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APOSTILA IED PARTE I - 2013-1

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Prévia do material em texto

©PROFESSOR EDSON PIRES DA FONSECA 
 
 
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 
 
 
 
APOSTILA PARTE I 
 
 
 
 
©Prof. Edson Pires da Fonseca
1
 
 
 
 
 
 
 
 
PARIPIRANGA/2013-1 
 
1 Professor do Colegiado de Direito da Faculdade AGES. (professoredsonfonseca@yahoo.com.br) 
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO (2013-1) – APOSTILA II 
©PROF. EDSON PIRES DA FONSECA (professoredsonfonseca@yahoo.com.br) 
2 
 
INTRODUÇÃO 
 
Caríssimas e Caríssimos, esta Apostila tem por objetivo auxiliá-los na compreensão e estudo de parte 
do conteúdo da disciplina Introdução ao Estudo do Direito. Espero que lhes seja útil! 
Cabe à Introdução ao Estudo do Direito, IED, propiciar ao ingressante nas letras jurídicas o primeiro 
contato com o Direito, proporcionando visão panorâmica do conhecimento jurídico. É nela também que 
alguns conceitos e teorias fundamentais para a compreensão do direito, tais como direito positivo, subjetivo, 
norma jurídica, ordenamento jurídico, fontes do direito, positivismo jurídico, jusnaturalismo, pós-
positivismo, dentre outros, são trabalhados. 
Este material deve ser apenas de roteiro de estudos, de linhas introdutórias, não substituindo, em 
hipótese alguma, as referências bibliográficas indicadas no Projeto de Curso, bem como nas notas de rodapé 
da própria Apostila. 
Apesar da aparente simplicidade dos temas aqui tratados eles envolvem, muitas vezes, alguns dos 
mais complexos problemas da filosofia e teoria do direito, tal como a tentativa de definir o direito. Ressalta-
se, novamente, que as pretensões deste material são meramente didáticas, ocupando-se mais em trazer 
algumas noções e ideias gerais sobre alguns institutos jurídicos abordados pela doutrina do que em criar as 
suas próprias categorias. O objetivo principal é auxiliá-los nestes primeiros passos rumo à compreensão do 
fenômeno jurídico na atualidade. 
Por oportuno, destaco que os ramos do direito positivo não foram detalhados no texto, devendo seu 
estudo ser complementado em outras fontes, principalmente nas indicadas no Projeto de Curso. 
Vale aqui um alerta! O direito exige daqueles que pretendem estudá-lo disciplina, dedicação e muita 
paciência. Muitas vezes é preciso ler, reler, consultar dicionários e outros textos para bem compreender 
determinado assunto. Não esmoreçam diante das dificuldades. Perseverem. Na construção do conhecimento 
não há atalhos, mas, ao final, constatarão que o esforço não foi em vão! 
Por fim, espero que estejam gostando do Curso, ainda mais agora que a fase inicial, de adaptação, já 
ficou para trás. Nunca é demais lembrar que estou à disposição para auxiliá-los naquilo em que eu puder ser 
útil. Empenho, força, garra, perseverança e, acreditem, os bons resultados estarão sempre com vocês! 
Bons Estudos! 
Edson (14/02/2013) 
 
 
 
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO (2013-1) – APOSTILA II 
©PROF. EDSON PIRES DA FONSECA (professoredsonfonseca@yahoo.com.br) 
3 
 
1 CONCEITUAÇÃO DO DIREITO 
 
1.1 O que é Direito (Quid jus)? 
 
Há milênios a indagação acerca do que é o direito desafia filósofos e juristas. Pretende-se aqui, nos 
estreitos limites de um texto didático voltado aos ingressantes nas letras jurídicas, iniciá-los neste instigante 
e persistente debate, traçando os seus lineamentos mais gerais. Inicialmente, trabalharemos a dificuldade de 
se definir, conceituar ou apresentar uma noção mais precisa sobre o que é o direito para, na sequência, 
desenvolver as noções trabalhadas por alguns filósofos e juristas acerca do direito. 
De acordo com Miguel Reale, indagações acerca da definição do direito cabem à filosofia do direito. 
Embora os livros sobre os diferentes ramos do conhecimento jurídico tragam sempre uma definição de 
direito, esta tarefa é de ordem eminentemente filosófica
2
. 
À teoria do direito cumpre analisar os elementos comuns “a todas as formas de conhecimento 
positivo do direito”. Segundo Reale, derivada do grego theoresis, teoria “significa a conversão de um 
assunto em problema, sujeito a indagação e pesquisa, a fim de superar a particularidade dos casos isolados, 
para englobá-los numa forma de compreensão, que correlacione entre si as partes e o todo”. Nesse sentido, 
continua Reale, a teoria do direito “representa a parte geral comum a todas as formas de conhecimento 
positivo do Direito” 3. 
Sgarbi, tratando da determinação de significado da palavra direito, distingue ambiguidade e vagueza. 
Uma palavra é ambígua quando pode ser entendida de diversas maneiras na linguagem ordinária (a 
linguagem comum). Há vagueza, por outro lado, quando falta precisão no significado das palavras, ou seja, 
“há dificuldade de delimitação entre o que está incluído e o que está excluído no mesmo”. É o caso, 
exemplifica o autor, de palavras como calvo, jovem, adulto, culpa grave etc. São vagas, pois sempre haverá 
questionamento acerca de seus alcances. Embora calvo seja quem não tem cabelo “sempre se pode perguntar 
se aquele que tem pouco cabelo pode ser chamado de calvo ou não”4. 
A definição de direito, desse modo, encontra dificuldades em razão de sua ambiguidade e vagueza
5
. 
A mesma palavra, direito, pode ser entendida de diversas maneiras. Simone Goyard-Fabre salienta que na 
nossa época é ainda mais difícil definir com rigor o termo direito, isto porque “a reivindicação incessante 
dos ‘direitos’ vinculados à pessoa é levada em consideração pelo direito objetivo; a juridicização dos direitos 
 
2 REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. 27ª ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 15. 
3 REALE, 2005, op. cit., p. 18. 
4 SGARBI, Adrian. Teoria do Direito: primeiras lições. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007, p. 1 e 2. 
5
 FERRAZ JR., Tercio Sampaio. Introdução ao Estudo do Direito. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 141. 
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO (2013-1) – APOSTILA II 
©PROF. EDSON PIRES DA FONSECA (professoredsonfonseca@yahoo.com.br) 
4 
 
subjetivos ou o reconhecimento dos ‘direitos do homem’ acarreta a diferenciação deles em categorias, cuja 
aparente ordem classificatória ameaça mascarar inúmeras obscuridades filosóficas”6. 
O conceito de direito, acentua Goyard-Fabre, tanto em sua extensão como em sua compreensão, 
mostra-se “rebelde ao aclaramento”. Todavia, assevera, esse pluralismo semântico que envolve a palavra 
direito não é acidental; está ligado, na verdade, à própria ambiguidade essencial do conceito de direito: “na 
verdade, a multiplicidade de relações que o direito mantém com outros campos da existência humana mostra 
a dimensão da dificuldade existente para circunscrever seu campo próprio, o que obsta a um 
empreendimento de definição rigorosa”7. 
Alysson Mascaro, ao explicar o que é direito, propõe que ele seja entendido a partir da soma de duas 
perspectivas: “É preciso compreender as coisas que são quantitativamente jurídicas e aquilo que 
qualitativamente as torna como tais”. O direito, salienta, abarca muitos temas como homicídio, roubo, 
divórcio, filiação, proteção ao trabalhador, tributação etc. O grande identificador do direito, portanto, não 
são os temas com os quais lida (perspectiva quantitativa), mas o modo específico com que lida com esses 
temas (perspectiva qualitativa). Para Mascaro é “a qualidade de direito o grande identificador do fenômeno 
jurídico moderno”8. 
Exemplificando o seu ponto de vista, Mascaro acentua que “Quando se diz que o manejo do solo 
pode ser um tema jurídico, isso não quer dizer que a agricultura tenha que ser necessariamente regulada 
juridicamente. O direito, se também chega às questões agrícolas, o faz por viasdistintas daquelas que são as 
tradicionais de um agrônomo”9. 
Em síntese, Mascaro afirma que como muitas coisas podem ser jurídicas (propriedade, trabalho, 
comércio, educação, legislação aérea, direito previdenciário etc.) “não é pelo assunto de que trata o direito 
que se o identifica”. Como muitos assuntos podem ser considerados jurídicos, o que é mais decisivo do 
ponto de vista científico para compreender o direito não é entender quais temas são jurídicos (identificação 
quantitativa), “mas, sim, quais mecanismos e estruturas dão especificidade ao direito perante qualquer 
assunto”10. 
Para Mascaro, o que dá especificidade ao direito moderno é o capitalismo, por meio das chamadas 
trocas mercantis. “Com o capitalismo, o direito passa a ocupar um lugar específico no todo da vida social. 
Essa instância jurídica é o local no qual um ente aparentemente distante de todos os indivíduos, o Estado, se 
 
6 GOYARD-FABRE, Simone. Os Fundamentos da Ordem Jurídica. [trad. Cláudia Berliner]. São Paulo: Martins Fontes, 2002, 
p. XVIII. 
7 GOYARD-FABRE, 2002, op. cit., p. XVIII. 
8 MASCARO, Alysson Leandro. Introdução ao Estudo do Direito. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2011, p. 2 e 3. 
9 MASCARO, 2011, op. cit., p. 3. 
10
 MASCARO, 2011, op. cit., p. 3. 
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO (2013-1) – APOSTILA II 
©PROF. EDSON PIRES DA FONSECA (professoredsonfonseca@yahoo.com.br) 
5 
 
institucionaliza e passa a regular uma pluralidade de comportamentos, atos e relações sociais”. No 
escravagismo e no feudalismo, exemplifica, não há um lugar específico para o direito, “não há uma 
qualidade de relações que seja só jurídica em meio ao todo da vida social”11. 
Uma vez feitas essas considerações, passa-se, em seguida, à abordagem de algumas acepções da 
palavra direito, em diferentes contextos de utilização. 
 
1.1.1 A palavra direito e algumas de suas acepções 
 
 Na maioria dos idiomas a palavra direito é utilizada para designar diferentes coisas. Mencionou-se 
anteriormente que este é um dos motivos que dificulta toda e qualquer definição do direito. De um lado, 
podemos nos referir ao direito como um curso superior que forma bacharéis; de outro, podemos tratar do 
ordenamento jurídico de um país (direito brasileiro, direito inglês, chinês etc.), do direito subjetivo de 
alguém (Joana tem direito à herança que seu pai lhe deixou). Pode, ainda, ser utilizado como sinônimo de 
justiça (não é justo pessoas passarem fome em um país tão rico), como um fato social etc. 
 Venosa, exemplificando algumas acepções da palavra direito, afirma que ao dizermos que é proibido 
importar determinada mercadoria estamos tratando do direito como norma. Por sua vez, quando afirmo que 
tenho o direito de cobrar judicialmente uma dívida que não foi paga, estou me referindo ao direito como 
uma faculdade (direito subjetivo). Quando sustento que todo trabalho deve ser remunerado, refiro-me ao 
direito como sinônimo de justiça. Ao afirmar que o direito possui método dialético, estou me referindo ao 
direito como ciência. Assim, salienta, “do vulgar ao erudito, transitamos pelo vocábulo direito com absoluta 
frequência, pois o Direito nunca se desgarra da vida social, em qualquer de suas acepções”12. 
Cada uma dessas diferentes acepções tem um uso próprio dentro do conhecimento jurídico, que será 
desnudado ao longo do Curso. 
 
1.1.2 Conceituação, definição, noções ou ideias gerais sobre o direito 
 
De acordo com Sgarbi, definir significa atribuir sentido, “porque definir é conceituar com o objetivo 
de elucidar outros conceitos”. Definir, em outras palavras, assevera o autor, é explicar um “sentido 
desconhecido ou duvidoso através de um sentido mais conhecido e menos duvidoso”13. 
Machado faz questão de diferenciar definição e conceito. Enquanto a primeira é uma delimitação de 
 
11 MASCARO, 2011, op. cit., p. 4. 
12 VENOSA 
13
 SGARBI, 2007, op. cit., p. 9 e 10. 
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO (2013-1) – APOSTILA II 
©PROF. EDSON PIRES DA FONSECA (professoredsonfonseca@yahoo.com.br) 
6 
 
uma coisa que serve para distingui-la das demais, o conceito “é formado da percepção que de um objeto se 
pode ter, a partir de quaisquer meios de comunicação interpessoal. Percepção que não implica limites exatos 
do objeto, nem diferenciação rigorosa entre ele e outros objetos”. Machado salienta que no estudo 
introdutório ao direito, de fato, não se trabalha nem com definição e nem com conceituação, mas, tão-
somente, com noções ou ideias
14
. 
Embora a tentativa de definição do direito seja tarefa árdua, quiçá impossível, é importante que em 
uma disciplina como IED partamos de algumas das definições ou noções básicas trazidas pelos estudiosos 
do assunto. Por certo, não são verdades absolutas, mas apenas pontos de partida provisórios, que servem 
para instigar e fomentar a reflexão nesta quadra inicial do curso jurídico. 
Segundo Gusmão, a origem da palavra direito é latina; deriva do latim directum, que significa regra, 
direção, sem desvio. “No Ocidente, em alemão recht, em italiano diritto, em francês droit, em espanhol 
derecho, tem o mesmo sentido. Os romanos denominavam-no de jus, diverso de justitia, que corresponde ao 
nosso sentido de justiça, ou seja, qualidade do direito” 15. 
Dito isto, o citado autor enfrenta as diversas dificuldades presentes na conceituação de direito. 
Embora reconheça que isso seja passível de crítica, vislumbra na coercitividade o traço fundamental do 
direito. Citando Bobbio, Gusmão afirma que, excluída a coercitividade, não há mais critério para distinguir 
as normas jurídicas das normas morais ou das costumeiras. Em face disso, assevera que o direito pode ser 
definido como “a norma que, se inobservada, poderá ser aplicada coercitivamente pelo poder competente, 
estatal ou internacional. Por ser norma coercitivamente aplicada quando inobservada, o direito ordena de 
modo eficaz a sociedade nacional e a internacional. Neste sentido, ele é o ordenamento jurídico do Estado e 
da comunidade internacional” 16. 
Em síntese, para Gusmão, o direito, como norma de conduta, é bilateral (pressupõe o outro); já como 
norma de estruturação, afigura-se como norma de organização (estrutura e organiza o funcionamento do 
Estado). Em ambas as hipóteses, contudo, é norma executável coercitivamente. Em razão disso, permite a 
quem se julgar prejudicado, com base na norma, recorrer à autoridade competente (polícia, administração 
pública, Judiciário) para fazer valer os seus direitos
17
. 
Gusmão, ao conceituar o direito moderno, aponta como traço característico a sua criação ou 
reconhecimento pelo poder público (direito estatal) ou por convenções ou costumes internacionais (direito 
internacional). Na primeira hipótese, direito estatal, a aplicação do direito é feita por órgãos estatais, tais 
 
14 MACHADO, Hugo de Brito. Introdução ao Estudo do Direito. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2004, p. 20 a 22. 
15 GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao Estudo do Direito. 39ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007, p. 49. 
16GUSMÃO, 2007, op. cit., p. 51 e 52. 
17
 GUSMÃO, 2007, op. cit., p. 49 a 52. 
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO (2013-1) – APOSTILA II 
©PROF. EDSON PIRES DA FONSECA (professoredsonfonseca@yahoo.com.br) 
7 
 
como tribunais, administração pública etc.; na segunda hipótese, direito internacional, a aplicação fica a 
cargo de organizações internacionais, como ONU (Organização das Nações Unidas), OEA (Organização dos 
Estados Americanos), TPI (Tribunal Penal Internacional) etc.
18
 
Em uma perspectivamais próxima do positivismo jurídico, que, como se estudará adiante, costuma 
reduzir o direito à sua feição legislativa, as definições costumam resumir o direito a um conjunto de normas 
jurídicas heterônomas (heterônoma significa que vem de fora do indivíduo, impostas por uma força exterior 
a ele, no caso, o Estado) e bilaterais (o direito pressupõe o outro; só há direito em sociedade: “ubi societas, 
ibi jus”, ou seja, onde há a sociedade aí está o direito) que regem a conduta humana. 
Miguel Reale, um dos mais destacados jusfilósofos brasileiros, definiu o direito como “a ordenação 
bilateral atributiva das relações sociais, na medida do bem comum”19. Para Hugo de Brito Machado, por sua 
vez, “O Direito é um sistema de limites ao qual nos submetemos para que nos seja possível a vida em 
sociedade. Sistema, porque é um conjunto completo e harmonioso de prescrições”. O direito é o mais eficaz 
mecanismo de solução pacífica dos conflitos, reduzindo-os a níveis toleráveis
20
. 
Paulo Nader, de outro lado, situa o direito, dentre as criações humanas, “como ordem social dotada 
de coerção e, ao mesmo tempo, fórmula de garantia da liberdade”. Embora o direito não seja o único 
instrumento de harmonização social, já que divide esta tarefa com a religião, a moral e as regras de trato 
social, “é o que possui maior pretensão de efetividade, pois não se limita a descrever os modelos de conduta 
social, simplesmente sugerindo ou aconselhando”21. O direito possui a coação, que, em última instância, 
obriga o destinatário da norma a cumpri-la mesmo contra a sua vontade. Adiante, ao tratarmos da norma 
jurídica, retornaremos a este tema. 
Ferraz Jr. sustenta que a ciência dogmática do direito (enfoque estrutural do direito) encara o seu 
objeto, que é o direito posto e dado previamente (direito positivo), “como um conjunto compacto de normas, 
instituições e decisões que lhe compete sistematizar, interpretar e direcionar, tendo em vista uma tarefa 
prática de solução de possíveis conflitos que ocorram socialmente”. O jurista contemporâneo, arremata 
Ferraz Jr., “preocupa-se, assim, com o direito que ele postula ser um todo coerente, relativamente preciso em 
suas determinações, orientado para uma ordem finalista que protege a todos indistintamente”22. 
 Por fim, há também quem definia o direito como uma tecnologia decisória utilizada para decidir 
conflitos sociais tendo por parâmetro o ordenamento jurídico de determinado país. 
 
18 GUSMÃO, 2007, op. cit., p. 52. 
19 REALE, 2005, op. cit., p. 59. 
20 MACHADO, op. cit., 2004, p. 23. Machado prefere utilizar a expressão prescrição no lugar de normas. Segundo ele, prescrição 
é o gênero do qual as normas são espécies. 
21 NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito. 28ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007, p. 1 e 31. 
22
 FERRAZ JR. Tercio Sampaio. Introdução ao Estudo do Direito. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 82. 
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO (2013-1) – APOSTILA II 
©PROF. EDSON PIRES DA FONSECA (professoredsonfonseca@yahoo.com.br) 
8 
 
 Em resumo, há definições, conceitos, ideias e noções sobre o direito para todos os gostos. Cada um 
deles apresenta virtudes e limites cuja abordagem extrapola os objetivos deste texto. Importante, nessa 
quadra inicial do Curso, compreendermos as nuanças, os contornos que a palavra direito pode assumir em 
diferentes contextos de linguagem, sabendo identificar e analisar os seus principais elementos. 
 
2 DIREITO POSITIVO: direito objetivo, direito subjetivo e dever subjetivo 
 
Entende-se por direito positivo o conjunto de normas jurídicas, escritas e não-escritas (costumes) 
vigentes em determinado Estado, em dado momento histórico. Engloba também as normas aplicáveis na 
órbita internacional, oriundas de tratados e costumes internacionais
23
. Gusmão, na mesma linha, trata o 
direito positivo como um “sistema de normas vigentes, obrigatórias, aplicáveis coercitivamente por órgãos 
institucionalizados, tendo a forma de lei, de costume ou de tratado” 24. 
O direito positivo pode ser decomposto em dois (ou três) elementos, que serão abordados adiante: (i) 
direito objetivo; (ii) direito subjetivo e (ii-a) dever subjetivo
25
. 
Importante não confundir, como ocorre com frequência, direito positivo e direito objetivo. O direito 
positivo, como visto, é mais abrangente do que o direito objetivo, englobando-o. O direito positivo abarca 
tanto o direito objetivo quanto o direito subjetivo e o dever subjetivo (ou jurídico). 
 
2.1 Direito Objetivo e Direito Subjetivo: considerações gerais 
 
De acordo com Ferraz Jr. a dicotomia entre direito objetivo e subjetivo parece ser exigida pelo 
caráter ambíguo da palavra direito. Se, de um lado, o direito é um fenômeno objetivo, um dado cultural, que 
não pertence a ninguém, composto de normas e instituições, de outro, é também fenômeno subjetivo, pois 
faz dos sujeitos “titulares de poderes, obrigações, faculdades, estabelecendo entre eles relações”. Neste 
sentido, atesta que ao se falar no direito das sucessões está se falando em algo objetivo, enquanto ao se 
referir ao direito à sucessão de um herdeiro menciona-se algo que lhe pertence (subjetivo, portanto)
26
. 
Nader destaca que nas línguas neolatinas o vocábulo direito, em regra, tem esse duplo significado 
(objetivo e subjetivo), necessitando do sentido completo da frase para distinguir uma acepção da outra. Na 
língua inglesa, por exemplo, há duas palavras distintas para enunciar os dois termos: a palavra law refere-se 
 
23 NUNES, Rizzatto. Manual de Introdução ao Estudo do Direito. 9ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 141 e 142. 
24 GUSMÃO, 2007, op. cit., p. 54. 
25 NUNES, 2009, op. cit., p. 142. 
26
 FERRAZ JR. op. cit., 2003, p.145. 
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO (2013-1) – APOSTILA II 
©PROF. EDSON PIRES DA FONSECA (professoredsonfonseca@yahoo.com.br) 
9 
 
ao direito objetivo, enquanto right enuncia o direito subjetivo
27
. 
Para Secco, direito objetivo e subjetivo devem ser tratados conjuntamente, pois são a mesma coisa 
vista por ângulos distintos. “O direito sob o ponto de vista objetivo é a norma ou o conjunto de normas de 
conduta, enquanto que sob o ponto de vista subjetivo é o conjunto de relações jurídicas, aí implícitos o dever 
jurídico e a faculdade de agir”28. 
As raízes da distinção entre direito objetivo e subjetivo remontam à conceituação de liberdade dos 
modernos, que sob influência da noção de livre arbítrio cristã traçou a ideia de liberdade como não-
impedimento e como autonomia, isto é, como a capacidade de autogovernar-se, alicerce da teoria do 
contrato social
29
. 
Sustenta Ferraz Jr. que “É com base nessa liberdade, que funciona como limite à atividade legiferante 
do Estado, que irá configurar-se a noção de direito subjetivo em oposição ao direito objetivo”30. 
Embora não haja maiores dificuldades teóricas na conceituação do direito objetivo, o mesmo não se 
pode dizer do direito subjetivo. Há inúmeras correntes teóricas tentando conceituá-lo (por exemplo: teoria da 
garantia e teoria do interesse), mas todas com visíveis limitações, que não cabe agora detalhar. 
Parece-nos adequada a afirmação de Ferraz Jr. de que a distinção entre direito objetivo e subjetivo 
tem, acima de tudo, um caráter tópico, ou seja, de um lugar comum retórico. Para ele, “A expressão 
direito subjetivo cobre diversas situações, difíceis de serem trazidas a um denominador comum”. Em outras 
palavras, embora o termo direito subjetivo não encontre uma conceituação que dê conta da amplitude de 
situações em que pode ser exigido, não se pode ignorar as suas vantagens práticas (tópica)
31
. 
 
2.1.1 Direito Objetivo 
 
Entende-sepor direito objetivo, segundo Rizzatto Nunes, “o conjunto, em si, de normas jurídicas 
escritas e não-escritas, independentemente do momento do seu exercício e aplicação concreta. [...] O direito 
objetivo corresponde à norma jurídica em si, enquanto comando que pretende um comportamento. [...] É 
aquele objetivado independentemente do momento de uso e exercício” 32. 
Para Venosa, “O direito objetivo é constituído por um conjunto de regras destinadas a reger um grupo 
 
27 NADER, 2007, op. cit., p. 306. 
28 SECCO, Orlando de Almeida. Introdução ao Estudo do Direito. 9ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005, p. 27. 
29 FERRAZ JR., 2003, op. cit., p. 146 e 147. 
30 FERRAZ JR., 2003, op. cit., p. 147. 
31 FERRAZ JR., 2003, op. cit., p. 149. 
32
 NUNES, Rizzatto. Manual de Introdução ao Estudo do Direito. 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 116. 
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO (2013-1) – APOSTILA II 
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10 
 
social, cujo respeito é garantido pelo Estado (norma agendi)”33. 
Machado, por seu turno, apresenta o direito objetivo como norma ou conjunto de normas. É o direito 
desprendido de qualquer pessoa, ou seja, o direito visto em sua objetividade, como norma de agir. Trata-se, 
portanto, da norma ou do conjunto de normas que servirá de parâmetro para se aferir a compatibilidade ou 
não de uma conduta no plano jurídico
34
. Como se verá no item seguinte, é com base no direito objetivo que 
alguém poderá dizer se possui ou não direito a alguma coisa, isto é, se possui ou não um direito subjetivo. 
Em outras palavras, direito objetivo é o conjunto de normas jurídicas que condicionam o agir 
humano na vida em sociedade. Em regra, o direito objetivo é produzido pelo Estado (leis, decretos, 
resoluções, portarias, medidas provisórias etc.), embora não o seja com exclusividade. Isto porque é assente 
no direito contemporâneo a existência de normas que nos vinculam e, portanto, integram o direito objetivo, 
como os costumes, e não emanam de órgãos estatais; são expressões da própria sociedade, que pode 
construir ou destruir direitos em seu caminhar histórico. 
Regressaremos a esse tema ao estudarmos as fontes do direito, em especial na abordagem acerca do 
pluralismo jurídico
35
. 
 
2.1.2 Direito Subjetivo 
 
Como mencionado, existe acesa polêmica jusfilosófica acerca da conceituação de direito subjetivo. 
Todavia, não adentraremos a ela, por extrapolar os objetivos desta breve Apostila, que consiste tão-somente 
em traçar os principais contornos dos tópicos estudados. Para aprofundamento neste tema remeto-os às 
referências indicadas nesta nota de rodapé
36
. 
Dito isso, entende-se por direito subjetivo, nas palavras de Rizzatto Nunes, “a prerrogativa colocada 
pelo direito objetivo, à disposição do sujeito do direito”. Para exemplificar a questão Rizzatto traz a temática 
da Lei do Inquilinato. O direito objetivo previsto nesta Lei, que trata do despejo do inquilino no caso de falta 
de pagamento, faz nascer ao locador o direito subjetivo de pleitear do Poder Judiciário o referido despejo
37
. 
 Sgarbi exemplifica o direito subjetivo a partir da seguinte frase: “Os cidadãos têm o direito de reunir-
se pacificamente e sem armas”. De acordo com ele, a palavra direito, do modo como foi utilizada na frase, 
 
33 VENOSA, 2006, op. cit., p. 13. 
34 MACHADO, op. cit., 2004, p. 25. 
35 Sobre o pluralismo jurídico conferir: WOLKMER, Antonio Carlos. Pluralismo Jurídico. 3ª ed. São Paulo: Alfa-ômega, 2001; 
WOLKMER, Antonio Carlos; VERAS NETO, Francisco Q.; LIXA, Ivone M. (orgs). Pluralismo Jurídico: os novos caminhos 
da contemporaneidade. São Paulo: Saraiva, 2010. 
36 Conferir: FERRAZ JR., 2003, op. cit., p. 145 a 154; NADER, 2007, op. cit., p. 305 a 316. 
37
 NUNES, 2003, op. cit., p. 116-117. 
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“implica a ideia de posições ou situações jurídicas subjetivas, de atributos conferidos pela ordem jurídica aos 
indivíduos”. Nesta acepção, o plural de direito corresponde a “direitos”, enquanto na utilização de direito 
como direito objetivo o plural de “direito” alude a “ordenamentos jurídicos”38. 
 Venosa, por sua vez, identifica o direito subjetivo “com as prerrogativas ou faculdades ínsitas aos 
seres humanos, às pessoas, para fazer valer seus ‘direitos’, no nível judicial ou no extrajudicial. O direito 
subjetivo é aquele que adere à pessoa, à personalidade. O direito subjetivo é um poder do indivíduo que vive 
em sociedade (Duguit)”39. 
De acordo com o citado autor, afirmar que tenho direito de ocupar o lugar do teatro que me foi 
atribuído pelo ingresso, bem como o de ingressar com uma ação judicial para cobrar uma dívida que não me 
foi paga são exemplos de direitos subjetivos. Há, aqui, uma faculdade de agir (facultas agendi), pois embora 
eu possa exigir a dívida, não sou obrigado a fazê-lo
40
. 
Por último, destaca-se que o direito subjetivo, essa faculdade de agir, está intrinsecamente conectado 
ao direito objetivo. É apenas porque há um negócio jurídico subjacente, destaca Venosa, seja um empréstimo 
ou outro tipo de contrato, que posso acionar judicialmente o devedor para que seja constrangido pelo Poder 
Judiciário a me pagar a dívida
41
. 
 
2.1.2.1 Dever Subjetivo 
 
 De acordo com Rizzatto, ombreando um direito subjetivo existe sempre um dever subjetivo. No 
exemplo acima, ao lado do direito subjetivo do locador de propor ou ameaçar propor a ação de despejo 
existe o dever do inquilino de pagar o aluguel, sob pena de suportar os efeitos da sanção, qual seja: ser 
despejado. Não há direito subjetivo sem o outro. Se eu tenho um direito significa que alguém tem o dever de 
satisfazer este direito. Salienta-se que direitos como o direito à vida, à honra e à imagem são oponíveis erga 
omnes, isto é, contra todos
42
. 
 Com exceção dos direitos inerentes à própria pessoa (vida, honra, imagem etc.), que devem sempre 
ser exercidos plenamente, os demais direitos subjetivos estão sempre limitados por um dever subjetivo, isto 
é, podem ser exercidos somente até certo ponto que, ao ser transposto, configurará a violação do direito 
subjetivo de outrem. Caso não se respeite este limite entra em cena a figura do abuso de direito, que é o 
 
38 SGARBI, Adrian. Teoria do Direito: primeiras lições. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007, p. 3. 
39 VENOSA, 2006, op. cit., p. 12. 
40 VENOSA, 2006, op. cit., p. 12. 
41 VENOSA, 2006, op. cit., p. 12. 
42
 NUNES, 2003, op. cit., p. 119-120. 
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abuso no exercício de um direito subjetivo, ou seja, a transposição da referida barreira
43
. 
 Em suma, para que alguém tenha um direito subjetivo é necessário que outrem tenha um dever 
subjetivo para com ele. Ademais, todos os direitos subjetivos estão limitados por deveres objetivos, isto é, o 
meu direito está estritamente limitado ao dever do outro para comigo; transpor esta barreira é adentrar na 
seara do abuso de direito. 
 
3 RAMOS DO DIREITO POSITIVO 
 
 Uma das grandes dicotomias do direito é a sua divisão em público e privado (como visto, outro 
exemplo é a diferenciação entre direito objetivo e subjetivo). Estas dicotomias permitem sistematizá-lo. 
Kelsen, de acordo com Ferraz Jr., chama a isso de sistematização estática. “O sistema estático concebe o 
conjunto normativocomo um dado, abstração feita de seu câmbio permanente. Não se indaga, por isso, da 
emissão de normas, sua revogação e da emissão de novas normas: o quadro é estático”44. 
 Essa dicotomia entre direito público e privado, salienta o citado autor, remonta ao direito romano. 
Em célebre passagem do Digesto, Ulpiano assevera que o direito público diz respeito à polis, enquanto o 
privado refere-se à utilidade dos particulares. Com Hanna Arendt, Ferraz Jr. afirma que a distinção entre a 
esfera pública e a privada tinha especial relevo na Antiguidade
45
. 
A esfera privada dizia respeito ao reino da necessidade, no qual as atividades humanas visam a 
atender “às exigências da condição animal do homem”. Na esfera privada não havia liberdade, pois se estava 
preso às necessidades da natureza. Apenas poucos privilegiados tinham condição de se libertar dessa 
condição: os cidadãos. Era na vida política, na esfera da ação, que o ser humano se emancipava. O público 
era o “lugar da ação, do encontro dos homens livres que se governam”. Enquanto isso o espaço privado está 
voltado à casa, ou seja, às atividades que asseguram a sobrevivência
46
. 
Com o tempo essa distinção passou por modificações. Na Era Moderna, a dicotomia público e 
privado foi sustentada a partir da oposição entre o social e o individual. Com a Revolução Industrial, esse 
processo foi novamente modificado. O Estado passou a ser basicamente um gestor da economia e a 
sociedade apenas um grande centro produtor. Com isso, a distinção entre a esfera pública e a privada, e, 
consequentemente, entre direito público e privado, perde a nitidez de que gozava na Antiguidade
47
. 
 
43 NUNES, 2003, op. cit., p. 118-120. 
44 FERRAZ JR., 2003, op. cit., p. 132 e 133. 
45 FERRAZ JR., 2003, op. cit., p. 133. 
46 FERRAZ JR., 2003, op. cit., p. 134. 
47
 FERRAZ JR., 2003, op. cit., p. 136 e 137. 
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Para Venosa, a linha divisória entre direito público e privado não pode ser nitidamente traçada, em 
especial em razão da complexidade das relações jurídicas. Não raras vezes as pessoas jurídicas de direito 
público agem como particulares, ocasião em que se sujeitam a regras de direito privado. De outro lado, há 
no direito privado muitas normas de ordem pública, inderrogáveis pela vontade dos interessados, tolhendo-
lhes a autonomia e a iniciativa
48
. 
Apesar de suas inegáveis limitações, a classificação do direito em público e privado apresenta 
interesse didático. Embora o direito seja uno, didaticamente, afirmam alguns juristas, é aceitável dividi-lo. 
Usualmente, como visto, ele é cindido em direito público e privado. No entanto, cada vez mais os 
doutrinadores questionam esta divisão, por considerá-la insuficiente para englobar as diversas vertentes do 
direito contemporâneo. De um lado, o fenômeno da constitucionalização do direito privado, vislumbrado 
no Brasil nas duas últimas décadas, tornou ainda mais tênue a fronteira entre direito público e privado
49
; de 
outro, há ramos do direito positivo atual que não se encaixam adequadamente em nenhuma das duas 
classificações. 
Segundo Rizzatto Nunes, a maioria da doutrina divide o direito em público e privado tendo em conta 
“os sujeitos envolvidos e a qualidade destes quando estão na relação jurídica; e o conteúdo normativo e o 
interesse jurídico a ele relacionado”. Existem, porém, alguns ramos do direito que não se encaixam 
adequadamente nem no direito público e nem no privado. Para contornar esta limitação há quem trabalhe 
com uma classificação ternária. 
 Muito embora nos filiemos àqueles que consideram desgastada, para dizer o mínimo, a dicotomia 
entre direito público e privado, do ponto de vista meramente didático, que norteia este trabalho, ela será 
ainda retratada, mas de forma mais atualizada, incluindo, ao lado dos tradicionais direito público e privado, 
um terceiro gênero, chamado, na falta de melhor nomenclatura, de direito difuso e coletivo. 
 
3.1 Direito Público 
 
Entende-se por direito público, de acordo com Rizzatto Nunes, “aquele que reúne as normas 
jurídicas que têm por matéria o Estado, suas funções e organização, a ordem e segurança internas, com a 
tutela do interesse público, tendo em vista a paz social, o que se faz com a elaboração e a distribuição dos 
serviços públicos, através dos recursos indispensáveis à sua execução”. Na esfera internacional, para o 
 
48 VENOSA, Sílvio de Sálvio. Introdução ao Estudo do Direito. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2010, p. 22. 
49 Cf. FONSECA, Edson Pires; RIBEIRO, Paulo Hermano Soares. Casamento e Divórcio na Perspectiva Civil Constitucional. 
Leme, SP: JH Mizuno, 2012, p. 149 a 173. 
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14 
 
citado autor, o direito público cuida das relações entre os Estados soberanos
50
. 
Dentre as características de que desfruta o direito público interno, destacam-se: 
(i) noção de subordinação (relação verticalizada); 
(ii) atuação do Estado como ente soberano; 
(iii) supremacia do interesse público. 
 
O direito público externo regula as relações jurídicas entre os Estados Soberanos, “visando uma 
harmonia com a comunidade internacional, quer para a manutenção da paz, quer parar agregar relações 
comerciais”51. No direito público externo, importante salientar, as relações são de coordenação, pois não há 
hierarquia entre Estados soberanos. 
 
RAMO DO DIREITO CARACTERÍSTICAS EXEMPLOS 
 
DIREITO PÚBLICO 
INTERNO 
Relação de Subordinação (vertical) 
Estado atua como ente Soberano 
Supremacia do Interesse Público 
Direito Constitucional, Penal, 
Administrativo, Tributário, Financeiro, 
Processual (Civil, Penal, Administrativo 
etc.). 
DIREITO PÚBLICO 
EXTERNO 
Relação de Coordenação (horizontal) Direito Internacional Público 
 
3.2 Direito Privado 
 
O direito privado engloba as normas que se referem aos particulares nas relações entre eles 
estabelecidas. Trata de interesses privados, considerados individualmente
52
. 
No modelo tripartite de divisão do direito positivo adotado neste texto, que divide o direito em 
público, privado e difuso/coletivo, os exemplos de direito privado são o direito civil (e suas diversas 
subdivisões) e o direito empresarial/comercial. Para autores que adotam a tradicional divisão binária, que 
divide o direito em direito público e privado, outros exemplos são acrescentados ao direito privado, como o 
direito do trabalho. 
No direito privado as relações estabelecidas são de coordenação, pois são pactuadas entre iguais. 
Também a autonomia da vontade é elemento caracterizador importante da seara privatista. 
 
50 NUNES, 2003, op. cit., p. 121. 
51 MELLO, Cleyson de Moraes. Introdução ao Estudo do Direito. 2ª ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2009, p. 77. 
52
 NUNES, 2003, op. cit., p. 121. 
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Destaca-se, na atualidade, a admissão, tanto na doutrina quanto na jurisprudência, da chamada 
eficácia horizontal dos direitos fundamentais, que nada mais é do que a possibilidade de incidência dos 
direitos fundamentais não apenas nas relações verticais, isto é, nas relações que os particulares travam com o 
Estado, visto como ente soberano, mas também nas relações entre particulares (horizontais)
53. 
Com isso, altera-se radicalmente a feição do direito privado e de seus institutos, mitigando-se, 
embora isso deva ser feito com muita cautela, algumas de suas premissas basilares, como a autonomia da 
vontade e a noção de pacta sunt servanda. Embora, em regra, os pactos devam ser cumpridos e a 
manifestação de vontade válida deva ser respeitada, essas noções devem se subordinar à principiologia 
constitucional, principalmente no que diz respeito à dignidade da pessoa humana. Em face disso, fala-se hoje 
em direito civil constitucional ou constitucionalizado. 
A constitucionalização do direito civil tem duas facetas: de um lado, refere-se à inclusão dos mais 
relevantes princípios e temas de direito civil expressamente na Constituição; de outro, trata do efeito 
irradiador da normatividade constitucional para todo o ordenamento jurídico. 
Importante ressaltar, com base no exposto, que o direito privado contemporâneo ganhou contornos 
bastante diversos dos que apresentava em períodos anteriores, principalmente antes do advento da 
Constituição Federal de 1988. Incorporar essas inovações é de fundamental relevo na formação do 
profissional do direito. 
 
RAMO DO DIREITO CARACTERÍSTICAS EXEMPLOS 
 
DIREITO PRIVADO 
Relação de Coordenação 
Autonomia da Vontade 
Pacta sunt servanda 
Direito Civil e Direito Empresarial. 
(Para os autores que não reconhecem ainda a 
autonomia dos direitos difusos e coletivos o 
direito do trabalho e do consumidor também são 
classificados como privados) 
 
3.3 Direito Difusos 
 
Ciente das limitações oriundas da dicotomia entre direito público e privado, parte da doutrina propôs 
a criação de um terceiro gênero, de uma terceira divisão. Uns denominam este terceiro gênero de direito 
misto, enquanto outros falam em direito difuso. Não há ainda consenso doutrinário sobre a denominação 
 
53 Cf. FONSECA e RIBEIRO, 2012, op. cit., p. 168 a 173; SILVA, Virgílio Afonso. A Constitucionalização do Direito: os 
direitos fundamentais nas relações entre particulares. São Paulo: Malheiros, 2005. 
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mais adequada. 
Rizzatto Nunes incluiu ao lado da tradicional divisão do direito em público e privado uma terceira 
categoria, a dos direitos difusos. Para ele, os direitos difusos são os 'transindividuais, de natureza 
indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato' (artigo 8º, I, 
do CDC – Código de Defesa do Consumidor). Os titulares dos direitos difusos, que são aqueles cujos 
direitos não podem ser partidos (pois são indivisíveis), são unidos pelos fatos. De acordo com Rizzatto 
Nunes, todos estão sujeitos à publicidade enganosa, do mesmo modo que o direito de respirar ar puro 
também é de todos etc. Como exemplo de direito difuso podem ser citados o direito ambiental, do 
consumidor etc. O direito a um meio ambiente sadio e equilibrado pertence a todos ao mesmo tempo, não 
sendo possível distinguir um único titular
54
. 
 No mesmo sentido, Vítor Kümpel afirma que o direito difuso é aquele que 
trata de direitos transindividuais, cujos titulares são pessoas indeterminadas e ligadas por 
circunstâncias de fato. Os titulares não são nem o Estado nem o particular em sua concepção 
mais própria. Os titulares não podem ser especificados por fazerem parte de uma categoria 
indeterminada de pessoas que estão em um mesmo contexto jurídico, mas que se ligam por 
circunstâncias de fato
 55
. 
 
 Embora Rizzatto Nunes inclua o direito econômico e previdenciário no direito difuso, parece-nos 
mais adequado que permaneçam no direito público. O direito do trabalho também foi inserido por ele no 
direito difuso. Não nos parece também uma classificação muito precisa, mas ao menos ajuda a superar as 
correntes que o enquadram ora no direito público, ora no privado. 
 O direito internacional privado é classificado por Rizzatto Nunes como sendo ramo do que ele 
chamou de direito difuso externo
56
. Embora não seja uma classificação imune a críticas, parece-nos mais 
adequada do que colocá-las, como fazem alguns, dentre as normas de direito privado. Reale sustenta que o 
direito internacional privado não é nem internacional e nem privado. Trata-se, isto sim, de uma 
metalinguagem jurídica, destinada a conciliar o conflito de normas no espaço, ou seja, de decidir em 
determinados conflitos envolvendo nacionais de países diferentes quais as normas jurídicas aplicáveis ao 
caso, se as brasileiras ou as estrangeiras
57
. 
 Como toda classificação, esse terceiro gênero, direito difuso, não goza de delineamento logicamente 
rigoroso. Mas nem por isso deixa de ser um suporte didático interessante para melhor compreender a 
estruturação e os contornos do direito da nossa época. 
 
54 NUNES, Rizzatto. Manual de Introdução ao Estudo do Direito. 9ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 149 e 150. 
55 KÜMPEL, Vítor Frederico. Introdução ao Estudo do Direito: Lei de Introdução ao Código Civil e Hermenêutica Jurídica. 
2ª ed. São Paulo: Método, 2009, p. 39. 
56 NUNES, 2009, op. cit., p. 150. 
57
 REALE, 2005, op. cit., p. 352 a 354. 
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RAMO DO 
DIREITO 
CARACTERÍSTICAS EXEMPLOS 
 
DIREITO 
DIFUSO 
INTERNO 
Direitos difusos: são direitos transindividuais 
cujos titulares não podem ser especificados por 
fazerem parte de uma categoria indeterminada de 
pessoas que estão em um mesmo contexto 
jurídico, mas que se ligam por circunstâncias de 
fato. 
 
Direito Ambiental. Direito do consumidor. 
Direito do Trabalho (há quem classifique o 
direito do trabalho como ramo do direito público 
e outros do direito privado). Rizzatto inclui 
também o direito econômico e o previdenciário. 
Parece-nos que andaria melhor mantendo-os no 
direito público. 
DIREITO 
DIFUSO 
EXTERNO 
Rizzatto Nunes classifica o direito internacional 
privado como ramo do direito difuso externo. O 
direito internacional privado rege o conflito de 
leis no espaço. 
Direito Internacional Privado (alguns o 
classificam como ramo do direito privado, 
outros do direito público. Reale o considera uma 
metalinguagem).

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