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Primeira avaliação: 18/09 Segunda avaliação: 13/11 Gabriel Almeida Leal T6A DIREITO ADMINISTRATIVO III Introdução ao curso Intervenção do Estado na Propriedade Privada A intervenção do Estado na propriedade privada é justificada pelo valor da Supremacia do Interesse Público, valor constitucional que estabelece que o interesse público, titularizado pelo Estado, justifica a intervenção do poder público na propriedade privada, a despeito da garantia da propriedade privada. O que é Propriedade Privada na Constituição Federal? A Propriedade Privada é um direito fundamental previsto na CF e não é um direito pleno e absoluto (não existem direitos plenos e absolutos no ordenamento jurídico brasileiro). Com base no arquivo 5° da Constituição Federal, a propriedade privada deve atender uma função social. O Artigo 5°, XXIV prevê a desapropriação da propriedade privada visto que nenhum direito é absoluto. A desapropriação pode ocorrer pela desapropriação urbanística sancionatória, que é quando o Estado interfere e recondiciona/condiciona certas propriedades para que haja o cumprimento de sua função social. ESPÉCIES DE INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE PRIVADA São 6 espécies de intervenção estatal na propriedade privada, são elas: desapropriação, tombamento, servidão administrativa, requisição administrativa, limitações administrativas e ocupações temporárias. Desapropriação: É a modalidade mais danosa visto que existe a perda da propriedade pelo particular. Na maioria das vezes o cidadão é indenizado, indenização essa que é feita normalmente em dinheiro e de maneira prévia a desapropriação. Existem situações que o indenizado só recebe a indenização após a desapropriação. Pode haver desapropriação sem indenização, sobretudo quando for mediante sanção. Tombamento: destina-se a proteção do patrimônio cultural brasileiro, podem ser bens móveis e imóveis. Ocupação temporária: Pode haver ou não indenização. O Estado utiliza o serviço temporariamente. São serviços públicos normais, exemplo: eleições (utiliza das escolas para local de votação), obras públicas. Requisição administrativa: Não é um pedido, é uma ordem de que o cidadão disponibilize temporariamente para a administração bens móveis, imóveis, serviços. Somente depois que se resolve indenização e valores. Só pode acontecer em situações de emergência ou calamidade pública e a força policial poderá ser utilizada pelo agente público para que a requisição seja cumprida. Limitações administrativas: Normas de caráter geral e abstrato, sempre firmada por lei. É diferente de desapropriação porque o agente sabe quem está desapropriando. Na limitação seria geral (nas obras até 200 metros do aeroporto não podem ter edificações com mais de 2 andares). Servidões Administrativas: Decorre do transplante de um instituto do direito privado (que é a servidão) para o direito administrativo. Servidão consiste em uma imposição de uma tolerância. Visa fazer o cidadão suportar uma restrição na sua propriedade, incorporar-se a servidão privada. Por exemplo: o estado quer passar uma fiação elétrica pela fazenda de um cidadão, ele deve suportar. Não se confunde com a limitação, porque aqui é um indivíduo específico. LIMITAÇÕES ADMINISTRATIVAS: É uma determinação geral, pelo qual o Poder Público impõe a proprietários indeterminados obrigações de fazer ou não fazer, com o fim de garantir que a propriedade atenda a sua função social. 1. Atos: gerais ou abstratos: ou seja, quando o estado faz a limitação administrativa, ele não sabe quem são as pessoas que serão afetadas e por isso é geral e abstrata. Isso diferencia a limitação administrativa das demais formas do estado intervir na propriedade privada. 2. Tempo: definitividade; ela tem vigência por tempo indeterminado e são, em regra, definitivas e perpétuas. 3. Motivo: interesses públicos abstratos; o que motiva a limitação administrativa é a proteção dos interesses públicos abstratos. Nos outros modos de intervenção a motivação é a viabilização de um serviço público. A ideia de interesse público abstrato é porque não existe um serviço público, por exemplo: construções na orla para promover o bem estar, conforto térmico, ambiente fresco. 4. Indenizabilidade: não há (exceções discutidas pela doutrina); A limitação administrativa como uma regra geral não produz o dever de indenizar, o estado não possui o dever de indenizar. Exemplos apresentados pela doutrina sobre exceções: imagine que o cidadão tinha um imóvel de frente para a praia (não existia limitação administrativa naquele local), o cidadão comprou o imóvel com o objetivo de construir uma torre residencial de 20 andares e vender os apartamentos. No dia seguinte ao início da obra, sai a regra do município de impor um limite de 10 andares a prédios naquela região. 5. Incidência: bens móveis, imóveis e/ou serviços; Em Fernando de Noronha só é possível ter carros elétricos, logo é uma limitação administrativa sobre bens móveis. Todo hospital é obrigado a atender pacientes que cheguem em situação de urgência (risco de vida), ou seja, é uma limitação administrativa em serviços. Porém, a maior parte das limitações administrativas se impõe sobre bens imóveis (orla, construções próximas a aeroportos, etc). 6. Correlação com o poder de polícia: Limitação administrativa se relaciona em alguma medida com a ideia de poder de polícia. SERVIDÕES ADMINISTRATIVAS: é um instituto de um direito real por meio do qual o poder público pode impor a tolerância de um determinado comportamento ao proprietário de um imóvel, você tem um proprietário dominante (poder público) e um proprietário serviente. - Decreto-Lei 3365/41 (lei de desapropriação): Feito por Vargas na época do Estado Novo. Trata da desapropriação por utilidade pública e também é utilizada por analogia para outros tipos de desapropriação. Por utilidade pública, o instituto legislativo que versa sobre o procedimento da desapropriação é aplicado analogicamente na servidão, no caso de ausência de lei. 1. Atos individuais e concretos: afetam especificamente certos indivíduos e certos objetos; 2. Tempo: definitividade; são em regra definitivas e perpétuas. 3. Motivo: execução de serviço público 4. Indenizabilidade: prévia condicionada ao prejuízo; pode haver indenização por parte do estado apenas se houver prejuízo ao administrado. O limite do valor da indenização é o valor do próprio imóvel. Deve ser estabelecida antes da servidão ocorrer. O pagamento pode ocorrer de maneira amigável e de maneira litigiosa: quando for de maneira amigável, o Estado e o proprietário lavram uma escritura pública de servidão no Tabelionato de notas definindo uma indenização, levando essa escritura no Ofício de Registro de Imóveis para averbar a escritura na matrícula do imóvel. Quando for de maneira litigiosa: haverá uma ação judicial que resultará em uma sentença, gerada pelo órgão jurisdicional competente, estabelecendo o pagamento de indenização pelo Estado ao proprietário, sendo que tal sentença será levada ao Cartório/Oficio de registro de imóveis para ser averbada na matrícula do imóvel. 5. Incidência: bens imóveis 6. Não há autoexecutoriedade (é necessário acordo ou sentença) OCUPAÇÕES TEMPORÁRIAS: só pode acontecer sobre bens imóveis. É a forma de intervenção que o Poder Público pratica usando transitoriamente imóveis privados, como meio de apoio à execução de obras e serviços públicos. O objetivo da ocupação temporária é permitir que o Poder Público deixe alocados em algum terreno desocupado, máquinas, equipamentos, barracas de operários, por pequeno espaço de tempo. Previsão legal: artigo 36 da lei de desapropriação. É permitida a ocupação temporária de terrenos não edificados, vizinhos a obras públicas e necessários à sua realização. Critério temporal: provisório; Atos: individuais e concretos; Motivo:Execução de obra ou serviço público; Indenizabilidade: indenizável na hipótese legal específica, que é o artigo 36 da lei de desapropriação, onde prevê que deve ser indenizado em caso de ocupação temporária para viabilizar a construção de obra; nos demais casos, pendente de demonstração de efetivo prejuízo, ou seja, quando o administrado comprovar um dano concreto. Incidência: Bens imóveis. Interpretação expansiva da Ocupação Temporária: A doutrina aplicou a este instituto uma interpretação expansiva, estabelecendo que a ocupação temporária não se aplicasse apenas à possibilidade de ocupação temporária de imóvel vizinho ao Estado, devendo ser um mecanismo de Poder Público de utilizar qualquer bem imóvel, edificado ou não, que estivesse associado a facilitação de execução de um serviço público. A jurisprudência federal acatou a interpretação doutrinária. Um exemplo disso são os colégios sendo disponibilizados para a população votar nas eleições. REQUISIÇÕES ADMINISTRATIVAS: Uma maneira do Estado interferir na propriedade privada visto que o Estado pode exigir que o administrado disponibilize bens móveis, imóveis ou serviços ofertados pelo particular para que o Estado possa lidar com situações de perigo público iminente ou de emergência. Atos: são atos individuais e concretos (afetam especificamente certos indivíduos e certos objetos); Critério Temporal: também são provisórias (não pode vigorar por tempo indeterminado), Motivo: atender ao perigo público iminente; Incidências: bens moveis, imóveis e serviços (o estado pode exigir que um determinado administrado disponibilize os seus serviços exclusivamente para o estado, exemplo: leitos de UTI requisitados pelo estado à algum hospital privado); Indenizabilidade: pode ser indenizada posteriormente, mas é preciso que o administrado demonstre a ocorrência de dano porque não existe previsão legal para indenização. Autoexecutoriedade e ausência de formalidades necessárias: ela se viabiliza de uma forma muito simplificada visto que ocorre em meio a perigo público eminente, basta o agente público se identificar como tal, motivar a requisição administrativa e o administrado tem a obrigação de cooperar para viabilizar a ocorrência da requisição. Caso o administrado se recuse a cooperar, o agente público pode utilizar de força policial para concretizar a requisição administrativa. Fundamento Legal genérico: tem previsão constitucional no artigo 5°, XXV. Mas tem outras leis para ocasiões especificas: Decreto-Lei 4.812/1942, que disciplina a requisição, tanto civil como militar; e o Decreto-Lei n°. 2/1966, que autoriza a requisição de bens ou serviços essenciais ao abastecimento da população. TOMBAMENTO: É uma modalidade de intervenção do Estado na propriedade privada que tem como objetivo proteger o patrimônio histórico e cultural brasileiro. O tombamento ocorre especificamente sob bens materiais, que são divididos entre bens móveis e bens imóveis. Art. 216 CF: Traz um escopo muito amplo dos bens que poderiam ser protegidos como patrimônio cultural brasileiro. O tombamento normalmente incide sobre bens imóveis, porém também pode incidir sobre bens móveis visto que no art. 216 traz a possibilidade de tombamento de um documento histórico. Objeto: O objeto do tombamento é a instituição de limites e restrições à fruição dos bens materiais. O tombamento é um ato individual e concreto que se dá sobre cada um bem imóvel ou móvel por meio de um procedimento com a participação do proprietário do bem que pode se defender caso não concorde. Não existe tombamento coletivo por meio de lei (tombamento de uma cidade ou bairro). O tombamento de uma cidade ou de um bairro deve ser feito por meio de vários tombamentos concretos e individuais, e não um tombamento genérico ou coletivo. Tombamento coletivo vai contra a instituição do tombamento, porque tombamento é um ato administrativo concreto e individual. O ato do tombamento é discricionário ou vinculado? A resposta dessa pergunta depende da perspectiva que está sendo observada. Se você olha pelo ponto de vista da apreciação da relevância cultural ou não do bem que está sendo tombado seria discricionário. Ou seja, quando o órgão está analisando se o órgão deve ser protegido ou não, é um ato discricionário. Se olha pela perspectiva do dever de tombamento, esse dever é vinculado. Exemplo: Se um órgão cultural decide que o bem é importante e deve ser protegido, então o órgão cultural deve tombar sem outra opção. Uma vez concluindo a obrigação de tombar o patrimônio cultural, outra opção não existe, logo é um ato vinculado. Processo administrativo do tombamento: O decreto Lei n° 25/1937 traz o procedimento do tombamento, o processo administrativo do tombamento irá variar conforme o órgão cultural responsável pela realização do mesmo. IPHAN: órgão cultural a nível federal - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. IPAC: órgão cultural a nível estadual (Bahia) - Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia. Todo órgão cultural tem seu Conselho consultivo: subdivisão do órgão (uma espécie de diretoria) formada por pessoas com relevante saber cultural, e essas pessoas sempre irão deliberar a respeito da repressão por meio do tombamento de determinados bens móveis ou imóveis. Efeitos do tombamento: O tombamento produz vários efeitos, tanto para o particular quanto para a comunidade em geral. Esses efeitos estão regulados no capítulo III do decreto Lei n° 25: ele produz um dever de conservação das coisas tombadas a custo do proprietário (art. 17). DESAPROPRIAÇÃO: Existem vários tipos de desapropriação Desapropriação por utilidade ou necessidade pública: Regulada pelo Decreto-lei n°. 3.365/41 (Lei geral de desapropriação) A Lei geral da desapropriação trata do procedimento das desapropriações e das regras de indenização das desapropriações em geral, se aplicando também subsidiariamente as desapropriações por interesse social. O procedimento pode ser dividido em duas partes: 1. Fase declaratória da utilidade pública ou interesse social: vai se dar por um ato praticado pelo chefe do poder executivo daquele ente federado que está promovendo a desapropriação através de um decreto. Decreto que declara de Utilidade Pública ou de Interesse Social determinado bem. Deve ser publicado no diário do município, DF ou união. Uma vez publicado esse decreto, começa a contar o prazo de 5 anos para que esse ente federado possa efetivamente desapropriar o imóvel, iniciando a fase executiva da desapropriação. Se passar 5 anos e não for iniciada a fase executiva esse decreto perderá o efeito, vai caducar. Se a administração após ter passado esses 5 anos sem ter feito a desapropriação achar novamente que chegou o momento de fazê-la, a administração pública precisará fazer um novo decreto, mas tem um problema: se for necessário fazer um novo decreto, a Administração Pública vai ter que respeitar o prazo mínimo de 1 ano sem poder fazer nenhum decreto de declaração de Utilidade Pública ou Interesse Social, ou seja, só a partir depois desse 1 ano que poderá fazer um novo decreto e começar a contar de novo o prazo de 5 anos. Ao ser publicado no diário o decreto, a administração pública poderá penetrar nos imóveis para tomar conhecimento do seu estado, para que assim possa fazer a avaliação do quantum indenizatório 2. Fase executiva: existem dois caminhos possíveis: Administração pública e administrado chegar a um acordo quanto ao valor da indenização: basta as partes celebrarem um acordo formal escrito que deixe claro que o imóvel está sendo desapropriado e celebrando a escritura provando a quitação da indenização e levar no tabelionato de notas (cartório); levar a escritura pública de desapropriação ao cartório. *Esse primeiro cenário em que tem um consenso é chamado de DESAPROPRIAÇÃO AMIGÁVEL. Apesardo nome, o que está ocorrendo não é uma venda do imóvel, porque o Estado está obrigando ele a ter o bem desapropriado, o consenso é apenas ao valor da indenização. Administração Pública e administrado não chegarem a um acordo quanto ao valor da indenização. Assim terá que ocorrer uma ação judicial de desapropriação, após essa ação haverá uma sentença judicial, que vai fixar o valor dessa desapropriação. Tanto a sentença quanto a escritura publica de desapropriação vão ser levadas ao oficio de registro de imóveis (tabelionato de imóveis) para que com base nesses dois documentos a gente possa transferir a propriedade do administrado para a administração pública *O caso sem consenso é chamado de DESAPROPRIAÇÃO LITIGIOSA. Desapropriação por interesse social: A Lei n°. 4.132/62 (Lei de desapropriação por interesse social) regulamenta as hipóteses em que podem acontecer as desapropriações por interesses social. Mas em relação aos demais aspectos da desapropriação por interesse social, eles são regulados pelo Decreto-Lei n° 3.365/41. Art. 5°, XXIV, Constituição Federal: a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição; O inciso XXIV abre a possibilidade para que nos termos previstos nessa Constituição seja possível a existência de outros tipos de desapropriação que não prevejam prévia e justa indenização em dinheiro. A regra é que toda desapropriação necessita ter justa e previa indenização em dinheiro, porém em outros casos também previstos na constituição, seria possível que acontecessem desapropriação sem que haja essa prévia e justa indenização. São eles: Desapropriação sancionatória urbanística: essa desapropriação ela tem uma restrição subjetiva, ou seja, somente os municípios podem praticar a desapropriação urbanística sancionatória. Essa é uma diferença significativa em relação as desapropriações para fins de utilidade pública ou interesse social visto que todos os entes federados poderiam desapropriar (União, Estados, Municípios, Distrito Federal). Nesse contexto, o art. 182 da Constituição Federal apresenta a prerrogativa dos Municípios de estabelecerem uma política de desenvolvimento urbano conforme diretrizes gerais fixadas em lei, com o objetivo de ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e assim garantir o bem estar de seus habitantes. Para concretizar que os municípios possam cuidar desses assuntos e assegurar a função da cidade e a função social da propriedade urbana, os municípios eles devem elaborar um Plano Diretor: planos diretores são documentos obrigatórios para cidades com mais de 20 mil habitantes e que formalizam e oficializam a política de desenvolvimento e expansão das cidades. Esse documento contempla diversos interesses ecológicos, demográficos, econômicos e políticos que dizem respeito ao modo como a cidade deve ser pensada, planejada e estruturada, como ela deve funcionar, etc. Ainda no art. 182, no § 2°, é estabelecido que a propriedade urbana cumpre a sua função social quando atende as exigências fundamentais expressas no Plano Diretor. Isso significa que a Desapropriação Urbanística Sancionatória é uma sanção que é aplicada a determinados proprietários e seus imóveis, sanção esta que é uma consequência jurídica que decorre do descumprimento da função social da propriedade urbana. Essa função social está formalizada no Plano Diretor. A violação a essa função social da propriedade urbana estabelecida no Plano Diretor, não vai trazer imediatamente como consequência a desapropriação do imóvel, porque no art. 182, §4° estabelece 3 diferentes consequências jurídicas para a violação dessa Função social da propriedade urbana, as quais deverão adotadas sucessivamente (na ordem em que são indicadas). A desapropriação Sancionatória Urbanística é a mais grave dessas 3 consequências. As consequências são as seguintes (art. 182, § 4°): I- A primeira providência seria determinar o parcelamento ou edificação compulsória daquele imóvel; Em hipótese de descumprimento dessa providência, o município pode adotar a segunda providência: II- O aumento do imposto predial e territorial urbano (IPTU) progressivamente no tempo; Ano a ano, durante no máximo 5 anos, o município poderá escalonar e aumentar o custo do IPTU como uma forma de desestimular a continuidade desse desatendimento a função social da propriedade urbana. No Direito Tributário, chamamos isso de Extrafiscalidade, ou seja, a função fiscal da tributação de alimentar os cofres públicos nem sempre é a única intenção por trás dos tributos. Muitas vezes a tributação é usada pelo Estado para estimular ou desestimular comportamentos. Por exemplo: o Estado brasileiro ele conduz políticas públicas de desestímulo ao consumo do cigarro e, por isso, o estado tributa em uma grande quantidade sobre os cigarros. III- Desapropriação com pagamento mediante os títulos da dívida pública, com prazo de resgate de até 10 anos em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais. Nesse caso aqui, temos uma exceção ao inciso XXIV, art. 5°, CF. Na medida em que essa indenização para essa desapropriação não é paga em dinheiro e não é paga previamente. Essa indenização é paga em títulos da dívida pública e o prazo de resgate é em até 10 anos. Títulos da dívida pública são documentos que por meio dos quais o Estado se compromete a pagar um determinado valor em razão de um determinado fato, por exemplo: o tesouro direto. ESTATUTO DA CIDADE (LEI N° 10.257/2001): Regulamenta os artigos 182 e 183 da Constituição Federal, é uma lei dirigida aos municípios. Nessa lei é possível encontrar algumas regras importantes sobre os temas abordados no tópico anterior, por exemplo: regras sobre o parcelamento, a edificação e a utilização compulsória dos imóveis, regras sobre IPTU progressivo no tempo e regras sobre a desapropriação com pagamento em títulos. Desapropriação por interesse social para fins de reforma agrária: No art. 184 da CF temos regras sobre a política agrícola e fundiária e da reforma agrária. Logo no caput do artigo já esclarece que compete a União desapropriar por interesse social para fins de reforma agrária. Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei. Essa desapropriação também é um tipo de desapropriação sancionatória. Os títulos que indenizam o proprietário do imóvel rural nesse tipo de desapropriação são diferentes dos títulos que indenizam o proprietário do imóvel urbano do art. 182. São Títulos da dívida agrária resgatáveis no prazo de até 20 anos. A função social da propriedade rural é definida pela própria Constituição Federal no art. 186: a função social da propriedade rural é cumprida quando essa propriedade atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de existência estabelecidos em lei, os seguintes requisitos: I- Aproveitamento racional e adequado do imóvel; II- Utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; III- Observância das disposições que regulam as relações de trabalho; IV- Exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores. Basicamente, a função social da propriedade rural protege 2 interesses: as relações de trabalho rural e a utilização racional e adequada dos recursos naturais e a proteção do meio ambiente. ESTATUTO DA TERRA (LEI N° 4.504/1964): Trata-se da lei que estabelecenormas de direito agrário, regulando os direitos e obrigações concernentes aos bens imóveis rurais, para os fins de execução da Reforma Agrária e promoção da Política Agrícola. Traz algo relevante para nossa matéria em seu artigo 17: Art. 17. O acesso à propriedade rural será promovido mediante a distribuição ou a redistribuição de terras, pela execução de qualquer das seguintes medidas: a) desapropriação por interesse social; Expropriação: O art. 243 da Constituição Federal trata da expropriação. A expropriação é imposta pelo Estado aos administrados em razão de algumas questões ilícitas, mas elas não dão ao administrado o direito a qualquer indenização. E por isso, alguns doutrinadores dizem que expropriação não é desapropriação alegando que toda desapropriação tem que ter indenização Art. 243: A possibilidade da ocorrência de expropriação quando o Estado detectar culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo, de forma que esses imóveis sejam expropriados sem direito a qualquer indenização. Serão destinados a reforma agrária se forem imóveis rurais ou a programas de habitação popular se forem imóveis urbanos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei. Além disso, o parágrafo único desse artigo estabelece que qualquer bem de valor econômico que seja apreendido em decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas, em locais onde ocorra a exploração de trabalho em condições análogas à escravidão, será confiscado e reverterá o seus valores (depois de um leilão) a um fundo especial com destinação específica na forma da lei. BENS PÚBLICOS Essa expressão pode ter duas acepções no âmbito do direito administrativo que precisam ser distinguidas. Numa primeira possibilidade (que não é a mais importante para nós), bens públicos seriam aqueles bens que estariam sujeitos ao poder de intervenção do estado na propriedade privada, são aqueles bens que o Estado pode requisitar, ocupar temporariamente, desapropriar, impor servidão, etc. Porém, não é em relação a essa acepção de bens públicos que iremos nos referir. Iremos tratar de um segundo sentido, que são aqueles bens privativos do Estado, são os bens que o Poder Público é proprietário privativo. Os bens privativos da administração pública são utilizados de várias formas diferentes e isso é refletido na diversidade do tratamento jurídico desses bens públicos. Eles simplesmente compõem o patrimônio público. Essa diversidade será refletida nas classificações que nós poderemos construir em torno desses bens públicos. Quem são os órgãos ou entidades da administração pública que possuem bens públicos? Essa resposta nos é dada pelo art. 98 do Código Civil: “São públicos os bens de domínio nacional pertencentes as pessoas jurídicas de direito público interno”, ou seja, os entes federados (União, DF, Estados e Municípios) e também sociedades de economia mista, empresas públicas, autarquias e fundações públicas. Ressalva: os bens das empresas estatais (empresas públicas e sociedades de economia mista). Nessas empresas estatais, parte dos bens dessas empresas são bens públicos e tem uma parte desses bens que são privados. CLASSIFICAÇÃO DOS BENS PÚBLICOS: Os bens públicos eles podem ser classificados em 3 categorias, conforme o tipo de destinação ou uso que é dado a eles. Essas classificações decorrem da lei, elas estão nos incisos I, II e III do art. 99 do Código Civil. 1. Utilização para uma finalidade estatal específica: seria o caso de um prédio de um hospital público. Esse prédio está afetado a uma finalidade específica de ser utilizado para os serviços públicos de saúde, da mesma forma que um prédio de escola pública está sendo utilizado como serviço público educacional. Outros exemplos: viatura da polícia, carro de um órgão público estatal. Nesses bens de uso especial (nome da classificação), nós temos uma vinculação desses bens a uma finalidade específica. 2. Bens de uso comum do povo: esses bens tem como principal característica o fato de que eles são bens que não estão afetados a uma finalidade específica e, além disso, esses bens eles não são aproveitados ou utilizados diretamente pelo Estado e sim pelo povo. *O bem de uso especial acaba sendo indiretamente aproveitado pela coletividade visto que um hospital público é para atender a população. Porém, o bem de uso comum do povo ele é dirigido para a população em geral e não apenas para aquela população destinatária daquele serviço público específico. Por exemplo: uma escola é dirigida para alunos (bens de uso especial), já uma praia (bens de uso comum do povo) não existe uma finalidade específica para sua utilização. Os bens de uso comum do povo normalmente estão associados em nossa mente a uma fruição gratuita (a praia por exemplo). Porém, o Código Civil em seu art. 103 autoriza que os entes federados possam condicionar a fruição de um bem do uso comum do povo a um uso retribuído (mediante pagamento de preço público ou taxa). Um exemplo disso é a zona azul, ou seja, a cobrança de um preço público pelo uso de um bem de uso comum do povo, no caso, a vaga para estacionar o carro. 3. Bens dominicais: são aqueles bens que integram o patrimônio público mas também são bens disponíveis. Isso porque eles não são utilizados pelo povo de forma comum (como as praias, praças, etc) e também não são empregadas em uma finalidade específica pelo Estado. Portanto, é comum dizer que esses bens dominicais são bens disponíveis ou desafetados, ou seja, não possuem uma destinação pública genérica ou específica. Eles simplesmente são bens que integram o patrimônio público mas não tem uma destinação. Exemplo: um imóvel público/terreno que pertence a Administração Pública de Salvador mas não tem uma destinação visto que não foi construído uma escola, uma praça ou um hospital, o terreno apenas está lá sem destinação evidente. Características dos bens públicos no geral: os bens públicos são dotados de certas características que são típicas do regime jurídico do domínio público. Alienabilidade condicionada: Como uma regra geral, os bens públicos não podem ser alienados (não podem ser vendidos, doados, etc). A exceção a essa regra geral é a possibilidade de se alienar um bem público se e somente se ele for um bem desafetado de uma finalidade pública, genérica ou específica. Em outras palavras, só os bens dominicais é que podem ser alienados. O bem dominical (os outros bens também) não é um bem que nunca poderá mudar de situação, ele pode se tornar um bem de uso comum do povo ou bem de uso especial. A alienabilidade condicionada também depende de, além do bem ser dominical, precisa haver uma autorização legislativa para a alienação do bem, se esse bem for imóvel ou um procedimento administrativo prévio que autorize a alienação do bem, se esse bem for um bem móvel. Além disso, depois que exista essa autorização legislativa ou esse procedimento administrativo prévio, precisa haver uma avaliação prévia pela administração pública para que se saiba qual o valor do bem que se está alienando. Por fim, precisa haver procedimento licitatório para fazer essa alienação. Se o bem for imóvel, a licitação tem que acontecer na modalidade da concorrência e se o bem for móvel, precisa acontecer na modalidade de leilão. Tudo isso está disciplinado na Lei 8.866/93 (Lei de licitações). A própria lei de licitações prevê no art. 17 hipóteses de dispensa de licitação para esse tipo de alienação, quando por exemplo o órgão municipal vai doar um bem público que ele possui para um outro órgão público (um órgão do estado ou da união), é como se fosse uma doação entre órgãos públicos e aí nesse caso não precisa de licitação. Impenhorabilidade: O que é penhora? Penhora é uma medida executiva que visa viabilizar a execução que pode ser adotada no processo judicial para garantir a satisfaçãode um crédito. Por exemplo: A processa B e pede uma indenização de R$100.000,00. B foi condenado pelo juiz só que B não tem recurso em caixa para fazer o pagamento ou tem o recurso só que não faz o pagamento voluntário. Então A requer a realização de uma penhora, ou seja, uma ação executiva para de fato destacar uma parte do patrimônio de B e usar essa patrimônio para pagar A e assim garantir a satisfação/execução daquele crédito que foi assegurado judicialmente por meio de sentença. Os bens públicos não podem ser penhorados, isso significa que o patrimônio público não vai poder ser executado para garantir a satisfação de um crédito em face da fazenda pública. Isso ocorre em razão dos precatórios, visto que o regime constitucional dos precatórios previstos no art. 100 da Constituição Federal cria regras que separam um pedaço do orçamento público para satisfazer as dívidas em face da fazenda pública. Portanto, as dívidas em face da fazenda pública serão adimplidas exclusivamente com as verbas separadas para o pagamento de precatórios. O patrimônio público mobiliário ou imobiliário não deve ser penhorado para finalidade de assegurar a satisfação dos créditos em face da fazenda pública. Imprescritibilidade: ao tratarmos de imprescritibilidade do bem público, estamos tratando da expressão prescrição aquisitiva, essa expressão designa aquilo que conhecemos como usucapião, ou seja, um particular ocupa um bem de maneira irregular durante um certo tempo e, essa ocupação de maneira irregular de um bem, faz surgir para o proprietário daquele bem uma pretensão de retirar dali aquele possuidor ilegal. Entretanto, esse direito de afastar aquela pessoa é um direito prescritível. Então se prescreveu o direito de afastar a pessoa dali, se opera aquilo que chamamos prescrição aquisitiva, porque é uma prescrição que faz surgir um direito para aquele ocupante, no caso, o direito de propriedade sobre aquele bem. Os bens públicos são insuscetíveis de serem usucapidos, ou seja, os particulares por mais tempo que permaneçam nos bens públicos (seja com boa-fé ou com má- fé) eles jamais poderão usucapir os bens públicos porque estes são insuscetíveis de serem usucapidos em razão da característica da imprescritibilidade dos bens públicos. Não-onerabilidade: é uma consequência indireta da impenhorabilidade. A não- onerabilidade significa que aquele bem público não vai poder ser gravado com um ônus. Que tipo de ônus são esses? Por exemplo: um ônus de dação em garantia para débitos da administração pública. Um bem público jamais poderá ser alienado fiduciariamente ou dado em hipoteca como garantia de uma dívida da administração pública. Então por exemplo: se a união quiser pegar um empréstimo internacional com o FMI de 100 bilhões de reais e como garantia do pagamento da dívida a união oferecer ao FMI uma coleção de bens públicos, isso não será possível. Portanto, da mesma forma que os bens públicos não podem ser penhorados, eles também não podem ser dados em garantia; não podem ser onerados dessa forma.
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