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Interpretação dos contratos

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INTERPRETAÇÃO DOS CONTRATOS - DIREITO CIVIL III – 28 DE FEVEREIRO DE 2012 – 3ª aula – apostila 3ª – UNISANTA. 
Sentido da interpretação - Interpretar significa identificar o significado de um ato ou de um fato.
No Direito, a questão tem a ver com a interpretação da lei e do negócio jurídico e, via de consequência, do contrato.
Finalidade – A interpretação de ambos (lei e contrato) tem a mesma finalidade, mas os princípios que governam as duas (2) modalidades são diversos.
Interpretação da lei – A Lei é um comando geral, aplicável a um número mais ou menos amplo de indivíduos, enquanto o negócio jurídico emana de poucas vontades, e, como regra, seus efeitos só atingem os participantes.
A interpretação está diretamente ligada à aplicação do direito.
Ao se aplicar o Direito, está se interpretando. 
Uma atividade está diretamente ligada à outra.
Utilidade – Toda interpretação visa sempre buscar melhor e a mais adequada aplicação da norma.
Hermenêutica – A hermenêutica é a ciência da interpretação. 
Exegese – A exegese consiste na interpretação específica de textos, artigos, dispositivos legais e contratuais.
Conduta do intérprete do contrato – O intérprete de um contrato deve levar em conta esse importante aspecto social, ao iniciar seu trabalho, antes de se utilizar das conhecidas regras de hermenêutica.
O ideal é que o elemento interno (vontade) esteja em harmonia com o texto (cláusulas contratuais). 
O que foi desejado pelas partes é o que deve (ria) constar nos termos do contrato.
Expressões dúbias e contraditórias – Muitas vezes os contratantes escolhem palavras dúbias, e expressões com sentidos contraditórios, mais o intérprete deverá buscar o sentido que melhor se adapta à vontade e à necessidade dos contratantes, aplicando-se o Direito no caso concreto.
Parâmetros do intérprete - O intérprete sempre estará preso a 2 (dois) parâmetros, dos quais não pode fugir:
a) de um lado, a vontade declarada, geralmente externada por palavras;
b) de outro lado, se colocará a necessidade de se averiguar a verdadeira intenção dos contratantes.
Linhas de Interpretação – Há 2 (duas) linhas de interpretação:
a) A posição subjetivista deve o intérprete pesquisar, investigar o sentido da efetiva vontade do declarante. 
O negócio jurídico valerá conforme foi desejado. 
Por essa posição, a vontade real pode e deve ser investigada por meio de todos os elementos e circunstâncias que possam elucidar o intérprete. 
Nos contratos, a intenção é atingir o sentido da vontade comum dos contratantes, o que se afigura mais complexo.
b) Pela posição objetivista, que corresponde à teoria da declaração, não investigamos a vontade interna dos partícipes, mas atemo-nos à vontade externada, aos elementos externos do contrato. 
Procuramos os sentidos das palavras por intermédio de circunstâncias exclusivamente materiais. 
Por essa linha, o que não estiver no contrato não está no mundo jurídico.
Posição eclética a melhor solução – É evidente que nenhuma dessas 2 (duas) posições haverá de ser adotada isoladamente, razão pela qual, qualquer que seja a postura adotada pelo intérprete, as regras gerais de interpretação literal, sociológica, histórica, sistemática, devem ser lembradas.
Interpretação em nossa lei – Nosso Código Civil optou por não tratar com detalhes o instituto da interpretação. 
Lei de caráter interpretativo – Há outras legislações que fazem o contrário (francesa e a italiana), que tecem minúcias a respeito de normas interpretativas. 
É tradição em nosso Direito deixar as regras de interpretação para a doutrina e a jurisprudência.
Dispositivo normativo para interpretação – O nosso Código Civil traçou um princípio geral que está contido no art. 112, a saber:
"Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciadas do que ao sentido literal de linguagem".
Esse princípio procura afastar-se de extremismo, ou adotar unicamente a teoria da declaração, ou unicamente à vontade, como formas de interpretação.
Texto com clareza – Não há necessidade de interpretação se as palavras são claras e não deixam margem a dúvidas. 
A necessidade de interpretação surge quando existe deficiência ou dúvida nos termos e conceitos empregados pelos contratantes.
Outras normas de interpretação – O Código Civil preferiu tecer outras normas de interpretação. 
O art. 113 realça a boa-fé e os costumes que devem nortear a interpretação dos negócios jurídicos em geral: "Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos e costumes do lugar da celebração.”.
O Art. 114 do atual diploma complementa: "Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente.”.
Nosso Código de Defesa do Consumidor (CDC) (Lei 8.078/90) disciplina as relações de consumo, dispondo que os contratos nesse âmbito não obrigarão os consumidores "se os respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance" (art. 46). 
O art. 47 complementa, dizendo que "as cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor".
Particularidades da interpretação dos contratos – O contrato é um todo orgânico e deve ser interpretado levando em consideração as vontades dos contratantes um em relação ao outro.
O intérprete ao examinar uma cláusula obscura ou de má compreensão, deverá levar em consideração os efeitos que decorrem do contrato em relação a todos os contratantes.
Por isso que se critica legislações que fixam normas legais de interpretação, posto que as leis sejam muitas vezes vagas e imprecisas diante de uma análise concreta de um contrato.
As regras jurídicas servem para mero roteiro, mera orientação ao hermeneuta.
Destinatários das normas de interpretação – A Quem são os destinatários? 
Alguns dizem que são os juízes.
Mas outros afirmam que as normas são dirigidas às partes em primeiro lugar. 
Os contratantes é que têm interesse no cumprimento do contrato e devem avaliar de que modo a avença (o pacto) deve ser cumprida. 
Se, entretanto não houve um acordo acerca do exato alcance da redação contratual, poderá surgir a figura do juiz ou do árbitro como eventuais intérpretes no final.
Na verdade é ao Poder Judiciário ou a Arbitragem os destinatários finais da norma interpretativa.
Aspectos e regras de interpretação – A doutrina enumerou 12 (doze) regras de interpretação:
(1-) Nas convenções mais se deve indagar qual foi a intenção comum das partes contraentes do que qual é o sentido comum das palavras.
(2-) Quando uma cláusula é suscetível de 2 (dois) sentidos, deve entender-se naquele em que ela pode ter efeito; e não naquele em que não teria efeito algum. 
Entende-se que, da mesma forma como o legislador não coloca na lei palavras inúteis, assim fazem os contratantes no negócio jurídico. 
Buscamos sempre em cada cláusula o entendimento que faz sentido e harmoniza-se com as demais.
(3-) Quando em um contrato os termos são suscetíveis de 2 (dois) sentidos, deve entender-se no sentido que mais convém à natureza do contrato.
(4-) Nos contratos com efeitos internacionais, aquilo que é ambíguo é interpretado conforme o uso no país. 
Os usos regionais e locais devem ser levados em conta pelo intérprete. 
O uso é uma prática que não chegou ao costume.
(5-) O uso é de tamanha autoridade na interpretação dos contratos que se subentendem as cláusulas do uso ainda que não exprimissem. 
Existem determinadas formas de contratar de certas classes de pessoas que se repetem de geração em geração. 
Na dúvida, o intérprete deve admitir o uso como integrante do contrato.
(6-) O contrato deve ser interpretado como um todo: uma cláusula juntamente com as outras. 
(7-) Na dúvida interpreta-se contra quem redigiu a cláusula. 
Este deveria ser claro. 
E em favor do devedor, porque devemos procurara situação mais cômoda para que ele cumpra a obrigação.
(8-) Não cabe ao intérprete criar cláusulas contratuais. 
Não devemos ampliar o âmbito de alcance material do contrato, se isto não passou pela vontade dos contratantes. 
O alcance do contrato deve ser sempre restritivo.
(9-) Quando o objeto da convenção é uma universalidade de coisas, compreende todas as coisas particulares que compõem aquela universalidade, ainda aquelas de que as partes não tivessem conhecimento. (rebanho, por exemplo, em relação às crias já concebidas, mas não nascidas).
(10-) Um exemplo de caso concreto pode ter sido mencionado no contrato, para esclarecer uma cláusula. 
Isso não significará que as disposições do contrato somente se aplicam àquela hipótese, mas a todas as outras semelhantes.
(11-) Nos contratos, bem como nos testamentos, uma cláusula no plural se distribui muitas vezes em muitas cláusulas singulares. 
Cabe ao intérprete averiguar se, quando os contratantes redigiram uma cláusula no plural, procuraram abranger várias hipóteses no mesmo contrato ou não. 
Geralmente, uma cláusula desse nível se aplicará a uma série de cláusulas. 
A questão é de exame gramatical.
(12-) O que está no fim de uma frase se refere a toda a frase, e não àquilo só que a precede imediatamente, contanto que este final da frase concorde em gênero e número com a frase toda. 
Esta regra de interpretação é também gramatical.
Interpretação integrativa e integração dos contratos – Com frequência, no curso de um contrato, surgem situações imprevistas pelos contratantes (por exemplo, quando desaparecem os índices de correção monetária). 
Num contrato de empreitada, quando desaparece do mercado determinado produto, ou o material empregado não é mais produzido, não existindo similar no mercado.
Nessas situações, o aspecto já não é propriamente interpretar o contrato, suas cláusulas ou disposições. 
Passa a existir então uma atividade psíquica diferente da do hermeneuta. 
Surgem a interpretação integrativa e a integração propriamente dita do contrato.
Na interpretação integrativa, embora existam pontos omissos no contrato, a intenção das partes surge da idéia geral do contrato, de seu espírito. 
Desse modo, por exemplo, estipularam determinado índice de correção monetária nos pagamentos e esse índice é extinto, infere-se que outro índice próximo de correção deve ser aplicado, ainda que assim não esteja expresso no contrato, porque a boa-fé e a equidade que regem os pactos ordenam que não haja injusto enriquecimento com a desvalorização da moeda.
Na integração do contrato, o trabalho do hermeneuta é mais amplo, porque deverá preencher lacunas existentes no contrato. 
O contrato obriga as partes não apenas pelos que está expresso, mas também em relação a todas as consequências decorrente do negócio.
Procura-se nessa conjuntura, a vontade presumida das partes, tendo em vista a natureza e a finalidade do contrato. 
Funções da interpretação do contrato – A interpretação do contrato exerce, concomitantemente, função objetiva e subjetiva, pois, além de analisar o ato negocial e suas cláusulas, deverá examinar a intenção comum das partes contratantes. 
Situa-se na seara do conteúdo da declaração volitiva, fixando-se normas empíricas, mas de lógica prática do que de normação legal.
Regras interpretativas – O nosso Código Civil, não tendo nenhum capítulo relativo à interpretação do contrato, contém unicamente 5 (cinco) normas interpretativas: arts. 112, 114, 819, 113 e 423. 
Vide Lei nº. 8.078/90, art. 47, dispõe: "que as cláusulas contratuais deverão ser interpretadas de modo mais favorável ao consumidor" e Lei nº. 9.610/98, art. 4º, prescreve que: "interpretam-se restritivamente os negócios jurídicos sobre os direitos autorais". .
Por isso a doutrina e a jurisprudência, com base nesses dispositivos, criaram algumas regras de hermenêutica, para facilitar a ação do intérprete.
 
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