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INTERVENÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO NA PROPRIEDADE

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INTERVENÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO NA PROPRIEDADE
 
Introdução
A intervenção da Administração Pública não se restringe à propriedade privada. Há também intervenção da Administração em bens públicos, como no tombamento, na requisição administrativa e na desapropriação de bens privados e públicos.
A propriedade privada, por seu turno, evoluiu do sentido individual para o social. Não é mais absoluta. Seu uso, gozo, fruição e disposição não podem opor-se aos interesses gerais. Mesmo em nosso País que a CF assegura a inviolabilidade dos direitos concernentes à vida, a liberdade, à segurança e à propriedade, ela está condicionada a uma função social (CF art. 170, III).
Aquela propriedade privada, oponível contra todos e contra o próprio Estado, já não existe, e para realizar o bem comum pode o Estado nela intervir, valendo-se de diversos institutos. 
A Constituição Federal assegura o direito à propriedade, conforme disposto no art. 5.º. É um direito individual, sendo, portanto, cláusula pétrea.       
·        Art. 5.º, inc. XXII: é garantido o direito à propriedade.
·        Art. 5.º, inc. XXIII: a propriedade atenderá a sua função social.
Em seu art. 170, a Constituição Federal estabelece que “a ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: ... II – propriedade privada; ...”
O direito à propriedade tem limites, sendo condicionado ao bem estar da sociedade e devendo ser respeitado como direito fundamental e como direito da atividade econômica. A propriedade, embora protegida pela Constituição Federal, deverá satisfazer às necessidades da sociedade.
A Constituição Federal define o que seja função social:
  
      Propriedade urbana – art. 182, § 2.º, da CF: “a propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor” Plano diretor (art. 182, § 1.º, da CF) é o documento legal que estipulará as regras para o desenvolvimento ordenado de uma sociedade, de uma cidade. Deverá conter: demarcação de zona de proibição de construção; zona de indústria; zona de residência; zona comercial; zona de tombamento e outras situações.
       Propriedade rural – art. 186 da Constituição Federal: a função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente e segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:
-      aproveitamento racional e adequado da propriedade;
-      utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente;
-      observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
-      exploração que favoreça o bem estar dos proprietários e também dos trabalhadores.
Conceito de Intervenção na Propriedade
A intervenção na propriedade privada pode ser conceituada como sendo toda ação do Estado que, compulsoriamente, restringe ou retira direitos dominiais do proprietário. Segundo Hely Lopes Meirelles: “ entende-se por intervenção na propriedade privada todo ato do Poder Público que, compulsoriamente, retira ou restringe direitos dominiais privados, ou sujeita o uso de bens particulares a uma destinação de interesse público”.
 
Modalidades
Hoje, no direito brasileiro, podem ser indicadas as seguintes modalidades de restrição do Estado sobre a propriedade privada, cada qual afetando de modo diverso o direito de propriedade:
a.    Limitação administrativa;
b.    Ocupação temporária;
c.    Requisição administrativa;
d.    Tombamento;
e.    Servidão administrativa;
f.      Desapropriação.
 
A. LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA
CONCEITO: Limitações administrativas são constituídas por normas gerais e abstratas, com fundamento no poder de polícia, atingindo proprietários indeterminados, principalmente em seu direito de construir. A limitação administrativa representa uma restrição ao caráter absoluto da propriedade (obrigações de fazer, não fazer e suportar).
DEVER DE INDENIZAR. A limitação administrativa, em regra, não impõe dever de indenizar ao Estado, porque sujeitos atingidos são indeterminados. Ex.:  não poder construir acima de oito andares à beira-mar; adequações em imóveis para atender medidas de segurança e assessibilidade. Entretanto, se a limitação inviabilizar consideravelmente o uso da propriedade, haverá o dever de indenizar, porque estaremos perante uma situação que se assemelha à desapropriação indireta.
 
B. SERVIDÃO ADMINISTRATIVA
CONCEITO. Servidão administrativa é um direito real sobre coisa alheia, atingindo o caráter exclusivo da propriedade imóvel. Apesar de “direito real” implicar perpetuidade, a servidão administrativa é relativamente perpétua, dependendo do interesse público. (ex. colocação de postes de energia; passagem de oleoduto; fixação de placas de sinalização etc.).
 DEVER DE REGISTRO. Há três origens possíveis para a servidão administrativa: (i) lei; (ii) decisão judicial (Decreto-lei 3365/41, art. 40); e (iii) acordo. A servidão exige, em regra, o registro, a fim de proteger terceiros de boa-fé; o registro cumpre dever de publicidade, que a lei já cumpre, dispensando o registro. O dever de registro persiste em casos de decisão judicial e acordo.
FINALIDADE. A servidão tem como fim a prestação de um serviço público, atingindo um proprietário determinado no caráter exclusivo de sua propriedade.
RELAÇÃO DE DOMINAÇÃO. Lembre-se a servidão no direito civil: propriedade dominante (a que usa outra propriedade) e serviente (a que é utilizada por outro). Na servidão administrativa, a relação de dominação não se dá entre propriedades, entre um bem sobre o outro, mas entre o serviço prestado pelo Estado (dominante) e um bem (serviente).
TRÊS DIFERENÇAS ENTRE SERVIDÃO ADMINISTRATIVA E CIVIL: (i) regime jurídico (uma é regida pelo direito administrativo e a segunda pelo direito civil); (ii) interesse (uma protege interesse público e a outra protege interesse privado); (iii) relação de dominação (serviço sobre bem na primeira e bem sobre bem na segunda).
 INDENIZAÇÃO. Há dever de indenizar apenas quando se comprove dano, sob pena de enriquecimento ilícito.
C. REQUISIÇÃO ADMINISTRATIVA
CONCEITO. É uma espécie de intervenção na propriedade privada quando existir iminente perigo. Pode incidir sobre bens móveis, imóveis ou serviços. O fundamento desta intervenção estatal é a urgência. Não há alteração da titularidade, mas se atinge o caráter exclusivo. Exemplo: requisição de galpão para acomodar desabrigados de enchente.
INDENIZAÇÃO. Havendo dano, há o dever de indenizar, a ser cumprido após a utilização dos bens e serviços. Imagine-se que há requisição de alimentos e roupas de comerciantes; há perda de titularidade do bem em específico, trata-se de desapropriação? NÃO, doutrina entende que, mesmo perdendo titularidade, por serem bens fungíveis e móveis, é requisição mesmo. Exceção: bens infungíveis (roupas pessoais, por exemplo).
HÁ POSSIBILIDADE DE REQUISIÇÃO ADMINISTRATIVA DE BENS PÚBLICOS? Em situação de normalidade institucional, não é possível. Mas, quando há decreto do estado de sítio (guerra ou agressão estrangeira – tempo indeterminado) ou estado de defesa ou emergência (calamidades por ex. – 30 dias), é possível que a União requisite bens públicos dos  Estados e Municípios (STF, MS 25295/DF)
D. OCUPAÇÃO TEMPORÁRIA
Restrição ao caráter exclusivo da propriedade imóvel, nos casos de interesse público.
HIPÓTESES, principalmente duas:
(1)  Hipótese mais comum: terreno não edificado ao lado de obra pública, que seja utilizado para guardar os materiais da obra. Todos esses aspectos devem ser respeitados para se permitir a ocupação temporária. Ver:  Decreto-lei  nº 3.365/41, art. 36.
(2)  Antigamente, por razão de suspeita de riqueza mineral ou parque arqueológico, Estado desapropriava e pesquisava, arcando com prejuízo caso nada encontrasse. Hoje, prefere-se ocupar temporariamentepara confirmar suspeita e, só depois, desapropriar. Ver Lei 3.924/61.
(3) no caso de ocupação de instalações pela Administração, haverá também a utilização de equipamentos e matérias para continuidade de serviços públicos (art. 80 da Lei 8666/93).
DINSTINÇÃO ENTRE OCUPAÇÃO TEMPORÁRIA E REQUISIÇÃO ADMINISTRATIVA: ocupação dá-se sobre imóvel e em caso de interesse público; a requisição ocorre em situação de iminente perigo público e pode constituir-se sobre bens móveis ou imóveis e ainda sobre serviços
INDENIZAÇÃO. A ocupação temporária é gratuita e transitória. Entretanto, se Estado ocupou por anos, impedindo de alugar e causar dano, então cabe.
 
D. TOMBAMENTO
CONCEITO. O tombamento é todo regulamentado pelo Decreto- lei nº 25/37 e consiste na conservação da identidade de um povo. Há quatro tipos de tombamento: patrimônio histórico, cultural, artístico e paisagístico, que representam limitações perpétuas à propriedade, em seu aspecto absoluto.
Podem ser objeto de tombamento bens móveis e imóveis, materiais e imateriais, públicos e privados, individuais ou em conjunto, como: as formas de expressão: os modos de criar, fazer e viver; as criações científicas, artísticas e tecnológicas; os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico , paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
Obs. Há precedentes do STJ admitindo o tombamento de bens da União por Município.
OBRIGAÇÕES DECORRENTES DO TOMBAMENTO:
(1)  CONSERVAÇÃO é a principal obrigação, que implica manter características do que se tomba;
(2)  NÃO DANIFICAR. Qualquer reforma depende de autorização prévia do poder público, vez que se pode incorrer em dano ao patrimônio tombado, criminalmente punível. Caso o proprietário não tenha recursos para conservar, deve o comunicar ao Estado, que arcará com os custos, sob pena de possibilitar ao dono o requerimento de cancelamento do tombamento.
(3)  NÃO SAIR DO PAÍS. Bem tombado (bem móvel pode ser tombado) não pode sair do país, a menos que por curto prazo de tempo. A exportação é vedada.
(4)   TOLERAR FISCALIZAÇÃO.
(5)   VIZINHO não pode prejudicar a visibilidade do patrimônio tombado, como placas e cartazes.
POSSIBILIDADES. Tipos de tombamento:
(i)             Sobre bem móvel ou imóvel.
(ii)            Sobre bem público ou privado.
(iii)          Sobre bens determinados (individualizados) ou indeterminados (todos os imóveis pertencentes a certo bairro ou cidade).
(iv)        De ofício (bens públicos), voluntário (requerimento do proprietário) ou obrigatório (compulsório – de bens particulares, após recusa).
(v)           Provisório (após a notificação e enquanto estiver em andamento o processo de tombamento) ou definitivo.
(vi) Sobre bens materiais ou imateriais
PROCEDIMENTO E INDENIZAÇÃO: o tombamento exige procedimento administrativo prévio e pode gerar indenização, quando causar dano ao proprietário.
E. DESAPROPRIAÇÃO
 
Conforme vimos no módulo anterior, a desapropriação é também, uma forma de intervenção do Estado na propriedade privada. É a forma mais agressiva de intervenção, pois consiste no procedimento excepcional de transformação compulsória de bens privados em públicos, mediante o pagamento de indenização. 
CONCEITO. É a intervenção na propriedade em que o Estado toma seu bem. Aquisição originária ou derivada (advém de negociação) da propriedade? Desapropriação é forma de aquisição originária, porque independe da vontade do proprietário (não se trata de uma compra e venda ou negócio jurídico). A aquisição é originária quando a propriedade é adquirida sem vínculo com o dono anterior, de modo que o proprietário sempre vai adquirir propriedade plena, sem nenhuma restrição, sem nenhum ônus (ex: desapropriação, usucapião etc.); a aquisição é derivada quando decorre do relacionamento entre pessoas (ex: contrato registrado para imóveis, contrato com tradição para móveis, sucessão hereditária) e o novo dono vai adquirir nas mesmas condições do anterior (ex: se compra uma casa com hipoteca, vai responder perante o Banco; se herda um apartamento com servidão de vista, vai se beneficiar da vantagem).
COMPETÊNCIA:
(i) LEGISLATIVA. Apenas a União, conforme previsto na  CF/88: 22, II, pode legislar sobre desapropriação.
(ii) MATERIAL. Apenas a administração direta? Não, podem também ser entidades ativas na desapropriação as autarquias e concessionárias (DELEGADOS, pela linguagem da época do Decreto lei nº 3.365/41), desde que não em totalidade, devendo haver participação na fase declaratória da administração direta. A autarquia e concessionária ocupam-se da fase executória.
 
BENS SUSCETÍVEIS À DESAPROPRIAÇÃO. Tanto bem móvel como imóvel, até mesmo direitos ou ações. Exceções: alimentos, direito a imagem, autoral, da personalidade. Bem público pode ser desapropriado? Sim: União pode desapropriar bens do Estado e Município; os Estados podem desapropriar bens dos Municípios; os Municípios podem desapropriar apenas bens dos particulares. (VER artigo 2º, § 2º do Decreto – lei 3365/41)
MODALIDADES:
a) COMUM ou ordinária. CF: 5º, XXIV. Esta modalidade é possível para qualquer ente e impõe indenização prévia, justa e em dinheiro. Critérios:
(i) Necessidade ou utilidade pública, conforme previsto no Decreto lei n. 3.365/41: Artigo 5º. Aqui, não há distinção entre necessidade e utilidade, que cabe à doutrina: se houver urgência, necessidade; não havendo urgência, utilidade.
(ii) Interesse social, conforme Lei n. lei 4.132/62, art. 2º. Normalmente, para diminuir desigualdade social.
b) SANCIONATÓRIA ou extraordinária. Duas hipóteses:
Desrespeito à FUNÇÃO SOCIAL da propriedade. Aqui, a indenização é por títulos públicos. Duas possibilidades:
-  Para fins de Reforma agrária. CF: 184; 191. Detalhes: LC 76/93. Quem pode? União somente. Bens imóveis rurais. Indenização da terra nua por título da dívida agrária (TDA) resgatável em 20 anos; as benfeitorias são pagas em dinheiro. Não se admite a desapropriação para reforma agrária caso seja a propriedade única, pequena e média ou produtiva.
- Para fins de Urbanização - Plano Diretor. CF/88: artigo 182, par. 4º e  Estatuto da Cidade (lei 10.147/01). Quem pode? Município e DF, em sua competência municipal. Bens imóveis e urbanos. Indenização em TDP (título da dívida pública), resgatável em até 10 anos.
 
CONFISCATÓRIA -  CF/88, artigo 243 dispõe: 
“As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo na forma da lei serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a programas de habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei, observado, no que couber, o disposto no art. 5º.” (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 81, de 2014)
“Parágrafo único. Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e da exploração de trabalho escravo será confiscado e reverterá a fundo especial com destinação específica, na forma da lei”. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 81, de 2014)
O procedimento judicial para a expropriação confiscatória está estabelecido na Lei nº 8257/91, que trata da incorporação do bem ao patrimônio público da União, devendo ser destacado que não há necessidade de expedição do decreto expropriatório. A expropriação é feita por ação judicial, com possibilidade de imissão liminar na posse (art. 10). Podem ser expropriados 
                     
 
DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA. Quando acontece? Quando o poder público realiza desapropriação sob disfarce de outros institutos.
          Prática imoral e amplamente vedada pela legislação brasileira, a desapropriação indireta é o esbulho possessório praticado pelo Estado, quando invade área privada sem contraditório ou pagamento da indenização.
           Ao proprietário prejudicado pela medida restaa propositura da ação judicial de indenização por desapropriação indireta.
 
FASES DA DESAPROPRIAÇÃO
          O procedimento expropriatório divide-se em duas grandes etapas: fase declaratória e a fase judicial.
1) Fase declaratória – é iniciada com a expedição do decreto expropriatório ou a publicação da lei expropriatória. Como regra, a desapropriação instaura-se com a expedição do decreto expropriatório pelo Presidente da República, Governador, Interventor ou Prefeito (artigo 6º do Decreto-lei 3365/41)
Entretanto, excepcionalmente o Poder Legislativo poderá tomar a iniciativa da desapropriação por meio da promulgação de lei específica, cumprindo, neste caso, ao Executivo, praticar os atos necessários à sua efetivação.
          O decreto expropriatório é ato privativo dos Chefes do Executivo tendo natureza discricionária.
          A expedição do decreto produz os seguintes efeitos:
a) submete o bem a um regime jurídico especial;
b)  declara a destinação pretendida para o objeto expropriado;
c)  fixa o estado da coisa para fins de indenização, de modo que benfeitorias voluptuárias construídas após a data do decreto não serão incorporadas ao quantum  da indenização. Já no caso das benfeitorias necessárias, seu custo deve ser incorporado à indenização, ao passo que as benfeitorias úteis, para incorporação ao preço, devem ser expressamente autorizadas pelo poder expropriante;
d) autoriza o direito de penetração, de modo que o Estado pode, mediante notificação prévia, ingressar no bem para fazer medições. Ver artigo 7º Decreto- lei 3365/41.
e) inicia o prazo de caducidade, que será de 5 anos, contados da expedição do decreto, para as desapropriações por necessidade ou utilidade pública, e de 2 anos, também contados da expedição do decreto, nas hipóteses de interesse social.
f) preenchido o requisito legal de urgência, autoriza a imissão provisória na posse (ver artigo 15 do Decreto –lei 3365/41);
OBS.: ainda quanto a prazos, o artigo 10, parágrafo único, do Decreto lei 3365/41, com redação dada pela Medida Provisória n. 2183-56/2001, define o prazo de cinco anos para propor ação que vise indenização por restrições decorrentes de atos do Poder Público.
 
2) Fase executória: após manifestar o interesse no imóvel, por meio da expedição do decreto expropriatório, inicia-se a fase da executória na qual o Poder Expropriante passa a tomar as medidas concretas para incorporação do bem no domínio público.
          É realizada uma primeira oferta pelo bem, que, uma vez aceita pela particular expropriado, consuma a mudança da propriedade, denominando-se desapropriação amigável.
          Na hipótese de o expropriado não aceitar o valor oferecido, encerra-se a fase administrativa da fase executória e terá início a fase judicial, com a propositura, pelo Poder Público, da ação de desapropriação.
          Na ação de desapropriação, nos termos do artigo 9º do Decreto lei 3365/41 é vedado ao Poder Judiciário avaliar se estão presentes, ou não, as hipóteses de utilidade pública. A regra impede que o Poder Judiciário ingresse na análise do mérito do decreto expropriatório, isto é, no juízo de conveniência e oportunidade de realizar-se a desapropriação, sob pena de invadir a independência do Executivo.
          Nesse sentido, a doutrina afirma que o expropriado, na contestação da ação de desapropriação, somente pode discutir eventual ilegalidade, como desvio de finalidade, por exemplo, e o valor da indenização. Entretanto, segundo Celso Antonio Bandeira de Mello, além desses dois temas, seria possível discutir também, na ação de desapropriação, o enquadramento da situação concreta nas hipóteses legais da modalidade expropriatória ( Curso de direito administrativo, p. 891).
          Assim, não havendo acordo administrativo quanto ao valor da indenização ofertado pelo Expropriante, o impasse deve ser solucionado pelo Poder Judiciário. Para tanto, o Expropriante propõe a ação judicial de desapropriação.
          A desapropriação judicial observa o rito ordinário. No polo ativo da demanda será ocupado pela entidade pública que atuou como Poder Expropriante (União, Estado, Distrito Federal, Município, autarquia, fundação, agencia reguladora, associação pública, empresa pública, sociedade de economia mista,  e concessionárias e permissionárias, desde que encarregadas, pela lei ou por contrato, de promover a desapropriação).
          No polo passivo da ação de desapropriação é ocupado pelo proprietário expropriado. Além disso, é obrigatória a intervenção do Ministério Público como fiscal da lei (custos legis) em qualquer ação de desapropriação.
          A petição inicial da ação de desapropriação, além dos requisitos previstos no artigo 282 do CPC, deverá conter a oferta do preço e será instruída com um exemplar do contrato, ou do jornal oficial que houver publicado o decreto expropriatório, ou cópia autenticada, e a planta ou descrição dos bens e suas confrontações. O pedido principal da ação é a efetivação da desapropriação, incorporando-se definitivamente o bem ao patrimônio público.
          A citação será por edital se o citando não for conhecido, ou estiver em lugar ignorado, incerto ou inacessível, ou , ainda no estrangeiro, ocorrendo a certificação por dois oficiais do juízo, (artigo 18 do Decreto lei n. 3365/41).
          Na contestação, como visto, o expropriado somente poderá discutir eventuais ilegalidades, o valor da indenização e o enquadramento da desapropriação em uma das hipóteses legais. Qualquer outra questão deverá ser decidida em ação autônoma.
          Se o expropriante alegar urgência e depositar a quantia arbitrada em conformidade com o CPC, o juiz deferirá a imissão provisória na posse. Portanto, os requisitos da imissão provisória são alegação de urgência e o depósito da quantia arbitrada. O artigo 15 do Decreto 3365/41 define o valor do depósito necessário para a imissão na posse. (ver referido dispositivo legal).
          A imissão provisória não pode ser indeferida pelo juiz se forem atendidos os requisitos legais. Trata-se, assim, de direito subjetivo do expropriante ao ingresso antecipado do Poder Público na posse do bem. Antecipado porque, como regra, a transferência da posse somente ocorre com o encerramento da ação de desapropriação. A alegação de urgência, que não poderá ser renovada, obrigará o expropriante a requerer a imissão provisória dentre do prazo improrrogável de cento e vinte dias. (ver artigo 15, § 4º do Decreto 3365/41 com redação dada pela Lei n. 11.977/2009) – a imissão será registrada no registro de imóveis competente.
OBS.: A IMISSÃO PROVISORIA NA POSSE PODE SER REQUERIDA EM QUALQUER MODALIDADE EXPROPRIATÓRIA, ISTO É, NAS DESAPROPRIAÇÕES FUNDADAS NA NECESSIDADE PÚBLICA, UTILIDADE PÚBLICA OU INTERESSE SOCIAL.
          Na sentença da ação expropriatória, o juiz, baseado em laudos periciais, fixa o valor da justa indenização e poderá ser levantada pelo expropriado, consumando a incorporação do bem ao patrimônio público.
          Da sentença que fixar o preço da indenização caberá apelação com efeito simplesmente devolutivo, quando interposta pelo expropriado, e com ambos os efeitos, quando o for pelo expropriante (art. 28 do Decreto 3365/41)
          A sentença expropriatória produz dois efeitos: a) permite imissão definitiva do Poder Expropriante na posse do bem; b) constitui título capaz de viabilizar o registro da transferência de propriedade no cartório competente.
 
RETROCESSÃO -  é a reversão do procedimento expropriatório devolvendo-se o bem ao antigo dono, pelo preço atual, se não lhe for atribuída uma destinação pública.
          No direito brasileiro atual, o instituto vem disciplinado no Código Civil no artigo 519. (ver referido dispositivo)
          Grande controvérsia doutrinária sempre cercou a discussão sobre a natureza jurídica da retrocessão. È um direito real ou pessoal?
          Os defensores da natureza real sustentam que a retrocessão consistiria no direitode reivindicar o bem, direito este que se estenderia não só ao antigo proprietário mas também aos herdeiros, sucessores e cessionários.
          Entretanto, a corrente majoritária tem defendido tratar-se a retrocessão de direito pessoal de adquirir o bem, quando oferecido pelo Estado, se não receber uma destinação de interesse público. Porém, se o Estado não cumprir o dever de oferecer o bem ao antigo proprietário, o direito do expropriado resolve-se em perdas e danos.  Para Hely Lopes Meirelles, os bens incorporados ao patrimônio público não podem ser objeto de reivindicação (art. 35 do Decreto 3365/41). È o mesmo ponto de vista sustentado por José dos Santos Carvalho Filho e pela quase totalidade das provas e concursos públicos. O principal argumento favorável à tese da natureza pessoal é que a legislação pátria trata expressamente da retrocessão como um simples direito pessoal de transferência. (Ver artigo 35 do Decreto 3365/41 e 519 do CC.)
TREDESTINAÇÃO: quando a administração não dá a destinação inicialmente prevista no ato expropriatório. Atribui ao bem uma outra destinação ou finalidade. A tredestinação pode ser lícita - quando ao bem é atribuída uma destinação similar, como, por exemplo, na desapropriação de uma área para construção de um hospital, na qual, todavia, é instalado uma escola; ou ilícita – quando ao bem desapropriado não é dada destinação adequada, como nos casos de abandono do imóvel ou posterior alienação. 
DESAPROPRIAÇÃO POR ZONA: dá-se quando é desapropriada uma área maior do que aquela necessária. Geralmente é para que essa área desapropriada (contígua ou próxima) seja usada no futuro pela própria administração; ou para revenda, pois, muitas vezes, com a desapropriação e realização de obra pública, os imóveis vizinhos são super valorizados. Assim, desapropria-se as áreas próximas para que os particulares não se enriqueçam se
DIREITO DE EXTENSÃO: o proprietário de um imóvel tem o direito de exigir que se inclua na desapropriação o restante da área que se tornou sem utilidade com a implementação da desapropriação.

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