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Personalidade e Capacidade no Direito Civil

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Personalidade e Capacidade no 
Direito Civil 
Fonte: 
https://sergiocardosojr.jusbrasil.com.br/artigos/1709
30718/personalidade-e-capacidade-no-direito-civil 
 
 
I- Personalidade 
1. Origem etimológica e a metáfora dos manuais 
A palavra “pessoa” tem, em sua raiz etimológica, prósopon 
(grego). Era a máscara que se usava no teatro grego para fazer 
com que a voz fosse manifestada mais intensamente, para dar 
voz. Assim como essa máscara, que dá vida aos personagens, a 
personalidade jurídica dá vida, constitui o que é de mais 
essencial para ser pessoa no direito brasileiro. 
2. Conceito 
- Tradicional: Personalidade – aptidão para adquirir direitos e 
contrair obrigações. Muito assemelhada com uma ideia de ser 
sujeito de direitos. 
Todavia, é preciso ter em mente que a legalidade constitucional 
alterou a sistemática do direito anterior para encontrar no ser 
humano o seu centro referencial. Nesse sentido é necessária a 
superação da compreensão que esgota a personalidade 
unicamente nesta “aptidão”, a personalidade não pode ser 
sinônimo de capacidade. 
A rigor, há dois sentidos técnicos para o conceito de 
personalidade. O primeiro associa-se à qualidade para ser 
sujeito de direito, conceito aplicável às pessoas físicas quanto às 
jurídicas. O segundo traduz o conjunto de características e 
atributos da pessoa humana, considerada objeto de proteção 
privilegiada por parte do ordenamento, bem jurídico 
representado pela afirmação da dignidade humana, sendo 
peculiar, portanto, à pessoa natural”. Gustavo Tepedino – 
conceito ligado principalmente aos autores do Direito Civil 
Constitucional. Logo, mais do que ser sujeito de direitos, 
envolve, nas suas relações, uma série de situações subjetivas 
existenciais, extrapatrimoniais que requerem uma tutela 
jurídica diferenciada. Por mais que hoje em dia se diga que 
pessoas jurídicas sofra dano moral e tenha alguns direitos da 
personalidade, ela certamente não tem todos os direitos da 
personalidade, existe uma tutela diferente. 
O conceito de personalidade, então, tanto pode se entender 
como aplicável ao sujeito de direito (aquele apto a ser titular de 
uma situação jurídica subjetiva – art. 1º, CC), como também 
objeto de direitos (direito da personalidade). 
 
Art. 1o Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil. 
 
Assim, para evitar a perigosa mistura de conceitos, parte da 
doutrina vem denominando esta aptidão para exercer direitos e 
obrigações de subjetividade, cuja denominação pode ser 
perfeitamente estendida às pessoas jurídicas e aos entes 
despersonalizados (condomínio edilício, espólio, fundos de 
investimentos, entre outros), sem que se traga a estas categorias 
o conceito de personalidade (conjunto de atribuições da pessoa), 
intimamente relacionada à pessoa humana. 
Mas de forma geral, os manuais acabam dizendo que ser pessoa 
é ter a possibilidade de ser titular de direitos e deveres, em 
conformidade com o art. 1º do CC. 
 
Art. 1º - “toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem 
civil”. Se ela pode exercer a capacidade por si própria, é outra 
coisa. 
A capacidade é a medida dessa personalidade, a forma de 
exercitar a personalidade, exercer os atributos através das 
relações jurídicas em que a pessoa é sujeito das relações 
jurídicas, exercendo seus direitos através do seu regime de 
capacidade. 
3. O começo da personalidade 
Art. 2º: “A personalidade civil da pessoa começa do 
nascimento com vida, mas a lei põe a salvo, desde a concepção, 
os direitos do nascituro”. 
Assim, basta nascer e respirar pela primeira vez para se tornar 
pessoa humana, para adquirir direitos e contrair obrigações. O 
direito brasileiro não pede viabilidade da existência da pessoa 
nem forma humana (alguns códigos europeus adotam, mas são 
ruins; o segundo critério, principalmente é muito polêmico). 
Observação: Colocar a salvo seus direitos do nascituro significa 
impedir que situações que venham prejudicar os direitos que 
vão ser estabelecidos com seu nascimento possam ocorrer antes 
do mesmo. 
O CC não nega a existência do nascituro, mas não concede a ele 
todo esse conjunto de direitos e deveres aos quais corresponde 
a personalidade. É uma entidade que possui a potencialidade de 
adquirir direitos, pois a regra é que ele venha a nascer e, 
nascendo, torne-se sujeito de direitos e essa é a ideia de 
potência, entendida como aquilo que não é atual, mas pode vir 
a ser. 
Exemplos: Artigos 2; 542; 1609; 1779; 1799, I. 
4. Fim da Personalidade 
- Art. 6º - A existência da pessoa natural termina com a morte, 
presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei 
autoriza a abertura de sucessão definitiva. 
a) Morte para fins jurídicos, adotados pela ciência e doutrina, é 
a morte cerebral. 
b) Morte Presumida 
- 1ª hipótese - Decretação de ausência (artigos 22 e 23) 
- Outras hipóteses: Art. 7 - Pode ser declarada a morte 
presumida, sem decretação de ausência: 
I - se for extremamente provável a morte de quem estava em 
perigo de vida 
II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, 
não for encontrado até dois anos após o término da guerra. 
Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses 
casos, somente poderá ser requerida depois de esgotadas as 
buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável 
do falecimento. 
 CAPÍTULO III 
DA AUSÊNCIA 
 Seção I 
Da Curadoria dos Bens do Ausente 
Art. 22. Desaparecendo uma pessoa do seu domicílio sem dela haver notícia, se não 
houver deixado representante ou procurador a quem caiba administrar-lhe os bens, o juiz, a 
requerimento de qualquer interessado ou do Ministério Público, declarará a ausência, e nomear-
lhe-á curador. 
Art. 23. Também se declarará a ausência, e se nomeará curador, quando o ausente deixar 
mandatário que não queira ou não possa exercer ou continuar o mandato, ou se os seus poderes 
forem insuficientes. 
Art. 24. O juiz, que nomear o curador, fixar-lhe-á os poderes e obrigações, conforme as 
circunstâncias, observando, no que for aplicável, o disposto a respeito dos tutores e curadores. 
Art. 25. O cônjuge do ausente, sempre que não esteja separado judicialmente, ou de fato 
por mais de dois anos antes da declaração da ausência, será o seu legítimo curador. 
§ 1o Em falta do cônjuge, a curadoria dos bens do ausente incumbe aos pais ou aos 
descendentes, nesta ordem, não havendo impedimento que os iniba de exercer o cargo. 
§ 2o Entre os descendentes, os mais próximos precedem os mais remotos. 
§ 3o Na falta das pessoas mencionadas, compete ao juiz a escolha do curador. 
 Seção II 
Da Sucessão Provisória 
Art. 26. Decorrido um ano da arrecadação dos bens do ausente, ou, se ele deixou 
representante ou procurador, em se passando três anos, poderão os interessados requerer que 
se declare a ausência e se abra provisoriamente a sucessão. 
Art. 27. Para o efeito previsto no artigo anterior, somente se consideram interessados: 
I - o cônjuge não separado judicialmente; 
II - os herdeiros presumidos, legítimos ou testamentários; 
III - os que tiverem sobre os bens do ausente direito dependente de sua morte; 
IV - os credores de obrigações vencidas e não pagas. 
Art. 28. A sentença que determinar a abertura da sucessão provisória só produzirá efeito 
cento e oitenta dias depois de publicada pela imprensa; mas, logo que passe em julgado, 
proceder-se-á à abertura do testamento, se houver, e ao inventário e partilha dos bens, como se 
o ausente fosse falecido. 
§ 1o Findo o prazo a que se refere o art. 26, e não havendo interessados na sucessão 
provisória, cumpre ao Ministério Público requerê-la ao juízo competente. 
§ 2o Não comparecendo herdeiro ou interessado para requerer o inventário até trinta dias 
depois de passar em julgado a sentença que mandar abrir a sucessão provisória,proceder-se-á 
à arrecadação dos bens do ausente pela forma estabelecida nos arts. 1.819 a 1.823. 
Art. 29. Antes da partilha, o juiz, quando julgar conveniente, ordenará a conversão dos 
bens móveis, sujeitos a deterioração ou a extravio, em imóveis ou em títulos garantidos pela 
União. 
Art. 30. Os herdeiros, para se imitirem na posse dos bens do ausente, darão garantias da 
restituição deles, mediante penhores ou hipotecas equivalentes aos quinhões respectivos. 
§ 1o Aquele que tiver direito à posse provisória, mas não puder prestar a garantia exigida 
neste artigo, será excluído, mantendo-se os bens que lhe deviam caber sob a administração do 
curador, ou de outro herdeiro designado pelo juiz, e que preste essa garantia. 
§ 2o Os ascendentes, os descendentes e o cônjuge, uma vez provada a sua qualidade de 
herdeiros, poderão, independentemente de garantia, entrar na posse dos bens do ausente. 
Art. 31. Os imóveis do ausente só se poderão alienar, não sendo por desapropriação, ou 
hipotecar, quando o ordene o juiz, para lhes evitar a ruína. 
Art. 32. Empossados nos bens, os sucessores provisórios ficarão representando ativa e 
passivamente o ausente, de modo que contra eles correrão as ações pendentes e as que de 
futuro àquele forem movidas. 
Art. 33. O descendente, ascendente ou cônjuge que for sucessor provisório do ausente, 
fará seus todos os frutos e rendimentos dos bens que a este couberem; os outros sucessores, 
porém, deverão capitalizar metade desses frutos e rendimentos, segundo o disposto no art. 29, 
de acordo com o representante do Ministério Público, e prestar anualmente contas ao juiz 
competente. 
Parágrafo único. Se o ausente aparecer, e ficar provado que a ausência foi voluntária e 
injustificada, perderá ele, em favor do sucessor, sua parte nos frutos e rendimentos. 
Art. 34. O excluído, segundo o art. 30, da posse provisória poderá, justificando falta de 
meios, requerer lhe seja entregue metade dos rendimentos do quinhão que lhe tocaria. 
Art. 35. Se durante a posse provisória se provar a época exata do falecimento do ausente, 
considerar-se-á, nessa data, aberta a sucessão em favor dos herdeiros, que o eram àquele 
tempo. 
Art. 36. Se o ausente aparecer, ou se lhe provar a existência, depois de estabelecida a 
posse provisória, cessarão para logo as vantagens dos sucessores nela imitidos, ficando, 
todavia, obrigados a tomar as medidas assecuratórias precisas, até a entrega dos bens a seu 
dono. 
 Seção III 
Da Sucessão Definitiva 
Art. 37. Dez anos depois de passada em julgado a sentença que concede a abertura da 
sucessão provisória, poderão os interessados requerer a sucessão definitiva e o levantamento 
das cauções prestadas. 
Art. 38. Pode-se requerer a sucessão definitiva, também, provando-se que o ausente conta 
oitenta anos de idade, e que de cinco datam as últimas notícias dele. 
Art. 39. Regressando o ausente nos dez anos seguintes à abertura da sucessão definitiva, 
ou algum de seus descendentes ou ascendentes, aquele ou estes haverão só os bens existentes 
no estado em que se acharem, os sub-rogados em seu lugar, ou o preço que os herdeiros e 
demais interessados houverem recebido pelos bens alienados depois daquele tempo. 
Parágrafo único. Se, nos dez anos a que se refere este artigo, o ausente não regressar, e 
nenhum interessado promover a sucessão definitiva, os bens arrecadados passarão ao domínio 
do Município ou do Distrito Federal, se localizados nas respectivas circunscrições, incorporando-
se ao domínio da União, quando situados em território federal. 
 
Lei 6.015/73 - Art. 88. Poderão os Juízes togados admitir 
justificação para o assento de óbito de pessoas desaparecidas em 
naufrágio, inundação, incêndio, terremoto ou qualquer outra 
catástrofe, quando estiver provada a sua presença no local do 
desastre e não for possível encontrar-se o cadáver para exame. 
c) O corpo após a morte 
Art. 14: “É valida, com objetivo científico, ou altruístico, a 
disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, 
para depois da morte. 
Parágrafo único: O ato de disposição pode ser livremente 
revogado a qualquer tempo”. 
O art. 14 parece indicar que a pessoa pode livremente dispor do 
seu corpo após sua morte. Existem controvérsias no Direito em 
relação a isso. Histórico: 
- Lei 9434 criava uma presunção de consentimento de doação 
quando a pessoa morresse, caso ela dissesse que não queria ser 
doadora de órgãos – essa lei gerou muitas críticas, pois muitas 
pessoas, por diversas questões, poderia querer manter a 
integridade corporal. Começou-se a questionar se isso não era 
uma estatização do corpo. Levou a edição da: 
- MP1718/98 – Quando a pessoa não falasse nada sobre seu 
corpo, deveria consultar os familiares. Depois: 
- Lei 10211/2001 – A vontade dos familiares decide o destino 
dos órgãos da pessoa após a morte - seria mais relevante que a 
da própria pessoa. Essa lei é contrária ao CC, que entra em vigor 
após essa lei. 
Apesar de ser mais geral, o CC e a lei de 2001 tratam do mesmo 
ponto e, por ser mais novo, revogaria a outra (entendimento de 
alguns doutrinadores mais recentes, mas há controvérsia na 
hipótese de discordância entre família e a pessoa). 
Obs.: Lei nº 8501/92 – “O cadáver não reclamado às autoridade 
públicas no prazo de 30 dias poderá ser destinado às escolas de 
medicina para fins de ensino e pesquisas de caráter científico”. 
d) Comoriência 
Art. 8º: “Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma 
ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes 
precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente 
mortos”. 
A comoriência é a morte simultânea de duas ou mais pessoas, 
sendo elas reciprocamente herdeiras umas das outras. 
Essa simultaneidade evita a sucessão entre elas - A 
consequência da comoriência é que não haverá transmissão de 
direitos entre os comorientes, isto é, os bens de ambos passarão 
diretamente aos seus respectivos herdeiros diretos. 
II- Teoria Geral dos Direitos da Personalidade 
 
Uma vez que você é reconhecido como pessoa natural, há uma 
categoria de direitos específica: os direitos da personalidade, 
que são uma construção jurídica nova, remontam do século XIX. 
Existem áreas comuns entre os direitos fundamentais, humanos 
e da personalidade, como a proteção à honra. Embora, tenham 
o mesmo objeto (construir um estatuto jurídica que proteja a 
pessoa), separam-se por áreas do Direito. Os direitos da 
personalidade são típicos de civil, os fundamentais de 
Constitucional e os humanos principalmente de Internacional. 
Foram reconhecidos de forma mais fortalecida no século XX 
com as guerras mundiais e conflitos que violaram a pessoa 
humana, o que representa uma consequência: O código de 1916 
não apresentava um capítulo sobre tais direitos, os artigos eram 
esparsos, pois essa teoria ainda estava em construção e debate 
durante sua redação. O código de 2002 apresenta. 
Quem era contra esses direitos argumentava que a 
personalidade não podia ser objeto da ciência jurídica – o autor 
é pessoa e o objeto também é a pessoa, muito abstrato. Isso foi 
enfraquecido com a ideia de que a pessoa é um sujeito de 
direitos e deve ter direitos protegidos. 
Muitos autores dizem que os direitos da personalidade são uma 
especificação da defesa da dignidade de pessoa humana, o que 
demonstra como esse conceito é central para o Direito Civil. 
1. Características dos Direitos da Personalidade 
Essas seis características não vêm diretamente do CC, mas são 
inspiradas nele. Compilam vários textos e doutrinas e não são 
restritamente seis. 
a) Generalidade – A forma de concessão dos direitos da 
personalidade é o nascimento – Vale para todos, geral. 
Obs.: Por que não são chamados de direitos inatos? Essa ideia é 
evitada para que não entre em uma discussão jusnaturalista x 
positivista. Inatoevoca uma ideia de direito natural (que existe 
independente da lei). 
b) Extrapatrimonialidade 
Os direitos da personalidade (DP) não têm preço (apreciação 
pecuniária; uma proteção diferenciada a esses direitos), mas 
isso não significa que não possa haver uma indenização, isto é, 
um valor para tentar compensar a lesão que foi causada ao 
direito e também não significa que não se possam envolver os 
DP em um contrato. Nem o valor da indenização ou o valor do 
contrato corresponde ao valor dos seus direitos. 
Ex.: Gisele Bünchen – Comercial. O contrato é por um atributo 
dela, sua imagem. Seus contratos não possuem o mesmo preço 
(ex.: oral B e pantene), porque o contrato não é o preço do DP, 
no caso, do direito à imagem. 
c) Indisponibilidade 
São irrenunciáveis e impenhoráveis, não podem ser objeto de 
livre disposição, de contratação, alienação → Mas, na realidade, 
isso acontece. Há contratos envolvendo os DP. Precisamos 
trabalhar a ideia de indisponível como os DP não podendo ser 
alienados em sua integralidade (consequentemente não são 
renunciáveis). 
d) Absoluto 
Oponíveis erga-omnes – impõe a todos os terceiros o dever de 
respeitá-los. 
É o termo adequado? São absolutos ou oponíveis? O termo 
absoluto é impreciso para sua definição (tema já discutido na 
aula de direito subjetivo). 
e) Imprescritibilidade 
Se um direito é violado, nasce uma pretensão, o poder de exigir 
dessa pessoa um comportamento (art. 189). Essa pretensão 
dura por determinado tempo, quando ocorre a prescrição dessa 
proteção, prescreve o poder de exigir um comportamento da 
outra parte, mas não o direito. 
Ex.: Prescreve o prazo para que você exija que alguém que bateu 
no seu carro te pague uma indenização, isso significa que você 
não pode mais exigir tal comportamento dessa pessoa, mas se 
ela, por vontade própria, decidir te pagar, isso não é considerada 
uma doação, pois você tinha o direito à indenização, só não 
podia exigi-lo. 
Os livros consideram, então, que os DP sejam imprescritíveis, 
mas estão fora da realidade, pois isso não se adequa à segurança 
jurídica. Existe jurisprudência em que se aceita essa 
imprescritibilidade, mas normalmente respeita os prazos 
prescricionais no artigo 206, obedecendo ao prazo de 3 anos 
para ingressar em uma ação por crimes de responsabilidade 
civil. 
A figura de imprescritibilidade é, então, teorizada pelos 
manuais, mas a jurisprudência se orienta em outro sentido. 
f) Intransmissibilidade – impede que os DP venham a ser 
transferidos com a morte de seu titular. 
Ela aparece em grandes partes dos livros de direito civil. Mas, 
em alguns casos, temos, na própria lei, uma garantia dos direitos 
post-mortem. 
Art. 12, parágrafo único – O artigo dá legitimidade ao cônjuge, a 
família em linha reta ou colateral até o quarto grau (vai até o 
ancestral comum e conta quantos até chegar a pessoa) de exigir 
os direitos da personalidade do morto (tutela inibitória – 
cessando ameaça – e compensatória). 
Logo, hoje se questiona a intransmissibilidade, pois o CC dá 
abertura para os herdeiros/famílias de entrarem com uma ação. 
O artigo 20 deixa a honra e a imagem serem protegidas pela 
família toda, não estabelece limitação ao 4º colateral. 
Obs.: O parentesco pode ser consanguíneo ou por afinidade (art. 
1595 – o casamento – o parentesco por afinidade, em linha reta, 
não se dissolve nem com o final do casamento). 
2. Classificação dos Direitos da 
Personalidade 
a) Ligados à integridade física (à vida, ao corpo...). 
b) Integridade moral 
Ex.: Direito moral do autor – Um dos poucos que não se adquire 
com o nascimento – Ao criar uma obra, tem-se os direitos 
autorais sobre ela, sem precisar registrá-la, mas registrar é a 
melhor forma de provar ser o autor. 
Obs.: O Direito protege direitos materiais (explorar 
comercialmente a obra – não tem nada a ver com DP) e morais 
do autor (é um DP – série de direitos que dizem respeito à 
relação entre autor e obra, entre eles, o entendimento de que a 
obra é extensão da personalidade do autor). 
3. Fontes dos Direitos da 
Personalidade 
- Tradicional – o ordenamento jurídico apenas reconhece 
direitos que são pré-existentes a ele (jusnaturalismo) - 
Principalmente na 2ª metade do século XX. 
- Crítica: abre espaço a uma insegurança jurídica – quais são os 
direitos? Quantos são? O que é natureza humana? - A partir daí 
outros autores defendem que a única fonte aceitável para os DP 
é a lei, são positivados (como Tepedino). 
4. Qual a melhor maneira de proteger os direitos da 
personalidade na lei 
a) Teoria Pluralista – É melhor ter na lei os DP em espécie, uma 
análise mais exemplificativa e detalhada, porque são muitos 
direitos da personalidade. 
b) Teoria Monista – Uma cláusula geral única para os DP, uma 
só bem abrangente, porque a personalidade humana é única. 
O CC2002 optou pela teoria pluralista (tem artigos específicos 
sobre DP específicos), mas os autores, principalmente os ligados 
ao Direito Civil Constitucional defendem que existe também, no 
Direito brasileiro, uma verdadeira cláusula geral de defesa da 
personalidade pela Constituição (Art. 1º, III), mas não o CC. 
Logo, o CC é pluralista, mas, NO BRASIL, há os dois. 
5. Crítica ao modelo do CC2002 
Art. 11 – Características; art. 12 – tutela, art. 13-21 – os DP. 
Ter um capítulo só para os DP é uma inovação do CC2002, mas 
não são atuais como poderiam ser. Muitos direitos começaram 
a ser votados em 1970 e, desde então, mão fora, atualizados e 
muito mudou na sociedade. É um avanço menor do que poderia 
ser. 
6. Direitos da Personalidade e pessoa 
jurídica 
A jurisprudência consagrou os DP da pessoa jurídica. Os direitos 
à imagem e à honra (objetiva e não subjetiva; subjetiva é a honra 
que a própria pessoa tem de si) são os principais reconhecidos 
pela jurisprudência. A tese de que a PJ só é afetada no 
patrimonial é minoritária. 
É importante que se some à análise jurisprudencial, o art. 52 – 
Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos 
direitos da personalidade – abre um espaço para que a 
jurisprudência possa reconhecer eventualmente outros DP para 
PJ. 
Logo, no Brasil, seja pela jurisprudência, seja pelo art. 52, 
aplicamos os DP às PJ, mas não na integralidade, pois nem 
todos cabem à PJ. 
7. Tutela e Legitimidade 
Art. 2: Tutela inibitória (cessar ameaça ao direito) e tutela 
indenizatória (compensar pelo dano sofrido). 
A resposta ao dano é insuficiente para a possibilidade de danos 
que a tecnologia, mídia, meios de comunicação vão gerando. Por 
isso cria o inibitório, mas até antes do CC2002, podia o juiz 
obrigar alguém a fazer ou deixar de fazer algo pelo 
art. 461 do Código de Processo Civil. 
A tutela inibitória é importante, é uma infração ao livre agir da 
pessoa (filosofia do direito) pelo poder judiciário, mas, com a 
expansão dos danos e infinitas possibilidades de danos a 
terceiros, o Direito achou por bem permitir que os magistrados 
interferissem. 
III- Capacidade e Incapacidade 
1. Conceito de Capacidade 
- Capacidade de direito – aquisição – como os direitos são de 
fatos adquiridos pelo direito, potencialidade de adquirir direitos 
ou de contrair obrigações (=conceito de personalidade clássica) 
- Capacidade de fato – exercício – se a pessoa tem capacidade 
de ela mesma exercer seu direito. É o limite da potencialidade. 
As pessoas são capazes, sujeitos de direitos, mas, por algum 
motivo, algumas não podem exercer de forma autônoma, é uma 
exceção. Tem então, uma redução na capacidade de fato. 
2. Absolutamente Incapazes 
Art. 3: - “São absolutamente incapazes de exercer 
pessoalmente os atos da vida civil: 
I - os menores de dezesseis ano 
II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem 
o necessário discernimento paraa prática desses ato 
III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem 
exprimir sua vontade”. 
Obs.: Menores de 16 são absolutamente incapazes, pois não 
atingiram o discernimento para distinguir o que podem ou não 
fazer, o que lhes é conveniente ou prejudicial. É uma regra geral, 
nem todos são assim, mas precisa de um conceito não subjetivo. 
O CC difere da realidade – menores de 16 fazem atos jurídicos 
civis sem representação, coisas da rotina própria da idade e em 
pequena quantia (como comprar o lanche). O CC português 
resolve de forma honrosa esse problema, admitindo esses atos 
de rotina em pequena quantia. 
Obs2: Exemplo dos que não podem exprimir por causa 
transitória: Ébrios não-habituai 
3. Relativamente Incapazes 
Art. 4 – “São incapazes, relativamente a certos atos, ou à 
maneira de os exercer: 
I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito ano 
II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por 
deficiência mental, tenham o discernimento reduzido 
III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo 
IV - os pródigos. 
Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por 
legislação especial”. 
I. Idade 
É importante ressaltar que a omissão dolosa da idade ou a 
declaração falsa de idade obriga o menor incapaz ao 
cumprimento da obrigação – art. 180. 
II. Vício 
Obs.: Dependendo do grau dos vícios em tóxicos e bebidas 
alcoólicas, a pessoa perde total discernimento para os atos civis 
e pode ser enquadrada como absolutamente capaz (por falta de 
discernimento) 
Obs2: Uma área fronteiriça entre direito civil e público: Poderia 
o Estado internar compulsoriamente aqueles que, de tão 
viciados, perdem o contato com a família, esquecem o próprio 
nome, por conta da segurança pública, integridade física e 
psíquica do indivíduo e outros princípios? Não há conclusão 
sobre isso. 
III. Excepcionais 
Ex.: Síndrome de Down. 
IV. Pródigo 
Pródigo é aquele que por impulso irreprimível desperdiça os 
seus bens, isto é, dilapida seu patrimônio. 
O Código Civil mantém uma linha intermediária, inscrevendo o 
pródigo entre os relativamente incapazes, mas privando-o 
exclusivamente daqueles atos que possam comprometer a sua 
fortuna (emprestar, transigir, dar quitação, alienar, hipotecar 
etc.). 
Observação: Art. 932 → I. Responsabilidade dos pais pelos 
filhos; II. Tutores; IV – colégio e dono de hotel (não se fala mais 
em dono de hotel. Quebra nexo causal). 
4. Reconhecimento da Incapacidade 
Em regra, os atos praticados pelo incapaz mesmo antes da 
interdição são inválidos. Vale dizer, se praticados por 
absolutamente incapaz são nulos, enquanto que se praticados 
por relativamente incapaz, são anuláveis. 
Isto porque a sentença de interdição, conforme doutrina 
civilista, apenas declara a situação de incapacidade já existente 
antes. 
Portanto, o ato desempenhado pelo absolutamente incapaz sem 
devida representação é nulo. O ato desempenhado pelo 
relativamente em capaz sem a devida assistência não é nulo, é 
anulável. A exceção se faz quando tais atos são praticados com 
terceiro de boa fé, ou seja, aquele que não sabia e não teria como 
saber que o outro possuía alguma incapacidade (a incapacidade 
não era visível) e que não tenha causado nenhum prejuízo ao 
incapaz. 
Obs.: Atos nulos x anuláveis 
Nulidade 
Art. 166, I. Anulabilidade 
Violação à ordem pública (mais graves) Violação a interesse 
particular 
Pode ser considerado ex officio, ou seja, juiz pode declarar nulo 
por vontade própria, sem precisar ser demandado por terceiros. 
Só pode ser declarado mediante requerimento dos interessado 
Não é suscetível de confirmação – A nulidade é tão intensa que 
não pode ser ratificada, é nula para sempre. Admite ratificação 
– No caso da capacidade, quando fosse plenamente capaz, 
poderia ratificar o ato que fez quando antes não era e este vale. 
Não convalesce pelo decurso do tempo (art. 169) Prazo 
decadencial de 4 anos (prazo para poder pleitear a anulação do 
ato). 
Não produz efeitos Produz efeitos até a sentença que declara 
invalidade. 
5. Emancipação 
A emancipação é um instrumento jurídico para conceder àquele 
que era relativamente incapaz a capacidade de fazer atos 
jurídicos. Não significa que atingiu a maioridade antes da hora, 
pois esta é um conceito cronológico. 
Art. 5º: “A menoridade cessa aos dezoito anos completos, 
quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da 
vida civil. 
Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade: 
I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, 
mediante instrumento público, independentemente de 
homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, 
se o menor tiver dezesseis anos completo 
II - pelo casamento 
III - pelo exercício de emprego público efetivo 
IV - pela colação de grau em curso de ensino superior 
V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência 
de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor 
com dezesseis anos completos tenha economia própria”.

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