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Obras Hidráulicas Aula 3 – Erosão; Transporte de Material Sólido. Erosão Obras Hidráulicas Denomina-se erosão o processo físico de desmonte, transporte e deposição das rochas que pode ter as seguintes causas: - águas superficiais (erosão hídrica); - vento (erosão eólica); - gelo (erosão glacial); - ondas e correntes marítimas; - agente químicos (erosão química); - agentes orgânicos (erosão biológica). vleit Realce Erosão Obras Hidráulicas Para os engenheiros, o fenômeno da erosão tem grande importância pois ela provoca o nivelamento da superfície terrestre, destruindo as elevações e preenchendo as depressões, afetando a conformação superficial do planeta. Esta tendência ao nivelamento é muito mais pronunciada nos continentes, com a ação das águas correntes e dos ventos, que nas áreas oceânicas, onde as correntes têm velocidades muito pequenas. Interessa a particularmente ao engenheiro a erosão fluvial. Para se ter idéia da ação das águas superficiais, basta lembrar a importância da formação das grandes planícies aluvionares e os deltas dos rios, resultados da erosão produzida pela ação fluvial. Nas planícies do Rio Yang-Tsé, na China, vivem mais de cem milhões de pessoas, praticamente a população total do Brasil. vleit Realce vleit Realce Erosão Obras Hidráulicas Os grandes rios carregam uma quantidade enorme de material sólido proveniente da erosão. Pode-se citar: - O Rio Amazonas transporta cerca de 1 bilhão de m3/ano. Levada pela corrente equatorial, boa parte desses sedimentos vão se depositar nas costas da Flórida; - O Rio Paraná transporta perto de 15 milhões de m3/ano; - O Rio Yang-tsé transporta 2 bilhões de m3/ano e deve o seu nome (Rio Amarelo) à cor de suas águas, ocasionada pela enorme carga de sedimentos; - O Rio Bermejo, afluente do Paraguai, transporta 1 a 2 milhões de m3/ano. Na época das enchentes, a concentração de material sólido é tão intensa que se tem a impressão que escoa uma lama grossa. Erosão Obras Hidráulicas Do ponto de vista da engenharia, a erosão fluvial apresenta importância sob diversos aspectos, dentre os quais: - equilíbrio do leito do rio. Estabilidade das seções e sua influência na navegação; - assoreamento e consequências para a navegação e para o próprio escoamento; - estabilidade das obras de arte. Erosão descontrolada ou não prevista pode ocasionar a queda de pontes, obras de proteção, barragens, etc: - desgaste das turbinas pelo aporte de material sólido. vleit Realce Estudo das forças erosivas Obras Hidráulicas Considere um canal com declividade i, através da qual escoa uma vazão Q, para a qual o material do leito se mantém estacionário. Para uma certa vazão Q2 > Q, uma quantidade de partículas sólidas começarão a se movimentar, situação esta atingida quando o esforço hidrodinâmico sobre a partícula torna-se maior que os esforços que resistem ao movimento. Esta condição é conhecida como Condição Crítica de Movimento ou Condição de Início de Movimento das partículas. Estudo das forças erosivas Obras Hidráulicas Os materiais dos leitos naturais podem ser coesivos (siltes e argilas) e não-coesivos (areia). Os coesivos, que se apresentam agregados pela ação de forças atrativas, tem maior resistência à erosão. Os não- coesivos apresentam-se como partículas soltas, que se movimentam individualmente. Existem dois conceitos usuais para o estudo do início de movimento dos sedimentos: a) conceito de velocidade erosiva crítica (Vc); b) conceito de tensão erosiva crítica dos grãos (τc). (Pode ser encontrado também sob os nomes de tensão de arraste e tensão de cisalhamento). Os valores críticos constituem os limites superiores da condição de repouso dos sedimentos e, quando superados, ocorre o início do movimento dos grãos. vleit Realce vleit Realce Velocidade Erosiva Crítica (Vc) Obras Hidráulicas Apesar de antigo, é ainda hoje utilizado para o estudo da movimentação do material do leito. Vc é função das características das partículas: Vc = f(d, gs, forma) Fórmulas Práticas: Vc = k.P1/6 (Brams) Onde: k – coeficiente tabelado P – peso da partícula vleit Realce Tensão Erosiva Crítica (τc) Obras Hidráulicas Noção mais moderna, que se adapta melhor às teorias de turbulência. Considere uma massa líquida escoando sobre seu leito com profundidade y e inclinação i. Separando um “bloco de água” de comprimento l, perímetro molhado P e área A, considerando que este “bloco” escoa em regime uniforme, a aceleração da massa líquida é nula e, portanto, o somatório das forças externas que atuam sobre esta massa é igual a zero. Tensão Erosiva Crítica (τc) Obras Hidráulicas Partindo desse esquema, podemos chegar na Fórmula de Du Boys, onde τ é denominada “Força Erosiva”. O correto é chamar de Tensão Erosiva ou de Cisalhamento Interno. τ = g.RH.i Para cada material, há um τc que dá início ao movimento do material do leito. Depende de: - densidade do grão (gs); - dimensão do grão (r); - forma do grão - distribuição granulométrica - coesão entre os grãos vleit Realce Tensão Erosiva Crítica (τc) Obras Hidráulicas A percepção da influência da densidade e da dimensão dos grãos é imediata: grãos mais pesados são mais difíceis de movimentar que os mais leves, assim como grãos menores iniciam a movimentação antes dos grãos maiores do mesmo material. Grãos de formato esféricos são mais facilmente postos em movimento que os achatados, de forma lamelar, que têm maior poder de imbrincamento. A movimentação de grãos que tenham todos o mesmo diâmetro é diferente do que seria se tivessem uma distribuição de partículas de diâmetros diferentes, compondo uma massa mais compactada. Finalmente, a presença de forças coesivas entre os grãos aumenta significativamente o ponto de início de movimento das partículas. vleit Realce Tensão Erosiva Crítica (τc) Obras Hidráulicas Tensão Erosiva Crítica (τc) Obras Hidráulicas Fórmulas Práticas Estabilidade de cursos d’água em função da distribuição de tensões de arraste Obras Hidráulicas No desenvolvimento anterior foi considerado que a tensão de cisalhamento era constante ao longo de todo o leito do rio. Na realidade ela é dependente da profundidade e do ângulo α, conforme o esquema abaixo: Estabilidade de cursos d’água em função da distribuição de tensões de arraste Obras Hidráulicas A Fórmula Básica para o transporte de sedimentos é escrita como: τ =g.y.i e, na figura: τm = km.g.y.i τm’ = km’.g.y.i Os valores de τm e τm’ são tabelados em função da relação y/B (profundidade/largura) e da inclinação da margem α. Estabilidade de cursos d’água em função da distribuição de tensões de arraste Obras Hidráulicas A tensão crítica (τc’) nas paredes é menor que no fundo (τc) pois as partículas já tendem naturalmente a descer, devido à força da gravidade. Demonstra-se que: onde: θ = ângulo de talude natural do terreno (ângulo de repouso); ϕ = ângulo de inclinação do talude. Transporte de material sólido pelas correntes líquidas Obras Hidráulicas O transporte de material sólido se faz por dois mecanismos: - por arraste de fundo; - por suspensão. A maioria dos autores cita, também, um modo intermediário de transporte, a saltitação. vleit Realce Transporte de materialsólido pelas correntes líquidas Obras Hidráulicas As partículas maiores e as mais pesadas são movimentadas pela corrente líquida sempre em contato com o fundo e se movem com velocidade inferior à corrente – é o transporte por arrastamento. As dunas surgem como consequência desse carreamento. Têm dimensões muito variadas, de pequenas rugas até 20 a 30 m de comprimento e 1 a 1,5 m de altura. A formação de dunas ocorre em baixas velocidades. Aumentando a velocidade da corrente, surge o transporte por saltitação, que é uma transição para o transporte por suspensão. vleit Realce vleit Realce Transporte de material sólido pelas correntes líquidas Obras Hidráulicas No transporte por suspensão, as partículas se movem no seio da massa líquida, com velocidade igual à água. Ao menos 80% da vazão sólida de nossos rios é transportada por suspensão. O restante se dá por arraste. Como não existe, na Natureza, granulometria totalmente uniforme, para uma mesma velocidade de escoamento, temos transporte de sedimentos pelos três modos. vleit Realce Transporte de material sólido pelas correntes líquidas Obras Hidráulicas Definições: a) Transporte em Trânsito - é o material sólido que não participa da movimentação geral das partículas sólidas. b) Limite Superior de Transporte - é a quantidade máxima de material que pode ser transportado. É a saturação, a plena capacidade de transporte do curso d’água. c) Vazão Sólida - é a quantidade de material sólido que passa por uma seção, numa unidade de tempo. vleit Realce vleit Realce vleit Realce Transporte de material sólido pelas correntes líquidas Obras Hidráulicas Definições: a) Transporte em Trânsito - é o material sólido que não participa da movimentação geral das partículas sólidas. b) Limite Superior de Transporte - é a quantidade máxima de material que pode ser transportado. É a saturação, a plena capacidade de transporte do curso d’água. c) Vazão Sólida - é a quantidade de material sólido que passa por uma seção, numa unidade de tempo. Transporte de material sólido pelas correntes líquidas Obras Hidráulicas Fórmulas para Estimar a Vazão Sólida: Transporte de material sólido pelas correntes líquidas Obras Hidráulicas Medida da Vazão Sólida As equações empíricas para quantificação da vazão sólida não resultam satisfatórias, razão pela qual costuma-se preferir a medida direta. A diferença no resultado da aplicação de duas equações pode chegar a 200%. O grande problema dos equipamentos de medição é que eles interferem no escoamento, afetando os resultados. Várias instituições de pesquisa desenvolveram modelos de amostradores que procuram interferir o mínimo no escoamento. É o caso da Delft, na Holanda, o mais renomado centro de pesquisa em Hidráulica da Europa e o CTH, em São Paulo. São apresentados, abaixo, alguns desses modelos. vleit Realce vleit Realce Transporte de material sólido pelas correntes líquidas Obras Hidráulicas Para o transporte por arraste costuma-se considerar de 10 a 20% do transporte em suspensão. Nos trabalhos de maior responsabilidade, a medição pode ser feita por equipamentos específicos de coleta ou por valas escavadas no fundo, medindo-se o tempo que se leva para o preenchimento de um certo volume. Transporte de material sólido pelas correntes líquidas Obras Hidráulicas Transporte de material sólido pelas correntes líquidas Obras Hidráulicas Transporte de material sólido pelas correntes líquidas Obras Hidráulicas Evolução dos cursos d’água Pode ser considerada: - a longo prazo, nas eras geológicas (interesse dos geólogos) - a curso prazo - interessa aos engenheiros civis. Planície de Sedimentação - depósitos sedimentares trazidos pelo próprio rio, caracteriza-se pela seleção granulométrica: mais finos, quanto mais para jusante. vleit Realce vleit Realce Transporte de material sólido pelas correntes líquidas Obras Hidráulicas Planície de Inundação - depósitos lentos nas margens inundadas. Os rios evoluem livres nas planícies, sobre seus próprios aluviões. Nas planícies, portanto, os rios têm leitos móveis. A tendência geral dos cursos d’água é o nivelamento para a formação das “planiplanícies”. A força erosiva é proporcional à resistência do leito, de onde resulta que a declividade e a granulometria decrescem de montante para jusante. vleit Realce vleit Realce vleit Realce Transporte de material sólido pelas correntes líquidas Obras Hidráulicas Abrasão - é o fenômeno de desgaste dos grãos em movimento. Segundo Sternberg, a perda de peso do grão pode ser expressa por: -dp = c.p.dx onde: dp é a perda de peso do grão, p o seu peso, dx o percurso do grão e c o coeficiente de abrasão específica, tabelado para diferentes materiais. Esta expressão foi verificada em vários rios (Danúbio, Reno etc.). vleit Realce Transporte de material sólido pelas correntes líquidas Obras Hidráulicas Erosão Retrógrada dos Talvegues - a maior erosão nas cabeceiras, onde há maior declividade, tende a fazer com que o talvegue avance para montante, ocasionando uma migração da linha de partilha, aumentando constantemente a sinuosidade da linha do divisor de águas entre bacias hídricas. vleit Realce Transporte de material sólido pelas correntes líquidas Obras Hidráulicas Captura Fluvial - a erosão retrógrada do rio pode resultar, em casos extremos, a captura, por um rio de nível mais baixo, de um rio de outra bacia situada em cota mais elevada. Este fenômeno ocorreu, há eras geológicas passadas, com os rios Paraibuna e Paraitinga, formadores do Rio Paraíba do Sul, que antes pertenciam ao Rio Tietê e foram “capturados” pelo primeiro. O fenômeno acontece ainda hoje intensamente na Cordilheira dos Andes, gerando conflitos de fronteiras principalmente entre Chile e Argentina. vleit Realce Transporte de material sólido pelas correntes líquidas Obras Hidráulicas Perfil de Equilíbrio - é uma curva de concavidade para cima, contínua e tangente à horizontal no limite de jusante. Possibilita examinar o efeito de corte de meandros, variações de níveis de base, etc. A partir da hipótese de Sternberg, verificada como válida na prática, que Q/b ≈ constante, onde Q é a vazão e b a largura do rio, admitindo válida a equação de Chezy e aplicando-se hipóteses de equilíbrio, resulta: vleit Realce Transporte de material sólido pelas correntes líquidas Obras Hidráulicas Esta expressão foi verificada como válida em vários rios. É, porém, baseada em premissas e hipóteses bastante frágeis. Transporte de material sólido pelas correntes líquidas Obras Hidráulicas Meandros Um leito retilíneo é instável; qualquer perturbação ou irregularidade produz uma inflexão dos filetes e erosão nas margens dando, em conseqüência, nova inflexão, erosão na outra margem e encurvamento no leito. Dessa forma, tem-se uma diminuição da declividade unitária J, e portanto uma redução da força erosiva. vleit Realce Transporte de material sólido pelas correntes líquidas Obras Hidráulicas Meandros As curvas assim formadas, chamadas meandros, são a maneira com que o rio busca sua situação de equilíbrio. Devido ao processo erosivo que ocasiona sua formação, elas tendem a se deslocar para jusante, acentuando suas curvas e chegando às formascaracterísticas de alças. Nas cheias, as alças podem cortar o meandro, aumentando a declividade do trecho e, portanto, sua força erosiva, formando novos meandros e o equilíbrio pode nunca ser alcançado. No corte, os trechos isolados do rio formam as “lagoas em crescente” ou em “meia lua”. vleit Realce Transporte de material sólido pelas correntes líquidas Obras Hidráulicas Transporte de material sólido pelas correntes líquidas Obras Hidráulicas Escoamento em leito curvilíneo Nas curvas, a linha d’água não é horizontal devido à força centrífuga, sendo mais alta no lado côncavo. Resulta, pelo peso da massa líquida, uma corrente transversal que ocasiona correntes helicoidais que erodem a margem côncava e transporta e deposita os sedimentos na parte convexa. vleit Realce Transporte de material sólido pelas correntes líquidas Obras Hidráulicas Escoamento em leito curvilíneo Nas curvas nota-se sempre uma assimetria da seção transversal, com a profundidade maior localizando-se sempre do lado da margem côncava. Este fato explica bem o mecanismo do deslocamento dos meandros para jusante. Erosão em pilar de ponte Obras Hidráulicas Relação entre planta e seção transversal Não existe uma relação matemática correta entre forma da seção transversal e o curso do rio. A fórmula empírica de Ripley foi obtida comparando-se vários rios em equilíbrio. Fornece uma “seção média”, em função do raio de curvatura do eixo do rio. vleit Realce Transporte de material sólido pelas correntes líquidas Obras Hidráulicas Erosão em pilar de ponte Obras Hidráulicas Como já visto em aulas anteriores, os rios com leito arenoso estão em equilíbrio dinâmico permanente, mesmo quando se leva em consideração seus ciclos periódicos de enchentes e estiagens. A causa da erosão ou do rebaixamento do leito é o desequilíbrio no trecho considerado. Erosão em pilar de ponte Obras Hidráulicas No Rio Paraíba do Sul, por exemplo, ocorre esse problema em boa parte do trecho paulista devido à: · construção das barragens de montante (Santa Branca, Paraibuna e Paraitinga); · retificação do rio, com corte de meandros; · retirada contínua de areia. Erosão em pilar de ponte Obras Hidráulicas Quando da existência de pontes (com pilares), há dois princípios a considerar: a) redução da seção de escoamento – ocasiona perda de carga localizada. Esse efeito é desprezível atualmente, pela possibilidade técnica de se construir pilares esbeltos. b) Efeito direto do pilar – o “choque” do escoamento contra o obstáculo estabelecido pelo pilar provoca erosão localizada que é necessário saber dimensionar. vleit Realce vleit Realce vleit Realce Erosão em pilar de ponte Obras Hidráulicas O obstáculo oferecido pelo pilar provoca, no escoamento, o surgimento de vórtices-ferradura, de alto poder erosivo devido ao aumento local da turbulência. Exemplo: Ponte Presidente Eurico Gaspar Dutra, no Rio Araguaia. Apresenta oscilação normal de 4 a 6 m. + 2 m de erosão localizada. Na soma dos dois efeitos, há pontos, logo a jusante da ponte, com rebaixamentos da ordem de 10 m. vleit Realce Erosão em pilar de ponte Obras Hidráulicas Parâmetros Característicos para Definir a Profundidade de Erosão · dimensão do pilar; · forma do pilar (área de ataque); · posição do pilar em relação ao escoamento; · profundidade do escoamento (superfície de impacto). Com importância secundária, pode-se relacionar, também: · diâmetro do material de fundo; · velocidade do escoamento. vleit Realce Erosão em pilar de ponte Obras Hidráulicas Erosão em pilar de ponte Obras Hidráulicas EQUAÇÕES PRÁTICAS: vleit Realce Erosão em pilar de ponte Obras Hidráulicas EQUAÇÕES PRÁTICAS: vleit Realce Erosão em pilar de ponte Obras Hidráulicas EQUAÇÕES PRÁTICAS: vleit Realce Erosão em pilar de ponte Obras Hidráulicas EXERCÍCIO Calcular a profundidade da fossa junto a um pilar com as seguintes características: · forma: circular; · diâmetros: 0,5m; 1,0m; 2,0m; · profundidade: 6,0m; · diâmetro médio do material do leito: 1,0mm; · velocidade média do escoamento: 1,0m/s; · gs = 2.650 kg/m³; · ga = 1.000 kg/m³. Calcular pelas equações de Larras, Shen e Carsten