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Fund Metod e Prat de Alfabetização apostila

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Adriana Luiza Passos Borges
Sumário 
1
Palavra do Professor-autor
 
...................................................................................
09 
Sobre os autores
 
.....................................................................................................
11 
Ambientação
 
...........................................................................................................
13 
Trocando ideias com os autores
 
...........................................................................
15 
Problematizando ...
 
................................................................................................
19 
LER E ESCREVER: A HISTORICIDADE DA LÍNGUA 
Fundamentos
Metodológicos e Prática de Alfabetização
Cocal/2019
Leitura Obrigatória...........................................................................................71
Revisando......................................................................................................
Palavras da Professora
Prezado Estudante,
O material didático sempre foi considerado um valioso instrumento de transmissão de conhecimento. Mas hoje, com a facilidade de acesso à informação pelos meios midiáticos, ampliando à comunicação e criando um conceito novo sobre a arte de escrever através do suporte tecnológico, é possível dar aos materiais didáticos maior qualidade, eficácia e estética para atender o leitor do mundo virtual. É para você, estudante do curso da Faculdade entre Rios - FAERPI, que oferecemos esta apostila, com intuito de dialogar sobre Fundamentos Metodológicos e Práticas da Alfabetização. 
Os conteúdos de aprendizagem propõem que você seja o construtor do seu conhecimento. Para atender este objetivo, organizamos esta apostila em diversas etapas de aprendizagem, cuja condução será feita através dos ícones que criamos para serem as setas que guiarão você no processo de aquisição do conhecimento.
Ressalta-se que as leituras não se tratam de modelos, regras ou formas de como ensinar a ler e escrever, ou de como executar o letramento. Espera-se que todos sejam capazes de realizar uma metacognição e contribuir com a alfabetização e letramentos de muitas crianças. 
Prof.ª Adriana Luiza
Seja bem-vindo nobre acadêmico (a)!
Vamos iniciar a disciplina, Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Alfabetização e do Letramento, você terá a oportunidade de compreender melhor os caminhos que irão percorrer para sua atuação pedagógica. Neste material se dá o processo de aquisição da leitura e da escrita, as práticas sociais dessas áreas do conhecimento, considerando aspectos psicológicos, sociológicos, históricos e linguísticos. 
Entende-se por alfabetização, segundo Soares (2011) o processo pelo qual o sujeito aprende o código escrito, ou seja, a habilidade de ler e escrever. Etimologicamente, estar alfabetizado significa codificar e decodificar o alfabeto. Enquanto o conceito de letramento vai além de apenas ler e escrever, diz mais respeito aos contextos de uso da tecnologia da língua oral e escrita e, a seu domínio. 
A disciplina Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Alfabetização e do Letramento, trata de reflexões acerca das práticas de leitura e escrita na atual sociedade brasileira, que apesar de uma cultura grafocêntrica, ainda convive com o analfabetismo e suas variáveis, como o analfabetismo funcional. No material, encontrará reflexões analíticas sobre as linguagens, seus usos e os conhecimentos construídos na sociedade. Sobre os significados e os significantes da língua na vida das pessoas. Conheceremos as etapas pelas quais as crianças passam pensando sobre a língua escrita, até chegar a nível mais elevado para que uma criança se considere alfabetizada, o nível alfabético. 
P
L 
PROBLEMATIZANDO 
É apresentada uma situação problema onde será feito 
um texto expondo uma solução para o problema 
abordado, articulando a teoria e a prática profissional. 
A escola desde a sua gênese, trata a alfabetização como um processo de aquisição do alfabeto com um único objetivo: apropriar o sujeito do código escrito para ler, escrever, contar, conhecer os processos sociais, históricos, artísticos e científicos de geração em geração. Foi assim até 1980. 
A partir dessa década surgiu no Brasil o termo letramento como uma versão portuguesa da palavra literacy da língua inglesa, que quer dizer, o sujeito que lê e escreve e envolve-se em práticas sociais de leitura e de escrita, segundo Soares (2010). A palavra junta-se ao termo alfabetização para significar um pleno desenvolvimento da pessoa que lê e escreve, especialmente fazer uso dessas habilidades em práticas sociais diárias. 
E você caro estudante, o que percebe na relação entre a alfabetização e letramento? Quais são as contribuições que o letramento traz para o processo da aquisição da leitura e da escrita? Que práticas de letramento a escola pode desenvolver para favorecer a alfabetização?
GUIA DE ESTUDO 
Após a leitura, faça uma reflexão sobre os questionamentos acima e desenvolva um 
texto transpondo suas ideias e disponibilize na sala virtual. 
 A
p 
APRENDENDO A PENSAR 
O estudante deverá analisar o tema da disciplina 
em estudo a partir das ideias organizadas pelos 
professores autores do material didático. 
1 
LER E ESCREVER: A HISTORICIDADE 
DA LÍNGUA 
CONHECIMENTOS 
Conhecer as concepções, os significados e os significantes da aquisição da leitura e 
da escrita (alfabetização) e de seus contextos reais de uso (letramento), analisando 
o processo de internalização da linguagem oral e escrita. 
HABILIDADES 
Identificar os marcos históricos do desenvolvimento do processo de ensino e 
aprendizagem da leitura e da escrita, reconhecendo a sua importância para esta 
área da educação na contemporaneidade. 
ATITUDES 
Refletir sobre práticas de alfabetização e letramento na atual conjuntura 
educacional, sensibilizando aos educadores para romper com os paradigmas de 
antigas práticas pedagógicas de leitura e escrita. 
Viajando pelas cartilhas do ABC: e aprendia?
O processo histórico do ensino e da aprendizagem da leitura e da escrita tem como princípio o aparelhamento do trabalho pedagógico sugerido por Comenius, que sistematizou a aquisição da leitura e da escrita através da cartilha, um método que perpassou gerações, principalmente nos longos anos da escola tradicional. Atualmente, devido as tecnologias da informação e da comunicação, fruto de um processo de expansão e globalização do capitalismo, as cartilhas foram extintas e substituídas por livros didáticos, cadernos de atividades e até livros eletrônicos. 
Comenius: Um bispo protestante da Igreja Moraviana, educador, cientista e escritor checo. Como pedagogo, é considerado o fundador da didática moderna. Seu nome era Jan Amos Komenský (em latim, Iohannes Amos Comenius; em português, Comênio; (nasceu em Nivnice, 28 de março de 1592 e morreu em Amesterdão, 15 de novembro de 1670).
Mas conhecer um pouco da história desse instrumento de alfabetização é importante para contextualizar as práticas pedagógicas de ensino e aprendizagem da linguagem escrita. Em plena ascensão do capitalismo comercial ou mercantilismo entre o século XV e XVIII, o trabalho manufatureiro ditava a nova ordem social da burguesia europeia. Foi nesse período que era preconizado pelos reformadores protestantes a importância da aquisição da leitura para conhecer a Bíblia. Dessa forma, Comenius, enquanto pastor protestante e burguês, cria no século XVII os fundamentos da escola moderna, cuja prática pedagógica se baseava em alguns princípios do capitalismo. Sua ideia foi substituir as grandes obras científicas e reduzir o trabalho docente num compêndio (livro didático), por isso criou-se a cartilha para ensinar a ler.
Para Cagliari (1988), as cartilhas surgiram muito antes das salas de alfabetizaçãonas escolas, pois elas serviam de apoio impresso para quem queria aprender a ler e escrever em casa. Somente após a Revolução Francesa, com o surgimento das escolas, as cartilhas foram se transformando e se adaptando as mudanças. Inicialmente, o alfabeto, as letras e as sílabas eram estruturados em tabelas, depois veio exemplos de palavras e desenhos como suporte de leitura. Com o tempo surgiram pequenos textos, e consigo exercícios estruturais de configuração das palavras. O autor critica que as cartilhas não dispunham de exercícios de produção textual, pois era tão forte o foco na avaliação e na fixação de aprendizagem, que elas não priorizavam o que os estudantes precisavam de fato aprender, por exemplo, ler. Era mais fácil o estudante decorar do que descobrir a magia e o caminho para a leitura. E quando os estudantes surpreendiam a professora, a mesma não sabia agir, pois estava presa a método cartilhesco. 
Reforça o autor, que as cartilhas inicialmente foram criadas para colaborar com a leitura, no entanto, passou a ser um instrumento de ensino de escrita, onde a leitura ficou em segundo plano em decorrência das atividades de escrita como: 
ditados, cópias, exercícios de análise fonética e roteiros de compreensão textual. 
É óbvio que sua organização estava estruturada de tal forma que levasse o aprendiz a conhecer as palavras com apoio de gravuras, bem como, as sílabas e as letras do alfabeto. Além disso, a escola definida por Comenius era uma escola que usava o lema “ensinar a todos”, ou seja, ao mesmo tempo, com o mesmo método, desrespeitando a individualidade e as diferentes formas de aprender. 
Basicamente, o método cartilhesco de fazer com que as crianças aprendessem a ler, não cabe a nós o mérito de avaliação. No entanto, é preciso ressaltar que, as técnicas e os métodos de ensino e aprendizagem da leitura e da escrita tiveram cada uma em seu tempo sua utilidade, finalidade e objetivo, como tem hoje os livros didáticos. A primeira cartilha que se tem notícia foi publicada em 1853 em Lisboa, Portugal, pela Imprensa Nacional, denominado “Método Castilho” criado por Antônio Feliciano de Castilho. Esse método de alfabetização era considerado rápido e aprazível (agradável) de leitura, onde a cartilha tanto era usada pelas escolas como pelas famílias. Passados dois anos, Antônio Feliciano veio ao Brasil para divulgar seu método de alfabetização. Vejamos abaixo algumas imagens.
CASTILHO-1853
CENA DE SALA DE AULA - 1853 
Pressupomos que uma das últimas obras do ensino cartilhesco, foi a cartilha “Casinha Feliz” de 1987 das autoras Iracema e Eloisa Meirelles, cujo método adotado é a concepção fônica do ensino da leitura, de forma efetiva, lúdica e criativa de alfabetizar. Mas foi a Cartilha da Ana e do Zé, que alguns de nós, ou alguns de seus pais, na década de 1980, aprenderam a ler e a escrever (imaginemos que sua publicação se deu em 1985). Se o interessou parte dessa história do ensino das cartilhas, recomendamos a visualizar algumas imagens (em anexo). 
	
CARTILHA A CASA FELIZ
CARTILHA DA ANA E DO ZÉ 
IRACEMA E ELOIA MEIRELES 
1985
1987
Quando discutimos os instrumentos de alfabetização, paralelamente debatemos os seus métodos. Segundo Ferreiro (2010), há uma tradição polêmica sobre qual prática metodológica de alfabetização seria mais eficaz: analítico ou sintético, fonético ou global. 
Mas o que seria esses métodos: analítico ou sintético, fonético ou global?
Com o método sintético/fonético a criança aprenderá a fazer uma correspondência entre o som e a grafia, ou seja, entre o que se fala e o que se escreve (fonemas x grafemas), onde vai numa direção das partes para o todo: letra por letra, sílaba por sílaba e palavra por palavra, até chegar as frases e por fim ao texto. 
Já com o método analítico ou global, popularmente conhecido como método “olhar-e-dizer”, a criança aprenderá a ler de maneira global ou audiovisual (vendo o todo), na qual vai numa direção do todo para as partes, a partir de unidades complexas (maiores) da linguagem, para depois decompor em unidades simples (menores): textos, palavras, frases sílabas e letras. 
O uso das cartilhas como ferramenta de alfabetização inclui-se no método sintético ou fonético. No entanto, seu método é particular, foi e é considerado um dos mais antigos sistemas de alfabetização, denominado de “método alfabético” ou “método de soletração”, onde as crianças decoravam as letras do alfabeto, suas combinações silábicas, e por fim as palavras, sentenças curtas (frases) e depois textos (historinhas). 
Seria, digamos um passo-a-passo (soletrar sílabas) até decodificar palavras, por exemplo, a palavras BOLA, b-o, bo, l-a, la = bola.
“A cartilha, mais do que qualquer outro tipo de livro didático, por ser uma obra simplificada e esquemática, pressupõe, por parte de quem a usa, um conhecimento profundo do conteúdo da obra e das técnicas de ensino e aprendizagem” (CAGLIARI, 1998, p.24). Depois das cartilhas vieram os livrinhos que pouco contribuiu com o processo de aprendizagem das crianças. Este instrumento segundo o autor foi confeccionado para leitores com noções básicas de decifração da escrita, e aí 
está uma das grandes dificuldades dos estudantes.
Todo esse debate acerca dos métodos ou concepções ao longo dos anos, segundo Ferreiro (2010) não levou em conta as concepções das crianças sobre o sistema de escrita. É certo dizer segundo a autora que nenhuma prática pedagógica é neutra, umas vão levar a criança acreditar que o conhecimento está nos outros e deles vão receber algo; há outras em que o conhecimento já está estabelecido, fechado, imutável; e umas em que a criança será mero espectador do conhecimento, sem se quer questionar os seus porquês. Os métodos apresentados são formas como os estudiosos/autores conceberam o processo e o objeto da aprendizagem, se normais ou anormais, certas ou erradas, eles existiram, tiveram sua funcionalidade e, hoje servem de reflexões epistemológicas para novas construções. 
Alfabetização, alfabetizado, analfabeto, alfabeto
“A escrita não é um produto escolar, mas sim um objeto cultural, resultado do esforço coletivo da humanidade. [...] existe um processo de aquisição da linguagem escrita que precede e excede os limites escolares” (FERREIRO e TEBEROSKY, 2010, p.44-45). Iniciamos esta sessão com a fala dessas renomadas estudiosas da psicolinguística, apenas para fazer referência que a alfabetização como um processo de aquisição (acesso) da leitura e da escrita, existe muito antes da criação das escolas. Significa dizer que o local de aprender não é privilégio apenas de um espaço instituído para tal fim (a escola), mas que em casa, na rua e em quaisquer outros espaços se aprende, como foi assim a concepção inicial quando as primeiras cartilhas foram criadas (se alfabetizava em casa) como instrumento de alfabetização. 
A alfabetização é a aquisição da linguagem oral ou escrita através do conhecimento e reconhecimento do código escrito, o alfabeto. Quando um sujeito em idade escolar consegue codificar (transferir a oralidade para a escrita – ato de escrever) e decodificar (ler o que está escrito), ele está alfabetizado. Para Soares (2011, p.16) “a alfabetização seria um processo de representação de fonemas em grafemas (escrever) e de grafemas em fonemas (ler) [...]”.
Sabendo disso, cabe destacar segundo a autora que a escrita não é uma mera reprodução da fala, mesmo que em alguns casos esta correspondência faça valer esta prerrogativa. Ler e escrever, para além da codificação e decodificação também significam apreensão e compreensão de significados expressos na leitura e na escrita. 
Em seu sentido pleno, o processo de alfabetização deve levar à aprendizagem não de uma mera tradução do oral para o escrito, e deste para aquele, mas à aprendizagem de uma peculiar e muitas vezes idiossincrática relação fonemas-grafemas, de um outro código, que tem, em relação ao código oral, especificidade morfológica e sintática, autonomia de recursos de articulação do texto e estratégias própriasde expressão/compreensão (SOARES, 2011, p.17).
Desse modo, o processo de alfabetização em termos técnicos deve se dá quando um sujeito aprende o alfabeto e se torna autônomo e usa estratégias próprias de leitura, expressão e compreensão. Além disso, para compreender como o alfabeto funciona é preciso conviver com textos e analisar a composição das palavras, ou seja, fazer uma análise metalinguística, com um olhar criterioso para o som das palavras.
O debate acerca do conceito de alfabetização ultrapassa a técnica mecânica da língua escrita e a compreensão/expressão de significados, pois esses aspectos consideram a alfabetização como processo individual, como ressaltou a autora. Soares (2011) aponta um aspecto social do conceito, que depende também de predicados culturais, econômicos e tecnológicos. 
A alfabetização tem muito mais haver com um processo de pensar sobre a linguagem. “Mais que uma aprendizagem de habilidades, conceitos ou regras, o alfabetizando deve conquistar uma consciência metalinguística [...] e construir uma nova relação com a fala interior de modo a conciliar seus processos mentais às exigências da escrita [...] (COLELLO, 2004, p.24). Como o autor coloca, se passarmos a dar prioridade a escrita como elemento de expressão de ideias e a leitura como forma de compreensão do mundo, não há como recusar a necessidade de sintonia entre o pensamento e a linguagem, nem tampouco a mediação entre o falar e o escrever. 
Segundo ainda Colello (ibidem), “a capacidade de ler e escrever não depende exclusivamente da habilidade do sujeito em “somar pedaços de escrita”, mas, de compreender como funciona a estrutura da língua e o modo como é usada em nossa sociedade”. Compreendendo que a evolução no sentido de desenvolver-se bem a leitura e a escrita depende exclusivamente do sujeito, mas, quando se domina os caminhos da leitura e da escrita, o sujeito lê para aprender, pois é lendo que se aprende e é escrevendo que se evidencia o aprendizado. 
 Como já foi dito, a construção da escrita está absolutamente atrelada à linguagem oral, apesar de Ferreiro e Teberosky (1985, p.24) apontarem “[...] que nenhuma escrita constitui uma transcrição fonética da língua oral”. Para as autoras, o ato de escrever conecta-se a pensar sobre a escrita e não simples representação da fala. Essa afinidade escrita – fala é um recorte da teoria de Piaget, que as autoras empregaram para assegurar que o estudante aprende, sobremaneira agindo sobre as coisas do mundo, construindo suas categorias de pensamento e organizando seu próprio mundo.
Sabendo que Ferreiro (2010) reforça a ideia de que a escrita é um sistema de representação da linguagem e não uma transcrição gráfica das unidades sonoras, ela aponta que a escrita espontânea é o que há de mais belo e produtivo, porque se deve considerar mais os aspectos construtivos da escrita (o que se pensa quando se escreve) do que os aspectos gráficos (qualidade do traço, espaço, forma, orientação etc). 
Apontando que do ponto de vista construtivo a escrita infantil segue uma linha de evolução regular, Ferreiro (2010) distingue três grandes períodos do pensamento da criança ao refletir sobre a escrita. O primeiro seria o ato da criança em distinguir o que é desenho (representação icônica) e o que é escrita/ letras (representação não icônica); o segundo período (intrafigural), a criança busca diferenciar a quantidade mínima de letra por palavra (três) para ser lida, bem como a qualidade da escrita para ser interpretada (se as palavras têm as mesmas letras não é interpretável); o terceiro período, diz respeito à diferenciação interfigural, ou seja, o que a criança irá escrever na sequência precisa ser diferente do que aquilo que ela escreveu anteriormente. 
Quando Ferreiro e Teberosky (1985) realizaram o estudo da Psicogênese da Língua Escrita em Buenos Aires entre 1974-1976, concluíram que, quando as crianças estão no processo de aquisição da língua escrita, elas pensam e notam o código, suas características formais gráficas e suas interpretações, principalmente no que tange: a quantidade mínima e variedade de caracteres aceita pelo sujeito; a relação entre desenho e texto; o reconhecimento e nomeação das letras; a distinção entre letras e outros sinais gráficos e a orientação espacial da leitura e da escrita etc; e dessa pesquisa resultou na definição pelas autoras dos cinco níveis sucessivos e hipotéticos da escrita: grafismo; pré-silábico; silábico; silábico-alfabético; alfabético.
Abaixo, observemos as descrições e alguns exemplos:
Quadro 1 – NÍVEIS PSICOGENÉTICOS DA ESCRITA.
	NÍVEIS
	CONCEITOS
	EXEMPLOS
	1 . GRAFISMO
	Reprodução de modelo do que a criança identifica da forma básica.
	
	2. PRÉ-SILÁBICA
	Escrita se aproxima de letras; hipótese de quantidade mínima de letras e da variedade posicional.
 ( permuta da ordem linear )
	
	3 . SILÁBICA
	Hipótese da tentativa de sonorização das letras; cada letra vale uma sílaba. Escrita ora distante das letras, ora diferenciadas.
	
	4.SILÁBICO-ALFABÉTICA
	Hipótese de transição entre cada letra que vale uma sílaba e a sonorização das letras (conflito interno conceitual e a realidade exterior do sujeito).
	
	5. ALFABÉTICA
	Hipótese de correspondência da escrita e valores sonoros (menor que a sílaba). Exige análise fonética antes de grafar.
	
Fonte: Figura 3-Hipósteses de Escrita (CARNEIRO, 2014, p.10).
Analisando o quadro acima percebemos que a capacidade de ler e escrever não depende exclusivamente da habilidade do sujeito em “somar pedaços de escrita”, mas, antes disso, de compreender como funciona a estrutura da língua e o modo como é usada em nossa sociedade (COLELLO, 2004, p.24). 
Neste sentido, “etimologicamente, o termo alfabetização quer dizer levar à aquisição do alfabeto, ensinar as habilidades de ler e escrever, processo de aquisição do código escrito, das habilidades de leitura e escrita” (SIMONETTI, 2007, p.17). E, observando o quadro 1, pode-se apregoar que um sujeito cognoscente (aquele que tem a capacidade de conhecer) para ser considerado alfabetizado, ele deve no mínimo se enquadrar no nível psicogenético 5, onde pensar sobre a escrita é refletir sobre sua própria escrita e analisar foneticamente cada articulação antes de escrever. Dessa mesma forma, não se pode apontar que um sujeito alfabetizado é aquele que sabe decodificar sílabas ou palavras isoladas, além daquele que não teria capacidade de redigir um texto adequado ortograficamente. 
A alfabetização tornou-se ao longo dos anos até sua atualidade, um processo de aquisição de ensino e aprendizagem do alfabeto, cuja técnica de ler, escrever, expressar e compreender a língua escrita e oral dará autonomia ao sujeito frente às práticas sociais de leitura e escrita. 
Longe de pensar que ler e escrever são apenas processos mecânicos, ou simplesmente técnicas, Colello (2004) traz uma importante discussão sobre a relação entre o que ela chamou de “educação do corpo inteiro” e o processo de aquisição da leitura e da escrita. O que ela denomina de “corpo inteiro” diz respeito à integração imprescindível de três dimensões (psicomotora, cognitiva e socioafeitva) para a aprendizagem da linguagem oral e escrita. 
Uma criança em idade escolar que frequenta a escola traz consigo não só a fala, mas seu corpo, que é uma parte de sua linguagem, de sua comunicação. Referente à alfabetização, quando há uma educação do corpo, esse aspecto influencia positivamente na aprendizagem da leitura e da escrita, tanto em termos figurativos (escrita propriamente dita) como no significado e compreensão da ação de escrever, principalmente quando se registra a visão de mundo e o modo de ser das pessoas. 
Segundo Soares (2011), as discussões epistemológicas em torno do conceito de alfabetização não podem deixar de considerar algumas perspectivas que delimitam a natureza do processo da aquisição da leitura e da escrita, por ser um processo múltiplo, complexo, com diferentes facetas. Para ela, as perspectivas são: psicológicas, psicolinguísticas, sociolinguísticase linguísticas. No quadro 2, discorremos informações sobre cada perspectivas. 
Quadro 2 – PERSPECTIVAS DO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO
	PERSPECTIVAS 
	ÊNFASE 
	PSICOLÓGICAS
	Relação entre inteligência (QI) e alfabetização; 
Relação entre aspectos fisiológicos, neurológicos e psicológicos da alfabetização; 
Ideologia do dom (sucesso/fracasso na aprendizagem da leitura e escrita);
Disfunções psiconeurológicas da leitura e da escrita. (afasia, dislexia, disgrafia, disortografia, disfunção cerebral mínima etc.)
	PSICOLINGUÍSTICAS
	Abordagens cognitivas;
Análise dos problemas linguísticos (maturidade linguística para aprender as relações entre linguagem e memória, a interação entre a informação visual e não visual no processo de leitura etc). 
	SOCIOLINGUÍSTICAS
	Usos sociais da língua;
Problema dos diferentes dialetos (orais e escritos);
Problema das diferentes funções de comunicação, usadas em diferentes situações sociais e com diferentes objetivos.
	LINGUÍSTICAS
	● Progressivo domínio de regularidades e irregularidades (relação entre sons e símbolos gráficos/fonemas-grafemas).
Enfim, o processo de alfabetização é complexo e multifacetado, por isso, quando uma criança se encontra alfabetizada, ela não faz uso apenas de letras, sons e escritas, mas de muitos aspectos que compõem um conjunto de habilidades em linguagem. E uma das principais habilidades é a capacidade de ser sujeito de sua própria educação, de ser capaz de conscientizar-se da importância de sua autonomia para sua formação cidadã. A seguir discutiremos a luz de Paulo Freire, a relação indissociável entre educação e transformação social.
Alfabetização e a construção de homens de consciência.
No inicio do século XX, por volta de 1932 no Brasil, os educadores Fernando de Azevedo, Anízio Teixeira, Lourenço Filho e outros intelectuais lideraram o movimento da Escola Nova, que consistia romper com uma escola de relações unilaterais, onde o ensino era baseado na transmissão do conhecimento e o professor era o centro do processo de ensino e aprendizagem. Na escola o estudante aprendia de forma tradicional e por muito tempo se alfabetizava com cartilhas do ABC. 
Escola Nova: Foi um movimento de mudança do ensino iniciado na Europa, América e Brasil por volta da metade do século XX. No Brasil, o Movimento Pioneiro da Escola Nova de 1932, teve seu desenvolvimento em decorrência das transformações econômicas, politicas e sociais pelas quais passavam o país, num contexto da crescente urbanização, ampliação da cultura do café, da industrialização e progresso econômico. Em virtude disso, surgiram contradições e desordens político-sociais e consigo uma mudança na visão intelectual brasileira. 
A modernidade é palco de grandes mudanças e perspectivas. Surgem então, as teorias construtivistas e sociointeracionistas de Piaget, Vygotsky e Henri Wallon, que definiram em seus postulados como se dá o desenvolvimento cognitivo do sujeito, num constante movimento de interações e construções, entre o sujeito e o objeto do conhecimento dentro de um contexto histórico da busca pela autonomia e liberdade. Podemos citar Paulo Freire, um grande educador brasileiro, quando disse que a alfabetização é a forma de consciência política. 
Seu método de alfabetizar tornou-se mundialmente conhecido por ter uma carga ideológica e conscientização dialógica. Seu fundamento era a liberdade das massas de um estado ou condição de ingenuidade para um estágio de criticidade, cujo instrumento era o diálogo. Jamais reduziu a alfabetização ao “puro aprendizado mecânico da leitura e da escrita, mas como ato político, [...] ao projeto global de sociedade a ser concretizado [...]” (FREIRE, 1978, p. 14). 
O lugar da escola precisa ser um espaço que valoriza o processo de alfabetização como um ato de formar pessoas, conscientes de sua condição de seu poder de transformação. A escola precisa para além da leitura e da escrita, atuar como um agente de transformação, pois a alfabetização não é uma aprendizagem neutra, é um ato ideológico, político e social. Na realidade a escola age na alfabetização como se ela fosse um aprendizado neutro, sem relação com caráter político. O ato de ler e escrever para a escola não passa do ato instrumental para ter conhecimento, ou seja, a escola não reconhece na alfabetização um processo de construção de saberes e uma forma de conquista do poder político.
O processo de transformação social passa necessariamente pela escola. O vínculo entre educação e a mudança social tem sua gênese histórica na Revolução Francesa (1789-1799), início basicamente na era moderna, cujos ideais de liberdade e democracia deram também a escola um ar iluminista. “O homem deve ser sujeito de sua própria educação. Não objeto dela. Por isso, ninguém educa ninguém” (FREIRE, 1979, p.28). 
Para isso é necessário que a educação e o processo de alfabetização deem suporte ao homem para que ele mesmo se torne sujeito de sua própria história, como forma de participar ativamente da vida em sociedade. A sua consciência linguística mantém uma forte ligação com a consciência social, por isso “o domínio da língua tem estreita relação com a possibilidade de plena participação social, pois é por meio dela que o homem se comunica, tem acesso à informação, expressa e defende pontos de vista, partilha ou constrói visões de mundo, produz conhecimento” ( BRASIL, 1997, p. 21).
“A educação tem caráter permanente. Não há seres educados e não educados. Estamos todos nos educando. Existem graus de educação, mas estes não são absolutos. O homem, por ser inacabado, incompleto, não sabe de maneira absoluta” (ibidem). Com isso, o professor exerce sobre o estudante uma influência motivadora para que o alfabetizando torne-se sujeito de sua alfabetização, que o permita passar por caminhos e meios que o leve a conhecer o conhecimento, isto é, o papel do professor não é apresentar o objeto ao alfabetizando pronto e acabado, mas proporcionar meios, o acesso, a motivação para curiosidade e o esforço da busca, pois só assim o ato de conhecer/aprender torna-se valoroso.
Soares (2011) traz uma relevante contribuição acerca da relação entre alfabetização e cidade, que inclusive escreveu em seu livro “Alfabetização e Letramento”, um capítulo para desmistificar o lado negativo e positivo dessa relação. O fato é que a alfabetização (o acesso a leitura e a escrita) não será condição única para o exercício da cidadania, uma vez que a conquista deste direito, requer uma série de outros como : políticos, econômicos, sociais, culturais etc. 
No entanto, em uma sociedade como a nossa: moderna, grafocêntrica (sociedade que é centrada na escrita), tecnológica, informativa e comunicativa, segundo a autora, enquanto uns tem posse total desses domínios linguísticos e sendo privilégios de determinadas classes sociais, assumindo com mais poder postos de trabalho, áreas sociais, recreativas e culturais, por vezes, a leitura e a escrita torna-se um instrumento de discriminação social. Por isso, que o acesso a todos a leitura e a escrita, indiscriminadamente, como ferramenta indispensável à vida política, social, profissional, econômica e cultural é condição necessária à cidadania, ultrapassando a mera técnica mecânica de ler e escrever. Educação, leitura e escrita é direito de todos, como arma de luta pela conquista da cidadania, e elemento imprescindível ao exercício da cidadania. 
A natureza da alfabetização supracitada anteriormente revela que sua complexidade e múltiplas concepções (perspectivas) têm origem e condicionantes diversos, bem como implicações na educação, como preconizou Soares (2011). A autora nos mostra que tais implicações vão desde os métodos, passando pelo material didático, até chegar à formação do alfabetizador. Atualmente o sistema brasileiro de educação tem investido maciçamente na formação de professores, especialmente da educação infantil ao ensino fundamental menor, onde está localizada a alfabetização. 
Essas questões acerca de métodos, materiais didáticos e práticas pedagógicasserão tratadas na próxima unidade de estudo. Por hora, a alfabetização sinônimo de leitura e escrita, mas também de conscientização social, é um estado ou condição que está no mundo, não somente inserido num status de leitor ou escritor, mas de ser gente, agente transformador social. Para tanto, é preciso que o sujeito seja capaz de fazer uso de seu saber linguístico nas práticas sociais de leitura e escrita, fundindo numa relação entre alfabetização e letramento, assunto do nosso próximo tópico. 
Alfabetização na pré-escola
Em nossa literatura brasileira ou na nossa legislação não há nenhum indicativo, pelos menos a que temos acesso, que indica – criança na pré-escola é para aprender a ler e escrever aos cinco anos de idade. Ferreiro (2010) aborda esta discussão e busca desmistificar essa obrigatoriedade ou não. 
A autora aponta para o fato que as escolas quando diz que criança nessa idade não é pra ler e escrever ainda, ela incumbe-se de vasculhar e dar descaminho de tudo que está na sala de aula que acesse os pensamentos das crianças para a leitura e a escrita, é sumariamente escondido. Mas, há escolas que apoia esta campanha de que criança aos cinco anos de idade é para aprender a ler e escrever. Dessa forma, ela mesma cuida para que o ambiente escolar e a sala de aula seja repleto de textos, cartazes, desenhos, números, etc. 
 Mesmo que esta decisão fique por conta da escola e da coordenação, as crianças só aprenderão quando lhes é ensinado. Contudo uma situação é certa – as crianças aprendem antes mesmo de chegar à escola. Assim, a autora conclui; “Com base nas investigações realizadas podemos afirmar que nenhuma criança urbana de seis ou sete anos de idade começa o primário com total ignorância da língua escrita” (FERREIRO, 2010, p. 97). 
 
Portanto, a autora complementa, a sala da pré-escola deveria permitir a liberdade de experimentar os sinais escritos aos estudantes. E no lugar de estarmos preocupados com a questão se pode ou não crianças de cinco anos aprender a ler e a escrever na pré-escola, deveríamos dar a elas condições necessárias para aprender. 
Alfabetização e Letramento: a gênese e caminhos no Brasil
Alfabetização ou Letramento? Qual a melhor forma de usar o binômio no que se refere os atos de ler e escrever? 
Há uma diferença conceitual no uso dos conectivos entre as duas palavras, nos dois usos. Ora eles parecem indicar alternativa e incompatibilidade, ou, complementaridade. Bem, Colello (2004) nos traz a fala de Ferreiro (2003) quando ela se refere ao termo Letramento, usado no Brasil, que a deixou surpresa, pois começou a usar o termo como substituto da alfabetização, virando sinônimo de decodificação, como sendo uma ação de contato com diferentes tipos de textos, para se chegar a uma compreensão do que se lê. Para a autora, isso seria um retrocesso na história da linguagem. Ela nega-se a aceitar que haja um momento para decodificação anterior a percepção da função social do texto. Por fim, aceitar tal argumentação é apoiar a velha razão da consciência fonológica. 
Abrimos esta sessão com a discussão, não desprezando o trabalho de Kato (1986) quando fez referência ao termo no seu livro - No mundo da escrita: uma perspectiva psicolinguística, mas, apenas para delinear que ela foi uma das primeiras a usar o termo no Brasil nesse período, e como disse: o uso do termo. 
Emília Ferreiro refere-se à utilização do vocábulo letramento se dirigindo a uso como retrocesso, uma vez que, como os textos até hoje trazem, alfabetização em inglês é literacy, e letramento em inglês é literacy. A funcionalidade de ambos os termos é a mesma: acesso a leitura e a escrita. Colello (2004) faz referência a Magna Soares, como uma das autoras da área que defende a complementaridade e o equilíbrio entre Alfabetização e Letramento. 
Quanto ao primeiro uso do termo “letramento” apresentamos que, a escola tem o papel de colocar a criança frente a frente com o mundo da escrita, fazendo com que o sujeito torna-se funcionalmente letrado, ou seja, capaz de usar a linguagem escrita para crescer e aprender individual e coletivamente. Podemos dizer que a norma culta da língua surge do letramento, pois é função da escola desenvolver no estudante a competência de dominar a linguagem falada, que é aceita pelas instituições. 
 
A autora apresenta o termo letramento como consequência da aprendizagem individual da leitura e da escrita para uso social, ou seja, o uso da norma culta da língua. A autora não explica o uso do termo e nem tampouco busca expor o conceito do termo. Ela, apenas se refere que é função da escola inserir o sujeito no mundo da escrita para que se torne letrado e consequentemente capaz de usar a linguagem para comunicação. 
 Segundo Silva (2011), dois anos depois, Leda V. Tfouni distingue alfabetização e letramento, dizendo que o primeiro se refere a um processo individual de aquisição de leitura e escrita (está alfabetizado), enquanto o segundo refere-se ao âmbito social da aquisição da escrita. No que diz respeito essa questão dual “a oposição feita entre a “alfabetização” e “letramento” será tanto mais rica quanto ela puder subsidiar o abandono de certas práticas pedagógicas que, durante anos, têm abafado a criatividade e a comunicação infantil” (COLELLO, 2004, p.122). 
 
Para concluir incialmente essa garimpagem pelo o uso do termo letramento, 
Silva (2011) nos apresenta o conceito de Kleiman (1995)
Podemos definir hoje o letramento como um conjunto de práticas sociais que usam a escrita, enquanto sistema simbólico e enquanto tecnologia, em contextos específicos, para objetivos específicos [...]. As práticas específicas da escola, que forneciam o parâmetro de prática social segundo a qual o letramento era definido, e segundo a qual os sujeitos eram classificados ao longo da dicotomia alfabetizado ou não alfabetizado, passam a ser, em função dessa definição, apenas um tipo de prática – de fato, dominante – que desenvolve alguns tipos de habilidades, mas não outros, e que determina uma forma de utilizar o conhecimento sobre a escrita. (KLEIMAN, 1995, p. 19, apud SILVA, 2011, p.23-24)
De posse do conhecimento da leitura e da escrita, um sujeito pode-se considerar apto ou competente para se comunicar com o mundo, ser interlocutor e receptor de informações e comunicações. Segundo Cavazotti (2004), até certo período escolar do ensino tradicional os métodos de ensino e o material utilizado (a cartilha) deram conta das condições históricas próprias do aprendizado naquele período. Hoje, com a globalização, as tecnologias e a rapidez das informações, o mundo exige das pessoas e da escola novos métodos, recursos e patamares de leitura e escrita, por isso que surge o termo letramento. 
A apropriação das competências de leitura e escrita pelo sujeito para agir no mundo, concorre para o conceito de letramento. Conforme Soares (2010), o termo Letramento (o verbete apareceu pela primeira vez no Dicionário Houaiss no Brasil em 2001), surgiu no Brasil na década de 80, usado pela primeira vez por Mary Kato em seu livro No mundo da escrita – uma perspectiva psicolinguística, como uma versão portuguesa da palavra literacy da língua inglesa (traduzida para o português como alfabetização), que significa: situação ou qualidade daquele que aprende a ler e escrever, que num plano individual seria estar alfabetizado e utilizar tal tecnologia ( ler e escrever) e envolver-se nas práticas sociais de leitura e escrita.
Para a autora, o mundo está se tornando cada vez mais grafocêntrico, ou seja, uma sociedade centrada na escrita, exigindo das pessoas que sabem ler e escrever práticas sociais que modifiquem seu estado ou condição de estar no mundo, inclusive os aspectos linguísticos. 
A alfabetização de um lado se encarrega de ensinar/aprender a ler e a escrever, e por outro lado, o letramento dedica-se não somente em saber ler e escrever, mas mobilizar o cultivo da leitura e da escrita que privilegiem as demandas sociais de exercício dessas práticas. Embora, essas duas ações pedagógicas se distinguemno seu fazer, elas se completam, de modo que ensinam a ler e escrever em situações das práticas de leitura e escrita, tornando o estudante, tanto alfabetizado quanto letrado. 
Ficam evidentes as principais características que diferencia o letramento da alfabetização, especialmente o uso das competências de ler e escrever em contextos sociais de leitura e escrita. Por isso, se pressupõe que os termos não são consequentes, isto é, mesmo sendo alfabetizado um sujeito não estará letrado se este não fizer uso de sua capacidade de leitor e escritor, e assim, vice e versa. 
O letramento, ou ser letrado, ou estar letrado é muito mais complexo do que se imagina (apenas dizer que o letramento é uso da leitura e da escrita). É mais que isso, pois envolve uma complexa rede de significados de discursos, seja ele oral ou escrito. Segundo Cavazotti (2004) estar letrado é necessário o leitor ser capaz de apreender o sentido dos discursos, interpretando os elementos históricos, científicos e ideológicos que o instituem. Dominar os elementos da textualidade que edificam o discurso oral e escrito, bem como os elementos materiais de sua decodificação (letras e sons).
Neste sentido, junto à ideia de Soares (2010), afirma Rojo (1998), que o processo de letramento tem indissociável ligação com a construção do discurso oral, e optar por uma visão socioconstrutivista do letramento e da escrita, constitui re- (pensar) às relações entre a linguagem oral e a escrita, porque “[...] o desenvolvimento da linguagem escrita ou do processo de letramento da criança é dependente, por um lado, do grau de letramento da instituição familiar [...], em seu cotidiano, de prática de leitura e de escrita” ( ROJO, 1998, p. 123).
“Com maior ou menor intensidade, o processo de letramento geralmente tem início muito antes do ingresso na escola e configura-se como saber fundamental no processo de alfabetização, explicando muitas vezes as diferenças no ritmo de aprendizagem dos alunos” (COLELLO, 2004, p.121). Ou seja, as práticas sociais de leitura e escrita antes do contato com elas nos muros da escola, dão condições e habilidades específicas aos estudantes que facilita sobremaneira o aprendizado da linguagem em termos do processo de aquisição da leitura e da escrita (alfabetização).
Você sabe por que o letramento é um processo que se inicia antes da escolarização e da alfabetização? 
Porque a linguagem sendo uma forma comunicativa pessoal sua orientação se dá e se realiza num processo de prática social em distintos grupos sociais, como preconizou os estudiosos e professores que redigiram os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa. 
A linguagem é uma forma de ação interindividual orientada por uma finalidade específica; um processo de interlocução que se realiza nas práticas sociais existentes nos diferentes grupos de uma sociedade, nos distintos momentos da sua história. Dessa forma, se produz linguagem tanto numa conversa de bar, entre amigos, quanto ao escrever uma lista de compras, ou ao redigir uma carta — diferentes práticas sociais das quais se pode participar [...] (BRASIL, 1997, p.22).
Para Angela Kleiman (1995), o termo letramento se constituiu e é usado pelos motivos que seguem: sua essência acompanha o desenvolvimento do uso da escrita desde o século XVI; ampliou-se o poder de uso da escrita pelos grupos minoritários em detrimentos dos majoritários; substituir a tradicional alfabetização para explicar estratégias orais letradas de crianças que não são alfabetizadas, mas são consideradas letradas. Por isso, segundo a autora, as práticas sociais que se utilizam da escrita, como símbolo e tecnologia, especialmente na escola, como principal agência de letramento, ela volta-se não para ação de letrar (prática social), mas como uma prática de alfabetizar, enquanto processo de aquisição de códigos. 
As práticas sociais de que fala a autora, é uma ação de participação integral das pessoas que sabe ler e escrever na sociedade contemporânea, como reforça Brito (2005). Para ele, saber ler e escrever é condição necessária para o letramento. A participação para o autor é a capacidade de agir com autonomia intelectual, ou seja, ser capaz de “[...] decidir, calcular, planejar, intervir, criticar, transformar, solucionar, criar” (idem, p. 23). Essa capacidade tem um condicionante, ou mais de um – a aprendizagem da língua escrita e oral. Por isso letramento é um ato resultado de quem aprende a ler e escrever. 
Letramento é o resultado da ação de ensinar e aprender a ler e escrever. O estado ou a condição que adquire um grupo social ou um individuo como consequência de ter-se apropriado da escrita. (...) Já alfabetizado nomeia aquele que apenas aprendeu a ler e escrever, não aquele que adquiriu o estado ou a condição de quem se apropriou da escrita, incorporando as práticas sociais que as demandam (BRITO 2005, p.30, apud, SOARES, 1998, p. 20).
Como diz a autora, citando Soares (1998) não basta saber ler e escrever para ser letrado, é preciso fazer uso dessas habilidades, responder as demandas sociais diariamente. Brito (2005) indica que após a década de 1980 houve uma utilização indiscriminada com o conceito de letramento e semelhantes, que têm causado conflitos conceituais nas pesquisas e estudos. Por isso, a autora diz existir quatro termos conceituais em uso: letramento, alfabetismo, alfabetização e cultura escrita, que são análogos na forma e no conteúdo, principalmente no que equivalem no uso e na prática. Esclarece ainda que, o uso dos termos pode ser feito de modo complementar, o que leva a compreensão do significado da alfabetização em sua plenitude.
Atualmente, embora haja inúmeras definições para o binômio alfabetização e letramento, seja como aspecto de oposição ou de complementaridade, o que nos interessa aqui é configurar a nova tendência das práticas pedagógicas, usando a junção dos termos, como sugere Colello (2004) com o Modelo Ideológico de Alfabetização (opondo-se ao Modelo Autônomo), que chamou essa tendência de Alfabetizar Letrando. 
Modelo Autônomo: Modelo que prima pela a continuidade do uso da língua dominante, uma sociedade pauta no uso da norma culta da língua e prima pela assimilação do uso das normas linguísticas, desconsiderando o aluno e reforça o fracasso escolar.
Este modelo vincula-se as diversas formas das práticas de letramento, onde valoriza a sua simbologia cultural e o contexto de produção, quebrando um paradigma entre o momento de aprender e o momento de fazer uso da aprendizagem. Vale salientar que, os estudos da linguagem propõem um dinamismo entre descobrir a escrita (funções e manifestações) aprender a escrita (compreensão de regras e seu funcionamento) e usar a escrita (cultivo de suas práticas a partir de um referencial significativo para o sujeito). 
O autor nos apresenta o Modelo Ideológico em um esquema gráfico, vejamos:
ALFABETIZAR LETRANDO
DESCOBRIR AUSAR A 
 ESCRITAESCRITA
APRENDER A ESCRITA
Fonte: COLELLO (2004, p.113)
Para o autor, o principio alfabetizar letrando está relacionada a uma nova condição cognitiva e cultural do processo de aquisição da língua escrita. Essa aquisição vem ampliando seu campo de atuação (pluralidade de práticas sociais), assim, vemos emergir letramentos, letramento social, escolar, científico, musical e informático etc. 
E esses letramentos são possíveis porque a nossa linguagem é histórica, é cultural e uma forma de estar no mundo. Segundo o PCNs de 1997, a nossa língua por ser um sistema simbólico carrega consigo uma história, que possibilita a nós significar o mundo e a realidade. Dessa forma, aprender a língua não é tão somente aprender palavras, mas os seus sentidos culturais e com eles os modos pelos quais as pessoas compreendem e interpretam os fatos e a si mesmas. 
 Enfim, se considerarmos a posição das autoras, que avaliam que o principio básico da concepção de letramento é mais do que a simples aquisição da escrita e seu código (alfabetização), mas que mantém forte ligação e indissociável com o processo de alfabetização,estaremos admitindo que letramento de fato é uma prática social, do uso das habilidades e competências de ler e escrever em sociedade, para se comunicar e se informar, para ser alguém no mundo em que a língua escrita e falada em sua quase totalidade domina as relações entre homens e mulheres. 
Letramento ou Alfabetismo? A cultura escrita da alfabetização
Estar alfabetizado e letrado é uma condição inerente à pessoa que sabe ler e escrever com independência e faz uso social dessa condição para melhor participar de sua vida em sociedade, uma vez que, diariamente somos envolvidos mesmo que involuntariamente em contextos de letramento e de alfabetização. Desde os primeiros raios solares, já estamos vendo o horário do relógio, pegando nas embalagens para preparar o café da manhã vendo letreiros, placas e sinais no percurso do trabalho.
Um sujeito que é capaz de diferenciar o que são letras e símbolos, que sabe distinguir o que são formas de comunicação escrita e falada, que faz uso desses mecanismos da linguagem para se comunicar, é uma pessoa considerada alfabetizada, mesmo aquelas que sabem minimamente registrar ou reconhecer palavras, escrever seu nome ou se comunicar através de um bilhete, por pequeno que seja. 
A discussão chega num nível em que esse parâmetro de classificação a que nos referimos diz respeito ao que conhecemos como analfabetismo funcional, que consiste na condição daquele que consegue se comunicar muito pouco, segundo o padrão da norma para se considerar alfabetizada (alfabetizado pleno). Às vezes escreve apenas seu nome completo, lê palavras simples, sentenças curtas e pequenos textos, e algumas situações nem conseguem. 
Para o Indicador de Alfabetismo Funcional (INAF) do Instituo Paulo Montenegro, é “considerada analfabeta funcional a pessoa que, mesmo sabendo ler e escrever algo simples, não tem as competências necessárias para satisfazer as demandas do seu dia a dia e viabilizar o seu desenvolvimento pessoal e profissional”. Consideramos que essas pessoas que são classificadas nesse estágio de comunicação certamente “perderam” a oportunidade de serem alfabetizadas na hora certa, seja por questões pessoais, ou até mesmo por questões metodológicas. E o tempo passou e não teve como recuperá-lo.
Com isso, indica-se que o ensino da leitura e da escrita para os analfabetos funcionais pode ter sido levado em conta a escrita apenas como transcrição da fala, ou até mesmo apenas como um ato mecânico e motor, sem levar em conta o que eles pensavam sobre a escrita. Assim, [...] quando a escrita é considerada um ato prioritariamente motor [...], a maior preocupação dos alfabetizadores recai no treinamento das habilidades responsáveis pelos aspectos figurativos da escrita (coordenação motora, discriminação visual e organização espacial) [...] (COLELLO, 2004, p.17). Segundo o autor, nos parece bem claro, que ao conceber a alfabetização como um treinamento de habilidade (ler e escrever), o sujeito tem limitado sua capacidade de pensamento e da ação no mundo. 
Todos nós ao longo da vida aprendemos termos e palavras porque eles são passados de geração em geração, pois esse ato é cultural, isso é educação. Mas sobre alguns conceitos, precisamos nos aprimorar, especialmente quando muitos são desconhecidos. O termo analfabeto, segundo os dicionários portugueses é a pessoa que não sabe ler e nem escrever. Já o analfabetismo é o estado ou condição do analfabeto. 
	E alfabetismo? Você sabe o que é? Qual a ideia você faz deste termo? 
Você já ouvir falar algo sobre ele?
Bem, para responder a essas questões, primeiro tem-se que esclarecer um ponto: o verbete alfabetismo não é tão comum entre nós, mas ele é o oposto (positivo) do analfabetismo (negativo), que quer dizer estado ou condição de alfabetizado. Segundo Soares (2011) é aquele que aprende a ler e a escrever. O uso da palavra é bem recente, porque as mudanças que ocorreram continuamente, e a realidade linguística, como diz a autora, não é suficiente saber ler e escrever, além desse domínio se quer o uso dessas habilidades, incorporando-a a seu viver, modificando seu estado/condição de sujeito numa sociedade alfabetizada e letrada, isso como decorrência desses saberes.
É nesse sentido que o termo alfabetismo se aproxima do termo letramento, ou até mesmo se assemelha, pois o sentido dos dois consiste na essência do uso social da leitura e da escrita. Soares (2011) afirma que o alfabetismo admite duas dimensões: a individual e a social. A primeira diz respeito à habilidade de um sujeito ler e escrever, ou seja, a competência da pessoa com a leitura e a escrita. A segunda faz referência a “[...] um fenômeno cultural, referindo-se a um conjunto de atividades sociais, que envolvem a língua escrita, e a um conjunto de demandas sociais de uso da língua escrita” (SOARES, 2011, p.30). 
Britto (2005) nos alerta para o fato de que o termo letramento vem sendo acompanhado da palavra letrado denotando o sujeito que tem letramento, e não como uma pessoa culta, erudita como trazem alguns dicionários. Associar letramento a tais conceitos tem dificultado a compreensão, além do mais, tem causado confusão com vários termos como alfabetizado, escolarizado e culto. O autor no quadro abaixo faz uma diferença conceitual de cultura escrita, letramento, alfabetismo e alfabetização, justamente para organizar as nossas reflexões. Sua intenção foi sintetizar os termos para que os mesmos se tornem de fácil compreensão. 
	Cultura escrita – modalidade de organização social de base escrita, com implicações nas formas de produzir, viver, conhecer, representar.
Letramento – conjunto de práticas sociais de escrita e da leitura que definem os modos privilegiados de participar e produzir na sociedade de cultura escrita, tanto em ambientes escolares como em outros ambientes sociais.
Alfabetismo – conjunto de habilidades individuais de uso da escrita.
Alfabetização – processo de ensino e aprendizagem do sistema da 
escrita. 
Fonte: BRITTO, 2011, p. 32
Revisando algumas literaturas disponíveis nesse contexto de classificação – alfabetizado, não alfabetizado, alfabetizado pleno ou alfabetizado funcional, verificou-se que o mais importante é indicar as práticas sociais desses grupos. Por isso, Vera Masagão Ribeiro e Roberto Castelli Junior, que coordenam o Indicar de Alfabetismo Funcional, do Instituto Paulo Montenegro, nos apresenta os níveis de alfabetismo, sendo o primeiro o analfabeto (dividido em dois grupos), e os demais alfabetismo 1(elementar) , 2 (intermediário) , 3 (proficiente), são eles: 
	INDICAR DE ALFABETISMO FUNCIONAL
Criado no ano 2001, pelo Instituto Paulo Montenegro em parceria com a ONG Ação Educativa, é uma pesquisa que permite estimar os níveis de alfabetismo da população entre 15 e 64 anos e compreender seus determinantes. Avaliando suas habilidades e práticas de leitura, de escrita e de matemática aplicadas ao cotidiano.
Quadro 3 – NIVEIS DE ALFABETISMO DO INAF
ANALFABETOS FUNCIONAIS
Analfabeto - Corresponde à condição dos que não conseguem realizar tarefas simples que envolvem a leitura de palavras e frases ainda que, uma parcela destes consiga ler números familiares (números de telefone, preços etc.);
Rudimentar - Corresponde à capacidade de localizar uma informação explícita em textos curtos e familiares (como um anúncio ou um bilhete), ler e escrever números usuais e realizar operações simples, como manusear dinheiro para o pagamento de pequenas quantias ou fazer medidas de comprimento usando a fita métrica;
 FUNCIONALMENTE ALFABETIZADOS
Até a edição de 2011, este grupo era subdividido nos níveis Básico e Pleno.
A partir de 2015, buscando aprimorar a interpretação dos resultados, os respondentes passam a ser classificados em 3 níveis:
	Elementar - As pessoas classificadas neste nível podem ser consideradas funcionalmente alfabetizadas, pois já leem e compreendem textos de média extensão, localizam informações mesmo que seja necessário realizar pequenas inferências, resolvem problemas envolvendo operações na ordemdos milhares, resolvem problemas envolvendo uma sequência simples de operações e compreendem gráficos ou tabelas simples, em contextos usuais. Mostram, no entanto, limitações quando as operações requeridas envolvem maior número de elementos, etapas ou relações;
Intermediário – Localizam informações em diversos tipos de texto, resolvem problemas envolvendo percentagem ou proporções ou que requerem critérios de seleção de informações, elaboração e controle de etapas sucessivas para sua solução. As pessoas classificadas nesse nível interpretam e elaboram sínteses de textos diversos e reconhecem figuras de linguagem; no entanto, têm dificuldades para perceber e opinar sobre o posicionamento do autor de um texto;
Proficientes - Classificadas neste nível estão às pessoas cujas habilidades não mais impõem restrições para compreender e interpretar textos em situações usuais: leem textos de maior complexidade, analisando e relacionando suas partes, comparam e avaliam informações e distinguem fato de opinião. Quanto à matemática, interpretam tabelas e gráficos com mais de duas variáveis, compreendendo elementos como escala, tendências e projeções.
 Fonte: sitio do Instituto Paulo Montenegro: http://www.ipm.org.br/ 
Conclui-se que, no Brasil em pleno século XXI, ano de 2015, a população de 15 a 64 anos, 27% são analfabetos funcionais, numa amostra de 2002 participantes, 545 pessoas, mais de ¼ tem poucas habilidades de leitura e escrita. Além disso, quase 50% das pessoas pesquisadas estão no nível elementar de alfabetização, ou seja, são capazes de ler uma ou mais unidades de um texto médio, realizando pequenas inferências e resolvem problemas básicos das operações matemáticas. E o mais surpreendente resultado, no sentido de desfavorável, apenas 8% dos pesquisados (161 de um universo de 1.457 alfabetizados) apresentou-se proficientes em compreender e interpretar textos em diversas situações cotidianas, e resolvem problemas com múltiplas etapas, operações e níveis de informações. 
Parece-nos óbvio que quanto mais elevado o nível de escolaridade certamente é maior o nível de alfabetismo. Engana-se. A pesquisa mostra ainda que a relação entre a escolaridade e a distribuição nos níveis de alfabetismo não foi linear. Observamos: dos 2002 participantes, 5% não frequentaram a escola, 16% pararam ou concluíram no ensino fundamental - anos iniciais, 23% pararam ou concluíram o ensino fundamental - anos finais, 40% cursam ou concluíram o ensino médio, e 17% cursam ou concluíram a educação superior. Ou seja, mesmo com pessoas tendo chegado ao ensino médio ou a educação superior, elas não conseguem alcançar a escala de alfabetismo proficiente.
Outros dados que faz toda diferença fazem-se necessário revelá-los. Dos 2002 participantes da pesquisa, 48% são homens e 52% são mulheres, sendo que, 54,5% dos analfabetos funcionais são do sexo masculino, mesmo as mulheres sendo maioria. Mas no que tange o nível mais alto da escala do alfabetismo – a proficiente, os homens ocupam o mesmo percentual – 54%. Sobre o quesito raça/cor, 46% dos entrevistados declaram-se pardos, e somente 13% disseram que eram negros, enquanto os brancos eram 38% e amarelos ou indígenas eram 2%. 
E no que tange o foco da pesquisa – a relação entre alfabetismo e o mundo do trabalho, 63% das pessoas pesquisadas estão trabalhando e, juntado os desempregados, os que procuram o primeiro emprego e os que não estão procurando, este percentual é de 18%. E como estudiosos indicam: quem tem menor desempenho escolar, são necessariamente aqueles que estão desempregados, justamente por não atender as exigências linguísticas do mercado. No entanto como já citado, a pesquisa em questão mostra o contrário, pois 1.267 pessoas estão trabalhando (67%).
Enfim, sabe-se que o princípio fundamental do alfabetismo é a aquisição das habilidades de ler e escrever com eficiência e eficácia, o que torna o sujeito uma pessoa consciente de suas práticas sociais de letramento, ou seja, do uso da língua escrita e falada, da comunicação e expressão e informação, socialmente construída e culturalmente edificada. Dessa forma, a partir do momento que se está alfabetizado, de posse dos recursos comunicativos em pleno desenvolvimento, o sujeito precisa apenas usá-lo de forma autônoma, como uma possibilidade de compreender o mundo e estar no mundo e com as pessoas. Esse é o verdadeiro sentido do alfabetismo e do letramento, o uso contínuo dos meios sociais de comunicação e informação em sociedade. 
22	Fundamentos Metodológicos e Práticas de Alfabetização 
2 
A PEDAGOGIA DA LEITURA E 
DA ESCRITA NO PROCESSO DE 
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO 
CONHECIMENTOS 
Compreender as práticas de linguagem oral e escrita, relacionando as habilidades 
de ler, interpretar e compreender textos, produzir e reescrever textos, numa 
perspectiva de informação e comunicação. 
HABILIDADES 
Identificar as diversas práticas e formas do uso da leitura e da escrita. 
ATITUDES 
Provocar reflexões e mudanças nas práticas pedagógicas de leitura e escrita de 
educadores alfabetizadores no contexto educacional brasileiro. 
As diferentes maneiras de pensar a leitura e a escrita.
Quando algumas crianças começam a frequentar a escola a partir de dois e três anos de idade, elas têm os primeiros contatos com a cultura escrita: desenhos, letras, palavras e textos. A presença da escrita desde esse período até a fase da alfabetização (entre 6 a 8 anos) se apresenta de diferentes formas e finalidades. 
A “[...] escrita a mais adequada forma de expressão. O registro gráfico concretizado no ato de escrever é a extensão de outras possibilidades comunicativas (como, por exemplo, falar) que puderam ser adaptadas e organizadas numa nova linguagem” (COLELLO, 2004, p.11). O mundo é gráfico, isso não se pode negar. Seja sozinho, ou coletivo, as experiências com a escrita será particular para cada um de nós, mas a prática social é bem mais rica do que individualmente. Aqui não se quer negar os valores do conhecimento individual, mas de entendê-los nas práticas de uso sociais, como ressaltou Britto (2005). 
Por este entendimento, o autor nos apresenta as esferas de uso da leitura e da escrita, que nada mais é do que os contextos de inserção social correspondente as diferentes formas de utilização da linguagem, vinculados a cultura, a economia e a política. São sete esferas: da vida doméstica, da vida pessoal, da vida social, da informação e da participação, da vida profissional, da formação e instrução, e do lazer e entretenimento. 
A primeira esfera trata de ações domésticas em que se usa a leitura para ler listas, catálogos, produtos, rótulos, receita, bula de remédios, manual de instalação de um aparelho, etc. Quanto à escrita, se faz elaboração de lista de compras, bilhetes, avisos, recados, copiar receitas, organizar pasta de contas a pagar e caixa de documentos etc. Brito (2005) ressalta que este uso quando não é feito pela própria pessoa, por vezes pode ser feito por um parente ou um vizinho. 
Da vida pessoal, a leitura e a escrita se associa a produções individuais, como escrita de diários, cadernos de anotações, cartas, bilhetes, cópias de poemas, letras de músicas, fotografias e suas legendas. No que tange a leitura, os impressos são os mais diversos como: recortes de jornais, revistas, folhetos místicos, santinhos, poemas e mensagens. 
Britto (2005) comenta que na vida social, as atividades de leitura e escrita estão vinculadas com as relações que as pessoas mantêm socialmente, seja nos clubes, associações, círculos de amizade, igreja, sindicato etc. Dessa forma, as habilidades de ler e escrever estarão sempre relacionados com a dinâmica social de cada um. 
Na esfera da informação e da participação, o autor expõe que as formas como as pessoas se integram e se informam dos fatos do mundo são determinantes para suas ações de ler e escrever, seja pelos jornais impressos ou telejornais, rádio e revistas (leitura direta de textos escritos); seja atravésdo diálogo com os familiares, amigos e colegas (leitura indireta). Na esfera profissional, os usos são diversos e referem-se à especificidade de cada trabalho. Porém, o autor ressalta que o uso da escrita é delimitado tendo em vista modelos e burocracia rigorosa. 
A esfera de formação e instrução, Britto (2005) diz que é pela educação escolar, como processo formal de formação que as pessoas têm acesso à leitura e a escrita, a uma diversidade de textos. Mas é nesta esfera que a formação também se dá pelo investimento pessoal de cada um na aquisição de impressos.
Por fim, o autor nos fala sobre a esfera do lazer e entretenimento, em que se aprende também pela brincadeira, lendo revistas, jornais, história em quadrinhos, fazendo palavras cruzadas. Além disso, há pessoas que preferem ler um romance, poesia etc. De qualquer forma, a leitura como produção e circulação de conhecimento sempre será bem vinda, sendo ela um investimento pessoal, ou coletivo (num projeto escolar ou na comunidade). Falar sobre as formas de produção e circulação do conhecimento é para Britto (2005) uma dinâmica desordenada, do ponto de vista que nem todo mundo produz conhecimento relevante, que vá ser admitida como interesse público e que mereça publicização e circulação. 
No entanto, o autor nos aponta algumas instâncias que privilegiam a produção e a circulação de conhecimento, como: as universidades, os centros de pesquisa, a escola, o poder público, as instituições sociais e a indústria da informação. Todos os espaços buscam priorizar a produção do conhecimento como mola propulsora para uma geração do futuro, a geração “Y”, a geração do milênio, que a cada dia produz e faz circular conhecimento através das redes sociais, dando lhes autonomia e protagonismo. 
A geração Y e o conhecimento tecnológico da língua escrita 
“A língua escrita é um objeto de uso social, com uma existência social (e não apenas escolar)” (FERREIRO, 2010, p.38). Ela não é de domínio privado, e assim qualquer pessoa que seja alfabetizada pode escrever da forma que quiser, como quiser e onde quiser, pois o jeito como se comunica não importa, o relevante é a mensagem a ser transmitida, CERTO – ERRADO. Pois existem normas socialmente construídas e culturalmente aceitas e passadas de gerações em gerações porque se trata de um fato social – as regras da Norma Culta da Língua Portuguesa. 
Norma Culta da Língua Portuguesa: 
Entendida como um conjunto de padrões linguísticos rigorosos que definem o uso correto de uma língua, no nosso caso – a Portuguesa. O estudo da gramática torna-se imprescindível para domínio perfeito de uma língua, para falar e escrever de forma correta.
Quando nascemos não sabemos falar, aprende-se por meio do contato social com a língua falada dos pais, irmãos, tios etc. Quanto maior e melhor o nível de conversação no ambiente familiar, melhor será o desenvolvimento linguístico (oral) da criança. Para aprender a escrever, mesmo que cheguemos a idade escolar, algumas crianças tem acesso a escrita e a leitura antes mesmo de ingressar na escola. Mas é na escola, que aprendemos através de ensinamentos periódicos e sistemáticos a Norma Culta da fala e da escrita.
O debate acerca da escrita nas redes sociais está presente em muitos artigos acadêmicos e trabalhos de conclusão de curso na atualidade, especialmente da área da linguística, por uma única razão, as pessoas que usam as tecnológias digitais e seus aplicativos estão desusando a Norma Culta da Língua Portuguesa. Diante dessa realidade real, alguns pontos podem ser abordados: o desuso é voluntário – porque os usuários não quererem perder tempo digitando longos textos e, por isso optam por abreviar as palavras; o desuso é involuntário – para aqueles que não querem ser classificados por analfabytes (analfabetos digitais) e serem ridicularizados em grupos nas redes sociais por escrever demais; ou o desuso é parasitário – para aqueles que vão de carona na moda da abreviação, mas na verdade não sabe escrever. 
De qualquer modo, o desuso da linguagem correta pela geração “Y” é um fato que não retrocederá. Mas os tipos apresentados são bem reais se analisarmos os motivos pelos quais usamos as abreviaturas na comunicação dos aplicativos ou apps (applications). É fato que essa nova linguagem internauta já denominada de internetês ou netspeak – é uma linguagem simples e informal, tornando a comunicação mais rápida (uso de códigos, abreviaturas, estrangeirismos) até mesmo com o uso de carinhas como os emoticons e bordões. É fato que esta linguagem por essas características, nada tem haver com o comprimento da Norma Culta da Língua Portuguesa. No entanto, é preciso ressaltar que ainda há pessoas que usam a linguagem correta, com direito a acentos e pontuações, especialmente porque há smartphones que seus corretores são maravilhosos. 
Vejamos a figura abaixo, que mostra como os internautas estão se comunicando por meio das abreviações e ao lado a decifração (tradução)
Oi tudo bem?
Estou com saudades demais de você!
Quando você vem pra cá?
Tem novidades?
O Gustavo casou. Não consegui ir na festa. Qualquer dia vou te vê! Me adicione no Messenger ! Ou me segue no Twitter: @anapaula. Você tem Facebook? 
Beijos Renata
Fonte: https://digartmedia.wordpress.com/2013/05/28/a-linguagem-dosinternautas/
Veja há uma clara diferença nas janelas que indicam a contagem das palavras na figura e na decifração, ainda que, os caracteres sejam praticamente os mesmos. Mas, destacamos que a quantidade de palavras é a mesma, muito embora estejam abreviadas. Neste momento, o que nos preocupa é que essa nova modalidade de linguagem seja transferida para os meios formais de escrita, uma vez que, o hábito pode levar a uma rotina (de repente as pessoas esquecem que não estão no Facebook ou Messenger, Whatsapp ou Instagram e escrevam um texto oficial, trocando as palavras pelas abreviações), ou que a escrita formal seja de fato banalizada.
Vale destacar que, as pessoas que não são habituadas com esse tipo de linguagem internetês, acabam sendo vítima de intolerância, porque escreve de maneira correta como lhe foi ensinado. De maneira geral, o uso da linguagem pelos internautas não pode comprometer a função social da escrita, que é de inseri-los como um sujeito participativo em contextos sociais de leitura e escrita. E todos devem precisamente repensar o uso do “internetês”, pois a sua utilização como rotina pode causar prejuízos linguísticos e sociais. 
Os domínios da linguagem e os contextos sociais de letramento
Como já vimos a escrita não é a transcrição real da fala, apenas alguns elementos representam a oralidade, portanto, a escrita por natureza é uma representação simbólica que se codifica através dos sons da fala. Essa relação de representação denomina-se de princípio alfabético, pois congrega as percepções dos sons da oralidade na escrita, por isso que é comum quando uma criança começa a escrever, ela confunde-se com a grafia das palavras por pensar que existe uma exata relação entre a fala e a escrita. 
Para Ferreiro (2010), uma prática que privilegia a escrita e coloca a criança frente ao seu pensamento, é a escrita espontânea, no entanto, argumenta-se que poucos professores revelam-se aptos a trabalhar essas atividades, por considerar que as tentativas de escrever das crianças não passam de meras garatujas (rabiscos). A autora argumenta que, ao escrever espontaneamente as crianças acionam esquemas conceituais que não poderão ser vistos apenas como simples reprodução da escrita, mas como esquemas de um processo construtivo, em que elas consideram no pensamento às informações do meio, e suas próprias reflexões. 
Outro dado interessante sobre o princípio alfabético é que a escrita não pode dar conta de uma variedade linguística (dialetos), porque se não a escrita teria inúmeras formas e se tornaria impraticável. “O que temos de perceber é a funcionalidade da convenção ortográfica e que nós falamos de um jeito e escrevemos de outro, mesmo que permaneça valendo o princípio alfabético”(BRITTO, 2005, p.64-65). O autor ainda reforça que, a diferença existente entre a fala e a escrita está num plano formal, que é na representação e na simples codificação. 
Sobre alguns aspectos da escrita, Britto (2005) nos apresenta os listados abaixo: 
 A escrita: 
É bidimensional [...] permite representações com dupla entrada, o que significa formas adicionais de organização do pensamento;
Pressupõe o afastamento espaço-temporal dos interlocutores, o que implica reorganização da forma do discurso;
Constitui-se como sistema discursivo, funcionando como um complemento da oralidade [...];
Tem função documental e legislativa, de registro e veiculação de valores culturais e saberes científicos e de organização dos espaços públicos;
Supõe um elemento intermediador – os suportes de texto, cuja materialidade não pode ser desconsiderada, [...] não existe compreensão do texto, qualquer que ele seja, que não dependa das formas através das quais ele atinge o leitor (BRITTO, 2005, p.69).
No que tange os domínios de uso da linguagem, ou seja, as instâncias onde se configuram as interações sociais, o autor se refere aos espaços em que se propaga o trabalho de leitura e escrita. Esses espaços se dividem em dois: o público e o privado. O primeiro relaciona-se a coletividade, atendendo aos objetivos mediatistas de compreender o mundo, cujas interações acontecem a distância no tempo e no espaço com interlocutores desconhecidos, que faz referência a um sistema de valores com categorias abstratas ou mais sistemáticas, privilegiando a modalidade escrita. 
O segundo está no âmbito individual, atendendo aos objetivos imediatos para satisfazer as necessidades básicas, cujas interações acontecem frente a frente, implicando a presença de interlocutores conhecidos, que faz referência a um sistema de valores com vínculos às experiências cotidianas, privilegiando a oralidade. Para melhor compreender, temos como exemplo a ação da leitura de um texto em missas, colação de grau, reuniões políticas ou audiências, noticiários de TV, textos de peças teatrais. No plano individual, temos a intervenção do sujeito em seminários, aulas e conferências. 
Um sujeito capaz de ler e escrever, fazer uso oral em intervenções em situações públicas, usar entre outras habilidades – participar da vida social, exercendo sua cidadania, é uma configuração clara das práticas sociais de leitura e escrita, ou seja, letramento. Neste sentido, a escola torna-se um espaço privilegiado para que a formação de sujeitos letrados seja de fato universal. No entanto, há de concordamos com Ferreiro (2010) que a aprendizagem e o desenvolvimento da leitura e da escrita se iniciam antes mesmo da escolarização (do ingresso dos alunos a escola). 
Nessa perspectiva, Britto (2005) nos apresenta a leitura de duas formas – a leitura como valor e a leitura como comércio. A leitura como valor se constitui como uma possível forma contínua de produção e circulação do conhecimento, por um sujeito (ou coletivo) que pensam como são e como estão vivendo no mundo, de viver e fazer-se humano. Quanto à leitura como comércio, ela se constitui na produção, comércio e circulação de impressos (especialmente livros) e sua relação com uso de leitura. O autor aponta para o fato de que mesmo que a leitura tenha um valor, o comércio que gira em torno dela pouco tem haver com seu valor social. No entanto, o agravante é que, vende-se o que se publica não pelo seu valor, mas pelo que se tem de vender. 
	Para você refletir: 
Mas como promover leitura se no Brasil poucos de nós somos leitores? 
Primeiro temos que admitir que por conta do pouco hábito de leitura, é tardia a dimensão estética e ética da arte, e por consequente a literatura. Promover leitura (ensinar leitura) significa uma ação política, onde o que se ensina e o que promove não é leitura em si, mas valores, que são essenciais para constituição da humanidade. 
Numa visão holística das práticas sociais de leitura e escrita, especialmente nesse mundo globalizado, a promoção de leitura (tornar um sujeito um leitor habitual) por vezes nada na contramão dos impressos. A política de formação de leitor em projetos sociais ou até mesmo na escola, não tem produzido efeitos como esperados. Como se forma a identidade de um leitor? Bem, ser leitor para Britto (2005), é mais que o simples ato de conhecer o código escrito e dominar os usos sociais de base escrita. Ser leitor, é um modo de ser. 
E esse modo de ser, o sujeito envolvido em leitura, faz reflexões sobre seus próprios pensamentos e processos de aprendizagem – isso é metacognição (motivação de si mesmo, regular seus processos psicológicos) dirigir seus objetivos de modo consciente. Cabe ressaltar, o que o autor diz: “boa parte das atividades metacognitivas são feitas com apoio da escrita e neste sentido, implicam o letramento do indivíduo e, portanto, a posse de habilidades de leitura e escrita. A palavra-chave nesse contexto é autonomia intelectual” (BRITTO, 2005, p.100).
A autonomia intelectual de que fala o autor diz respeito a uma organização de leitura, delineado sobre alguns passos – planejamento, monitoração, revisão e correção. Assim, o sucesso de uma leitura depende de alguns passos (organização de leitura): sublinhar/marcar o texto; fazer comentário marginal; fazer recortes e selecionar fragmentos; arquivar o texto, identificar palavras chaves; nomear parágrafos com título síntese, reescrever tópicos, ou fragmentos do texto; elaborar questões sobre o texto; reorganizar o texto em perguntas; elaborar destaques, enumerar argumentos que chamaram à atenção; utilizar setas para indicar trechos importantes, marcar com o ponto de interrogação parágrafos polêmicos, indicar retomados nos textos e fazer referências. Enfim, seja estudar ou ler, requer do leitor atitude coerente com as práticas de letramento que o conduza ao exercício da cidadania. 
Práticas Pedagógicas de Alfabetização e Letramento
Sabemos que o processo de ensino e aprendizagem requer alguns elementos para que de fato ele se consolide, ou que pelo menos aconteça. Basicamente esses elementos são três: o professor, o aluno e o objeto do conhecimento. O primeiro atua como mediador, facilitando ou promovendo momentos de aprendizagem sejam eles individuais ou integrados; o segundo atua em seu próprio espaço e tempo do conhecimento, realizando a metacognição, buscando além de fatores externos (mediação docente e integração com seus colegas), alguns internos, como a reflexão sobre sua consciência cognitiva. O terceiro elemento atua como principio modificador das estruturas mentais dos estudantes, deixando-se ser assimilado e acomodado aos conceitos já existentes.
Esses dados nos permite pensar sobre o conceito e ao mesmo tempo sobre as práticas que envolvem a alfabetização e o letramento na escola (especialmente) ou em qualquer outro lugar. Considerando que alfabetizado é todo aquele que consegue codificar e decodificar os signos linguísticos da nossa linguagem materna, e que a partir desse domínio o sujeito permite-se evoluir (usar as habilidades de ler e escrever) para práticas sociais de uso em contextos reais de leitura e escrita, seja, lendo um texto em público, fazendo um discurso oral, redigindo uma carta, participando de seminários, estudos ou palestras, etc.; este mesmo sujeito se enquadra no que os teóricos denominam “letrado”.
Podemos indicar que o letramento nada mais é do que um processo evolutivo da alfabetização, que atesta o sujeito (aprendeu a ler e escrever de modo alfabético) como um cidadão do mundo, porque o conhecimento linguístico não lhe faz melhor do que os outros, mas o diferencia de alguns poucos, porque sabe participar ativamente dos processos sociais dos quais lhe dignifica como cidadão (sabe reivindicar seus direitos e se compromete com seus deveres). 
O uso da palavra como técnica de intercâmbio entre os homens é, indubitavelmente, a mais fantástica invenção da humanidade (COLELLO, 2004, p.11). Nesse sentido, a linguagem ainda é uma das formas mais concretas

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