuais ou extracontratuais, as que ditam sanção para violações aos deveres entre cônjuges ou transgressões à higidez do meio-ambiente etc.). Disciplinam também a cooperação de pessoas em atividades de interesse comum, como se dá nas leis sobre sociedades mercantis, partidos políticos etc.
As normas processuais entram em operação quando algum sujeito, lamentando ao Estado juiz um estado de coisas que lhe desagrada e pedindo-lhe uma solução favorável mediante invocação do direito material, provoca a instauração do processo. A realização do processo, como atividade conjunta de ao menos três sujeitos (juiz, autor e réu), constitui objeto das normas de direito processual.
Há normas de direito processual inseridas em corpos legislativos preponderantemente substanciais, como é o caso de tradicionais artigos do Código Civil sobre aprova (arts. 131, 135, 136 ss., 346 etc.). Do mesmo modo, em leis processuais encontramse algumas disposições de natureza substancial -- v.g., o Código de Processo Civil dispondo sobre a indenização devida pelo litigante de má-fé (arts. 16-18). Há também leis que num só corpo trazem disposições substanciais e processuais, como a Lei do Divórcio, a Lei de Locação de Imóveis Urbanos, o Código de Defesa do Consumidor etc.; isso assim acontece, com plena legitimidade sistemática, devido à integração do processo e direito material num só contexto global de tutela, sendo às vezes de toda conveniência disciplinar num só corpo algum instituto de direito substancial e os modos como há de ser tratado posto em litígio perante o Poder Judiciário. Cabe ao intérprete consciente a tarefa de separar as normas processuais das substanciais, principalmente para que possa tratar adequadamente umas e outras, a partir dos pressupostos metodológicos próprios a cada um desses campos do saber jurídico (sobre a norma processual: infra, nn. 6 e 17 ss.).
5. dois planos distintos (Infra, n. 5I)
Precisamente porque as normas processuais não se destinam a disciplinar diretamente as relações interpessoais ou intergrupais na vida comum, nem a criar, modificar ou extinguir direitos subjetivos, assim também não tem essa função o seu destinatário principal - o juiz. Nascem as situações subjetivas substanciais, invariavelmente, do concreto acontecimento de algum ato ou fato previsto em norma jurídica geral - como o direito de propriedade é efeito da ocorrência de algum dos modos de aquisição, definidos no Código Civil (originários, derivados), como o crédito nasce do mútuo ou do dano causado, como o direito à separação judicial vem da prática de atos desonrosos ou grave violação aos deveres do matrimônio etc. O devedor não o é porque o juiz o haja constituído tal, mas porque já o era antes do processo e da sentença; o possuidor não se torna dono por obra da sentença que julga procedente a ação de usucapião mas porque, tendo exercido a posse adequada por tempo suficiente, a lei civil o considera assim; etc. As sentenças judiciais limitam-se a revelar essas situações criadas pela vida e regidas pelo direito material, eliminando dúvidas e valendo como palavra final a respeito (coisa julgada). Elas não criam situações jurídicas novas. Direitos e obrigações preexistem ao processo. Ex facto oritur jus.
Visto desse modo, o trabalho do juiz consiste apenas (a) na busca da verdade dos fatos através da prova, (b) no enquadramento desses fatos no modelo genérico definido em lei (fattispecie) e (c) na explicitação e efetivação da norma concreta emergente da ocorrência do fato concreto. Mesmo nos casos em que o juiz constitui alguma situação jurídica nova, postulada pela parte (v.g., sentença que decreta a separação judicial ou o divórcio), o direito à modificação jurídica operada pelo juiz preexiste à sentença. O juiz institui entre as partes o status de divorciados mas o direito a essa modificação é precedente ao processo e à sentença.
Assim composto, o ordenamento jurídico divide-se em dois planos distintos, interagentes mas autônomos e cada qual com sua função específica. Às normas substanciais compete definir modelos de fatos capazes de criar direitos, obrigações ou situações jurídicas novas (fattispecie), além de estabelecer as conseqüências específicas da ocorrência desses fatos (sanctiones juris). As normas processuais ditam critérios para a descoberta dos fatos relevantes e revelação da norma substancial concreta emergente deles, com vista à efetivação prática das soluções ditadas pelo direito material. Do juiz espera-se a fiel e correta revelação das normas substanciais concretas, partindo do texto das leis e valendo-se de critérios racionais e realistas para a interpretação legítima e socialmente adequada. Seu raciocínio parte de normas gerais, assim pesquisadas, e chega à norma do caso concreto, que ele próprio não cria mas é derivação daquelas.
À corrente dualista do ordenamento jurídico, assim configurada, opõem-se as unitárias, que tendem a afirmar a participação do juiz na criação das normas concretas, pressupondo a insuficiência da lei material para a instituição de direitos, obrigações e demais situações jurídicas entre as pessoas (infra, n. 51).
6. o direito processual material
A autonomia do direito processual e sua localização em plano distinto daquele ocupadopelo direito material não significam que um e outro se encontrem confinados em compartimentos estanques. Em primeiro lugar, porque o processo é uma das vias pelas quais o direito material transita rumo à realização da justiça em casos concretos; ele é um instrumento a serviço do direito material. Depois, porque existem significativas faixas de estrangulamento, ou momentos de intersecção, entre o plano substancial e o processual do ordenamento jurídico.
A escalada de autonomia científica do direito processual, fruto dos estudos principiados em meados do século XIX, deixou fora de dúvida que o direito processual tem sua vida própria e cabe-lhe uma missão social e jurídica diferente, em relação ao direito substancial. Seus escopos, ou objetivos próprios (sociais, políticos e jurídicos), são bem definidos e não se confundem com os deste (infra, nn. 47-55); apóia-se em fundamentos metodológicos que não são os mesmos do direito substancial (é direito público, formal, não participa da criação de direitos); e tem seu próprio objeto material, que são as categorias jurídicas relacionadas com a atividade destinada a eliminar conflitos. As categorias jurídicas processuais, aglutinadas em torno de seus institutos básicos (jurisdição, ação, defesa e processo), são reconhecidas universalmente como realidades independentes do direito substancial e das situações regidas por ele. Essas conquistas metodológicas principiaram com o reconhecimento da autonomia da ação em face do direito subjetivo material (não é mais havida por inerência deste) e da relação jurídica processual em face da relação substancial controvertida entre os litigantes (ela difere desta em seus sujeitos, em seu objeto e em seus pressupostos: Oskar Von Bülow) (infra, nn. 98 e 500-501). Hoje não há margem para duvidar da autonomia do direito processual e de sua colocação em patamar distinto daquele em que se situam as normas e relações jurídico-materiais.
Quando porém se passa das especulações abstratas para a observação das concretas situações de conflitos entre indivíduos ou grupos (crises jurídicas), percebe-se uma proximidade muito significativa entre certos institutos francamente processuais e a situação de direito substancial em relação à qual o processo atuou ou deve atuar. Esses institutos - ação, competência, fontes e ônus da prova, coisa julgada e responsabilidade patrimonial - são responsáveis por situações que se configuram fora do processo e dizem respeito diretamente à vida das pessoas em sociedade, nas suas relações com as outras ou com os bens que lhes são úteis ou desejados; e só num segundo momento eles são objeto das técnicas do processo, a saber, quando um processo se instaura e então se pensa nas atividades a serem desenvolvidas para sua atuação.
A ação, a competência, a prova, a coisa julgada e a responsabilidade patrimonial, recebendo do direito processual parte de sua disciplina (na sua técnica), mas também dizendo respeito a situações dos sujeitos fora do processo (às vezes, até antes dele), compõem um setor a que a doutrina já denominou direito processual material (Chiovenda). Elas são, portanto, institutos bifrontes: só no processo aparecem de modo explícito em casos concretos, mas são integrados por um intenso coeficiente de elementos definidos pelo direito material e - o que é mais importante - de algum modo dizem respeito à própria vida dos sujeitos e suas relações entre e si e com os bens da vida. Constituem pontes de passagem entre o direito e o processo, ou seja, entre o plano substancial e o processual do ordenamento jurídico (Calamandrei).
Aprova, por exemplo. É no processo que se desenvolve toda sua dinâmica e é nele que produzirá sua eficácia institucionalizada. Mas as fontes de prova, ou seja, as pessoas e coisas capazes de fornecer informações ao juiz que julgará, são elementos externos ao processo, fazem parte da vida comum e apenas em um segundo tempo serão trazidas a ele e utilizadas como meios instrumentais. Em seu aspecto estático, as fontes de prova residem no direito substancial (infra, n. 723). Daí sua configuração bifronte e a necessidade de a categoria jurídica prova ser encarada com a consciência de que as fontes de prova vêm para o processo carregadas de conotações relacionadas com o próprio conflito a que se referem. Daí, também, o direito a utilizar-se das fontes legítimas, que integram o amplo conceito do direito à prova (infra, n. 782).
A proposta de distinção entre um direito processual formal e um direito processual material conta com o aval da mais prestigiosa voz doutrinária em processo civil. "É preciso evitar a crença de que lei processual seja sinônimo de lei formal " (Chiovenda). Esse pensamento teve o mérito de abrir caminho para a percepção de que existem normas de duas naturezas a influenciar de modo direto certos institutos processuais. São processuais substanciais as que outorgam ao sujeito certas situações exteriores ao processo e que nele repercutirão de algum modo se vier a ser instaurado. São processuais puras, ou processuais formais, as que operam exclusivamente pelo lado interno do processo e nele exaurem sua eficácia, disciplinando os atos e relações inerentes ao processo e não lançando efeitos diretos para o lado externo, ou seja, sobre a vida das pessoas (p.ex., normas sobre a forma dos atos processuais, prazos, procedimentos adequados, recursos etc. ).
Já se sustentou no passado, em formosa doutrina, que o próprio direito material seria em si mesmo um direito justicial material (materielles Justizrecht, James Goldschmidt) - entendido este como o aspecto processual do direito substancial (Calamandrei). As normas de direito material, quando relevantes para a decisão de uma causa posta em juízo, transmudar-se-iam em normas de direito justicial material, tendo por destinatário o juiz. Já não se trataria de normas de conduta para os litigantes, mas de normas de julgamento para o juiz. Pelos seus exageros, por renegar a então florescente e já vitoriosa teoria da relação jurídica processual e especialmente por conflitar com o dogma da autonomia do direito processual, essa doutrina não sobreviveu por muito tempo (Liebman). Contribui contudo para que hoje, aplacados os radicalismos autonomistas e proclamada a relatividade do binômio direito processo, possa-se chegar à percepção da necessidade do exame bifocal de alguns institutos a partir de premissas do direito material e com os olhos na particular influência que exerce sobre concretas situações jurídico-substanciais - embora processuais e não materiais sejam os reflexos imediatos desse exame e mesmo com a consciência de que, em si mesmos, esses institutos são de direito processual. A moderna visão do direito processual material não se confunde, em suas premissas e em suas propostas, com o materielles Justizrecht.
É inerente ao direito processual material a convergência de normas substanciais e processuais a disciplinar os institutos, em si mesmos processuais, que preenchem as faixas de estrangulamento existentes entre os dois planos do ordenamento jurídico. Ele é, pois, o conjunto de normas e princípios de direito material e de direito processual disciplinadores dos institutos processuais que diretamente se relacionam com o direito à tutela jurisdicional (ação, competência, fontes e ônus da prova, coisa julgada material, responsabilidade patrimonial). Seu objeto material é integrado por esses institutos que, embora processuais em razão de sua direta participação na vida do processo, são diretamente influenciados pelos elementos e pela disciplina da relação jurídica material a ser efetivada mediante este. Em tempos atuais praticamente não é usual falar em direito processual material, mas o conceito é metodologicamente legítimo e concorre muito eficazmente para o bom entendimento do regime jurídico das categorias que o integram.
O destaque às faixas de estrangulamento e ao direito processual material é vital para a correta compreensão do tema da divisão do ordenamento jurídico em dois planos funcionalmentedistintos, sem a ilusão de que sejam estanques. Privar o sujeito da possibilidade de levar ao Judiciário as suas pretensões (ação), ou privá-lo do juiz previamente competente em certos casos (juiz natural), ou dos meios estabelecidos em lei para que obtenha a tutela a que tiver direito (bens, fontes de prova), ou ainda da estabilidade do julgado que o beneficia (coisa julgada) é subtrair-lhe ou reduzir sua possibilidade de acesso à justiça - e, na prática, isso pode equivaler a impor-lhe uma situação contrária aos ditames de direito material e às garantias constitucionais.
7. institutos processuais particularmente influenciados pelo direito material
A rigor, todo o sistema processual constitui reflexo da ordem jurídico-material, à qual é instrumentalmente conexo (infra, n. 51) - sendo seus institutos concebidos e modelados com vista à atuação das normas daquele e realização dos resultados práticos que elas preceituam. Por isso, é natural que as normas substanciais e os elementos concretos de cada causa trazida a juízo (qualidade das partes, fundamento jurídico-material, natureza do bem pretendido etc.) alguma influência projetem sobre o modo como em cada caso os institutos processuais se comportam. Varia muito o grau dessa intensidade e institutos existem que não recebem qualquer influência perceptível ou relevante - como a forma dos atos processais (CPC, arts. 154 ss.), nulidades (art. 243 etc), prazos e sua contagem (arts. 177 ss.), dever de lealdade das partes (art. 14, incs.l-IV), litigância de má-fé e repressão a ela (CPC, arts. 16-18), poderes do juiz (art. 125), seu impedimento ou suspeição (arts. 134-135), extinção do processo por abandono ou desistência (art. 267, incs. 11,111, VII), necessidade de motivação dos atos jurisdicionais (Const., art. 93, me. IX; CPC, arts. 131 e 458, inc.11) etc.
O grau de interesse pelo exame da influência que muitos institutos do processo recebem do direito material está na ordem direta da intensidade da ligação de cada um a este - embora seja impossível traçar regras objetivas ou linhas de separação entre eles, arrolando-os e classificando-os segundo os diversos graus de influência que recebem. O certo é que a generalidade dos institutos processuais recebe algum grau de influência da situação de direito material versada no processo (Bedaque), embora em nenhum deles essa influência seja tão intensa quanto a que se projeta sobre os institutos bifrontes, ou seja, sobre aqueles que compõem as faixas de estrangulamento existentes entre a ordem processual e a substancial.
Alguns exemplos de institutos que, sem chegar a ser bifrontes, estão diretamente influenciados pelo direito material: a) a permissão de dois ou mais sujeitos demandarem conjuntamente como autores ou serem demandados conjuntamente como réus (litisconsórcio facultativo) está sempre condicionada à existência de algum grau de relação entre a situação de cada um deles e aquilo que pretende, ou que de cada um deles se pretende (conexidade entre causas etc.: art. 46); b) a determinação da Justiça ou do foro competente é sempre feita de acordo com a condição das partes (União Federal: Const., art. art. 109, inc. I), sua sede (domicílio do réu, art. 94 CPC), fundamento jurídico-material do pedido (p.ex., as demandas fundadas em direito real: art. 95), natureza do objeto (imóvel, sempre art. 95); c) o processo só se extingue por acordo entre as partes ou por força de algum ato de disposição de direito quando a matéria for suscetível de transação segundo as regras substanciais pertinentes (CC, art. 131; CPC, art. 269, incs. II, III, V); d) o processo monitório só é admissível em relação a pretensões a receber dinheiro, ou coisas fungíveis, ou determinado bem móvel (art. 1.102-a); e) o procedimento sumário é reservado para causas com valor até vinte salários mínimos ou envolvendo pretensões fundadas em certas categorias jurídico-substanciais, que a lei processual enuncia (art. 275); f) a antecipação de tutela depende da urgente necessidade de quem a pede e suficiente probabilidade de existência do seu direito (art. 273); etc.
8. direito público
O direito processual civil é ramo específico do direito processual, que por sua vez se instala na grande árvore do direito pela vertente do direito público. Suas normas, por se destinarem a disciplinar o exercício do poder pelo Estado e os modos como os interessados são admitidos a colaborar nessa atividade, são invariavelmente de direito público, não-obstante possam ser de direito privado as que regem os conflitos a serem solucionados através do processo. Podem ser de direito público ou privado as normas que regem a situação concreta em julgamento, ou seja, as que regem o conflito (direito administrativo, tributário, civil, comercial etc.: supra, n. 2); mas as processuais, que comandam a realização dos atos do juiz, dos litigantes e dos auxiliares daquele no processo, essas são invariavelmente de direito público.
Ser de direito público significa que as normas processuais não disciplinam negócios ou interesses conflitantes entre o Estado e as partes, mas o modo como o poder é exercido. 0 Estado juiz
não persegue concretos interesses seus em confronto com o dos litigantes, nem se põe no mesmo plano que eles no processo. Exerce imperativamente o poder, tendo por contraposição o estado de sujeição dos litigantes (sujeição é a impossibilidade de impedir o exercício do poder por outrem). Falando de poder e de sujeição ao seu exercício, estamos falando de direito público.
9. denominação
A adjetivação civil, como visto, não corresponde a qualquer ligação enciclopédica do direito processual civil ao direito civil e mesmo ao direito privado como um todo. Por outro lado, modernamente prefere-se falar em direito processual e não direito judiciário, como no passado foi: na Faculdade de Direito de São Paulo havia até há poucas décadas as cátedras de direito judiciário civil, denominação que veio a ser substituída pela atual. O adjetivo judiciário, que pela grafia sugere a idéia de algo próprio aos juizes, etimologicamente associa-se também a judicium, que é a denominação latina para o que hoje se denomina processo - o que insinua até mesmo uma equivalência ao adjetivo da preferência atual (processual).
No direito francês, ainda hoje profundamente influenciado por visões pandectistas antecedentes aos progressos científicos do direito processual, a disciplina é denominada droit judiciaire privé, o que induziria a crença numa suposta negativa do caráter público do direito processual. Fala-se ainda em procédure civile, locução que transmigrou para a Itália e leva os italianos, mesmo modemamente, a referir-se ao sistema processual como procédura civile. Em idioma inglês, a matéria é designada por civil procedure. Em alemão, Zivilprozelrecht.
10. A ciência processual civil
Como todo ramo jurídico, o direito processual civil constitui objeto de uma ciência específica. O direito processual despertou como ciência na segunda metade do século XIX, a partir de quando pôde ser definido seu objeto específico e estabelecido seu método próprio. Até então era havido e tratado como mero apêndice do direito privado e chamado direito adjetivo porque não lhe atribuíam os juristas o predicado da autonomia: o adjetivo não tem vida própria e não passa de uma qualidade do substantivo, sempre dependente da existência deste para que possa existir. O processo, naquela visão sincrética, não passaria de mero modo de exercício dos direitos.
Tem-se por ciência o conjunto de conhecimentos ordenados segundo método próprio, com adequação à realidade observada, certeza quanto aos resultados das investigações e coerência unitária dos juízos alcançados (Miguel Reale); além disso, toda ciência tem seu próprio objeto material, que a distingue das demais. O processo civil só se alçou à condição científica, assim delineada, a partir de quando absorveu como seus certos institutos e, construindo seu próprio método, pôde ganhar a coerência unitária dos conceitos afirmados.O objeto material da ciência do processo, que numa visão mais vaga e genérica é o conjunto de todas as normas processuais, consiste mais precisamente nos institutos, ou categorias jurídicas em que essas normas se conglomeram. Uma visão moderna aponta como categorias centrais do sistema processual a jurisdição (poder estatal endereçado à pacificação de pessoas e grupos em casos de conflito jurídico), a ação (poder de provocar o exercício da jurisdição e influir em seu direcionamento), a defesa (contraposto negativo da ação, como poder de influir em sentido oposto) e o processo (modo de exercício da jurisdição pelo juiz, da ação pelo autor e da defesa pelo réu: infra, n. 108 ss.).' Esses quatro institutos fundamentais são categorias jurídicas próprias ao direito processual como um todo. O seu estudo, acima das especificidades próprias a cada um dos ramos deste (direito processual civil, penal, trabalhista etc.), constitui objeto da teoria geral do processo.
NOTA:
1. Só por razões de ordem didática e de clareza, no texto são empregados os vocábulos autor e réu, para designar, mais amplamente, o demandante e o demandado. Aqueles vocábulos são restritos ao processo de conhecimento; estes abrangem também as partes do processo de execução (exeqüente e executado).
Também de um método próprio dispõe a ciência processual, o que é essencial ao reconhecimento da existência desse específico ramo científico (é o seu objeto formal). Método é o modo pelo qual determinada ciência encara e examina seu objeto material; o método próprio ao direito processual constitui-se dos princípios que lhe sobrepairam, do reconhecimento de sua inserção no direito público e, modernamente, da constante preocupação pela oferta de meios para o efetivo acesso à justiça mediante resultados efetivos e justos. Tal é o método do processo civil de resultados.
O caráter instrumental do direito processual ao direito substancial e ao superior objetivo de pacificar pessoas constitui hoje um pólo metodológico de primeira grandeza na ciência do processo. Outra colocação metodológica a que o processualista moderno atribui enorme importância é a inserção do sistema processual na ordem constitucional, ao lado da perspectiva isonômica revelada no repúdio ao processo civil do autor (infra, n. 39).
11. a teoria geral do processo
Nas últimas décadas do século XX desenvolveu-se extraordinariamente a visão sistemática do direito processual como um todo, superando e definindo melhor as tradicionais fronteiras existentes entre seus diversos ramos. Reconhece-se, em resumo, que existe muito em comum entre os diversos ramos processuais e que as peculiaridades de cada um não são suficientes a impedir ou a tornar menos frutífero o exame global dos grandes princípios, dos institutos fundamentais e do método comum - tudo num plano de plena aplicação a todos eles.
Não se postula a unidade legislativa, mas a condensação científica de caráter metodológico. Conhecem-se tentativas de reunir num só corpo legislativo o processo civil e o penal, ou ao menos os preceitos mais amplos relativos a eles (Codex juris canonici de 1917, Códigos Processuais da Suécia, Panamá e Honduras); mas não é esse o objetivo da teoria geral do processo, como tal. Contenta-se em elaborar e coordenar ela própria, mediante esforços de síntese, os grandes conceitos, os grandes princípios, as grandes estruturas do sistema processual.
Essa colocação metodológica principiou por postular a reunião do direito processual civil e do direito processual penal num só enfoque comum (sempre considerado o processo trabalhista como processo civil lato sensu e, portanto, incluído nesse contexto). Delineou-se desse modo uma teoria geral do processo jurisdicional. Mas apercebeu-se o estudioso de que existe algo mais elevado a considerar, acima dos quadrantes da jurisdição e associando-se ao exercício do poder em geral. Isso propiciou maior amplitude à teoria geral do processo, que hoje vai chegando de modo palpável ao processo administrativo (tributário inclusive) e pode atingir o legislativo. Essa é uma teoria geral do processo estatal. Sempre referida ao exercício do poder, também não se legitima excluir do âmbito dessa teoria geral o processo dos entes intermediários entre o indivíduo e o Estado, como os partidos políticos, associações de categoria, sociedades mercantis etc. Esse é o limite a que pode chegar a teoria geral do processo, a qual tem pertinência a todos os campos em que alguma medida o poder é exercido.
Essa tendência expansiva legitima-se na sólida construção sistemática que ela propicia mediante a revelação de princípios superiores, inclusive em sede constitucional e com a transmigração de conceitos e raciocínios mais desenvolvidos com relação ao processo civil. A democratização do processo não Jurisdicional, com a oferta de garantias de ampla defesa, de participação (contraditório) e de observância dos modelos estabelecidos pelo direito (due process of law), é um proveitoso resultado desse trabalho fecundo de generalização (Const., art. 5-, incs. LIV e LV). Inversamente, legitima-se também a teoria geral do processo, de modo sensível, pelo enriquecimento do processo civil mediante a maior consciência da natureza pública das normas processuais, desenvolvida extraordinariamente no direito processual administrativo.
cessuais, especialmente o devido processo legal (que é um sistema de delimitação do poder e contenção de seu exercício).
12. direito processual constitucional (Infra, n. 74)
Também é dos tempos modernos a ênfase ao estudo da ordem processual a partir dos princípios, garantias e disposições de diversas naturezas que sobre ela projeta a Constituição. Tal método é o que se chama direito processual constitucional e leva em conta as recíprocas influências existentes entre a Constituição e a ordem processual. De um lado, o processo é profundamente influenciado pela Constituição e pelo generalizado reconhecimento da necessidade de tratar seus institutos e interpretar a sua lei em consonância com o que ela estabelece. De outro, a própria Constituição recebe influxos do processo em seu diuturno operar, no sentido de que ele constitui instrumento eficaz para a efetivação de princípios, direitos e garantias estabelecidos nela e muito amiúde transgredidos, ameaçados de transgressão ou simplesmente questionados.
O direito processual constitucional exterioriza-se mediante (a) a tutela constitucional do processo, que é o conjunto de princípios e garantias vindos da Constituição (garantias de tutela jurisdicional, do devido processo legal, do contraditório, do juiz natural, exigência de motivação dos atos judiciais etc.) (infra, cap. VII, nn. 74-97); e (b) a chamada jurisdição constitucional das liberdades, composta pelo arsenal de meios predispostos pela Constituição para maior efetividade do processo e dos direitos individuais e grupais, como o mandado de segurança individual e o coletivo, a ação civil pública, a ação direta de inconstitucionalidade, a exigência dos juizados especiais etc. (infra, n. 74).
13. direito processual civil internacional
Já chegou a ser proposto o reconhecimento da presença da teoria geral do processo nas regras referentes aos negócios jurídicos (Elio Fazzalari). Mas tais atos não têm fundamento no poder, senão na autonomia da vontade - o que põe a sua disciplina fora do campo de atuação das grandes regras e princípios pro
A intensificação das relações econômicas e políticas entre os Estados modernos vem exigindo muito empenho de cada um deles na definição de normas e instituição de meios capazes de propiciar a correta e produtiva cooperação internacional pela via do processo civil. Particular influência tem sido exercida, nesse movimento, pela instituição de poderosos organismos internacionais, como as Comunidades Européias e, mais recentemente, o Mercosul.
Não se busca necessariamente a unificação do poder, com instituição de entes supra-estatais dotados de poder normativo ou de jurisdição, como a Corte

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