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UNESP-IBILCE-DZB-Fisiologia Vegetal 75 ********************************************************************************************************************************** CAPÍTULO 11 – CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO *********************************************************************************************************************************** 1. INTRODUÇÃO As plantas iniciam sua vida como uma célula única, e depois crescem e se desenvolvem como um organismo multicelular. À medida que cresce, além de aumentar sua massa em volume, a planta também se diferencia, produzindo muitos tipos de células, tecidos e órgãos. Há muitos anos os fisiologistas vegetais buscam compreender quais seriam os agentes sinalizadores responsáveis pela organização celular das plantas, que permitiriam que a partir de uma única célula pudesse ser constituído um organismo tão complexo. Muitos detalhes do modo pelo qual esses processos são regulados permanecem desconhecidos, mas tornou-se claro que o desenvolvimento normal depende da ação recíproca de um certo número de fatores internos e externos. 2. CRESCIMENTO x DESENVOLVIMENTO O crescimento relaciona-se com o aumento do número e tamanho das células do organismo, sendo considerado um fator quantitativo que pode ser avaliado por instrumentos de medida. O desenvolvimento refere-se à aquisição de capacidade funcional, sendo um fator qualitativo que não pode ser avaliado numericamente. Sob o enfoque fisiológico, o crescimento deverá levar ao desenvolvimento, considerando-se que desenvolvimento significa mudanças nas relações internas de células, tecidos, órgãos ou da planta inteira. O crescimento e o consequente desenvolvimento dependem da absorção e processamento do material absorvido (água, energia, CO2, nutrientes do solo, etc.), numa interação entre o ambiente e o potencial genético da planta. O processo de crescimento e desenvolvimento inicial, a partir do meristema apical do caule, pode ser dividido em 3 fases. Na fase I, há intensa atividade mitótica das células meristemáticas, resultando em células semelhantes que se multiplicam, ainda sem crescimento em volume. Na Fase II, células filhas já apresentam crescimento, modificação de forma e plano de divisão. Na fase III, chamada de diferenciação, ocorre alongamento e modificações morfológicas relacionadas com a função celular nos novos tecidos que se definem. Portanto, a célula formada apresenta características metabólicas, estruturais e funcionais distintas daquelas da célula que lhe deu origem. Em vegetais, a diferenciação frequentemente é reversível, particularmente quando o tecido é extraído e mantido em meio de cultura; a exceção ocorre para as células que se tornam anucleadas (floema, traqueideos). O modo pelo qual o desenvolvimento se processa é ainda objeto de muita discussão entre os pesquisadores, embora algumas evidências sejam aceitas unanimemente, como a contínua monitoração do ambiente e a comunicação entre células vizinhas. A identificação das moléculas que atuam como sinalizadoras ainda está em seu princípio; os hormônios vegetais constituem um grupo destas moléculas, mas há muitas outras. 3. O CICLO VITAL DAS PLANTAS SUPERIORES O ciclo vital das plantas superiores (compreendendo Gimnospermas e Angiospermas) pode ser estudado a partir da germinação da semente até a fase madura, podendo atingir a senescência e morte do indivíduo (Esquema 11.1). Como em todo processo de desenvolvimento, os limites entre as diferentes fases não são claramente determinados, e a duração de cada uma varia com a espécie e com mudanças microclimatológicas. UNESP-IBILCE-DZB-Fisiologia Vegetal GERMINAÇÃO DA SEMENTE: Envolve uma série de mecanismos acionados inicialmente pela absorção de água (embebição), a qual estimula a ação de hormônios que atuam na hidrólise do material de reserva (amido, proteínas e/ou lipídeos, de acordo com a natureza da semente). O material hidrolisado é transportado para o embrião, o qual começa a crescer, por multiplicação, alongamento e diferenciação das células meristemáticas que o compõe. ESTÁDIO DE PLÂNTULA: Em condições naturais, no solo, a semente germina, emerge, recebe luz e os cotilédones e/ou a(s) folha(s) primária(s) têm condições de iniciar o processo de fotossíntese. O estádio de plântula compreende desde a germinação até o estabelecimento da nova planta, capaz de se manter autotroficamente. Observação: Estádio refere-se a uma fase de desenvolvimento que não se repetirá mais: a planta nunca mais será uma plântula. Estágio é uma fase que pode se repetir, como a floração anual. JUVENILIDADE: Esta fase, também chamado de vegetativa, se caracteriza pela incapacidade da planta se reproduzir. MATURIDADE: Este período apresenta duas fases: reprodutiva e senescência. Ao longo do período vegetativo, o balanço hormonal da planta vai se modificando até atingir o ponto de indução floral, a partir do qual se inicia o processo de floração que permitirá a reprodução sexuada da planta, caracterizando a fase reprodutiva. O início desta fase pode ser retardado ou adiantado em função de mudanças ambientais, como comprimento do dia (ou da noite) e temperaturas (especialmente as baixas). Em casos extremos, pode ser totalmente inibida, se a planta exigir condições específicas do ambiente para a indução floral. O tempo de duração desta fase também pode ser afetado por condições ambientais, dependendo da sensibilidade de cada espécie. A senescência pode se referir a um órgão em particular, como nas plantas perenes, ou à planta toda, no caso das plantas anuais. Nestas, as reservas são mobilizadas para atender os órgãos de reprodução; a planta é esgotada, e depois entra em senescência, morrendo. 4. A PAREDE CELULAR A parede celular desempenha importantes funções para o vegetal: garante uma barreira contra a invasão de patógenos; atua como um ´exoesqueleto´; gera o potencial pressão (essencial para os trabalhos do vegetal, incluindo o crescimento celular) e promove a junção das células. A parede celulósica primária é composta de 75 a 80% de água. O estado de hidratação é um determinante importante das propriedades físicas da parede, pois a remoção de água a torna mais rígida e menos extensível. Os componentes estruturais da parede celular são mostrados na Tabela 11.1 e Figura 11.2. A proporção dos componentes da matéria seca varia muito entre tipos celulares; de um modo geral, ficam em torno de 25% de celulose, 35% de pectinas, 25% de hemicelulose, e entre 1 a 8% de proteína estrutural. Conforto, E.C., 2014 76 UNESP-IBILCE-DZB-Fisiologia Vegetal As proteínas estruturais variam bastante em sua abundância, dependendo do tipo de célula, grau de maturação e de estimulação prévia. Lesão e ataques de patógenos aumentam a expressão dos genes que codificam muitas destas proteínas. Tabela 11.1. Componentes estruturais de parede celulares vegetais. Classe Exemplos Celulose Microfibrilas de β-(1-4)- D-glucano Polissacarídeos da matriz Pectinas Homogalacturonano, Ramnogalacturonano, Arabinano, Galactano Hemiceluloses Xiloglucano, Xilano, Glucomanano, Arabinoxilano, Calose β-(1-3)D-glucano Lignina Proteínas Estruturais HRGP (glicoproteína rica em hidroxiprolina), PRP (proteína rica em prolina), GRP (proteína rica em glicina), AGPs (proteínasarabinogalactanas) 5. O ALONGAMENTO CELULAR Antes de atingir a maturidade, as células vegetais expandem-se de 10 a 100 vezes em volume, e em casos extremos, como os elementos de vaso, até mais de 10.000 vezes. A parede celular sofre esta expansão profunda sem perder sua integridade mecânica e sem se tornar mais delgada, porque polímeros recém- sintetizados são integrados à parede sem desestabilizá-la. Ignora-se exatamente como esta integração é realizada. A taxa de expansão da parede celular é influenciada por vários fatores: tipo e a idade da célula; hormônios atuantes e condições ambientais, como a luz e disponibilidade de água. Tais fatores internos e externos provavelmente modificam a expansão celular, sendo que a parede pode afrouxar e expandir de um modo reversível ou irreversível. 5.1. EXPANSÃO CELULAR A entrada de água é comandada pelo gradiente de potencial hídrico, como já visto. Em uma célula que não está crescendo, a absorção da água aumenta o volume celular, dentro do permitido pela resistência física da parede. A entrada de água aumentará a Potencial Pressão (Ψp), e como consequência, aumentará o Potencial Hídrico celular (ΨW), que tenderá a se igualar ao Potencial Hídrico do meio. Assim, a célula sobre uma expansão reversível, ou elástica, visto que se ela perder água sob outra circunstância, irá novamente diminuir de tamanho. Em uma célula em crescimento temos uma situação oposta. A entrada de água causa uma expansão da parede, que está bioquimicamente afrouxada (veja item 5.2); com isto, ela CEDE à pressão da entrada de água e aumenta de tamanho. Assim, não ocorre aumento do Potencial Hídrico, e o ΨW do interior não se iguala ao do exterior ou seja, a água continuará fluindo do local de maior para menor energia, causando mais e mais entrada de água (até o limite indicado no item 5.3). Assim, a expansão da parede, neste caso, é plástica, ou seja, irreversível, causando aumento na superfície e no volume da célula. Portanto, a ação do potencial pressão sobre a parede celulósica é a diferença física decisiva entre células em crescimento e células que não estão crescendo. Conforto, E.C., 2014 77 UNESP-IBILCE-DZB-Fisiologia Vegetal Um mecanismo que causa a cedência da parede é a acidificação da parede celular, resultante de extrusão de prótons através da membrana plasmática. O afrouxamento da parede celular é intensificado em pH ácido. 5.2. CRESCIMENTO ÁCIDO É verificado que as paredes celulares em crescimento se estendem muito mais rápido no pH ácido do que no neutro. Este fenômeno é chamado de crescimento ácido. Nesta hipótese de crescimento, amplamente aceita, os íons de hidrogênio agem como intermediários entre a auxina e o afrouxamento da parede celular (Figura 11.3). A fonte dos íons de hidrogênio é a [H+ATPase] da membrana plasmática, que tem sua atividade aumentada em resposta à auxina, a qual poderia agir de duas maneiras: ativando as já existentes, ou levando à síntese de novas H+ATPases. Independentemente de como ocorra a acidificação, o afrouxamento da parede induzido pela acidez é mediado pelas expansinas, que são proteínas identificadas nas paredes celulares de uma grande variedade de espécies. Em valores ácidos de pH, as expansinas afrouxam as paredes celulares pelo enfraquecimento das pontes de hidrogênio entre os polissacarídeos da parede celular, que mantém as microfibrilas juntas. 5.3. CESSAÇÃO DO ALONGAMENTO A cessação do alongamento celular, que ocorre durante a maturação da célula, é em geral irreversível, e tipicamente acompanhada por uma redução da extensibilidade da parede. Essas mudanças físicas podem ocorrer devido a uma alteração na composição da parede, produzindo uma estrutura mais rígida ou menos suscetível ao afrouxamento, bem como devido a uma redução na ocorrência dos processos de afrouxamento. Há evidências para cada uma das afirmações anteriores, mas ainda não há possibilidade de identificar o significado de todas as mudanças estruturais que levam à cessação da expansão da parede. Esquema 11.1: Esquema supersimplificado do ciclo vital de uma planta superior. Conforto, E.C., 2014 78 SEMENTE MORTE PLÂNTULA REPRODUÇÃO SENESCÊNCIA JUVENILIDADE MATURIDADE UNESP-IBILCE-DZB-Fisiologia Vegetal Figura 11.2: Representação esquemática dos principais componentes da parede celulósica primária e seu provável arranjo. (A) (B) Figura 11.3: (A) Extensão de paredes celulares isoladas induzidas por ácido e medida em um extensômetro. A amostra da parede de células mortas é presa e colocada sob tensão em um extensômetro, que mede o comprimento com um transformador eletrônico ligado a um grampo. Quando a solução que circunda a parede é removida com uso de tampão ácido (p.ex, pH 4,5), a parede estende-se irreversivelmente em uma maneira dependente do tempo (ela desliza). (B) Se o material sofre um tratamento pelo calor, a proteína expansina é inativada, e neste caso, o pH ácido não promove a expansão das paredes. Conforto, E.C., 2014 79 UNESP-IBILCE-DZB-Fisiologia Vegetal ***************************************************************************************************************************** CAPÍTULO 12- TEXTOS INTRODUTÓRIOS ****************************************************************************************************** I. HORMÔNIOS VEGETAIS – UMA VISÃO GERAL 1. DEFINIÇÃO Hormônio vegetal é um composto orgânico, que não um nutriente, de ocorrência natural, produzido na planta em baixas concentrações (na ordem de 10–4 M), que promove, inibe ou modifica respostas bioquímicas, fisiológicas e/ou morfológicas. Tantos os hormônios naturais quanto substâncias sintéticas, que exercem efeitos semelhantes, são denominados conjuntamente de Reguladores de Crescimento Vegetal. Diferentemente do que ocorre nos animais, os hormônios vegetais não são produzidos em glândulas, mas sintetizados em praticamente toda célula metabólica ativa. O transporte dos hormônios vegetais pode ocorrer via xilema, floema ou células parenquimáticas. 2. TIPOS DE HORMÔNIOS Os hormônios clássicos são as Auxinas (AX), Giberelinas (GA), Citocininas (Ck), Etileno, Ácido Abscísico (ABA) e mais recentemente (edição de 2009 do Taiz & Zeiger), os Brassinosteróides (Br). Vários outros compostos que podem afetar o crescimento e o desenvolvimento vegetal têm sido descritos, embora nem todos os livros didáticos façam referência a eles, e nem todos ainda possam ser definidos como Hormônios Vegetais. Nesta classe de compostos estão as Poliaminas (PA), Ácido Jasmônico (JA), Ácido Salicílico (AS) e Óxido Nítrico (NO). Devido à diversidade de efeitos e locais de produção, é recomendável que o esquema ao final dos capítulos sobre os hormônios seja preenchido à medida que o conteúdo for sendo ministrado. 3. RETARDADORES E INIBIDORES DE CRESCIMENTO Dentre as substâncias artificiais que atuam sobre o desenvolvimento das plantas, podemos destacar duas classes: Retardadores de crescimento: retardam o crescimento do meristema subapical. Os mais utilizados são o ácido succínico 2,2di metil hidrazida (sigla SADH), de nome comercial B-Nine; cloreto (2-cloroetil) trimetilamônio (sigla CCC),de nome comercial Cycocel; cloreto de mepiquat, nome comercial Pix; ácido 2-3-5 triiodobenzóico (sigla TIBA); sulfometuron metil, nome comercial Curavial; temos ainda o Uniconazole. O SADH parece afetar a síntese do AIA e reduzir a produção de etileno, produzindo plantas ornamentais mais compactas e com flores de melhor qualidade. O CCC pode inibir a síntese de giberelinas. A aplicação do Pix em algodoeiro gera plantas de menor porte, o que permite reduzir o espaçamento entre as plantas; torna seu crescimento mais uniforme, sendo os frutos produzidos em altura similar, o que facilita a sua colheita mecanizada. Conforto, E.C., 2014 80 UNESP-IBILCE-DZB-Fisiologia Vegetal Inibidores: atuam no meristema apical, promovendo o retardamento do crescimento. Com isso, os intervalos de poda de gramados, cercas vivas e árvores podem ser ampliados. Aplicação em cana pode inibir o florescimento. Alguns antecipam a maturação. São conhecidos a hidrazida malêica (MH), de nome comercial MH-30 Royal; o AVG (amino etoxi-vinil- glicina); temos ainda o Paclobutrazol, Fusilade e o Diquat. 4. HORMÔNIOS E REGULADORES NA FORMA SINTÉTICA Os hormônios PA são de custo bastante elevado; assim, a aplicação na agricultura requer o uso de substâncias produzidas de modo comercial. Os exemplos citados a seguir serão úteis para uso nos Seminários. Auxinas: Ácido naftalenoacético (ANA): Raizon; Agritone. Ácido indolbutírico (IBA): Dieradix; Exuberone; Stim-Root. Ácido clorofenoxipropiônico (CPA): Fruitone CPA. Ácido paraclorofenoxiacético: Tomatone, Tricopyr. Ácido 2 hidroximetil 4- clorofenoxiacético: Trylone. Ácido tricloro 2-pyridiniloxiacético (3-5-6 TPA): Maxim. Giberelinas: Ácido giberélico: Activol; Pró-Gibb; Gibberellin. Etileno: Ácido 2-cloroetilfosfônico (CEPA): Etephon (comercialmente Ethrel); Polaris (amadurecedor usado em cana). Citocinina: Citozyme; BAP (benzil-amino-purina); TDZ (tidiazuron). N-2-cloro-piridil-N-feniluréia, ou forchlorofenuron: CPPU. Brassinosteroides: 24-Epibrassinolide (Lizz Agrochem) Ácido salicílico: Acibenzolar S-metil, (comercialmente chamado Bion, da firma Novartis). 2iP: isopenteniladenina. 5. TERMOS ÚTEIS PARA OS SEMINÁRIOS Os termos abaixo relacionados serão utilizados durante a preparação dos seminários. Este item está em construção, devendo receber novas contribuições à medida que surgirem dúvidas sobre outros termos. 5% de probabilidade, ou 5% de confiança; ou (alfa)=0,05, ou p > 0,05: significa que, para um determinado evento, a probabilidade da sua afirmação sobre ele ser verdadeira é de 95 vezes em 100, ou seja, em apenas 5% das vezes há possibilidade de haver erro. É o nível de significância mais utilizado em Biologia, embora a análise estatística dos dados possa indicar um alfa = 0,01, o que significa que a margem de erro é ainda menor. Por outro lado, a probabilidade de 10% é considerada pequena para uso em experimentos. Conforto, E.C., 2014 81 UNESP-IBILCE-DZB-Fisiologia Vegetal Acamamento: quando a planta adquire aspecto ´tombado´, deitado. Aminoácidos na Agricultura: compostos capazes de agir em processos morfofisiológicos do vegetal como precursores do hormônio endógeno ou como ativadores de enzimas e da disponibilidade de compostos formadores de promotores do crescimento. Ex: triptofano (precursor do AIA); metionina (precursor do etileno); produtos CODA (corretivos de carências, contendo aminoácidos muitas vezes associados a micronutrientes). Antese: período imediatamente anterior à abertura floral. Autoclavagem: técnica para esterilização de materiais, realizada numa autoclave (equipamento semelhante a uma ´panela de pressão ´ de grandes dimensões). Benlat (ou Benomyl): fungicida. Utilizamos também o Captan. Bioativadores: substâncias orgânicas complexas, modificadoras do crescimento, capazes de atuar em fatores de transcrição na planta e na expressão gênica, em proteínas da membrana alterando o transporte iônico; modificando a nutrição mineral, produzindo precursores de hormônios vegetais, os quais levarão à síntese destes hormônios, que causarão respostas. Dois potentes inseticidas sistêmicos têm demonstrado este efeito: 2-metil- 2(metiltio) propionaldeído Q – (metil carbamoyl) oxime: nome comercial Temik; 3 – (2-cloro-tiazol-5-ilmetil) – 5- metil – {1,3,5} oxiadiazinan – 4- ilideno – N- nitroamina: nome comercial Thiametoxan. Bioestimulantes: misturas de biorreguladores ou mistura de um ou mais biorreguladores com outro componente de natureza química diferente (aminoácido, vitamina, sais minerais, etc), que atuam favoravelmente no desenvolvimento vegetal. Alguns exemplos: Stimulate (GA + IBA + Ck na proporção 50:50:90 mg L –1), Promalin (GA 4+7 e BAP, na proporção 1:1); e misturas de GA + 2-4D em proporções de 15+8, ou 20+8, ou 58+8, ou 50 + 10. Blocos: método para distribuição espacial das repetições, utilizado sobretudo em campo, quando se tem certeza que existem diferenças locais que podem alterar os resultados, mas que não podem ser evitadas. Exemplo: sombreamento das plantas em certa hora do dia, devido a uma árvore ou construção. Calo (ou calus): termo utilizado em cultura de tecidos para definir uma estrutura formada por um conjunto indiferenciado de células vegetais, que não sofreram diferenciação em parte aérea e raízes, devido a desequilíbrio hormonal do meio de cultura. Casualização: procedimento que visa tornar o experimento ao acaso, a fim de que o ambiente não se torne mais uma fonte de variação. Isto pode ser conseguido através de sorteio: para colocar as bandejas numa estufa, ou para dispor as plantas no solo, p. ex. Pode-se aliar esta técnica com a montagem do experimento em blocos. Conforto, E.C., 2014 82 UNESP-IBILCE-DZB-Fisiologia Vegetal Coleoptilo (ou coleóptilo): estrutura presente em gramíneas; é a bainha que envolve o meristema apical com os seus primórdios foliares no embrião. Interpretado também como a primeira folha. Coroa: pode estar relacionado com um círculo de terra aberto ao redor da planta, dentro do qual se coloca adubo ou, no caso do morango, o nome da sua parte comestível. C.V.: Coeficiente de variação; indica a variação existente entre os valores obtidos no experimento, expressa em porcentagem. Uma margem considerada aceitável é até 20%, pois acima disto indica muita variação entre os dados. Contudo, dependendo do experimento, pode ser até previsível que esta grande variação aconteça (p. ex.: comprimento de raízes adventícias). Cultivar: (o ou a cultivar) termo que possui mais valor agronômico do que taxonômico. Refere-se a variações em uma espécie, obtidas através de melhoramento genético e cruzamentos, que conferem características mais adequadas à planta. Não há barreira contra o cruzamento de diferentes cultivares da mesma espécie, mas quando este ocorre, há uma perda do trabalho de separação das características selecionadas. Degrana: abscisão dos frutos da uva após a colheita. Desbaste: remoção de plântulas/plantas a fim de tornar a amostra mais homogênea, retirando-se as muito grandes e as muito pequenas. Desvio-padrão: é a variabilidade (para mais ou para menos) da média amostral. Ver também: erro-padrão. D.M.S= Diferença Mínima Significativa,ou no inglês, LSD (Lower Significative Difference). Alguns autores, em vez de utilizar letras após as médias, para indicar que estas diferem significativamente, utilizam o valor numérico mínimo para que as médias sejam consideradas diferentes. No caso, é o leitor quem faz a conta para saber se as médias diferem significativamente. Duncan (teste de): método para comparação das médias, incluindo todas ao mesmo tempo, e ordenando-as em ordem decrescente. Entrelinha: ver linha e entrelinha. Enxertia: técnica agrícola que permite a formação de uma planta a partir de duas outras, o enxerto e o porta- enxerto. Confere características de maior rusticidade, melhor captação de água, resistência a patógenos e maior produtividade, além de incrementar o desenvolvimento vegetativo. Pode ser feito com plantas da mesma espécie (ex: seringueira, cacau) ou de espécies diferentes (Ex. tangerina e laranja, enxertados sobre limão). Ver ainda: enxerto e porta-enxerto. Conforto, E.C., 2014 83 UNESP-IBILCE-DZB-Fisiologia Vegetal Erro-padrão: é a variabilidade associada ao desvio-padrão (erro padrão= desvio padrão / raiz N, sendo n o número de indivíduos amostrados). Enxerto: refere-se à parte aérea de uma planta enxertada. Possui boas características de produção. Popularmente é designado como ´cavaleiro´. Ver também: enxertia, porta-enxerto. Espaldar: tipo de cerca utilizada para orientar o crescimento de plantas como o maracujá. Espalhante adesivo: substância utilizada para aumentar a molhabilidade do líquido, ou seja, faz com que ele se espalhe mais sobre a superfície, permitindo maior absorção. Os produtos mais citados são o Extravon e o Tween. Estágios foliares: são descritos para as culturas. No caso da soja, p.ex., o estágio V2 refere-se à primeira folha trifoliada completamente expandia; V3, a segunda folha. Note que o certo seria ESTÁDIO. Estaquia: processo de reprodução assexuada, onde caule vegetal é submetido a tratamentos para a indução de raízes adventícias. A formação das raízes sempre deve preceder a formação de folhas, para que não haja um esgotamento dos recursos da estaca. Explante: tecido vegetativo recolhido de um vegetal e transferido para multiplicação em meio de cultura. Pode ser retirado de várias regiões da planta, uma vez que as células vegetais vivas são totipotentes. Ver: segmento nodal. Fertirrigação: técnica que alia a aplicação de adubos (fertilizantes) com a água (irrigação). Lanosidade: efeito pós-colheita verificado em alguns frutos de pêssego e nectarinas que foram armazenados sob refrigeração, causando um aspecto farinhento à polpa, além da perda de aroma e sabor. Linha e entrelinha: referem-se ás distâncias entre as plantas numa área de cultivo. As plantas são espaçadas entre si na linha (eixo x); entre as diferentes linhas (eixo y), o espaçamento deixado é referido como entrelinha. Lux: reflete a intensidade luminosa (iluminância), relacionada com o brilho (claridade) da luz percebida pelo olho humano. É de difícil conversão para unidade radiométrica (energia radiante que alcança uma unidade de área por unidade de tempo, medida por ex, em J m-2 s-1). Um lux pode ser definido em termos de fluxo luminoso, medido em lumens, por unidade de área (1 luz= 1 lúmen m -2). Valores para comparação: num dia de pleno sol, temos de 100-130 Lux, ou de 750 – 1000 J m-2 s-1. Em termos de radiação fotossinteticamente ativa (no comprimento de onda entre 400 e 700nm), teríamos de 400 –500 J m-2 s-1 ou de 1804- 2400 µmol m-2 s-1. Meio de cultura MS: meio de cultura in vitro mais tradicional, elaborado por Murashige e Skoog em 1962. Pode ser empregado em concentração reduzida em 50% (MS ½) ou 75% (MS ¾). Além deste, existem ainda: Knudson (Arditi, 1962); WPM (Lloyd & MacCown, 1981); White (White, 1943). Conforto, E.C., 2014 84 UNESP-IBILCE-DZB-Fisiologia Vegetal Mergulhia: tipo de multiplicação vegetativa que consiste em dobrar um ramo da planta-mãe até enterrá-lo no solo. A parte enterrada irá ganhar raízes, e então pode ser separada da planta-mãe, gerando uma planta independente. Uma variação desse método é a Alporquia, que consiste em fazer um corte parcial no ramo e envolver a região cortada com terra úmida, que é mantida no local por um pedaço de tecido ou plástico amarrado no ramo. Em ambos os casos, o corte e o contato com a terra úmida induzem o enraizamento, enquanto o ramo continua a receber nutrientes minerais da planta-mãe através da parte intacta do caule. Microaspersão: sistema de irrigação onde a água é aspergida através de micro-aspersores, próximo ao sistema radicular. È largamente utilizado em fruticultura, casas de vegetação, jardins, etc. Proporciona economia de água e energia, e permite a fertirrigação (uso de água e fertilizantes juntos). Micro propaga ção : outro nome utilizado para indicar que a planta foi obtida através da cultura de tecidos. Pegamento (de frutos): indica que os frutos permaneceram presos à planta e se desenvolveram normalmente; popularmente, diz-se ´vingar´. Pérgola: tipo de construção utilizada para orientar o crescimento de algumas plantas, como a videira. Perfilhamento: ocorre em arroz e trigo, por exemplo. A planta emite ´ramificações´, os perfilhos, que saem todos do mesmo ponto, próximo ao solo. Porta-enxerto: refere-se ao sistema radicular de uma planta enxertada. Possui boas características de resistência à seca, patógenos, sistema radicular profundo e eficiente. Popularmente é designado como ´cavalo´. Ver também: enxertia e porta-enxerto. Propágulo: elemento de propagação vegetativa, especialmente quando pluricelular. Raleio: método para remoção do excesso de flores (ou de frutos), a fim de que os que permanecerem possam se desenvolver melhor; procedimento bastante comum aplicado em cachos de uva. Regressão Polinomial: técnica para análise de dados, onde os pares de pontos (uma resposta em função de um estímulo) são ajustados segundo uma equação. O ajuste pode, ainda, ser linear, exponencial, de Gauss, ou outros. Permite predizer uma dose que seria a ideal para maximizar um efeito positivo ou minimizar um efeito negativo, ainda que esta dose exata não tenha sido empregada nos estudos. Repicagem: termo relacionado com cultura de tecidos; refere-se ao corte do material para obtenção de novos calos. Segmento nodal: parte do tecido retirado do segmento de caule compreendido entre dois verticilos (nó) de folhas. Mais evidente em cana-de-açúcar e milho. Conforto, E.C., 2014 85 UNESP-IBILCE-DZB-Fisiologia Vegetal Sólidos solúveis: durante o processo de amadurecimento de frutos, ácidos orgânicos são convertidos em açúcares, fornecendo melhor sabor aos mesmos. Seu teor é medido em aparelho chamado refratômetro e o grau é medido em graus Brix (ºBrix). Subcultivo: o resultado da repicagem (em cultura de tecidos). Transplantio, transplante: transferência da planta para o local definitivo de desenvolvimento. Tukey (teste de): método para comparação das médias aos pares, indicando qual é maior/menor, com significância preestabelecida. Todas as médias seguidas por mesma letra são estatisticamente iguais, com a probabilidade indicada pelo autor. Assim, média a e média ab são estatisticamente semelhantes; o mesmo vale para média a e média abc;neste caso, certamente o desvio-padrão é bem grande. Ver ainda: 5% de probabilidade. Vitrificação: outra forma para denominar a formação de calo. II. A LUZ E O DESENVOLVIMENTO DO VEGETAL A fotossíntese não é o único processo para o qual a luz é essencial. Durante o ciclo de vida vegetal, várias respostas que conferem enormes vantagens no estabelecimento e na sobrevivência da planta estão diretamente relacionadas com a duração e a qualidade da luz. As plantas podem perceber gradientes de luz e diferenças sutis na sua composição espectral, sendo capazes de detectar se estão sombreadas, sob luz solar plena, ou mesmo se é início ou final do dia. A luz, portanto, é um sinal ambiental que ao ser percebido, desencadeia mudanças no metabolismo e no desenvolvimento das plantas. A formação dos órgãos vegetais é chamada morfogênese e grande parte deste processo é mediada pela luz (fotomorfogênese, segundo Kendrick & Kronenberg). Como estudado anteriormente, somente luz absorvida é capaz de provocar uma mudança no metabolismo; por isso, precisamos estudar quais são os fotorreceptores ligados à morfogênese. Contudo, a luz, por si só, não constitui a informação morfogenética, e o mesmo pode ser dito em relação aos receptores de luz na planta. A resposta morfogenética é resultante dos efeitos da luz captada pelos fotorreceptores, que alteram o metabolismo de células que estejam sensíveis ou competentes para seguir uma nova via de desenvolvimento. Três diferentes propriedades da luz podem afetar separadamente o metabolismo e desenvolvimento de uma planta: – a qualidade espectral: o pigmento receptor determina quais comprimentos de onda serão absorvidos; – a intensidade: fluência = µmol.m.-2; – a duração, ou irradiância = taxa de fluência = µmol.m.2 s –1 A maioria dos processos biológicos influenciados pela luz, tanto para animais quanto para vegetais, ocorrem na faixa do espectro denominada luz visível que, conforme já estudado, influencia o processo Conforto, E.C., 2014 86 UNESP-IBILCE-DZB-Fisiologia Vegetal fotossintético, além da fotomorfogênese. As respostas fotomorfogenéticas estão associadas à detecção de cinco regiões do espectro visível, através de, no mínimo, quatro classes de fotorreceptores: Fitocromos, os quais absorvem predominantemente o comprimento de onda do vermelho (V, 650-680 nm) e vermelho-extremo (VE, 710-740 nm); Criptocromos, cuja denominação se deve à sua importância nas respostas morfogenéticas das criptógamas. É constituído por um conjunto de pigmentos ainda não identificados, os quais absorvem a luz na faixa do azul e do ultravioleta A (320 a 400nm); Fotorreceptores que absorvem o UV-B (280-320 nm); formados por uma ou mais substâncias ainda desconhecidas, que traduzem a informação da luz em sinais bioquímicos, por processos ainda pouco elucidados; Fototropinas, que absorvem principalmente luz azul, e são proteínas associadas ao fototropismo (movimento de crescimento mediado pela luz). Dentre os fotorreceptores ligados à fotomorfogênese, os mais bem estudados são os Fitocromos, e atualmente também há bastante conhecimento sobre os receptores da luz azul, que serão estudados nos próximos capítulos. *********************************************************************************************************************************** CAPÍTULO 13 – FITOCROMO *********************************************************************************************************************************** 1. INTRODUÇÃO São os fotorreceptores mais estudados; sua ampla distribuição (em cianobactérias, algas, musgos, samambaias e plantas superiores) indica o seu grau de importância. Os fitocromos são proteínas pigmentadas solúveis. As moléculas são dímeros proteicos (Figura 13.1) compostos de duas subunidades de 125 KDa cada. A subunidade contém um cromóforo que se liga covalentemente a uma proteína (apoproteína, que é o componente polipeptídico, mas ainda não ativo). O cromóforo é um tetrapirrol de cadeia aberta denominado fitocromobilina, sendo o componente responsável pela absorção da luz. As apoproteínas são codificadas por genes nucleares enquanto que o cromóforo, apesar de também ser codificado por genes nucleares, é sintetizado em uma via metabólica do cloroplasto (Figura 13.2). A união do cromóforo com a apoproteína ocorre no citoplasma e, se há uma enzima responsável, esta não é conhecida; contudo, sabe-se que é um processo autocatalítico, isto é, ocorre espontaneamente in vitro se os dois componentes são colocados juntos. Após a união, o conjunto recebe o nome de holoproteína (proteína ativa). Conforto, E.C., 2014 87 UNESP-IBILCE-DZB-Fisiologia Vegetal Figura 13.1: Representação esquemática da estrutura do fitocromo (à esquerda), formado por um dímero proteico, onde cada subunidade proteica liga-se a um cromóforo. Micrografias de fitocromo (à direita), onde, dependendo do corte, observam-se 2, 3 ou 4 subunidades (a, b e c, respectivamente). As angiospermas possuem várias espécies de fitocromos codificados por uma pequena família de genes (Figura 13.2). Em Arabidopsis traliana foram isolados cinco genes, que codificam as apoproteínas PHYA, PHYB, PHYC, PHYD e PHYE, as quais, após se ligarem ao cromóforo, formam os fitocromos phyA, phyB, phyC, phyD e phyE, respectivamente. Em monocotiledôneas, no entanto, não são encontrados os genes PHY D e PHY E; logo, estas não possuem os fitocromos D e E. Existem duas classes de fitocromo, com propriedades distintas, definidas em função de sua fotossensibilidade. Uma deles é encontrada com maior abundância em plantas cultivadas no escuro, enquanto que, crescidas sob luz, a quantidade dos dois tipos é praticamente igual. Deste modo, temos os fitocromos do Tipo I – fotossensível, e os do Tipo II, foto estável. Na verdade, a forma Fve (ativada) que é a instável (ver item 2). O gene PHYA é transcricionalmente ativo em plântulas cultivadas no escuro, porém sua expressão é fortemente inibida na luz em monocotiledôneas. Em eudicotiledôneas, o efeito inibitório é menos drástico, e em Arabidopsis, a luz vermelha não possui efeito mensurável sobre o PHYA. A quantidade de phyA também é regulada pela destruição da proteína, cuja forma Fve é instável. Deste modo, o phyA representa o fitocromo tipo I. O restante dos genes PHY (PHYB, C, D e E) codificam os fitocromos do tipo II. Embora sejam detectados em plantas verdes, tais fitocromos também estão presentes nas plântulas estioladas. A razão disso é que a expressão dos seus mRNAs não é significativamente alterada pela luz e as proteínas codificadas phyB a phyE são mais estáveis que as do phyA. O fitocromo é uma molécula muito difícil de purificar para ensaios in vitro. Contudo, em ensaios in vivo com tecido estiolado (sem clorofila para interferir) é possível detectá-lo. Conforto, E.C., 2014 88 UNESP-IBILCE-DZB-Fisiologia Vegetal Figura 13.2: Esquema da síntese do fitocromo (leia os detalhes no texto). 2. ATIVAÇÃO E INATIVAÇÃO O fitocromo é um pigmento que apresenta uma propriedade fotorreversívelúnica, que consiste na passagem da forma ativa para a forma inativa em função da quantidade e qualidade da luz oferecida (Figura 13.3). O fitocromo é sintetizado numa forma que absorve principalmente a luz vermelha. É importante destacar que alguns livros indicam também a absorção da luz UVA, sem maiores explicações. Com relação à luz azul, alguns indicam que esta seria absorvida pela porção proteica, e assim, não ativaria o fitocromo; na edição de 2009 de Taiz & Zeiger não há qualquer referência sobre a ação destes comprimentos de onda e, na edição de 2013, novamente é indicado que Fv e Fve também absorvem azul. Nesta disciplina, não consideraremos o efeito da luz azul sobre o fitocromo, visto que não é consenso. A forma estável e inativa é referida como Fv (ou Pr, no inglês), e sua cor, para o olho humano, é azul. Após absorção da luz, o cromóforo passa por isomerização cis-trans da ligação dupla entre os carbonos 15 e 16 e uma rotação da ligação simples C14-C15; a porção proteica sofre apenas uma alteração sutil de conformação. Após absorção da luz, o fitocromo fica ativado, e adquire uma coloração azul-esverdeada. Nesta forma, como ele se torna capaz de absorver outro comprimento de onda, o vermelho-extremo (também chamado de vermelho- distante), passa a ser referido como Fve (ou PFr). Conforto, E.C., 2014 89 UNESP-IBILCE-DZB-Fisiologia Vegetal Figura 13.3: Ativação do fitocromo. O fitocromo ativo pode tornar-se novamente inativado das seguintes formas: pela absorção da luz vermelho-extremo; pela ocorrência do escuro, ou pela fotodestruição (principalmente no caso do phyA), conforme esquema 13.1. Esquema 13.1: A fotoconversão da forma do fitocromo Fv a Fve é induzida por comprimento de onda do vermelho (V). A reversão de Fve a Fv é induzida por comprimento de onda do vermelho-extremo (VE) e também pelo escuro. Conforto, E.C., 2014 90 UNESP-IBILCE-DZB-Fisiologia Vegetal A quantidade total de fitocromo presente na planta é uma soma das formas ativas e inativas (Fve + Fv). Um dado efeito fotomorfogenético requer uma proporção específica de Fve/Ftotal (também designado como φ - pronuncia-se fí). Analisando o espectro de absorção do fitocromo (Figura 13.4), observa-se que tanto o Fv pode absorver pequena quantidade de vermelho-extremo, quanto Fve pode absorver pequena quantidade de vermelho. Assim, quando as moléculas de Fv são expostas à luz vermelha, a maior parte delas absorve esta luz e é convertida a Fve; porém, alguns Fve também absorvem a luz vermelha e são convertidos de volta a Fv. Assim, a proporção de fitocromo na forma Fve, após saturação com luz vermelha é de aproximadamente 85% (Figura 13.5). De modo similar, a pouquíssima quantidade de luz vermelho-distante absorvida pelo Fv não possibilita a conversão completa do Fve a Fv; ao invés disto, é atingido um equilíbrio de 97% de Fv e 3% Fve (Figura 13.5). Portanto, na natureza o pool de fitocromos nunca está totalmente convertido na forma Fv ou Fve, e as situações indicadas acima são referentes aos possíveis estados fotoestacionários. Observação: Na edição de 2013, as porcentagens anteriores foram indicadas como: 88; 98 e 2%, respectivamente 3. MECANISMOS DE RESPOSTA Uma vez que a luz é absorvida pelos fotorreceptores, na planta ocorre a interpretação morfogenética do estímulo luminoso. O fitocromo é o fator central na cadeia de reação e atua em cooperação com os demais fotorreceptores pois, considerando suas propriedades físicas, ele seria insuficiente para avaliar e absorver com eficácia todo o espectro visível da radiação solar. A luz absorvida pelos outros fotorreceptores (o criptocromo e o fotorreceptor de UV-B) pode determinar a sensibilidade das plantas ao Fve. Esta aparenta ser uma estratégia simples na qual um único ativador (Fve) seria suficiente para controlar a expressão gênica e capaz de fornecer uma informação completa do espectro solar, determinando a amplitude da fotomorfogênese. Embora a variedade de respostas induzidas pelo fitocromo seja extensa, as respostas podem ser agrupadas em dois tipos: Eventos Bioquímicos: geralmente são bastante rápidos, como p.ex., efeitos sobre a permeabilidade das membranas; Mudanças Morfológicas: geralmente são mais lentos (semanas ou meses, como a indução da floração), mas alguns eventos morfológicos podem ser visualizados cerca de 8 minutos após ativação dos fitocromos (inibição do alongamento do caule em Chenopodium). 4. RESPOSTAS versus FLUÊNCIA O fitocromo media efeitos que são agrupados em três categorias, de acordo com a qualidade e a duração da luz requerida para induzir respostas na planta: resposta de baixa fluência (RBF), respostas de fluência muito baixa (RFMB), e resposta de irradiância alta (RIA ou RAI). A RBF é a resposta clássica de fitocromo induzida por V e revertida por VE, como ocorre na germinação de sementes de alface. Esse tipo de resposta requer um mínimo de fluência de 1 µmol.m-2 e satura em 1000 Conforto, E.C., 2014 91 UNESP-IBILCE-DZB-Fisiologia Vegetal µmol.m-2. Desse modo, sob contínua exposição ao V ou pulsos de V, uma grande proporção de moléculas de phyB (85%) converte-se na forma ativa. Veja exemplos destas respostas na Tabela 13.1. É importante observar que as respostas induzidas pela luz vermelha são fotorreversíveis pela luz VE por um período limitado de tempo. Isto porque se supõe que as respostas morfológicas controladas pelo fitocromo resultem de uma sequência de múltiplas etapas de reações bioquímicas nas células atingidas; estádios iniciais nessa sequência podem ser completamente reversíveis pela aplicação de luz VE, mas em algum local na sequência, é atingido um ponto além do qual as reações prosseguem irreversivelmente em direção à resposta. Este tempo de escape varia de menos de um minuto até, extraordinariamente, horas. Tabela 13.1: Exemplos de respostas fotoconversíveis típicas induzidas por fitocromo em uma variedade de plantas superiores e inferiores. Grupo Gênero Fase Efeito da luz vermelha Angiospermas Lactuca (alface) Semente Promove a germinação Avena (aveia) Plântula estiolada Promove o desestiolamento Pisum (ervilha) Planta adulta Inibe o alongamento do entrenó Sinapis (mostarda) Plântula Promove a formação do primórdio foliar, desenvolvimento das folhas primárias e produção de antocianinas Xanthium Adulto Inibe a floração (resposta fotoperiódica) Gimnosperma Pinus Plântula Aumenta a taxa de acumulação de clorofila Pteridófita Onoclea (sensitiva) Gametófito jovem Promove o crescimento Briófita Polytrichum (musgo) Protonema Promove a replicação dos plastídeos Clorófita Mougeotia (alga) Gametófito maduro Promove orientação dos cloroplastos em relação à luz fraca direcional A RFMB inicia em 0,0001 µmol.m–2 (é um décimo da quantidade de luz emitida por um flash de um vagalume!) e satura em 0,05 µmol.m–2. É uma resposta típica de plantas crescidas no escuro, como por exemplo, o aumento da sensibilidade da aveia aos estímulos fototrópicos, que requerem ativação de menos que 0,01% do fitocromo. Sementes de Arabidopsis são induzidas a germinar com a luz vermelha na faixa de 0,001 a 0,1 µmol.m –2. A extrema sensibilidade à luz é uma dificuldade técnicapara o estudo de RFMB. A pouquíssima quantidade de luz necessária para induzi-la converte menos que 0,02% do fitocromo total a Fve. Como a luz vermelho extremo normalmente converte 97-98% do Fve para Fv, aproximadamente 2-3% do fitocromo permanece como Fve, significativamente mais que o necessário para induzir as RFMB, as quais, portanto, não são fotorreversíveis. O terceiro tipo de resposta do fitocromo, a RIA (ou RAI), requer exposição prolongada ou exposição contínua à luz de irradiância alta ou seja, a resposta é proporcional a irradiância e não à fluência. É justamente por isso que ela é denominada RIA e não resposta de fluência alta (RFA). Nesse caso, RIA não responde à lei da reciprocidade: se a exposição for prolongada, a intensidade da luz pode ser baixa e vice-versa. RFMB e RBF respondem a essa lei mas, a exposição contínua à luz fraca ou exposição rápida a luz muito brilhante, não Conforto, E.C., 2014 92 UNESP-IBILCE-DZB-Fisiologia Vegetal induzem RIA. Assim, além de RIA precisar de fluência muito alta para saturar (cerca de 100 vezes maior que as de baixa irradiância), ela não é fotorreversível (V/VE). As respostas RIA são diferentes para plantas crescidas no escuro (estioladas), que possuem uma grande quantidade de phyA, com relação às respostas observadas para as plantas crescidas na luz. Um exemplo típico é observado para a resposta de inibição do alongamento do hipocótilo, conforme Figuras 13.6 e 13.7. Crescidas no escuro, as RIA são estimuladas por VE, azul e UV-A – sendo que as respostas à azul e ao UVA são resultado da ação dos fotorreceptores de luz azul CRY1 e CRY2. A ausência de um pico na luz vermelha, no início, fez com que os pesquisadores não associassem a RIA ao fitocromo. No entanto, estudos posteriores comprovaram tanto a sua atuação, como também a de criptocromos (receptores da luz azul; detalhes no Capítulo 15). Alguns exemplos de respostas à alta irradiância são: síntese de antocianinas em várias plântulas de eudicotiledôneas e segmentos da casca da maçã; inibição do alongamento do hipocótilo em plântulas de mostarda, alface e petúnia; indução de florescimento de meimendro negro (Hyoscyamus); abertura do gancho plumular na alface; crescimento dos cotilédones em mostarda; produção de etileno em sorgo. 5. PAPEL INDIVIDUALIZADO DOS FITOCROMOS Fitocromo A: estudos comprovaram que ele é o fotorreceptor envolvido na percepção da luz vermelho-distante contínua. Deste modo, atua na RIA de inibição do alongamento do hipocótilo e é considerado o receptor primário da RFMB de germinação de sementes de Arabidopsis. Tem papel importante no início do surgimento da cor verde. Plantas de ervilha deficientes em phyA exibem florescimento retardado e entrenós encurtados. Fitocromo B: media as respostas à luz vermelha ou luz branca contínua. Tem papel comprovado na germinação fotorreversível de sementes; tem importante papel na detecção da sombra em plantas adaptadas a níveis altos de radiação solar. Mutantes em phyB são deficientes em clorofila e tem pouca capacidade de responder aos hormônios vegetais. Fitocromos C, D e E: os papéis destes fitocromos estão emergindo, mostrando que tem funções específicas na regulação das respostas às luzes branca e ao VE. As respostas mediadas por phyD e phyE incluem alongamento dos pecíolos e entrenós e o controle do período da floração. Os três fitocromos apresentam papel importante na mediação das respostas de evitação à sombra. 6. LUZ E FITOCROMO Em condições naturais, ao longo do dia e dentro das camadas vegetais, a luz sofre grandes variações em intensidade (taxa de fluência de fótons) e em qualidade (composição espectral). Ao longo do ano, a sua duração diária (fotoperíodo) pode ser muito variável, dependendo da latitude. Quando o sol se posiciona acima de 10° em relação ao horizonte, o espectro global de radiação é relativamente constante, recebendo a denominação de luz do dia. Mas, quando o sol declina abaixo de 10° (na aurora e no crepúsculo), o aumento do caminho da luz através da atmosfera terrestre acentua a atenuação da radiação solar direta, aumentando a absorção e o espalhamento. Além disso, a refração dos raios solares na atmosfera torna o ambiente enriquecido com luz azul e vermelho-extremo. Conforto, E.C., 2014 93 UNESP-IBILCE-DZB-Fisiologia Vegetal Ao atravessar o dossel de uma comunidade vegetal, devido às clorofilas, carotenoides e demais fotorreceptores das folhas, grande parte dos fótons de comprimento de onda na faixa do vermelho e do azul são absorvidos, enquanto que o VE atravessa com facilidade os tecidos foliares. Assim, as folhas afetam a proporção entre fótons de luz nas bandas do V e do VE, tornando o ambiente empobrecido em fótons de vermelho e azul e enriquecido com fótons de luz vermelho-extremo. A razão V/VE é representada pela letra grega zeta (ζ), e alguns valores em diferentes situações ambientais são mostrados na Tabela 13.2. A consequência disto é que a luz solar tem maior proporção de V do que VE, ao passo que, no interior de comunidades de plantas cultivadas e florestas, a radiação ambiental é enriquecida com fótons de luz VE. Os valores de zeta da radiação ambiental são percebidos pelo fitocromo, promovendo alterações na proporção entre as formas Fve e Fv nas células das plantas; maiores valores de zeta implicam em maiores valores de φ. As respostas dos vegetais à quantidade de luz do ambiente variam muito entre as espécies (Figura 13.8). A maioria das plantas adaptadas à sombra (umbrófitas) não responde à diminuição da razão de φ. Por outro lado, as plantas adaptadas ao sol, intolerantes à limitação de luz, possuem mecanismos eficientes para evitar a sombra, por exemplo, ao alocar reservas para o aumento do alongamento dos entrenós, acelerando o crescimento longitudinal do caule. Como consequência desse gasto extra de reservas, normalmente ocorre a diminuição da área foliar, do sistema radicular e a inibição do desenvolvimento de gemas laterais. Muitas espécies vegetais têm várias etapas do seu ciclo de vida controlado pelo fotoperíodo, tais como a iniciação e o crescimento posterior de flores; o início da dormência; os movimentos diários de folhas e de pétalas; abertura e fechamento de estômatos; os processos metabólicos tais como a capacidade fotossintética e a taxa respiratória. Sob condições uniformes, a periodicidade do ritmo luz/escuro é de aproximadamente de 24 horas e, por esta razão, usa-se o termo circadiano (do latim, “cerca de um dia”). Os fitocromos estão envolvidos na percepção do fotoperíodo, e as respostas desencadeadas dependem da espécie e do momento do seu ciclo de vida. Contudo, há ainda outro comprimento de onda importante na fotomorfogênese, que será estudado em capítulo à parte (Luz Azul). Dois processos relacionados ao fitocromo serão estudados com mais detalhe: a germinação e a floração. Conforto, E.C., 2014 94 UNESP-IBILCE-DZB-Fisiologia Vegetal Figura 13.4: Picos de absorção do Fv (Pr) no vermelho (V, 666 nm), e do Fve (Pfr) em vermelho extremo (VE, 730 nm). Figura 13.5: Interação entre fluência e comprimento de onda nas respostas ao fitocromo (atenção às novas porcentagens sugeridas!).Conforto, E.C., 2014 95 UNESP-IBILCE-DZB-Fisiologia Vegetal Figura 13.6: Espectro de ação para uma RIA para a inibição do alongamento do hipocótilo de uma plântula de mostarda branca (Sinapsis alba) cultivas na luz. Figura 13.7: Espectro de ação para uma RIA para a inibição do alongamento do hipocótilo de uma plântula de alface cultivada no escuro. Os picos de atividade ocorrem no UV-A, azul e no vermelho-extremo. Conforto, E.C., 2014 96 UNESP-IBILCE-DZB-Fisiologia Vegetal Figura 13.8: Plantas adaptadas ao sol e à sombra respondem de modo diferente às mudanças na qualidade da luz. Embora a razão (Fit. Ativado/ Fit. Total) seja alterada de igual modo para ambas as plantas, as crescidas sob sombra não respondem com um correspondente estiolamento ou desestiolamento. Tabela 13.2. Valores de zeta (ζ) em ambientes naturais, sob dosséis de vegetação e taxa de fluência de fótons total (entre 400 e 800 nm). Situação Ambiental Valores de ζ µmol m -2 s –1 Luz do dia 1,15 – 1,25 1900 Aurora/crepúsculo 0,65 – 1,15 26-27 Sob 5 mm do solo 0,88 8-9 Sob dossel de cultura de trigo 0,2 – 0,5 - Sob dossel de cultura de beterraba 0,11 – 0,45 - Sob dossel de floresta tropical 0,22 – 0,30 - Sob dossel de floresta de carvalho 0,5 – 0,75 - *********************************************************************************************************************************** CAPÍTULO 14 – GERMINAÇÃO E FLORAÇÃO *********************************************************************************************************************************** 1. INTRODUÇÃO Conforme visto anteriormente, os fitocromos são os responsáveis pela mediação de diversas respostas ligadas ao crescimento e desenvolvimento das plantas. Em especial, dois processos dependem da regulação pelo fitocromo: a germinação e a floração. Conforto, E.C., 2014 97 UNESP-IBILCE-DZB-Fisiologia Vegetal 2. FITOCROMO E GERMINAÇÃO Considerando a importância da luz no desenvolvimento da planta, esse é o sinal controlador emitido pelo ambiente para o processo germinativo em muitas espécies. De um modo geral, as sementes podem ser divididas em três grupos, dependendo de sua resposta germinativa à luz branca: sementes cuja germinação é indiferente à luz (como o feijão e a maioria das hortaliças); sementes que apresentam maior germinabilidade e/ou velocidade de germinação em luz do que no escuro (embaúba, Cecropia glaziovii; tanchangem, Plantago tomentosa); e sementes que germinam melhor no escuro (maxixe, Cucumis anguria; mamona, Ricinus communis). O estímulo e a inibição da germinação de sementes pela luz são denominados fotoblastismo positivo e negativo, respectivamente. Contudo, a resposta à luz não é do tipo ´tudo ou nada´, pois depende, dentre outros fatores, do lote e dos pré-tratamentos germinativos (mais detalhes no Capítulo 16). A cultivar de alface Grande Rápida pode germinar na luz ou no escuro, dependendo da temperatura de incubação (Figura 14.1); o efeito da luz sobre Amaranthus caldatus L. depende do potencial hídrico do meio (Figura 14.2). 2.1. REVERSÃO DO ESCURO Sementes fotoblásticas positivas postas no escuro germinarão somente se um pulso de V suficiente para fotoconverter Fv a Fve for oferecido. O mecanismo de reversão pode ocorrer se um subsequente pulso de VE for suficiente para reverter à forma inativa do fitocromo, inibindo a germinação (Figura 14.3). Este resultado também é mostrado pelo clássico experimento de Borthwick et al., 1954 (Tabela 14.1), onde as sementes de alface, separadas em grupos, foram embebidas no escuro durante 3 horas, antes de serem submetidas a uma exposição breve a diferentes tratamentos luminosos: luz vermelha (1 minuto), luz vermelho-extremo (4 minutos), ou alternância sucessiva e imediata entre V e VE. Após tais tratamentos, as sementes eram reconduzidas ao escuro, e após 48 horas, verificada a germinação. Observe que a germinação é promovida pelo V e inibida pelo VE. Tabela 14.1. Fotorreversibilidade V-VE da germinação de sementes de alface. Irradiação % de germinação (20 °C) após 48 horas Vermelho (V) 70 V, Vermelho Extremo (VE) 6 V , VE , V 74 V , VE , V , VE 6 V , VE , V , VE , V 76 V , VE, V, VE, V, VE, V, VE 7 Estudos recentes com sementes de alface dependentes da luz têm mostrado que a germinação induzida pela luz vermelha é resultado de um aumento no nível da forma biologicamente ativa do hormônio giberelina. Os efeitos do fitocromo na ativação do embrião da semente podem resultar, como exemplo, na expressão de determinados genes, síntese de proteínas e mudanças nos níveis hormonais necessários para a germinação. 3. FLORAÇÃO E FITOCROMO A floração ocorre geralmente nos meristemas apicais e é um evento morfológico complexo, com o surgimento de estruturas que diferem amplamente de uma espécie para outra, e são bastante diferentes das Conforto, E.C., 2014 98 UNESP-IBILCE-DZB-Fisiologia Vegetal estruturas que vinham sendo produzidas na fase vegetativa (raízes, folhas e ramos). Outros caracteres vegetativos podem ser modificados em função da passagem para a maturidade, tais como: a morfologia e o arranjo das folhas no caule, distribuição de espinhos, capacidade de enraizamento e retenção de folhas em plantas decíduas. Estas mudanças ocorrem particularmente em espécies arbóreas, embora diferenças entre fases juvenil e madura sejam também notadas em plantas herbáceas. A habilidade para florescer, isto é, a transição da juvenilidade para a maturidade, é alcançada quando a planta atinge certa idade ou um certo tamanho, podendo ser independente das condições ambientais (indução autônoma), ou requerer exposição a determinados estímulos, que levam à floração algum tempo após serem aplicados. O estímulo indutor da floração resulta tanto de fatores endógenos, tais como o estado nutricional, os teores hormonais e os ritmos circadianos, como de fatores ambientais, dentre eles o comprimento relativo dos dias (fotoperíodo), a irradiância, a temperatura e a disponibilidade de água. Neste tópico, veremos como a duração/qualidade do período luminoso afeta o processo de floração. 3.1. EFEITO DA LUZ NA FLORAÇÃO O efeito do comprimento dos dias como fator determinante para a sazonalidade da floração foi originalmente proposto por Wightman Garner e Harry Allard, em 1920. A percepção do comprimento dos dias ocorre predominantemente nas folhas, as quais, em resposta ao estímulo fotoperiódico, sofrem mudanças metabólicas, resultando na produção independente de sinais bioquímicos transmissíveis, coletivamente denominados de sinal floral. Este sinal seria então transmitido ao meristema caulinar que, quando receptivo (competente), inicia a transição floral (Figura 14.4). A resposta fotoperiódica de uma planta é determinada geneticamente, e sua classificação é baseada na transição floral. Dessa maneira, distinguem-se as plantas de dias de curtos (PDC) que florescem quando mantidas em fotoperíodos inferiores a determinado valor crítico (fotoperíodo crítico), e as plantas de diaslongos (PDL) que têm sua floração promovida quando o comprimento do dia excede certa duração. Existem também espécies que não tem a floração regulada através do comprimento dos dias, sendo denominadas plantas neutras, indiferentes ou autônomas. É necessário um estudo amplo para estabelecer a classificação correta de uma planta, pois o valor do fotoperíodo crítico é bastante variável entre as espécies e, muitas vezes, extremamente preciso: na PDC Xanthium strumarium, a ocorrência ou não da floração pode ser definida pelo excesso ou falta de apenas 15 minutos de luz. Essa sensibilidade ao fotoperíodo tende a ser mais aguçada em algumas plantas da região equatorial, onde as oscilações no comprimento dos dias são pequenas entre as estações do ano. Em contrapartida, nos locais de maior latitude, a resposta ao fotoperíodo pode ser mais ampla. Alguns exemplos: Plantas de dia curto: crisântemo (Chrysanthemum sp), poinsettia (Euphorbia pulcherrima), soja (Glycine max), fumo (Nicotiana tabacum), Xanthium strumarium, Pharbits nil. Plantas de dia longo: aneto (Anethum graveolens), beterraba (Beta vulgaris), Lolium sp, rabanete (Raphanus sativus), mostarda (Sinapis alba), trigo (Triticum aestivum), Arabidopsis. Conforto, E.C., 2014 99 UNESP-IBILCE-DZB-Fisiologia Vegetal Plantas neutras: abóbora (Cucumis sativus), Gomphrena globosa, girassol (Helianthus annuus), ervilha (Pisum sativum), milho (Zea mays), feijoeiro (Phaseolus vulgaris). Contudo, o comprimento do dia isoladamente se constitui em um sinal ambíguo, porque não é possível distinguir entre primavera e outono. As plantas conseguem evitar esta ambiguidade de várias formas e uma delas é a ligação da exigência de temperatura a uma resposta fotoperiódica; assim, certas plantas, como o trigo de inverno, não respondem ao fotoperíodo até que tenha ocorrido um período prévio de frio (vernalização). Em outras, há uma distinção entre dias que estão encurtando ou alongando, exibindo os seguintes comportamentos: Plantas de dias longo-curto: florescem somente após uma sequência de dias longos seguidos por dias curtos. Ex: Bryophyllum, Kalanchoe e jasmim da noite (Cestrum nocturnum): florescem no verão e no outono, quando os dias estão encurtando. Plantas de dias curto-longo: florescem apenas após uma sequência de dias curtos seguidos por dias longos, tais como trevo-branco (Trifolium repens), campainha (Campanula medium) e Echeveria harmsii, que florescem no início da primavera em resposta ao aumento do comprimento dos dias. Experimentos onde foram modificadas a duração dos períodos relativos de luz e de escuro, assim como a interrupção da noite através de uma exposição curta à luz (tornando ineficiente o período de escuro), ou a interrupção do dia com um breve período de escuro, evidenciaram a importância do período escuro como fator central na indução floral. Dessa maneira, plantas de dia curto necessitam de noites longas para florescer, enquanto as plantas de dia longo florescem quando períodos de noites curtas são oferecidos (Figura 14.5). Contudo, nem sempre a interrupção da noite é suficiente para reverter a floração; isto vai depender da qualidade e quantidade da luz aplicada, além do horário em que é aplicado. A interrupção geralmente é mais efetiva se realizada próximo da metade de um período de escuro de 16 horas. A luz do dia pode ser substituída por luz vermelha e a noite por luz vermelho-distante, evidenciado o envolvimento do fitocromo nas respostas fotoperiódicas da floração. A participação do fitocromo na floração foi sugerida por Borthwick e colaboradores, nos anos de 1945 a 1948. Através de experimentos de interrupção do período de escuro com luz monocromática, em vez de luz branca, esses autores observaram que, sob luz com comprimento de onda vermelho, ocorria a inibição da floração na PDC Xanthium strumarium, enquanto que a promoção desse processo era verificada na PDL Hordeum vulgare (Figura 14.6). 3.2. SINALIZAÇÃO QUÍMICA ENVOLVIDA NO FLORESCIMENTO Embora a resposta da floração ocorra no ápice caulinar, esta é desencadeada por sinais bioquímicos que chegam no ápice oriundos de outras partes da planta, especialmente das folhas, desencadeadas por estímulos fotoperiódicos. Estes sinais podem atuar como ativadores ou inibidores do florescimento mas, depois de anos de investigação, nenhuma substância foi identificada como sendo o estímulo floral universal, embora certos hormônios, como GA e Etileno, possam induzir o florescimento. Portanto, a maioria dos modelos atuais do estímulo floral baseiam-se em múltiplos fatores. Conforto, E.C., 2014 100 UNESP-IBILCE-DZB-Fisiologia Vegetal Os estudos de enxertia geraram evidências de um estímulo floral transmissível. Experimentos de enxertia realizados em 1930 por Mikhail Chailakhyan (Figura 15.7) confirmam que uma substância hipotética (´florígeno´) foi translocada, provavelmente através do floema, da planta induzida (fonte) para o ápice da planta não induzida (dreno). Experimentos posteriores (Figura 14.8) com crisântemo comprovaram a capacidade de uma planta induzida promover o florescimento em uma não induzida, inclusive entre gêneros diferentes. Do mesmo modo, outros experimentos de enxertia demonstraram a existência de uma substância (´antiflorígeno´) capaz de inibir o florescimento (Figura 14.9). A possível natureza destas substâncias será comentada a seguir. Ação de uma molécula de mRNA ou de proteína: A procura do sinal bioquímico sempre repousou na procura por um hormônio, uma molécula pequena. Embora resultados positivos tivessem sido ocasionalmente relatados, nenhum deles manteve-se consistente ao longo dos anos. Deste modo, houve uma mudança de abordagem, no sentido de especular que o florígeno possa ser uma macromolécula. Experimentos passaram a indicar que uma molécula de RNA ou proteína, e os resultados dos estudos divulgados a partir de 2004 tem sido positivos. O mecanismo foperiódico de percepção do tempo, tanto em PDL quanto em PDC, está baseado no modelo da coincidência: o florescimento ocorre quando há expressão de determinado gene no período luminoso. Acompanhe pela figura 14.10 e pelas informações a seguir, a base molecular para este modelo de coincidência, apresentado para Plantas de Dias Longos, representada pela Arabidopsis (A e B) e para as Plantas de Dia Curto (C e D), representada pelo arroz: A) Sob condições de dias curtos, há pouca sobreposição entre a expressão do mRNA de CO e a luz do dia. A proteína CO não se acumula em níveis suficientes no floema para promover a expressão do estímulo floral transmissível, o FT mRNA, e a planta permanece vegetativa. B) Sob dias longos, o pico de abundância do mRNA de CO (das horas 12 a 16) sobrepõe-se com a luz do dia (percebida pelo phyA e pelo criptocromo), permitindo que a proteína CO se acumule. CO ativa a expressão do mRNA do FT no floema, o que causa o florescimento quando ele é translocado ao meristema apical. C) Em dias curtos, a falta de coincidência entre a luz e a expressão do mRNA de Hd1 (o homólogo de CO, denominado o CO Headin-date 1) impede o acúmulo da proteína Hd1, que age como um repressor do gene para o estímulo floral transmissível, o Hd3a. Na ausência do repressor proteico Hd1, o mRNA de Hd3a é expresso e translocado ao meristema apical, onde causa o florescimento. D) Sob dias longos (percebidos pelo fitocromo),o pico da expressão do mRNA de Hd1 sobrepõe-se com o dia, permitindo o acúmulo da proteína repressora Hd1. Como resultado, o mRNA de Hd3a não é expresso, e a planta permanece vegetativa (segundo Hayama e Coupland, 2004) No meristema, o mRNA de FT ou de Hd3a são traduzidos em proteínas. Em Arabidopsis, FT interage com outra proteína, FD. O complexo FT/FD, então, ativa os genes AP1 e SOC1, o que desencadeia a expressão do gene LFY. Então, LFY e API desencadeiam a expressão dos genes homeóticos florais. As rotas autônomas Conforto, E.C., 2014 101 UNESP-IBILCE-DZB-Fisiologia Vegetal (número de folhas) e de vernalização (temperaturas baixas) atuam no meristema apical para regular negativamente FLC, um repressor negativo do SOC1 (Blásquez, 2005). A figura 14.11 ilustra estas rotas. Ação das Giberelinas: a síntese de GA sofre significativa influência da temperatura (ver Capítulo 18), e em algumas situações, diferentes GA tem efeitos marcantemente distintos sobre o florescimento, atuando tanto sobre PDC quanto PDL. Assim, em espinafre (Spinacia oleraceae), uma PDL, os níveis de GA são relativamente baixos sob dias curtos, e as plantas mantém a forma de roseta. Depois que as plantas são transferidas para dias longos, os níveis de várias giberelinas (GA 53, GA 44, GA 29, GA 20 e GA 1) aumentam, sendo que a G1 (giberelina fisiologicamente mais ativa e que causa o pronunciado alongamento do caule que acompanha o florescimento) aumenta cerca de cinco vezes O GA exógeno também pode evocar o florescimento de algumas PDC sob condições não indutivas e em plantas que exigem o frio mas não foram vernalizadas. O papel do GA seria na promoção da expressão de SOC1. Ação do Etileno: sua aplicação exógena é capaz de promover a floração do abacaxi (Ananas comosus), uma resposta que parece restrita aos membros desta família (Bromeliaceae). Ação do Ácido Abscísico: pode retardar o florescimento em Arabidopsis, inativando o seu receptor FCA, que funciona como um repressor de FLC (e quando FLC está ativo, ele reprime SOC1). Ação da Sacarose: em Arabidopsis, foi verificado que é capaz de promover a expressão de SOC1. Deste modo, verifica-se que, para Arabidopsis, há múltiplos fatores e rotas induzindo a floração. Isto confere às Angiospermas a flexibilidade de ser reproduzirem sob uma variedade de condições ambientais, aumentando assim, sua aptidão evolutiva. Figura 14.1: Efeito da temperatura de incubação sobre a sensibilidade à luz em sementes de Lactuca sativa L. cultivar Grande Rápida. Conforto, E.C., 2014 102 UNESP-IBILCE-DZB-Fisiologia Vegetal Figura 14.2: Interação entre a irradiância da luz branca e o potencial da água do meio sobre a germinação de sementes de Amaranthus caudatus L. Símbolos vazios correspondem ao controle (água pura) e símbolos cheios em condições de estresse: -0,3 MPa (-o-) e de -0,5 MPa (-∆-). Figura 14.3: A germinação de sementes da alface é uma típica resposta fotoreversível controlada pelo fitocromo. O efeito da luz depende do último tratamento aplicado. Esta é uma típica RBF. Conforto, E.C., 2014 103 UNESP-IBILCE-DZB-Fisiologia Vegetal Figura 14.4: Eventos ligados à transição juvenilidade – fase adulta. Figura 14.5. Regulação fotoperiódica do florescimento. Efeitos sobre plantas de dias curtos e de dias longos. Conforto, E.C., 2014 104 UNESP-IBILCE-DZB-Fisiologia Vegetal Figura 14.6: Controle da floração por luz V e VE. Interrompendo o período de escuro com um pulso de V, a floração é inibida em PDC e promovida em PDL. O efeito é revertido com um pulso de VE. O último pulso de luz durante o tratamento alternado entre V e VE determina a ocorrência da floração. Figura 14.7: Experimento de enxertia sugerindo a a existência de um florígeno. Planta de dia curto (Chalonköe sp.) mantida nessa condição (DC) floresce, o mesmo não ocorrendo com aquela mantida sob dia longo (DL). A enxertia do ápice caulinar da planta mantida sob dia DL na planta induzida por DC promove a conversão do ápice vegetativo em reprodutivo (florescimento), mesmo em condições de DL. Conforto, E.C., 2014 105 UNESP-IBILCE-DZB-Fisiologia Vegetal Figura 14.8: Experimento realizado com Chrysanthemum morifolium, uma PDC. O tratamento fotoperíódico de dia longo (DL) ou de dia curto (DC) foi aplicado isoladamente (duas figuras à esquerda) ou simultaneamente (2 figuras à direita) nas folhas e no ápice caulina vegetativo. Os resultados evidenciam a importância das folhas, mais do que os ápices vegetativos, na percepção do sinal fotoperiódico. As folhas seriam responsáveis pela produção e transporte do sinal floral ao meristema caulinar. Figura 14.9: Enxerto de ramo não induzido de uma PDL sobre uma planta neutra (tabaco) suprimiu o florescimento desta sob condições de dias curtos (direita) mas não sob dias longos (esquerda). Isto sugere que PDL produzem inibidores de florescimento sob condições não indutivas. Conforto, E.C., 2014 106 UNESP-IBILCE-DZB-Fisiologia Vegetal Figura 14.10: Base molecular do modelo de coincidência para PDL (Arabidopsis, letras A e B) e PDC (arroz, letras C e D). Maiores detalhes no texto. Figura 14.11: Múltiplas rotas para o florescimento, com ênfase para Arabidopsis (PDL). Maiores detalhes no texto. Conforto, E.C., 2014 107 UNESP-IBILCE-DZB-Fisiologia Vegetal *********************************************************************************************************************************** CAPÍTULO 15 – RESPOSTAS À LUZ AZUL *********************************************************************************************************************************** 1. INTRODUÇÃO Sabe-se que alguns ramos de plantas colocados junto à janela crescem em direção à fonte de luz. Essa reação constitui um exemplo de como as plantas alteram seu padrão de crescimento em resposta à direção da radiação incidente, o que é intrinsecamente diferente da captura da luz pela fotossíntese. Neste capítulo, estudaremos como um outro comprimento de onda, já visto na Fotossíntese, atua sobre o desenvolvimento do vegetal. 2. FOTORRECEPTORES DA LUZ AZUL Mesmo com os grandes esforços de pesquisa, até o início da década de 1990 não houve avanços significativos no sentido da identificação dos fotorreceptores da luz azul. Os três fotorreceptores associados com estas respostas são: criptocromos, fototropinas e zeaxantinas, identificados por controlar respostas específicas. Criptocromos: indicado como o fotorreceptor de luz azul responsável pela mediação da inibição do
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