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• Doença provocada por hemoparasita que se distribui em regiões tropicais e subtropicais; • Nome vulgar: paludismo, impaludismo, febre palustre, maleita ou sezão; • Descrita por Hipócrates (460-370 a.C.); • O agente etiológico da doença é do gênero Plasmodium e podem ser das seguintes espécies: o P. vivax: causa a terça benigna; o P. falciparum: causa a terça maligna, tipo mais grave da malária que pode ser fatal; o P. malariae: causa a quartã benigna; o P. ovale: presente somente na África. EPIDEMIOLOGIA • Atinge áreas tropicais e subtropicais • O vetor possui 80 espécies de mosquitos do gênero Anopheles; • O Brasil possui 4 espécies importantes: o Anopheles (Nyssorhynchus) darlingi o A. (N.) aquasalis o A. (Kerteszia)cruzii o A. (K.) bellator • Para que exista malária numa região são necessários três elos principais: o Gametóforo; o Mosquito transmissor; o Homem susceptível. MORFOLOGIA • Esporozoítos: forma infectante humana, aspecto alongado com núcleo central; • Forma exo-eritrocítica (esquizontes): massa citoplasmática irregular com milhares de núcleos. • Merozoítos – invadem somente hemácias, forma assexuada, fase intra e extracelular; • Formas eritrocíticas: compreendem os trofozoíto jovem, trofozoíto maduro, esquizonte e gametócitos; • Microgameta (célula sexuada masculina): célula flagelada originária do processo de exflagelação; • Macrogameta (célula sexuada feminina): possui fenda para penetração do microgameta; • Oocineto: forma alongada, vermiforme, móvel; • Oocistos: estruturas esféricas contendo esporozoítos; HÁBITAT Varia de acordo com a fase do ciclo dos plasmódios: • Homem: o Fase pré-eritrocítica ocorre nos hepatócitos; o Fase eritrocítica ocorre nas hemácias; • Mosquito o Estômago e glândulas salivares. TRANSMISSÃO • Picadas de fêmeas do mosquito do gênero Anopheles, infectados com esporozoítos do Plasmodium sp; o O vetor se infecta através da picada do homem infectado; • Transfusão sanguínea; • Compartilhamento de seringas contaminadas; • Acidentes laboratoriais; • Congênita (raramente descrita); Vetor • Anopheles (Nyssorhychus) darlingi: o Espécie transmissora da malária em todo o Brasil; o Antropófilo susceptível ao plasmódio; o Hematofagismo doméstico e silvestre (crepúsculo vespertino e matutino); o Criadouros – águas límpidas e ensolaradas ou parcialmente sombreadas; • Anopheles (Nyssorhychus) aquasalis: o Região costeira do país: Amazonas até São Paulo; o Criadouro: coleção de água com ligeira concentração salina (NaCl); • Anopheles (Kerteszia) cruzii: o Região sul do país: desde SP; o Criadouro: sobreposição de folhas de bromélias (áreas sombreadas); • Anopheles Kerteszia Bellator: o São Paulo até o Rio Grande do Sul; o Criadouro: sobreposição de folhas de bromélias (exposição solar); CICLO BIOLÓGICO Ciclo no humano • A infecção malárica se inicia pela inoculação de esporozoítos infectantes pelo fêmea do Anopheles, ficando na pele por aproximadamente 15 minutos antes de cair na corrente sanguínea; • Os esporozoítos irão se mover para as células hospedeiras através de uma proteína chamada de circum-esporozoito (CS), e irão se ligar a célula hospedeira através de outra proteína adesiva chamada TRAP; • Eles irão migrar por várias células até chegar aos hepatócitos, onde vão iniciar o desenvolvimento parasitário; • Após atingir os hepatócitos, os esporozoítos irão se diferenciar em trofozoítos pré- eritrocíticos. Estes se multiplicam por esquizogonia (reprodução assexuada – processo em que uma célula se fragmenta e dá origem a outras), dando origem a milhares de merozoítos que invadirão os eritrócitos; • Esta é a primeira fase do ciclo e se chama exo-eritrocítica, pré-eritrocítica ou tissular e, portanto, precede o ciclo sanguíneo do parasito; • O ciclo er itrocítico inicia-se quando os merozoítos tissulares invadem os eritrócitos, através do reconhecimento de receptores específicos; o O P. falciparum reconhece glicoforinas que são glicoproteínas presentes no eritrócito e invade hemácias de todas as idades; o Já o P. vivax, reconhece a glicoproteína do grupo sanguíneo Duffy e só invade reticulócitos; o Já o P. malariae invade preferencialmente hemácias maduras; • O desenvolvimento intra-eritrocítico também se dá por esquizogonia, com formação de merozoítos que invadirão novos eritrócitos; • Depois de algumas gerações de merozoítos, ocorre a diferenciação do parasito em estágios sexuados, os gametócitos, que não irão se dividir mais e que seguirão o seu desenvolvimento no mosquito vetor, dando origem aos esporozoítos; • O ciclo sanguíneo se repete sucessivas vezes, a cada 48h nas infecções por P. falciparum, P vivax e P. ovale e a cada 72h nas infecções pelo P. malariae; • A hemoglobina é a fonte de nutrição dos trofozoítos, porém outros componentes metabólicos como glicose, metionina, purinas e pirimidinas e PABA também são necessários ao seu desenvolvimento; • A digestão da hemoglobina ocorre dentro de um vacúolo digestivo e forma um pigmento malár ico (hemozoína). Após o término da esquizogonia, a hemácia parasitada se rompe e libera esse pigmento no plasma, o qual é fagocitado pelas células de Kupffer no fígado ou macrófagos. Ciclo no inseto • Durante o repasto sanguíneo de um humano infectado, a fêmea do Anopheles ingere as formas sanguíneas do parasito, mas somente os gametócitos é que irão evoluir dentro do inseto, dando origem ao ciclo sexuado (esporogônico); • No intestino médio do mosquito o processo de gametogênese ocorre, o zigoto é formado e depois passa a se movimentar, sendo chamado de oocineto; • O oocineto se encista e após alguns dias, o oocisto se rompe e os esporozoítos são liberados por todo o corpo do inseto, até atingir as glândulas salivares, para serem injetados no humano no momento do repasto sanguíneo. RESPOSTA IMUNE Resposta inata: • Inerente ao hospedeiro (independe do contato prévio com o parasito); • Resistencia absoluta: protege completamente o indivíduo da doença. Um exemplo é o homem não ser suscetível aos plasmódios aviários e de roedores; • Resistência relativa: há o desenvolvimento do parasito, mas o processo infeccioso é limitado. Um exemplo é a infecção com plasmódios simianos, as quais são controladas antes de apresentar manifestações clínicas definidas; O que determina a resistência? • Fatores genéticos; • Indivíduos que possui uma ausência de receptores na superfície de eritrócitos (antígeno do grupo sanguíneo Duffy – P vivax) não desenvolvem a doença • Anemia falciforme: • Condição em que as hemácias em formato de foice possuem um nível de potássio diminuído que irá resultar na morte ao parasito; • Deficiência da enzima glicose-6-fosfato desidrogenase; • Oxidação do eritrócito que gera um composto chamado de metemoglobina que irá ser tóxico ao parasita, levando-o a morte; Resposta adquirida: • Recém-nascidos: o Transferência passiva de anticorpos maternos (IgG) se configura como uma das principais formas de resistência dos recém-nascidos; o Excesso de hemoglobina; o Dieta alimentar dos recém-nascidos deficiente em PABA também impede o desenvolvimento do parasito; • Adultos: o Premunição (imunidade antiparasita); o Exposição contínua ao parasito (vários anos); o Imunidade não esterilizante (parasitemia abaixo do limiar de patogenicidade); Mecanismo de resposta imune adquirida • Esporozoítos: induzem uma resposta que resulta na produção de anticorpos anti-CS (circum esporozoítos) e assim, bloqueiam a motilidade do esporozoíto; • Forma intra-hepática: resposta célula citotóxica e mediada por citocinas (IFN-y, IL- 1, IL-6 e TNF-a); • Forma eritrocítica:participação de anticorpos opsonizantes que irão promover a fagocitose de eritrócitos infectados; • Anticorpos citofiíliicos: estimula a liberação de TNF-a e impede o desenvolvimento parasitário; PATOGENIA Apenas o ciclo eritrocítico é responsável pelas manifestações clínicas e patologia da malária. A passagem pelos hepatócitos não é patogênica; Macrófagos esplênicos captam pigmento malárico circulante (hemozoína) e removem as hemácias infectadas – ativação de receptores da resposta imune inata e liberação de citocinas que circulam e induzem os paroxismos inflamatórios clássicos = ataque malárico; Anemia por hemólise de eritrócitos não infectados/absorção de hemácias alteradas por macrófagos... Febre e mal-estar= liberação de pirogênio endógeno pelos monócitos e macrófagos / liberação de citocinas TNF-a, IL-1, IL-6, IL-8; Deposição de imunocomplexos e componentes do complemento causando lesão capilar e alterando a permeabilidade dos capilares – perda maciça de proteínas QUADRO CLÍNICO • O período de incubação da malária varia de acordo com a espécie de plasmódio: o 9 a 14 dias – P. falciparum; o 12 a 17 dias – P. vivax; o 18 a 40 dias – P. malariae; • A fase inicial sintomática é caracterizada por mal-estar, cefaleia, cansaço e mialgia e geralmente precede a febre clássica da malária; • O ataque paroxístico agudo (acesso malárico), coincidente com a ruptura das hemácias e geralmente acompanhado de calafrio e sudorese e dura de 15 minutos a 1h, sendo seguida de uma fase febril. Depois de um período de 2 a 6h, a febre abaixa e o paciente apresenta sudorese profusa e fraqueza intensa. Algumas horas depois, os sintomas desaparecem e o paciente se sente melhor; • Após a fase inicial, a febre assume um caráter intermitente relacionado com o tempo de ruptura das hemácias. A periodicidade dos sintomas está relacionada com o tempo de duração dos ciclos eritrocíticos de cada plasmódio. Malária não complicada: • O acesso malárico é associado à intensa debilidade física, náuseas e vômitos; • Ao exame físico, o paciente apresenta-se pálido e com baço palpável; • Febre associada à história de viagem para área endêmica de malária; • Mialgia, fraqueza e anemia. Manifestações crônicas: • Esplenomegalia reativa da Malária; • Hepatomegalia; • Anemia (destruição de eritrócitos); • Leucopenia; • Plaquetopenia; • Síndrome nefrótica da malária quartã: ocorre em infecções não tratadas pelo P. malariaae, e apresenta proteinúria acentuada, edema e hipoalbunemia. Malária grave e complicada: • Adultos não imunes, crianças e gestantes podem apresentar manifestações mais graves da infecção; • Os indicadores de pior prognóstico são hipoglicemia, convulsões, vômitos repetidos, hiperpirexia (febre muito elevada), icterícia e distúrbio da consciência e podem preceder as seguintes formas clínicas da malária grave e complicada: • Malária cerebral : forte cefaleia, hipertermia, vômitos e sonolência; em crianças ocorrem convulsões. O paciente evolui para coma com pupilas contraídas; • Edema pulmonar agudo: comum em gestantes e se caracteriza por hiperventilação e febre alta; as formas mais graves apresentam intensa transudação alveolar e redução da PA de oxigênio (Síndrome da angústia respiratória do adulto); • Hipogl icemia: comum em crianças e está associada, geralmente, com a malária cerebral; • Icterícia: aumento da bilirrubina sérica devido a hemólise excessiva ou comprometimento da função hepática; • Hemoglobinúria: caracterizada pela hemólise intravascular aguda maciça; o paciente apresenta urina colúria acentuada, vômitos biliosos e icterícia intensa. Necrose tubular aguda com insuficiência renal é a complicação mais frequente e pode ser fatal. DIAGNOSTICO • Cl ínico: o Anamnese: resgatar informações sobre a área de residência, relato de viagens e possível exposição ao parasito, histórico de transfusões sanguíneas ou uso de agulhas contaminadas; o O tipo de acesso, a anemia e a esplenomegalia podem levar também ao diagnóstico clínico de malária; • Laboratorial: o Parasitológico: pesquisa de parasito no sangue periférico pelo método da gota espessa ou pelo esfregaço sanguíneo; o Imunológico: imunofluorescência indireta, ELISA; o PCR (Reação em cadeia da polimerase): detecção de DNA do parasito nas amostras. TRATAMENTO P. vivax, P. ovale e P. malariae: • Malárias benignas: o Cloroquina: atua sobre as formas sanguíneas e sobre gametócitos; o Primiquina: atua sobre esquizontes teciduais (P. ovale e P. vivax) e gametócitos (todas as espécies); Obs: uso profilático - destruição de esporozoítos (antes da penetração); P. falciparum: • Associação de quinina com doxiciclina (primeira escolha); • Mefloquina: esquizonicida sanguíneo; • Fitoterápico: artemisina (Artemia annua) - esquizonicida sanguíneo; • Casos graves: derivados de artemisina (primeira opção); • Após melhora: mefloquina e antibiótico; Infecção mista • Pacientes infectados por P. falciparum e P. vivax • Administrar esquizonicida sanguíneo para o P. falciparum associado a primaquina; • Em infecções mistas de P. falciparum e P. malariae o tratamento é feito para o P. falciparum. Gravidez • P. Vivax: apenas cloroquina (recaídas durante a gestação); • P. falciparum: apenas quinina em monoterapia + clindamicina PROFILAXIA • Tratar o homem doente, eliminando o parasito; • Proteger o homem sadio, através da quimioprofilaxia (mefloquina) em áreas endêmicas, telar janelas, repelentes, mosquiteiros, roupas protetoras etc.; • Combate ao transmissor: na fase adulta (inseticidas residuais) e larvicida biológico (Bacillus turigiensis e B. sphericus); • Borrifação de inseticidas nas paredes dos domicílios; • Educação em saúde: conscientização da população.
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