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e conselhos do Gama. São dez naus e três navios pequenos, “mil e quinhentos homens”, diz Castanheda (op. cit., 1. I, cap. XXX, p. 72) comandados por Pedralvares, a Capitânia; por Sancho de Tovar, soto-capitão ou imediato; por Pedro de Ataíde; por Nuno Leitão da Cunha; por Nicolau Coelho, que fora companheiro de Vasco da Gama; por Simão de Miranda; por Vasco de Ataíde; por Bartolomeu Dias, que dobrara o Cabo de Boa-Esperança; por seu irmão Pero Dias, também da empresa d’“Os Lusíadas”; por Luiz Pires; por Aires Gomes da Silva; por Simão de Pina e por Gaspar de Lemos. Bartolomeu Dias e Nicolau Coelho serão a experiência; mas há um passageiro de categoria, Duarte Pacheco Pereira, que virá Camões a chamar “o Aquiles Lusitano”, autor do Esmeraldus de Situ Orbis, que negociara o Tratado de Tordesilhas, privava com el-Rei, conselheiro, cosmógrafo, marinheiro e, ao demais, herói: viaja na nau. S. Pedro, do comando de Pedro de Ataíde(3). O comércio colabora: duas naus são de fidalgos, o Conde de Porto Alegre, aio de el-Rei e Dom Álvaro de Bragança, este associado ao banqueiro Bartolomeu Marchioni, florentino que reside em Lisboa, privado da Corte e com grandes serviços ao Estado: deles é a nau Anunciada(4), do comando de Nuno Leitão da Cunha, a primeira das que tornam a Lisboa. São princípios de Março de 1500. “...a partida de Belém... foi segunda feira IX de Março” (Carta de Pero Vaz, in “Alguns documentos da Torre do Tombo”, cit. p. 108). A 14 “amtre as Canareas, mais perto da Gram Canarea”; a 22 “ouvemos vista das ilhas de Cabo Verde”; a 23 “se perdeo da frota Vaasco d’Atayde com a sua naao, sem hy aver tempo forte, nem contrairo pera poder seer; fez o capitam suas deligençias para o achar a huuas e a outras partes, e non pareceo mais”. (Id.) “...e assy seguimos nosso caminho por este mar de lomgo ataa terça feira d oitavas de pascoa que foram XXI d Abril, que topamos alguuns sygnaaes de tera... os quaaes heram muita camtidade d ervas compridas... e aa quarta feira seguinte pola manhãa topamos aves... e neeste dia, a oras de bespera, ouvemos vista de tera, saber: primeiramente d huum grande monte muy alto e redondo, e doutras terras mais baixas, ao sul dele, e de terra chãa, com grandes arvoredos, ao qual monte alto o capitam pos nome o monte Pascoal e aa tera de Vera Cruz” (Id.). É a certidão de nascimento, lavrada pelo escrivão que ia para Calecut, Pero Vaz de Caminha, em carta a el-Rei, um dos raros documentos que nos restam da empresa: o Brasil foi descoberto a 22 de Abril de 1500, numa quarta-feira... ������ Sem tento, há por aí outras datas. Era vigente o Calendário Juliano. A reforma Gregoriana, de 1582, não retroage os cômputos cronológicos: se retroagisse, mais nove dias, seria a 1.º de Maio. A “invenção da Vera Cruz”, celebrada pela Igreja, é a 3 de Maio. Foi Gaspar Corrêa que confundiu as duas datas: “O capitão pôs o nome de Santa Cruz a esta nova terra, porque a ella chegarão a tres de mayo, dia de Santa Cruz”. (Lendas da Índia, t. I, p. 152). Ora Cabral pusera à terra o nome de “Vera Cruz”, que D. Manuel mudara em “Santa Cruz”: Santa Helena achara essa cruz a 3 de Maio. Pareceu certo. Em 1823 sugerira Lara Ordonhes a Gonçalves Gomide, deputados à Constituinte Brasileira, e o último por carta a José Bonifácio, o dia 3 de Maio para a abertura da assembléia, “por ser o do descobrimento do Brasil”, o que foi aceito. Dissolvida a Constituinte, a Constituição outorgada por D. Pedro I marcou esse dia para a abertura das Câmaras, durante todo o Império, o que continuou na República. (Cf. Miguel de Lemos, in Jornal do Comércio, do Rio, de 27 de Maio de 1899 e Boletim do Apostolado Positivista do Brasil, n.º 13, de 6 de junho de 99). Vem daí. Mas Gaspar Corrêa não tinha documento, e servira-se de ilação. O documento apareceu, em 1817, quando Aires do Casal publicou, na sua Corografia Brasílica, a Carta de Pero Vaz de Caminha a el-Rei D. Manuel, e que está na Torre do Tombo. Ora o documento diz, precisamente, 22 de Abril de 1500. Os ensaios de conciliação com a reforma gregoriana do calendário, que ocorreu em 1582, não procedem: 1.º, porque Gaspar Corrêa que faleceu entre 1561 e 1583, escrevendo antes, desconhecia a reforma: a sua data é “juliana”; 2.º, porque não retroagiu o cômputo gregoriano para nenhuma data da história universal, antes de 1582; 3.º, porque a reforma gregoriana não recorreu, suprimiu apenas alguns dias do mês de Outubro, seguindo a quinta-feira 4 de outubro, sexta-feira 15 de outubro... para acertar o erro então existente, de dez dias, em 1582; 4.º, porque 22 de abril, mais nove dias, que era a diferença em 1500, dá 1.º de Maio e não 3...; 5.º, porque contando a diferença no fim do século XVI, ou dez dias, dá ainda assim 2 de Maio, e não 3...; 6.º, porque contando a diferença na época de José Bonifácio, começo do século XIX, seriam doze dias, ou 4 de maio e não 3...; 7.º, porque pela “conta de chegar”, de Varnhagen (História Geral, 2.ª ed., 1877), esse descobrimento, (não com a vista, o achado da terra a 22 de Abril, porém a 23, com o “primeiro trato” dos índios) não parece sério e seria então, quando fosse, o descobrimento dos “brasileiros”(5) e não do Brasil; 8.º finalmente porque não se atentou que, além da data precisa “terça-feira d oitavas de pascoa que foram XXI dias d Abril que topamos alguns sygnaes de terra... hos quaes eram muita camtidade de ervas compridas”... “aa quarta feira seguinte pola manhãa topamos aves... e neste dia, a ora de bespora, ouvemos vista de tera”... Portanto, o Brasil foi descoberto a 22 de Abril, quarta-feira, à tarde. Três de Maio foi “domingo” e o Brasil foi descoberto uma “quarta-feira”... Este elemento de identificação, sobre o qual nunca se insistiu devidamente, parece-me irretorquível: aa quarta feira, portanto a 22 de abril... E tanto, que na Relação do Piloto anônimo (outro raro documento da viagem de Cabral, publicado em italiano nos Paesi nuovamente retrouati, de Francesco Montalboddo, 1507, e reproduzido em Ramusio, Delle Navigatione e Viaggi, Veneza, 1554, t. I, f. 132) se lê: “alli XXIII di aprile che fu il mercoredi nella ottava di Pascha hobbe la detta armata vista de una terra di che hebbe grandissimo piacere”. (São os mesmos termos de Cretico, no liv. VI dos Paesi nuovamente retrouati, Vincentia, 1507, com pequenas variantes, o que leva os redatores da Racolta Colombiana, parte III, vol. I, p. 83-4, a escreverem que podem tranqüilamente atribuir a tradução italiana do “Piloto Anônimo” ao Cretico, que fez, de parte da relação, carta sua à Senhoria de Veneza...) No texto citado é a mesma data, 24 de Abril in la octava di Passione. Pode-se dizer: “Piloto-anônimo” ou Cretico “errados”, pois que esse dia 24 de Abril de 1500 foi sexta-feira... e o dia da semana corrige a data do mês, menos fácil de reter de memória. (A correção gregoriana respeitou esta decorrência da semana: se 4 de outubro antecede a 15 de outubro, — supressos os dias do mês, de 5 a 14, — a semana é respeitada e, a quinta-feira, 4, segue-se sexta-feira, 15 de outubro de 1582. Não se recorreu: suprimiram-se 10 dias, no mês; não se tocou na semana). O Brasil foi descoberto uma quarta-feira (concordância de Pero Vaz e do Piloto-Anônimo-Cretico), portanto, a 22 de Abril... ����� ��� ��� Foi descoberto... O Tratado de Tordesilhas, concluído a 7 de junho, assinado a 2 de julho de 1494 em Arevalo, dizia que todos os descobrimentos portugueses ao oriente de uma “raya ou linea derecha de polo a polo... a tresientas & setenta leguas de las yslas del Cabo Verde”, ou que, desde essa data, viriam a descobrir os Portugueses, seriam deles; para o ocidente seriam dos Castelhanos. A linha limitante ou divisória das duas bandas do mundo seria riscada por “pilotos, como astrólogos y marineros & qualesquer otras personas que convengan”, dentro de dez meses. Isto é ao tempo de Dom João II; Dom Manuelpede à Santa Sé confirmação do Tratado, o que Júlio II concede, a 24 de janeiro de 1506. A pedido dos reis de Espanha, um pontífice espanhol, Alexandre VI (Bórgia), sem audiência de Portugal, dividira o mundo pelo meio e dera aos Portugueses um hemisfério limitado até 100 léguas de Cabo Verde. D. João II não reclamou do Papa, negociou com Espanha: a linha seria a 250 léguas, se os Espanhóis descobrissem novas terras ao ocidente até 20 de julho de 1494, de 370 se isso não tivesse ocorrido até esta data. A linha do Pontífice caía no mar, deixando a Índia, pela África, aos Portugueses; a concessão a Colombo, até onze dias da assinatura do tratado, dar-nos-ia um terço, ainda assim, do Brasil; a linha definitiva deu-nos o Brasil quase todo, da embocadura do Amazonas, ao limite sul de S. Paulo. A 370 léguas a oeste da ilha mais ocidental do arquipélago de Cabo Verde... acabava o hemisfério português pelo ocidente... Dom João II insistente, tenaz (el Hombre, como lhe chamava Isabel a Católica) e os seus diplomatas e técnicos previram o Brasil, aí incluído: a Espanha e a Igreja concediam-lhe a África e as Índias, supondo que o contentavam; não, ele queria mais, e exigiu também o Brasil... Duarte Pacheco Pereira, o grande piloto, escritor, cosmógrafo e herói que veio com Cabral ao Brasil, e fora dos negociantes de Tordesilhas, dirigindo-se a el-Rei D. Manuel escreveu, em 1506, no Esmeraldo: “Por tanto bemaventurado Principe temos sabido & visto como no terceiro anno de vosso Reynado do hano de nosso senhor de mil quatrocentos noventa & oito donde nos vossa alteza mandou descobrir ha parte oucidental passando alem ha grandeza do mar ociano honde he
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