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O ENCONTRO COM AS HISTÉRICAS E A INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
CAMILA MARRA DE ALMEIDA PARANHOS
CAMILA TEODORO DA SILVA
EDUARDO DA SILVA TEIXEIRA
INGRID ABREU DA SILVA
MARCELO PARANHOS DE GUSMÃO MARRA
MARIA CLARA DE SOUZA CHEREM
MARIANA FREITAS PRADO
RAPHAEL FERREIRA SANTIAGO
VANESSA FRANÇA CARVALHO
VIOLETA DAVID PERINI
O ENCONTRO COM AS HISTÉRICAS E A INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS
Trabalho apresentado à disciplina Psicologia e Bases do Pensamento Psicanalítico, ministrada pela professora Doris Rinaldi, para obtenção de nota parcial no curso de graduação em Psicologia, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Rio de Janeiro - RJ
2019
1 INTRODUÇÃO
Em 1882, ao ouvir o relato do seu amigo e colega vienense Joseph Breuer sobre os êxitos que houvera obtido no tratamento de sintomas histéricos de uma jovem paciente, Anna O., Freud voltou sua atenção, pela primeira vez, para a possibilidade de utilizar a hipnose no tratamento da histeria. Na obra Estudos sobre a Histeria, publicada em 1895 e fundadora da psicanálise, Freud e Breuer apresentam o êxito que obtiveram no tratamento de cinco pacientes, incluindo Anna O., Lucy R. e Elisabeth Von R., bem como suas primeiras hipóteses. No capítulo A psicoterapia da Histeria, Freud descreve as bases clínicas e teóricas de uma nova disciplina: a psicanálise, derivada do método catártico.
O método catártico foi criado por Breuer e utilizado entre 1880 e 1895. Esse método consistia em permitir que o paciente evocasse lembranças traumáticas que ocorreram no passado em que, a partir de então, houve a aparição dos sintomas histéricos. Breuer, e depois Freud, observaram que os sintomas desapareciam após a evocação dessas lembranças e após o reavivamento das emoções originárias.
Freud recorre, em um primeiro momento, ao uso da hipnose e da sugestão, tal como Breuer fazia, para ajudar o paciente a evocar suas lembranças patogênicas. Porém, logo ele abandona essas técnicas e passa a utilizar o método de associação livre, pois percebe que pedindo para o paciente dizer tudo que lhe vem à mente, a espontaneidade com que os pensamentos seguem seu curso, além de trazer à tona as lembranças reprimidas, permite identificar quais são as resistências, sendo assim possível superá-las. No entanto, a publicação de Estudos sobre a Histeria marca o fim da colaboração entre os dois autores. Um dos motivos desse afastamento é que Breuer não concordava com aquilo que Freud enfatizava cada vez mais como sendo importante na origem da histeria: os fatores sexuais.
A partir de 1896, Freud prossegue sozinho e publica em 1899, com data de 1900, A interpretação dos sonhos. Em 1900, Freud inicia o tratamento de uma jovem de dezoito anos, que recebeu o pseudônimo Dora para ocultar sua identidade. A paciente interrompe o tratamento após 3 meses e o caso é publicado somente em 1905. O estudo recebeu inicialmente o nome Sonhos e histeria, pois Freud acreditava estar apto a mostrar o entrelaçamento entre a história de um tratamento e a interpretação dos sonhos. O título foi substituído na publicação por Fragmentos de análise de um caso de histeria, pois o tratamento não seguiu até a data prevista, portanto alguns enigmas ficaram por resolver e outros não foram esclarecidos de maneira completa. O caso Dora ficou marcado na história como um dos mais emblemáticos da psicanálise e se tornou referência nos estudos dessa disciplina. O Fragmento de uma análise de histeria não é apenas a continuação de A interpretação dos sonhos, pois ao unir na clínica os conceitos de fantasia e sexualidade infantil, é também um precursor dos Três ensaios, que revolucionou o conceito de sexualidade.
Na obra A interpretação dos sonhos, ele aborda de forma inovadora os processos inconscientes, pré-conscientes e conscientes envolvidos nos sonhos, e desenvolve um método de acesso ao seu conteúdo, tomando elementos de suas experiências prévias com a técnica da hipnose e com a técnica da associação livre. Ele transpõe esta última para associações relacionadas ao conteúdo do sonho. No capítulo Sobre os Sonhos, Freud fala sobre as teorias acerca dos sonhos de teóricos que o precederam, e, com base na literatura da época, percorre todos os problemas e enigmas oníricos. Já no capítulo O método de interpretação dos sonhos: análise de um sonho modelo, no qual ele analisa o famoso sonho de Irma, Freud expõe e descreve seu método. Primeiramente, ele contextua situações vividas em um momento imediatamente anterior ao sonho, segue relatando minuciosamente o sonho e finaliza com sua análise a partir de cada fragmento do sonho.
2 O ENCONTRO COM AS HISTÉRICAS
Sendo uma afecção muito difundida no final do século XIX, a histeria levantava dúvidas e discordâncias entre os médicos da época, que indagavam se sua origem era orgânica ou psíquica. Os sintomas não correspondiam a lesões no corpo dos pacientes, além de aparecerem e desaparecerem aparentemente de forma aleatória. Como esses sintomas eram de difícil compreensão, muitos dos pacientes, em sua maioria mulheres, eram considerados simuladores ou loucos.
Encorajado pelos êxitos do colega Breuer, Freud passa a aplicar a sugestão e a hipnose nos pacientes acometidos por sintomas histéricos a partir de 1882. Para acompanharmos a evolução das técnicas utilizadas por Freud, vamos analisar os resultados de alguns dos principais casos clínicos.
2.1 CASO ANNA O.
O verdadeiro nome da paciente era Bertha Pappenheim, uma jovem de 21 anos que sofria de diversos sintomas histéricos, entre eles tosse nervosa, variações de humor, distúrbios visuais e da linguagem, paralisia e “ausências” provocadas por alucinações. O caso foi redigido por J. Breuer, que constatou que os sintomas desapareciam quando ele interrogava Anna O. sobre a lembrança ligada ao momento da primeira aparição dos sintomas, e a paciente relatava em detalhes, revivendo intensamente a emoção que sentira na época, o que Breuer chamou de catarse, ou ab-reação.
Breuer observou também que esse fenômeno ocorria quando a paciente se encontrava em um estado que ele chamou de estado hipnoide, um estado de consciência diminuído. Ele então passou a hipnotizar a paciente, em vez de esperar que ela entrasse em auto-hipnose, poupando tempo. Anna O. chamou a técnica de recuperação de cura pela palavra, e o processo de rememorização dos acontecimentos relacionados ao surgimento dos sintomas que permite a ab-reação de limpeza de chaminé.
O maior êxito terapêutico do caso foi o que se refere à paralisia do braço direito de Anna O. que havia aparecido inicialmente durante uma alucinação em que via uma serpente tentando morder seu pai, e que depois aparecia constantemente, juntamente com a alucinação e com a impossibilidade de se expressar, a não ser na língua inglesa. Quando a paciente lembrou que a condição surgira numa noite em que ela velava à cabeceira de seu pai que estava doente, a paralisia desapareceu e ela recuperou o uso da língua alemã. 
Breuer disse em seu relato que a paciente ainda precisou de um longo tempo antes de se recuperar completamente e gozar de plena saúde. Mas, muito tempo depois, Freud disse que Breuer interrompera o tratamento pois não suportou a transferência amorosa de sua paciente, abandonando-a com um colega. Porém, pesquisas históricas posteriores estabeleceram que, na verdade, algumas manifestações da doença de Anna O. persistiram e que, além disso, ela desenvolveu uma dependência por morfina ao tratar de suas dores nevrálgicas, sendo encaminhada ao diretor do sanatório de Kreuzlingen, para que prosseguisse o tratamento, de onde saiu curada em outubro de 1882.
Esse tratamento ocorreu entre os anos 1880 e 1882, mas a primeira formulação do método catártico só ocorreu em 1892. O tratamento de Anna O. permanecerá nos anais como o primeiro êxito desse método e que deu a Freud o primeiro impulso rumo à descoberta da psicanálise.
2.2 CASO LUCY R.
Lucy R. era uma jovem governantainglesa que iniciou o tratamento com Freud em dezembro de 1892, e que durou nove semanas. Ela sofria de perda e alucinações olfativas, sendo perseguida por um cheiro de queimado e por distúrbios considerados histéricos. Nesse caso, Freud abandona progressivamente a hipnose pela sugestão.
Após ter tentado a hipnose em vão com a paciente, Freud passou a utilizar o método da associação livre, ajudando às vezes com uma leve pressão na testa. Ele dizia que assim que a pressão na testa cessasse, o que viesse à mente deveria ser captado, pois essa ideia ou visão que eles iriam perseguir. Esse tratamento confirmou a hipótese de que a lembrança de um evento esquecido, mas que havia sido conservado na memória fielmente, está na origem do efeito patogênico dos sintomas histéricos, tratando-se de um conflito psíquico, quase sempre de origem sexual. O efeito patogênico seria, portanto, causado por uma ideia incompatível que havia sido reprimida do consciente. Os sintomas foram eliminados assim que Freud descobriu que a paciente havia se apaixonado secretamente por seu patrão, e em que ela admitiu ter reprimido esse sentimento por não ter esperanças.
2.3 CASO ELISABETH VON R.
O nome verdadeiro da paciente era Ilona Weiss, uma moça húngara de 24 anos, que se tratou com Freud do outono de 1892 a julho de 1893. Essa é a primeira análise completa de um caso de histeria. A paciente sofria de violentas dores na pena há dois anos e também de distúrbios da marcha, que eram inexplicáveis e que tinham aparecido quando ela cuidava de seu pai doente. Elisabeth von R. perdeu a irmã um pouco antes da morte do pai, e essas duas mortes tiveram um papel significativo na causa dos sintomas.
Segundo Freud, o tratamento se deu em três fases. Na primeira, ele tentou a hipnose, mas a paciente se mostrou refratária e Freud se contentou em deixa-la deitada, com os olhos fechados. Porém não houve o efeito terapêutico esperado. Freud recorreu, portanto, ao método de pressão na testa, sugerindo que a paciente falasse o que lhe ocorresse à mente. O primeiro pensamento de Elisabeth foi a lembrança de um rapaz por quem ela havia se apaixonado quando seu pai estava doente, mas que, devido à doença de seu pai, ela havia renunciado a esse amor. Ela também lembrou que no momento em que o conflito interno aparecera, surgira também o sintoma da dor nas pernas. Freud disse que esse mecanismo é característico da conversão histérica. Essa lembrança levou a própria paciente a descobrir a origem de sua primeira conversão, pois ela se recordou que seu pai apoiava sua perna sobre determinado ponto de sua coxa direita, onde a dor era mais intensa, para que ela trocasse o curativo. Após esse período de ab-reação, a paciente obteve melhora. Dessa forma, Freud ganhou confiança em seu método de pressão na testa, e não hesitava mais em insistir que a paciente falasse, quando ela afirmava não ter pensado em nada. Segundo ele, ele aprendeu a atribuir grande valor à resistência que a doente demonstrava ao evocar suas lembranças.
Na terceira fase, apenas, é que Freud conseguiu chegar à eliminação completa dos sintomas. Foi quando Freud descobriu sobre o “segredo” que estava na origem das dores. Durante uma sessão, a paciente ouvira seu cunhado chamando-a do lado de fora e pediu para sair. Quando ela voltou, sentiu novamente as dores violentas em suas pernas. A chegada do cunhado fez com que Elisabeth se lembrasse que suas dores remontavam à morte de sua irmã e que um pensamento inconfessável passara por sua mente ao entrar no quarto da irmã falecida: o de que sua irmã havia deixado seu cunhado livre, podendo ela se casar com ele. O amor pelo seu cunhado entrava em choque com sua consciência moral, fazendo com que a paciente reprimisse para fora da consciência essa ideia intolerável. Produziu-se, assim, uma conversão do psíquico em somático. Essa tomada de consciência teve como efeito a cura definitiva da paciente, o que não a impediu de ser agressiva com Freud por seu segredo ter sido revelado.
2.4 A PSICOTERAPIA DA HISTERIA
Nesse texto, de 1895, Freud começa a esboçar os contornos do que será o método psicanalítico, com descrições e comentários clínicos, técnicos e teóricos, trazendo as noções de inconsciente, resistências, defesas, transferências entre outras.
Freud começa a contar que foram as dificuldade e limitações do método catártico que o incitaram a abandonar a hipnose e a buscar outros meios mais eficazes para trazer à tona as lembranças patogênicas. Segundo ele, o método catártico era demorado e exigia que os pacientes confiassem totalmente no médico, o que nem sempre acontecia. Freud notou que, deitando o paciente, pedindo que ele fechasse os olhos e se concentrasse, e insistindo repetidamente, ele conseguia fazer com que surgissem novas lembranças. Mas esse procedimento ainda exigia muito esforço e os resultados eram demorados. Ele achou que isso se dava por conta de uma resistência por parte do paciente. Foi dessa maneira que Freud descobriu o papel das resistências e das defesas, mecanismos psíquicos que impediam que as representações psíquicas alcançassem o ego através de uma força que ele chamou de censura. Se a emoção não eliminada ultrapassava os limites que o paciente conseguia tolerar, a energia psíquica se convertia em energia somática, dando lugar a um sintoma histérico. Freud se baseava na insistência repetida com seus pacientes para superarem suas resistências, acrescentando o gesto de uma pressão na testa, com o objetivo de facilitar a emergência de lembranças patogênicas. Quando descobriu, contudo, o método da associação livre, também renunciou à pressão na testa. Isso ocorreu progressivamente, entre os anos de 1892 e 1898, dando lugar à expressão espontânea dos seus pacientes.
Entre os conceitos inéditos apresentados nesse texto, três noções merecem destaque: o papel da sexualidade, os símbolos e a transferência. Por verificar a presença reiterada, nos relatos de seus pacientes, de traumatismos de ordem sexual, Freud começou a perceber que o fator sexual desempenhava um papel decisivo na origem dos sintomas, mas ainda não fizera nenhuma referência à sexualidade infantil. Freud também observou que havia um determinismo simbólico na forma assumida pelos sintomas. Ele diz que se trata em geral de “jogos de palavras ridículos, de associações por consonância, que ligam o afeto e o reflexo em si”. O simbolismo é o modo de representação indireta de uma ideia, um conflito ou um desejo inconsciente, porém, nessa obra, Freud não vai muito mais longe nas investigações da noção de símbolo mnésico. Quanto à transferência, no início, Freud se refere a isso de forma indireta, sob a perspectiva da necessidade de se estabelecer uma relação de confiança, mas ele menciona de forma explícita a noção de transferência quando se aprofunda nos motivos de resistência dos pacientes, especialmente nos casos em que a pressão na testa não funciona. Ele diz que, além de uma objeção pessoal ao médico, que é um obstáculo que seria fácil de ser resolvido, havia também um medo de se ligar demais a ele, obstáculo mais difícil de se resolver.
2.5 CASO DORA
Dora se tornou um dos casos clínicos mais importantes de Freud. Tratava-se de uma jovem de dezoito anos que sofria de tosse crônica e revelou a Freud apresentar grande mágoa do pai, por ter um caso com a vizinha, a Sra. K. e por, segundo ela, usá-la como moeda de escambo com o vizinho, o Sr. K., o qual tentou beijá-la aos quatorze anos e se esforçava constantemente para seduzi-la com presentes valiosos e atenção.
Freud classifica Dora como “totalmente histérica” e afirma que seus sintomas surgem de um desejo proibido pelo pai, pelo Sr. K. e pela própria Sra. K. O desejo pela Sra. K. devia-se ao fato de que elas duas eram confidentes e muito próximas uma da outra e Dora tinha uma grande admiração por ela como uma mulher mais velha e muito atraente. Pelo fato de a Sra. K. ter se envolvido amorosamente com seu pai, Dora se sentia traída por ambos, pois havia sido deixada de lado e discretamente oferecida aoSr. K.
A tosse de Dora, segundo Freud, representava a realização de uma satisfação sexual entre duas pessoas cuja ligação amorosa Dora se ocupava constantemente em pensamento. No caso, esse sintoma de irritação da parte oral representava o sexo oral que Dora acreditava acontecer entre seu pai e a Sra. K. visto que Dora tinha conhecimento que o pai era impotente e que havia outras formas de se obter satisfação sexual entre um casal. Após a aceitação dessa explicação a tosse de Dora cessou.
Outra interpretação dada para a tosse de Dora, relacionada à frequência desse evento seria de refletir a presença ou ausência do Sr. K. Sempre que o Sr. K. viajava a Sra. K. já ficava saudável e caía doente quando ele regressava. Já Dora apresentava o quadro oposto, aparentemente revivendo os episódios de doença da Sra. K., porém da forma que ela julgava adequado “se eu fosse esposa do Sr. K. ficaria doente de saudades quando ele viajasse”.
Esse caso tornou-se emblemático na psicanálise por ser nele que Freud afirma que os sintomas histéricos podem ter mais de um significado, mas que pelo menos um deles é resultado de fantasias sexuais reprimidas, e que não há sintoma histérico quando ainda não existem conhecimentos dos processos sexuais.
Freud dá grande importância aos sonhos como via régia de acesso ao inconsciente. E mais do que isso, como a realização dos desejos recalcados no inconsciente. Porém, toda trama de um sonho é uma codificação de seu conteúdo. Por isso, diante do relato espontâneo de Dora sobre seus sonhos, Freud se dedica a orientar a interpretação dos conteúdos manifestos, para acessar os conteúdos latentes e esclarecer mais pontos obscuros de sua análise.
Em dado momento da interpretação do primeiro sonho, Freud percebe que o teor do sonho de Dora era com o propósito de escapar de perseguições e, por isso, esse se repetiu todas as noites enquanto dormia até ser realizado. Porém, mais adiante, Freud mostra que, mesmo assim, sua interpretação só reforça o caráter de realização de um desejo recalcado. Passando por todo tipo de mecanismos de interpretação, como deslocamento, a regra da contiguidade, observação de palavras ambíguas e observação de representações com objetos, Freud conclui a interpretação desse sonho de Dora.
À época do Caso Dora, Freud ainda faz muitas sugestões de interpretações a respeito do conteúdo dos sonhos relatado por Dora, o que processualmente foi incomodando a paciente, até que ela deixou a análise. Mas, além disso, uma das interpretações que Freud faz é de que a transferência que acontece no processo de análise adquire um caráter romântico por parte da paciente, que a leva a decidir deixar o tratamento também como uma forma de punição. Essa desistência ocorre três meses depois do início do tratamento, durante o processo de interpretação do segundo sonho, que, portanto, não pode ser concluída.
É importante observar que é no caso Dora que Freud associa o sonho a uma possibilidade de “corrigir” o presente segundo a infância. Além disso, dá uma definição direta para a transferência: 
São reedições, reproduções das moções e fantasias que, durante o avanço da análise, soem despertar-se e tornar-se conscientes, mas com a característica (própria do gênero) de substituir uma pessoa anterior pela pessoa do médico. Dito de outra maneira: toda uma série de experiências psíquicas prévia é revivida, não como algo passado, mas como um vínculo atual com a pessoa do médico. (FREUD, S., 1905[1901], p. 72).
E também mostra que a sexualidade fornece a força impulsora para cada sintoma e para cada manifestação singular de um sintoma.
3 INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS
A interpretação dos sonhos é o trabalho de Sigmund Freud que inaugurou uma nova era, a era da Psicanálise. Publicado em 1889 com data de 1900, essa obra traz novas perspectivas lançadas a respeito da natureza e do significado dos sonhos, e postula, ainda, a noção de inconsciente.
3.1 SOBRE OS SONHOS
Neste primeiro capítulo de A Interpretação dos Sonhos, Freud, visando dar importância à sua novidade teórica, discute detalhadamente as teorias até então existente sobre a natureza dos e os problemas relacionados aos sonhos. Freud comenta sobre a concepção do sonho na época pré-científica, onde ocorria uma interpretação mais popular, normalmente ligada a questões divinas, que foi se transformando no meio acadêmico com o surgimento da psicanálise, mas sem perder totalmente a ideia popular que seriam desejos censurados. Freud também explica os conceitos de conteúdo manifesto do sonho, que seria o conteúdo retido na memória, o que é capaz de ser reproduzido e conteúdo latente do sonho que seria aquele em sua real forma, com todos os conteúdos que foram recalcados, censurados. 
Ele divide o sonho em três categorias: a primeira seria daqueles sonhos coerentes
e de fácil compreensão do que aconteceu, que normalmente são curtos e não têm tanta
atenção; o segundo tipo são sonhos que, por mais que sejam muito coerentes e possíveis,
não se encaixam de nenhuma maneira na nossa vida anímica; o terceiro são sonhos
desconexos e confusos – que fundamentam a teoria dos médicos de que os
sonhos não têm significado e são resultado de uma atividade anímica restrita.
Mais adiante, Freud ressalta que, ao analisar um sonho, caso apareça uma incerteza
se decompondo em “ou...ou”, é preciso substituí-la por um “e”, para fins de interpretação. Acrescentando que o inconsciente se utiliza livremente da ambiguidade verbal, da
linguagem, para trabalhar. Aparecendo aí o conceito fundamental de condensação, segundo o qual, é feita a combinação de diferentes elementos num único representante, no conteúdo do sonho. Elemento esse que só pode ser percebido na análise, em regra
geral. 
Já o deslocamento, outro conceito importantíssimo na análise dos sonhos, compreenderia a importância ou potencialidade afetiva dos pensamentos se transformando. Segundo Freud, presumimos comumente que o elemento do conteúdo manifesto mais nítido é aquele mais importante, mas essa seria uma obra do deslocamento onírico. Muitas vezes, durante a análise, descobre-se que um elemento menos nítido é aquele mais diretamente derivado do pensamento onírico essencial.
O material inconsciente dos pensamentos oníricos e a relação que eles têm com a consciência e com o recalcamento abrangem outras questões significativas para o campo da psicologia, às quais as respostas sem dúvida deverão ser adiadas até que a análise possa esclarecer a origem de outras formações psicopatológicas, tais como os sintomas histéricos e as obsessões.
3.2 UMA ANÁLISE DE UM SONHO MODELO
No capítulo II da obra Interpretação dos sonhos, Freud busca mostrar que os sonhos são passíveis de interpretação. Tal pressuposto o coloca em oposição à teoria dominante sobre os sonhos e sobre todas as teorias dos sonhos, exceto Scherner. Para interpretar um sonho é necessário atribuir a ele um sentido. Ou seja, é necessário substituí-lo por algo que se ajuste à cadeia de nossos atos mentais como um elo dotado de validade e importância iguais ao restante. 
Para as teorias científicas, o sonho é um processo somático que assinala sua ocorrência por indicações registradas no aparelho mental. Enquanto isso, o mundo leigo se interessa pela interpretação dos sonhos, e possui dois métodos diferentes para tal interpretação. 
A primeira interpretação é simbólica. Ela considera o conteúdo do sonho como um todo e procura substituí-lo por outro conteúdo que seja inteligível. Porém, quando se defronta com sonhos confusos, esta ideia passa a ser desconsiderada. O segundo método de interpretação utiliza decifração. Ele leva em conta não apenas o conteúdo, mas também o caráter e situação do sujeito que o sonha. Além disso, não é o todo que é considerado, mas sim parcelas de seu conteúdo. Freud afirma este último método foi sugerido por sonhos desconexos e confusos.
O psicanalista teve conhecimento do método através de Josef Breuer, que defende a ideia que a decomposição das estruturas psicopatológicas coincide com sua solução.Por meio destes estudos psicanalíticos, Freud se deparou com a interpretação dos sonhos. Ele entendeu que o sonho pode ser inserido na cadeia psíquica a ser retrospectivamente rastreada na memória a partir de uma ideia patológica. Para que o método funcione, alguns pontos são importantes. A atenção, por exemplo, deve ser concentrada, mas o sonhador exerce uma faculdade crítica, rejeitando alguma das ideias que lhe ocorrem. Sendo assim, chegamos ao segundo ponto importante, que é a auto-observação. O auto-observador precisa suprimir sua faculdade crítica, pois dessa forma irão vir a sua consciência inúmeras ideias que, de outro modo, ele jamais conseguiria captar.
O primeiro passo utilizado por Freud nesse processo é concentrar a atenção nas partes separadas do conteúdo do sonho e não no todo. O sonho possui caráter múltiplo. A elucidação dos sonhos é utilizada como um passo preliminar no sentido de resolver os problemas mais difíceis da psicologia das neuroses. É importante frisar que o mesmo fragmento de um conteúdo pode ocultar um sentido diferente quando ocorre em várias pessoas ou em vários contextos.
Freud utiliza um de seus próprios sonhos como modelo, pois, caso contrário, teria que entrar em longas explicações sobre o conteúdo da análise de seus pacientes e todo um histórico que pôde deixar de lado ao utilizar o sonho que ele mesmo teve. Em sua análise, Freud enfaticamente declara algumas vezes que o sonho funciona como uma espécie de ferramenta onírica de realização de desejos. Sendo assim, Freud decompõe o sonho em partes para poder elucidá-las e apreender o conteúdo geral relacionado ao desejo de que fala.
Inicialmente, Freud estabelece a relação entre os acontecimentos recentes em sua vida em vigília com o conteúdo onírico. Isso quer dizer que o conteúdo dos sonhos, numa espécie de continuidade, costuma ter relação com a vida acordada, sendo desenvolvido a partir desses pontos em comum. Nesse sentido, no sonho, a festa, palco dos acontecimentos, servia de certa previsão do aniversário de sua mulher que ocorreria em poucos dias. Contudo, essa relação funciona como um tipo de pretexto para Freud exacerbar enigmaticamente os desejos que tinha, principalmente o de provar, para si mesmo e para os outros, sua inocência profissional em relação a alguns casos que tratara ou aconselhara. 
Não se trata de apenas um caso, pois o sonho de Freud contém diversos eventos de condensação, importante conceito já mencionado aqui. No sonho, as pessoas substituem umas às outras como, por exemplo, Irma é ao mesmo tempo ela mesma e sua amiga, mas também carrega características de uma governanta que Freud examinara algum tempo antes. Ou como as duas Mathildes, a filha de Freud e a paciente que sucumbira a um de seus tratamentos, parecem se relacionar no sonho com Irma sob a forma de um mesmo sintoma, que foi apresentado pela filha, e das ações tomadas de busca de atendimento médico mais experiente, semelhantes às que ocorreram com a paciente.
Freud afirma que não se deve desconsiderar nem o conteúdo aparentemente mais ridículo, pois todo o conteúdo onírico deve ser analisado. Esse é o caso, por exemplo, da disenteria que, analisado, chegou-se à difteria, palavra similar ocultada do sonho por ser de mau agouro, segundo Freud. 
Contudo, o que Freud considera principal nesse sonho modelo é o desejo que ele carregava de se inocentar e se vingar daqueles que ele considera tê-lo injustiçado. Vingou-se de Irma, a qual atribuía a culpa do sucesso parcial do tratamento, e de Dr. M que não se convencia das soluções propostas por Freud tanto quanto ele gostaria e inocentava-se inventando uma doença terrível para Irma em seu sonho cujas causas não eram psicológicas, ou seja, tratáveis por ele, mas biológicas. Além disso, Freud prova para si ser um bom médico por, por exemplo, sempre ter se certificado de que utilizara seringas limpas em seus pacientes, acusando o outro de fazê-lo. 
O desejo por trás de todo o conteúdo onírico revela uma forte relação entre sonho e o estado de vigília, misturando fontes diferentes em um mesmo alvo onírico. Nesse diálogo onírico com o real, é possível então satisfazer os desejos muitas vezes recalcados por meio do sonho. O sentido do sonho, então, pode ser apreendido. Diferentemente do que presumia a ciência da época, parece existir uma unidade onírica de sentido que utiliza até mesmo possíveis conteúdos contraditórios.
REFERÊNCIAS
BREUER, J. Caso 1 - Srta. Anna O., 1892. In: BREUER, J.; FREUD, S.. Estudos sobre a histeria. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 30-49. (Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, 2).
FREUD, S. Caso 3 - Srta. Lucy R. 30 anos, 1892. In: ______. Estudos sobre a histeria. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 83-94. (Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, 2).
______. Caso 5 - Srta. Elisabeth von R., 1892. In: ______. Estudos sobre a histeria. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 102-134. (Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, 2).
______. A Psicoterapia da Histeria, 1892. In: ______. Estudos sobre a histeria. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 181-218. (Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, 2).
______. Fragmento de análise de um caso de histeria, 1905[1901]. In: FREUD, S. Um caso de histeria, três ensaios sobre a sexualidade e outros trabalhos. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 3-76. (Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, 7).
______. A literatura científica que trata dos problemas dos sonhos, 1900. In: ______. A interpretação dos sonhos (I). Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 13-76. (Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, 4).
______. O método de interpretação dos sonhos: análise de um sonho modelo, 1900. In: ______. A interpretação dos sonhos (I). Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 76-92. (Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, 4).

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