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ENERGIA SOLAR: O DESENVOLVIMENTO DE UM NOVO MERCADO Rian Sardinha Maia Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia de Produção da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientador: Thereza Cristina Nogueira de Aquino, D.Sc. Co-orientador: Nelson Fontes Siffert Filho, DSc. Rio de Janeiro Março de 2018 iii Maia, Rian Sardinha Energia Solar: O desenvolvimento de um novo mercado/ Rian Sardinha Maia – Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2018. 18, 71 p.: il.; 29,7 cm. Orientador: Thereza Cristina Nogueira de Aquino Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/ Engenharia de Produção, 2018. Referências Bibliográficas: p. 61-65. 1. A Energia Fotovoltaica no Mundo. 2. Mercado de Energias Limpas e Fotovoltaico. 3. Energia Fotovoltaica no Brasil. 4. Estudo de Caso: Complexo Solar Pirapora. 5. Conclusão I. Aquino, Thereza Cristina Nogueira de. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, Engenharia de Produção. III. Energia Solar: O desenvolvimento de um novo mercado. iv Este trabalho é dedicado à família e amigos, indispensáveis nesta jornada. v AGRADECIMENTOS Dentre todos esses anos de dedicação aos estudos, nada seria possível sem o apoio dos meus pais e familiares, responsáveis por me incentivar a seguir em frente e ser uma pessoa melhor por meio da educação. Ter a consciência do valor da educação desde os primeiros anos de ensino fundamental me fez sempre almejar a melhor fomação, me levando a buscar o diploma da Escola Politécnica da UFRJ, a qual sou eternamente grato. Destaco o apoio dos meus legítimos colegas de classe, sempre dispostos a crescermos juntos e sermos cada vez mais reconhecidos pelo mercado de trabalho. Muito obrigado por compartilharem esses momentos de muito trabalho e dedicação aos estudos. Sou eternamente grato pelo apoio dos amigos, sempre disponíveis nos piores momentos e nas melhores comemorações. Um agradecimento especial para a Emília, companheira inseparável nesses últimos anos. Registro também o meu reconhecimento pelas empresas em que estagiei e por todos profissionais que tive o prazer de trabalhar junto. Levo comigo um pouco do aprendizado de cada um de vocês. Destaco o meu reconhecimento aos professores da UFRJ que frente ao ambiente adverso defendem os interesses de manter a excelência da Escola Politécnica. Thereza e Nelson, muito obrigado pela orientação no trabalho. A presença de professores e profissionais como vocês é de grande benefício aos discentes da Engenharia de Produção da UFRJ. Finalmente, obrigado a todos que não foram mencionados e que participaram de alguma forma dessa jornada. Sinceramente, Rian Sardinha Maia vi “Inteligência é a capacidade de se adaptar à mudança”. Stephen Hawking vii RESUMO Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/UFRJ como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro de Produção. ENERGIA SOLAR: O DESENVOLVIMENTO DE UM NOVO MERCADO Rian Sardinha Maia Março/ 2018 Orientadora: Thereza Cristina Nogueira de Aquino Curso: Engenharia de Produção Como alternativa para atender o crescimento demográfico mundial e consequentemente a demanda por energia, novas fontes de geração tem apresentado crescimento expressivo. Junto com essa necessidade existe o interesse na redução de gastos em geração de energia e diversificação da matriz energética, reduzindo as emissões de gases do efeito estufa. O uso de energia fotovoltaica tem se apresentado competitiva em diversos países tanto no uso residencial quanto no uso comercial e indústrial. O objetivo desse trabalho é analisar os motivos e caminhos que alavancaram o desenvolvimento desse mercado e dentro desse contexto entender o posicionamento do Brasil. É então feito a avaliação da viabilidade econômica de um empreendimento vencedor de um dos leilões de geração de energia no Brasil, buscando entender a dinâmica desse setor e consequentemente avaliar as políticas públicas de incentivo e seus impactos. Para isso, estuda-se o crescimento da incorporação da fonte de energia fotovoltaica no Brasil através da análise de sua legislação e instrumentos de apoio e consequentemente o desempenho desse tipo de energia nos últimos leilões de viii energia. Percebe-se que a falta de financiamentos com juros reais baixos, além da instabilidade do ambiente regulatório, se torna um dos gargalos da implantação de energia solar no país. A partir dos resultados obtidos através da avaliação do setor e do empreendimento escolhido, pode-se afirmar que os efeitos das políticas, regulamentação e taxas de financiamento disponíveis são importantes para adoção da nova tecnologia e desenvolvimento desse mercado. Palavras-chave: Brasil, energias renováveis, energia fotovoltaica, financiamento, países desenvolvidos, países emergentes. ix ABSTRACT Abstract of Undergraduate Final Project presented to EscolaPolitécnica/UFRJ as a partial fulfillment ofthe requirements for the degree of Production Engineer. SOLAR ENERGY: THE DEVELOPMENT OF A NEW MARKET Rian Sardinha Maia March/ 2018 Advisor: Thereza Cristina Nogueira de Aquino Department: Production Engineering As an alternative to meet population growth and consequently increase in energy consumption, new generation sources have presented significant installed capacity growth. Along with the increase on demand for electricity, there is a clear interest in reducing the amount of polluted energy generation and encourage to the diversification of the energy matrix. The use of photovoltaic solar energy has initially emerged competitively for residential use and has now been presented as an interesting alternative for both commercial and industrial use. The main objective of this project is to analyze the worldwide adoption of solar energy and to understand how Brazil is positioned in this context. During this project the incentives, legislation and market growth of the main global players of this emerging industry is analyzed. Through the feasibility analysis of the largest utility scale photovoltaic power station in Brazil we seek to understand the dynamics of this sector and consequently evaluate the impact of public policies in the development of this market. To do so, we study the growth of the photovoltaic energy source in Brazil through the analysis of its legislation and instruments of support, and consequently the performance of this type of energy in the last auctions of energy. The lack of low real x interest financing in addition to the instability of the regulatory environment has become one of the bottlenecks in the deployment of solar energy in the country. From the obtained results through the evaluation of the sector and the chosenenterprise, it can be affirmed that the effects of available financing policies and interest rates are important for the adoption of the new technology and to reach the development of this market. Key words: Brazil, renewable energy, photovoltaic energy, financing, developed countries, emerging countries. xi ÍNDICE DE FIGURAS FIGURA 1. CAPACIDADE INTALADA DE ENERGIA SOLAR GLOBAL, 2016. ............................. 3 FIGURA 2. QUANTIDADE DE PAÍSES QUE ADOTAM POLÍTICAS DE INCENTIVOS DISCRIMINADA POR TIPO. .. ................................................................................................. 6 FIGURA 3. ESTADOS AMERICANOS QUE POSSUEM RPS. ................................................... 9 FIGURA 4. EVOLUÇÃO DOS INCENTIVOS NO SETOR FV, NO JAPÃO. .................................. 11 FIGURA 5. INVESTIMENTOS GLOBAIS EM ENERGIAS LIMPAS POR REGIÃO, 2004-2017 ....... 19 FIGURA 6. INVESTIMENTOS GLOBAIS EM ENERGIA SOLAR POR REGIÃO, 2013-2016. ......... 20 FIGURA 7. INVESTIMENTOS JAPONESES EM ENERGIAS LIMPAS POR SETOR, 2004-2017.. .. 21 FIGURA 8. INVESTIMENTOS GLOBAIS EM ENERGIAS LIMPAS POR SETOR, 2004-2017. ....... 22 FIGURA 9. INVESTIMENTOS EM ENERGIAS LIMPAS POR SETOR NA ALEMANHA, 2004- 2017.........................................................................................................23 FIGURA 10. INVESTIMENTOS EUROPEUS EM ENERGIAS LIMPAS POR SETOR, 2004-2017. .. 24 FIGURA 11. CRESCIMENTO CAPACIDADE INSTALADA NA CHINA, 2007-2017. ................... 25 FIGURA 12. INVESTIMENTOS DA CHINA EM ENERGIAS LIMPAS POR SETOR, 2004-2017. .... 26 FIGURA 13. INVESTIMENTOS PÚBLICOS E PRIVADOS EM ENERGIAS RENOVÁVEIS, 2013- 2016. ....................................................................................................... 28 FIGURA 14. INVESTIMENTO PRIVADO EM ENERGIAS RENOVÁVEIS POR TIPO DE INVESTIMENTO, 2013-2016. ....................................................................... 29 FIGURA 15. INVESTIMENTO PÚBLICO EM ENERGIA RENOVÁVEL POR FONTE, 2013-2016. ... 30 FIGURA 16. SEGMENTAÇÃO DAS INSTALAÇÕES DE ENERGIA SOLAR, MUNDIALMENTE, 2006 - 2016. ....................................................................................................... 32 FIGURA 17. DECOMPOSIÇÃO DOS CUSTOS DA ENERGIA SOLAR (USD/WATT), 2010 - 2017. ................................................................................................................ 32 xii FIGURA 18. POTENCIAL DA ENERGIA SOLAR POR REGIÃO. .............................................. 33 FIGURA 19. AUMENTO DA TEMPERATURA GLOBAL. 1880- 2020. ..................................... 34 FIGURA 20. MATRIZ ENERGÉTICA BRASILEIRA, EM 2016. ................................................ 36 FIGURA 21. IRRADIAÇÃO SOLAR NO BRASIL E EUROPA, 2016. ........................................ 38 FIGURA 22. DISTRIBUIÇÃO DOS PARQUES VENCEDORES NO LEILÃO DE RESERVA 2014 E SUAS RESPECTIVAS POTÊNCIAS INSTALADAS, 2014 .................................... 45 FIGURA 23. DINÂMICA DO SETOR FV NO BRASIL. ........................................................... 50 xiii ÍNDICE DE TABELAS TABELA 1. POLÍTICAS CHAVES PARA O CRESCIMENTO DA ENERGIA SOLAR. ..................... 17 TABELA 2. FORMAS DE CONTRATAÇÃO DE ENERGIA NO BRASIL. ..................................... 41 TABELA 3. COMPARATIVO ENTRE TODOS OS LEILÕES COM PARTICIPAÇÃO DA ENERGIA SOLAR. ..................................................................................................... 48 TABELA 4. PROJETOS DE UFV VENCEDORES NO LEILÃO 8/2015. .................................... 51 TABELA 5. INVESTIMENTOS E CUSTOS DO PROJETO. ....................................................... 52 TABELA 6. CENÁRIOS BASE PARA O ESTUDO DE CASO. .................................................. 53 TABELA 7. CENÁRIO TJLP. .......................................................................................... 54 TABELA 8. CENÁRIO MERCADO DE CAPITAIS .................................................................. 55 xiv LISTA DE SIGLAS AMER ANEEL América do Norte, Central e do Sul Agência Nacional de Energia Elétrica APAC Ásia-Pacífico BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social CAGR CCEAR Compound Annual Growth Rate Contratos de Comercialização de Energia no Ambiente Regulado CER Contratos de Energia de Reserva DFI EMEIA Development finance institution Europa, Oriente Médio e África FiT FV Feed-in Tarif Fotovoltaico GEE Gases do Efeito Estufa GW GigaWatt IRENA LER International Renewable Energy Agency Leilões de Energia de Reserva MW Mega Watt MWh Mega Watt hora PRI Prazo de Retorno do Investimento PRICE Sistema de Amortização de Empréstimos kW QuiloWatt REN Resolução Normativa SAC Sistema de Amortização Constante SAE Secretaria de Assuntos Especiais SIN Sistema Interligado Nacional TIR UNFCCC USD VPL Taxa interna de retorno United Nations Framework Convention on Climate Change United States Dollars Valor Presente Líquido xv SUMÁRIO INTRODUÇÃO........................................................................................... 1 OBJETIVO E METODOLOGIA ...................................................................... 1 ESCOPO ........................................................................................................ 2 1 A ENERGIA FOTOVOLTAICA NO MUNDO ...................................... 3 1.1 MECANISMOS DE INCENTIVO À GERAÇÃO FOTOVOLTAICA ... 4 1.2 POLÍTICA E EVOLUÇÃO DOS INCENTIVOS ................................. 7 1.2.1 CHINA ........................................................................................ 7 1.2.2 ESTADOS UNIDOS ................................................................... 8 1.2.3 JAPÃO ...................................................................................... 10 1.2.4 EUROPA .................................................................................. 12 1.2.4.1 ALEMANHA ............................................................................. 13 1.2.5 AUSTRÁLIA.............................................................................. 15 2. MERCADO DE ENERGIAS LIMPAS E FOTOVOLTAICO ............. 18 2.1 EUROPA ..................................................................................... 22 2.2 CHINA ......................................................................................... 24 2.3 EUA ............................................................................................. 26 2.4 ORIGEM DOS INVESTIMENTOS .................................................. 27 2.4.1 INVESTIMENTOS PRIVADO ................................................... 28 2.4.2 INVESTIMENTOS PÚBLICOS ................................................. 29 2.5 TECNOLOGIA E SEUS CUSTOS .................................................. 31 2.6 IRRADIAÇÂO ENERGIA SOLAR .................................................. 33 2.7 METAS CLIMÁTICAS .................................................................... 34 3 ENERGIA FOTOVOLTAICA NO BRASIL ........................................ 36 3.1 POTENCIAL DA ENERGIA SOLAR BRASILEIRA ........................ 37 xvi 3.2 REGULAMENTAÇÃO E LEGISLAÇÃO DA ENERGIA SOLAR .... 39 3.3 FORMAS DE CONTRATAÇÃO DE ENERGIA SOLAR ................. 40 3.4 LEILÕES DE COMPRA DE ENERGIA ........................................... 41 3.5 SISTEMÁTICA DOS LEILÕES DE ENERGIA DE RESERVA ........ 42 3.5.1 LEILÕES DE ENERGIA NOVAA-3/2013 E A-5/2013 .............. 43 3.5.2 6º LEILÃO DE ENERGIA DE RESERVA .................................. 44 3.5.3 7º LEILÃO DE ENERGIA DE RESERVA 008/2015 .................. 46 3.5.4 8º LEILÃO DE ENERGIA DE RESERVA 009/2015 .................. 46 3.5.5 LEILÃO DE ENERGIA NOVA A-4/2017 ................................... 47 3.5.6 LEILÃO DE ENERGIA NOVA A-4/2018 ................................... 47 3.5.7 LEILÕES DE DESCONTRATAÇÃO ......................................... 48 3.6 POLÍTICA DE CONTEÚDO LOCAL ............................................... 49 4 ESTUDO DE CASO: COMPLEXO SOLAR PIRAPORA .................. 51 4.1 CENÁRIO TJLP ............................................................................. 54 4.2 CENÁRIO MERCADO DE CAPITAIS ............................................ 55 4.3 CONCLUSÃO DO MODELO ......................................................... 56 5 CONCLUSÃO ................................................................................... 57 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................. 61 1 INTRODUÇÃO Dentre as energias renováveis, a energia fotovoltaica foi a que apresentou maior crescimento e que obteve maiores investimentos em todo o mundo nos últimos anos, com impressionantes USD 2 trilhões e quinhentos milhões, entre o período de janeiro de 2010 a dezembro de 2016, com crescimento de 263 GW e alcançando mais de 300 GW instalados (REN21, 2017). Atualmente é capaz de atender mais de 2% da demanda global, gerando mais de 400 billhões de kWh anualmente (IEA PVPS, 2017). O Brasil se destaca como uma possível potência da energia solar principalmente por possuir altos níveis de insolação (PORTAL SOLAR, 2016). Esta é uma característica natural do Brasil, que possibilita vantagens para implementação da energia fotovoltaica, principalmente quando comparado com outros países em que esta fonte é mais desenvolvida, como a Alemanha. Desde 2012, vem se discutindo no Brasil formas de incentivo à esse novo mercado, aumentando os incentivos na geração de energia fotovoltaica através de um conjunto de elementos. O destaque vai para os leilões, que serão apresentados ao longo do trabalho, e que visam a maior inserção desta fonte de energia na matriz energética nacional. OBJETIVO E METODOLOGIA O objetivo deste trabalho é apresentar e avaliar o desenvolvimento da energia fotovoltaica em escala global, identificando os motivos e incentivos que alavancaram o desenvolvimento dessa nova indústria. Parte-se da contextualização desta fonte energética à partir do crescente consumo de energia, tratrados ambientais internacionais e adoção da nova tecnologia em grande escala por diferentes blocos econômicos. Sendo assim, a primeira parte do trabalho será dedicada a apresentar os principais incentivos à indústria, avaliando o cenário do crescimento da energia fotovoltaica em escala global, com destaque para a evolução dos investimentos e capacidade instalada em países desenvolvidos e emergentes, a saber: China, EUA, Alemanha e Austrália. A segunda parte terá como foco o detalhamento do panorama da energia fotovoltaica no Brasil, onde apresentar-se-ão as vantagens, os desafios desta nova fonte de energia e como o país está se posicionando nessa pauta mundial. 2 Encerrar-se-á a segunda parte com o estudo da atratividade do empreendimento como um investimento, com o estudo de caso de uma usina fotovoltaica no Brasil, vencedora de um dos Leilões de Reserva. ESCOPO O trabalho será divido em duas partes, na primeira analisa o panorama mundial da energia solar, sua expansão, políticas de incentivo e investimentos, ao passo que a segunda parte terá como foco os esforços do Brasil para a inserção dessa fonte em sua matriz energética. A primeira parte está compreendida no capítulo 1 e 2. A segunda parte corresponde aos capítulos 3 e 4. No primeiro capítulo são apresentados os diferentes incentivos a adoção de energia solar no mundo. No segundo capítulo avaliar-se-ão a expansão da energia fotovoltaica no mundo, as características e diferentes investimentos discriminados por países, bem como sua capacidade instalada. No terceiro capítulo far-se-á uma análise histórica do uso de energia fotovoltaica no Brasil e do mecanismo de leilão de energia. No quarto capitulo, a partir de dados dos leilões de energia de reserva será avaliada a atratividade econômica da instalação da energia solar no país, com financiamento de origem pública e privada. No último capítulo, a conclusão, será apresentada uma síntese dos principais resultados obtidos neste trabalho para fins da avaliação da atratividade da energia fotovoltaica no Brasil, entendimento das tendências do mercado à nível global e indentificar os os diferentes cenários de desenvolvimento do mercado de energia solar à nível nacional. 3 1 A ENERGIA FOTOVOLTAICA NO MUNDO Toda nova tecnologia tem como uma barreira de entrada no mercado os seus altos custos frente os concorrentes. Isso é justificado principalmente pela ausência de ganhos de escala na comercialização e produção. Com a energia solar não é diferente. Sua entrada no mercado foi acelerada por diferentes motivos em cada país, levando à adoção de incentivos públicos. Os incentivos por diferentes economias mundiais têm sido expressivas na busca por energia vinda de fontes renováveis, com o firme propósito de reduzir o uso do carvão, petróleo e outras fontes finitas e poluentes. Os países com economias mais desenvolvidas estão à frente nesta questão, como será apresentado ao longo do trabalho. Mesmo durante as grandes crises econômicas, o mercado fotovoltaico (FV) cresceu notavelmente ao longo da última década e está no caminho para se tornar uma importante fonte de geração de energia do mundo. Entre os anos 2006 a 2016 apresentou uma Taxa Composta Anual de Crescimento de 48%. Depois de ter atingido um recorde de crescimento de 30 GW em 2011, comparativamente ao ano de 2010; em 2016, como mostra a Figura 1, o total global de intalações fotovoltaicas atingiu o marco de 303 GW, sendo adicionado 75GW em capacidade quando comparado a 2015. Estima-se que atualmente se tenha mais de 400 GW instalados no mundo inteiro (IRENA, 2018). Figura 1. Capacidade intalada de energia solar global, 2016. Fonte: REN21, 2017. 4 Os países escolhidos para o desenvolvimento do trabalho apresentam alguma característica própria, seja ela relacionada com o motivo da adoção de fontes de geração fotovoltaica ou com o impacto dos incentivos públicos. Analisar-se-á na próxima seção os mecanismos de incentivo no mundo, a partir dos países em que a energia solar teve e está tendo uma rápida evolução, em especial a China, EUA, Alemanha, Japão e Austrália, verificando as condições que propiciaram esta rápida expansão. 1.1 MECANISMOS DE INCENTIVO À GERAÇÃO FOTOVOLTAICA A geração de energia é o foco da maioria das políticas de energia renovável. Os decisores políticos seguem a tendência recente de modificar as políticas existentes em vez de adotar novos mecanismos. Com isso, as Feed-in Tariffs (FiT) e Renewable Portfolio Standards (RPS) continuam sendo os mecanismos mais utilizados. A Feed-in Tariff é um mecanismo utilizado por políticas públicas, destinadas a acelerar o investimento em fontes renováveis por meio da criação de uma legislação que obrigue as concessionárias regionais e nacionais a comprarem a eletricidade gerada em valores acima do mercado, estabelecidos pelo governo. Isto se dá por meio da oferta de contratos de longo prazo aos produtoresde energias renováveis, normalmente com base no custo de geração de cada tecnologia. O Renewable Portfolio Standards (RPS) é um regulamento que exige o aumento da produção de energia a partir de fontes de energia renováveis, como energia eólica, solar, biomassa e geotérmica. Outros nomes comuns para o mesmo conceito incluem o Renewable Electricity Standard (RES) no nível federal dos Estados Unidos e a Renewables Obligation no Reino Unido. O mecanismo RPS obriga as empresas de fornecimento de eletricidade a produzir uma fração especificada de sua eletricidade a partir de fontes de energia renováveis. Os produtores de energia renovável obtêm certificados para cada unidade de eletricidade que produzem e podem vendê-los juntamente com a sua eletricidade para suprir às empresas. As empresas, por sua vez, passam os certificados a um órgão regulador para demonstrar sua conformidade com suas obrigações regulatórias. (NCSL, 2018). A implementação de RPS no mercado resulta em concorrência, eficiência e inovação fornecendo energia renovável ao menor custo possível, permitindo que as 5 energias renováveis compitam com fontes de energia de combustíveis fósseis mais baratas. (AWEA, 2018) Os mecanismos de RPS foram adotados em vários países, incluindo o Reino Unido, Itália, Polônia, Suécia, Bélgica e Chile, bem como em 29 dos 50 estados dos EUA e o Distrito de Columbia. Já os Renewable Energy Certificates (RECs), também conhecidos como certificados de energia verde ou certificados renováveis negociáveis, é um instrumento baseado no mercado que representa os direitos de propriedade sobre os atributos ambientais, sociais e outros não-poderes da geração de eletricidade renovável. As RECs são emitidas quando 1 MWh de eletricidade é gerado e entregue à rede elétrica a partir de um recurso de energia renovável. Também é possível receber um desconto em dinheiro do estado, município, empresa de serviços públicos ou outra organização que queira promover a energia solar. Os reembolsos geralmente estão disponíveis por um tempo limitado e terminam uma vez que uma certa quantidade de energia solar tenha sido instalada. Os descontos, rebates, podem ajudar a reduzir ainda mais os custos do sistema de 10 a 20%. (ENERGYSAGE, 2018). Outro mecanismo que merece destaque é o leilão incentivado, em inglês tendering, este mecanismo busca promover o desenvolvimento efetivo das energias renováveis ao fornecer um esquema de alocação não discriminatório e transparente que diminui o suporte público. Como resultado, as propostas que participam dos leilões buscam reduzir o custo da sociedade limitando os subsídios do governo às plantas com melhor desempenho. Para atingir essas promessas, o design apropriado das propostas, desde os critérios de pré-qualificação e execução até a regulação final é fundamental. (SOLARPOWER EUROPE, 2017) A Figura 2 contabiliza o número de países que adotam políticas subsidiando energias renováveis separados por tipo de incentivo. Nota-se que concessões e descontos são as políticas mais comuns entre os países. 6 Figura 2. Quantidade de países que adotam políticas de incentivos discriminada por tipo. Fonte: Elaboração do autor com base em IRENA, 2016. Observa-se na Figura 2 que as tarifas/prêmios de entrada continuam a ser implementadas em um número crescente de países, mas o desenvolvimento no setor, incluindo queda de custos e questões de integração da energia na rede, conduziu uma preferência para leilões nos últimos anos, 65 países a mais o adotaram comparado à 2005. (IRENA, 2017) Embora os RECs tenham sido fundamentais na implantação de renováveis em certos países, como alguns europeus e Austrália, eles permanecem o instrumento menos adotado globalmente. A fim de aumentar o uso de renováveis nas matrizes energéticas, além de reduzir as barreiras para consumidores e aumentar a lucratividade, novas formas de incentivos e modelos de negócios estão ganhando apoio dos formuladores de políticas, por exemplo: esquemas de licitação, a medição líquida ou as políticas de cobrança líquida, os bancos verdes e as obrigações verdes. (EPIA, 2014) A próxima seção apresentará uma análise histórica da evolução dos incentivos para o uso de energia fotovoltaica. Escolheu-se como objeto de estudo os países: China, EUA, Japão, Austrália e Europa, particularmente a Alemanha. 17 45 99 8 29 73 36 62 83 29 50 58 16 23 31 2005 2010 2016 Investimento Público, Empréstimo ou Concessões Leilões Feed-in Tariff/premium Capital subsidiado, Comissões ou Descontos REC Negociavél 7 1.2 POLÍTICA E EVOLUÇÃO DOS INCENTIVOS 1.2.1 CHINA A China, país que atualmente lidera os investimentos em energias renováveis, investiu aproximadamente USD 785 bilhões no setor fotovoltaico num período compreendido entre 2004 e 2017, 73% a mais que os EUA que até então era o maior investidor neste setor. (BLOOMBERG, 2018) Hoje a China é o país que possui maior capacidade fotovoltaica instalada, detém 19% do total mundial e até 2020 chegará ao marco de 100 GW. (RE100, 2015) Devido as favoráveis mudanças no ambiente político e econômico que fomentam as fontes de energias renováveis no país, o setor FV vem crescendo cada vez mais e, por esse rápido crescimento, a China vem enfrentando problemas de congestionamento da rede elétrica e atrasos de interconexão. Para enfrentar estes desafios o governo chinês priorizou e aumentou a transmissão de energias renováveis, fato que atraiu mais indústrias voltadas ao setor energético para aumentar o consumo local, além de incentivar a incorporação de grandes usinas. Em 2009 promoveu uma série de políticas de mercado para geração de energia fotovoltaica e lançou o programa “Golden Sun”, além de alguns projetos em grande escala no modelo de Feed-in Tariffs (FiT). Segundo o National Renewable Energy Laboratory, as Feed-in Tariffs no país oferecem a garantia de retorno para os proprietários dos sistemas FV sobre a energia gerada. Essa garantia de compra é ainda subsidiada financeiramente através de fundos de desenvolvimento energético. Estes pagamentos são concedidos em contratos de longo prazo, definidos em um período de 15 a 20 anos. Porém, à partir de 2018 haverá uma redução das feed-in. O principal motivo é a drástica redução dos custos de produção e geração de energia solar, entre 20% a 30%, principalmente pelos ganhos de escala e desenvolvimentos tecnológicos. A redução das feed-in tariffs na China será em média de 12% a 15% das tarifas vigentes, tendo nos primeiros meses uma redução mais significativa de 18% a 20%. (AECEA, 20318) Na China, o setor residencial é o setor que paga as tarifas mais baixas, em comparação ao comercial e industrial, além disso, o proprietário do projeto recebe da empresa de transmissão e distribuição de energia incentivo financeiro direto de cerca de 0,07 USD/kWh pelo excedente de geração de energia de seu projeto no mês de referência, sendo o subsídio das FiTs. (RE100, 2015) 8 Houve também incentivos através de empréstimos a juros reduzidos para os investidores que adquiram o sistema de geração fotovoltaico diretamente dos fabricantes, incentivando o mercado local. Esse subsídio corresponde a uma redução de 50% quando aplicado na rede distribuição da cidade e de 70% quando aplicado fora da rede fotovoltaica nas áreas rurais. (EIA, 2016) Com esses incentivos houve uma remodelação da indústria local e as circunstâncias de mercado interno auxiliaram os produtores nacionais da cadeia de energia fotovoltaica a ganhar vantagens quando comparadas a seus competidoresinternacionais. Atualmente dentre os 10 maiores produtores de painéis fotovoltaicos no mundo em 2017 sete são empresas chinesas, responsáveis pela produção de 72% dos módulos instalados no mundo em 2017. (BLOOMBERG, 2018) 1.2.2 ESTADOS UNIDOS Atualmente os EUA se destacam não somente por ser um dos países líderes em geração de energia FV, mas sim por ter um mercado de energia solar que tem trazido contribuições relevantes à expansão desta fonte em todo mundo. Isto é possível, principalmente, por cada estado representar um mercado de energia separado, abrindo espaço para diferentes modelos regulatórios, políticas públicas regionais e consequentemente novos modelos de negócio. Os incentivos financeiros e regulatórios tem diferentes tipos e níveis de alcance, variando entre os diversos estados norte-americanos devido a uma série de fatores: metas locais de redução de emissões, competitividade da energia FV distribuída com a tarifa local, disponibilidade de diferentes fontes de geração, variação da intensidade da irradiação solar, entre outros. Os EUA, em caráter inovador, criaram arranjos de incentivos financeiros e regulatórios que resultaram na emergência de modelos de negócios alternativos, como exemplos: o arrendamento, leasing de placas solares, financiamentos e investimentos comunitários que buscam arranjos nos quais os stakeholders envolvidos operem em um modelo win- win. O custo da energia renovável, especialmente a solar, caiu muito nos últimos anos no país, aproximadamente 75% em alguns estados, graças em grande parte aos incentivos fiscais que a indústria recebeu do governo americano desde 2006. 9 Os principais incentivos financeiros nos EUA são: i) Descontos ii) Incentivos de desempenho iii)Créditos de energias renováveis (REC) iv) Crédito Tributário para investimentos v) RPS. Atualmente não existe uma RPS promulgada no país, mas 29 estados possuem uma RPS específica e variam de acordo com as estruturas de mercado e modelos regulatórios vigente em cada estado, essa variação se deve principalmente ao potencial de geração em cada estado. A Califórnia, é um exemplo de estado que possui grande irradiação solar e diferentes incentivos. A Figura 3 ilustra os estados que possuem RPS e o tipo de cada um. Figura 3. Estados americanos que possuem RPS. Enquanto a energia solar foi por muito tempo vista como uma escolha ambientalmente responsável, agora é também vista pelas empresas como uma escolha fiscal inteligente. As companhias provaram a viabilidade da tecnologia solar, mostrando que é possível geração de energia de baixo custo em larga escala como a energia fotovoltaica. Hoje a energia solar desempenha um papel importante na economia dos Estados Unidos, sendo responsável diretamente pela geração de mais de 130 mil empregos. Só no terceiro trimestre do ano de 2015, os Estados Unidos instalaram 1.361 MW de energia solar fotovoltaica, sendo o marco do oitavo trimestre consecutivo em que o EUA instalou mais que um GW de capacidade FV. Em 2018, o presidente americano Donald Trump se posicionou sobre o assunto, impondo aumento dos impostos de painéis e inversores importados em 10 30%, sendo esse aumento reduzido para 15% após quatro anos. O objetivo é reduzir a importação de produtos chineses, porém membros da própria indústria solar americana se manifestaram contra a medida, alegando que o país fornece principalmente mão de obra e equipamentos complementares e não tem como foco a produção de módulos e inversores. Eles também alegam que a medida vai impossibilitar projetos no país, reduzindo adoção da energia fotovoltaica. (The Guardian, 2018) Atualmente, os EUA possui 40.300 MW de potência instalada, gerando em torno de 56,8 TWh em energia solar, representando 1,3% da geração total de energia do país. (IRENA, 2016) 1.2.3 JAPÃO O processo de incorporação de energia solar e consequentemente diversificação da matriz energética no Japão se deu em função das duas crises de petróleo, sendo a primeira em 1970 e a segunda em 1979. Logo após a primeira crise, o governo lançou o programa nacional de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) chamado Luz do Sol. Este tinha como finalidade o desenvolvimento de fontes de energias renováveis até o ano 2000. O programa se manteve de 1974 até 1981, envolvendo tanto as atividades públicas como para a iniciativa privada no desenvolvimento de novas tecnologias energéticas. Após a segunda crise, em 1979, o programa exigiu mais investimentos públicos no setor, pois os esforços feitos até então não foram suficientes para solucionar suas consequências. Em 1980, foi promulgada a Lei de Energia Alternativa, que se transformou no principal pilar do projeto para a energia solar, com um orçamento em torno de USD 6 bilhões para o desenvolvimento da tecnologia fotovoltaica durante os anos de 1980 e 1990, estimulando as empresas a investirem no desenvolvimento dessa tecnologia. Já em 1993, houve uma junção dos Programas Luz do Sol, Luz da Lua e o e de P&D de Tecnologia Ambiental, intitulado Novo Programa Luz do Sol objetivando a criação da indústria fotovoltaica e do mercado interno japonês. Em 2000 lançou o Projeto de Introdução e Promoção da Nova Energia em Nível Regional e o Programa de Apoio para Deter o Aquecimento Global em 2001. Em 2007 e 2008 houve uma redução de instalações em virtude da diminuição da ajuda do governo. Em 2009, o cenário começou a mudar, pois nesse período foi retomado o programa de subsídios para os sistemas fotovoltaicos residenciais e 11 iniciado o programa para a compra da energia fotovoltaica excedente; a energia gerada e não consumida era enviada para a rede elétrica e era comprada pela fornecedora pelo dobro do valor em relação à geração convencional. Após o terremoto e o tsunami de 2011 que atingiram a usina nuclear de Fukushima, o governo do Japão decidiu instituir um programa de grande escala encorajando (e subsidiando) a construção de novas usinas solares. O apoio do governo japonês a esse setor foi aproximadamente três vezes maior que o oferecido pela Alemanha e China. (ECOEFICIENTES, 2016) Como resultado de todos os incentivos oferecidos, em 2015 a capacidade instalada do setor FV no Japão cresceu em 11 GW, levando a sua capacidade instalada total para 34,4 GW. A energia solar fotovoltaica foi responsável por mais de 10% da demanda de eletricidade nos dias com maior incidência de raios solares e representou 3% do total de geração de eletricidade no país. (REN21, 2016) Para incentivar ainda mais o uso de energias renováveis, o governo japonês lançou o seu próprio programa de FiT em 2012, determinando que os serviços públicos sejam obrigados a comprar 100% da energia gerada a partir de instalações solares de mais de 10 KW por um período de 20 anos. Além disso, o Ministério da Economia, Comércio e Indústria do Japão planeja conceder empréstimos a juros incentivados, para que as empresas passem a alugar os painéis FV para telhados residenciais para instalação de sistemas de pequeno porte. Neste modelo de negócio os proprietários receberão um aluguel pelo uso de seus telhados, enquanto as empresas de energia solar irão vender a produção dos sistemas à rede nacional de energia elétrica. A Figura 4 ilustra, em resumo, os incentivos e medidas oferecidos pelo governo ao longo dos anos no setor fotovoltaico. Figura 4. Evolução dos incentivos no setor FV, no Japão. Fonte: Elaboração do autor. 12 1.2.4 EUROPA Até o final de 2015, pelo menos 22 países alcançaram a marca de 1 GW ou mais de capacidade instalada. Os líderes de energia FV por habitante foram:Alemanha, Itália, Bélgica e Grécia. Um dos principais incentivos a adoção de energia solar foi o acordo da União Européia Europa 2020 assinado em 2010 que tem como objetivo a redução de emissões dos gases de efeito de estufa em 20% relativamente aos níveis de 1990, ou em 30%, se as condições o permitirem; incremento em 20% da quota de utilização de energias renováveis no consumo final energético; e incremento de 20% em eficiência energética. Além do acordo, a expansão do setor FV foi resultado da redução dos custos de implantação e de novas tecnologias, do interesse dos investidores e do apoio político, aliado ao fato de que mais de 70% das novas instalações foram financiadas por pequenas e médias empresas. A demanda por instalações solares atingiu seu pico no continente em 2011 e depois, por 3 anos consecutivos, declinou. De acordo com a estimativa da SunPower Europe (2016), entre 2005 e 2015, a capacidade de geração de energia solar fotovoltaica na UE aumentou de 1,9 GWp para 95,4 GWp. Esse crescimento foi liderado principalmente pela Alemanha e Itália, onde estavam localizadas 80% das instalações fotovoltaicas Europeias, no período de 2004 a 2010. A súbita expansão da energia fotovoltaica foi possível através de políticas governamentais favoráveis, conjugada com a acentuada e continuada queda no preço dos equipamentos instalados, em resultado da concorrência Chinesa. Em 2012 a Europa era responsável por 75% da produção mundial de energia fotovoltaica. O declínio da adoção da energia solar foi tão repentino quanto o seu crescimento. A ruptura da bolha do setor em 2011 foi precedida pelo fim dos subsídios nacionais e europeus, na sequência da multiplicação de projetos especulativos, acompanhada por uma guerra de preços dos painéis. As sucessivas crises económicas também debilitaram as empresas, que apresentaram resultados em declínio. Como consequência, as empresas insolventes no setor atingiram o auge na Europa entre 2011 e 2012. Não caso da França o número de insolvências quase triplicou. (COFACE, 2015) Na União Europeia, as condições de mercado para FV variam substancialmente de país para país. Os motivos para isso são as diferentes políticas energéticas e programas de apoio público para energias 13 renováveis, especialmente FV, bem como os diferentes graus de liberalização dos mercados domésticos de eletricidade, além da diferença de intensidade de irradiação em cada região do continente. É interessante examinar rapidamente os motivos e as principais consequências deste desenvolvimento. Os regimes de apoio em alguns países não foram feitos para reagir rápido o suficiente para o mercado em crescimento acelerado e como consequência esses mercados desenvolveram taxas de crescimento insustentáveis e os governos reagiram com mudanças repentinas e imprevisíveis nos esquemas de apoio, bem como requisitos legais. Isso levou à grande quantidade de instalações de energia solar antes dos prazos anunciados e alta incerteza para potenciais investidores. Além disso, várias mudanças retroativas geraram redução na confiança de investidores no setor. Com isso, a próxima seção detalhará o mercado de energia solar na Alemanha, país que se destacou pelo pioneirismo em geração e instalação de energia solar na Europa. 1.2.4.1 ALEMANHA O expressivo aproveitamento da fonte solar na Alemanha foi resultado da decisão estratégica de inserção de energia renovável em sua matriz energética, reduzindo a participação da energia nuclear. Como foi falado anteriormente, a Alemanha era líder mundial de capacidade de geração fotovoltaica instalada, sendo oficialmente ultrapassada pela China em 2015. A primeira política de incentivo de energia renovável implantada pela Alemanha ocorreu em 1990, quando foi adotada a Eletricity Feed-in Law, que iniciou o sistema de preços para remuneração de geração distribuída a partir de fontes renováveis. No entanto, apesar de ter elevado a capacidade de geração eólica, a geração de energia solar não teve o mesmo resultado pelos altos custos dos equipamentos. Apenas em 1991, através do programa “Iniciativa 1.000 Telhados Solares” que a fonte solar se tornou significante. A energia solar fotovoltaica teve seu marco na Alemanha a partir do ano 2000, ao substituir a lei de 1990 pela Renewable Energy Sources Acrt, que introduziu novas tarifas fixadas, tornando a implantação de painéis solares atrativas. Com essa nova política, a pessoa física que instalasse o painel fotovoltaico em sua residência tinha a garantia de vender a energia gerada ao sistema por um valor mais alto que a média do mercado. 14 Os incentivos ao setor eram pagos pelos consumidores finais na forma de sobretaxa, um aumento chegando a 380%, destinada a subsidiar o desenvolvimento da energia renovável com um todo. Com isso, o setor industrial ficou isento desse custo extra, de forma a evitar a perda de competitividade da indústria alemã. A combinação de investimentos públicos e privados estimulou esta transição. (THE GERMAN ENERGIEWENDE, 2014) Como resultado do rápido aumento da geração incentivada, o governo reduziu os incentivos e modificou esse modelo: estabeleceu-se um limite anual para compra de eletricidade por esse sistema. A energia alemã estava sendo comercializada por valores próximos ao dobro do que era praticado nos EUA, por exemplo. Desde maio de 2012, o FiT é ajustado mensalmente dependendo da instalação real do trimestre anterior. A revisão da Lei das Fontes de Energia Renováveis alemã em 2014 alterou o tamanho do sistema para novos sistemas elegíveis para uma feed-in tariff e níveis introduzidos de imposições sobre o autoconsumo. (ARANTEGUI, 2017) Desde 1 de setembro de 2015, os proprietários de novos sistemas montados no solo têm que participar e ganhar um leilão da Agência Federal da Rede. Desde o início de 2016, apenas sistemas com menos de 100 kWp são elegíveis para feed-in tariff. Sistemas maiores têm de comercializar a eletricidade gerada diretamente ou participar de leilões. Como exemplo, as FiT válidas de 1 de julho a 30 de setembro de 2016 são: - Capacidades até 10 kWp: 0.1231 EUR por kWh - Capacidades entre 10 e 40 kWp: 0.1197 euros por kWh - Capacidades entre 40 e 100 kWp: 0.1071 euros por kWh Sistemas em edifícios comerciais e instalações: - Capacidades até 100 kWp: 0,0853 EUR por kWh Sistemas fotovoltaicos residenciais: - Capacidade menor de 10 kWp: EUR 0.1231 / kWh Valor este, abaixo da eletricidade variável média. O segundo leilão de energia solar ocorrido na Alemanha, em 2015, concedeu contratos 7,5% abaixo do nível das FiT anteriores. A redução dos incentivos vem se refletindo na redução da expansão da fonte solar no país, 15 conforme citado anteriormente. Para os próximos anos é importante entender os resultados desse rápido crescimento de mercado, considerando seus impactos na indústria, nos investimentos e na quantidade de empregos gerados no país. Apesar do crescimento dos últimos anos, não era previsto a drástica redução de preços dos sistemas fotovoltaicos e o rápido crescimento do mercado, exigindo ajustes adicionais ao decorrer dos últimos anos. Dado esse novo cenário na Alemanha o programa de Feed-in Tariff será encerrado no final de 2018. (ARANTEGUI, 2017) 1.2.5 AUSTRÁLIA A Austrália está situada numa região com alto índice de irradiação solar (MME, 2017) e por meio de tratados políticos nos últimos anos tem se consolidado como uma referência em geração de energias limpas, cheganda a compor 17,2% de sua matriz energética em 2017, segundo a Australian Renewable Energy Index. Ainda em 2001,o governo vigente, junto com os países da Commonwealth assinou o Mandatory renewable energy targets (MRET). A meta inicial era a instalação de capacidade para geração de 9,500 GWh até 2010. Antes mesmo do seu vencimento o Parlamento Australiano expandiu o tratado em agosto de 2009, com a expansão do Renewable Energy Target (RET). O objetivo é expandir a participação das renováveis em 20% da matriz energética até 2020. Para garantir isso o Governo Federal ajustou a meta de 9,500 GWh para 33,000 GWh até o ano de 2020. Em 2016 o país anunciou a geração de 17,500 GWh, se aproximando da meta. A política nacional RET é um incentivo para a indústria, voltada para acelerar novos projetos na Australia. Mesmo com a recente queda dos custos da energia eólica e solar nos últimos anos, esse tipo de energia ainda concorre com fontes como carvão e gás, desenvolvidas durante anos por diferentes administrações públicas. A função do RET é a redução dessa desigualdade e para isso usa a estratégia de Large-scale Renewable Energy Target (LRET) e Small- scale Renewable Energy Scheme (SRES). O primeiro é voltado para a instalação em residências, que foge do escopo do trabalho, e o segundo tem como meta a geração de 33,000 GWh por usinas solares até 2020. Inicialmente era esperado que a meta do Large-scale Renewable Energy Target (LRET) fosse atingida com energia eólica, porém a energia solar em grande 16 escala teve rapidamente os seus custos reduzidos durante os últimos anos. Outra vantagem para essa modalidade é a capacidade de ser financiado e instalado rapidamente, podendo entrar em operação antes do vencimento da meta em 2020. O RET funciona emitindo certificados para cada MWh produzido. Os certificados são então adquiridos pelas distribuidoras de energia e submetidos para a agência responsável pela regulamentação de energias renováveis (Clean Energy Regulator) para avaliar o compromisso da distribuidora perante o RET. Essa forma de comercialização cria um mercado que incentiva ambas partes interessadas. O efeito das políticas de incentivo do país é o aumento da atratividade financeira. Atualmente a energia solar já consegue competir com a energia eólica, e é mais competitiva do que gás e carvão (CEC, 2017). A adoção de energias renováveis no país não é homogênea. Em algumas regiões onde a presença de energias renováveis é mais incipiente, o seu desenvolvimento está sendo incentivado por meio de leilões, especialmente nos estados de Victoria e Queensland. Segundo o corpo especialista em renováveis do governo australiano os leilões tem como missão o desenvolvimento da região e economia como um todo, e não somente redução de preços. No caso da região de Victoria, o renewable energy targets (VRET) é de 25% de renováveis até 2020 chegando a 40% em 2025. O leilão de 2017 em Victoria é de 650 MW, onde 100 MW são destinados para usinas solares, enquanto o restante é livre para eólica ou solar. O preço dos projetos é definido em torno de dois componentes principais. O primeiro é o preço definindo o valor por MWh dos projetos de energia eólica e solar: USD 44,11 / MWh para eólica; USD 41,42 / MWh para PV solar e USD 44,40 / MWh para PV solar com rastreamento. O segundo é o mecanismo conhecido como contrato de diferença. Se o preço praticado pelas distribuidoras for maior do que esses valores (e foi quase o dobro do que em Victoria durante a maior parte deste ano), o proprietário do parque eólico retorna a diferença para o governo. É um mecanismo interessante para incentivar o mercado, impondo limites para a rentabilidade das Integradoras e criando um mercado mais sustentável. Se o preço de atacado for menor, então o governo compensa a diferença para os proprietários de projetos renováveis, ou Integradores, para garantir-lhes um rendimento mínimo contínuo. 17 A parte interessante virá em quanto os integradores de usinas eólicas e solares precisam para torna-los viáveis. A tendência é isso ser decidido por uma proposta competitiva do componente de preço fixo (valor base) do negócio, um custo por ano por MW instalado. A região de Queensland também realizou leilões para a contratação de 400 MW de energia renováveis, onde foram recebidos 115 propostas de 79 diferentes companhias participantes. Das propostas, 2.2 GW são de eólica e 6,4 GW de solar. O leilão faz parte de um pacote para incentivos, que inclui a meta do estado de Queensland de atingir 50% de sua matriz em renováveis até 2030. O cenário da Austrália é de uma série de incentivos pontuais iniciados em 2012, e busca se beneficiar da alta irradiação do continente e atratividade econômica das renováveis, além da redução de emissão de carbono no país, seguindo a tendência mundial. A Tabela 1 resume os principais incentivos nos países mencionados e em outros em que a energia solar teve sua importância. Tabela 1. Políticas chaves para o crescimento da energia solar. Fonte: Elaboração do autor com base em WEResources, 2016. Atrelados aos mecanismos de incentivos estão os investimentos feitos no setor. Portanto o próximo capítulo apresentará um panorama do mercado global e quantificará os investimentos em energia fotovoltaica. País Políticas de Geração Políticas de Consumo Incentivo Fiscais China Feed-in tariff, Licitação - Subisídio de Capital EUA Crédito Fiscal de Investimento Renewable Portfolio Standards (RPS), Net metering Subisídio de Capital, Crédito Fiscal Japão Feed-in tariff Net metering Subisídio de Capital Alemanha Feed-in tariff, Leilões Interconexão obrigatória Subisídio de Capital Austrália Feed-in tariff, Leilões Net metering Subisídio de Capital Reino Unido Feed-in tariff Net metering, Renewable Obligation (RO) Subisídio de Capital Itália Feed-in tariff - - França Feed-in tariff, Leilões - - Espanha Feed-in tariff, Leilões - Subisídio de Capital 18 2. MERCADO DE ENERGIAS LIMPAS E FOTOVOLTAICO Um grande número de empresas incluindo desenvolvedores e integradores, companhias de investimento e grandes bancos, entraram no mercado de financiamento de energia solar. A maioria das estruturas para desenvolvimento dos projetos envolvem dois componentes chaves: i) Capital próprio de um ou mais investidores aplicado diretamente ou para o desenvolvedor do projeto (Special Purpose Vehicle (SPV), também conhecido como “companhia de projeto”). ii) Empréstimo limitado para um ou mais credores, assegurados contra os ativos possuídos pelo SPV. (IRENA, 2015) O mercado fotovoltaico (FV) tem se mostrado um modelo de geração de energia versátil e conservador. Isso fica claro com a crescente adoção mundial do novo modelo, mesmo em cenários de crise global. Segundo as informações da Bloomberg New Energy Finance (BNEF) o investimento mundial em energias limpas totalizou USD 333,5 bilhões em 2017, um aumento de 3% em relação ao ano anterior, que foi de USD 324,6 bilhões. O ano de 2017 foi importante para a energia solar, pois consolidou a queda do valor da energia contratada. Sistemas típicos de médio e grande porte em 2017 ofereceram a mesma quantidade de MW com redução de seus valores em 25% quando comparados aos dois últimos anos. (BNEF, 2017) Mesmo com redução significativa de seus custos, a energia solar representou a maior parte dos investimentos em renováveis, totalizando USD 161 bilhões, um aumento de 18% em relação a 2016. Um pouco mais da metade desses investimentos, USD 86,5 bilhões, foram investidos na China, investimento esse, duas vezes maior que 2016, integrante do grupo econômico que compreende Ásia – Pacifico e Austrália (APAC). (BNEF, 2017)A China superou a previsão de capacidade instalada em 20 GW, principalmente por dois motivos: i) os responsáveis pela regulamentação do mercado cederam à pressão da indústria, oferecendo subsídios para além do orçado, que se concretizarão nos próximos anos dos empreendimentos; ii) com os ganhos de escala da indústria a tecnologia se tornou popular no país, com a instalação de projetos descentralizados e centralizados, atendendo consumidores residenciais e industriais. O país se destacou pelo investimento de USD 132,6 19 bilhões em energias limpas, valor que representa 40% do investimento global na área. (BNEF, 2017) Esse aumento expressivo da China tira a atenção para mudanças também interessantes, como o aumento em 150% dos investimentos em energias renováveis na Australia, movimentando USD 9 bilhões em 2017. Na Europa, o mercado mais desenvolvido, investiu USD 57,4 bilhões com uma queda de 26% quando comparado ao ano de 2016. A Figura 5 apresenta a variação dos investimentos, que após serem concentrados na Europa estão tendo destaque na Ásia. Figura 5. Investimentos globais em energias limpas por região, 2004-2017. Fonte: Bloomberg New Energy Finance, 2018. Além da ascenção dos países asiáticos, nota-se o crescimento do mercado das Américas. Após a China, o segundo país com mais investimentos são os EUA, responsável por USD 56,9 bilhões de investimentos, representando 1% de aumento em relação ao ano anterior, mesmo que a administração vigente do país não valorizar os investimentos em renováveis. (BLOOMBERG, 2018) Já o grupo econômico que compreende a Europa, Africa e os Emirados Árabes Unidos (EMEA) se manteve relativamente estável, quando leva-se em consideração a redução do mercado Europeu. Isso é justificado pelo desenvolvimento do mercado de países do Oriente Médio, que diferente de outros mercados, concentra sua capacidade instalada em projetos de grande escala. Os dois maiores projetos a 20 serem comercializados no ano de 2017 estão no país: a) a usina solar Marubeni JinkoSolar e Adwea Sweihan com 1,2 GW tendo um investimento de USD 899 milhões e b) a usina solar Sheikh Mohammed Bin Rashid Al Maktoum III, uma instalação com 800 MW com investimentos de aproximadamente USD 968 milhões. (BLOOMBERG, 2018) Neste mesmo contexto, a Figura 6 apresenta a proporção dos investimentos em energia fotovoltaica por região. Figura 6. Investimentos globais em energia solar por região, 2013-2016. Fonte: Bloomberg New Energy Finance, 2018. A região da Ásia se destaca, com aumento de 75% nos investimentos, passando de USD 28 bilhões em 2013 para USD 49 bilhões em 2016. Os maiores investimentos vieram da China, dado principalmente pelas incorporadoras que aceleraram seus projetos no país, para que estes não fossem atingidos pela redução das Feed-in tariffs. (IRENA, 2018) Para projetos anunciados em 2017, os integradores serão beneficiados com as antigas feed-in tariffs somente se completarem a usina até 20 de Junho de 2018, justificando os grandes investimentos na área no curto período de tempo. (IRENA, 2018) Nas Américas o crescimento de USD 16 bilhões em 2013 para USD 32 bilhões é justificado pelo crescimento constante nos EUA, aumentando de USD 13 bilhões para USD 31 bilhões em 2016, um crescimento anual composto de 30%. (IRENA, 2018) Nos países membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Economico (OECD) da Asia os investimentos foram estáveis de 2013 a 2015, com 21 média de USD 33 bilhões anuais até 2016, quando reduziram para USD 13 bilhões. Isso ocorreu principalmente pelo Japão, onde os investimentos passaram de em média USD 31 bilhões entre 2013 a 2015 antes de cair para 12 bilhões em 2016, quando as tarifas Feed-in foram reduzidas (IRENA, 2018). A Figura 7 busca ilustrar as políticas japonesas apresentadas anteriormente. Figura 7. Investimentos japoneses em energias limpas por setor, 2004-2017. Fonte: Bloomberg New Energy Finance, 2018. Diferente do Mercado europeu, o Japão demandou mais tempo para atingir a sua quantidade máxima de investimentos, devido principalmente aos acontecimentos que levaram a energia solar a ser pauta no país, como foi mencionado no capítulo anterior. As quedas na região da Europa Ocidental também são justificadas pela redução das feed-in tariffs, principalmente no Reino Unido onde houve uma redução de mais de 50% entre 2015 e 2016. (IRENA, 2018) Na região da Ásia também exite uma parcela do crescimento da India, onde em 2016 chegou a ser investido USD 8 bilhões em energia solar. A Figura 8 ilustra o crescimento dos investimentos em energia solar, comparando-os com os investimentos em outras energias limpas. 22 Figura 8. Investimentos globais em energias limpas por setor, 2004-2017. Fonte: Bloomberg New Energy Finance, 2018. Nota-se que os maiores investimentos em 2006 eram em energia eólica, bioenergia, estando a energia solar em terceiro lugar. A partir de 2010 os maiores investimentos globais em energia limpa se concentram na energia solar, sendo 50,4% maiores em 2017 que a energia eólica. (BLOOMBERG, 2018). A seguir serão apresentados detalhes de cada região definidas como mais relevantes para o desenvolvimento do mercado fotovoltaico: Europa, China e EUA. 2.1 EUROPA O cenário Europeu chama atenção pelo declínio da energia solar. O destaque no continente é para a energia eólica, em especial a offshore, que tem sua capacidade instalada aumentada nos últimos anos devido o seu grande potencial e foi consolidado a partir de 2015 nas águas britânicas e alemãs. O mercado de solar na Europa é caracterizado por rápido desenvolvimento em alguns países como Itália e Alemanha, como apresentado ao longo do trabalho. No caso da Itália, antes dos seus principais incentivos a energias renováveis, em 2006, o total de investimentos no país era de USD 2 bilhões. Os investimentos chegaram a USD 32,3 bilhões em 2011 (BNEF, 2018). Finalmente, em 2014, os investimentos sofreram redução a ponto de totalizar USD 1,7 bilhões. A variação levou o país a instalação da capacidade de atender mais de 10% da sua enegia consumida, totalizando mais de 20 GWp. A queda dos investimentos 23 na área foi causada por cortes retroativos nas Feed-in em 10% ao ano, chegando a 25% em alguns casos, como medida do Primeiro-Ministro, Matteo Renzi de reduzir as contas de eletricidade para pequenas e médias empresas em um total de mais de 800 milhões de euros por ano. O impacto da rápida adoção da energia solar teve como consequências a falência de várias empresas no setor, redução de mais de 10 mil empregos além de reduzir o retorno de empreendimentos já realizados. (THE FINANCIAL TIMES, 2018). O caso da Alemanha é similar ao da Itália e é ilustrado na Figura 9. Figura 9. Investimentos em energias limpas por setor na Alemanha, 2004-2017. Fonte: Bloomberg New Energy Finance, 2018. Houve um crescimento constante de 2004 a 2009, quando em 2010, impulsionado pelos acordos europeus para adoção de energias limpas e redução da emissão de gases do efeito estufa, os incentivos públicos chegaram ao seu máximo. O efeito foi o crescimento inesperado de capacidade instalada, chegando a ponto dos Estados serem obrigados a reduzir ou até mesmo parar de subsidiar a contratação de mais energia, dessa vez vinda de fontes renováveis, em especial a solar. A Figura 10 ilustra o cenário macro da União Européia. 24 Figura 10. Investimentos europeus em energias limpas por setor, 2004-2017. Fonte: Bloomberg New Energy Finance, 2018. O mercadoEuropeu foi impulsionado principalmente pelas políticas climáticas da União Européia, em reduzir a emissão dos gases do efeito estufa (GHG) em 40% até 2030, comparado com os níveis em 1990, e atingir pelo menos 27% de participação das renováveis na matriz energética em 2030. Desde 2005 a geração em energia fotovoltaica na Europa passou de 1,9 GW em 2005, 95,4 GW em 2015 para mais de 100 GW em 2016. A meta anterior era de 83,7 GW até 2020, definido pela National Renewable Energy Action Plans (NREAPs). A meta foi atingida ainda em 2014 quando foi alcançado o valor de 88,4 GW. O crescimento exponencial foi um dos motivos da redução dos investimentos em energia solar, reduzindo drasticamente o seu tamanho e consequentemente crescimento. Nota-se que a redução dos investimentos na Europa foram influenciados, principalmente pela redução dos incentivos na Alemanha. Nos anos em que a fonte solar fotovoltaica começou a decair no país, os investimentos em toda a Europa sofreram uma queda e o mesmo aconteceu nos anos em que se observam os maiores investimentos. 2.2 CHINA A partir de 2015, a capacidade instalada total de energia fotovoltaica na China atingiu 43,18 GWp, com isso a China se tornou o país com a maior capacidade instalada de geração de energia fotovoltaica no mundo. (REUTERS, 2017) 25 Atualmente a capacidade instalada das usinas fotovoltaicas da China é 125,79 GWp. A Figura 11 ilustra o rápido crescimento da sua capacidade instalada. Figura 11. Crescimento capacidade instalada na China, 2007-2017. Fonte: REN21, 2018. Em 2017, a China aumentou sua capacidade instalada em cerca de 20 GWp além do previsto. Além disso, o país é um dos maiores produtores das células fotovoltaicas. Portanto também fornece suporte efetivo para o desenvolvimento do mercado fotovoltaico. Além do desenvolvimento, da fabricação de equipamentos e da progressiva tecnologia utilizada no país, a geração de energia solar precisa contar com apoio político, fornencendo subsídios diferentes no país como mencionado no capítulo anterior. A Figura 12 ilustra o rápido crescimento dos investimentos em energias renováveis na China, grande destaque no setor nos últimos anos. 26 Figura 12. Investimentos da China em energias limpas por setor, 2004-2017. Fonte: Bloomberg New Energy Finance, 2018. No total, a China investiu USD 132,6 bilhões em geração de energia limpa, montante que representa um salto de 24% comparado com 2016. (BLOOMBERG, 2018 (b)). Principalmente através das empresas locais, incentivando desde as empresas de pequeno porte a empresas que produzem em larga escala. Isso aconteceu por duas razões principais: i) apesar do crescente uso de subsídios e do aumento da energia não injetada na rede, as autoridades reguladoras chinesas, pressionadas pela indústria, agiram com lentidão para inibir a construção de projetos de larga escala fora das quotas ii) o custo da energia solar continua caindo na China, e cresce o número de projetos em telhados, parques industriais e outros locais para geração distribuída – sistemas não limitados por quotas governamentais como foi comentado anteriormente, com isso, grandes consumidores de energia na China estão instalando painéis solares para suprir sua própria demanda, com subsídio mínimo. 2.3 EUA O segundo país que mais investiu em energia limpa foi os EUA, com USD 56,9 bilhões, montante 1% superior ao de 2016, devido ao alto potencial gerador do país. Em 2018, os EUA decidiram impor tarifas sobre a importação de painéis solares, com isso deve-se estimular o financiamento de mais projetos em mercados emergentes da Europa e Ásia. Embora o objetivo do país seja a promoção da 27 indústria local, o efeito colateral dessa decisão, será a limitação de recursos para usinas solares nos EUA, não obstante a menor simpatia inicialmente demonstrada pela administração do atual presidente Donald Trump em relação às fontes de energia renovável e a saída dos EUA no Acordo Paris, que será apresentado ao longo do trabalho Ao deixar o acordo, os EUA estarão abdicando de ocupar um papel de liderança em um tema de relevância global, além de tornar o acordo mais fraco. 2.4 ORIGEM DOS INVESTIMENTOS Os investimentos em energias renováveis são expressivos e devem ser avaliados o seu propósito e origem. Nesse contexto existem investimentos públicos e privados. Ambos possuem diferentes metas, são operados por fontes e instrumentos distintos e mostram tendências geográficas e tecnológicas diferentes. Entre 2013 e 2016 investimentos privados corresponderam a 87% dos investimentos em energias renováveis, chegando a USD 300 bilhões em 2015. Já a participação de investimentos públicos varia de 12% a 16% entre 2013 e 2015, com uma média de USD 40 bilhões, antes de reduzir para USD 21 bilhões em 2016. (IRENA, 2016). Mesmo parecendo pouco, os investimentos públicos são essenciais para incentivar a adoção de novos modelos de negócios, incluindo instrumentos regulatórios e incentivos fiscais. No total 147 países tinham em vigor algum tipo de incentivo a energias renováveis no ano de 2016 como apresentado no capítulo anterior (REN21, 2017). A Figura 13 apresenta o aumento dos investimentos privados, que ilustra o amadurecimento do mercado em comparação aos investimentos públicos. 28 Figura 13. Investimentos públicos e privados em energias renováveis, 2013-2016 Fonte: IRENA, 2018. É importante destacar que investidores privados favorecem projetos nacionais, representando 93% entre os anos de 2013 e 2015, possivelmente por ser um cenário mais confiável para os mesmos. O investimento público, por sua vez, é mais balanceado entre projetos nacionais e internacionais. (IRENA, 2018) A seguir será comentado a diferença da origem dos investimentos e seu impacto. 2.4.1 INVESTIMENTOS PRIVADO Investimentos privados são originários de integradoras de energia solar, corporações, instituições financeiras comerciais, famílias e investidores institucionais, bem como fundos de private equity, capital de risco e infra - estrutura. As integradoras contribuíram com uma média anual de 40% do investimento privado total em fontes renováveis, menos de USD 100 bilhões por ano, entre 2013 e 2016. Isso foi impulsionado principalmente por desenvolvedores na China, Japão, Reino Unido e EUA. As instituições financeiras comerciais representaram uma média de 23% da participação de investimento entre 2014 e 2016, atingindo USD 69 bilhões em 2015. A participação das corporações, muitas vezes produzindo eletricidade para consumo próprio, caiu 27%, em média, entre 2013-2014 e 14%, em média, entre 2015-2016, atingindo um baixo valor em 2014 com USD 56 bilhões de investimento. Isso foi impulsionado em parte pelo declínio dos investimentos de energia solar por empresas japonesas de USD 23 bilhões em 2015 para apenas USD 7 bilhões em 2016, provavelmente em resposta a mudanças na feed-in tariffs. 29 As ações de investidores institucionais e de private equity, capital de risco e infra - estrutura permaneceram em menos de 1% entre 2013 e 2016, como pode ser observado na Figura 14, atingindo um pico em 2015 em torno de USD 3 bilhões, não ultrapassando a marca de 5% dos investimentos totais. Figura 14. Investimento privado em energias renováveis por tipo de investimento, 2013- 2016. Fonte: IRENA, 2018. Notavelmente, o papel dessas fontes pode ser subestimado, pois os dados apresentados pelo estudo capturam apenas o financiamento primário de greenfield e excluem o refinanciamento, as aquisições ou as atividadesdo mercado secundário. Em países mais desenvolvidos investidores financeiros, como fundos de investimentos, estão realizando as primeiras aquisições no mercado secundário. Essa é uma tendência para os próximos anos, principalmente devido a longa vida útil dos projetos. São necessários mais dados e trabalhos para proporcionar uma melhor compreensão do papel dos investidores institucionais no financiamento das energias renováveis e suas tendências. 2.4.2 INVESTIMENTOS PÚBLICOS Investimentos públicos representam um fator chave para o desenvolvimento de novos projetos, cobrindo riscos dos projetos e amadurecendo mercados. No caso, os gastos em sua maior parte são direcionados para o desenvolvimento e implementação de políticas ao invés do investimento direto no projeto. 30 Os principais fornecedores de financiamento público para energias renováveis são os agências de fomento, fundos climáticos e instituições financeiras de desenvolvimento. Development Finance Institutions (DFI), podendo ser: nacional, multilateral e bilateral, representou a maioria do investimento público entre 2013 e 2015, uma média de USD 35 bilhões ou 85% do investimento público total durante esse período. Em 2016, no entanto, a contribuição das DFIs diminuiu acentuadamente para USD 16 bilhões, representando 73% do total de finanças públicas. Isso deve-se principalmente a uma queda no orçamento de DFIs nacionais, que era em média USD 15 bilhões durante 2013-2014, atingiu o máximo de USD 23 bilhões em 2015 e caiu para USD 4 bilhões em 2016. Uma explicação plausível para esse declínio é que as DFI nacionais nos mercados emergentes, particularmente na China, reduziram consideravelmente os investimentos devido à volatilidade econômica, incluindo desvalorizações cambiais em relação ao dólar norte-americano (BUCHNER et al., 2017). A Figura 15 apresenta a segmentação dos diferentes agentes de fomento. Nota-se que as empresas estatais incluídas têm ao menos 50% de sua participação do governo. Figura 15. Investimento público em energia renovável por fonte, 2013-2016 Fonte: IRENA, 2018. A despesa de DFIs multilaterais sobre energia renovável também caiu, de uma média de USD 14 bilhões em 2013-2014 para uma média de USD 9 bilhões durante 31 2015-2016. O financiamento por parte dos governos e suas agências aumentou de USD 3 bilhões em 2013 para cerca de USD 4 bilhões em 2015 e 2016, chegando a USD 7 bilhões em 2014. O financiamento por parte de empresas estatais em média foi de 24%, o equivalente a USD 9,3 bilhões de finanças públicas em 2013, caindo para 14% em 2014, como o aumento do investimento em energia renovável também aumentou. Em 2015 e 2016, o financiamento por empresas estatais atingiu a média de 32% do total das finanças públicas, caindo em termos absolutos em 2016, já que o investimento de tais empresas na China diminuiu a partir de 2015. 2.5 TECNOLOGIA E SEUS CUSTOS A energia solar possui diferentes modalidades, sendo divida em três classes: i. Geração centralizada ligada à distribuidora: São conhecidas como Usinas ou Utility Scale. Recebem essa classificação os projetos a partir de 1 MW, descentralizados, ou seja, não conectados diretamente ao lugar de consumo da energia. ii. Geração descentralizada ligada à distribuidora: É conhecido como Geração Distribuída no Brasil e engloba os sistemas residenciais e menores que 1 MW. iii. Geração Off-Grid: Geração em sistemas remotos, onde a energia sobressalente é armazenada em baterias. Devido a atratividade econômica e a grande proporção dos projetos, que será apresentada a seguir, a geração solar centralizada está claramente em tendência de crescimento. A Figura 16 ilustra a grande proporção das usinas solares frente geração Off-Grid e distribuída no mundo. 32 Figura 16. Segmentação das instalações de energia solar, mundialmente, 2006 - 2016. Fonte: IEA PVPS, 2017. Além da tendência de crescimento dos projetos de Usinas, temos também a redução nos seus custos, como mostra a Figura 17. Figura 17. Decomposição dos custos da energia solar (USD/Watt), 2010 - 2017. Fonte: NREL, 2017 33 Houve uma queda significante nos valores dos seus componentes. No caso estudado, chamado de Utility-Scale, vemos a redução de todos os itens de custo, principalmente dos módulos, além de ser a energia mais econômica dentre as quatro apresentadas no estudo (NREL, 2017). Outros custos, como mão de obra também foram reduzidos. O estudo mostra como a energia solar ganhou escala nos últimos anos, e não foi somente a redução do valor dos módulos solares, mas sim de todos os componentes do sitema, que causaram essa grande redução nos custos da energia solar, resultando no seu rápido crescimento ao longo dos últimos anos. 2.6 IRRADIAÇÂO ENERGIA SOLAR Outro fator importante da energia solar é a sua fonte. Países que possuem mais radiação do sol consequentemente tem um potencial maior, sendo fundamental entender o a sua dimensão em escala global. A Figura 18, detalha a incidência da radiação solar no globo. Figura 18. Potencial da energia solar por região. Fonte: MME, 2017. Nota-se na Figura 18, regiões com valores acima de 3.000 kWh/m²/ano, como Austrália, norte e sul da África, Oriente Médio, parte da Ásia Central e parte da Índia. Nas Américas temos o sul dos EUA, além de México, Chile e Perú, valores atraentes para a geração de energia solar. O Brasil se destaca por sua irradiação média anual que varia entre 1.200 e 2.400 kWh/m²/ano, bem acima da média da Europa. (MME, 2017) O destaque no Brasil vai para o Nordeste, com a maior média e a menor variabilidade anual entre todas as regiões geográficas. Existem ainda, durante todo ano, condições climáticas que conferem um regime estável de baixa nebulosidade e alta incidência de irradiação solar para essa região semiárida. 34 2.7 METAS CLIMÁTICAS Acordos sobre sustentabilidade em escala global vêm se intensificando durante os últimos anos. O maior destaque é o aumento da temperatura média global, que comprovadamente cresceu nos últimos anos como mostra a Figura 19. Figura 19. Aumento da Temperatura global. 1880- 2020. Fonte: NASA, 2018. De acordo com o núcleo de pesquisa Global Climate Change (2018), da Nasa, além de pesquisas semelhantes da Climatic Research Unit (2017) e da National Oceanic and Atmospheric Administration (2017), os últimos anos foram os mais quentes da história, com 2016 sendo o ano recorde. A partir do consenso global, o Acordo de Paris foi assinado em 2015 durante a 21ª Conferência das Partes (COP21) da UNFCCC. O acordo foi aprovado por 195 países com o objetivo de redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) no contexto do desenvolvimento sustentável. O compromisso é de manter o aumento da temperatura média global em menos de 2°C acima dos níveis pré-industriais e de envidar esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais. É estimado que caso nenhuma ação seja tomada a temperatura global pode chegar à sofrer aumento de 3,8°C até 2100. A Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) do Brasil para o Acordo de Paris, na parte sobre energia, se propõe à: “iii) No setor de energia, atingir 45% da matriz energética em renováveis até 2030, incluindo: 35 - Expandir o uso de energias renováveis que não seja hidroelétrica na matriz energética em 28% a 33% até 2030; - Expandir o uso de combustíveis não fósseis no mercado doméstico, aumentar a participação de renováveis em 23% até 2030, incluindo o aumento de eólica,solar e biomassa; - Atingir eficiencia de 10% em ganhos no setor elétrico até 2030” Segundo estudos recentes da IRENA (2017), a meta pode ser atingida a longo prazo, se a participação de energias renováveis na matriz energética subir de 15%, nível de 2015, para 65% até 2050. Será necessário apoio dos governos por meio de planos chamados de Nationally Determined Contributions (NDCs) além de investimentos. Para atingir essa meta estima-se um investimento total de USD 25 trilhões até 2050, ou seja, triplicar o investimento atual no setor. Os investimentos serão públicos e privados, sendo o setor público essencial para o desenvolvimento do mercado, pois cria e executa políticas para atrair investidores privados, principalmente em mercados emergentes. Para o setor privado, os ganhos de escala nas renováveis são essenciais para serem um investimento atrativo, incluindo a redução dos custos das tecnologias. O mercado como um todo está privilegiando as fontes eólicas onshore e offshore, além da solar, objeto do trabalho. Os próximos passos dependem principalmente dos grandes mercados de energia, como a China, India e EUA, além do posicionamento dos mercados mais desenvolvidos como na Europa. Atualmente o desenvolvimento da indústria, consolidação da regulamentação de mercado e mecanismos de compra, como leilões, serão fundamentais para a atratividade do setor para capital privado, e assim cumprimento da meta global. O terceiro capítulo apresentará uma análise histórica do uso de energia fotovoltaica no Brasil, seus problemas, panorama elétrico atual e perspectivas para o futuro, a partir de dados fiscais e regulatórios. 36 3 ENERGIA FOTOVOLTAICA NO BRASIL De acordo com dados da Agência Internacional de Energia (2017), Brasil, Rússia, Índia e China representam 32% da demanda mundial de energia. Entre eles, o destaque é a China que representa 19% da demanda mundial de energia. A Rússia vem em seguida com 6% da demanda mundial, seguida da Índia com 5% e, finalmente, Brasil com 2%. (FERREIRA, 2017) Nesse contexto, a energia hidrelétrica é a principal fonte de energia para a geração de eletricidade no Brasil, representando 68,1% da potência instalada, como mostrado na Figura 20. Figura 20. Matriz energética brasileira, em 2016. Fonte: EPE, 2017. A energia hidrelétrica é considerada renovável e limpa, no entanto, a aplicação é restrita devido aos impactos ambientais causados pela inundação de grandes áreas, pela emissão de metano (CH4), resultante da degradação anaeróbia de material orgânico submerso por inundações e devido à dependência hidrológica da região a ser implementado. Por outro lado, órgãos públicos como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), Secretaria de Assuntos Especiais (SAE) e Ministério do Meio Ambiente vem identificando mudanças climáticas que podem comprometer a capacidade de geração de energia vinda de hidrelétricas, o que pode dificultar e/ou inviabilizar novas construções (GIRARD, 2015). A adoção de energias de fontes renováveis vem ganhando atenção nos últimos anos principalmente pelas informações apresentadas anteriormente. 37 Atualmente a participação da fonte solar na matriz energética brasileira representa apenas 0,02% do total produzido no país, como visto na Figura 20. O Brasil é um país localizado na região intertropical, tendo grande potencial para a utilização da energia solar ao longo do ano (MME, 2017). O uso da energia solar traz benefícios a longo prazo para o país, possibilitando o desenvolvimento de regiões remotas onde o custo da energia elétrica pela rede convencional é muito alto em relação ao retorno financeiro do investimento, regulando o suprimento de energia durante períodos de seca. Existe uma grande variedade de possibilidades no meio e o uso a longo prazo desta abundante forma de energia renovável: variando desde pequenos sistemas fotovoltaicos independentes a grandes usinas de geração centralizada. (FERREIRA, 2017) Nesse contexto, o desenvolvimento do setor de energia renovável no Brasil, atraiu empresas chinesas como Huawei, Goldwind, BYD and Yingli. A empresa State Grid Corporation da China, por exemplo, está no processo de assumir a companhia elétrica brasileira CPFL Energia, uma compra que será a maior já realizada por uma empresa chinesa no Brasil. (CPFL, 2018) Além disso temos as poíticas de conteúdo local, atraindo fabricantes como a Canadian Solar e empresas de energia europeias como a Engie e EDF. Um país como o Brasil, que já apresenta uma matriz com forte presença de energia renovável, uma maior inserção da energia solar diminuiria, cada vez mais, a dependência da energia de origem fóssil cumprindo com as metas ambientais mundiais e reduzindo riscos com incertezas climáticas, como a crise hídrica que afeta os reservatórios do país nos últimos anos. 3.1 POTENCIAL DA ENERGIA SOLAR BRASILEIRA De acordo com o estudo realizado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) no ano de 2014, concluiu-se que se todo o potencial de geração de energia solar nas residências e comércios brasileiros fosse aproveitado com sistemas fotovoltaicos, o país produziria 283,5 milhões de MWh por ano. Esse volume de energia seria suficiente para abastecer mais de duas vezes o atual consumo doméstico de eletricidade, que é de 124,8 milhões de MWh por ano. Tais fatores atraem investidores e o desenvolvimento do mercado interno, demonstrando que a energia fotovoltaica pode ter um papel importante na matriz energética nacional. Entretanto, é possível verificar um baixo aproveitamento da 38 energia fotovoltaica no território brasileiro. Por exemplo, o estado de Santa Catarina é caracterizado por registrar o menor índice de radiação solar do Brasil, com cerca de 4,25 kWh/m2 (EPE, 2012); mas corresponde a quatro vezes mais a radiação total da Alemanha, considerada uma das líderes mundiais em aproveitamento de energia fotovoltaica. Por outro lado, a Europa possui instalados 88 GW de energia fotovoltaica, enquanto o Brasil detém em torno de 1GW. (PORTAL SOLAR, 2016) Pode-se, então, afirmar que o Brasil deve incrementar o uso da energia vinda de radiações solares. A Figura 21 traz uma comparação dos valores de irradiação solar do Brasil e da Europa. No ano de 2016, a irradiação média anual do Brasil variou entre 1.200 e 2.400 kWh/m2, valores que são significativamente superiores a maioria dos países europeus, cujas estatísticas indicam intervalos entre 900 e 1.250 kWh/m2/ano na Alemanha, entre 900 e 1.650 kWh/m2/ano na França e entre 1.200 e 1.850 kWh/m2/ano na Espanha (EPE, 2012). As maiores irradiações solares no Brasil, como mostra a Figura 21, estão no Centro-Oeste, interior do Nordeste e o Sudeste, respectivamente. Figura 21. Irradiação solar no Brasil e Europa, 2016. Fonte: PortalSolar, 2016. 39 3.2 REGULAMENTAÇÃO E LEGISLAÇÃO DA ENERGIA SOLAR A partir de 2012, o governo brasileiro iniciou uma alteração na legislação vigente afim de desenvolver o setor fotovoltaico, através de um conjunto de incentivos para uma maior inserção desse setor em sua matriz energética. É importante destacar, nesse contexto, que a Resolução 482 da Aneel, publicada em 2012, foi a responsável pelo surgimento da indústria viabilizando a geração distribuída aos sistemas de distribuição de energia elétrica nacionais. As definições e atualizações se encontram no Anexo A. Uma intervenção do Ministério de Minas e Energia para maior inserção da fonte solar (fotovoltaica e heliotérmica) na matriz energética que merece destaque foi a inclusão da mesma, nosleilões de energia A-3/2013 e A-5/2013, através das Portarias n° 226/2013 e n°300/2013, respectivamente. A partir disso, a energia solar passou a competir na modalidade “por disponibilidade” com outras fontes, como a eólica e as térmicas. Apesar da geração de energia solar fotovoltaica ainda ser incipiente, existem diversos incentivos governamentais. Os principais incentivos existentes para geração centralizada são apresentados a seguir: a) Debêntures incentivadas: isenção de pessoas físicas do Imposto de Renda sobre rendimentos relacionados à emissão de debêntures, por sociedade de propósito específico, e outros títulos voltados para a captação de recursos para projetos de investimento em infraestrutura ou pesquisa e desenvolvimento; b) Condições diferenciadas de financiamento para empreendimentos de energia solar; c) Leilões de compra de energia elétrica com produto específico para fonte solar. Apesar do grande número de incentivos para desenvolvimento da geração solar fotovoltaica e dos resultados obtidos nos últimos anos, ainda há muito que precisa ser feito para que a fonte solar se consolide na matriz energética nacional. Na próxima seção apresentar-se-á as formas de contratação de energia solar com suas peculiaridades. 40 3.3 FORMAS DE CONTRATAÇÃO DE ENERGIA SOLAR Segundo a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) os leilões são a principal forma de contratação de energia no Brasil. Por meio desse mecanismo, concessionárias, permissionárias e autorizadas de serviço público de distribuição de energia elétrica do Sistema Interligado Nacional (SIN) garantem o atendimento à totalidade de seu mercado no Ambiente de Contratação Regulada (ACR). O responsável pelos leilões de energia elétrica é a CCEE, por delegação da Aneel. O principal mecanismo de comercialização por parte da Integradora é através de contratos de venda de energia a uma tarifa fixa através de um Power Purchase Agreement (PPA), o qual representa um contrato de compra de energia. O valor da energia comercializada, garantias de faturamento, condições e período de contratação são essenciais para verificar a viabilidade de uma PPA. (MILBANK, 2018) Para tornar viável o empreendimento, é utilizado o instrumento de Project Finance, onde é criado uma SPE para financiamento, incluindo dívidas além de capital próprio. Nesse caso a dívida é reembolsada para o financiador usando os fluxos de caixa gerados a partir da operação do projeto e tem como garantia os próprios ativos ou contratos do mesmo. A primeira prioridade sobre os fluxos de caixa é dada ao credor e seu consentimento é requerido caso o patrocinador queira desembolsar qualquer fluxo de caixa excedente. Projetos com maior risco e tamanho podem exigir mais garantias. No caso de projetos de infraestrutura voltados para a geração de energia solar, objeto de estudo deste trabalho, os compradores são, usualmente, o próprio Governo e o fazem através de leilões de venda de energia. Neste caso, existem os PPAs e a compra de energia acontece no Ambiente de Contratação Regulada (ACR). Os compradores também podem ser empresas e indústrias, que comprar energia no Ambiente de Contratação Livre (ACL). Segundo a CCEE, a comercialização de energia no Brasil é realizada em duas esferas de mercado: o Ambiente de Contratação Regulada (ACR) e o Ambiente de Contratação Livre (ACL). Todos os contratos, sejam do ACR ou do ACL, têm de ser registrados na CCEE, e servem de base para a contabilização e liquidação das diferenças no mercado de curto prazo. 41 A Tabela 2 mostra a diferença entre os dois ambientes. Fonte: Elaboração do autor com base em MME, 2017. Na próxima seção apresentar-se-á um histórico dos leilões de compra de energia realizados no Brasil entre os anos de 2013 e 2017 e as diretrizes, já divulgadas, para o leilão que será realizado em abril de 2018. 3.4 LEILÕES DE COMPRA DE ENERGIA A realização de leilões para expansão da oferta de energia elétrica foi um mecanismo introduzido na reforma do setor elétrico a fim de aumentar a sustentabilidade do setor energético brasileiro. Sem os leilões seria difícil conseguir o equilíbrio entre oferta e consumo de energia elétrica e consequentemente aumentar-se-iam os riscos de falta de energia e racionamento. Estes leilões de compra de energia são divididos de acordo com o tipo de empreendimento: Leilões de Energia Nova ou Leilões de Energia Velha (existente). Os chamados leilões de energia existente são aqueles destinados a atender as distribuidoras no ano subsequente ao da contratação (denominado A-1) a partir de energia proveniente de empreendimentos em operação. Já os leilões de energia nova destinam-se à contratação de energia proveniente de usinas em projeto ou em construção, que poderão fornecer energia em 3 (denominado A-3) ou 5 (A-5) anos a partir da contratação. Esta segmentação é necessária porque os custos de capital dos empreendimentos existentes não são comparáveis aos de empreendimentos novos, ainda a ser amortizados. (ABRADEE, 2017) Tabela 2. Formas de contratação de energia no Brasil. 42 Já os Leilões de Energia de Reserva (LER) contratam a energia de reserva destinada a aumentar a segurança no fornecimento de energia elétrica ao Sistema Interligado Nacional (SIN), realizados pela CCEE. A geração das usinas comprometidas com estes leilões é paga por meio do recolhimento do Encargo de Energia de Reserva - EER (Decreto nº 6.353/2008 e Resolução Normativa Aneel nº 337/2008). A CCEE arrecada o encargo junto aos consumidores e realiza o pagamento aos geradores por meio da Conta de Energia de Reserva – Coner, nos termos do artigoº do Decreto nº 6.353/2008, sendo a instituição a responsável pela gestão dos recursos financeiros desta conta. Para viabilizar os projetos de energia solar no Brasil, a forma de compor a tarifa da energia de reserva foi feita de modo que todos os agentes que consomem energia elétrica paguem pela tarifa de reserva. Dessa forma, o pagamento da tarifa de energia de reserva difere das tarifas dos leilões de energia velha e nova, que ficam restritas ao mercado cativo. Como todos os agentes irão pagar pela energia de reserva, o valor final da tarifa ficará diluído. A contratação da energia de reserva tem por objetivo, ainda, reduzir os riscos de desequilíbrio entre a oferta e demanda de energia elétrica. Tais riscos decorrem, principalmente, de atrasos imprevisíveis de obras, ocorrência de hidrologias muito críticas e indisponibilidade de usinas geradoras (MME, 2017). Os leilões têm como objetivo i. contratar energia pelo menor preço possível; ii. atrair investidores para construção de novas usinas objetivando à expansão da geração; e iii. reter a geração existente. 3.5 SISTEMÁTICA DOS LEILÕES DE ENERGIA DE RESERVA A sistemática dos leilões segue as diretrizes da Portaria MME nº 377 que estabelece duas etapas distintas para a disputa: a etapa uniforme e a etapa discriminatória. O leilão tem início pela etapa uniforme, em que a inserção de lances de quantidade ocorre na primeira rodada, simultaneamente, para os três produtos. Neste momento, a partir de parâmetros e da quantidade desejada de Energia de Reserva, definidos pelo MME, o sistema calcula a oferta de referência dos produtos com o objetivo de garantir um nível mínimo de competição entre os participantes. A oferta de referência é o valor utilizado pelo sistema para decisão sobre o início de uma nova rodada uniforme - o que na prática significa um inflator 43 sobre a demanda de cada produto, para estimular um nível de competição adequado narodada discriminatória (rodada final de cada produto). Ao término de cada rodada da etapa uniforme, a decisão sobre a realização de uma nova rodada ocorre para cada produto, a partir da comparação entre a soma dos lotes inseridos no sistema pelos proponentes vendedores e a oferta de referência calculada para o produto. Nessa etapa, os preços são decrescentes e, a cada rodada uniforme, o empreendedor decide se mantém as suas ofertas ao preço corrente do certame. Quando a oferta dos projetos for inferior à oferta de referência do leilão, o sistema irá encerrar a etapa uniforme. Segue-se, então, para a etapa discriminatória, que tem início com oferta maior que a demanda com o inflator, o que permite realizar esta rodada com um nível adequado de competição. É este nível de competição que incentiva o proponente vendedor a realizar uma redução de preço final, dado o risco de não contratação. Nessa etapa participam todos proponentes vendedores que ofertaram energia na penúltima rodada uniforme. A partir de então, os proponentes vendedores submetem o preço de venda em reais por MWh. Por fim, a sistemática prevê que as usinas vencedoras sejam aquelas com menor preço, sendo que os projetos são contratados até que a oferta atenda à demanda das distribuidoras considerada pela sistemática. O vendedor, quando da definição do lance, teve que explicitar o montante de consumo interno da usina e as perdas elétricas até o centro de gravidade. Dessa forma, ressalta-se a obrigação de que os geradores considerem as perdas no momento de submeter os lances; o objetivo da exigência é garantir que os empreendedores não vendam montantes acima do apurado no centro de gravidade na contabilização do mercado de curto prazo, no âmbito da CCEE. 3.5.1 LEILÕES DE ENERGIA NOVA A-3/2013 E A-5/2013 O Leilão de Energia A-3/2013 foi o primeiro leilão público de comercialização de eletricidade em que a fonte solar participou e por sua vez, demonstrou o grande interesse por parte dos investidores neste tipo de energia. Para este leilão obteve- se 31 centrais de geração fotovoltaica habilitadas com potência instalada de 813 MW, sendo o preço teto do leilão, para todas as fontes R$ 126/MWh. (EPE, 2013 (a)) Como resultado do leilão foram viabilizados 39 projetos que somam 876,6MW 44 de potência instalada, com supremacia da energia eólica, fechando com um preço médio de R$ 124,43. (CCEE, 2013) O Leilão de Energia A-5/2013 foi o segundo leilão em que a fonte solar participou, tendo 88 habilitações de projetos do tipo fotovoltaico com uma capacidade de 2.024 MW. (EPE, 2013 (b)) Porém nenhum projeto de energia solar foi contratado, mas por outro lado, houveram 97 projetos de energia eólica contratados, somando uma potência instalada de 2337,8 MW. Este leilão buscava assegurar a demanda de energia elétrica em 2018 e, devido à grande quantidade de projetos contratados, supre-se esta demanda para este ano. Estes leilões foram os marcos para a inserção da energia solar na matriz energética brasileira, pois a partir deles, a energia solar passou a competir diretamente com outras fontes. 3.5.2 6º LEILÃO DE ENERGIA DE RESERVA Como citado anteriormente, os Leilões de Energia de Reserva buscam assegurar a necessidade de energia elétrica, com isso o certame realizado em outubro de 2014, tinha como objetivo a compra de energia proveniente de projetos de energia eólia (EOL), fotovoltaica (UFV) e termelétrica à biomassa (TBO). Houve um número significativo de projetos incentivando a energia fotovoltaica ao longo do período de 2013 a 2014. Foram comercializados 31 projetos, que totalizaram a capacidade instalada injetada de 889,6 MW contratadas a um preço médio de R$ 215,12/MWh. (THYMOS, 2015). A quantidade e a capacidade instalada dos empreendimentos fotovoltaicos contratados no Leilão de Energia de Reserva de 2014 estão apresentadas na Figura 22. 45 Figura 22. Distribuição dos parques vencedores no Leilão de Reserva 2014 e suas respectivas potências instaladas, 2014 Fonte: THYMOS,2015. Nota-se a partir da Figura 22 que as contratações de projetos para energia fotovoltaica ocorreram, de forma majoritária, nas regiões Nordeste e Sudeste do Brasil, que são caracterizadas pelo maior potencial de irradiação solar. O 6º Leilão de Energia de Reserva movimentou ao todo quase R$ 16 bilhões, negociando 535,3 MW médios a um preço médio de venda de R$ 169,72 por MWh. A contratação do leilão adicionará 1.658,76 MW de potência ao Sistema Interligado Nacional (SIN) entre 2017 e 2037. O destaque deste leilão foi a histórica contratação de 202 MW médios de projetos de energia solar fotovoltaica, que pela primeira vez teve um produto exclusivo; e para o surpreendente deságio apresentado pela fonte, de 17,69% em relação ao preço inicial, atingido após 105 rodadas de lances. O preço médio de venda desta fonte foi de R$ 215,12 por MWh, ante um preço inicial de R$ 262,00 por MWh. Contudo, dos projetos contratados, apenas a usina de geração solar da Enel Green Power, em Tacaratu/Pernambuco se concretizou em 2017. (ENEL SOLUÇÕES, 2017) 46 O empreendimento em Tacaratu une o parque eólico Fontes dos Ventos, com potência de 80 MW as centrais Fontes Solar I e II, com capacidade de geração conjunta de 340 GWH/ano. (ENEL GREEN POWER, 2017) Os demais projetos vencedores do leilão em fase de finalização, fizeram a opção de compra dos equipamentos no mercado local e isso fez com que as empresas ganhassem mais um ano e meio de prazo para o início das operações. Ou seja, iniciaram as obras em junho de 2015 com uma capacidade instalada de geração de 82 MW. Houve apenas uma descontratação nesse Leilão, a usina de Dracena 3, em São Paulo. O projeto teve sua construção anulada e a empresa espanhola, Solatio Gestão de Projeto Solares Ltda, vencedora do leilão terá de palgar uma multa de R$ 2,3 milhões. 3.5.3 7º LEILÃO DE ENERGIA DE RESERVA 008/2015 O leilão realizado em novembro de 2015 tinha como objetivo a contratação de Energia de Reserva proveniente de empreendimentos de geração, a partir de fontes solar fotovoltaica e eólica, exclusivamente, destinada ao Sistema Interligado Nacional (SIN), para início de suprimento em novembro de 2018. O certame resultou na contratação de 231,5 MW médios, agregando 833,8 MW de capacidade instalada. O preço médio dos projetos foi de R$ 301,79/MWh. Apenas projetos de energia solar foram contratados neste leilão. 3.5.4 8º LEILÃO DE ENERGIA DE RESERVA 009/2015 Também em novembro de 2015, o leilão 009/2015 resultou na contratação de 33 empreendimentos de fonte solar, com capacidade de 929,3 MW e 262 MWmédio de garantia física. O preço médio de contratação foi de 297,74/MWh. Já de energia eólica foram contratados 20 projetos, resultando em uma potência instalada de 548,2 MW a um preço médio de R$ 203,3. Os leilões de 2015 mostram o maior crescimento dos investimentos na fonte solar frente à eólica. 47 3.5.5 LEILÃO DE ENERGIA NOVA A-4/2017 O mais recente Leilão de Energia Nova ocorreu em dezembro de 2017 e tinha como objetivo a contratação da demanda de energia declarada pelas distribuidoras, para atender seus consumidores. Os produtos destinados a empreendimentos que entraram no leilão foram: i. eólicos; ii. Solar fotovoltaicos; iii. termoelétricos a biomassa; e iv. pequenas centrais hidrelétricas. (EPE, 2018 (a)) Os prazos dos contratos variam de 20 a 30 anos a depender da fonte do leilão. Foram cadastrados neste leilão um total de 1.676 projetos, sendo 574 de energia fotovoltaica ofertando uma capacidade instalada de 18.352MW. (EPE, 2018 (b)). Destes 574 foram contratados pelas distribuidoras, apenas 0,03% de empreendimentos, ou seja, 20 projetos de energia solar com capacidade instalada de 574 MW a um preço médio de R$146/MW. (EPE, 2018 (a)). Neste leilão foram contratados 51 projetos de energia eólica, com preço médio de R$ 98,62 e capacidade de 1.450,6MW. Observa-se uma redução do valor do MWh comercializado, isso se deu devido à grande concorrência e presença de grandes grupos internacionais no leilão. Destacaram-se os italianos da Enel Green Power, com projetos eólicos e solares, a AES Tietê, da norte-americana AES Corp, que viabilizou usinas solares, além da EDP Renováveis, da portuguesa EDP, e da francesa Voltalia, que também viabilizaram empreendimentos. (REUTERS, 2017) Além disso, grande parte dos vencedores teve acesso a crédito estrangeiro e recursos de fundos, não se limitando apenas nos financiamentos de longo prazo do BNDES, como era praticado até então. (EPE, 2017) 3.5.6 LEILÃO DE ENERGIA NOVA A-4/2018 Assim como o leilão A-4/2017, o Leilão de Energia Nova A-4/2018 que está previsto para abril de 2018, tem como objetivo contratar energia elétrica proveniente de novos empreendimentos de energia elétrica oriunda de empreendimentos de geração de energia hidrelétrica, fotovoltaica e termelétrica a biomassa com prazo de suprimento de 30 anos para hidrelétrica e os demais 20 anos. (ANEEL, 2018) 48 A fim de resumir o resultado de todos os leilões realizados que tiveram em oferta energia fotovoltaica, a Tabela 3 apresenta um comparativo entre projetos contratados, preço médio, potencial gerador e investimentos esperados. Tabela 3. Comparativo entre todos os leilões com participação da energia solar. Fonte: Elaboração do autor com base em ANEEL, 2018. A Tabela 3 faz um comparativo entre os projetos contratados de energia fotovoltaica desde o primeiro leilão que houve um projeto contratado, ou seja, em 2014, e o preço médio por MW que estes empreendimentos foram contratados. Nota-se que em 2014 foram 31 projetos contratados a um preço médio de R$215,53/MW um número 1,6x maior que em 2017, porém o preço do MW médio aumentou cerca de 52% comparando o mesmo período devido a inflação. Um ponto a se destacar é que a maior parte das usinas em operação no Brasil foram equipadas com módulos importados, 67,15% são de origem externa e 31,85% dos painéis foram produzidos localmente, aumentando assim significativamente o custo da implementação dos projetos. (GREENER, 2017) 3.5.7 LEILÕES DE DESCONTRATAÇÃO O Mecanismo Competitivo de Descontratação de Energia de Reserva está previsto por meio Decreto nº 9.019, de 30 de março de 2017. As diretrizes foram definidas por meio da Portaria MME nº 151, de 18 de abril de 2017, e sua sistemática aprovada por meio da Portaria MME nº 200, de 18 de maio de 2017. Foram elegíveis à participação do mecanismo somente os empreendimentos cuja energia tenha sido contratada em leilão de energia de reserva e que, na data de publicação do Edital pela ANEEL, estivessem com os Contratos de Energia de Reserva - CER vigentes e não tivessem iniciado a operação em teste. (MME, 2017) Como resultado, teve-se, ao todo, descontratação de 183,2 MWmédios em energia. O prêmio médio pago pelas empresas participantes foi de R$ 66,02 por Leillão de Energia Nova Leilão Leilão 008/2014 Leilão 008/2015 Leilão 009/2015 Leilão 004/2017 Projetos Contratados 62 30 52 24 Projeto Solar 31 30 32 19 Preço Médio (R$/MW) 179 302 261 321 Preço Médio Solar (R$/MW) 216 302 297 329 PT (MW) 1.659 834 1.458 645 PT solar (MW) 890 834 909 544 Investimento Total (R$) 7.113.965.420 4.341.375.310 6.622.573.010 4.420.004.570 Investimento Solar (R$) 4.144.227.000 4.341.375.310 4.317.399.850 3.836.234.770 Leilão de Reserva 49 MWh em empreendimentos de usinas eólicas e solares contratados em leilões de energia de reserva e cuja construção não foi iniciada. (ANEEL, 2017 (b)) Ao todo, 25 empreendimentos de geração participaram do mecanismo que possibilitará a rescisão de contratos de 16 usinas eólicas e 9 usinas solares fotovoltaicas, resultando no ressarcimento de R$ 105.946.076,76 para a Conta de Energia de Reserva - Coner. (ANEEL, 2017 (b)) O prêmio inicial de R$ 33,68/MWh para todas as fontes negociadas teve ágio de 116% nos projetos eólicos (R$ 72,74/MWh) e de 49% nos projetos solares fotovoltaicos (R$ 50,27/MWh). Além do prêmio pago, os participantes que descontrataram ficam impedidos de participar dos dois próximos leilões de energia de reserva. (ANEEL, 2017 (b)) Em meio à crise econômica e o fraco consumo de energia, o certame teve como objetivo oferecer uma oportunidade para que as empresas que tiveram problemas e não conseguiram sair do papel cancelassem seus empreendimentos. Além do pagamento da multa, os participantes que descontrataram ficam impedidos de participar dos dois próximos leilões de energia de reserva. 3.6 POLÍTICA DE CONTEÚDO LOCAL A indústria de energia solar no Brasil ainda está avançando lentamente. O seu desenvolvimento esbarra na tributação do país, que dificulta a competição com o equipamento importado. Por outro lado, os projetos viabilizados dependem de financiamento do BNDES, agente público, que por sua vez exige um nível de conteúdo local dos equipamentos para conceder o financiamento. (CERNE, 2017) A política de conteúdo local tem como objetivo fortalecer o apoio do BNDES para ajudar a consolidar o mercado e a indústria de energia solar fotovoltaica no Brasil. Ao optar pela compra dos equipamentos de geração de energia solar nacionais, apesar de painéis brasileiros serem mais caros que os importados, as empresas ficam aptas a conseguirem financiamentos com o BNDES, além de facilitar outros financiamentos locais e também mitigar riscos cambiais (BLUESOL, 2017). A política de conteúdo local caminha em paralelo aos leilões de energia. A Figura 23 apresenta a dinâmica do setor fotovoltaico brasileiro. 50 Figura 23. Dinâmica do Setor FV no Brasil. Fonte: BNDES, 2017. Ao serem divulgados os editais para contratação de energia de reserva feitos pelo governo, há a análise dos requisitos mínimos obrigados a serem nacionais para que o BNDES seja um dos financiadores do projeto. Se forem obedecidos os requisitos, tem inicio a instalação das fábricas de equipamentos e o financiamento é liberado. Além disso, o governo ao promover ações de incentivo à geração distribuída, faz com que haja mais fornecedores de máquinas e equipamentos, favorecendo a redução de preços e aquecendo o mercado local. Partindo desse incentivo por parte do BNDES ao sertor de energia solar, o capítulo 4 analisará um dos empreendimentos vencedores do Leilão de Energia de Reserva de 2015, o Complexo de Pirapora, em Minas Gerais, visto que foi o primeiro projeto de energia solar financiado pelo BNDES. 51 4 ESTUDO DE CASO: COMPLEXO SOLAR PIRAPORA O empreendimento a ser estudado é a primeira usina fotovoltaica no país a receber financiamento pelo BNDES e conta com uma potência instalada de 150 MW, composta por cinco usinas – Pirapora V, VI,VII, IX e X – com potência instalada de 30 MW cada uma. As usinas comercializaram um total de 42 MW médios (8,4 MW médios cada). Os acionistas são a francesa EDF e a Canadian Solar, responsáveis pela contratação da Solatio Energia, integradora do complexo localizado em Minas Gerais, vencedor do leilão ilustrado na Tabela 4. Fonte: Aneel, 2018. O desenvolvimento tecnológico e o aumento do porte das instalações nos últimos anos vêm proporcionando aumentos no fator de capacidade médio da geração solar mundial, que em 2004 era de 3,7 e ultrapassou os 14,5% em 2016 (MME, 2017). Na usina em estudo o fator de capacidade médio é calculado dividindo a Garantia Física (MW médio) pela potência nominal, chegando ao valor de 28%. O resultado otimista é dado principalmente pela eficiência do sitema e da localização com alta irradiação solar, quando comparado com o cenário global. É importante destacar que existem riscos à essa estimativa, como a presença de chuvas inusitadas e exposição dos painéis a sujeira, podendo comprometer a geração do sistema. No estudo de caso foram utilizados dados de acesso público. O Leilão ocorreu no ano de 2015 e seu orçamento inicial era de R$ 640 milhões. Em 2017 o BNDES aprovou o financiamento de R$ 529 milhões. Segundo o banco, as empresas do consórcio ainda deverão emitir debêntures incentivadas de infraestrutura no valor de até R$ 220 milhões para financiar as usinas. Considerando o montante previsto de emissão de debêntures incentivadas de infraestrutura e a alavancagem total do projeto que pode alcançar 79,6% do total dos investimentos previstos, considera-se o valor total do projeto em R$ 940 Tabela 4. Projetos de UFV vencedores no leilão 8/2015. Usina TIPO LEILÃO Pot. (MW) Preço (R$/MW) UF Fonte Invest. Previsto (R$) UFV Pirapora 10 LER Leilão 8/2015 30,000 296,45 MG Sol 128.168.000,00 UFV Pirapora 5 LER Leilão 8/2015 30,000 302,00 MG Sol 128.165.000,00 UFV Pirapora 6 LER Leilão 8/2015 30,000 296,45 MG Sol 128.168.000,00 UFV Pirapora 7 LER Leilão 8/2015 30,000 299,00 MG Sol 128.168.000,00 UFV Pirapora 9 LER Leilão 8/2015 30,000 299,00 MG Sol 128.168.000,00 52 milhões. Para o estudo de caso, inclusive na análise de sensibilidade, a alavancagem foi ajustada de acordo com o cumprimento das normas do Índice de Cobertura do Serviço da Dívida (ICSD), que deve ser no mínimo 1,3. (BNDES, 2016) A relação de um ICSD mínimo é uma das garantias para que o financiamento seja concedido. Outras garantias incluem garantia corporativa até o final da construção, que livraria o BNDES de arcar com qualquer despesa extra, sendo a holding responsável por qualquer sobre custo também é exigido a criação de uma conta reserva com 3 meses de serviço da dívida. Em relação ao projeto, o sistema de energia solar tem como uma das suas séries de vantagens a baixa complexidade do sistema, resultando na alta representação do valor dos equipamentos frente o valor total do projeto. As informações sobre os investimentos e seus custos foram estimadas com base no relatório emitido pela Solatio Energia como mostra a Tabela 5. A depreciação considerada constante ao longo da operação das usinas Usos Valores R$ Depreciação Anual Terra 20.000.000 0% Inversores 165.680.000 5% Obras Civis 100.000.000 5% Montagem 70.000.000 5% Painéis 544.320.000 5% Contingências 40.000.000 5% Total 940.000.000 Fonte: Elaboração do autor com base em Solatio Energia, 2016. O investimento é aportado ao longo de dois anos, sendo alocados 40% no primeiro ano e 60% no segundo ano. A produção de energia inicia-se no terceiro ano, após o término da construção, montagem e comissionamento. Como foi mencionado anteriormente, devido a baixa complexidade do sistema os valores de, por exemplo, montagem, terras, painéis e contingências não são reinvestidos ao longo da vida útil do projeto. A baixa complexidade do projeto é ilustrada nos gastos com operação e manutenção (O&M), que se resumem principalmente em atividades de monitoramento do desempenho e geração do sistema, cuidados com estruturas e limpeza dos painéis. A agência de pesquisa Sandia Labs estima gastos anuais em Tabela 5. Investimentos e custos do projeto. 53 torno de USD 22/ kWp. No estudo de caso os custos de O&M foram orçados como 6% da receita, prezando pela eficiência do complexo. O Complexo Solar Pirapora será localizado em uma área plana de 400 hectares próxima ao Rio São Francisco, no município de Pirapora, interior do estado de Minas Gerais. Os recursos próprios e o financiamento são desembolsados pari-passu. Os impostos sobre a receita é de 9% e o imposto de renda 15%. A energia do complexo foi adquirida no Ambiente de Contratação Regulado (ACR) durante o 7° Leilão para Contratação de Energia de Reserva realizado em 28 de agosto de 2015. Portanto é comercializada no mercado cativo (distribuidoras), pelo valor de R$298,58/ MWh, ajustado pelo IPCA ao longo dos 20 anos de operação. Pelo material divulgado pela Integradora Solatio, a estimação de energia gerada é de 390.000 MWh/ ano. Foi considerado que desde o primeiro ano de operação a produção anual é constante durante toda vida útil do projeto. Os Contratos de Energia de Reserva (CERs) celebrados com a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) têm vigência de 20 anos, que no caso estudado é após o segundo ano do empreendimento. Diante dessas condições, foram elaborados dois cenários base, um com capital incentivado e outro com capital 100% privado apresentados na Tabela 6. Condições do Financiamento BNDES - TJLP Mercado de Capitais Taxa de juros (Kd) 6% a.a. + spread 8% a.a. + spread Carência 3 anos 3 anos Prazo Amortização 13 anos 13 anos Sistema de Amortização SAC SAC Custo Equity (Ke) 11,5% a.a. 11,5% a.a. Spread 2,5% a.a. 2,5% a.a. Fonte: Elaboração do autor com base em Solatio Energia, 2015. Além da análise do empreendimento em condições do financiamento do BNDES, foi realizada uma análise de sensibilidade com redução de 10% a 40% do CAPEX. O projeto é financiado em condições não atraentes para investidores financeiros, além do mercado no Brasil ainda estar pouco amadurecido para apresentar ganhos de escala. Uma das medidas para desenvolvimento do mercado de energia solar está diretamente relacionada ao Complexo de Pirapora. A fábrica da Canadian solar em Tabela 6. Cenários base para o estudo de caso. 54 Sorocaba (SP) foi construída para atender os pré requisitos de normas de conteúdo local do BNDES, atendendo a demanda do Complexo. Foi estimado o investimento no total de 80 milhões de reais na fábrica. Esse valor não está relacionado com o orçamento do projeto. A medida impacta diretamente nos custos do projeto, aumentando o valor da matéria prima em 30 a 40%, segundo os próprios responsáveis pelo projeto na EDF e Canadian Solar. Em ambos cenários avaliados, com empréstimo em TJLP do BNDES e com empréstimo em taxa do Mercado de Capitais, considera-se para a avaliação da atratividade do investimento que a taxa interna de retorno do acionista seja maior que o seu custo de equity (11,5% a.a.), sem acréscimo de prêmio de risco, pois como acionista do projeto é considerado um investidor estratégico como uma grande empresa de energia ou um novo entrante no mercado. 4.1 CENÁRIO TJLP No primeiro cenário avaliado, com empréstimo em TJLP do BNDES, considera-se para a avaliação da atratividade do investimento que a taxa interna de retorno do projeto seja maior que o seu custo de equity (11,5% a.a.), sem acréscimo de prêmio de risco, pois leva-se em consideraçãoo caso de um investimento estratégico, de alguma grande empresa de energia global ou um novo entrante no mercado. O índice de cobertura do serviço da dívida proposto é mantido em no mínimo 1,3 durante todo o período de amortização, segundo as normas de financiamento do BNDES. Os resultados obtidos estão representados na Tabela 7. Fonte: Elaboração do autor. Nesse caso o projeto se mostra viável a partir do primeiro cenário, com CAPEX de 940 milhões. Leva-se em conta a presença de investidor estratégico, CAPEX Valor (R$ mi) Kd WACC TIR projeto Ke TIR acionista Alavancagem VPL (WACC) 0% 940,00 10,03% 10,90% 13,13% 49% 58.982.416 -10% 846,00 9,85% 12,19% 15,79% 55% 147.918.652 -20% 752,00 9,67% 13,71% 19,52% 61% 237.459.961 -30% 658,00 9,43% 15,57% 25,91% 69% 332.450.845 -40% 564,00 9,10% 17,91% 41,76% 80% 436.099.043 11,5%8,5% Taxa BNDES Tabela 7. Cenário TJLP. 55 que consequentemente reduz seu prêmio de risco para consolidar sua presença num potêncial novo mercado. Nos próximos casos o empreendimento apresenta retornos interessantes, porém seria questionável a presença de capital incentivado, pois o empreendimento já apresenta retornos financeiros expressivos, deixando de lado o interesse no fomento da nova fonte energética. A seguir será apresentado o resultado com o financiamento de origem privada, que poderia ser captado por debêntures ou via bancos privados e equity do acionista. 4.2 CENÁRIO MERCADO DE CAPITAIS Buscando avaliar o impacto das políticas de incentivo à energia solar no Brasil e com a tendência de redução dos incentivos por parte do BNDES e agências de fomento, foi proposta a avaliação da parte do Complexo de Pirapora em estudo com taxas de juros diretamente do mercado de capitais, ou seja, superiores ao modelo apresentado anteriormente. Foi avaliada a taxa de dívida de 10,5% a.a., em contraste com o equity de 11,5% a.a. tendo os resultados apresentados na Tabela 8. Fonte: Elaboração do autor. Na condição estudada, o projeto se mostra como vulnerável e com baixa atratividade. A TIR do acionista, sem considerar qualquer prêmio de risco, é maior que a taxa de equity, porém sua diferença é de apenas 0,64%, sendo muito pequena para um projeto de 20 anos de duração e no cenário de um país emergente. Nesse caso pode-se afirmar que o investimento não seria realizado. Nos cenários seguintes as taxas internas de retorno são bem mais atraentes, simulando um ambiente onde o empreendimento pode atrair investidores financeiros. Tabela 8. Cenário mercado de capitais CAPEX Valor (R$ mi) Kd WACC TIR projeto Ke TIR acionista Alavancagem VPL (WACC) 0% 940 11,01% 10,90% 12,14% 44% 58.982.416 -10% 846 10,95% 12,19% 14,36% 49% 147.918.652 -20% 752 10,89% 13,71% 17,33% 54% 237.459.961 -30% 658 10,81% 15,57% 22,18% 62% 332.450.845 -40% 564 10,70% 17,91% 31,62% 72% 436.099.043 10,5% 11,5% Taxa Mercado 56 O resultado comprova a sensibilidade do retorno do acionista frente o custo financeiro e como o financiamento de parte do projeto eleva o retorno do mesmo. No caso da taxa de mercado, o projeto passa a ter retorno ao acionista a partir do segundo caso, mostrando-se bastante rentável nos últimos dois cenários em que a redução de custos vai se acentuando. 4.3 CONCLUSÃO DO MODELO Com as premissas adotadas inicialmente, como se trata da primeira usina fotovoltaica de grande porte no Brasil e por ser um empreendimento estratégico para o interesse de fomento da indústria pelo BNDES através da exigência de conteúdo local dentre os equipamentos utilizados no projeto, o financiamento do projeto de energia solar se apresenta como uma alternativa viável para a contratação de energia de reserva e fomento da indústria nacional com as condições de financiamento por TJLP. A tecnologia está de acordo com os interesses políticos, ambientais e financeiros, tendo o cenário ideal para sua expansão. O desenvolvimento tecnológico nos últimos anos e uma maior certeza regulatória está impulsionando a adoção da energia solar no Brasil. Nesse contexto é necessária a manutenção dos incentivos vigentes, pois o próprio modelo estudado não se apresentou atraente o suficiente para ser financiado por meio de mercado de capitais. Nos dois primeiros cenários, o projeto apresenta resultados realistas com o financiamento da TJLP. Nos cenários de redução do CAPEX o empreendimento começa a apresentar retornos que podem atrair investidores nacionais e estrangeiros, podendo ser classificado como um mercado amadurecido e que já aceita essa nova fonte de geração energia em grande escala. Essa atratividade de mercado pode ter origem distintas. A primeira seria o cenário de um país com a cadeia de produção desenvolvida, mão de obra qualificada, cenário regulatório favorável e estável. O outro seria o livre mercado, com importação de equipamentos mais econômicos e grande disponibilidade de financiamento do mercado de capitais. No atual cenário de incerteza no Brasil, ambos podem se concretizar, alterando o caminho do desenvolvimento da energia solar no país. 57 5 CONCLUSÃO O que antes foi uma descoberta de Alexandre Edmond, em 1839, se tornou parte dos planos de 195 países como principal solução para a redução de emissões de CO2. O Acordo de Paris (2015) tem como objetivo limitar o aumento da temperatura global no século para menos de 2 °C acima dos níveis pré industriais, idealmente buscando limitar o aumento da temperatura para até 1,5 graus Celsius. A energia solar é uma tecnologia em expansão exponencial. Como foi apresentada no presente trabalho, ela possui diferentes benefícios para sua adoção que justificam seus investimentos públicos e privados entre eles: Diversificação da matriz energética, reduzindo a exposição a risco de fontes de geração; Possibilidade de o empreendimento estar próximo da unidade de consumo reduzindo gastos e perdas com linhas de transmissão extensas, no conceito de Geração Distribuída; Energia renovável: Sol é uma fonte inesgotável de energia, sem necessitar a aquisição de insumos para sua geração; Fonte limpa: O processo fotovoltaico é livre de emissão de gases do efeito estufa; Geração de uma nova indústria: Criando novos empregos, novos modelos de negócio e desenvolvimento tecnológico e de manufatura; Nos últimos anos tem se provado não somente economicamente viável, mas também como oportunidade de investimento tanto no mercado primário quanto no secundário. Como objeto de estudo para a avaliação de cada país, foi escolhido fazer o levantamento dos seguintes parâmetros: evolução dos incentivos públicos no setor, investimentos no setor e capacidade instalada. Foram escolhidas as economias da Austrália, China, EUA, Japão e Europa, em especial a Alemanha. Países esses que iniciaram o desenvolvimento do mercado períodos e por diferentes motivos, como é o caso do Japão e Alemanha que buscaram reduzir a dependência de energia nuclear e combustíveis fosséis em sua matriz energética com incentivos desde os anos 80 e 90, respectivamente. Outras economias como China, Austrália e o próprio Brasil buscaram aliar o grande potencial de geração de seus territórios com a tendência mundial de 58 redução dos gáses do efeito estufa, diversificando sua matriz energética altamente dependente de gás natural e carvão. Nas nações com adoção de energias renováveis mais atrasadas, o principal mecanismo de incentivo são os leilões incentivados. Como foi apresentado, o crescimento acelerado na Europa, em especial na Itália e Alemanha, não é sustentável. Incentivos de Feed-in para a geraçãosão mecanismos muito eficientes para o desenvolvimento do mercado, mas devem ser reavaliados ao longo dos anos evitando gastos elevados tanto para o Estado quanto para o consumidor que não produz energia solar. No caso da Itália, a redução dos incentivos entre o ano de 2012 e 2013 gerou consequências para todo o setor levando empresas à falência, pessoas a perderem seus empregos, investimentos perderem rentabilidade e a redução da credibilidade do país para investimentos nacionais e estrangeiros. No caso do Brasil, que possui 65% da sua matriz energética em hidrelétricas, é necessário a adoção de métodos alternativos de geração para diminuir a dependência com apenas uma fonte de energia. As termoelétricas são uma solução de curto prazo, porém são poluentes e ineficientes. Dado o histórico das últimas décadas, qualquer nova fonte de gração de energia teria dificuldades em se popularizar no mercado brasileiro. A energia eólica é uma fonte atraente, porém assim como outras fontes está sujeita a fenômenos naturais que geram incertezas quanto a sua efetiva geração. A energia solar também apresenta incertezas, como longos períodos de chuva e tempo nublado, porém é sim uma alternativa atraente dado o histórico de irradiação do país e principalmente pelo crescimento da indústria solar a nível mundial. Apesar de inicialmente ser praticado com valores inviáveis, nos últimos anos a indústria se desenvolveu a ponto de se tornar viável desde projetos residenciais à usinas fotovoltaicas. No início dos anos 2000 a energia solar era praticamente inexistente, e em 2016 foi responsável pela produção de 1,3% da energia consumida mundialmente, competindo com fontes energéticas que estão há séculos no mercado. Em 2014, a proporção de subsídios a combustíveis fósseis para subsídios à energia renovável foi de 4:1. Para cada USD 1 gasto em energias renováveis, os governos gastaram USD 4 perpetuando a dependência de fontes de origem fóssil (REN21, 2017). Por meio de mais regulamentação do mercado e investimentos de players estratégicos como grandes empresas europeias de energia, o setor no Brasil 59 ganhou escala principalmente pelo volume de capacidade instalada, crescendo no mínimo 300% ao ano desde 2012, chegando a 325% de 2017 a 2018, quando passou de 235MW para 1 GW levando o país a lista dos 30 principais geradores dessa fonte de energia do mundo. O principal método de fomento utilizado no Brasil, além de regulamentação favorável, são os leilões de reserva. Embora em organizados em pequenas quantidades, principalmente pelas incertezas do país, dado o crescimento da capacidade instalada, aliada com o capital vindo de investidores estratégicos, chegamos a um cenário positivo para o país se destacar no mercado de energia fotovoltaica. Ao longo do trabalho, ao analisar o crescimento da adoção de energia solar no Brasil, podemos concluir que quando se trata de grandes usinas o Brasil ainda está muito atrás de países com mais capacidade instalada. A geração centralizada, que apresenta o menor valor por unidade de energia gerada, em 2016 era responsável por mais de 70% da capacidade instalada mundial, uma proporção que aumentou durante os últimos anos. Essa proporção é responsável pela alavancagem na indústria, por gerar demanda para novas fábricas ou rotas de importação e qualificação de mão de obra, além de gerar e comercializar energia renovável por valores menores. Com a intenção de avaliar a rentabilidade dos grandes empreendimentos em terras brasileiras foi escolhido parte do Complexo de Pirapora, vencedor do leilão 8/2015 e beneficiário de investimento do BNDES, ainda em 2017. No estudo de caso foi concluído que já existe viabilidade econômica em grandes empreendimentos, quando se utiliza do mecanismo de Project Finance. Embora exista viabilidade, a atratividade econômica dos projetos é questionável. Para um investidor estratégico, como foi discutido anteriormente, faz sentido ter sua presença consolidada num país de grande potêncial de geração como o Brasil. Outro motivo que justificaria o investimento seria um empreendimento sustentável, visando o fomento de energias renováveis e posteriormente desenvolvimento da indústria nacional. Quando se trata de um investidor exclusivamente financeiro, o cenário é outro. No próprio modelo estudado, o custo do projeto é supervalorizado principalmente pelos painéis, que por serem fabricados no Brasil são 40% mais caros, além dos outros componentes não terem escala suficiente para otimização dos custos. O resultado é um projeto com margens muito apertadas e pouca 60 atratividade financeira, como foi discutido no capítulo anterior. O cenário de proteção da indústria nacional necessitaria de incentivos públicos até a redução dos custos de produção a ponto de reduzir o CAPEX do projeto. Pelos resultados da análise de sensibilidade, o projeto se torna um investimento interessante para o mercado de capitais a partir do cenário de redução do CAPEX em 20%, se comparando a outros investimentos no mercado e se tornando atraente para essa classe. Novamente, essas são simulações de redução do CAPEX podem vir a representar a realidade no país em que a indústria tenha escala na produção, mão de obra qualificada e um cenário com mais certezas regulatórias e fiscais, atraindo capital nacional e estrangeiro de origem privada. No cenário de economia global a China se consolidou como potência solar, tanto na capacidade instalada quanto na cadeia de produção industrial, dominando 72% da produção mundial de painéis. As simulações de redução do CAPEX podem ser contextualizadas pela importação de equipamentos chineses, visto que para receber o financiamento do BNDES o empreendimento tem que estar de acordo com a política de conteúdo local, adquirindo equipamentos até 40% mais caros, como os painéis que são produzidos na fábrica da Canadian Solar no estado de São Paulo. O desenvolvimento do mercado de energia solar no Brasil vai depender do caminho a ser seguido pela sua política, podendo seguir com incentivos públicos no setor e indústria ou adotar uma postura globalizada de livre mercado. 61 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRADEE, 2017. “Leilão de Energia”. Disponível em: <http://www.abradee.com.br/setor-eletrico/leiloes-de-energia> Acesso em: 20/02/2018. AECEA. “Asia Europe Clean Energy Association”, Disponpivel em: <https://www.pv- magazine.com/2017/12/22/china-sets-lower-solar-fit-rates-for-2018/> Acessado: 05/03/2018. AMBIENTE ENERGIA, 2016. “Aneel aprova novas regras para microgeração.” Disponível em: <https://www.ambienteenergia.com.br/index.php/2015/11/aneel- aprova-novas-regras-para-microgeracao/27623> Acessado: 20/01/2018. 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Minigeração distribuída: central geradora de energia elétrica, com potência instalada superior a 100 kW e menor ou igual a 1 MW para fontes com base em energia hidráulica, solar, eólica, biomassa ou cogeração qualificada, conforme regulamentação da ANEEL, conectada na rede de distribuição por meio de instalações de unidades consumidoras; (grifo do autor) iii. Sistema de compensação de energia elétrica: sistema no qual a energia ativa gerada por unidade consumidora com microgeração distribuída ou minigeração distribuída compense o consumo de energia elétrica ativa.” (grifo do autor) O Sistema de Compensação de Energia Elétrica criado na REN nº 482/2012 permite que um consumidor de energia elétrica instale pequenos geradores em sua unidade consumidora e a energia gerada é usada para reduzir o valor da fatura mensal da conta de energia. Quando a geração for maior que o consumo, o saldo positivo de energia poderá ser utilizado para abater o consumo em meses subsequentes e ainda utilizar esses créditos em outras unidades cadastradas dentro da mesma área de concessão. Esse tipo de utilização dos créditos foi denominado de “autoconsumo remoto”. (ANEEL, 2017) Buscando complementar a REN nº 482/2012 foi editada a REN nº 687/2015. Entrando em vigor o mercado de energia sofreu grandes alterações criando-se 67 novos nichos de consumidores e possibilidades de negócio. Das principais atualizações da REN 482/2012 destacam-se: o aumento do prazo para o uso dos créditos energéticos, que passou de 36 para 60 meses e a possibilidade de instalação de geração distribuída em condomínios, ou seja, empreendimentos de múltiplas unidades consumidoras. (BLUESOL, 2017) Nessa configuração, a energia gerada pode ser repartida entre os condôminos em porcentagens definidas pelos próprios consumidores (AMBIENTE ENERGIA, 2016) A atualização da REN está conforme o artigo 6º a seguir. “Art. 6º Podem aderir ao sistema de compensação de energia elétrica os consumidores responsáveis por unidade consumidora: I – com microgeração ou minigeração distribuída; II – integrante de empreendimento de múltiplas unidades consumidoras; III – caracterizada como geração compartilhada; IV – caracterizada como autoconsumo remoto. §1º Para fins de compensação, a energia ativa injetada no sistema de distribuição pela unidade consumidora será cedida a título de empréstimo gratuito para a distribuidora, passando a unidade consumidora a ter um crédito em quantidade de energia ativa a ser consumida por um prazo de 60 (sessenta) meses”. Portanto, a REN nº 687/2015 garante: i. permissão do uso de qualquer fonte renovável; ii. microgeração distribuída à central geradora, com potência instalada de até 75 kW e; iii. minigeração distribuída com potência acima de 75 kW e menor ou igual a 5 MW (sendo 3 MW para a fonte hídrica), conectadas na rede de distribuição por meio de instalações de unidades consumidoras (ANEEL, 2016) e iv. novas modalidades de geração distribuída (empreendimento com múltiplas unidades consumidoras e geração compartilhada). Exitem também incentivos governamentais para a energia fotovoltaica tando para geração distribuída quanto centralizada. Os principais são apresentados a seguir: d) Descontos na Tarifa de Uso de Sistemas de Transmissão (TUST) e na Tarifa de Uso dos Sistemas de Distribuição (TUSD) para 68 empreendimentos cuja potência injetada nos sistemas de transmissão e distribuição seja menor ou igual a 30 MW. São descontos de no mínimo 50% incidindo na produção e no consumo da energia gerada; e) Venda direta a consumidores especiais (carga entre 500 kW e 3.000 kW) para geradores de energia de fonte solar e demais fontes renováveis, com potência injetada inferior a 50.000 kW. Na aquisição da energia, os consumidores especiais também fazem jus a descontos nas tarifas de uso; f) Isenção do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre as operações que envolvem vários equipamentos destinados à geração de energia elétrica por células fotovoltaicas e por empreendimentos eólicos, não abrangindo inversores e medidores; g) Suspensão por 5 anos após a habilitação do projeto, a contribuição para o PIS/PASEP e o COFINS, no caso de venda ou de importação de máquinas, aparelhos, instrumentos e equipamentos novos, de materiais de construção e de serviços utilizados e destinados a obras de infraestrutura, entre os quais as do setor de energia. 69 ANEXO B A seguir são apresentadas partes das tabelas do modelo estudado, do caso de CAPEX inicial e empréstimo com taxa de juros TJLP. Para fins de apresentação foram omitidos os fluxos de caixa entre os anos 5 e 15. Custo Dívida (kd) TJLP 8,5% Spread 2,5% Custo Equity (ke) 11,5% Prêmio de risco acionista 0% Impostos 9% Imposto de Renda 15% IPCA 4% Carência 3 anos Amortização (SAC) 13 anos SAC Condições 40% 60% 100% Usos Ano 1 Ano 2 Total Terras 8.000.000,00 12.000.000,00 20.000.000,00 Inversores 66.272.000,00 99.408.000,00 165.680.000,00 Obras Civis 40.000.000,00 60.000.000,00 100.000.000,00 Montagem 28.000.000,00 42.000.000,00 70.000.000,00 Painéis 217.728.000,00 326.592.000,00 544.320.000,00 Contigências 16.000.000,00 24.000.000,00 40.000.000,00 Total 376.000.000,00 564.000.000,00 940.000.000,00 Quadro de Usos e Fontes: Cenário BNDES - TJPL Anos sem depreciação: 2 Reinvestimento Depreciação Total (Anos) Usos % Depreciação/ano Valor anual Valor Residual Não Terras 0% - 20.000.000,00 Não 20 Inversores 5% 8.284.000,00 0,00 Não 20 Obras Civis 5% 5.000.000,00 0,00 Não 20 Montagem 5% 3.500.000,00 0,00 Não 20 Painéis 5% 27.216.000,00 0,00 Não 20Contigências 5% 2.000.000,00 0,00 Depreciação Anual 46.000.000,00 20.000.000,00 70 Q u a n t i d a d e s ( K W h ) A n o 1 A n o 2 A n o 3 A n o 4 A n o 5 A n o 1 5 A n o 1 6 A n o 1 7 A n o 1 8 A n o 1 9 A n o 2 0 A n o 2 1 A n o 2 2 M e r c a d o R e g u l a d o 3 9 0 . 0 0 0 3 9 0 . 0 0 0 3 9 0 . 0 0 0 3 9 0 . 0 0 0 3 9 0 . 0 0 0 3 9 0 . 0 0 0 3 9 0 . 0 0 0 3 9 0 . 0 0 0 3 9 0 . 0 0 0 3 9 0 . 0 0 0 3 9 0 . 0 0 0 P r o j e ç ã o I P C A 4 % 4 % 4 % 4 % 4 % 4 % 4 % 4 % 4 % 4 % 4 % R e c e i t a s B r u t a s R $ M e r c a d o R e g u l a d o 0 1 2 1 . 1 0 4 . 0 4 8 1 2 5 . 9 4 8 . 2 1 0 1 3 0 . 9 8 6 . 1 3 8 1 9 3 . 8 9 1 . 4 8 3 2 0 1 . 6 4 7 . 1 4 2 2 0 9 . 7 1 3 . 0 2 8 2 1 8 . 1 0 1 . 5 4 9 2 2 6 . 8 2 5 . 6 1 1 2 3 5 . 8 9 8 . 6 3 5 2 4 5 . 3 3 4 . 5 8 1 2 5 5 . 1 4 7 . 9 6 4 R e c e i t a B r u t a 0 1 2 1 . 1 0 4 . 0 4 8 1 2 5 . 9 4 8 . 2 1 0 1 3 0 . 9 8 6 . 1 3 8 1 9 3 . 8 9 1 . 4 8 3 2 0 1 . 6 4 7 . 1 4 2 2 0 9 . 7 1 3 . 0 2 8 2 1 8 . 1 0 1 . 5 4 9 2 2 6 . 8 2 5 . 6 1 1 2 3 5 . 8 9 8 . 6 3 5 2 4 5 . 3 3 4 . 5 8 1 2 5 5 . 1 4 7 . 9 6 4 I m p o s t o s ( 9 % ) 0 1 0 . 8 9 9 . 3 6 4 1 1 . 3 3 5 . 3 3 9 1 1 . 7 8 8 . 7 5 2 1 7 . 4 5 0 . 2 3 3 1 8 . 1 4 8 . 2 4 3 1 8 . 8 7 4 . 1 7 2 1 9 . 6 2 9 . 1 3 9 2 0 . 4 1 4 . 3 0 5 2 1 . 2 3 0 . 8 7 7 2 2 . 0 8 0 . 1 1 2 2 2 . 9 6 3 . 3 1 7 R e c e i t a L í q u i d a 0 1 1 0 . 2 0 4 . 6 8 4 1 1 4 . 6 1 2 . 8 7 1 1 1 9 . 1 9 7 . 3 8 6 1 7 6 . 4 4 1 . 2 4 9 1 8 3 . 4 9 8 . 8 9 9 1 9 0 . 8 3 8 . 8 5 5 1 9 8 . 4 7 2 . 4 0 9 2 0 6 . 4 1 1 . 3 0 6 2 1 4 . 6 6 7 . 7 5 8 2 2 3 . 2 5 4 . 4 6 8 2 3 2 . 1 8 4 . 6 4 7 A p ó s 1 0 a n o s C u s t o s F i x o s 1 % 4 7 . 1 0 2 . 0 4 7 4 7 . 1 4 6 . 1 2 9 4 7 . 1 9 1 . 9 7 4 4 7 . 7 6 4 . 4 1 2 4 7 . 8 3 4 . 9 8 9 4 7 . 9 0 8 . 3 8 9 4 7 . 9 8 4 . 7 2 4 4 8 . 0 6 4 . 1 1 3 4 8 . 1 4 6 . 6 7 8 4 8 . 2 3 2 . 5 4 5 4 8 . 3 2 1 . 8 4 7 M a n u t e n ç ã o ( 1 % ) 1 % 0 1 . 1 0 2 . 0 4 7 1 . 1 4 6 . 1 2 9 1 . 1 9 1 . 9 7 4 1 . 7 6 4 . 4 1 2 1 . 8 3 4 . 9 8 9 1 . 9 0 8 . 3 8 9 1 . 9 8 4 . 7 2 4 2 . 0 6 4 . 1 1 3 2 . 1 4 6 . 6 7 8 2 . 2 3 2 . 5 4 5 2 . 3 2 1 . 8 4 6 D e p r e c i a ç ã o 4 6 . 0 0 0 . 0 0 0 4 6 . 0 0 0 . 0 0 0 4 6 . 0 0 0 . 0 0 0 4 6 . 0 0 0 . 0 0 0 4 6 . 0 0 0 . 0 0 0 4 6 . 0 0 0 . 0 0 0 4 6 . 0 0 0 . 0 0 0 4 6 . 0 0 0 . 0 0 0 4 6 . 0 0 0 . 0 0 0 4 6 . 0 0 0 . 0 0 0 4 6 . 0 0 0 . 0 0 1 T a x a O & M 6 % 6 % C u s t o s V a r i á v e i s 5 % 0 5 . 5 1 0 . 2 3 4 5 . 7 3 0 . 6 4 4 5 . 9 5 9 . 8 6 9 8 . 8 2 2 . 0 6 2 9 . 1 7 4 . 9 4 5 9 . 5 4 1 . 9 4 3 9 . 9 2 3 . 6 2 0 1 0 . 3 2 0 . 5 6 5 1 0 . 7 3 3 . 3 8 8 1 1 . 1 6 2 . 7 2 3 1 1 . 6 0 9 . 2 3 2 O p e r a ç õ e s ( 5 % ) 5 % 0 5 . 5 1 0 . 2 3 4 5 . 7 3 0 . 6 4 4 5 . 9 5 9 . 8 6 9 8 . 8 2 2 . 0 6 2 9 . 1 7 4 . 9 4 5 9 . 5 4 1 . 9 4 3 9 . 9 2 3 . 6 2 0 1 0 . 3 2 0 . 5 6 5 1 0 . 7 3 3 . 3 8 8 1 1 . 1 6 2 . 7 2 3 1 1 . 6 0 9 . 2 3 2 T o t a l d o s C u s t o s 0 5 2 . 6 1 2 . 2 8 1 5 2 . 8 7 6 . 7 7 2 5 3 . 1 5 1 . 8 4 3 5 6 . 5 8 6 . 4 7 5 5 7 . 0 0 9 . 9 3 4 5 7 . 4 5 0 . 3 3 1 5 7 . 9 0 8 . 3 4 5 5 8 . 3 8 4 . 6 7 8 5 8 . 8 8 0 . 0 6 5 5 9 . 3 9 5 . 2 6 8 5 9 . 9 3 1 . 0 8 0 L u c r o B r u t o 0 5 7 . 5 9 2 . 4 0 3 6 1 . 7 3 6 . 0 9 9 6 6 . 0 4 5 . 5 4 3 1 1 9 . 8 5 4 . 7 7 4 1 2 6 . 4 8 8 . 9 6 5 1 3 3 . 3 8 8 . 5 2 4 1 4 0 . 5 6 4 . 0 6 5 1 4 8 . 0 2 6 . 6 2 7 1 5 5 . 7 8 7 . 6 9 2 1 6 3 . 8 5 9 . 2 0 0 1 7 2 . 2 5 3 . 5 6 7 I m p o s t o d e R e n d a - 1 5 % 0 8 . 6 3 8 . 8 6 0 9 . 2 6 0 . 4 1 5 9 . 9 0 6 . 8 3 1 1 7 . 9 7 8 . 2 1 6 1 8 . 9 7 3 . 3 4 5 2 0 . 0 0 8 . 2 7 9 2 1 . 0 8 4 . 6 1 0 2 2 . 2 0 3 . 9 9 4 2 3 . 3 6 8 . 1 5 4 2 4 . 5 7 8 . 8 8 0 2 5 . 8 3 8 . 0 3 5 L u c r o L i q u i d o 0 4 8 . 9 5 3 . 5 4 2 5 2 . 4 7 5 . 6 8 4 5 6 . 1 3 8 . 7 1 1 1 0 1 . 8 7 6 . 5 5 8 1 0 7 . 5 1 5 . 6 2 0 1 1 3 . 3 8 0 . 2 4 5 1 1 9 . 4 7 9 . 4 5 5 1 2 5 . 8 2 2 . 6 3 3 1 3 2 . 4 1 9 . 5 3 9 1 3 9 . 2 8 0 . 3 2 0 1 4 6 . 4 1 5 . 5 3 2 ( + ) d e p r e c i a ç ã o 0 4 6 . 0 0 0 . 0 0 0 4 6 . 0 0 0 . 0 0 0 4 6 . 0 0 0 . 0 0 0 4 6 . 0 0 0 . 0 0 0 46 . 0 0 0 . 0 0 0 4 6 . 0 0 0 . 0 0 0 4 6 . 0 0 0 . 0 0 0 4 6 . 0 0 0 . 0 0 0 4 6 . 0 0 0 . 0 0 0 4 6 . 0 0 0 . 0 0 0 4 6 . 0 0 0 . 0 0 1 E b d a 0 9 4 . 9 5 3 . 5 4 2 9 8 . 4 7 5 . 6 8 4 1 0 2 . 1 3 8 . 7 1 1 1 4 7 . 8 7 6 . 5 5 8 1 5 3 . 5 1 5 . 6 2 0 1 5 9 . 3 8 0 . 2 4 5 1 6 5 . 4 7 9 . 4 5 5 1 7 1 . 8 2 2 . 6 3 3 1 7 8 . 4 1 9 . 5 3 9 1 8 5 . 2 8 0 . 3 2 0 1 9 2 . 4 1 5 . 5 3 3 M a r g e m e b d a / R O L 8 6 % 8 6 % 8 6 % 8 4 % 8 4 % 8 4 % 8 3 % 8 3 % 8 3 % 8 3 % 8 3 % 71 A n o 1 A n o 2 A n o 3 A n o 4 A n o 5 A n o 1 5 A n o 1 6 A n o 1 7 A n o 1 8 A n o 1 9 A n o 2 0 A n o 2 1 A n o 2 2 I n v e s t i m e n t o s 3 7 6 . 0 0 0 . 0 0 0 5 6 4 . 0 0 0 . 0 0 0 R e i n v e s t i m e n t o 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 V a l o r R e s i d u a l 2 0 . 0 0 0 . 0 0 0 F l u x o d e C a i x a p a r a T I R - 3 7 6 . 0 0 0 . 0 0 0 - 5 6 4 . 0 0 0 . 0 0 0 9 4 . 9 5 3 . 5 4 2 9 8 . 4 7 5 . 6 8 4 1 0 2 . 1 3 8 . 7 1 1 1 4 7 . 8 7 6 . 5 5 8 1 5 3 . 5 1 5 . 6 2 0 1 5 9 . 3 8 0 . 2 4 5 1 6 5 . 4 7 9 . 4 5 5 1 7 1 . 8 2 2 . 6 3 3 1 7 8 . 4 1 9 . 5 3 9 2 0 5 . 2 8 0 . 3 2 0 1 9 2 . 4 1 5 . 5 3 2 R e c u r s o s P r ó p r i o s 1 9 1 . 7 6 0 . 0 0 0 2 8 7 . 6 4 0 . 0 0 0 R e c u r s o s d e T e r c e i r o s 1 8 4 . 2 4 0 . 0 0 0 2 7 6 . 3 6 0 . 0 0 0 P a g a m e n t o d e J u r o s 0 0 0 3 9 . 1 5 1 . 0 0 0 3 6 . 1 3 9 . 3 8 5 6 . 0 2 3 . 2 3 1 3 . 0 1 1 . 6 1 5 P a g a m e n t o d e P r i n c i p a l 0 0 0 3 5 . 4 3 0 . 7 6 9 3 5 . 4 3 0 . 7 6 9 3 5 . 4 3 0 . 7 6 9 3 5 . 4 3 0 . 7 6 9 F l u x o d e C a i x a 0 0 9 4 . 9 5 3 . 5 4 2 2 3 . 8 9 3 . 9 1 5 3 0 . 5 6 8 . 5 5 7 1 0 6 . 4 2 2 . 5 5 8 1 1 5 . 0 7 3 . 2 3 6 1 5 9 . 3 8 0 . 2 4 5 1 6 5 . 4 7 9 . 4 5 5 1 7 1 . 8 2 2 . 6 3 3 1 7 8 . 4 1 9 . 5 3 9 2 0 5 . 2 8 0 . 3 2 0 1 9 2 . 4 1 5 . 5 3 2 F l u x o d e C a i x a A c u m u l a d o 0 0 9 4 . 9 5 3 . 5 4 2 1 1 8 . 8 4 7 . 4 5 7 1 4 9 . 4 1 6 . 0 1 4 8 5 7 . 5 3 7 . 3 3 9 9 7 2 . 6 1 0 . 5 7 5 1 . 1 3 1 . 9 9 0 . 8 2 0 1 . 2 9 7 . 4 7 0 . 2 7 5 1 . 4 6 9 . 2 9 2 . 9 0 9 1 . 6 4 7 . 7 1 2 . 4 4 7 1 . 8 5 2 . 9 9 2 . 7 6 7 2 . 0 4 5 . 4 0 8 . 2 9 9 I C S D C a i x a A n u a l 1 , 3 2 1 , 4 3 3 , 5 7 3 , 9 9 I C S D C a i x a A c u m u l a d o 1 , 5 9 2 , 0 9 2 0 , 6 9 2 5 , 3 0 T I R d o P r o j e t o 1 0 , 9 0 % F l u x o d e C a i x a p a r a T I R A c i o n i s t a - 1 9 1 . 7 6 0 . 0 0 0 - 2 8 7 . 6 4 0 . 0 0 0 9 4 . 9 5 3 . 5 4 2 2 3 . 8 9 3 . 9 1 5 3 0 . 5 6 8 . 5 5 7 1 0 6 . 4 2 2 . 5 5 8 1 1 5 . 0 7 3 . 2 3 6 1 5 9 . 3 8 0 . 2 4 5 1 6 5 . 4 7 9 . 4 5 5 1 7 1 . 8 2 2 . 6 3 3 1 7 8 . 4 1 9 . 5 3 9 2 0 5 . 2 8 0 . 3 2 0 1 9 2 . 4 1 5 . 5 3 2 T I R a c i o n i s t a 1 3 , 1 3 % T a x a e s t i m a t i v a f ó r m u l a T I R 1 1 , 5 0 % V P L P r o j e t o ( W A C C ) 5 8 . 9 8 2 . 4 1 6 W A C C 1 0 , 0 3 %