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George Marmelstein – Julgamentos históricos do STF

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AC41emb.RTF
AÇÃO CRIMINAL Nº 41
2º ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos de ação criminal em que é denunciante o Procurador Geral da República e réu denunciado o Dr. João Baptista da Costa Carvalho, juiz federal na seção do Estado do Paraná, ora embargante:
Considerando que não pode haver condenação sem a prova plena do crime (Cod. Do Proc. Criminal, arts. 145 e 146, Mittermayer, Provas em matéria criminal) e, é evidente que para a existência do crime atribuído ao acusado na denúncia de fls. E articulado no libelo, isto é, o do art. 207, ns. 1 e 4, com referência ao art. 210 do Cod. Penal seria substancial e indeclinável que a denúncia indicasse qual a literal disposição de lei violada pelo acusado e, entretanto, dos autos isso não resulta;
Considerando que sendo incontestável a incompetência do ministro relator do Feito no Supremo Tribunal Federal, terminada pelo seu julgamento final, para funcionar no processo da execução da sentença da qual fora juiz o próprio Tribunal e não o relator, ex-vi do art. 89, do regimento interno do Supremo Tribunal, que consolida disposições dos arts. 244, da lei n. 848, de 1890, 420, do regul. n. 737, de 1850, Ord., Liv. 3º, Tit. 72, §7º, lição de Ribas, Consolidação, art. 123, e Ramalho, praxe, §365, é fora de toda a dúvida que os atos articulados no libelo, atribuídos ao juiz querelado, decorrentes só e exclusivamente do fato de seu desconhecimento da competência que se atribuiu o Sr. Ministro relator do feito em questão não constituem delito, porque este só pode existir por lei anterior que o qualifique (nullum crimen sine lege); e em regimen livre ninguém pode ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;
Considerando, finalmente, que quando fossem irregulares os atos articulados no libelo, ou mesmo errada a interpretação dada pelo juiz querelado aos diferentes textos de lei referentes à citação por precatória ou por mandado, é também certo que a mais tradicional jurisprudência dos tribunais brasileiros, consagrada em ilimitado número de julgados, tem acentuado este conceito “o juiz a quem cabe a aplicação de uma lei, tem “ipso facto”, a livre interpretação do texto para aplicá-la do modo mais consentâneo ao direito”;
Considerando, isto posto, que o juiz pode errar sem praticar delito, quando, como na espécie dos autos, não se atribui ao acusado dolo, artifício ou a intenção criminosa, consoante os julgados nos acórdãos da Relação da Corte, de 15 de setembro e outros, da Relação de Outro Preto, de 14 de Junho e outros de S. Paulo, de agosto de 1879, e Revista do antigo Supremo Tribunal, de abril de 1874;
Com estes fundamentos acordam receber os embargos de fls. para, reformando o acórdão embargado, absolver o acusado Dr. João Baptista da Costa Carvalho.
Custas na forma da lei.
Supremo Tribunal Federal, 18 de janeiro de 1913.- Hermínio do Espirito Santo, Presidente com voto - Oliveira Ribeiro, relator - Amaro Cavalcanti. - Enéas Galvão: - Recebi os embargos para manter meu voto de absolvição de acordo com os fundamentos que escrevi de fls. a fls. v.; em face da lei civil; o juiz é “lex loquens” e assim procedeu o embargante para não incorrer na falta que o Código Civil Francês, no art. 4º, pune como omissão de justiça, “delit de justice”. Leoni Ramos - Manoel Murtinho - Pedro Lessa, vencido: O primeiro considerando deste acórdão encerra uma evidente confusão que facilmente se dissipa tanto na denúncia de fls. (linhas), como no libelo de fls. (linhas) indicou o Procurador Geral da República com toda a precisão os artigos do Cod. Penal que no seu conceito, haviam sido inflingidos pelo réu, - art. 207, ns. 1 e 4, combinado com o art. 210.
O acórdão embargado julgou que somente tinha sido violada a disposição do art. 207, n. 4, combinado com o art. 210, porquanto o próprio réu não contestou jamais (nem nos autos revelou alguém a veleidade de negá-lo) que de fato recusou as providências legais determinadas por autoridade competente, providências que são do ofício do réu. Na longa resposta de fls. e fls. o réu, procurando justificar o seu procedimento, não alegou sequer que tivesse praticado involuntariamente o ato que lhe foi imputado, pelo contrário, tentou mostrar que esse ato é correto. Ficou bem certo que o réu recusou muito voluntariamente uma providência legal do ofício, determinada por autoridade competente. O segundo considerando desconheceu uma verdade inconcussa em direito. Trata-se de executar uma sentença proferida em ação originária e privativa do Supremo Tribunal Federal. Em regra, o juiz competente para a execução é o mesmo competente para a ação, (art. 244, do dec. n. 848, de 11 de outubro de 1890 e 485, parte III, do dec. n. 3.084, de 5 de novembro de 1898).
Ao Supremo Tribunal Federal, pois, competia proceder à execução da sentença e o Tribunal só ordena o processo e determina as diligências requeridas ou necessárias, por intermédio do relator, que é o seu órgão neste caso. Uma vez ordenado pelo relator a citação do Estado vencido para o início da execução, ao réu não era facultado admitir embargos à citação, e muito menos decretar a nulidade da mesma, o que só podia fazer o Tribunal.
O Juiz Federal do Paraná não recebeu nem podia receber precatória na espécie.
A ninguém é lícito ignorar esse rudimento do processo.
As precatórias são expedidas entre juízes que exercem jurisdições em territórios diversos, sendo o Tribunal Superior ao réu, e tendo jurisdição em todo o território nacional, bem devia o réu compreender que a precatória não tinha cabimento.
De fato, é absolutamente falso que o relator do feito tenha expedido uma carta precatória.
Como se vê de fls., o que se remeteu ao réu foi um mandado, uma ordem e ao Juiz Seccional do Paraná só incumbia cumprir essa ordem nos termos do art. 17 da lei n. 221, de 20 de novembro de 1894.
O fato de, em vez de cumprir a ordem, suscitar um conflito de jurisdição prova desrespeito ao seu superior hierárquico. Não é possível que o réu ignore que é impossível um conflito de jurisdição, entre o Juiz Seccional e o Supremo Tribunal, ou o relator do feito, o qual é apenas um órgão do Tribunal. Sempre confundindo noções elementares diversas, afirma o acórdão do 3º considerando que ao juiz, a quem cabe aplicar a lei, é facultado interpretá-la livremente. Não há dúvida que, no resolver as contendas têm os juízes a faculdade de interpretar as leis como melhor lhes pareça.
Mas, na espécie não se trata de dirimir pleito: o que havia era apenas uma ordem para cumprir. O único dolo possível no caso consiste em praticar o ato voluntariamente, concedendo-lhe o caráter anti-jurídico ou ilegal e o nexo causal entre o mesmo ato e suas conseqüências. Que o réu praticou o ato voluntariamente e sabendo as conseqüências do seu procedimento, ficou provado pelas respostas a fls.; quanto à ilegalidade do ato do juiz, não pode ser permitido alegar ignorância do direito, o que nenhum indivíduo é lícito em regra. A alegação da falta de leis acerca das execuções de sentenças do Tribunal não procede absolutamente.
Não há falta de leis para execução em geral, o que sabem todos. A falta de normas especiais para a determinação de novos limites entre dois Estados, não aproveitava ao réu na espécie destes autos, como bem explicou o acórdão embargado.
- Sebastião Lacerda, vencido de acordo com o voto do Sr. Ministro Pedro Lessa.
- Canuto Saraiva, vencido de acordo com o voto do Sr. Ministro Pedro Lessa.
- Godofredo Cunha, vencido de acordo com o meu voto anterior.
- G. Natal, vencido nos termos do voto do Sr. Ministro Pedro Lessa.
Fui presente, Muniz Barreto.
AC41.RTF
AÇÃO CRIMINAL Nº 41
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos de ação criminal, em que é denunciante o Procurador Geral da República e réu, denunciado, o Dr. João Baptista da Costa Carvalho Juiz Federal da seção do Paraná, - verifica-se que a espécie é a seguinte:
Tendo passado em julgado, por se haverem esgotado todos os recursos legais,
a sentença que pôs termo à questão de limites entre os Estados de S. Catarina e Paraná, requereu o Estado de Santa Catarina, por seu advogado, que fosse citado o do Paraná para execução da sentença, sendo-lhe assinado prazo legal para oferecer embargos, e também para designação de “árbitros” que procedesse à determinação da linha divisória, nos pontos em que não está perfeitamente fixada.
Pelo relator da ação, que, segundo decidiu o Tribunal, o é também o da execução, foi ordenada a citação requerida, sendo incumbido nos termos da lei, o réu, na qualidade de Juiz Seccional do Estado do Paraná, de efetuar a citação.
Em vez, porém, de cumprir o que lhe fora ordenado, o dito réu admitiu embargos à citação, sob o pretexto de serem embargos às precatórias e, julgando procedentes os embargos, declarou insubsistente para quaisquer efeitos jurídicos a citação ordenada.
Ordenando-lhe o relator que devolvesse os autos com o cumprimento da diligência, sem embargo de qualquer oposição, pois a ele réu, não incumbia conhecer de quaisquer embargos opostos, o dito réu desobedecendo suscitou um conflito de jurisdição entre o Juiz Federal do Estado do Paraná e o Ministro Relator do Feito.
À vista dos fatos sucintamente descritos, o Procurador Geral da República denunciou o réu e no libelo de fls. pediu fosse o mesmo condenado às penas do grau médio do art. 210 combinado com o art. 207, ns. 1 e 4, do Cod. Penal.
Defendendo-se, alegou o réu que admitiu os embargos do Estado do Paraná à citação aludida, por entender que se tratava de uma citação feita por precatória, e declarou insubsistente a citação efetuada porque estava convencido de que podia fazê-lo legalmente. Disse mais que não devolveu os autos ao Tribunal quando lho determinou o Ministro Relator porque essa determinação se fizera sob a forma de avocatória, e a avocatória em matéria de competência se resolve em um conflito de jurisdição, sendo esse o motivo por que suscitou o conflito entre ele Juiz Federal do Estado do Paraná e o Relator do Feito.
Isto posto: 
Considerando que o réu cometeu o delito do art. 207 n. 4 do Cod. Penal, combinado com o art. 210; visto como:
Considerando que, segundo dispõe o art. 17 da lei 221, de 20 de novembro de 1894; “os juízes seccionais são competentes para a execução de todas as sentenças e ordens do Supremo Tribunal Federal;”
Considerando que a citação do Estado do Paraná não deprecada, não foi rogada, não revestiu a forma de uma precatória, nem podia revestir essa forma, admitida em direito, como é corrente entre os processualistas para o caso em que: “o citando está em território estranho à jurisdição do Juiz perante quem deva responder”.
Na espécie em questão, tratava-se da execução de uma sentença proferida pelo Supremo Tribunal Federal em causa que lhe compete processar e julgar originária e privativamente, sendo regra geral do nosso direito que “é competente para execução o juiz da causa principal”;
Considerando, portanto, que ao réu, como órgão do Tribunal para o cumprimento das ordens deste na seção do Paraná só cumpria mandar proceder à citação determinada pelo Relator do Feito, o qual, como já tem decidido o Tribunal e é também corrente em direito, ordena o processo e resolve sobre as diligências requeridas ou necessárias, também como órgão do Tribunal, sendo admitido semente para o mesmo Tribunal o recurso de quaisquer despachos proferidos pelo aludido relator.
Considerando que não aproveita ao réu a opinião emitida por alguns membros deste Tribunal e por ele invocada, de que não há lei para execução de certas sentenças proferidas pelo Tribunal.
Em primeiro lugar, ao Tribunal, e somente a ele, desde que se trate de ações originárias e privativas cumpre decidir quaisquer questões acerca da execução das suas sentenças.
Em segundo lugar, é preciso compreender o conceito emitido por alguns membros deste Tribunal, aliás expresso de modo bem claro.
Tratava-se de executar a sentença proferida na questão de limites entre o Estado do Amazonas e o de Mato Grosso.
Fazia-se necessário fixar as divisas ordenadas nas sentenças e agitara-se a questão de saber qual o juiz competente para presidir os trabalhos dos peritos.
Foi, então que se emitiu o conceito, a que se refere a defesa do réu, de que nenhum dos juízes seccionais dos dois Estados mencionados, podia desempenhar a função pelo fato de ser preciso estar a autoridade judiciária ora no território do seu Estado, ora no do vizinho, onde não tem jurisdição, além de não haver lei que confira tal atribuição aos juízes seccionais.
Bem diversa é a execução da sentença proferida no pleito entre o Estado do Paraná e o de Santa Catarina pois neste mandou o Tribunal que, entre o Oceano Atlântico e o Rio Negro se continuasse a respeitar a linha divisória que tem sido reconhecida pelos dois Estados, e das cabeceiras do Rio Negro até os limites da Argentina fixou como limites o mesmo Rio Negro e o Iguaçu, rios caudalosos, bem conhecidos e que nenhum geógrafo ou historiador pátrio confunde com outros cursos d’água.
Pouco importa que o Estado de Santa Catarina tenha requerido a citação do Estado do Paraná, não só para o início da execução e para oferecer embargos no prazo legal, como para se louvar em “árbitros” que procedam a demarcação da linha divisória “nos pontos em que não esteja iniludivelmente determinada”.
Havendo, o que ninguém contesta, regras gerais para a execução das sentenças, regras inquestionavelmente aplicáveis às sentenças proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, art. 241 e seguintes do dec. n. 848, de 11 de outubro de 1890, e 470 e seguintes do dec. n. 3.084, de 5 de novembro de 1898, ao Tribunal é que competia decidir se era, ou não permitido iniciar a execução com a citação da parte vencida para oferecer embargos, abstraindo da louvação em perito e da tarefa que a este incumbiria.
Em suma, se entre nós ainda não foi decretada uma providência especial aplicável ao caso de ser necessário traçar os limites entre dois Estados como já se fez nos Estados Unidos da América do Norte, não é lícito, por outro lado, negar, a existência de normas gerais para execução das sentenças proferidas pelo Supremo Tribunal Federal.
Só este podia resolver o que devia ser deferido na execução requerida pelo Estado de Santa Catarina;
Considerando que das circunstâncias do fato bem se depreende que, deixando de ordenar, ou pelo menos, demorando as providências do ofício determinadas por autoridade competente, o réu foi levado a assim proceder por frouxidão não estando provada a contemplação a que se alude no art. 207 do Código Penal, nem tendo sido pedida pelo órgão da justiça pública a condenação às penas referidas;
O Supremo Tribunal julga procedente a denúncia e condena o réu João Baptista da Costa Carvalho às penas do grau médio do art. 207 n. 4, combinado com o art. 210 do Código Penal, que são: 9 meses de suspensão do cargo e multa de 300$000.
Custas pelo réu.
Supremo Tribunal Federal, 4 de janeiro de 1913. Manoel Murtinho, Presidente interino - Pedro Lessa, relator.
Oliveira Ribeiro: vencido. Votei, absolvendo o querelado porque não pode haver condenação sem a prova plena do crime (Cod. do Proc. Crim. Arts. 145 e 146 e Mittermayer, prova crim.) e é evidente que para a existência do crime atribuído ao acusado na denúncia à fl. e articulado no libelo - o do art. 207, n.1, com referência ao 210 do Cod. Penal seria substancial e indeclinável que a denúncia indicasse a literal disposição violada pelo acusado com qualquer dos requisitos também substanciais à existência de tal delito, isto é, que o acusado o praticara por afeição, ódio, contemplação ou para promover interesse pessoal seu: e entretanto, de nenhum desses elementos cogita sequer a acusação. Porque, sendo incontestável a competência do ministro relator do feito do Supremo Tribunal Federal, terminado pelo seu julgamento final, para funcionar no processo da execução de sentença, da qual fôra juiz o próprio Tribunal, não o relator, ex-vi
do art. 89, do seu regulamento interno, que consolida disposições dos arts. 244, da lei n. 848 de 1890, 490 do regul. n. 737 de 1850, Ord., liv. 3º Tit. 2º §7; à lição de Ribas, Consolidação art. 123, Ramalho Praxe, §365, é fora de toda a dúvida que os atos articulados no libelo, atribuídos ao juiz querelado, decorrentes só exclusivamente do fato de seu desconhecimento, da competência que se atribuiu o sr. Ministro Relator do feito em questão, não constitui delito porque, este só pode existir por lei anterior que o qualifique (nullum crimen sine legis); porque no regimen livre ninguém pode ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, senão em virtude de lei.
Votei, finalmente, absolvendo o acusado porque, quando fossem irregulares os atos articulados no libelo ou mesmo errônea interpretação dada aos diferentes textos de lei, referentes à citação por precatória ou por mandado, é também certo que a mais tradicional jurisprudência nos tribunais brasileiros, consagrada em ilimitada série de julgados brilhantes tem acentuado este conceito “o juiz a quem cabe a aplicação de uma lei tem ipso facto a livre interpretação do texto para aplicá-la de modo mais consentâneo ao direito”.
Isto quer dizer, que o juiz pode errar sem praticar delito, quando, como na espécie dos autos, não se atribui ao acusado dolo ou a intenção criminosa.
E assim julgaram a Relação da Corte, nos acórdãos de 15 de setembro e outros; a Relação de Ouro Preto, em acórdão de 14 de junho e outros e a Relação de S. Paulo, no de agosto de 1879 e o antigo Supremo Tribunal de Justiça, na Revista de abril de 1884. - Godofredo Cunha. - Amaro Cavalcanti: vencido. Ainda que continue a considerar que o modo de proceder do juiz acusado, no caso sujeito, foi errado e irregular, absolvo-o não obstante, da acusação que lhe foi movida, por verificar dos termos da sua defesa, que os atos argüidos foram por ele praticados na convicção de que, assim fazendo, não exorbitava da esfera da sua competência ao dar execução às ordens recebidas do sr. Ministro relator do feito. Ou dizendo-o em outros termos: Desde que não pode recusar a todo juiz, mesmo inferior, o direito de despachar os feitos segundo o seu próprio critério individual e a inteligência com que interpreta as leis na sua aplicação, torna-se patente que o que se deu na espécie, foi realmente um erro de ofício, mas não um crime, por faltar o elemento intencional do delito. - Leoni Ramos: vencido nos termos do voto do Exmo. Sr. Ministro Amaro Cavalcanti. - Canuto Saraiva - Sebastião de Lacerda.- Pedro Mibielli: votei pela condenação do denunciado no grau mínimo do art. 207, n. 4, combinado com o art. 210, porque reconheci a atenuante do art. 41, §9º do Cod. Penal. -Guimarães Natal. - Enéas Galvão: vencido. Votei pela absolvição. São elementos conceituais da infração penal definida no art. 207, n.1, combinado com o art. 210 do Cod. Penal, e articulado em 1º lugar no libelo a existência da lei contra a qual se tenha julgado ou procedido e a frouxidão de conduta.
No caso em questão há, não somente falta de lei reguladora da execução da sentença deste Tribunal, como de prova da alegada frouxidão. 
O próprio art. 49 da lei n. 221, de 1894, invocado para a sustentação do libelo, dispõe que nas causas da privativa competência do Tribunal “se observará o seu regimento” e este no art. 91 manda guardar na execução “o que for determinado em lei federal, tratado ou convenção ou compromisso das partes”.
Na ausência de normas executórias, entendeu o denunciado dever observar no feito o processo comum, inspirando-se, talvez, no dispositivo do parágrafo único do citado art. 49, segundo o qual aos conflitos entre os Estados aplicam-se as regras processuais dos conflitos de jurisdição entre os juízes.
Não ouve, pois, procedimento contra literal disposição de lei.
De nenhum modo, também se caracteriza nos autos ou no libelo a frouxidão.
Em que consistiu a falta de energia moral de que aí se fala?
Como precisá-la? Como conjecturá-la, sequer?
Outrossim, sujeitando a causa ao processo comum, lógico revelou-se o denunciado processando, como fez, a matéria da competência que surgiu no início da segunda fase da ação, mas isso não constitui a modalidade de crime figurado no n. 4 do art. 207; alude-se, sem dúvida, no texto às providências legais.
Mas se não há lei para o caso, se o Tribunal não pode criar o direito processual, como entender-se que o denunciado, a quem foi cometida a execução, praticou crime com o defender o que supunha por esse motivo, ato de sua jurisdição?
O erro de interpretação dará lugar à reforma de seus despachos, poderia, mesmo, determinar a medida disciplinar de censura, advertência, cousa de que cogita o art. 16§7º, letra e, do Regimento do Tribunal, mas não a imposição de pena.
Nos julgamentos criminais, o juiz não pode raciocinar por paridade, nem por maioria de razão, segundo o notável aresto da Corte de Cassação de Paris, pensamento que Portalis, no discurso preliminar do Código Civil, sustentou com o maior vigor, dizendo que nesse assunto é mister o texto formal, as leis devem ser precisas e Beccaria acentuou negando ao magistrado o direito de consultar o espírito da lei.
A ação ou omissão que não é condenada pela letra da lei não é crime, nem contravenção, eis a grande máxima tutelar da tranqüilidade dos cidadãos, que emerge do art. 1º do nosso Cod. Penal, e tem suas raízes na Constituição Federal. Tais, em resumo, os fundamentos com que na discussão sustentei o meu voto.
Fui presente. - =Muniz Barreto.
AC1035.RTF
APELAÇÃO CRIMINAL n. 1.035
A doutrina e a jurisprudência uniforme de nossos tribunais estão acordes em reconhecer que as leis processuais, em cujo número se incluem as que estabelecem a competência para o processo e julgamento, têm efeito retroativo, aplicam-se a fatos praticados antes da sua promulgação. Portanto, os crimes políticos e os que lhes são conexos, definidos nos arts. 107 a 118 do Cód. Penal são processados e julgados pelo Juiz Federal, ainda que o fato criminoso haja ocorrido antes de entrar em vigor o decreto 4.848, de 1924.
A traição não é, em direito penal, a simples quebra de fidelidade prometida; faz-se mister a mostrança de amizade, a ocultação do ânimo hostil, de modo a que não receie a vítima a agressão.
A agravante da traição diferencia-se da surpresa porque nela o agente prepara, em atos simulados, o descuido ou confiança no espírito do sujeito passivo do delito, ao passo que a surpresa se caracteriza tão só pelo ataque repentino e inesperado sem que o ofendido pudesse preveni-lo ou obstá-lo.
Vistos, discutidos e relatados os presentes autos de apelação criminal: 1º apelante, o Procurador Criminal da República; segundos apelantes, o 1º Tenente Canrobert Penna Lopes Costa e outros; apelados os mesmos:
Acórdão:
a) julgar extinta a ação penal quanto ao acusado Capitão Miguel de Vasconcellos Querê, à vista da prova do seu falecimento, constante do Boletim do Exército n. 456, de 31 de Maio de 1928, pág. 740, junto aos autos;
b) dar provimento em parte à apelação do Procurador Criminal da República, para, reformando a sentença apelada, no tocante aos réus absolvidos Capitão Luiz Gonzaga Borges Fortes e Sargento Waldemiro Pessôa Barbosa, condená-los a um ano e quatro meses de reclusão, grau mínimo do art. 111, combinado com os arts. 13 e 63 do Código Penal;
c) prover a apelação do Tenente Pharmacêutico Rodolpho Pereira dos Santos, para absolvê-lo;
d) negar provimento à apelação dos outros réus condenados, para confirmar, como confirmam, a sentença — que lhes impôs a referida pena de um ano e quatro meses de reclusão, como autores do crime político previsto nos mencionados artigos da lei penal.
I — A argüida nulidade do processo é improcedente.
A ação penal obedeceu às prescrições dos decretos legislativos ns. 4.848, de 13 de Agosto, e 4.861 de 29 de Setembro de 1924, como cumpria. A constitucionalidade desses decretos e da sua aplicação a fatos anteriores
à data em que eles entraram em vigor, já foi cabalmente demonstrada no acórdão proferido na apelação n. 1.009, de 23 de Dezembro de 1927, e em outras decisões deste Tribunal, que examinou detidamente a matéria, não se fazendo mister reproduzir agora a farta argumentação aduzida nesses julgados.
II — A capitulação do delito na tentativa do art. 111 do Código, fê-la o Tribunal, quando decidiu sobre o recurso do despacho de pronúncia.
Respeito a autoria (art. 18, § 1º), a sentença apelada mostrou a prova plena existente nos autos, contra quase todos os réus que condenou. Nem os acusados, em geral, negaram a sua cooperação no crime.
As agravantes articuladas no libelo, — as do art. 39, parágrafos 1º e 7º, do mesmo Código — o juiz a quo as repeliu com razão, por prova não haver delas.
Da traição, disse o aludido acórdão n. 1.009 (sobre a revolução de São Paulo) que tal circunstância agravante não é, em direito penal, a simples quebra da fidelidade prometida: faz-se mister a “mostrança de amizade”, a ocultação do ânimo hostil, de modo que não receie a vítima a agressão. Esta circunstância tem alguma semelhança com a surpresa, e o Código de 1830 não a consignava especialmente. Dela se diferencia, porém, porque na traição o agente prepara, com atos simulados, o descuido ou confiança no espírito do sujeito passivo do delito, ao passo que a surpresa, que é uma circunstância objetiva, se caracteriza tão só pelo ataque repentino e inesperado, sem que o ofendido pudesse preveni-lo ou evitá-lo. Não se deve confundir o sentido lexicológico da palavra traição com o seu sentido jurídico-penal.
Atenuante em favor de todos os réus condenados reconheceu a sentença apelada, consoante ao libelo, onde o procurador criminal, depois de alegar as duas agravantes, concluiu pedindo a condenação no grau sub-máximo.
III — Somente quanto ao Tenente Pharmacêutico Rodolpho Pereira dos Santos é que não encontra apoio no processo a parte condenatória da sentença da inferior instância. Fazendo parte do Corpo de Saúde do Exército, esse acusado não era um combatente. Obedeceu à ordem de ir para a ambulância. Cumpriu-a, tendo antes qualificado de loucura o procedimento dos oficiais combatentes. Nem devia fugir a semelhante serviço, uma vez que além dele não pretendia ir, como sem embargos o referiu no depoimento de fls. 1.912-1.913 do vol. 8º. A corroborar-lhe a declaração da inocência, há várias testemunhas nos autos: o cabo Prismilau Camerino Teixeira, para quem “a ação desse oficial limitou-se a preparar medicamentos na fortaleza” (fls. 135, 1º vol.); o soldado Nestor Pires do Couto, que disse se circunscrever a cooperação “do Pharmacêutico Rodolpho a cuidar dos doentes” (fls. 161 verso); o soldado Alcebiades de Araujo, o qual se externou por esta forma: “que também se achava na fortaleza o 2º Tenente Pharmacêutico Rodolpho, cuja atitude era calma, como nos tempos comuns, sem se meter com causas de combate” (fls. 153 verso).
IV — Já o mesmo se não pode afirmar quanto aos apelantes, que a maioria da turma e outros julgadores tiveram como estranhos ao delito: Major Joaquim Antonio Pereira, 1º Tenente Delso Mendes da Fonseca, 1º Tenente Thales Villas Boas, 1º Tenente Alcides Paulino da Franca Velloso, aspirante Manoel de Araujo Goés, 1º Tenente Eugênio Ewerton Pinto, Mário Chaves Ferreira, 1º Tenente Plínio Barreto Cardoso, Capitão Granville Bellorofonte de Lima, 1º Tenente Vasco Neves Varella, 1º Tenente Renato Santos Jacintho, 1º Tenente Cyro Paes Leme e Lydio Gomes Barbosa.
O Major Joaquim Antonio Pereira tomou parte no crime, como atestam as provas dos autos. No documento de fls. 1.852-1.856 verso, o General Bonifácio Gomes da Costa, Comandante do 1º Distrito de Artilharia de Costa, informou ao Ministro da Guerra que, comparecendo no Forte de Copacabana, para empossar o Capitão José da Silva Barbosa no Comando dessa praça de guerra, lhe apareceu esse Major, chefe do estado-maior do distrito, e “declarou que, de acordo com as suas idéias, era solidário com a atitude de seus camaradas e que desde aquele momento se considerava no número dos rebeldes”. No interrogatório de fls. 1.896 verso — 1.899, disse que confirmava essa declaração. Diversas testemunhas viram este oficial no forte, entre os revoltosos (fls. 1.885, 1.886 verso, 1.888 verso, 1.908 e 2.973). Por assim ter procedido, foi ele exonerado da comissão em que se achava, e recolhido preso à Fortaleza de Santa Cruz (fé de ofício, à fls. 1.759).
O 1º Tenente Delso Mendes da Fonseca salientou-se na revolta, encarregando-se de uma das torres dos canhões sete e meio (fls. 119, 126 verso, 128 verso, 144 verso, 147 verso, 150, 151, 158 verso, 161 verso, 165 verso, etc). Prestando declarações a fls. 1.907-1.908 verso, informou: que ele e o Tenente Silvino serviram na cúpula de 190 m/m; deu três tiros, sendo os outros deste seu companheiro.
O 1º Tenente Thales de Azevedo Villas Boas, da guarnição do forte, disse a fls. 1.911 verso, que tomou parte na revolta por ver nisso um desagravo da classe e por solidariedade com os seus companheiros.
A sua cooperação no crime é afirmada por várias testemunhas: as de fls. 128 verso, 133 (“que o Tenente Thales mandou que o canhão da direita atirasse, o que foi feito, e minutos depois determinou que o canhão da esquerda atirasse, o que também foi feito”), 139 verso, 142, 144 verso, 147 verso, 150, 151 verso, 159 (“que também os canhões de 305 m/m atiraram sobre a Fortaleza de Santa Cruz, em resposta a tiros de lá partidos, tendo-os ordenado o Tenente Thales Villas Boas.
O 1º Tenente Alcides Paulino da Franca Velloso, da guarnição do forte, era comandante de uma das torres de eclipse, a qual, como ele declarou a fls. 1.902, fez alguns disparos durante a revolta.
Nos depoimentos de fls. 138 141, 141 verso 143, 146 149, 149 verso 150 verso, 151 152 verso, 162 verso, 163 165, 167, 168, 170, 170 173, está escrito que o Tenente Alcides Velloso, era um dos que no Forte de Copacabana abraçaram o movimento revoltoso. As testemunhas pertenciam à guarnição do forte; são todas de vista. A de nome Juvenal Joaquim de Souza disse “que também os canhões de 75 m/m atiraram, não sabendo contra que objetivo, sendo certo que o seu comandante, isto é, o encarregado das suas torres era o 1º Tenente Alcides Paulino da Franca Velloso” (fls. 166).
Por assim ter procedido foi preso e conduzido para a Fortaleza de Santa Cruz (fé de ofício, a fls. 8.205).
Os citados depoimentos, em geral, se referem também, entre outros, aos acusados Delso Mendes da Fonseca e Thales Villas Boas.
O Aspirante Manoel de Araujo Góes tomou parte ativa na revolta do forte, a cuja guarnição pertencia. Atestando os depoimentos de fls. 128 verso, 131, 136 verso, 142, 144 verso, 147 verso, 1.889 verso e 2.005; este último, do soldado José Pessoa de Barros, que declarou “dormia, na madrugada de 5 quando foi acordado pelo Aspirante Goés o qual lhe deu ordem de armar-se”.
O acusado era da 1ª bateria (fls. 128, etc.). Deixou de ser ouvido no inquérito, por haver se ocultado. A testemunha do sumário Tenente Manoel Joaquim Guedes viu o Aspirante Goés entre os revoltosos (fls. 5.035 verso).
Consta da sua fé de ofício que a 5 de Julho de 1922, foi considerado ausente sendo mais tarde excluído da bateria como desertor (fls. 8.373).
Nas defesas destes cinco oficiais nada há destrutivo da prova testemunhal e da prova circunstancial reunidas no processo.
V É robusta a prova da co-autoria do sargento Waldemiro Pessoa Barbosa, do 1º Regimento de Infantaria, aquartelado na Vila Militar. Cooperou acentuadamente com o Tenente Frederico Christiano Buys, condenado pela sentença apelada. Cada um deles comandou um pelotão, no ataque ao cassino daquele regimento. O Capitão José Barbosa Monteiro fez frente aos rebeldes, sendo ferido pelos tiros que partiram do pelotão do sargento Waldemiro Pessoa.
Três testemunhas do sumário afirmam e descrevem a co-participação do acusado no delito: a 5ª, Tenente-Coronel Alvaro Guilherme Mariante (fls. 4.586-4.587);
a 20ª, Capitão Abrahão Chaves, que depois de dizer que o Tenente Buys foi desarmado pelo Coronel Nestor Passos, comandante do regimento, acrescentou que os rebeldes atacaram o cassino, constituídos em dois pelotões, um sob a direção do referido tenente, outro sob a do sargento Waldemiro Pessôa, tendo recebido ferimentos e vindo a falecer o Capitão Monteiro (fls. 5.180-5.184 verso); a 22ª, Tenente-Coronel Manoel Henrique da Silva, comandante do 3º batalhão do regimento, que viu em marcha acelerada o pelotão do acusado, e depois o ataque ao cassino, do qual resultou a morte do aludido capitão, tendo a muito custo conseguido o depoente que os revoltosos se submetessem às suas ordens (folhas 5.224 verso 5.227 verso).
Como fez quando condenou os sargentos que participaram do crime do art. 108 do Código Penal, cometido no Estado de São Paulo em Julho de 1924, o tribunal reconhece a favor desse réu a atenuante do art. 42 § 8º, do mesmo código.
O Capitão Luiz Gonzaga Borges Fortes, do 1º Batalhão de Engenharia, também aquartelado na Vila Militar, manifestou por atos inequívocos a sua co-participação no crime.
Dele diz a 17ª testemunha do sumário Major Gervásio Caldas, que tendo o comandante do batalhão comunicado aos oficiais, à meia-noite de 4 para 5 de julho, a iminência de graves acontecimentos e indagado se estavam todos dispostos a obedecer às ordens do Governo, como cumpria, o acusado declarou que “procederia de acordo com as suas idéias e consciência diante da humilhação à que fora levado o Exército pelo Governo, mandando fechar o Clube Militar”. Acrescentou a testemunha: que enquanto isto sucedia, ouviu-se do lado de fora o barulho de grande fuzilaria, verificando-se que partia de um batalhão de infantaria, que encontrando o Sargento Luciano de Mattos, encarregado das patrulhas, e indagando do que ocorria, informou-lhe este “que havia recebido ordem do Capitão Borges Fortes de ficar do outro lado da via-férrea”; fez ver ao sargento que não devia obedecer a essa ordem e mandou que colocasse as patrulhas nos pontos anteriormente designados. Referiu-lhe o Tenente Waldemar Aranha, então chefe do serviço rádio-telegráfico, que “o Capitão Borges Fortes lhe ordenara o desmonte dos aparelhos rádio-telegráficos, e, não sendo obedecido, ele próprio Capitão os desmontou” (fls. 5.099-5.110).
Prova também fornece o depoimento da 19ª testemunha, Major Oscar de Araujo Fonseca, a esse tempo Capitão-ajudante do aludido batalhão, o qual refere que o acusado manifestou-se de modo desabrido contra o Governo, na reunião dos oficiais, afirmando que só acompanharia a sua unidade até onde a dignidade o permitisse. Depois disso, indo a testemunha indagar da razão da fuzilaria, que ouviram, verificou que “o portão dos fundos do quartel, cuja chave estava em seu poder, tinha sido arrombado violentamente; ministrou-lhe a sentinela a informação que o Sargento Moraes arrebentara o cadeado do portão, por ordem do Capitão Borges Fortes, tendo antes escalado o muro a companhia deste Capitão, passando sobre uma pilha de tijolos” (fls. 5.159 verso 5.172). Indo com o Major fiscal até o alojamento dessa companhia, encontrou-o vazio, o que veio confirmar a asserção feita pela sentinela.
Também a 8ª testemunha do sumário, Capitão João Gomes Carneiro Júnior, relata que tendo o comandante do batalhão reunido os oficiais e perguntado se podia contar com eles para a defesa da legalidade, todos manifestaram o seu apoio ao Governo “com exceção do Capitão Luiz Gonzaga Borges Fortes, que tomando a palavra declarou que o Governo havia humilhado e ofendido o Exército e que ele se reservava para proceder de acordo com as suas idéias, em consciência; é exato que ainda falava esse oficial quando foram ouvidos os tiros do 1º Regimento de Infantaria, tendo o comandante ordenado nessa ocasião que o Capitão Borges Fortes guarnecesse o pátio interno dos fundos do quartel; mas ao invés de cumprir essa ordem, aquele oficial, como verificou o comandante, arrombando o portão e escalando o muro, estendeu a sua companhia do lado de fora do quartel, num potreiro que ali serve de sanatório aos animais doentes do batalhão”. Quanto ao desmonte dos aparelhos rádio-telegráficos, conta o que ouviu do Tenente Waldemar Aranha (fls. 4.682-4.704).
VI São em número de 20 os oficiais que dirigiram a Escola Militar na sua ação cooperadora do empreendimento subversivo. Condenando-os a sentença apelada, atendeu à prova dos autos. Escreveram e assinaram declarações 11. Prestaram-nas e as assinaram 9, entre os quais estão os primeiros Tenentes Roberto Carneiro de Mendonça, Eugênio Ewerton Pinto e Mário Chaves Ferreira. Estes nomes, é certo, não foram citados por nenhuma das testemunhas do sumário, mas, como muito bem observa a sentença da 1ª Instância, “a culpabilidade deles não pode ser posta em dúvida, pois os dois primeiros não só assinaram os depoimentos já referidos, como Braziliano Americano Freire, em sua defesa no sumário, com sua assinatura (fls. 6.021 do vol. 20), afirmou que eles o acompanharam na saída da escola, com os alunos armados, e o terceiro, além do seu depoimento de fls. 75, foi um dos 17 oficiais presos na escola no dia 5 de Julho pela testemunha que prestou declarações no sumário, à fls. 5.120, quando regressavam do combate entre os alunos que eles comandaram e as forças da Vila Militar”.
O acusado 1º Tenente Americano Freire escreve a fls. 6.022: “Depois de armado e municiado todo o pessoal, com a escassa munição existente na reserva, saí com o esquadrão em direção às baias, onde devíamos montar. Ao passar pelo primeiro pátio, reuniram-se a nós os Tenentes Eugênio Ewerton Plínio e Roberto Carneiro de Mendonça” (fls. 6.022).
Roberto Carneiro de Mendonça era Tenente-ajudante, isto é, ajudante do Corpo de Alunos, e a sua co-participação se acha perfeitamente demonstrada, não só pelo que diz o acusado Americano Freire e pelos depoimentos de fls. 1.290, 1.291, 1.300, 1.306, 1.307, 1.311 verso, 1.312, 1.313, 1.314, 1.315, etc., como por suas próprias declarações, constantes de fls. 1.752, 1.754, nas quais detalha a sua cooperação no empreendimento.
O 1º Tenente Eugênio Ewerton Pinto, como ele mesmo informa à fls. 1.764, 1.766, foi um dos oficiais do esquadrão de alunos, comandado pelo referido Tenente Americano Freire, seu cunhado, esquadrão que seguiu para a ponte de Piraquara, onde permaneceu até receber, do Coronel Xavier de Brito, ordem de retirada. Não tendo se apresentado, depois do fracasso da revolta, foi intimado por edital a comparecer no Departamento da Guerra, no prazo de oito dias sob pena de deserção, sendo de 10 de Julho de 1922 a data do edital (fls. 2.201 e 2.207). Ele era instrutor no Colégio Militar; e dá sua fé de ofício, consta que desde 5 daquele mês foi considerado ausente no dia 11, só se apresentando a 15; foi então preso (fls. 8.166 a 8.167).
O 1º Tenente Mario Chaves Ferreira servia na Fábrica de Cartuchos do Realengo. A fls. 75 e 76, estão suas declarações, em as quais se lê: “Um quarto de hora antes, mais ou menos, de uma hora da madrugada, a Escola Militar levantou-se, tendo o Coronel Xavier de Brito assumido o comando. Apresentei-me a esse oficial e segui as operações da Escola sem exercer comando nenhum. Ao chegar à Escola às proximidades da Vila Militar, ao contrário do que esperavam, não encontrou os corpos aí aquartelados, levantados, sendo recebida por tiros de fuzil. Tomou então a Escola posição no Monte Alegre, onde aguardou a madrugada. Foram trocados alguns disparos, quando a Escola, verificando não tomar parte a Vila no movimento já iniciado resolveu regressar entregando-se incondicionalmente. Em seguida foi conduzido preso com os oficiais da Escola e alguns da Fábrica de Cartuchos, para o 1 Regimento de Infantaria...”.
A prisão desse acusado, como dos outros oficiais que regressaram à Escola com os alunos, efetuou-a o Major Euclydes de Oliveira Figueiredo, que depôs no sumário a fls. 5.120 e 5.141.
O 1 Tenente Mario Chaves não nega aquelas declarações, nem as circunstâncias
de tempo e de lugar que demonstram a sua participação no fato delituoso.
VII — O estudo da prova no tocante ao ocorrido em Mato Grosso, convence de que o juiz a quo decidiu com acerto, condenando também os oficiais relacionados a fls. 8.648 (excluído da enumeração o falecido Capitão Carlos Miguel de Vasconcellos Querê).
A fls. 2.358 (vol. 9), encontra-se a proclamação dirigida à Nação Brasileira, com as assinaturas — “General Clodoaldo da Fonseca, comandante da Divisão; Tenente--Coronel José Sotero de Menezes Júnior, chefe do Estado-Maior; Coronel Affonso Pinho de Castilho, comandante da 1a Brigada e Coronel Adolpho de Araujo Familiar, comandante da 2a Brigada”. A proclamação publicada n’O Imparcial de Campo Grande começa por estas palavras: “A Divisão provisória de Mato Grosso, não podendo mais suportar o peso do vilipêndio que lhe atiram os inimigos da Pátria, resolveu, depois de longos dias de sacrifícios morais, num gesto largo, empunhar as armas para reivindicar, pelo direito da força, a todo preço, as responsabilidades que lhe assistem como fator principal da jornada gloriosa de 15 de Novembro esgotados que foram todos os meios suasórios de que lançou mão”. Ela foi lida pelo Coronel Sotero de Menezes Júnior às forças que partiam para Três Lagoas. Sua autenticidade ninguém contesta.
Nas declarações prestadas pelo General Clodoaldo, lê-se que, com exceção apenas do Tenente Eduardo Faustino da Silva, todos os oficiais estavam acordes no movimento revolucionário, excluídas as forças do 16 Batalhão de Caçadores, que não aderiram (folhas 2.305 verso e 2.311 verso). Outras não são as afirmações do 1 Tenente Plínio Paes Barreto Cardoso (fls. 2.176 verso), do 1º Tenente Renato dos Santos Jacintho (fls. 2.177 verso e 2.178), e do Coronel Castilho (fls. 2.178).
O Capitão Manoel Rabello não teve dúvida em dizer que se apresentou ao General Clodoaldo da Fonseca, pondo-se inteiramente a serviço da revolução, cujos intuitos estavam perfeitamente definidos nas proclamações dirigidas aos mato-grossenses, aos paulistas e à Nação Brasileira, e que ele individualmente visava derrubar, “se fosse possível, o nefasto Governo de São Paulo, cujo chefe, inimigo tradicional do Exército e politiqueiro dos mais retrógrados dos que infelicitam a Nação, é um dos principais responsáveis pela crise tremenda que atravessa nossa cara Pátria” (fls. 2.175 e 2.176). Ele não argüiu de falsas estas declarações, nem de obtidas por vício de consentimento; e a 21, testemunha do sumário, Coronel João Lopes de Oliveira Lyrio, atesta que daquele modo falou o acusado quando interrogado no inquérito militar (fls. 5.195 verso e 5.198).
O 1 Tenente Plinio Paes Barreto Cardoso, depois de dizer que subscrevia tudo quanto havia relatado o General Clodoaldo e que os revolucionários contavam com elementos fora do Estado de Mato Grosso, referiu atos seus de cooperação na ação subversiva, concluiu com estas palavras: “Não me arrependo, em absoluto, de ter tomado parte no movimento, cujos fins reputo como os mais nobres e dignos” (fls. 2.176 verso e 2.177).
Sem constrangimento, assim se manifestou este acusado perante a aludida testemunha do sumário, Coronel Oliveira Lyrio. Reza a sua fé de ofício que a 19 de Agosto foi público constar o seu nome de uma relação de oficiais presos por envolvidos nos acontecimentos de 5 de Julho de 1922 (fls. 8.282). Pertencia ao Regimento de Artilharia Mista, estacionado em Campo Grande (folha citada).
O 1 Tenente Renato dos Santos Jacintho, do 17 Batalhão de Caçadores, respondendo ao interrogatório que lhe fez o Coronel Oliveira Lyrio, informou sem hesitações: “que entrara conscientemente no movimento revolucionário, pelo qual é responsável na parte que lhe toca; que está de acordo com o que disse o General Clodoaldo da Fonseca: todos os oficiais da guarnição de Mato Grosso, com exceção do Tenente Faustino e do 16 Batalhão de Caçadores, partilharam do movimento, cujos fins visados não foram outros senão os que constavam dos manifestos e proclamações publicados pelo comando da divisão revolucionária; que embora soubessem do fracasso ocorrido no Rio, todos resolveram levar a revolução avante, ... que não predominava, unicamente a questão da classe, pois havia também muito empenho na regeneração política do país” (fls. 2.177 verso, 2.178).
Como as de Manoel Rabello e as de Plinio Cardoso, essas declarações foram prestadas a 18 de Julho de 1922.
O acusado era ajudante de ordens do General Clodoaldo; a 13 desse mês fora intimado por edital a comparecer no Departamento do Pessoal da Guerra, sob pena de deserção (fl. 2.209). Refere sua fé de ofício, com relação ao mês de Agosto, que conforme publicou o Boletim interno do Departamento, “acha-se preso na Escola do Estado Maior em virtude dos acontecimentos sediciosos ocorridos na noite de 4 para 5 de Julho findo” (fl. 8.337).
Nada disso sofreu impugnação da parte do Tenente Renato Jacintho.
O 1 Tenente Granville Belerophonte de Lima detalhou a sua participação no fato delituoso, terminando por afirmar, “não ter assinado o acordo feito entre os Generais Clodoaldo e Aguiar (fls. 9.194-2.201). Relatando a maioria dos oficiais da guarnição de Mato Grosso declarara haver tomado parte no movimento revolucionário, a 21a testemunha citou, entre eles, o acusado Granville (fl. 5.195). Também fez-lhe referência o co-réu 1 Tenente Octavio Muniz Guimarães (fls. 2.187 e 2.190, verso). Além disso, encontra-se a fl. 2.181 cópia autêntica do seguinte telegrama por ele passado ao General Abilio de Noronha, no dia 10, de Três Lagoas: “É nossa intenção formal não hostilizar forças que se opuserem marchas em que vamos; queremos evitar derrame sangue nossos irmãos. Defendemos uma idéia, razão ser nossa revolução. Vaqueanos de minha força participaram existência tropa infantaria proximidades Araçatuba. Não pretendo parar na marcha em que vou. Felizes dos que se incumbem de uma justa revolução. — Tenente Granville, Comandante vanguarda da Brigada Coronel Castilho”.
Lê-se em sua fé de ofício que a 1 de Julho de 1922 foi publicado haver sido chamado por edital, de ordem do Ministro da Guerra, dando-se-lhe o prazo de oito dias, afim de se apresentar na sede do Quartel General da Segunda Região Militar, em São Paulo, para onde seguiu. A 19 de Agosto foi público achar-se preso no 1 Regimento de Cavalaria Divisionária, na Capital Federal, em virtude dos acontecimentos sediciosos ocorridos” (fls. 8.053 verso).
Também não há motivo para reformar a sentença apelada, quanto aos acusados — Tenentes Cyro Paes Leme, Lydio Gomes Barbosa e Vasco Nunes Varella.
O 1, interrogado pela precitada 21ª testemunha do sumário, debalde negou haver participado cientemente da ação transgressiva da lei penal. Suas respostas resumem-se assim: estava em Campo Grande por ser inspetor regional do Tiro de Guerra, e por fazer parte de um conselho permanente. Na manhã de 7, ao chegar ao Quartel General da Circunscrição, teve conhecimento que as forças se mobilizaram. Recebeu ordem para seguir com seu pelotão para Três Lagoas, e daí para a barranca do Rio Paraná, o que cumpriu; permaneceu neste lugar durante seis dias, até determinar o comando que regressasse a Campo Grande, o que fez. Nesta cidade, lhe foi ordenado que se apresentasse à Segunda Região Militar; obedeceu, sendo preso na estação da Sorocabana. Nada pode esclarecer no tocante às perguntas do interrogante, por tudo ignorar sobre o assunto das mesmas (fl. 2.249).
Que ele se compreende entre os autores do movimento subversivo, dúvida não há; não pertencia ao 16 Batalhão de Caçadores, nem imitou a atitude do Tenente Faustino. Nas suas minuciosas declarações de fl. 2.186-2.193 verso, referiu o co-réu 1 Tenente Octavio Muniz Guimarães que de Campo Grande partiu um trem militar conduzindo forças do 11 de Artilharia, com dois canhões, sendo parte da força armada à infantaria, e com os Tenentes Granville, Jansen de Mello e Cyro Paes Leme, sendo recebido festivamente em Três Lagoas; estes três oficiais seguiram para a barranca do
rio Paraná, que ocuparam defensivamente (fl. 2.188). Por sua vez o acusado Granville disse que forças sob o seu comando, constituindo a vanguarda da coluna, chegaram a Três Lagoas, vindas de Campo Grande, em sua companhia se achava o Tenente Octavio Guimarães, e sob suas ordens tinha os tenentes Jansen de Mello, comandante da artilharia e Cyro Paes Leme, comandante da infantaria; não lhes foi possível transpor o Rio Paraná, por falta de embarcações (folha 2.195).
Consta da sua fé de ofício que ele era da oficialidade do 17 Batalhão de Caçadores (fl. 8.337), uma das unidades que participaram, sem exceção, do movimento revolucionário. Por edital de 12 de Julho de 1922 foi intimado a comparecer na sede da 2a Região Militar, sob pena de deserção (fl. 2.208).
O 2 (Tenente Lydio Gomes Barbosa), também fazia parte do 17 Batalhão de Caçadores. Comandava o destacamento de Porto Murtinho, o qual esse oficial sublevou, seguindo-se a prisão do juiz de direito, delegado de polícia, coletor, intendente municipal e outras pessoas: mandou afixar edital, em que se lia: “Fica desde hoje estabelecido o comando geral militar desta zona, com sede em Porto Murtinho. As leis serão as de guerra”. Exigiu o saldo da Coletoria, na importância de 4:824$185, da qual deu recibo (doc. a fl. 2.234 — 2.235). Prestou informações detalhadas sobre a sua ação delituosa, tendo dito, entre outras coisas: que no dia 9 de Julho de 1922, recebeu um telegrama anunciando que as forças da circunscrição se dirigiam para o Rio Paraná, em protesto contra prisões efetuadas na Capital Federal e fechamento do Clube Militar; que aderiu ao movimento, e no dia 11 recebeu outro telegrama, ordenando-lhe que preparasse um comboio de gêneros, munições e armas, e que estivesse pronto a embarcar na primeira oportunidade, com o maior número de reservistas convocados dias antes; que ao receber o primeiro telegrama, prendeu por medida de precaução, o juiz de direito, o intendente municipal e outras autoridades; que apreendeu os livros e mais documentos da Coletoria Estadual, cerca de cinco contos de réis em selos do Estado e 4:824$125 em dinheiro, do que passou recibo; que a 16 ou 17 do mesmo mês lhe foi dirigido outro telegrama dizendo que devido a um acordo com o governo as forças se retiraram do barranco para suas sedes e que o depoente deveria normalizar a situação naquela localidade, o que fez (folha 2.319 verso, 2.322 verso).
O 3º (2º Tenente Vasco Neves Varella), foi a Bella Vista, com o 2º Tenente Orlando Leite Ribeiro, levando ambos a incumbência, dada pelo Tenente-Coronel Sotero de Menezes, e constante do memorandum junto a fls. 2.299, datado de Campo Grande, 10 de Julho de 1922, e dirigido ao Major Antonio de Mesquita, nestes termos: “Seguem os Srs. Tenentes Orlando e Varella, afim de trazer todos os sargentos e praças que aí ficaram, levando eles também a incumbência de reunir e trazer todos os reservistas que desejarem se incorporar à Divisão Libertadora. — Tenente-Coronel J. Sotero de Menezes, chefe E. M. D. P. L.”. Este memorandum, cuja autenticidade ninguém pôs em dúvida, tem o carimbo daquele regimento, e foi dito pelo próprio signatário como sendo do seu punho, a fls. 2.412, verbis: “que esse documento é de sua autoria, e foi emitido por ordem do Sr. Comandante da 1ª Circunscrição Militar”.
Depondo sobre semelhante ocorrência, o Major Mesquita informou que “no dia 12 do aludido mês chegaram a Bella Vista aqueles Segundos Tenentes, com uma intimação para o depoente lhes entregar o regimento — material, cavalhada e dinheiro, enfim tudo; lhe declarou que nada entregaria...; e não os prendeu, porque estando o regimento dividido haveria efusão de sangue” (fls. 2.409). A testemunha reafirmou no sumário esta declaração, como se vê a fls. 4.157-4.542.
Sobre as ocorrências de Mato Grosso depuseram também as testemunhas do sumário, de fls. 4.376, 4.903 e 5.191.
VIII — O estudo dos autos e do que fica exposto resulta que a condenação abrange os seguintes militares:
01. General Clodoaldo da Fonseca.
02. Coronel Affonso Pinho de Castilho.
03. Coronel João Adolpho de Araujo Familiar.
04. Coronel João Maria Xavier de Brito.
05. Tenente-Coronel José Sotero de Menezes Junior.
06. Major Joaquim Antonio Pereira.
07. Capitão João Carlos Barreto.
08. Capitão Leopoldo Nery da Fonseca Junior.
09. Capitão Euclydes Hermes da Fonseca.
10. Capitão Renato Pinto Aleixo.
11. Capitão Manoel Rabello.
12. Capitão Edgard de Mattos Lima.
13. Capitão Luiz Gonzaga Borges Fortes.
14. 1º Tenente Delso Mendes da Fonseca.
15. 1º Tenente Antonio Siqueira Campos.
16. 1º Tenente Thales Villas Boas.
17. 1º Tenente Alcides Paulino da Franca Velloso.
18. 1º Tenente Fernando Bruce.
19. 1º Tenente Silvino Elvidio Bezerra Cavalcanti.
20. 1º Tenente Eduardo Gomes.
21. 1º Tenente Victor Cesar da Cunha Cruz.
22. 1º Tenente Odylio Denys.
23. 1º Tenente Arlindo Maurity da Cunha Menezes.
24. 1º Tenente Stenio Caio de Albuquerque Lima.
25. 1º Tenente Brasilino Americano Freire.
26. 1º Tenente Henrique Ricardo Hall.
27. 1º Tenente Juarez Fernandes do Nascimento Tavora.
28. 1º Tenente Cyro do Espirito Santo Cardoso.
29. 1º Tenente Roberto Carneiro de Mendonça.
30. 1º Tenente Aristoteles de Souza Dantas.
31. 1º Tenente Laderico de Albuquerque Lima.
32. 1º Tenente Luiz Felippe de Albuquerque.
33. 1º Tenente Eugenio Ewerton Pinto.
34. 1º Tenente Caroberto Penna Lopes da Costa.
35. 1º Tenente Mario Chaves Ferreira.
36. 1º Tenente Plinio Paes.
37. 1º Tenente Octavio Muniz Guimarães.
38. 1º Tenente Granville Bellerophonte de Lima.
39. 1º Tenente José Publio Ribeiro.
40. 1º Tenente Lydio Gomes Barbosa.
41. 1º Tenente Vasco Neves Varella.
42. 1º Tenente Renato Santos Jacintho.
43. 2º Tenente Rubens de Azevedo Guimarães.
44. 2º Tenente Illydio Romulo Colonia.
45. 2º Tenente Illydio Romulo Colonia.
46. 2º Tenente Sylo Furtado Soares de Meirelles.
47. 2º Tenente Aurélio da Silva Py.
48. 2º Tenente Edmundo Macedo Soares e Silva.
49. 2º Tenente Cyro Paes Leme.
50. 2º Tenente Orlando Leite Ribeiro.
51. Aspirante Romulo Fabrizzi.
52. Aspirante Manuel de Araujo Góes.
53. Sargento Waldemiro Pessoa Barbosa.
Lancem-se de novo no rol dos culpados os nomes dos acusados Capitão Luiz Gonzaga Borges Fortes e Sargento Waldemiro Pessoa Barbosa, sendo presos, se já não o estiverem pelo tempo de 1 ano e 4 meses em virtude deste processo.
Rio de Janeiro, 23 de Agosto de 1929. Godofredo Cunha, Presidente. Muniz Barreto, Relator. — F. Whitaker Filho, vencido em parte. Estive de acordo com as decisões contidas nas letras a, e c do acórdão. Repeli, também, a nulidade argüida e as agravantes articuladas, aceitando a atenuante que o Ministério Público já havia reconhecido. Dos condenados pelo juiz e pelo acórdão, eu, porém, excluía os denunciados seguintes: Joaquim A. Pereira, Delso Mendes da Fonseca, Thales Villas Boas, Alcides Velloso, Manoel A. Góes, Eugenio E. Pinto, Mario C. Ferreira, Plinio B. Cardoso, G. B. Lima, Vasco N. Varella, Renato S. Jacintho, Cyro P. Leme, Lydio P. Leme, Lydio G. Barbosa e Manoel Rabello. Estes deviam ser absolvidos. O que há contra eles é a prova extrajudicial dos inquéritos formada por declarações que prestaram ou pelas testemunhas que depuseram. Os raros documentos que existem, nenhuma autenticidade possuem. Ora para a condenação é necessária a existência de provas feitas perante o juiz ou documentos revestidos de todas as formalidades estabelecidas pela lei. O sumário é mudo em relação a esses réus. Nenhum deles fez confissão de seu crime perante o juiz. Não há um só documento autêntico que os comprometa. Foi por isso que juntei esses nomes aos dos réus que o juiz absolveu. — Bento de Faria. — A. Ribeiro. — Soriano de Souza. — Pedro dos Santos. — Hermenegildo de Barros. Vencido na preliminar de nulidade, por aplicação das leis novas e fatos anteriores, de acordo com o meu voto vencido no acórdão proferido na apelação
n. 1.009, de 23 de Dezembro de 1927, e de acordo com o meu voto vencedor nos acórdãos ns. 17.566 e 17.857, de 6 de Setembro de 1926.
Vencedor, de meritis, nos termos do presente acórdão.
Devo renovar a declaração, que já fiz de que não repilo in limine a prova do inquérito, salvo alguma razão que a invalide, como aconteceu na citada apelação n. 1.009 e que neste caso não se verifica.
De fato, escrevi em meu voto na referida apelação o seguinte:
“Eu não rejeito, de modo absoluto, a prova fornecida pelo inquérito policial, salvo alguma consideração que a torne sem valor.
No caso, essa consideração existe: o inquérito se fez na efervescência das paixões, na permanência do estado de sítio, durante a qual se praticaram muitas ilegalidades.
Entre as que se tornaram conhecidas poderão ser lembradas as prisões, sem motivo algum, por tempo indefinido; a transferência de presos para lugares inóspitos do território nacional; o bombardeio inútil da cidade de São Paulo; a promulgação de lei penal, com efeito retroativo, para castigar os revoltosos com mais severidade, etc, etc.
Por aí se poderá ajuizar da parcialidade com que o inquérito teria sido organizado. E dessa parcialidade o próprio Governo estava convencido, a julgar pelos fatos que passo a referir.
O Dr. Belisário Penna, preso, já havia muitos meses, em conseqüência dos acontecimentos de São Paulo, requereu habeas corpus ao Supremo Tribunal.
Ouvido a respeito, o Governo informou que o Dr. Belisário Penna era um dos mais comprometidos na revolta de São Paulo, que ele encorajara e aplaudira com grande entusiasmo. O Supremo Tribunal, à vista dessa informação, indeferiu o pedido de habeas corpus.
Pois bem. O Dr. Belisário, imediatamente depois dessa decisão, foi posto em liberdade por ordem do Governo, o que prova que este não acreditava na seriedade do inquérito, onde teriam sido colhidas provas, em que se fundavam as informações prestadas contra o paciente. Ou então o procedimento do Governo prova que ele quis fazer ostentação de força, mandando soltar aquele que, na sua opinião, era um verdadeiro revoltoso, cuja prisão o Supremo Tribunal acabava de manter, de acordo com as informações do mesmo Governo.
Outro fato que vem demonstrar que não tem valor probatório os inquéritos organizados a propósito desses movimentos revolucionários, é que se passou com o Dr. Ferdinando Labouriau Filho. Este foi também considerado como perigoso conspirador, no caso Protogenes Guimarães.
No quintal de sua casa, dizia-se, tinham sido encontradas bombas de dinamite, que se achavam cuidadosamente enterradas. Por esse motivo, o Dr. Labouriau e sua esposa foram presos.
Mais tarde, tendo aquele requerido habeas corpus ao Supremo Tribunal, requisitei, como relator do feito, informações ao Governo que, m’as prestou, dizendo, com grande surpresa minha, que o Dr. Labouriau já tinha sido posto em liberdade. Logo nenhum valor tinham, para o próprio Governo, as provas colhidas no inquérito policial sobre a existência de bombas explosivas enterradas no quintal da casa do paciente, que, depois de solto por ordem do Governo, não foi sequer pronunciado pelo Supremo Tribunal Federal.
Nestes autos, porém, não há prova de qualquer fato que invalide a prova colhida no inquérito a que se procedeu. — Leoni Ramos, vencido. — E. Lins, vencido na preliminar, de acordo com os fundamentos de meu voto vencido, exarado nos autos do processo dos revolucionários de São Paulo.
Vencido, em parte, de meritis, de acordo com o voto do Exmo. Sr. Ministro Whitaker Filho — Fui presente, A. Pires e Albuquerque. 
ACO7.rtf
AÇÃO ORIGINÁRIA Nº 7
Autor - O Estado de Santa Catarina
Réu - O Estado do Paraná
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos de ação originária, em que são partes, como autor, o Estado de Santa Catarina e como réu o Estado do Paraná.
O Estado de Santa Catarina requereu a citação do Estado do Paraná para responder aos termos de uma ação ordinária afim de ser condenado a reconhecer e respeitar os limites legais entre os dois Estados e a restituir os territórios pertencentes ao Estado autor, dos quais está indevidamente de posse além desses limites.
A Constituição do Império dispondo no art. 2º que - o território do Brasil é dividido em províncias, na forma em que atualmente se acha, as quais poderão ser subdivididas, como pedir o bem do Estado, fixou-lhe os limites que tinham como capitanias gerais. A esse tempo, diz o autor, a capitania geral de Santa Catarina limitava ao sul com a de São Pedro do Rio Grande do Sul pelos rios Mampituba, Pelotas e Uruguai; ao norte com o de S. Paulo pelos rios Sahy-Guassú, Negro, Curitiba ou Iguaçu, e ao oeste pelo rio Santo Antônio, afluente do Uruguai e são esses ainda hoje os limites legais do Estado autor; e nos 75 artigos de sua petição inicial procura, fundando-se nas disposições das leis e nos fatos históricos, demonstrar essa proposição. Esta petição é acompanhada de 48 documentos e dois mapas.
O Estado réu, - contestando a ação à fl. 257, alega ser infundada a pretensão do autor, como fazem certo a história e a legislação colonial e do império: que se tratando de uma reivindicação era indispensável exibir-se os títulos de domínio; que a posse de S. Paulo e do Paraná na região pretendida pelo autor é antiquíssima, como se verifica pelo exame dos fatos históricos; que não se deve pôr de lado um princípio superior que domina todos os fatos da vida nacional, pelo qual o Brasil sempre pugnou e consagrou em suas questões internacionais de limites, ao qual deve a solução pacífica da questão das Missões - o uti possidetis: - que com este critério, único que permite uma solução justa e razoável, não sofre dúvida que tendo S. Paulo tido sempre a posse jurídica do território que o autor disputa, esta posse e por conseguinte o domínio do mesmo território pertence hoje ao Paraná, como sucessor daquele; que esta posse deve ser exclusivamente consultada nesta disputa sobre limites, e foi apoiada nela que o Decr. n. 3.378, de 16 de Janeiro de 1865, resolveu provisoriamente as dúvidas, dando ao autor a região a oeste do rio Marombas, desde a sua vertente até o rio Canoas e por este até o Uruguai.
Proposta, não foi vencida a preliminar de incompetência do tribunal para conhecer da questão, porque estando definitivamente fixados pelo poder competente os limites entre os Estados litigantes, pode o Supremo Tribunal resolver a questão nos termos em que foi proposta, desde que se trata de aplicação de lei ou de fazer respeitar limites já estabelecidos e não de determiná-los sem fundamento em disposição legal.
Resolvida a divisão do Brasil em capitanias, em 1532 a 1534, começaram a passar as cartas e diplomas aos donatários agraciados, que gozariam do título de governadores das suas terras, as quais tinham pela costa mais ou menos extensão, sendo assim maiores ou menores os quinhões, segundo o favor de que gozavam e, talvez, os meios de que podiam dispor. As raias entre capitania e capitania, se fixaram por linhas geográficas, tiradas de um lugar da costa em direção a leste. Assim o território ficou verdadeiramente dividido em zonas paralelas, porém, umas mais largas que outras. Este meio de linhas retas divisórias imaginárias, que ainda com os mais exatos instrumentos em que terreno muito conhecido seriam quase impossíveis de traçar, era o único de que se podia lançar mão pelo quase nenhum conhecimento xerográfico que havia do país - além do seu litoral. Em algumas doações nem foi possível declarar o ponto em que principiavam ou acabavam.
Incluía-se apenas a extensão da fronteira marítima, e designavam os nomes dos dois donatários limítrofes. Manifesta é a insuficiência de uma tal demarcação, que para algumas capitanias veio a dar origem a pleitos que duraram mais de um século.
Doze foram os donatários, mas 15 os quinhões, visto que os dois irmãos Martim Affonso de Souza e Pero Lopes de Souza tinham só para si, 180 léguas, distribuídas em cinco porções separadas e não em duas inteiriças.
A Martim Affonso foram adjudicadas as terras que correm desde a barra de S. Vicente até 12 léguas ao sul da ilha de Cananéa, ou proximamente até uma das barras de Paranaguá, e para o lado oposto as que vão desde o rio Juquiriqueré até 13 léguas ao norte de Cabo Frio, que depois se fixou pela barra de Macaé, compreendendo Angra dos Reis, Rio de Janeiro e Cabo Frio.
Eram 100 léguas contadas sobre o litoral.
A extensão que vai de Juquiriqueré à barra de S. Vicente, e à de Paranaguá para o sul, até as imediações da Laguna, foi doada a Pero Lopes, que além destas porções, que eram de 50 léguas, recebeu desde a ilha de Itamaracá para o norte 30 léguas mais, todas elas com os respectivos sertões.
Com o correr do tempo os herdeiros de Martim Affonso perderam os direitos que tinham sobre a parte que vai de Juquiriqueré a Macaé, conservando, entretanto, outras partes.
Criadas as capitanias gerais, as terras de Martim Affonso e Pero Lopes ficaram sujeitas ao governo do Capitão-General do Rio de Janeiro, com a exceção de Itamaracá que ficou sujeita a Pernambuco (Varnhagem - História Geral do Brasil 1º vol. Seção 9).
Por carta régia de 23 de Novembro de 1709 foram separados da capitania do Rio de Janeiro os territórios de S. Paulo e Minas formando uma capitania. Pressentindo-se a administração da capitania de algum entravamento por divergência entre os herdeiros dos dois primeiros donatários, o governo da Metrópole pôs termo ao renhido pleito comprando ao Marquês de Cascais, um dos descendentes de Pero Lopes, por 40.000 cruzados, as 50 léguas de costa, de que fora este donatário.
Pelo alvará de 22 de Outubro de 1709 foi ordenada ao Conselho ultramarino que fizesse escritura de compra para a Coroa, dessas 50 léguas, e ela foi feita em 19 de Setembro de 1711 - (Alvará e escritura em Frei Gaspar da Madre de Deus - Memórias para a história da capitania de S. Vicente, - edição de Lisboa de 1797, liv. 2º n. 89). Este território está parte no Estado do Paraná e parte no de Santa Catarina.
As cartas régias de 1532 e 1534 fazendo essas doações - diziam: “as quais se estenderão e serão de largo ao longo da costa, e entrarão pelo sertão e terra firme a dentro, tanto quanto puderem entrar e for de minha conquista.
Portanto a compra feita em 1711 de todas as terras doadas a Pero Lopes, compreende todo o sertão correspondente a elas.
Por alvará de 2 de Dezembro de 1720 foi criada a capitania de Minas, desmembrando-a da de S. Paulo, com os limites aí fixados.
Pela Marinha ficaram pertencendo a S. Paulo o porto de Santos e os mais da costa que lhe ficam ao sul, agregando-se-lhe as vilas de Paraty, Ubatuba e ilha de S. Sebastião, desanexadas do Governo do Rio de Janeiro. 
A autoridade do Governo de S. Paulo se estendia sobre todos os territórios mencionados no alvará de 2 de Dezembro de 1720, mas, por carta régia de 16 de Janeiro de 1726, a vila de Paraty foi transferida para a capitania do Rio de Janeiro, por ser isso conveniente ao benefício comum dos moradores da mesma vila.
Neste tempo Cuiabá desenvolveu-se muito com a descoberta das minas de ouro; lá esteve, em 1726, o Capitão-General de S. Paulo, organizando os diversos ramos do serviço público. 
Em Goiás, que fazia parte da capitania de S. Paulo, faleceu em 1737 o Conde de Sarzeda, Capitão-General de S. Paulo, que ficou sendo interinamente governado por Gomes Freire de Andrade, Governador do Rio de Janeiro.
Durante este governo interino, que durou dois anos, por carta régia de 11 de Agosto de 1738, foram a ilha de Santa Catarina e o território de S. Pedro do Rio Grande do Sul separados de S. Paulo e anexados ao governo do Rio de Janeiro, por ser conveniente ficarem todos os portos e lugares da Marinha debaixo de um só mando.
Por carta régia de 4 de Janeiro de 1742, foi Laguna separada de S. Paulo e anexada ao Rio de Janeiro.
Estas duas cartas régias de 1738 e 1742, separando Santa Catarina e Laguna de S. Paulo, e anexando-as à capitania do Rio de Janeiro, nada dizem quanto ao sertão entre o Iguaçu e Uruguai; mas a carta régia de 9 de Agosto de 1747, pela qual o governo português ordenou o transporte e estabelecimento dos colonos das Ilhas dos Açores para Santa Catarina, dirigida ao Governador do Rio de Janeiro, para ser cumprida pelo General José da Silva Paes, Governador de Santa Catarina, dizia: “o dito brigadeiro porá todo cuidado em que estes novos colonos sejam bem tratados e agasalhados, e assim que lhe chegar esta ordem, procurará escolher na mesma ilha, como na terra firme adjacente, desde o rio S. Francisco do Sul até ao serro de S. Miguel e no sertão correspondente a este distrito (com atenção porém a que se não dê justa razão de queixa aos espanhóis confinantes), os sítios mais próprios para fundarem lugares em cada um dos quais se estabeleçam”.
Pelos termos desta carta régia o governo considerava como pertencente a Santa Catarina o sertão correspondente à costa de S. Francisco até S. Miguel, porque, se o sertão fosse considerado pertencente a S. Paulo, ao governo desta capitania é que devia ser feita a recomendação transcrita, porque os espanhóis confinantes não podiam ser se não os das Missões.
Nesse tempo negociavam Portugal e Espanha um tratado de limites na América, que foi celebrado em 13 de Janeiro de 1750, em que se estabeleciam os rios Santo Antônio e Pequery como limites com os espanhóis.
Em 1748 os territórios de Mato Grosso e Goiás foram desmembrados de S. Paulo, formando novas capitanias, e S. Paulo foi incorporado ao Rio de Janeiro.
O governo agora era um só, e sua autoridade se estendia sobre todo o sul; se qualquer conflito surgia entre as autoridades, o Capitão-General dava-lhe a solução que lhe parecia mais conveniente.
Em 1728 foi criada a ouvidoria de Paranaguá, separada da de S. Paulo; os seus limites foram estabelecidos por uma linha geográfica, tirada de Iguape para oeste, até o lugar das Furnas; mas sendo difícil a administração da justiça por causa das grandes distâncias e falta de estradas, o governo português em resposta de 20 de Junho de 1749, que se mandou executar por carta régia de 20 de Novembro do mesmo ano, criou a ouvidoria de Santa Catarina, e determinou que o distrito desta nova ouvidoria ficaria para o norte pela barra austral do rio de S. Francisco, pelo Cubatão do mesmo rio e pelo rio Negro que se mete no grande de Curitiba e, para o Sul, acabaria nos montes que deságuam para a lagoa Imery, e bem claramente estabelecida nesta carta régia a divisa do lado norte - parte do Sul da baía de S. Francisco, dirigindo-se para o Cubatão do mesmo rio e subindo a serra para o ocidente a ganhar o alto rio Negro, descendo até o Iguaçu. Ficou o rio Negro servindo de divisa legal e natural entre as ouvidorias de Paranaguá e de Santa Catarina, que formam hoje os Estados do Paraná e Santa Catarina. Tendo sido anexada ao governo do Rio a parte Sul do Brasil, foi também por carta régia, de 20 de Novembro de 1749, retirado do bispado de S. Paulo e sujeito à jurisdição do bispado do Rio todo o distrito do Sul, desde o rio São Francisco até à colônia do Sacramento.
Nesta carta nada se diz quanto ao sertão correspondente; mas, logicamente, deve-se entender que o inclui, pela razão da conveniência de que essa região ficasse temporal e espiritualmente no domínio do Rio. A capitania geral de S. Paulo foi restaurada por carta régia de 6 de Janeiro de 1765, sendo seu primeiro Capitão-General, D. Luiz Antônio de Souza Botelho de Mourão, Morgado de Matheus. Durante os 17 anos de sua extinção, a capitania perdera grande parte de seu território de que o novo Capitão-General procurou tomar posse; assim fundou a vila de Lages em território de Santa Catarina à margem direita do rio Pelotas, contra os protestos do Vice-Rei Conde da Cunha e do Governador do Sul; mandou diversas expedições pelos rios Iguaçu, Ivahy e Tibagí, e não respeitando a divisa natural do rio Paraná, fundou a colônia de Iguatemi em território de Mato Grosso, que era contestado pelos espanhóis do Paraguai
como atestam documentos históricos.
As questões quanto à linha divisória da costa foram resolvidas pelo acordo de 2 de Março de 1771, aprovado pelos dois governadores, segundo o qual as divisas entre Guaratuba e São Francisco passariam a ser pela barra do Rio Sahy no oceano, seguindo para o poente por uma aberta entre os morros Araraquara e Ikrin, ficando para Santa Catarina o território ao sul e para S. Paulo o território ao norte desta linha. Estabelecidos estes limites no litoral, continuou D. Luiz a explorar os campos Curitibanos e de Palmas, como se fossem de S. Paulo; mas em apoio de suas pretensões não apresentava um título, uma carta régia, que invalidasse as anteriores; com tal força e energia tinha D. Luiz firmado a posse de S. Paulo no território de Lages, que, apesar dos protestos dos governadores de Santa Catarina, foi ela mantida sem interrupção até 1820, em que por alvará de 9 de Setembro, foi anexado à Santa Catarina, a que de direito pertencia desde 1749.
Os argumentos empregados pelos presidentes da província de S. Paulo são reproduções dos apresentados no século XVIII por D. Luiz, e todos eles se fundam na posse pela descoberta e não aludem às cartas régias.
A carta régia de 19 de Setembro de 1807, criou a capitania do Rio Grande do Sul, sem determinar seus limites; mas a de 5 de Novembro de 1808, ao Capitão-General de S. Paulo, considera o território de S. Paulo, os campos gerais de Curitiba e Guarapuava, assim como todas as terras que deságuam no Paraná e formam do outro lado as cabeceiras do Uruguai.
Em 1812 passou Curitiba a ser sede da comarca, e no mesmo ano a ouvidoria do Desterro foi transferida para Porto Alegre, mas nesses alvarás nada se diz quanto a seus limites, nos quais nenhuma alteração se fez; houve apenas mudança das sedes das ouvidorias.
O alvará de 12 de Fevereiro de 1821 criou uma comarca na província de Santa Catarina, com denominação de comarca da ilha de Santa Catarina, dividida da antiga que se denominara comarca do Rio Grande do Sul.
Diz o alvará - terá a dita nova comarca, por distrito da parte do sul, a mesma divisão que tem o governo; no centro compreenderá a Vila de Lages, e pelo norte terá o seu limite pela divisão atual da comarca de Paranaguá e Curitiba.
Por estes alvarás fica resolvida a questão de limites de Santa Catarina e S. Paulo, e, portanto, hoje com o Paraná. A linha divisória ficou jurídica e legalmente constituída por esses atos do poder competente.
A ocupação do campo de Palmas por expedições saídas de Curitiba em 1841, era anunciada pelo Presidente de S. Paulo, Raphael Tobias, em seu relatório à Assembléia provincial.
Outras expedições precederam esta. Em 28 de Junho de 1841, 8 de Janeiro e 27 de Agosto de 1844, o General Antero José Ferreira de Brito, Presidente de Santa Catarina, reclamou e protestou contra a jurisdição das autoridades de S. Paulo no campo das Palmas, sustentando que todo o território a leste do Pepery-Guassú e Santo Antônio pertencia a Santa Catarina. Pela lei de 29 de Agosto de 1853 a comarca de Curitiba foi elevada à categoria de Província, sendo sua extensão e limites os mesmos da referida comarca.
Com a criação da nova província cessa a interferência de S. Paulo, mas o Paraná mantém as pretensões sustentadas por S. Paulo. Desde então Santa Catarina passou a reclamar do Paraná o território ao sul do Iguaçu e a leste de Pepery-Guaçu e Santo Antônio, que antes reclamava de S. Paulo. Por Decr. n. 3.378, de 16 de Janeiro de 1865, o governo geral fixou provisoriamente os limites entre as províncias do Paraná e Santa Catarina.
Assim dispõe: - Tendo em consideração as dúvidas que se têm suscitado sobre os verdadeiros limites da província do Paraná com a de Santa Catarina, querendo por termo aos conflitos de jurisdição que se tem dado entre autoridades das duas províncias - ordena que enquanto a Assembléia geral legislativa não resolver definitivamente sobre este objeto, se observe o seguinte: art. 1º Os limites entre a província do Paraná e Santa Catarina são provisoriamente fixados pelo rio Sahy-Guaçu, Serra do Mar, rio Marombas, desde sua vertente até o das Canoas, e por este até o rio Uruguai.
Por este decreto ficaram sem efeito as cartas régias em que se baseavam as reclamações e protestos de Santa Catarina, e era mantida a posse do Paraná. Diante de reclamações e protestos de Santa Catarina contra este decreto, o Governo por aviso de 21 de Outubro desse mesmo ano, suspendeu a sua execução, permanecendo a questão no mesmo estado.
O Tribunal já decidiu que os decretos expedidos pelo Poder Executivo para marcar os limites das antigas províncias, não só por serem expedidos por poder incompetente ex-vi da Constituição de 1824, como também porque eram provisórios, não têm força obrigatória e não podem servir de fundamento para uma ação sobre limites entre os Estados atuais (acórdão de 9 de Agosto de 1902, ação cível n. 5). Assim, o decreto de 1865 não tem valor para determinar os limites entre as duas Províncias, hoje Estados; esses limites estão traçados nas cartas régias citadas, e não estão de acordo com os estabelecidos pelo decreto de 1865, que não foi executado, sendo suspenso por aviso de 21 de Outubro do mesmo ano.
O conflito continuou entre o direito de Santa Catarina e a posse de S. Paulo e Paraná sobre o sertão compreendido entre os rios Uruguai e Iguaçu, contra a qual protestaram sempre o Vice-Rei e o Governador de Santa Catarina, que, na defesa de seus direitos, afirma que seus limites são certos e determinados pelas antigas, cartas régias.
As capitanias eram circunscrições administrativas, judiciárias e militares, sob o Governo de um chefe, com as faculdades que lhe eram delegadas pelo poder soberano.
O ato da criação por uma necessidade lógica declarava e fixava os limites, porque, sem limites, a capitania não podia adquirir existência.
Nessa conformidade os limites deduziam a sua existência jurídica do ato do poder soberano que, bem ou mal, os definia ou fixava. As províncias, em que se transformavam as antigas capitanias, eram também circunscrições administrativas, judiciárias e militares.
O ato pelo qual as capitanias foram convertidas em províncias prescreveu que cada província teria a extensão e limites da respectiva capitania. Pela Constituição de 1891 as províncias foram elevadas à categoria de Estados, com grandes franquezas.
Os Estados constituíram-se pelos limites das províncias.
Não houve declaração em contrário.
Cada uma das antigas províncias formará um Estado, dispõe a Constituição no art. 2º.
Segundo o direito vigente os limites das antigas capitanias e províncias, e hoje Estados, são estabelecidos por lei.
Essa lei é de ordem pública, de direito público.
Uma tal lei, diz o Conselheiro Lafayette, marca a competência do poder público, isto é, o círculo da superfície terrestre dentro do qual pode usar as suas atribuições.
É uma lei que faz parte do direito público interno. Uma província ou Estado não pode por deliberação própria, expressa ou tácita, ceder a outro uma parte do seu território, ou adquirir território alheio. Se o fizesse, teria por ato próprio alterado os seus limites, em que era e é indispensável a intervenção do Congresso Nacional.
À província ou ao Estado falta capacidade jurídica para perder ou adquirir parte do seu território pela prescrição aquisitiva. A posse não pode ser invocada em assunto de limites de jurisdição do poder público, como elemento gerador de direito.
Existindo a linha divisória traçada por lei, a posse além dessa linha não tem valor jurídico.
À posse alegada por S. Paulo e Paraná contrapõe Santa Catarina direitos firmados em títulos expedidos pelo poder competente.
Se o direito favorece as pretensões do Estado de Santa Catarina que as baseia em títulos históricos e jurídicos, tem ainda ele por si o direito de possuir limites naturais, como sejam os rios Negros e Iguaçu ao norte, o Uruguai ao sul, ao oriente o oceano e ao poente as fronteiras argentinas.
Pelas

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