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2015-02-22 1 Malária Aula 23,24,25 e 26 Introdução Doença infecciosa, não contagiosa, de evolução crônica, com manifestações episódicas de caráter agudo, que acomete milhões de pessoas nas zonas tropicais e subtropicais do globo, sendo considerada a doença parasitária de maior letalidade mundial. Causada por parasito unicelular, do gênero Plasmodium, transmitidos pela picada de mosquitos do gênero Anopheles Paludismo, impaludismo, febre palustre, maleita, sezão... Introdução A malária é considerada problema de saúde pública em mais de 90 países, onde cerca de 2,4 bilhões de pessoas (40% da população mundial) convivem com os risco de contágio. No Brasil, ocorrem dezenas de milhares de casos de malária por ano e 99% se localizam na Amazônia. 500 mil casos por ano - no entanto, aqui a letalidade da moléstia é baixa e não chega a 0,1% do número total de enfermos. Estima-se 100.000 mortes/ano por malária, principalmente em crianças. Histórico A sazonalidade e a febre intermitente da doença foram descritas pela 1º vez na era pré-cristã, por Hipócrates. O termo malária foi criado no sec. XIX, onde escritores italianos defendiam que a doença era causada pelos vapores nocivos (mau ar, “mal aria”) que saiam do pântano. O parasita causador da malária só foi observado em 1880 pelo médico francês Charles Louis Alphonse, mas a sua morfologia só foi bem descrita em 1891 através de esfregaços corados pelo método de Romanowsky. 2015-02-22 2 Histórico Em 1885, Golgi e Cols descreveram o ciclo assexuado do parasita. Em 1894, Manson colocou a hipótese de que o parasita era transmitida pelo mosquito à semelhança do parasita Wuchereria que estava estudando na altura. Ronald Ross, em 1897, descobriu oocistos em mosquitos que haviam se alimentado num paciente contaminado. Em 1898, Ross conseguiu transmitir o parasita entre aves, usando o mosquito Culex. Histórico Grassi, Bastianelli e Bignami, em 1898 e 1899 descobriram o desenvolvimento completo do parasita no mosquito Anopheles. Séc. XX – iniciou-se a discussão sobre as formas de controle da doença 1942 – Inseticidas DDT (Dicloro-difenil-tricloroetano) Agente Etiológico Filo: Protozoa Classe: Sporozoea Ordem: Coccidiida Sub-Ordem: Haemosporidiidea Família: Plasmodiidae Gênero: Plasmodium Espécies que afetam o ser humano: Plasmodium vivax (terçã benigna), Plasmodium falciparum (terçã maligna), Plasmodium malarie (quartã benigna), Plasmodium ovale (terçã benigna). Agente Etiológico Plasmodium vivax agente da febre terçã benigna com ciclo febril que retorna a cada 48 horas. Plasmodium falciparum agente da febre terçã maligna com acessos febris que se repetem clinicamente com intervalos de 36 a 48 horas. Plasmodium malarie causa da febre quartã, que se caracteriza pela ocorrência de acessos febris a cada 72 horas. Morfologia - Varia de acordo com o estágio de desenvolvimento. - Podem apresentar-se na forma de esporozoítos, merozoítos, trofozoítos, esquizontes, gametócitos, oocineto e oocisto. - Formas intracelulares incluem trofozoítos, esquizontes, e gametócitos, e as formas extracelulares capazes de invadir células são os esporozoítos, merozoítos, e oocineto. Morfologia - Formas extracelulares (esporozoítos, merozoítos e oocineto) possuem um complexo apical constituído por organelos designados por roptrias e anel polar. Para além disso possuem na zona apical os micronemas e uma membrana externa simples e uma membrana interna dupla. 2015-02-22 3 Morfologia - Esporozoíto- Forma alongada com núcleo central e único Morfologia Trofozoíto exo-eritrocítica- Forma arredondada e desprovido dos organelos do complexo apical. Sofre divisões celulares originando um esquizonte (ou criptozoíto) que é constituído por milhares de núcleos numa massa citoplasmática. Merozoítos- Resultam da divisão do esquizonte. Semelhantes aos esporozoítos, no entanto, são formas mais pequenas e arredondadas. Merozoíto Morfologia Microgameta- é constituída por uma membrana que envolve o núcleo e um único flagelo. Macrogameta- apresenta uma estrutura proeminente na superfície por onde penetra o microgameta. Oocineto- Célula resultante da fusão dos gametas, tem uma forma alongada, núcleo volumoso e excêntrico. Oocisto- Estrutura envolvida por uma cápsula com grânulos citoplasmáticos. Pode originar em média 1000 esporozoítos. Morfologia Hospedeiro vertebrado: Esporozoíta Trofozoíta Esquizonte Merozoíta Gametócitos (microgametócito e macrogametócito) Hospedeiro invertebrado: Microgameta/ macrogameta Zigoto * Oocineto * Oocisto * Esporozoíta Formas evolutivas * Estágios diplóides Plasmodium vivax Parasita principalmente os reticulócitos hemácias jovens O número de merozoítos por esquizonte varia de 14- 24. Formas encontradas no sangue: Merozoítas Trofozoítas Pré esquizontes Esquizontes Gametócitos 2015-02-22 4 *Plasmodium falciparum Parasita hemácias jovens e maduras Cada ciclo esquizogônico pode ser originados até 36 merozoítas Formas aderidas nos vasos sanguíneos: Esquizontes Merozoítas Gametócitos Formas encontradas no sangue: Trofozoítas Esquizontes (formas graves) Plasmodium malariae Os merozoítas parasita hemácias maduras Os esquizontes originam de seis a 12 merozoítas cada ciclo Formas encontradas no sangue: Merozoítas Trofozoítas Pré esquizontes Esquizontes Gametócitos Plasmodium ovale Os merozoítas parasita hemácias jovens Os esquizontes originam de seis a 12 merozoítas cada ciclo Formas encontradas no sangue: Merozoítas Trofozoítas Pré esquizontes Esquizontes Gametócitos 2015-02-22 5 Vetor Mosquito pertencente à ordem dos dípteros, família Culicidae, gênero Anopheles (cerca de 400 espécies) Brasil: Anopheles(Nyssorhynchus)darlingi, Anopheles(Nyssorhynchus)aquasalis, Anopheles(Nyssorhynchus)albitarsis, Anopheles(Kerteszia)cruzi, Anopheles(Kerteszia)bellator. Popularmente conhecidos como: “carapanã”, “muriçoca”, “sovela”, “mosquito-prego”,“bicuda”. Vetor Desenvolve em água salobra, doce Adulto: hábitos noturnos ou crepusculares Repasto sanguíneo Somente as fêmeas 2015-02-22 6 Epidemiologia Mundial Uma das doenças parasitárias mais prevalentes no mundo 60% da população mundial exposta. 300-500milhões casos novos-ano 700.000 a 2,7 milhões mortes/ano 200-300 crianças morrem em decorrência da malária POR HORA Áreas de maior transmissão mundial: África sub-sahariana > Índia > Sudeste Asiático > América do sul >América Central 90% das mortes correspondem a crianças com menos de 5 anos moradoras das regiões da África sub-Saara. Áreas de Risco para Malária: OMS - 2009 EPIDEMIOLOGIA DA MALARIA NO BRASIL 300 a 500 mil mortes / ano; > 99% casos - Amazônia; > Estados com maior número de casos: Pará e Amazonas; Plasmodium vivax – espécie mais prevalente (>80% dos casos). Destaca-se o trabalho de Carlos Chagas sobre Malaria e todos os seus esforços para diminuir os focos da doença no país e conter o seu avanço. No Brasil, as décadas de 1930 e 1940 forma marcadas pelo surgimento de estruturas sanitárias e campanhas de combate à malária. Em 1941 o governo brasileiro criou o Serviço Nacional de Malária com ações de erradicação do mosquito e tratamento dos doentes Malária no Brasil A transmissão da malária está condicionada a determinados fatores que permitem não só o surgimento de novas infecções como também a perpetuação do agente causal: Presença do parasito, Presença do vetor, Presença do hospedeiro humano. 2015-02-22 7 Impacto da Malária no Brasil 40% das consultas ambulatoriais em RO 20% das internações em RO 1.400.000 dias de trabalho perdido/Brasil R$ 12.133.133,00/Ano/Brasil Letalidade < 1% Transmissão Inoculação de esporozoítos durante a picada da fêmea de mosquito do gênero Anopheles. Outros mecanismos: Congênita Lesões com agulhas. Transfusão sanguínea. Transplantes de órgãos. Usuários de drogas endovenosas Transmissão Os indivíduos não tratados adequadamente podem infectar mosquitos: P. falciparum até 1 ano; P. vivax até 2 a 3 anos; P. malariae mais de 3 anos O mosquito permanece infectado por toda vida A transmissão por transfusão pode se dar até por 40 anos com P. malariae No sangue armazenado, dura até um mês Ciclo Biológico No vertebrado (hospedeiro intermediário): ciclo esquizogônico ou assexuado No vetor (hospedeiro definitivo): ciclo esporogônico ou sexuado 2015-02-22 8 Ciclo Assexuado – Plasmodium spp. - Esporozoítos são inoculados no homem pelo mosquito Anopheles. Inicialmente, esses esporozoítos entram nas células do hospedeiro mas sem que nelas se desenvolvam. (30 a 60 min) - Depois chegam aos hepatócitos e aí começam a desenvolver- se e diferenciam-se em trofozoítos pré-eritrocíticos. - Trofozoítos começam a reproduzir-se por esquizogonia (tipo merogonia), originando esquizontes, depois formam merozoítos que invadem os eritrócitos. Dura entre seis e 16 dias após a inoculação. Ciclo Assexuado – Plasmodium spp. O desenvolvimento intra-eritrocítico do parasita se dá por esquizogonia ( merogonia) originando merozoítos que invadem novos eritrócitos. Depois de certas gerações de merozoítos, começa a reprodução sexuada, em que merozoítos originam gametócitos. Depois da picada do Anopheles, os gametócitos passam para o mosquito e vão para o intestino. Ciclo Sexuado – Plasmodium spp. Condições ambientais, como temperatura inferior a 30oC, aumento de pH e baixa pressão de CO2 estimulam o processo de gametogénese, em que gametócito feminino se diferencia em macrogameta e o gametócito masculino em 8 microgametas. Os microgametas são flagelados e cada um fecundará um macrogameta originado um ovo . Depois de 24h, o ovo começa a movimentar-se por contracções, sendo designado por oocineto. Esse atinge a parede do intestino médio e encista formando o oocisto. Ciclo Sexuado – Plasmodium spp. - O oocisto entra na fase de esporogonia e origina esporozoítos, que são espalhados por todo o corpo através da hemolinfa. Depois atingem as glândulas salivares, sendo transmitidos aos homem durante a picada e alimentação. - O ciclo se repete sucessivas vezes, a cada 48 horas nas infecções pelo P. falciparum, P. vivax e P. ovale e a cada 72h nas infecções pelo P. malariae Patogenia Somente as formas assexuadas do ciclo eritrocitário são responsáveis direta ou indiretamente pelas manifestações clínicas. Sem manifestação - Ciclo extra-eritrocítico (passagem pelo fígado) Fenômenos: 1 – Destruição dos eritrócitos parasitados todos os tipos de malária ANEMIA : Destruição de eritrócitos não parasitados pelo sistema imune ou aumento eritrofagocitose esplênica Participação de auto anticorpos com afinidade para o parasito e eritrócito Disfunção da medula óssea estimulada por ação de citocinas 2015-02-22 9 Patogenia 2 – Toxicidade resultante da liberação de citocinas Fase aguda –céls. Imunocompetentes produzem citocinas –ação no parasito – prejudicial ao hospedeiro: Febre – liberação de pirogênio endógeno por macrófagos e monócitos - ativado pelo parasito Material glicolipídico e hemozoína liberação de citocinas (TNF e IL1 (IL6 e IL8) - Céls. do SMM e Céls. endoteliais Febre e mal - estar Citocina – atua sobre o endotélio – Moléculas de citoaderência Gliconeogênese – Hipoglicemia Patogenia 3 – Seqüestro dos eritrócitos parasitários na rede capilar Citoaderência endotelial Rosetas capilares cerebrais Obstrução da microcirculação oxigênio p/ metabolismo anaeróbico e acidose lática Rosetas: Favorece a invasão de novos eritrócitos; Funciona como escudo contra a resposta imune; Diminui a velocidade do fluxo sanguíneo; Favorece a anemia; Auto aglutinação; Associada a malária grave - malária cerebral / anemia grave Patogenia 4 – Lesão capilar por deposição de imunocomplexos Rins – glomerulonefrite – perda de proteínas Período de Incubação P. falciparum – 12 dias P. vivax – 14 dias P. ovale – 14 dias P. malariae – 30 dias Manifestações Clínicas Malária Branda ou não complicada: sintomas básicos - fator de confusão no diagnóstico: febre, dor de cabeça, dor muscular, fraqueza e mal estar Malária Severa: vários órgãos vitais, compromete vários sistemas - disfunção múltipla - Coração, rins, pulmões, fígado, cérebro Malária Cerebral: agravamento da malária severa, acomete principalmente o cérebro. 2015-02-22 10 2015-02-22 11 MALÁRIA CEREBRAL Síndrome clínica caracterizada por coma, ocorrido em até 1 hora após o fim de acesso malárico ou relacionado a hipoglicemia; detectada a presença das formas assexuadas do P. falciparum no sangue periférico e há a exclusão de qualquer outra causa de encefalopatia. Aspectos clínicos: Coma e Convulsão Mais comum em crianças Retinopatia Utilizada na distinção Alterações de consciência Malária Cerebral Efeitos: Distúrbios neurológicos Temporários ou permanentes Funções cognitivas memória atenção e fala 24% das crianças 250000 casos/ano 5% adultos Mortalidade +/- 20% casos 24h após os sintomas efeito das drogas Complicações da Malária Insuficiência renal aguda (IRA). Síndrome nefrótica. Anemia profunda. Ruptura esplênica espontânea (ruptura do baço). Síndrome de angústia respiratória do adulto (SARA). Edema pulmonar. Hemorragias digestivas. Alterações hepáticas. Trombose: quando ocorre nos capilares do cérebro, pode ocorrer a malária cerebral, que nos estados mais graves provocam intensas dores de cabeça, delírio, convulsões, coma e óbito. Peritonite. Coagulação intravascular disseminada (CID). Septicemia. Diagnóstico Diagnóstico Clínico Anamnese Sinais e sintomas (presuntivo) Diagnóstico Laboratorial Esfregaço delgado e gota espessa 2015-02-22 12 2015-02-22 13 2015-02-22 14 Diagnóstico QBC (Quantitative Buffy Coat): Concentração dos parasitos, pela centrifugação do sangue, em tubos de micro-hematócrito combinada com a coloração dos ácidos nucléicos do parasito, pelo fluorocromo denominado laranja de acridina / Alto custo / Teste específico e sensível, recomendado para triagens em bancos de sangue Métodos imunocromatográficos (teste em fita: ParaSight™-F, OptiMal®). Biologia molecular (PCR). Sorológicos ( imunofluorescência indireta, elisa, etc...). Diagnóstico diferencial Febre amarela Leptospirose Colecistite Meningoencefalite Septicemia Febre tifóide Dengue Hepatites Infecções respiratórias Pielonefrite Endocardite Febres hemorrágicas Tratamento Objetivos: Interromper a esquizogonia sanguínea, responsável pelas manifestações clínicasda infecção e complicações; Erradicar formas latentes do parasito (hipnozoítas), das espécies P. vivax e P. ovale, no ciclo tecidual, evitando as recaídas; Reduzir as fontes de infecção, eliminando as formas sexuadas dos parasitos; 2015-02-22 15 TRATAMENTO Quinina, Mefloquina e Halofantrina: agem sobre trofozoítos, gametócitos e merozoítos sanguíneos – não agem sobre as formas teciduais. Cloroquina e Amo-diaquina: agem sobre as formas sanguíneas, exceto sobre os gametócitos. Primaquina, Plasmoquina e Pentaquina: agem sobre as formas teciduais e sobre os gametócitos – pouco eficientes contra as formas assexuadas sanguíneas. Muito tóxicos Pirimetamina: um dos mais poderosos agentes supressores da malária, agindo sobre formas sanguíneas e hepáticas. Apresenta baixa toxicidade e absorção lenta. Resistência do Plasmodium falciparum aos antimaláricos Profilaxia e Controle Detecção e tratamento precoce dos infectados Medidas de proteção individual e coletiva Telagem de janelas e portas Inseticidas de ação residual Impregnação de mosquiteiros com inseticida Desenvolvimento de novos fármacos Treinamento de Recursos Humanos Estruturação do sistema de saúde Desenvolvimento de Vacina Vacina Dificuldade de desenvolvimento de vacinas: complexo ciclo de vida do parasito Vacina contra a fase pré-eritrocítica Linhas de pesquisa: Vacina antiesporozoítica: imunidade pouco eficiente Vacina antimerozoítica: testes em humanos com resultados conflitantes Vacina antigametas: impedir o ciclo sexuado no mosquito – Útil em regiões de alta transmissão (ainda não testada em humanos) 2015-02-22 16
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