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Falência, Recuperação de Empresa e Títulos de Crédito 2º Bimestre

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FALÊNCIA, RECUPERAÇÃO DE EMPRESA E TÍTULOS DE CRÉDITO
2º BIMESTRE
Data: 10/05/2017 e 12/05/2017
LETRA DE CÂMBIO
(AULAS 1 E 2)
Conceito
É uma ordem de pagamento à vista ou a prazo. A ideia de ordem de pagamento direciona à ideia de exigência. Se fala então, de uma exigência de pagamento, seja a vista, seja a prazo.
A letra de câmbio é um título à ordem, que envolve três partes, que sejam o sacado, o sacador e o tomador. Ela se cria mediante o saque, emitido em favor de alguém, sendo transferível por endosso, e que se completa pelo aceite e se garante pelo aval.
Quanto ao aspecto material, a letra de câmbio deve ser feita em papel, podendo ser manuscrita, datilografada, impressa etc. A forma mais comum são os formulários, já prontos, em que basta preencher os espaços vazios com as informações.
Consideram-se requisitos extrínsecos de uma letra de câmbio aqueles relativos à formalidade do título em si. Eventuais falhas quanto a tais requisitos podem ser alegadas e opostas por qualquer devedor contra qualquer credor. Por exemplo, a falsidade da cártula, adulteração etc.
São requisitos intrínsecos da letra de câmbio aqueles que se re- ferem à obrigação nela contida e que, conforme já estudado, não constituem matéria atinente ao direito cambial. Referem-se à capacidade das partes, ao consentimento, ao objeto e à causa da obrigação, e são os exigidos pelo direito para a validade de qualquer negócio jurídico. Assim, por decorrência lógica do princípio da autonomia dos títulos de crédito, defeitos a eles relativos somente poderão ser opostos por certos devedores contra determinados credores.
Partes
Sacador: é a pessoa que dá a ordem de pagamento. É ela quem cria, emite ou saca a letra de câmbio. Conhecido também por dador, ele saca o título, dando ordem ao sacado, na qual se consigna o valor a pagar e o dia do vencimento. Em alguns casos, pode ser devedor indireto. Pode-se dizer que é um garantidor do devedor principal (sacado), sendo que se este não aceitar a LC, ele é quem paga. O sacador pode ter aval, exigido pelo tomador.
Sacado: é a pessoa encarregada de pagar a letra (devedor). Sobre ela se saca a letra de câmbio. É o devedor principal (cambiário), aquele que aceitando a letra virá pagá-la na ocasião do vencimento. O sacador pode ter aval, exigido pelo tomador.
Tomador: a pessoa que recebe a letra de câmbio do sacador e que deve cobrá-la no vencimento, ou, simplificando, a pessoa a quem a letra deve ser paga. É o beneficiário, que poderá ser um terceiro ou confundir-se com o próprio sacador, o que não é raro ocorrer.
Exemplo: O sacador, ao emitir uma letra de câmbio, dá uma ordem ao sacado para que pague o valor constante do título ao beneficiário ou tomador. Por essa razão, trata-se de título que compreende uma ordem de pagamento. Verifica-se, assim, que o saque gera três situações jurídicas distintas, envolvendo três sujeitos e uma obrigação cambiaria. Suponha-se que, por uma relação prévia qualquer, A tenha uma dívida para com B na quantia de R$ 10.000,00. Em determinada data B compra mercadorias de C – no valor de R$ 10.000,00 – e, em vez de pagá-lo com seu próprio dinheiro, saca uma letra de câmbio, na qual A deverá pagar o valor a C.
Legislação
Lei 2.044/1908: Lei Saraiva. É uma Lei que regula a Letra de Câmbio, mas que foi parcialmente revogada, em razão da vigência da Lei Uniforme de Genebra.
Lei Uniforme de Genebra: Lei adotada pelo Brasil em matéria de títulos de crédito, neste caso, no que regula as Letras de Câmbio.
Natureza jurídica
É um ato jurídico unilateral, porque o sacador emite a LC sozinho, não dependendo da vontade de outro indivíduo para a emissão, sendo apenas, posteriormente, necessário o aceite do sacado.
Características
Materialização: a materialidade consiste no fato de a LC estar materialmente constituída, sendo por meio físico, seja por meio eletrônico (o que atualmente é bem comum).
Título à ordem: isso significa dizer que a LC é dirigida a uma pessoa específica que é o sacado. Sendo um título obrigatoriamente à ordem, não se admite endosso em branco, apenas em preto, porque é característica dos títulos à ordem.
Formal: segue o princípio da Cartularidade, ou seja, deve ser materializado. Não existe forma específica da letra de cambio, sendo ela um título de forma livre, desde que cumpra os requisitos exigidos.
Literal: segue o princípio da Literalidade, ou seja, diz respeito ao conteúdo que está inserido no título.
Autônomo: segue o princípio da Autonomia, ou seja, não precisa de comprovação de origem para se materialize uma LC.
Sob apresentação: como regra a LC é um título sob apresentação, ou seja, que não possui vencimento estabelecido, sendo que vence sob apresentação (vencimento à vista).
Protesto: o protesto, na LCs é diferente da regra geral. Comumente, a partir do momento em que o devedor se constitui em mora, ou seja, no dia seguinte ao vencimento, já é possível se protestar o título. Já nas LCs, o protesto deverá ser feito no dia subsequente ao primeiro dia útil após o vencimento. Ou seja, o título vence em 10/01/2017, então pula o dia útil seguinte (11/01/2017) e protesta no dia 12/01/2017, sendo que se não for protestado nesta exata data, os coobrigados serão excluídos da cobrança. Então a importância do protesto na data é a possibilidade de poder voltar na cadeia de cobrança. E também, quando se perde a possibilidade de cobrar da cadeia, se desobrigam os avais em preto dos coobrigados.
Função
Papel moeda: a Letra de Câmbio exerce uma característica de papel moeda e, dessa forma, é transmissível por endosso, mas sempre endosso em preto.
Internacional: a Letra de Câmbio circula tanto em âmbito nacional, quanto em âmbito internacional.
Requisitos essenciais
O art. 1º do Anexo I do Decreto n. 57.663/66 (LUG) traz os elementos que deve conter a Letra de Câmbio.
Denominação Letra de Câmbio: não serão admitidas quaisquer outras expressões, visto que sua finalidade é fazer saber, sempre, que se trata desse específico título de crédito. A LUG exige apenas a palavra “letra”. Todavia, a doutrina é unânime no sentido de que prevalece a Lei Saraiva, que exige o nome completo do título.
Quantia que deve ser paga: se esse campo não for preenchido corretamente, ensejará a nulidade formal do título. O valor deve ser preciso. O art. 6º da Lei Uniforme expressamente admite que seja o valor estipulado em algarismos e “se na letra a indicação da quantia a satisfazer se achar feita por extenso e em algarismos, e houver divergência entre uma e outra, prevalece a que estiver feita por extenso. Se na letra a indicação da quantia a satisfazer se achar feita por mais de uma vez, quer por extenso, quer em algarismos, e houver divergências entre as diversas indicações, prevalecerá a que se achar feita pela quantia inferior”.
Nome do sacado: a letra de câmbio é uma ordem de pagamento voltada justa- mente ao sacado, pessoa que deve ser eficazmente identificada, indicando-se seu nome por extenso, bem como algum documento seu (CPF, RG, título de eleitor).
Época do pagamento: o art. 2º da LUG dispõe que, quanto à data do vencimento, a letra será pagável à vista se não constar data determinada para o título ser pago. Igual regra existe no art. 20, § 1º, do Decreto n. 2.044/1908. Por essa razão, a doutrina argumenta que tal requisito não é indispensável, pois o texto legal supre sua falta no caso concreto, de modo que o título é válido.
Nome do tomador: cuida-se aqui da indicação, também por extenso, do beneficiário do título, para que ele possa ser identificado, pois a Lei Uniforme veda a emissão de letra de câmbio ao portador.
Data e lugar do saque: Não possuem valor cambial as letras sacadas sem data de emissão na medida em que se torna impossível saber se o emitente era capaz em tal data, bem como apreciar os prazos para apresentação e de vencimento.
Na ausência do lugar considera-se que a letra foi passada no lugar designado, ao lado do nome do sacador (art. 2º da LUG). Na ausência deste, será assimconsiderado o local do domicílio do emitente (CC, art. 889, § 2º).
Assinatura do sacador: a assinatura deverá ser abaixo do contexto (corpo da letra) para que se presuma que foi assinada quando todo o contexto já estava formado, e que foi feita no momento da emissão do título. Por meio dessa assinatura, o sacador garante aceite e pagamento do título.
Requisitos não essenciais
Embora o art. 1º da LUG considere que todos os requisitos acima citados devam constar da letra de câmbio, aqueles referentes à data, ao local do pagamento e ao lugar da emissão não são considerados essenciais, já que a omissão é suprida pelo próprio texto legal, conforme já exposto. Assim, entende-se que não são requisitos essenciais a indicação, na LC, do lugar do pagamento e do vencimento do título.
Espécies de vencimento
Considera-se vencimento a data em que o pagamento da letra de câmbio, por prévia fixação no título, ou em decorrência de disposição legal, pode ser exigido. Somente com o vencimento é que a letra se torna exigível.
Podem ser elencados dois tipos distintos de vencimento. O primeiro deles é o ordinário, que ocorre pelo término normal do prazo, exposto no art. 6º da Lei Saraiva, sob as seguintes formas:
À vista: o vencimento ocorre na apresentação, que poderá ser feita dentro do prazo de um ano, contado da emissão do título. Esse prazo, contudo, pode ser alterado expressamente pelo sacador da letra.
A dia fixo: o vencimento ocorre no dia indicado, já preestabelecido (ex.: “vencimento em 16/10/2010”).
A certo termo de vista: o vencimento ocorre em um prazo previamente indicado no título a contar da data do aceite (ex.: “o vencimento dessa letra se dará no prazo de sessenta dias a partir da data do respectivo aceite”).
A certo termo de data: o sacador fixa um prazo de vencimento a ser contado da data da emissão (ex.: “o vencimento se dará em sessenta dias a contar desta data”).
Já o vencimento extraordinário é aquele que se dá com a interrupção do tempo por fato anormal e imprevisto, o que ocorre nos casos arrolados no art. 19 do Decreto n. 2.044/1908, que são: a) falta ou recusa do aceite; b) falência do aceitante.
Aceite
O aceite nos títulos de crédito significa concordar, um ato confirmatório.
Emitida a letra de câmbio, ela será entregue ao tomador, o qual, por sua vez, terá um prazo de 10 dias para leva-la ao sacado, para que este a aceite (art. 25 da Lei Uniforme), o que deve ser feito no próprio título por meio da expressão “aceito” ou “aceitamos”, seguida da assinatura do sacado ou de procurador com poderes especiais para tanto (art. 11 do Decreto 2.044/1908). Se a letra foi emitida contra mais de um sacado, o tomador deve apresentá-la, inicialmente, ao primeiro nomeado no título, e depois sucessivamente.
Em princípio, perceba-se que o sacado não tem obrigação cambial alguma, uma vez que ele não é obrigado a cumprir a ordem de pagamento emitida pelo sacador contra a sua vontade. O aceite, portanto, é o ato pelo qual o sacado assume obrigação cambial e se torna o devedor principal da letra (aceitante).
O aceite, na letra de câmbio, é facultativo, porém irretratável. Sendo o aceite uma faculdade do sacado, ele pode simplesmente recusá-lo, sem precisar dar qualquer justificativa para tanto. É preciso ressaltar, todavia, que a recusa do aceite produzirá efeitos relevantes para o sacador e para o tomador, uma vez que ocorrerá o vencimento antecipado do título, podendo o tomador exigir do sacador – codevedor da letra, como visto – o seu pronto pagamento.
Prazo de respiro: o prazo de respiro é um prazo de 24 horas para a pessoa que figura como devedor na letra de cambio decidir se vai aceitar ou não a dívida. É como se fosse uma carência no aceite. Quando se pede o prazo de respiro, não se pode adiantar o vencimento enquanto não se completarem as 24 horas.[1: Ver espécies de aceite.]
Cláusula proibitiva de aceite: é uma cláusula posta no título, na sua emissão pelo sacador, que significa que o tomador, se não conseguir o aceite do sacado, não poderá antecipar o vencimento, nem o protesto, para cobrar do sacador. É uma proibição para o credor.
Espécies:
Mais de um sacado: existem aqui, algumas possibilidades de aceite quando existe mais de um sacado na Letra de Câmbio.
Emissão cumulativa: quando é emitida a letra de câmbio em face de mais de uma pessoa, e a letra de câmbio deve ser cobrada de todos os sacados ao mesmo tempo, e todos eles devem, necessariamente, aceitar. Aqui, cada um deles é responsável por um terço da dívida correspondente ao título.
Emissão sucessiva: quando é emitida a letra de câmbio em face de mais de uma pessoa, e existe uma ordem a ser seguida, ou seja, em uma LC emitida em face de A, B e C, primeiro busca-se o aceite de A, sendo que se este não o der, busca-se o aceite de B, e assim sucessivamente. Também na cobrança do valor do título, deve ser respeitada a mesma ordem, sendo cada um responsável pelo valor integral do título.
Aqui, não importa que um dos sacados não tenha aceitado a letra de câmbio, sendo que se apenas um deles aceitar, todos os outros serão coobrigados ao pagamento.
Emissão alternativa: quando é emitida a letra de cambio em face de mais de uma pessoa, e a letra de câmbio pode ser aceita por qualquer um dos sacados, e também ser paga por qualquer um dos sacados, não existindo ordem a ser seguida. Aqui, também, todos os sacados são obrigados pelo valor total da dívida.
Falta de aceite: faltar o aceite significa omitir aceitação, ou seja, não se confirma a aceitação. Aqui, não se nega, apenas omite o aceite. Quando há silêncio, presume-se a falta de aceite, sendo que nesse caso, o tomador não precisa aguardar a data do vencimento para a cobrança, sendo possível antecipar o vencimento, protestando o título antecipadamente, após o prazo para o aceite.
Recusa de aceite: a recusa do aceite é negar a confirmação. Aqui, o sacado nega o aceite da letra de câmbio. Quando há a recusa do aceite (que deve ser justificada), não se permite o vencimento antecipado, sendo que o protesto só pode ser feito após o vencimento.
Aceite parcial ou limitativo: aqui o sacado confirma uma parte da obrigação, enquanto nega a outra parte (por exemplo, a dívida é de R$ 50.000,00, e o sacado aceita apenas R$ 25.000,00, negando o restante do valor).
Aceite modificativo: quando se modifica os termos da letra de câmbio, que normalmente são a data e o lugar do saque (por exemplo, prolonga o prazo para o vencimento.
Prazos prescricionais
De acordo com o art. 70 da Lei Uniforme, a prescrição da ação cambial ocorre nos seguintes prazos:
Devedor principal e avais: 3 anos a contar do vencimento.
Coobrigados e avais: 1 ano a contar do protesto.
Coobrigados entre si: 6 meses a contar do pagamento (por exemplo, para ingressar com ação de regresso).
O art. 71 da LUG esclarece que a interrupção da prescrição somente se opera em relação à pessoa para quem a interrupção foi feita. Logo, se interrompida contra um dos coobrigados, não significa que se estenda aos demais.
Uma vez prescrita a execução, o credor da letra de câmbio, se quiser receber o seu valor, terá de ajuizar uma ação ordinária de cobrança contra o devedor, em que terá de demonstrar a relação cambiária e o negócio jurídico que deu origem ao título. Visa-se, com a ação, evitar um enriquecimento ilícito por parte do devedor, que, embora desonerado cambialmente, tem uma dívida para com o portador. Poderá também ingressar com ação monitória e, em tal hipótese, o prazo é quinquenal, a contar do dia seguinte à data de emissão estampada na cártula (Súmula 504 do STJ).
Data: 17/05/2017
NOTA PROMISSÓRIA
Conceito
A nota promissória é considerada uma derivação da letra de câmbio, é um título mais simplificado. É o título que mais circula no mercado, depois do cheque. É também, um título literal (vale o que estiver escrito), formal (deve respeitar os requisitos da lei) e autônomo (não precisa de nenhum documento que vincule a sua origem).
A nota promissória é uma promessade pagamento de certo valor, feita por escrito, por uma pessoa em favor de outra, ou à sua ordem, em que o emitente ou sacador se compromete a pagar determinada quantia ao beneficiário do título. Sua emissão, portanto, decorre de uma declaração unilateral de vontade e não de um contrato.
Diferentemente, portanto, das letras de câmbio, as notas promissórias, ao serem sacadas, dão origem somente a duas posições jurídicas: a do sacador e a do tomador (beneficiário da nota). Não há, assim, a figura do sacado (visto que não há uma ordem), não existindo, por consequência, a figura do aceite e demais regras ligadas a esse instituto. Com o saque, o emitente da nota se responsabiliza pelo pagamento do título.
A nota promissória está disciplinada no Decreto n. 2.044/1908 (Lei Saraiva), arts. 54 a 56, e também no Decreto n. 57.663/66 (Lei Uniforme de Genebra - LUG), arts. 75 a 78. Essas duas legislações estabelecem que, são aplicáveis à nota promissória, com as modificações necessárias, todos os dispositivos relativos à letra de câmbio, exceto os que se referem ao aceite (já que não há a figura do sacado).
Partes envolvidas
Sacador: é aquele que emite a nota promissória, se comprometendo ao seu pagamento ao tomador. Grosso modo, é o devedor.
Tomador: é aquele em benefício de quem é emitida a nota promissória. É o credor.
Requisitos essenciais
A Nota Promissória é um documento muito simples de se fazer. Tanto o art. 54 da Lei Saraiva, quanto o art. 75 da Lei Uniforme de Genebra elencam os requisitos essenciais da nota promissória, quais sejam:[2: Exemplo da Nota Promissória feita por Eike Batista, no guardanapo, para o CEO da empresa, com promessa de pagamento de R$ 15 milhões de reais.]
Denominação Nota Promissória: é exigência legal que, no corpo do título, esteja escrito “Nota Promissória”.
Promessa de pagar quantia certa: a promessa de pagamento de uma quantia deve ser incondicionada, ou seja, não pode impor nenhuma espécie de condição.
Nome do beneficiário: a nota promissória, assim como a letra de câmbio, deverá sempre contar com o nome do tomador, ou seja, não é possível a emissão de nota promissória ao portador.[3: Tal disposição existe no Brasil por conta da circulação da Nota Promissória no mercado negro, onde não se conseguia rastrear a circulação, como por exemplo, a circulação em paraísos fiscais.]
Assinatura de quem passa a ordem: o subscritor (emitente ou sacador) é o devedor principal da nota e garante seu pagamento. Logo, o protesto para o exercício do direito de crédito contra ele torna-se facultativo. Se ele paga a nota, extingue-se toda a relação cambial.
Requisitos não essenciais
Época do pagamento: não é requisito essencial, pois se não constar essa indicação, considera-se que a nota foi emitida à vista, ou seja, que se vence no momento de sua apresentação.
Lugar que se efetua o pagamento: não é requisito essencial, pois se não constar essa indicação, considera-se que a nota deve ser paga no lugar em que foi passada, que será também considerado como local do domicílio do subscritor da nota.
Data e lugar do saque: não é requisito essencial, pois se não constar indicação do lugar, considera-se que tenha sido passada no local designado ao lado do nome do subscritor. Em relação à data, pode ser emitida Nota Promissória sem data do saque, mas esta é requisito para o ajuizamento da execução do título. Não constando a data da emissão até o ajuizamento da execução, o título perderá sua eficácia de título de crédito. É imprescindível essa informação para que se verifique se o sacador possuía capacidade jurídica à data da emissão da nota.
Nota promissória em branco
Uma nota promissória pode circular em branco. Comparativamente à letra de câmbio, que também pode circular em branco, a nota promissória também pode circular em branco, podendo ser preenchida antes do vencimento ou antes do protesto. Circular em branco, significa circular sem algum dos elementos para a sua composição, como por exemplo, o valor.
Essa situação parece estranha, mas é assim que é definido, tanto que o assunto já foi sumulado pelo STF, na Súmula 387: “A cambial emitida ou aceita com omissões, ou em branco, pode ser completada pelo credor de boa-fé antes da cobrança ou do protesto”.
Nota promissória ligada a um contrato
Existe uma situação muito comum, onde se acredita que uma nota promissória precisa de um contrato para existir, assim como um contrato deve ser garantido por uma nota promissória. Por essa razão, é feita uma nota promissória atrelada a um contrato. Na realidade, a nota promissória não precisa de um contrato para existir, mas no dia a dia pactuou um costume de ter um contrato atrelado a uma nota promissória.
Já que existe essa junção desses documentos, deve-se entender para que ela serve. Normalmente quando se junta nota promissória e um contrato, isso ocorre quando existem contratos bancários e/ou contratos de compra e venda de imóveis. Quando se assina um contrato de compra e venda de imóvel, por exemplo, o comprador da uma entrada e parcela o restante. E em alguns casos, as parcelas são emitidas na forma de notas promissórias. Na prática, quando se paga a nota promissória, deve ser devolvida a nota promissória, sendo que com a devolução de todos os títulos das parcelas, tem-se a quitação da prestação.
O problema aqui é que a nota promissória é um título de crédito, e o título de crédito circula, sendo que pode estar nas mãos de outra pessoa. Imagine-se que o comprador, por não saber da circulação, paga o contrato, para B, que passa um recibo, no entanto não quita a nota promissória, não recebendo o comprador a nota promissória quitada, e sim apenas um recibo. Nesses casos, as notas promissórias estão nas mãos de outras pessoas, que poderão cobrar da pessoa o título que elas têm em mãos.
Para se quitar o contrato aqui, deve-se ter todos os títulos em mãos. Mas existe uma possibilidade de o recibo de pagamento quitar a nota promissória, que é quando se obriga ao tomador da nota promissória colocar no título que a nota promissória é vinculada ao contrato XXX. Nesses casos, se o devedor já pagou o contrato, e outra pessoa vem lhe cobrar a nota promissória correspondente a tal valor, considera-se que essa pessoa é litigante de má-fé.
Prescrição
Devedor principal e avais: 3 anos a contar do vencimento do título;
Coobrigados: 1 ano, a contar da data do protesto feito em tempo útil
Coobrigados entre si: 6 meses, a contar do dia em que o endossante pagou o título ou em que ele foi acionado.
Vencimento
À vista: é quando o título vence sob apresentação.
A certo termo de data: o sacador fixa um prazo de vencimento a ser contado da data da emissão (ex.: “o vencimento se dará em sessenta dias a contar desta data”).
A dia certo: o vencimento ocorre em um dia indicado, já preestabelecido (ex.: “vencimento em 16/10/2010”).
Protesto
Na nota promissória, assim como na letra de câmbio, o prazo para o protesto é diferenciado da regra geral. Aqui, quando vencido o título, tem que esperar um intervalo de 48 horas para efetuar o protesto. Ou seja, se o título vence no dia 01/02/2017, espera-se passar 48 horas (dias 02/02 e 03/02), protestando no dia 04/02/2017. Aqui também, o protesto feito em tempo hábil garante a cadeia do título.
>>> EXERCÍCIO <<<
Ana saca uma nota promissória no dia 30/03/2017, em face de João, com vencimento a certo termo de data para 30 dias. João endossa em face de Maria, no dia 02/04/2017, que endossa para José, no dia 04/04/2017, que endossa em face de Carlos no dia 07/04/2017. Este protesta o título após o vencimento.
Qual o prazo para protesto? Cobra de quem? Como? Por que?
Primeiramente, o protesto, realizado após as 48 horas do vencimento, como feito por Carlos, está correto, sendo que, à primeira vista, teria ele garantido a cadeia de coobrigados.
Em relação aos endossos, o único válido é o feito de João para Maria, pois o seguinte é feito em branco, o que não é permitido. Assim, todos os atos realizados após o endosso nulosão também nulos. O protesto, no caso, é nulo para a cadeia, porque foi feito pela após ter ocorrido um endosso em branco. Ou seja, ele continua valendo contra Ana. Por essa razão, Carlos poderá cobrar Ana, por via de execução de título, pois ela é devedor principal.
Data: 19/03/2017
>>> EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO SOBRE NOTA PROMISSÓRIA <<<
ABC Ltda firmou um contrato de mútuo no valor de R$ 10.000,00, mais juros de 5,5% e comissão de permanência com o Banco Alfa, tendo como aval seu sócio João. Foram emitidas 5 Notas Promissórias em branco para garantia a operação. O título circulou por endosso mandato para o Banco Delta, que protestou o título em 05/06/2016.
ABC Ltda é o sacador da operação, enquanto o Banco Alfa é o tomador. As 5 notas promissórias, aqui, são decorrentes de um contrato de mútuo, não estando vinculada ao contrato (não está escrito “vinculado ao contrato xxx”). Ainda, as NPs foram emitidas em branco. No entanto, o valor do contrato é de R$ 10.000,00 + 5,5 % + CP. O Banco Alfa faz um endosso mandato para o Banco Delta, sendo que este protestou o título. O título foi avalizado por João, que é sócio da ABC Ltda.
Primeiramente, cabe dizer que uma pessoa jurídica pode sacar um título para outra pessoa jurídica. Também, o Banco Alfa pode fazer um endosso mandato para outro banco, sendo este endosso certo. Cabe dizer, que o endosso mandato deve ser feito antes do vencimento, pois ele serve para cobrar a dívida. O título, como não tem data, presume-se à vista, então partimos do pressuposto de que o protesto foi realizado corretamente. Assim, toda a cadeia está correta.
Mas aqui, cabe fazer uma pergunta: O Banco Delta protestou o título, mas protesta o título em nome de quem? Aqui, ele protesta em nome do Banco Alfa (credor/tomador), contra ABC Ltda (devedor/sacador). O Banco Delta só aparece como sujeito que encaminhou o protesto (endosso mandato).
Passou-se o prazo de 72 horas sem que ninguém pagasse, e o título foi protestado. No entanto, qual o valor deve ser protestado? Aqui, como são 5 notas promissórias, cada uma vale R$ 2.000,00 + juros + CP, mas esses acréscimos só podem ser cobrados após o vencimento. E, para validar os juros e encargos, deve haver uma cláusula ou observação no corpo do título, caso contrário, não haverá liquidez e nem literalidade. Ainda, cabe ressaltar que o cartório só protesta o valor do título, e não os juros. Os juros aparecem depois do protesto.
Quando o Banco Delta protesta o título e ABC Ltda não paga, o título volta para o Banco Alfa. No entanto, caso não tivesse protestado, o Banco Delta devolveria para o Banco Alfa, sendo que este deverá cobrar, por meio de execução de título, sendo que pode ele mesmo protestar o título.
Em relação ao avalista, cabe dizer que o mesmo é sócio da empresa, representante legal da sociedade, sendo que ele está dando o aval da pessoa jurídica, ou seja, a própria ABC avaliza a ela mesma, a partir do momento em que o sócio assina como aval. Em situações como essa, em caso de não pagamento da dívida, o credor pode pegar o estabelecimento empresarial em garantia, administrando o mesmo, por exemplo, até o momento que consiga rendimentos suficientes para satisfazer a dívida, posteriormente devolvendo o estabelecimento ao devedor. Cabe dizer, que não entra na sociedade, mas sim no negócio da sociedade.
Data: 31/05/2017
CHEQUE
Introdução e Conceito
Cheque é o título de crédito mais fácil para se aprender, afinal de contas todo mundo conhece um cheque, é um título do dia-a-dia. E dentro dessa facilidade de conhecer o cheque, algumas peculiaridades já são também conhecidas (como o cheque sem fundos).
O cheque é uma ordem de pagamento à vista, em favor próprio ou de terceiros, contra fundos do próprio sacador. O cheque é apenas à vista (caso contrário, seria uma letra de câmbio). Ainda, o cheque pode ser sacado para si mesmo ou para outro, desde que o sacador tenha dinheiro na conta (tenha fundos).
Natureza jurídica
O cheque é utilizado como instrumento de pagamento. Atualmente ele é tão usado como o dinheiro, apesar de não parecer ser muito usual, por conta o uso do cartão, que é muito mais seguro.
O comércio usualmente prefere o cheque do que o cartão, porque não há taxas a serem pagas, que existem no caso de cartão. Quando ele pega o cheque, ele leva para uma factoring. A factoring é como se fosse uma instituição financeira legalizada (pelo Banco Central), que só pode operar com pessoas jurídicas, e mediante desconto. Então, o comerciante pega os recebíveis (cheques) e leva à factoring, e ela adianta o dinheiro mediante um desconto de uma taxa administrativa (por exemplo, cheques que somam R$ 100.000,00, ela paga R$ 95.000,00).
No caso de o cheque voltar, a responsabilidade para cobrar o cheque é da factoring e não do comerciante, pois o endosso feito do comerciante à factoring é um endosso em preto (e não mandato). Cabe dizer que na operação de factoring é proibido o endosso mandato, senão a operação seria de agiotagem.
Requisitos essenciais
Denominação “cheque”: assim como nos outros títulos de crédito já estudados, o nome do título deve constar na cártula.
Indicação da quantia: é obrigatória a indicação do valor do cheque. Se a quantia for divergente no numérico e no extenso, sempre valerá o que está por extenso. É importante salientar que o cheque não se caracteriza na hipótese de ordem condicional de pagamento. O cumprimento da obrigação materializada no cheque não pode ficar sujeito, pelo saque, ao implemento de condição, suspensiva ou mesmo resolutiva.
Nome do sacado: a pessoa a quem a ordem é endereçada deve ser identificada no texto do título. O sacado do cheque é necessariamente um Banco ou uma Instituição Financeira, como determina o artigo 3º da Lei 7.357/85.
Nome e assinatura do sacador: trata-se da exigência da assinatura do sacador (emitente). Dessa assinatura decorre a constituição do crédito cambiário, porque o sacador torna-se, com o saque, co-devedor da letra.
Nome ou não do tomador: tomador é o credor do título, para quem o cheque será feito
Data e lugar (mês e ano) da emissão: ao final da cártula, tem-se espaço a ser preenchido pelo sacador (emitente), indicando o lugar no qual emite a cártula e a data que o faz, atendendo à exigência do art. 1º, V, da Lei 7.357/85. Esclarece o artigo 2º, II, que não indicado o lugar de emissão, considera-se emitido o cheque no lugar indicado junto ao nome do emitente. A data e o local da emissão são informações importantes especialmente para a verificação do prazo de apresentação.
Lugar de pagamento: a folha de cheque deve indicar o lugar do pagamento, ou seja, a sede da instituição financeira sacada, da agência ou do posto de atendimento bancário no qual o legítimo portador poderá apresentar o cheque e obter o pagamento ali ordenado. No plano legal, estabelece o art. 2º, I, que, na falta de indicação especial, é considerado lugar de pagamento o designado junto ao nome do sacado e, se designados vários lugares, o cheque é pagável no primeiro deles e, não existindo qualquer indicação, o cheque é pagável no local de sua emissão.
Figuras intervenientes
Sacador: é aquele que emite o cheque, manifestando a declaração unilateral de ordem incondicional de pagamento pelo Sacado (Banco) da quantia determinada no cheque ao seu beneficiário/tomador.
Sacado: o sacado é aquele a quem é dirigida a ordem incondicional de pagamento declarada pelo emitente. É o sacado quem deverá pagar o beneficiário/tomador. Ainda, o sacado deve, necessariamente, ser um banco ou instituição financeira que lhe seja equiparada.
Tomador (beneficiário): o beneficiário é aquele a favor de quem é dada a ordem de pagamento, e que poderá ser o próprio emitente (sacador) ou terceiro. O beneficiário, no cheque pode ou não ser denominado (cheque nominal ou cheque ao portador, respectivamente).
Apresentação
Existe um prazo de apresentação do cheque, onde o credor tem que pegar o cheque e levar até o banco para depósito, dentro de um determinado período. Então, primeiramente,cabe diferenciar o que é um cheque da praça e um cheque fora da praça.
Praça: o cheque da praça é aquele que foi elaborado e emitido na mesma praça (cidade); por exemplo, um cheque feito pelo banco de Curitiba e emitido em Curitiba. Se o cheque for da praça, o prazo de apresentação será de 30 dias.
Fora da praça: o cheque fora da praça é aquele que foi elaborado e emitido em lugares diferentes; pior exemplo, um cheque feito pelo banco de Curitiba e emitido em Florianópolis. Se o cheque foi fora da praça, o prazo de apresentação é maior, de 60 dias.
Usualmente, os bancos aceitam depois do prazo o cheque, porque depois desse prazo corre um outro prazo, que é o prazo prescricional do cheque, que é de 6 meses mais o prazo de apresentação (30 dias + 6 meses; 60 dias + 6 meses). Os bancos aceitam de forma incorreta, pois o prazo seria o estabelecido, de 30 ou 60 dias. A questão é que o sacador pode não mais ter fundos para pagar o cheque.
Esse prazo de 6 meses, que é a prescrição do cheque, é o período em que o credor, apresentado corretamente o cheque, terá para executar o devedor (sacador) do cheque, através dos fundos que este possui no banco.
Espécies de cheques
Existem algumas espécies de cheques, algumas bem simples, outras mais complexas, mas todas são cheques, apesar de serem um pouco diferentes daqueles vistos no cotidiano.
Ao portador: se no ato de criação o sacador preenche o espaço destinado ao beneficiário com a expressão ao portador, ou equivalente, ou simplesmente deixa em branco o espaço, abrindo mão do direito de indicar que é o beneficiário da emissão, tem-se um título ao portador, de acordo com a previsão anotada no artigo 8º, III, e parágrafo único, da Lei 7.357/85, o que implica circulação por mera tradição
Nominal: cheque nominal, também chamado de cheque nominativo, é aquele que consigna expressamente o nome do beneficiário ou tomador, só a este podendo ser pago, e nesse caso o cheque só pode circular por meio de endosso.
Cruzado: o que caracteriza o cheque cruzado o fato de ser o cheque comum, portanto regularmente emitido, atravessado por duas linhas paralelas, a que se dá o nome de cruzamento.
Em branco: cruzar em branco significa que o título só serve para ser depositado em conta corrente, mas em qualquer conta corrente, não necessariamente a do credor, podendo nesses casos haver endossos do título.
Cruzamento geral é aquele que consta apenas dessas duas linhas paralelas transversalmente apostas na face anterior do cheque. Significa ele que tal cheque só deve ser pago a um banco ou a um cliente do banco sacado, mas não especifica qual o banco. Assim, pode o pagamento ser feito a qualquer banco, ou, no Brasil, instituição financeira assemelhada a banco, segundo a regra do art. 30 da lei. Um particular que receba um cheque com um cruzamento geral não poderá apresentá-lo, pessoalmente, ao banco sacado para receber a importância do mesmo; terá, então, que entregar o cheque a um banco para que este o receba, o que é feito através do banco em que possui conta bancária, ao qual o cheque é transferido para, uma vez recebido, ser sua importância creditada na conta do depositante.
Em preto: cruzar em preto significa que dentro do cruzamento deve haver a indicação específica do tomador/beneficiário do cheque. Nesse caso, só o credor pode depositar em sua própria conta, não podendo endossar o título, e caso faça, ninguém vai conseguir depositar ou sacar na boca do caixa.
Entre as duas linhas paralelas que constituem o cruzamento pode ser inscrito, entretanto, o nome de um banco. Se tal acontecer teremos um cruzamento especial e o cheque, nesse caso, só pode ser pago pelo sacado ao banco cujo nome figura entre as duas linhas. Tal banco foi o único designado pelo cruzador para fazer o recebimento da importância do cheque, a ele, pois, devendo ser a ordem paga. Mas o banco designado, por expressa disposição da lei (art. 45), pode recorrer a outro banqueiro para liquidar o cheque. 
Administrativo: trata-se de cheque emitido pelo banco contra si mesmo, ou seja, contra um de seus estabelecimentos, em favor de terceiro. Por essa razão, deve ser nominal. No cheque administrativo, sacador e sacado se confundem (instituição financeira), mas o beneficiário é outra pessoa. O cheque administrativo é também chamado de cheque bancário, cheque comprado, cheque de caixa e cheque de direção.
Viagem: os traveller’s checks, como são mais conhecidos, são espécies de cheques administrativos que os correntistas compram de seus bancos. Tais cheques já trazem um valor fixo impresso. Na parte de cima do cheque, o comprador apõe sua assinatura, que é registrada no banco. Posteriormente, ao emiti-lo em qualquer estabelecimento bancário, o sacador, identificando-se, novamente assina o cheque, agora na parte de baixo. Conferindo as duas assinaturas, o cheque pode ser imediatamente pago pelo banco, que normalmente é situado em outra localidade.
Trata-se, portanto, de modalidade de título bastante útil porque permite que o viajante não tenha de carregar consigo grande volume de dinheiro em espécie.
Cheque com
Cláusula à ordem: é possível emitir-se um título à ordem, ou seja, sacar o título explicitando seu beneficiário, com ou sem cláusula expressa à ordem, de acordo com o artigo 8º, I, da Lei 7.357/85, e, assim, submetido ao regime jurídico dos títulos à ordem. A cláusula à ordem já é embutida no cheque. Essa cláusula significa que o título pode circular mediante endosso.
Cláusula não à ordem: a cláusula não à ordem restringe o endosso. Essa cláusula deve ser colocada tão somente no momento da emissão do título. Nesse caso, o título só pode circular mediante cessão de crédito. Aqui, ao contrário do que sucede com o cheque à ordem, não poderá o título ser transferido via endosso, só podendo ocorrer a cessão civil prevista no artigo 286 do Código Civil.
Cheque “pós-datado”
É o cheque de usos e costumes. Essa espécie de cheque, muito utilizada na vida comercial brasileira, não encontra guarida na legislação. Saliente-se que, embora seja largamente conhecido como cheque “pré-datado”, o correto é chamá-lo de pós-datado, uma vez que traz data posterior àquela em que efetivamente é emitido. São os cheques dados com pagamento para 30, 60, 90... dias para o pagamento.
Nos termos do art. 32 da Lei n. 7.357/85, o “cheque é pagável à vista. Considera-se não escrita qualquer menção em contrário”.
Assim, se em um cheque consta determinada data, posterior àquela em que ele foi efetivamente emitido, mas é apresentado em data anterior à indicada como “boa para pagamento”, será pagável imediatamente, no dia da apresentação, porquanto cheque é ordem de pagamento à vista, de nada adiantando a data posterior aposta.
Por essa razão, claro está que, em verdade, essa espécie de cheque surgiu de mero acordo comercial, feito verbalmente nos casos concretos, e que acabou sendo amplamente difundido no dia a dia. Assim, ao adquirir uma mercadoria, pagando-a com um cheque “pós-datado”, o adquirente está confiando na palavra dada pelo comerciante de que somente apresentará o título ao banco sacado na data indicada pelo comprador, e não em data anterior àquela. Se, todavia, o fizer, e houver fundos na conta do emitente, o banco sacado terá de pagá-lo imediatamente.
O Superior Tribunal de Justiça, todavia, aprovou Súmula dizendo que caracteriza dano moral de descumprimento do acordo a apresentação antecipada do cheque pré-datado (Súmula 370).
Protesto
O protesto deve ser feito antes de expirado o prazo para a apresentação do cheque, por lei taxativamente fixado em 30 dias, a contar da data de sua emissão, em se tratando de cheque para ser pago na mesma praça, ou de 60 dias, quando para pagamento em praça diferente. Interessante será indagar se, tendo sido o cheque emitido com uma data futura, daquela em que é entregue ao portador (cheque pós-datado), apresentado antes da data nele contida, como é permitido pelo art. 32, correspondente ao art. 28 da Lei Uniforme, e não pago, podeo protesto ser tirado. O protesto dentro desse prazo, no caso do cheque, serve para garantir o pagamento das obrigações pelos coobrigados.
Naturalmente sim, pois, sendo o cheque uma ordem de pagamento à vista, o não pagamento deve ser constatado quando da recusa do mesmo. Mas o prazo de prescrição da ação contra os obrigados no cheque se inicia a partir da expiração do prazo fixado para apresentação – que é contado tendo-se por base a data do cheque (lei brasileira, art. 32, parágrafo único, correspondente ao art. 28, última alínea, da Lei Uniforme). O art. 59 da lei dispõe expressamente que a ação do portador contra os endossantes, contra o sacador e contra os demais obrigados prescreve em seis meses contados da expiração do prazo de apresentação. Aliás, é o mesmo que ocorreria se, sendo o cheque emitido com data regular (entregue ao portador com a data do dia ou anterior ao dia da entrega), fosse apresentado em seguida ao Banco sacado e por esse não pago.
A jurisprudência recente do STJ reconhece a legitimidade do protesto facultativo de cheque realizado após o prazo de apresentação, mas antes de expirado o lapso prescricional da ação cambial de execução.
A Lei brasileira admite, entretanto, que, apresentado o cheque a pagamento no último dia do prazo, o protesto possa ser feito no primeiro dia útil seguinte. Essa prorrogação legal do prazo para se tirar o protesto decorre do fato de ter o portador o direito de apresentar o cheque ao sacado, para pagamento, até o último minuto do derradeiro dia útil em que expira esse prazo. Naturalmente, tendo ele esse direito, não poderia ser prejudicado se, ao apresentar o cheque, lhe fosse recusado o pagamento, sem haver tempo para ser feito o protesto dentro do prazo para a apresentação, como em regra geral dispõe o art. 48 da lei. Ter-se-á, também, prorrogação quando a apresentação do cheque ou o protesto não puder efetuar-se por motivo de obstáculo insuperável como prescrição legal declarada por um Estado ou caso de força maior. Se tal ocorrer, o portador avisará imediatamente o caso de força maior ao seu endossante, fazendo no cheque menção datada desse aviso (lei brasileira, art. 55).
Prescrição
Nos termos do art. 59 da Lei do Cheque, a execução fundada em cheque prescreve nos seguintes prazos:
I – De 6 meses, do portador contra o sacador, endossantes e respectivos avalistas, contados da expiração do prazo de apresentação;
II – De 6 meses, de um obrigado ao pagamento de cheque contra outro, contados do dia em que o obrigado pagou o cheque, ou do dia em que foi demandado.
Eventual interrupção do prazo prescricional em favor de um dos coobrigados não se estenderá aos demais (art. 60).
Após o prazo prescricional, não mais será possível ingressar com a execução cambial, mas será cabível a propositura de ação de conhecimento (ação de cobrança) com base no locupletamento sem causa. De acordo com o art. 61, “a ação de enriquecimento contra o emitente ou outros obrigados, que se locupletaram injustamente com o não pagamento do cheque, prescreve em 2 (dois) anos, contados do dia em que se consumar a prescrição prevista no art. 59 e seu parágrafo desta Lei”.
É de mencionar ainda que, de acordo com a Súmula 299 do Superior Tribunal de Justiça, “é admissível a ação monitoria fundada em cheque prescrito”. Em tal caso, “o prazo para ajuizamento da ação monitoria em face do emitente de cheque sem forca executiva é quinquenal, a contar do dia seguinte à data de emissão estampada na cártula” (Súmula 503 do STJ). Essa Súmula tem embasamento no art. 206, §5º, I, do Código Civil (posterior à Lei do Cheque), que estabelece prazo de 5 anos para a prescrição da cobrança de dívidas constantes de instrumento Público ou particular. Por fim, a Súmula 531 do Superior Tribunal de Justiça dispõe que “em ação monitoria fundada em cheque prescrito, ajuizada contra o emitente, é dispensável a menção ao negócio jurídico subjacente à emissão da cártula”.
Cheque sem fundos
Verificando o Banco Sacado, no procedimento de liquidação do cheque, não possuir o emitente fundos suficientes em sua conta de depósito, deve restituir o título a quem lhe apresentou, com a declaração correspondente (de não pagamento por insuficiência de fundos)
No âmbito administrativo, cabe ao Banco Central disciplinar a repressão ao uso do cheque sem fundos. A sistemática vigente prevê 2 (duas) sanções: a inscrição no CCF (Cadastro de Emitentes de Cheques sem Fundos) e o pagamento de taxa do Serviço de Compensação de Cheques e Outros. A inscrição no CCF é aplicável na segunda devolução do mesmo cheque, e dela decorre a rescisão do contrato de depósito bancário e a proibição para novos contratos desse gênero, com qualquer banco (exceto se a conta se destina ao recebimento de salário, a ser movimentada unicamente por cheques avulsos). O pagamento de taxa é aplicada a cada devolução do cheque sem fundos.
Data: 14/06/2017
DUPLICATA
Conceito
É um título de crédito de natureza mercantil ou de serviços, que pode ser à vista ou a prazo. A emissão da duplicata pode ser feita apenas por pessoa jurídica, mas pode ser em face de pessoa física ou jurídica. A duplicata mercantil é emitida por sociedades empresárias, enquanto a duplicata de serviços é emitida pelas sociedades simples. Cada vez menos, há duplicatas de serviços, por conta de diversos impeditivos legais (por exemplo, sociedade de advogados não pode emitir duplicata de serviços). A duplicata não é boleto bancário, e sim um título de crédito. A duplicata é o que vem “por trás” do boleto, que circula por trás desse título de crédito.
A duplicata é um título que é emitido pelo credor, declarando existir, a seu favor, um crédito de determinado valor em moeda corrente, fruto – obrigatoriamente – de um negócio empresarial subjacente de compra e venda de mercadorias ou de prestação de serviços, cujo pagamento é devido em determinada data (termo). É um título causal, vale dizer, um título cuja emissão está diretamente ligada a um negócio empresarial que lhe é subjacente e necessário.
É um título de crédito de criação genuinamente brasileira, e que, hoje, encontra regulamento na Lei no 5.474/68. Título que, originalmente, era sobretudo comercial (stricto sensu) e que, com a evolução do instituto, tornou-se empresarial (lato sensu), e sua ideia central é muito simples. O artigo 219 do Código Comercial de 1850 obrigava, nas vendas entre comerciantes, que o vendedor apresentasse ao comprador, com as mercadorias que entregava, uma fatura ou conta dos gêneros vendidos; dessa conta assinada ou fatura, emitia-se uma duplicata de fatura, um título representativo do crédito do comerciante que, assim, poderia negociá-lo no mercado.
Trata-se de título de crédito causal, que se transmite por endosso, garante-se por aval e cobra-se por ação cambial. Assim, por estar também submetida aos institutos do endosso, aceite e aval, aplicam-se, subsidiariamente, à duplicata as regras das cambiais anteriormente estudadas, além, é claro, de também estar sujeita aos princípios da cartularidade, literalidade e autonomia. Aliás, o próprio art. 25 da Lei nº 5.474/68 expressamente consigna que às duplicatas aplicam-se, no que couber, os dispositivos da legislação sobre letra de câmbio.
A duplicata só pode ser emitida quando há uma contrapartida, ou seja, tem que haver uma mercadoria – ou serviço – a ser paga, caso contrário, essa duplicata será uma “duplicata fria”. Ainda, ela deve indicar o valor real da mercadoria ou serviço, senão será uma “meia nota”.
Duplicada simulada
Como na duplicata tem-se uma declaração de crédito que emana do próprio credor, torna-se extremamente fácil sua emissão fraudulenta, isto é, quando um vendedor ou prestador de serviço, sem que tenha havido um negócio subjacente que dê causa à emissão da duplicata, providencie sua criação simulada para, posteriormente, beneficiar-se de sua circulação. Tamanha é a gravidade de tal comportamento que o legislador decidiu transformá-lo em crime, estando previsto no artigo 172 do CódigoPenal, com a redação que lhe deu a Lei no 8.137/90, ser crime emitir fatura, duplicata ou nota de venda que não corresponda à mercadoria vendida, em quantidade ou qualidade, ou ao serviço prestado, sendo punido com detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
Operação de desconto
Quando, por exemplo, o devedor recebe uma mercadoria (ou serviço), ele assina a duplicata, que pode ser uma compra faturada (para xx dias). Isso significa uma compra a prazo. Quando se faz isso, se emite uma duplicata para o cliente pagar. Mas aqui, se o credor ficar esperando o devedor pagar, ele não vai ter dinheiro para preencher o estoque pagar funcionários. E ainda, o devedor pode não pagar, ficando o credor no prejuízo.
Por essa razão, as pessoas jurídicas pegam as duplicatas e fazem uma operação de desconto. Ou seja, elas pegam as duplicatas e levam em um banco, antecipando o dinheiro. Isso pode ser feito de duas formas: por endosso mandato ou endosso em preto. Aí, o banco adiante o dinheiro, e a duplicata fica com ele, para ele cobrar ou dar cabo da duplicata.
Duplicata única ou em série
Dispõe o art. 2º, §3º, da Lei 5.474/1968 que, poderá, nos casos de venda para pagamento em parcelas, ser emitida uma duplicata única, em que serão discriminadas todas as prestações e seus vencimentos, ou ainda, uma série de duplicatas, uma para cada prestação, distinguindo-se a numeração do número de ordem, pelo acréscimo de letra do alfabeto em sequência.
Fatura
Toda duplicata precisa de um “espelho”, e esse espelho se chama fatura. A duplicata e a fatura devem obrigatoriamente andar juntas. Existe uma portaria que dispõe que é possível emitir em conjunto a nota-fiscal fatura, que permite ser emitida uma duplicata (se assim desejar o credor). O número da fatura tem que ser exatamente o mesmo número da duplicata, sendo que quando houver duplicata em série, o número deverá ser o mesmo, acrescido de uma letra (ou número). Por exemplo, a duplicata é número 2331, e a emissão de duplicata em série será 2331/1, 2331/2, 2331/3 etc., sendo que todas as prestações devem estar constantes de cada duplicata, sob pena de se tratar de duplicata fria.
Em todo o contrato de compra e venda mercantil entre partes domiciliadas no território brasileiro, com prazo não inferior a 30 dias, contados da data da entrega ou despacho das mercadorias, o artigo 1o da Lei das Duplicatas exige que o vendedor extraia uma respectiva fatura para apresentação ao comprador. Fatura é palavra que provém de fazer; indica, portanto, um apanhado do que foi feito: aquilo que, uma vez contratado, foi realizado pelo empresário, seja por entrega de mercadoria, seja por prestação de serviços, seja em combinação de ambos os elementos. Justamente por isso, a fatura é um documento no qual se discriminam as mercadorias vendidas (quantidade, qualidade e valor) ou o serviço que foi prestado. Não se confunde com a nota fiscal, sendo que o próprio parágrafo do artigo 1o deixa claro ser possível que a fatura seja extraída, indicando somente os números e valores das notas parciais expedidas por ocasião das vendas, despachos ou entregas das mercadorias; não obstante, é possível utilizar-se de documento que atenda a ambas as finalidades: a nota fiscal-fatura.
A fatura, vê-se, é um instrumento criado com a finalidade específica de atermar (dar termos, dar tradução escrita à conclusão do contrato de compra e venda, o que se verifica com o recebimento do bem ou bens adquiridos pelo respectivo comprador); serve, igualmente, para dar tradução documental à conclusão de um contrato de prestação de serviço, descrevendo o que foi feito pela empresa e deve ser pago pelo cliente. Na fatura, frise-se, são atermadas igualmente algumas características do negócio realizado, tais como quantidade, qualidade e valor dos bens alienados ou dos serviços prestados. É, portanto, uma conta, como coloquialmente se diz: uma relação escrita do que se entregou ou fez e o valor correspondente, que deverá ser pago pelo comprador ou por quem se beneficiou do serviço prestado. Uma conta que se assina, reconhecendo a existência do negócio e, se não há o respectivo pagamento, do crédito correspondente.
Requisitos essenciais
A duplicata, enquanto título padronizado, deverá trazer os seguintes requisitos (art. 2º, §1º, da Lei n. 5.474/68):
Denominação “duplicata”: a duplicata deve conter, antes de mais nada, a denominação duplicata, deixando clara a natureza jurídica do documento.
Data de emissão: é um requisito necessário, mas a indicação equivocada da data de emissão da duplicata não torna o título nulo. Não se refere a lei ao local de emissão, mas ele só pode ser a sede ou o estabelecimento do sacador.
Número de ordem: deve indicar o número de ordem correspondente, constituído a partir de uma sequência numérica que permita ao emitente organizar sua contabilidade.
Fatura (número da fatura): como a duplicata é tirada a partir da conta assinada, isto é, da fatura, deverá trazer o número dessa fatura. Uma duplicata somente pode referir-se a única fatura; não se pode emitir uma duplicata para mais de uma fatura, como assevera o artigo 2o, § 2o, da Lei das Duplicatas.
Data de vencimento ou à vista: a duplicata deve trazer a data certa do vencimento ou a declaração de ser a duplicata a vista. É fundamental observar que a lei se refere a data certa, não contemplando a hipótese de prazo certo. Portanto, ainda que a venda tenha-se verificado com a contratação de prazos – e não termos – para o pagamento do total ou de parcelas (o que é muito comum: 30 dias, 30 e 60 dias etc.), o emitente deverá efetuar o cálculo correspondente e criar o título, já definindo a data correspondente para o pagamento.
Nome e domicílio das partes: sacador (vendedor ou prestador de serviço que é credor da importância relativa ao negócio, constante da fatura) e sacado (o comprador dos bens ou contratante do serviço, devedor da importância anotada na fatura) deverão estar qualificados na duplicata. A lei lista como necessários o nome e o domicílio de ambos.
Valor numérico e por extenso: exige a Lei que a duplicata traga expressa a importância a pagar, em algarismos e por extenso. A duplicata indicará sempre o valor total da fatura, por disposição do artigo 3o, caput. Isso mesmo se o comprador tenha direito a qualquer rebate, isto é, a algum abatimento, desconto pelo pagamento antecipado ou em dia ou qualquer outra vantagem similar. O vendedor indicará, ademais, o valor líquido que o comprador deverá reconhecer como obrigação de pagar.
Praça de pagamento: a duplicata deverá indicar o lugar de pagamento que, respeitado o artigo 327 do Código Civil, será, em regra, o domicílio do devedor, salvo se as partes convencionarem diversamente, ou se o contrário resultar da lei, da natureza da obrigação ou das circunstâncias. É dever do emitente que indica outro lugar que não o domicílio do devedor provar ser lícita a utilização da exceção em oposição à regra.
Cláusula à ordem: exige a Lei no 5.474/68 que a duplicata traga a cláusula à ordem, não contemplando a possibilidade de inserção da cláusula não à ordem. Isso quer dizer que a duplicata é transmissível por endosso.
Declaração de reconhecimento: a duplicata trará, ainda, uma declaração do reconhecimento de sua exatidão e da obrigação de pagá-la, a ser assinada pelo comprador, como aceite cambial. Essa declaração, na forma da Resolução no 102/68/Bacen, será: “Reconheço(emos) a exatidão desta duplicata de VENDA MERCANTIL [ou de PRESTAÇÃO DE SERVIÇO] na importância acima que pagarei(emos) a [nome do emitente] ou à sua ordem na praça e vencimento indicados”.
Assinatura do emitente: por fim, a duplicata trará a assinatura do emitente, sendo lícito que a chancela seja aposta por representante que tenha poderes para tanto.
Figuras intervenientes
Sacador: na duplicata, ao contrário dos outros títulos de crédito já tratados, quem saca o título de crédito é o credor (vendedor), em face do sacado (devedor).
Sacado: como na duplicata os polos se invertem, o sacado aqui é o devedor (comprador),que se compromete a pagar pela mercadoria adquirida ou serviço prestado.
Remessa da duplicata (prazo)
Uma vez criada a duplicata pelo credor, seja ele o vendedor ou o prestador de serviço, deverá ser providenciada sua remessa para o devedor, num prazo de 30 (trinta) dias, contado da data de sua emissão. Essa remessa poderá ser feita diretamente pelo vendedor ou por seus representantes, ou mesmo por intermédio de instituições financeiras, procuradores ou correspondentes que se incumbam de apresentá-la ao comprador na praça ou no lugar de seu estabelecimento, podendo os intermediários devolvê-la, depois de assinada, ou conservá-la em seu poder até o momento do resgate, segundo as instruções de quem lhes cometeu o encargo. É o que estipula o artigo 6o da Lei de Duplicatas. Se a remessa for feita por intermédio de representantes, instituições financeiras, procuradores ou correspondentes, esses deverão apresentar o título ao comprador dentro de 10 (dez) dias, contados da data de seu recebimento na praça de pagamento.
Essa remessa tem por intuito não o pagamento, mas a assinatura pelo sacado, que, reconhecendo a existência do débito, nos contornos em que lançado na duplicata, deverá firmar a declaração do reconhecimento de sua exatidão e da obrigação de pagá-la, impressa no título, tornando, assim, inequívoca a existência da obrigação de pagar. Essa assinatura tem o efeito de um aceite. De qualquer sorte, seja conduzida ou levada pelo próprio emitente, seja por preposto, seja por intermédio de representante, instituições financeiras, procuradores ou correspondentes, a apresentação é obrigação do credor, que deve levar o título ao devedor; não está o devedor obrigado a dirigir-se, a qualquer prazo, ao estabelecimento do credor para assinar a duplicata.
Tendo recebido a duplicata, o devedor poderá assiná-la, reconhecendo o débito ali assinalado, com os contornos ali determinados (legitimidade do sacador, número e valor da fatura, número de prestações e seu valor, data de vencimento, desconto contratado – com respectivo prazo de validade e condições), ou recusar o aceite, fazendo-o por declaração escrita e devidamente assinada. Nas duas hipóteses, o título e, eventualmente, a declaração de recusa, deverão ser devolvidos ao credor dentro do prazo de 10 (dez) dias, contado da data de apresentação.
Se o credor não tem interesse em colocar o título em circulação, tendo-o entregado a uma instituição financeira para cobrança (o que caracteriza endosso-mandato), poderá o sacado reter a duplicata em seu poder até a data do vencimento, desde que haja expressa concordância da instituição financeira cobradora e que se providencie, por escrito, uma comunicação à apresentante do aceite e da retenção para pagamento. A regra está inscrita no artigo 7o da Lei de Duplicatas que ainda prevê, em razão de alterações promovidas pela Lei no 6.458/77, que a comunicação de aceite e retenção substituirá, quando necessário, no ato do protesto ou na execução judicial, a duplicata a que se refere.
Aceite
Falta: faltar o aceite significa omitir aceitação, ou seja, não se confirma a aceitação. Aqui, não se nega, apenas omite o aceite. Quando há silêncio, presume-se a falta de aceite. Aqui, pode-se antecipar o vencimento, por meio do protesto.
Recusa: a recusa do aceite não pode ser verbal, devendo obrigatoriamente ser formal, por escrito, justificada. E a Lei das Duplicatas só aceita a recusa formal se for por mercadoria avariada ou não recebimento de mercadoria, por vício, defeito, diferença de qualidade ou quantidade, ou por divergência de preços e prazos. Se não for por um desses motivos, não pode haver a recusa do aceite. Mas isso abre muitas possibilidades para o mau pagador, que pode recusar o aceite por qualquer coisa. Então, nesses casos, o credor pode antecipar o vencimento, por meio de protesto.
Total ou parcial: o aceite da duplicata pode ser total, quando todos os termos da duplicata estão certos, ou parcial, quando o devedor discordar de algum dos termos nela constantes. Aqui, nos casos de aceite parcial, o credor também pode antecipar o vencimento, por meio do protesto.
Recusa do aceite
Avaria ou não recebimento de mercadorias: uma avaria é um dano, deterioração ou desgaste que a mercadoria tenha sofrido; o não recebimento de mercadoria consiste em o comprador não receber as mercadorias dentro do prazo ou sequer recebe-as.
Vícios, defeitos, qualidade ou quantidade: a diferencia entre vício e defeito é bem simples. O vício é algo constante especificamente do produto, como um computador que não funciona; já um defeito existe quando, além de “prejudicar” o produto, também afeta ao usuário desse produto. Já as diferenças de qualidade e quantidade também são inerentes ao produto, sendo que o comprador pode recusar o aceite se receber menos do que comprou ou produtos de qualidade diferente da que comprou.
Divergências de preços e prazos: quando o preço dos produtos está errado, ou quando o prazo para o futuro pagamento da duplicata estiver divergente do que foi convencionado pelas partes, também poderá haver a recusa do aceite.
Protesto (prazo)
Falta de pagamento: é a forma mais clássica do protesto, como já visto anteriormente, nos outros títulos de crédito, onde o credor poderá protestar caso tenha vencido a duplicata e o devedor não tenha pago o valor estabelecido.
Falta de aceite: o protesto por falta de aceite, é realizado quando há a falta de aceite, recusa de aceite ou o aceite parcial, sendo que nessas ocasiões, o protesto é utilizado para antecipar o vencimento da duplicata.
Por devolução: aqui, quando o credor envia uma duplicata ao devedor, e este se desfaz da duplicata para não pagá-la, o credor fica sem o título, não podendo cobrá-lo. Por essa razão, a Lei permite a emissão de uma triplicata, que é uma segunda via da duplicata. Emitida a triplicata, não se envia ela ao devedor novamente, pois ele vai se desfazer dela novamente. Assim, ela é enviada diretamente para protesto, sendo que a informação de protesto será um protesto por devolução.
Coobrigados e avais: para que se possa garantir a cobrança de coobrigados e avais, o proteste deve ser feito no prazo de até 30 dias após o vencimento. Na prática isso só ocorre quando há falta de pagãmente, pois o protesto por falta de aceite e por devolução ocorrem sempre antes do vencimento, sendo que os coobrigados e avais já estão sempre garantidos antes do vencimento.
Prescrição
3 anos – sacado e avais: para se cobrar o título do sacado e seus eventuais avais, pode-se ingressar com uma ação de execução no prazo de 3 anos, a contar do vencimento do título. 
1 ano – protesto para cobrança de endossante e avais: para que se possa cobrar os coobrigados do título e seus avais, deve-se sempre haver o protesto, sendo que aqui também há um prazo específico para o protesto com esse fim, que seja até 30 dias após o vencimento. Realizado corretamente o protesto, o prazo para executar os coobrigados e seus avais será de um ano a contar do protesto.
1 ano – coobrigados entre si (pagamento ou execução): a cobrança dos coobrigados entre si também terá o prazo de 1 ano, a contar do pagamento ou da execução do título. Cabe dizer que é tudo dentro do mesmo ano, para todos os coobrigados cobrarem entre si.

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