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AGÊNCIAS REGULADORAS Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 1 – INTRODUÇÃO Constituições sob a égide do liberalismo (séc. XVIII e XIX) se preocuparam com os direitos de 1ª geração, os chamados direitos de liberdade, de defesa. Respeitavam-se absolutamente os princípios da autonomia da vontade e da liberdade negocial. Porém, restou insofismável a total incapacidade das leis naturais de economia e mercado para distribuir as riquezas produzidas em um nível capaz de assegurar a todos uma existência digna. Hoje, em nenhum Estado é praticado ou propugnado este Liberalismo Puro. Faz-se mister, portanto, a atuação do Estado na economia. Esta atuação pode ser DIRETA (quando ele desempenha o papel de empresário – através de monopólio ou em concorrência) ou INDIRETA (indução, fiscalização e planejamento). 2 – A CF/88 E A ATUAÇÃO DO ESTADO NA ECONOMIA A CF/88 é um Constituição dirigente. O Estado Brasileiro é obrigatoriamente CAPITALISTA, conforme provam o fundamento de livre iniciativa e os princípios de livre concorrência e propriedade privada. Atua diretamente na economia apenas subsidiariamente, de acordo com o Princípio da Subsidiariedade (art. 175, CF). Formas de atuação: - Direta: subdivide-se em direta (em monopólio ou interesse coletivo/segurança nacional) e indireta (quando a União não explora, mas concede a exploração e aproveitamento, nos casos do rt. 176). - Indireta: Art. 174. Pelas autarquias, agências reguladoras e outros órgãos. O Estado é agente normativo e regulador. Atividade econômica se divide em: - Propriamente dita: atividades comerciais, industriais e serviços não públicos. - Sentido amplo: todas as atividades acima + serviços públicos. 3 - REGULAÇÃO É mais abrangente que regulamentação. 3 acepções: - Ampla: toda forma de intervenção do Estado na economia. - Intermediária: intervenção indireta do Estado. - Restrita: condicionamento normativo da atividade econômica privada. 4 - REFORMA DO ESTADO BRASILEIRO. O NEOLIBERALISMO Teve início com FHC, e se externou nas privatizações, extinção de certas restrições ao capital estrangeiro e flexibilização dos monopólios estatais. Legitima a globalização e prevê a doutrina do Estado Mínimo, donde surgem duas conseqüências: 1ª - Estado presta apenas atividades essenciais (o que varia de acordo com a opção política e econômica), pois é menos eficiente que a iniciativa privada quando desenvolve outras atividades. 2ª - Aumento da atividade de regulação, para permitir melhor fiscalização do setor privado, universalizar os serviços e coibir práticas anticoncorrenciais. 5 - PRIVATIZAÇÕES E AGÊNCIAS REGULADORAS O direito brasileiro, com a Lei 9491/97, adota a acepção estrita do termo, que se consubstancia na transferência de ativos ou ações para o setor privado. Esse processo sempre leva à necessidade de aumento da regulação. Regras a serem observadas: 1 – A regulação não é exercida apenas sobre serviços público desestatizados. 2 – Não é atividade exclusiva de agências reguladoras (ex.: CVM, BACEN, Poder Legislativo,...) 3 – Não incide obrigatoriamente sobre setor específico, embora no âmbito federal tem sido o comum. No Rio de Janeiro, por exemplo, temos a ASEP, que regula todos os serviços públicos concedidos, sendo agência reguladora multissetorial. 6 – CONCEITO E CARACTERÍSTICAS DAS AGÊNCIAS REGULADORAS Embora não tenha um sentido delimitado, o termo vem sendo usado para referir-se aos novos entes incumbidos de atividade regulatória. Esses novos entes, porém, não implicam em nova estrutura da administração, pois são AUTARQUIAS EM REGIME ESPECIAL. Características: 1 – Integram a administração pública indireta, sendo PJDPúblico. 2 – Têm alto grau de especialização técnica. 3 – São imparciais em relação a Estado, entes regulados e sociedade. 4 – Exercem atividades típicas de Estado: têm poder normativo e poder de polícia. 5 – Têm autonomia administrativa e financeira em relação ao Poder Executivo. 6 – São criadas por lei, sujeitando a controle da CF, e são-lhes aplicadas subsidiariamente as normas do DEC. 200/67. 7 – Seu poder regulatório comporta também a intervenção sobre as relações jurídicas decorrentes da atividade econômica regulada, e se resume em: solução de conflitos mais célere (mas não substitui o Judiciário), aplicação de sanções, fiscalização do contrato que delegou o serviço (quando isso ocorre), preservação do equilíbrio contratual (através do controle de tarifas), fomento à competitividade. 6.1 – A ABRANGÊNCIA DA CARACTERÍSTICA DA AUTONOMIA a) São vinculadas (e não subordinadas) a um Ministério, que as supervisiona (é o chamado controle finalístico). Não há relação de hierarquia. b) Dá segurança a investidores estrangeiros. c) Garante a estabilidade de seus dirigentes, que têm mandato fixo e só podem perder o cargo nas hipóteses previstas na lei de cada agência. d) A nomeação dos dirigentes configura ato complexo (sabatina e aprovação pelo Legislativo e escolha pelo Executivo), aplicando-se-lhes o art. 52, II, “f”, CF. Atenção: a exoneração é exclusiva do Chefe do Executivo, sob pena de ofensa à separação do poderes (de acordo com o STF, em liminar de ADI). e) Abarca a autonomia de gestão e não subordinação a qualquer instância de governo. f) Definitividade das decisões na esfera administrativa: inexistência de instância administrativa revisora hierárquica, salvo o recurso hierárquico impróprio (de competência do Ministro de Estado). Este, de acordo com a doutrina, só pode ser utilizado quando a lei expressamente o previr, mas acredita-se que os Tribunais o admitam quando a lei silenciar a respeito. 6.2 – O ALCANCE DO PODER NORMATIVO É inovação na ordem jurídica, instrumento do poder regulador, e maior que o poder regulamentar, pois este é estático, e o poder normativo é dinâmico. Sujeita-se a controle legislativo e judicial. Comporta a edição de atos delegados/autorizados por lei (não sendo autônomos), que fixa os “standards” (competência da agência, diretrizes e limites da atuação normativa e previsão de sanções). É dedução do art. 49, V e X, CF. Não pode haver delegação “em branco”. Vedações: Não edita atos primários, que são de iniciativa privativa do Chefe do Executivo (art. 84, IV, CF). Não pode regular matéria de reserva de lei na CF. Polêmica: doutrina mais conservadora defende a inconstitucionalidade do poder normativo das agências constituídas por lei (ANATEL e ANP têm previsão na CF), com fulcro no art. 25, I, ADCT. Mas a doutrina e jurisprudência têm abandonado esta corrente. 6.3 – RISCO DE CAPTURA Quando a atuação dos entes reguladores deixa de ser parcial. - Sentido amplo: pode ocorrer por concussão, contaminação de interesses dos entes regulados, insuficiência de meios (o que torna o ente inoperante) e por poder político (quando não há autonomia). - Sentido estrito: quando há contaminação de interesses. Por isso, a lei prevê a quarentena, que é no mínimo de 04 meses. Pode ser maior, de acordo com a lei de cada agência. 7 – CONTROLE NAS AGÊNCIAS REGULADORAS Submetem-se a TODOS os controles previstos para a administração pública (quais sejam, controle de gestão, de atividade-fim e judicial) e TAMBÉM a controle popular quando a lei previr. Tal controle se exterioriza pela obrigatoriedade de consulta pública ou audiência pública, e é requisito de legalidade e legitimidade das normas expedidas. Controle Legislativo: Exercido pelo Congresso Nacional. - Art. 49, X, CF, inclusive podendo ser objeto de CPI’s. - Art. 70 e 71, CF: fiscalização contábil, financeira, orçamentária, etc, com ajuda do TCU. Controle Administrativo: É finalístico, e exercido pelos Ministros de Estado (art. 87, I, CF) e Presidente da República (art. 84, II). Igual ao das demais autarquias, exceto se: - lei da agência delimitar, o que confere mais autonomia. - houver contrato de gestão, que a restringe (ex.:ANEEL, ANS) Controle Judicial: É o único que depende de provocação. Possibilidade de anulação de atos. Deve-se reduzir ao máximo o sentido de mérito do ato, para conferir maior leque de hipóteses de apreciação judicial. Todos os atos devem ser motivados, inclusive os das agências. 8 – AGÊNCIAS EM ESPÉCIE 8.1 - ANATEL 2ª agência a ser criada, é a mais independente de todas. Tem base expressa a CF. Competência: Art. 19, LGT. Objetivos: universalizar o acesso aos serviços, introduzir competição. Regime jurídico de prestação dos serviços: Podem ser públicos (daí sempre interesses coletivos) ou privados (serviços de interesse restrito ou coletivo). - Públicos: obrigação de continuidade e universalidade, instituídos e eliminados por decreto e dependentes de proposta prévia da ANATEL. - Privados: preço livre. Não há, em regra, licitação, mas “autorização” da ANATEL (que, na verdade, é ato vinculado, uma licença). 8.2 – ANEEL Cobra taxa de fiscalização de energia elétrica. Pode aplicar multas aos entes regulados. Máximo 2% do faturamento dos últimos 12 meses. Possibilidade de convênio da União com os Estados ou DF, para descentralizar o serviço, criando “agências estaduais” e repassando parte da taxa cobrada a elas. 8.3 – QUADRO GERAL DAS AGÊNCIAS REGULADORAS ANATEL ANEEL ANP ANS ANVISA ANA ANTT ANTAQ ANCINE ADENE ADA Lei que a regula 9472/97 9427/96 9478/97 9961/00 9782/99 9984/00 10233/01 MP2228-1/01 MP2156-5/01 Ministério a qual se vincula Comuni- cações Minas e energia (em certos casos: Justiça) Minas e Energia Saúde Saúde Meio Ambiente Transportes Desenv. Indústria e Com. Exterior Integração Nacional Rec. Hier. Impróprio Proibido Silente Silente Proibido Art.10 Silente Silente Sim Silente Controle popular Consulta Pública Aud. Pública Aud. Pública Não Não Não Não Não Nº diretores 5 5 5 Até 5 Até 5 5 5 e 3 4 Mandato 5 a 4 a 4 a 3 a 3 a 4 a 4 a 4 a Recondução Não prevê Não prevê Sim 1 vez 1 vez 1 vez 1 vez Não prevê Quarentena 1 a 12 m 12 m 12 m 1 a 4 m 1 a 4 m Contrato gestão Não Sim Não Sim Sim Não Não Não
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