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Universidade Federal da Bahia – Departamento de Engenharia Ambiental Apostila Hidrologia 2011.1 Grupo de Recursos Hídricos – Notas de aula de Hidrologia 1 CAPÍTULO 1 CONCEITOS BÁSICOS 1.1 Introdução Hidrologia é uma ciência multidisciplinar que lida com a ocorrência, circulação e distribuição das águas na Terra.. Devido à natureza complexa do ciclo hidrológico e da sua relação com o clima, tipos de solo, topografia e geologia, a hidrologia se confunde com outras ciências que fazem parte da geografia física, tais como: meteorologia, geologia e oceanografia. A atmosfera terrestre, os oceanos, as geleiras, os lagos, os rios e a crosta terrestre contêm cerca de 1 x1018m3 de água, distribuídos da seguinte forma (Peixoto e Oort, 1990 apud Tucci, 1993): Oceanos 1.350 x 1015 m3 Geleiras 25 x 1015 m3 Águas subterrâneas 8,4 x 1015 m3 Rios e lagos 0,2 x 1015 m3 Biosfera 0,0006 x 1015 m3 Atmosfera 0,0130 x 1015 m3 Apesar da abundância, a distribuição espacial e temporal da água sobre a Terra é bastante irregular causando problemas de excesso de água em alguns lugares e escassez em outros. Aos problemas que ocorrem devido à aleatoriedade dos eventos hidrológicos vieram se somar aos causados pela intervenção humana sobre o meio ambiente, que, em diversos lugares, alcançou um nível crítico, afetando o clima e as condições de vida em escala global. Os estudos hidrológicos são utilizados para avaliar o efeito destas ações antrópicas sobre os recursos hídricos, realizar previsões sobre o que pode ocorrer no futuro, e que medidas podem ser adotadas para evitar ou reduzir as conseqüências negativas para o bem estar da humanidade. A Hidrologia Aplicada tenta superar estes problemas através da previsão de eventos extremos e da disponibilidade dos recursos hídricos. Como ainda não é possível prever com segurança e com antecedência os eventos hidrológicos, por serem estes aleatórios, a estatística, com base em registros passados, é uma ferramenta de suporte à hidrologia. O objetivo do estudo ou projeto determinará a fase do ciclo hidrológico e a escala de interesse. Basicamente, existem dois grupos de estudo: (1) a estimativa de disponibilidade e demandas e (2) a previsão de eventos extremos. O primeiro grupo se aplica a: planos diretores de bacias; estudos de impacto ambiental; projetos de abastecimento; projetos de irrigação; projetos de geração de energia. O segundo grupo se aplica a: projetos de proteção contra enchentes; projetos de grandes obras: barragens, pontes, estradas; projetos de drenagem. Desta forma, pode-se resumir os principais objetos de interesse do engenheiro hidrólogo nos seguintes itens: 1. Vazões máximas esperadas em galerias de drenagem ou bueiros; 2. Capacidade requerida de reservatórios para garantir suprimento de água adequado para irrigação ou abastecimento urbano; 3. Efeito de barragens sobre o controle de enchentes em bacias hidrográficas; 4. Efeito do desenvolvimento urbano sobre o sistema de drenagem e o escoamento de enchentes; 5. Delimitação de níveis prováveis de enchentes para garantir a proteção de áreas urbanizadas contra alagamentos, ou para realizar o zoneamento da bacia em relação ao risco de enchentes. Universidade Federal da Bahia – Departamento de Engenharia Ambiental Apostila Hidrologia 2011.1 Grupo de Recursos Hídricos – Notas de aula de Hidrologia 2 A diversidade de interesses e a consequente diversidade de estudos tornam a Hidrologia Aplicada uma ciência complexa, impondo especialistas em diversas áreas. O papel do hidrólogo é coordenar as atividades destes profissionais e analisar os estudos elaborados, gerando um resultado que se aproprie aos objetivos do estudo ou do projeto. 1.2 Histórico Os primeiros estudos hidrológicos de que se tem registro tinham objetivos bastante práticos. Há 4000 anos, foi instalado no rio Nilo um nilômetro (escala para leitura do nível do rio Nilo), ao qual apenas sacerdotes tinham acesso. A taxa de imposto a ser cobrada durante o ano dependia do nível de água do rio Nilo. A primeira referência a medição de chuva data de cerca de 2000 anos, na Índia. Neste caso o total precipitado no ano também servia como base para cálculo de impostos. É interessante observar que as primeiras medições hidrológicas foram realizadas para servir a propósitos sociais e políticos, ao invés de serem usados como base para projetos de obras hidráulicas ou para o entendimento de fenômenos hidrológicos. Na história recente da hidrologia foram observados grandes avanços a partir de 1930, quando agências governamentais de países desenvolvidos começaram a desenvolver seus próprios programas de pesquisas hidrológicas. Sherman (1932), o hidrograma unitário; Horton (1933), a teoria da infiltração; Gumbel (1941) propôs a distribuição de valores extremos para análise de freqüência de dados hidrológicos. A introdução da computação digital na hidrologia, nas décadas de 1960 e 1970, permitiu que problemas hidrológicos complexos fossem simulados como sistemas completos pela primeira vez. O primeiro modelo hidrológico completo foi desenvolvido pela Universidade de Stanford (1966). Este modelo pode simular os processos mais importantes do ciclo hidrológico: precipitação, evapotranspiração, infiltração, escoamento superficial, escoamento subterrâneo e escoamento em canais. Outros modelos foram desenvolvidos em seguida: HEC-1 (1973), Corpo de Engenheiros do Exército Americano; ILLUDAS (1974), e outros. No Brasil, os primeiros textos publicados em hidrologia são de Garcez (1961) e Souza Pinto et al. (1973). Por ocasião do Decênio Hidrológico Internacional, foi implantado no Rio Grande do Sul, com a participação da UNESCO, o primeiro curso de pós-graduação em Hidrologia, junto ao Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do sul (IPH). O IPH tem sido responsável pelo desenvolvimento de modelos de simulação hidrológica, tais como os modelos IPH, determinísticos, tipo chuva-vazão, e os modelos MAG, para auxiliar na gestão de bacias. Hoje existem inúmeros cursos de pós-graduação no país, que mantêm uma comunidade científica com interesse específico em hidrologia. Em 1977, foi fundada a Associação Brasileira de Recursos Hídricos, que tem publicado trabalhos científicos que são apresentados em simpósios, hoje internacionais, e também publica revistas técnicas e livros de hidrologia. Universidade Federal da Bahia – Departamento de Engenharia Ambiental Apostila Hidrologia 2011.1 Grupo de Recursos Hídricos – Notas de aula de Hidrologia 3 1.3 Ciclo hidrológico Os processos físicos que controlam a distribuição e o movimento de água são melhor compreendidos se descritos como ciclo hidrológico. Uma representação esquemática do ciclo hidrológico no meio ambiente natural é mostrada na Figura 1.1. O ciclo hidrológico pode ser dividido em etapas para melhor compreensão: precipitação; interceptação; infiltração; escoamento superficial; escoamento subterrâneo; transpiração e evaporação. A precipitação, escolhida como ponto inicial, é a etapa do ciclo hidrológico, cuja forma mais frequente é a chuva, que ocorre quando o vapor d’água presente na atmosfera se aglutina formando microgotículas, que se agrupam até alcançar tamanho e peso suficiente para precipitar sob a forma de chuva, neve ou granizo. A precipitação pode ocorrer diretamente sobre um corpo d’água, ou deslocar-se sobre o solo, a partir do ponto de impacto, até um curso d’água, ou infiltrar. Figura 1.1 - Ciclo hidrológico no meio natural Na etapa seguinte, parte da precipitação sofreinterceptação antes de tocar o solo, ficando retida na vegetação até ser evaporada ou alcançar o solo, quando a precipitação exceder a capacidade de retenção da vegetação, ou pela ação dos ventos. A água retida em depressões do solo tende a infiltrar. A infiltração ocorre enquanto a intensidade da precipitação não exceder a capacidade de infiltração do solo, ou seja, enquanto a superfície do solo não estiver saturada. A partir do momento em que foi excedida a capacidade de retenção da vegetação e do solo e a superfície do solo já estiver saturada, passa a haver escoamento superficial. A água, impulsionada pela gravidade para cotas mais baixas, forma pequenos filetes que tendem a se unir e formar cursos d’água, que continuam fluindo até encontrar riachos que formarão rios, de porte cada vez maior, até atingir um oceano ou um lago. O escoamento subterrâneo acontece quando a porção de precipitação infiltrada percola até os aqüíferos subterrâneos (zona de saturação), escoando de forma bastante lenta. Quando o escoamento da água infiltrada ocorre na zona de aeração do solo (camada insaturada) até aparecer como escoamento superficial é chamado de escoamento de base. Este escoamento mantém a vazão de base dos rios em períodos de estiagem. Parte da água armazenada no solo será consumida pela vegetação voltando, em seguida, à atmosfera pelas folhas das plantas, em um processo chamado transpiração. O fenômeno de evaporação se inicia antes mesmo da chuva tocar o solo, após a formação da precipitação. A evaporação ainda ocorre diretamente do solo desprovido de vegetação. Nos lagos, mares e oceanos, rios e outros corpos d’água a evaporação devolve a água à atmosfera, completando o ciclo hidrológico, estando, outra vez disponível para ser precipitada. O ciclo hidrológico em uma bacia pode ser representado, em unidades de altura (mm ou polegadas) pela equação do balanço hídrico (Equação 1.1): Universidade Federal da Bahia – Departamento de Engenharia Ambiental Apostila Hidrologia 2011.1 Grupo de Recursos Hídricos – Notas de aula de Hidrologia 4 P – R – G – E – T = ∆S (1.1) Onde P = precipitação; R = escoamento superficial; G = escoamento subterrâneo ou de base; E = evaporação; T = transpiração; S = armazenamento. Esta representação do ciclo hidrológico pode ser aplicada a qualquer tamanho de bacia, como base para o desenvolvimento de um modelo matemático que represente o escoamento em uma bacia. A principal dificuldade neste tipo de modelação é que alguns dos termos da equação podem ser desconhecidos. A prova que o ciclo hidrológico em um meio ambiente natural não é estático, é que a própria paisagem, está sempre em constante transformação. Precipitações muito intensas causam erosão da superfície do solo. O escoamento de ondas de cheia de eventos de grande volume pode mudar a configuração de leitos de rios, deslocando bancos de areia e provocando erosão das margens. Em períodos muito secos o perímetro de áreas desérticas pode crescer. Em resumo, mesmo em ambientes naturais, a precipitação e o escoamento superficial causam alterações significativas às bacias hidrográficas. Fig. 1.2 - Esquema de balanço hídrico Com o crescimento da população mundial, as alterações ao meio ambiente se tornaram mais importantes, causando maiores mudanças às características do escoamento nas bacias hidrográficas. A derrubada da vegetação natural para o desenvolvimento da agricultura aumenta a superfície de solo exposto, com óbvia diminuição da proteção natural da vegetação. Esta perda de proteção diminui o potencial de infiltração do solo, aumenta o escoamento superficial e resulta em grandes perdas de solo. Nos últimos dois séculos, o crescimento das cidades tem modificado drasticamente a paisagem nos arredores destes centros urbanos. A urbanização tem interferido significativamente nos processos envolvidos no ciclo hidrológico. P G2 I S E T G1 R Universidade Federal da Bahia – Departamento de Engenharia Ambiental Apostila Hidrologia 2011.1 Grupo de Recursos Hídricos – Notas de aula de Hidrologia 5 Superfícies impermeáveis, tais como telhados e ruas pavimentadas, reduzem o potencial de infiltração e consequentemente a recarga dos aqüíferos subterrâneos, aumentando o volume do escoamento superficial. Estas superfícies ainda apresentam uma rugosidade menor, aumentando a velocidade do escoamento superficial e a erosão. Estas alterações do ciclo hidrológico têm agravado as enchentes e aumentado a sua freqüência, trazendo transtornos e prejuízos às populações urbanas. Uma representação esquemática do ciclo hidrológico no meio ambiente urbanizado é mostrada na Figura 1.3. Figura 1.3 - Ciclo hidrológico em ambiente urbanos Universidade Federal da Bahia – Departamento de Engenharia Ambiental Apostila 2011.1 21 Grupo de Recursos Hídricos – Notas de aula de Hidrologia Entretanto, embora tradicional, esta prova deixa ainda vacilante o sertanejo. Nem sempre desanima, ante os seus piores vaticínios. Aguarda, paciente, o equinócio da primavera, para definitiva consulta aos elementos. Atravessa três longos meses de expectativa ansiosa e no dia de S. José, 19 de março, procura novo augúrio, o último. Aquele dia é para ele o índice dos meses subseqüentes. Retrata-lhe, abreviadas em doze horas, todas as alternativas climáticas vindouras. Se durante ele chove, será chuvoso o inverno: se, ao contrário, o Sol atravessa arrazadoramente o firmamento claro, estão por terra as suas esperanças. QUESTIONÁRIO 1. Como o ciclo hidrológico pode ser alterado em uma bacia em estado natural ? 2. Quais as etapas do ciclo hidrológico que são afetadas pela urbanização? 3. Defina o balanço hídrico. Descreva a sua equação. Universidade Federal da Bahia – Departamento de Engenharia Ambiental Apostila 2011.1 22 Grupo de Recursos Hídricos – Notas de aula de Hidrologia CAPÍTULO 2 BACIA HIDROGRÁFICA 2.1 - Introdução A bacia hidrográfica pode ser entendida como uma área onde a precipitação é coletada e conduzida para seu sistema de drenagem natural isto é, uma área composta de um sistema de drenagem natural onde o movimento de água superficial inclui todos os usos da água e do solo existentes na localidade (Magalhães, 1989). Os limites da área que compreende a bacia hidrográfica são definidos topograficamente como os pontos que limitam as vertentes que convergem para uma mesma bacia ou exutório. As bacias hidrográficas caracterizam-se pelas suas características fisiográficas, clima, tipo de solo, geologia, geomorfologia, cobertura vegetal, tipo de ocupação, regime pluviométrico e fluviométrico, e disponibilidade hídrica. 2.2 - Delimitação da bacia A delimitação de cada bacia hidrográfica é feita numa carta topográfica, seguindo as linhas das cristas das elevações circundantes da seção do curso d’água em estudo. Cada bacia é assim, sob o ponto de vista topográfico, separada das restantes bacias vizinhas. Esta delimitação que atende apenas a fatores de ordem topográfica “define uma linha de cumeada a que poderíamos chamar linha de divisão das águas” pois ela é que divide as precipitações que caem e que, por escoamento superficial, seguindo as linhas de maiordeclive, contribuem para a vazão que passa na seção em estudo (Fig. 2.1). Figura. 2.1 - Área de contribuição de uma bacia. No entanto, as águas que atingem a seção do curso d’água em estudo poderão provir não só do escoamento superficial como também do escoamento subterrâneo, que poderá ter origem em bacias vizinhas. E, inversamente, parte do escoamento superficial poderá concentrar-se em lagos ou lençóis subterrâneos que não tem comunicação com o curso de água em estudo, não contribuindo para a sua vazão. Universidade Federal da Bahia – Departamento de Engenharia Ambiental Apostila 2011.1 23 Grupo de Recursos Hídricos – Notas de aula de Hidrologia Concluiu-se que, além da delimitação topográfica, deve-se observar a delimitação da bacia sob o ponto de vista geológico e em formações características, calcárias ou de geologia especial. Raramente as duas delimitações coincidem (Fig. 2.2). Figura 2.2 - Linhas divisórias freática e topográfica 2.3 - Características Fisiográficas As características fisiográficas de uma bacia são obtidas dos dados que podem ser extraídos de mapas, fotografias aéreas e imagens de satélite. São: área, comprimento, declividade e cobertura do solo, que podem ser expressos diretamente ou, por índices que relacionam os dados obtidos. 2.3.1 - Forma da Bacia A forma da bacia não é, normalmente, usada de forma direta em hidrologia. No entanto, parâmetros que refletem a forma da bacia são usados ocasionalmente e têm base conceitual. As bacias hidrográficas têm uma variedade infinita de formas, que supostamente refletem o comportamento hidrológico da bacia. Em uma bacia circular, toda a água escoada tende a alcançar a saída da bacia ao mesmo tempo (Fig. 2.3). Figura. 2.3 - Bacia Arredondada e as características do escoamento nela originado por uma precipitação uniforme Uma bacia elíptica, tendo a saída da bacia na ponta do maior eixo e, sendo a área igual a da bacia circular, o escoamento será mais distribuído no tempo, produzindo portanto uma enchente menor (Fig. 2.4). Figura 2.4 - Bacia elíptica e as características do escoamento nela originado por uma precipitação uniforme Universidade Federal da Bahia – Departamento de Engenharia Ambiental Apostila 2011.1 24 Grupo de Recursos Hídricos – Notas de aula de Hidrologia As bacias do tipo radial ou ramificada são formadas por conjuntos de sub-bacias alongadas que convergem para um mesmo curso principal. Neste caso, uma chuva uniforme em toda a bacia, origina cheias nas sub-bacias, que vão se somar, mas não simultaneamente, no curso principal. Portanto, a cheia crescerá, estacionará, ou diminuirá na medida em que forem se fazendo sentir as contribuições das diferentes sub-bacias (Fig. 2.5). Figura 2.5 - Bacia ramificada e as características do escoamento nela originado por uma precipitação uniforme a) Fator de Forma: O fator de forma - Kf - é a relação entre a largura média e o comprimento axial da bacia. Mede-se o comprimento da bacia (L) quando se segue o curso d’água mais longo desde a desembocadura até a cabeceira mais distante da bacia. A largura média (L) é obtida quando se divide a área pelo comprimento da bacia. L LK f = , (2.1) mas L AL = (2.2) logo 2L AK f = (2.3) Onde A e L são respectivamente área da bacia em km2 e comprimento do rio principal em km. O fator de forma é um índice indicativo da tendência para enchentes de uma bacia. Uma bacia com um fator de forma baixo é menos sujeita a enchentes que outra de mesmo tamanho, porém com maior fator de forma. Isso se deve ao fato de que numa bacia estreita e longa, com fator de forma baixo, há menos possibilidade de ocorrência de chuvas intensas cobrindo simultaneamente toda sua extensão; e também numa tal bacia, a contribuição dos tributários atinge o curso d’água principal em vários pontos ao longo do mesmo, afastando-se, portanto, da condição ideal da bacia circular discutida no item seguinte, na qual a concentração de todo o deflúvio da bacia se dá num só ponto. Universidade Federal da Bahia – Departamento de Engenharia Ambiental Apostila 2011.1 25 Grupo de Recursos Hídricos – Notas de aula de Hidrologia b) Coeficiente de Compacidade: coeficiente de compacidade ou índice de Gravelius - Kc - é a relação entre o perímetro da bacia e o perímetro de um círculo de área igual á da bacia. pi pi ARRA =→= 2. (2.4) e (2.5) R PK c pi2 = (2.6) Substituindo (2.5) em (2.6), tem-se: A PK c 28,0 = (2.7) Onde P e A são respectivamente perímetro em km e área da bacia em km2. Este coeficiente é um número adimensional que varia com a forma da bacia, independentemente do seu tamanho; quanto mais irregular for a bacia, tanto maior será o coeficiente de compacidade. Um coeficiente mínimo igual à unidade corresponderia a uma bacia circular. Se os outros fatores forem iguais, a tendência para maiores enchentes é tanto mais acentuada quanto mais próximo da unidade for o valor desse coeficiente. 2.3.2 - Relevo Diversos parâmetros foram desenvolvidos para refletir as variações do relevo em uma bacia. Os mais comuns são: a) Declividade da bacia. Apesar de haver diversos métodos para estimar a declividade da bacia, o mais comum é simular o da Equação 2.8, sendo que a diferença de cota (H) deve se referir a toda bacia e não apenas ao canal. Há ainda o método das quadrículas associadas a um vetor. Esse método é mais completo que o anterior e consiste em determinar a distribuição percentual das declividades do terreno por meio de uma amostragem estatística das declividades normais às curvas de nível em um grande número de pontos na bacia. Esses pontos devem ser locados num mapa topográfico da bacia por meio de um quadriculado que se traça sobre o mesmo. b) Curva Hipsométrica. É a representação gráfica do relevo médio de uma bacia. Representa o estudo da variação da elevação dos vários terrenos da bacia com referência ao nível médio do mar. Essa variação pode ser indicada por meio de um gráfico que mostra a porcentagem da área de drenagem que existe acima ou abaixo das várias elevações. A curva hipsométrica pode ser determinada pelo método das quadrículas descrito no item anterior ou planimetrando-se as áreas entre as curvas de nível. Percentagem da área de drenagem Figura. 2.6 Curva Hipsométrica Universidade Federal da Bahia – Departamento de Engenharia Ambiental Apostila 2011.1 26 Grupo de Recursos Hídricos – Notas de aula de Hidrologia A Tabela 2.1 apresenta os passos utilizados para o cálculo de uma curva hipsométrica, a qual é mostrada na (Fig. 2.6). 1 2 3 4 5 6 Cota (mm) Ponto Médio(m) Área (km2) Área Acumulada (km2) % Acumula da 940-920 930 1,92 1,92 1.08 1,08 920-900 910 2,90 4,82 1,64 2,72 900-880 890 3,68 8,50 2,08 4,80 880-860 870 4,07 12,57 2,29 7,09 860-840 850 4,60 17,17 2,59 9,68 840-820 830 2,92 20,09 1,65 11,33 820-800 810 19,85 39,94 11,20 22,53 800-780 790 23,75 63,69 13,40 35,93 780-760 770 30,27 93,96 17,08 53,01 760-740 750 32,09 126,05 18,10 71,11 740-720 730 27,86 153,9115,72 86,83 720-700 710 15,45 169,36 8,72 95,55 700-680 690 7,89 177,25 4,45 100 Total 177,25 Tabela 2.1 - Curva Hipsométrica c) Elevação média da bacia. A variação da altitude e a elevação média de uma bacia são, também, importantes pela influência que exercem sobre a precipitação, sobre as perdas de água por evaporação e transpiração e, consequentemente, sobre o deflúvio médio. Grandes variações da altitude numa bacia acarretam diferenças significativas na temperatura média a qual, por sua vez, causa variações na evapotranspiração. Mais significativas, porém, são as possíveis variações de precipitação anual com a elevação. A elevação média é determinada por meio de um retângulo de área equivalente à limitada pela curva hipsométrica e os eixos coordenados; a altura do retângulo é a elevação média. Outro método é o de utilizar a equação E=ΣΣΣΣe.a (2.8) A Onde: E= elevação média e= elevação média entre duas curvas de nível consecutivas a= área entre as curvas de nível A= área total Outro fator importante no estudo das elevações da bacia é a Altura Média da Seção de Controle (Desembocadura), a qual representa uma carga potencial hipotética a que estão sujeitos os volumes de excesso de chuva e constitui um fator que afeta o tempo que levariam as águas para atingir a seção de controle. Essa altura é determinada pela diferença entre a elevação mediana e a elevação do leito na desembocadura. d) Declividade de álveo. A velocidade de escoamento de um rio depende da declividade dos canais fluviais. Assim, quanto maior a declividade, maior será a velocidade de escoamento e bem mais pronunciados e estreitos serão os gráficos vazão x tempo das enchentes. Universidade Federal da Bahia – Departamento de Engenharia Ambiental Apostila 2011.1 27 Grupo de Recursos Hídricos – Notas de aula de Hidrologia Obtém-se a declividade de um curso d’água, entre dois pontos, dividindo-se a diferença total de elevação do leito pela extensão horizontal do curso d’água entre esses dois pontos. A declividade do canal pode ser descrita como: L HS ∆= (2.9) Onde S é a declividade (m/m), H é diferença de cota (m) entre os pontos que definem o início e o fim do canal (nascente e foz), L é o comprimento do canal entre estes pontos (rio principal). Na Figura 2.7 é apresentado um perfil longitudinal de uma bacia, onde a declividade entre a foz e a nascente está representada pela linha S1. Traça-se S2, tal que, a área compreendida entre ela e a abscissa seja igual á compreendida entre a curva do perfil e a abscissa. Traçando-se S3, que representa a declividade equivalente constante, tem-se uma idéia sobre o tempo de percurso da água ao longo da extensão do perfil longitudinal Fig. 2.7 - Perfil longitudinal do Ribeirão do Lobo Outra forma de determinar a declividade é utilizada para terrenos com declividade constante, podendo-se até determinar através desta declividade o tempo de percurso da precipitação. Caso o curso d’água tivesse uma declividade constante igual a declividade equivalente, o tempo de percurso seria determinado da seguinte maneira: Considerando-se que o tempo de percurso varia em toda a extensão do curso d’água com o recíproco da raiz quadrada da declividade, dividindo-se o perfil de álveo em um grande número de trechos retilíneos, tem-se que a raiz quadrada da declividade equivalente constante é a média harmônica ponderada da raiz quadrada das declividades dos diversos trechos retilíneos, tomando-se como peso a extensão de cada trecho. Logo, ∑ ∑ = i i i2/1 3 S L L S (2.10) Onde: ii DS = (2.11) Sendo, Di= declividade de cada trecho, logo: 2 3 = ∑ ∑ i i i D L LS (2.12) Onde: Li = distância real medida em linha inclinada Universidade Federal da Bahia – Departamento de Engenharia Ambiental Apostila 2011.1 28 Grupo de Recursos Hídricos – Notas de aula de Hidrologia 2.3.3 Padrões de drenagem A velocidade do escoamento em canal é usualmente maior que a velocidade de escoamento superficial. Portanto, o tempo de deslocamento do escoamento em uma bacia na qual o comprimento de escoamento superficial é pequeno em relação ao comprimento do canal seria menor do que em uma bacia com trechos longos de escoamento superficial. O tempo de deslocamento do escoamento em uma bacia é um dado de extreme importância para diversos estudos hidrológicos, como será mostrado a seguir. O padrão de drenagem é um indicador das características do escoamento de uma precipitação. Alguns parâmetros foram desenvolvidos para representar os padrões de drenagem. a) Ordem dos Cursos D’Água - Leis de Horton - A ordem do curso d’água é uma medida da ramificação dentro de uma bacia. Um curso d’água de primeira ordem é um tributário sem ramificações; um curso d’água de 2a ordem é um tributário formado por dois ou mais cursos d’água de 1a ordem; um de 3a ordem é formado por dois ou mais cursos de 2a ordem; e, genericamente, um curso d’água de ordem n é um tributário formado por dois ou mais cursos d’água de ordem (n - 1) e outros de ordens inferiores. Figura 2.8 - Ordem dos cursos d'água segundo Horton Para uma bacia hidrográfica, a ordem principal é definida como a ordem principal do respectivo canal. A Figura 2.8 mostra a ordenação dos cursos d’água de uma bacia hipotética. Neste caso, a ordem principal da bacia é 4. b) Densidade de Drenagem A densidade de drenagem (D) é a razão entre o comprimento total dos cursos d’água em uma bacia e a área desta bacia hidrográfica. Um valor alto para D indicaria uma densidade de drenagem relativamente alta e uma resposta rápida da bacia a uma precipitação. A L D T= (2.13) Onde LT é a extensão total dos cursos d’água e A é a área da bacia hidrográfica. Exemplo: A área da bacia é 115 Km2, a extensão total dos cursos d’água é 29,0Km. A densidade de drenagem é, portanto: 2/25,0 115 29 kmkm A L D T === Segundo SWAMI (1975), índices em torno de 0,5km/km2 indicaria uma drenagem pobre, índices maiores que 3,5km/km2 indicariam bacias excepcionalmente bem drenadas. Universidade Federal da Bahia – Departamento de Engenharia Ambiental Apostila 2011.1 29 Grupo de Recursos Hídricos – Notas de aula de Hidrologia c) Tempo de Concentração (tc) Como tempo de concentração de uma bacia, entende-se o tempo necessário para que uma partícula de água se desloque do ponto mais distante da bacia até o exutório da mesma. Existem diversas formulas para a sua determinação sendo a maioria empírica. Destacamos a fórmula de Kirpich (1940), por ser a mais usada: 385,03 95,0 = ∆H Ltc Sendo: tc: Tempo de concentração [horas] L: Comprimento do rio principal [km] ∆H: diferença de nível, em [m] 2.3.4. Cobertura vegetal da bacia A cobertura vegetal, e em particular as florestas e as culturas da bacia hidrográfica, vêm juntar a sua influência à de natureza geológica dos terrenos, condicionando a maior ou menor rapidez do escoamento superficial. Para, além disso, a sua influência exerce-se,também, na taxa de evaporação da bacia, com uma ação regularizadora de caudais, sobretudo nos climas secos. No caso de grandes cheias com elevados caudais a sua ação é, no entanto, praticamente nula. Além da influência que exerce na velocidade dos escoamentos e na taxa de evaporação, a cobertura vegetal desempenha papel importante e eficaz na luta contra a erosão dos solos. QUESTIONÁRIO 1. O que significa um fator de forma alto? 2. Como a declividade influencia na resposta da bacia a enchentes? 3. Como o fator de forma (Kf) e o Coeficiente de compacidade (Kc) podem traduzir o comportamento de uma bacia hidrográfica? Universidade Federal da Bahia – Departamento de Engenharia Ambiental Apostila 2011.1 30 Grupo de Recursos Hídricos – Notas de aula de Hidrologia CAPÍTULO 3( parte 2) PRECIPITAÇÃO 3.1 INTRODUÇÃO A precipitação pode assumir diversas formas, incluindo: chuva, neve, granizo e orvalho. Com relação à hidrologia, apenas chuva e neve são importantes. Este curso tratará apenas da precipitação pluviométrica, já que a precipitação de neve não é significativa no Brasil. Por sua capacidade para produzir escoamento, a chuva é o tipo de precipitação mais importante para a hidrologia e o principal elemento da maioria dos projetos hidrológicos. Os problemas de engenharia relacionados com a hidrologia são em sua grande maioria conseqüência de chuvas de grande intensidade ou volume e da ausência de chuva em longos períodos de estiagem. Chuvas de grande intensidade em áreas urbanas causam o alagamento das ruas, porque o sistema de drenagem não é projetado para chuvas muito intensas. Precipitações de grande intensidade podem, ainda, causar danos à agricultura e a estrutura de barragens. A ausência de chuvas por longos períodos reduz a vazão dos rios, causando a diminuição do nível dos reservatórios. Vazões reduzidas devido à falta de chuva trazem danos ao ambiente do curso d’água, além de reduzir a água disponível para diluição de poluentes. A diminuição do nível dos lagos e reservatórios reduzem a disponibilidade da água para usos como: abastecimento, irrigação e geração de energia. É evidente, então que os problemas surgem quando a precipitação ocorre em situações extremas (mínimos ou máximos) de intensidade e/ou freqüência, ou quando os intervalos entre precipitações são excessivamente longos. A disponibilidade de precipitação em uma bacia durante o ano é o fator determinante para quantificar, entre outros, a necessidade de irrigação de culturas e o abastecimento de água doméstico e industrial. A determinação da intensidade da precipitação é importante para o controle de inundação e a erosão do solo. As características principais da precipitação são o seu total, duração e distribuição temporal e espacial. O total precipitado não tem significado se não estiver ligado a uma duração. Por exemplo, 100 mm pode ser pouco em um mês, mas é muito em um dia ou, ainda mais, em uma hora. A ocorrência da precipitação é um processo aleatório que não permite uma previsão determinística com grande antecedência. O tratamento dos dados de precipitação para grande maioria dos problemas hidrológicos é estatístico. 3.2 MECANISMOS DE FORMAÇÃO DAS PRECIPITAÇÕES O vapor de água contido na atmosfera constitui um reservatório potencial de água que, ao condensar-se, possibilita a ocorrência das precipitações. A origem das precipitações está ligada ao crescimento das gotículas das nuvens, que ocorre em função de certas condições. Efetivamente, muitas vezes existem nuvens que não produzem chuvas, o que evidencia a necessidade de processos que desencadeiem a precipitação. Para a ocorrência da precipitação das gotículas de água é necessário que estas alcancem um volume tal que seu peso seja superior às forças que as mantêm em suspensão, adquirindo, então, uma velocidade de queda superior às componentes verticais ascendentes dos movimentos atmosféricos. A nuvem é um aerosol constituído por uma mistura de ar, vapor de água e de partículas em estado líquido ou sólido (gelo) cujos diâmetros variam de 0,01 a 0,03 mm, espaçadas, em média, um milímetro entre si. O ar que envolve as gotículas das nuvens se acha num estado próximo ao da saturação e, por vezes, supersaturado. Esse aerosol fica estável, em suspensão, pelo efeito da Universidade Federal da Bahia – Departamento de Engenharia Ambiental Apostila 2011.1 31 Grupo de Recursos Hídricos – Notas de aula de Hidrologia turbulência no meio atmosférico e/ou devido à existência de correntes de ar ascendentes que contrabalançam a força da gravidade. As gotículas possuem massa de 0,5 a 1 grama de água por m3 de ar, enquanto o ar saturado que envolve as gotículas tem umidade de 1 a 6 gramas por m3 ( -20ºC a 5ºC). A concentração das gotículas é de cerca de 1000/cm3. Dessa forma, a quantidade total de água presente em uma nuvem, nos três estados pode variar de 1,5 a 7 g/m3. As gotículas de chuva têm diâmetros de 0,5 a 2,0 mm (densidade espacial de 0,1 a 1 gota por dm3), com um valor máximo de 5,0 a 5,5 mm. Quando uma gota cresce até atingir um diâmetro de 7,0 mm, sua velocidade de queda será de 9 m/s. A uma velocidade tão alta a gota se deforma e subdivide em gotas menores devido à resistência do ar. As gotas de chuva têm dimensões muito maiores do que as gotículas das nuvens. A origem das precipitações está intimamente ligada ao crescimento das gotículas das nuvens. O ar atmosférico, além dos gases que o compõem, contém partículas minúsculas (diâmetro variando de 0,01 a 1 mícron) de várias origens: argilosas, orgânicas (pólen), químicas e sais marinhos. Sobre essas partículas se realiza com facilidade a condensação do vapor atmosférico. Essas partículas funcionam como núcleos de condensação. Observa-se que quando o ar úmido sobe e atinge o nível de saturação, as gotículas de água que se formaram não têm tendência a se unirem ente si sem a presença dos núcleos de condensação. 3.3 CLASSIFICAÇÕES DAS PRECIPITAÇÕES Conforme o mecanismo fundamental pelo qual se produz a ascensão do ar úmido, as precipitações podem ser classificadas em: Convectivas: quando em tempo calmo, o ar úmido for aquecido na vizinhança do solo, podem-se criar camadas de ar que se mantêm em equilíbrio instável. Perturbado o equilíbrio, forma-se uma brusca ascensão local do ar menos denso que atingirá seu nível de condensação com formação de nuvens, e muitas vezes, precipitações. São as chuvas convectivas, características das regiões equatoriais, onde os ventos são fracos e os movimentos de ar são essencialmente verticais, podendo ocorrer nas regiões temperadas por ocasião do verão (tempestades violentas). São, geralmente, chuvas de grande intensidade e de pequena duração, restritas a áreas pequenas. São precipitações que podem provocar importantes inundações em pequenas bacias. Prof. Daniel G. Allasia www.ufsm.br/dga- HD5402-Precipitação Universidade Federal da Bahia – Departamento de Engenharia Ambiental Apostila 2011.1 32 Grupo de Recursos Hídricos – Notas de aula de Hidrologia Orográficas: Quando os ventos quentes e úmidos, soprando geralmente do oceano para o continente, encontram uma barreira montanhosa, elevam-se e se resfriam adiabaticamente havendo condensação do vapor, formação de nuvens e ocorrência de chuvas. São chuvas de pequena intensidade e grande duração, que cobrem pequenas áreas. Quando os ventos conseguem ultrapassar a barreira montanhosa, do lado oposto projeta-se uma sombra pluviométrica, dando lugar a áreas secas ou semi-áridas causadas pelo ar seco, já que a umidade foi descarregada naencosta oposta; Prof. Daniel G. Allasia www.ufsm.br/dga- HD5402-Precipitação Frontais ou ciclônicas: provêem da interação de massas de ar quentes e frias. Nas regiões de convergência na atmosfera, o ar quente e úmido é violentamente impulsionado para cima, resultando no seu resfriamento e na condensação do vapor de água, de forma a produzir chuvas. São chuvas de grande duração, atingindo grandes áreas com intensidade média. Essas precipitações podem vir acompanhadas por ventos fortes com circulação ciclônica. Podem produzir cheias em grandes bacias. Observam-se diferentes formas de precipitações na natureza: • Chuvisco (neblina ou garoa): precipitação muito fina e de baixa intensidade; • Chuva: é a ocorrência da precipitação na forma líquida. A chuva congelada é a precipitação constituída por gotas de água sobrefundida que congelam instantaneamente quando se chocam contra o solo, formando uma capa de gelo. • Neve: é a precipitação em forma de cristais de gelo que durante a queda coalescem formando blocos de dimensões variáveis; • Saraiva: é a precipitação sob a forma de pequenas pedras de gelo arredondadas com diâmetro de cerca de 5 mm. • Granizo: quando as pedras, redondas ou de forma irregular, atingem grande tamanho (diâmetro ≥ 5mm); • Orvalho: nas noites claras e calmas, os objetos expostos ao ar amanhecem cobertos por gotículas de água. Houve a condensação do vapor de água do ar nos objetos que resfriam durante a noite. O resfriamento noturno, geralmente, baixa a temperatura até ponto de orvalho; • Geada: é a deposição de cristais de gelo, fenômeno semelhante ao da formação de orvalho, mas ocorre quando a temperatura é inferior a 0ºC. Universidade Federal da Bahia – Departamento de Engenharia Ambiental Apostila 2011.1 33 Grupo de Recursos Hídricos – Notas de aula de Hidrologia 3.4 PLUVIOMETRIA 3.4.1 INTRODUÇÃO A medição da quantidade da água que cai em uma região é dita pluviometria. Sendo os diversos tipos de precipitação, de um modo geral, medidos indiscriminadamente através do seu equivalente em água pela chamada altura pluviométrica (diz-se que caíram x mm de chuva). As grandezas que caracterizam uma precipitação são: • Altura pluviométrica (h): é a espessura média da lâmina de água precipitada que recobriria a região atingida pela precipitação admitindo-se que essa água não se infiltra, não evapora, nem escoa para fora dos limites da região. A unidade de medição habitual é o milímetro de chuva. • Duração (X): é o período de tempo durante o qual a chuva cai. As unidades normalmente utilizadas são minuto ou hora. • Intensidade (i): é a precipitação por unidade de tempo, obtida com a relação i = h/X. Se Expressa normalmente em mm/h ou mm/min. A intensidade de uma precipitação apresenta variabilidade temporal, mas, para a análise dos processos hidrológicos, geralmente são definidos intervalos de tempo nos quais é considerada constante. 3.4.2 REGIME PLUVIOMÉTRICO É o conjunto de características dessa mesma região resultantes da pluviosidade média e distribuição, freqüência e duração das chuvas. Sendo cada região caracterizada pelo seu regime pluviométrico. 3.4.3 APARELHOS DE MEDIDA As grandezas pluviométricas são obtidas direta ou indiretamente, através dos aparelhos descritos abaixo: a) PLUVIÔMETRO. É fundamentalmente constituído por um recipiente aberto de bordas delgadas e chanfradas, a fim de que fique bem definida a abertura exposta à chuva, com diâmetro superior rigorosamente conhecido, tendo-se mais frequentemente 100, 200, 314, 400 ou 1000 cm2 de área de captação. Essa abertura é internamente afunilada, deixando apenas um pequeno orifício para a passagem de água, e diminuindo assim a possibilidade de evaporação da mesma (já que o contato com a atmosfera se restringe ao dito orifício). Em baixo, há uma válvula de saída para a água ser recolhida em uma proveta: que deve estar calibrada para que se faça a leitura diretamente em mm de chuva, ou pode ser uma proveta das mais comuns onde a leitura é feita em uma unidade de volume, em mililitro, que corresponde a 1 cm3 . Para o cálculo da lâmina precipitada deve-se utilizar a seguinte formula: Universidade Federal da Bahia – Departamento de Engenharia Ambiental Apostila 2011.1 34 Grupo de Recursos Hídricos – Notas de aula de Hidrologia A VP 10= (3.1) Onde: P = a precipitação em mm acumulada no tempo entre as observações, V = o volume de água coletado é medido na proveta em cm3 A = área da abertura superior do aparelho em cm2 b) PLUVIÓGRAFO. Em muitos estudos hidrológicos, previsão de picos de cheia, por exemplo, é indispensável conhecer não somente a altura total de precipitação referente a um determinado período, mas também a intensidade dessas precipitações em cada instante ao longo desse período. Utiliza-se então um pluviógrafo, também chamado de pluviômetro registrador ou udógrafo, cujo aparelho registrador traça em diagrama a curva das precipitações acumuladas no período. As figuras 3.3 e 3.4 mostram o esquema de funcionamento e a foto de um pluviógrafo. Na fig. 3.5 vêem-se os diagramas de chuva gerados por este. Fig 3.3 - Esquema de funcionamento Fig 3.4 - Foto Fig. 3.5 - Diagrama de chuva 3.4.4 LOCALIZAÇÃO DOS PLUVIÔMETROS A medida correta das alturas de precipitação está longe de ser simples, basicamente pelas seguintes razões: a) Seja qual for o seu tipo, o pluviômetro cria uma perturbação aerodinâmica que modifica mais ou menos o campo das precipitações, originando, na sua vizinhança imediata, turbilhões que afetam a quantidade chuva e sobretudo a neve captada. b) Há poucos locais ao mesmo tempo suficientemente abrigados para reduzir ao mínimo o efeito aerodinâmico acima referido e, entretanto, convenientemente desobstruídos para fornecer uma amostra típica válida da região, seja qual for a direção do vento e da perturbação pluviosa. c) Uma medida de chuva não pode ser nunca repetida. d) A amostra revelada pelo pluviômetro é sempre extraordinariamente pequena em relação ao conjunto da chuva que nós supomos por ela determinada sobre uma zona sempre muito extensa; ela é tanto menos representativa quanto mais importante for a heterogeneidade espacial da chuva sobre a zona considerada. Universidade Federal da Bahia – Departamento de Engenharia Ambiental Apostila 2011.1 35 Grupo de Recursos Hídricos – Notas de aula de Hidrologia É, portanto essencial medir as precipitações com aparelhos estabelecidos, instalados e explorados segundo métodos extremamente normatizados, para obter resultados tão representativos quanto possível. Para tirar melhor partido da utilização dos pluviômetros é conveniente ter em conta os seguintes princípios gerais: 1) A boca do pluviômetro deve ficar bem horizontal; na prática podemos estimar em 1% o erro produzido por cada grau de inclinação do pluviômetro sobre a horizontal, desde que ela não exceda 10º ; este erro é positivo quando a inclinação do plano de abertura está dirigida para o vento e negativo no caso contrário. 2) Parece (há autores de opinião contrária) que os pluviômetros acusam uma altura de precipitação tanto maior quanto maior for a área de recepção de sua abertura. 3) É a ação do vento, variável em sua velocidade e a situação mais ou menos exposta do pluviômetro, a principal causa de erro na medição das precipitações. O aumento de velocidade do ar e a formação de turbilhões na vizinhançaimediata do aparelho tem por conseqüência um desvio local da trajetória das partículas da chuva ou de neve que ocasiona um erro por defeito na altura das precipitações medidas. O erro é tanto maior quanto maior for a velocidade do vento e menor a velocidade de queda das gotas de água ou flocos de neve. De acordo com o que se acaba de expor e para reduzir o erro ao mínimo, os pluviômetros devem colocar-se em exposição abrigada, mas sem obstáculos. A altura normatizada deste aparelho é de 1,5 metros do solo. A situação ideal é a localização em uma área grande, plana e livre de árvores e edifícios que possam interceptar a precipitação. Além disso, para reduzir os efeitos do vento, deve-se instalar barreiras baixas, com envolventes cilíndricos ou tapumes, a uma distância do pluviômetro não inferior ao dobro da sua altura. Modernamente também se usam telas que envolvem a curta distância a superfície receptora, conseguindo muito aproximadamente realizar um pluviômetro “aerodinamicamente neutro”. A densidade ótima da rede pluviométrica depende evidentemente da finalidade e da heterogeneidade das chuvas na região em estudo. Assim, em bacias planas, extensas, mas homogêneas, uma rede pouco densa será satisfatória. Ao contrário, se o objetivo é estudar a influência de precipitações de curta duração numa região montanhosa, teremos de multiplicar a rede e utilizar vários aparelhos registradores. 3.5 APRESENTAÇÃO DOS DADOS PLUVIOMÉTRICOS Os dados pluviométricos são atualmente registrados, armazenados e apresentados em forma de tabelas e/ou de bancos de dados. Para maior facilidade de comparação desses dados, recorre-se a representações gráficas. Uma análise pluviométrica decorre ao longo do tempo em determinada região. Portanto, tem- se que utilizar duas espécies de representações gráficas: uma temporal, relativa à evolução pluviométrica em um mesmo ponto (posto); outra espacial, dando-nos a noção de como varia, de ponto a ponto da região, ou seja, a pluviometria relativa a um dado intervalo de tempo. 3.5.1. REPRESENTAÇÃO TEMPORAL Recorre-se, mais freqüentemente, a dois tipos de diagrama, que a seguir se apresentam. Universidade Federal da Bahia – Departamento de Engenharia Ambiental Apostila 2011.1 36 Grupo de Recursos Hídricos – Notas de aula de Hidrologia a)HIETOGRAMA: relaciona intensidade média de precipitação com o tempo. Representando em abcissa os tempos, divididos em intervalos iguais ao período de observação pluviométrica. Desenham-se retângulos de área proporcional às alturas de precipitação correspondentes a esses intervalos para obter, assim, um diagrama com o aspecto igual ao da fig. 3.6, ao qual se dá o nome de hietograma. Fig. 3.6 - Hietograma Mas se as divisões do tempo forem iguais a unidade, a intensidade média de cada intervalo exprime-se pelo mesmo número que a altura de precipitação relativa ao mesmo intervalo; por isso, nesses casos pode-se marcar nas ordenadas simplesmente as alturas de precipitação. b) CURVA DE PRECIPITAÇÕES ACUMULADAS: corresponde á curva integral do hietograma. Sendo i = dh/dt = i(t) a função correspondente ao hietograma (designando por i a intensidade e h a altura de precipitação), a curva de precipitação acumulada se definirá por : ∫= dttih )( (3.2) Portanto ela nos dá, para cada valor de tempo, a altura de precipitação caída desde a origem dos tempos até esse momento. Veja o exemplo da figura 3.7. Fig. 3.7 - curva de precipitações acumuladas 3.5.2 REPRESENTAÇÃO ESPACIAL (CARTAS PLUVIOMÉTRICAS) A variação em dada região, da pluviometria relativa a um determinado período de tempo representa-se habitualmente por mapas dessa mesma região, ou cartas pluviométricas. Elas nos dão, portanto uma idéia de conjunto sobre a repartição das chuvas nesse território durante o período em causa. Normalmente este período é de um ou mais anos, sendo no segundo caso habitual trabalhar-se com os valores médios das precipitações anuais. Universidade Federal da Bahia – Departamento de Engenharia Ambiental Apostila 2011.1 37 Grupo de Recursos Hídricos – Notas de aula de Hidrologia A) REPRESENTAÇÃO PELAS ISOIETAS As isoietas são linhas que representam a distribuição pluviométrica de uma região, através de curvas de igual precipitação. Este meio de representação pluviométrica é inteiramente análogo ao da representação topográfica. A figura 3.8 mostra as isoietas para uma bacia hidrográfica teórica Fig. 3.8 - Mapa de isoietas de uma bacia hidrográfica Para traçar as isoietas, parte-se dos dados relativos aos postos pluviométricos da região (pertencentes ao intervalo em que se fará as curvas). Interessa-nos em primeiro lugar determinar os pontos de pluviosidade igual às das isoietas que desejamos traçar. Para isso supomos que no seguimento de reta que une dois pontos vizinhos é linear a variação da pluviosidade. Com base nesta hipótese, vejamos como determinar entre os pontos A e B de alturas de chuva HA e HB , o ponto C corresponde a altura de chuva HC. Da figura 3.9 tira-se que: hBhA L hchA x AB − = − (3.3) Fig 3.9 - Determinação de isoietas Na construção dos mapas de isoietas, o analista pode também considerar os efeitos orográficos e morfologia temporal, de modo que o mapa final represente um modelo de precipitação mais real do que o que seria obtido de medidas isoladas 3.6 ANÁLISE DE DADOS PLUVIOMÉTRICOS O objetivo de um posto de medição de chuvas é o de obter uma série, sem falhas, de precipitações ao longo dos anos (ou estudo da variação das intensidades de chuva ao longo das tormentas). Em qualquer caso pode ocorrer a existência de períodos sem informações ou com falhas nas observações, devido a problemas com os aparelhos de registro e/ou com o operador do posto. As causas mais comuns de erros grosseiros nas observações são: a) preenchimento errado na caderneta de campo; b) soma errada do número de provetas, quando a precipitação é alta; c) valor estimado pelo observador, por não se encontrar no local da amostragem; d) crescimento de vegetação ou outra obstrução próxima ao posto de observação; e) danificação do aparelho; f) problemas mecânicos no registrador gráfico. Logo como há necessidade de se trabalhar com séries contínuas, essas falhas devem ser preenchidas. Também necessita-se que seja estudada a consistência dos dados dentro de uma visão regional, ou seja, comparar o grau de homogeneidade dos dados disponíveis num posto, com relação às observações registradas em postos vizinhos. Universidade Federal da Bahia – Departamento de Engenharia Ambiental Apostila 2011.1 38 Grupo de Recursos Hídricos – Notas de aula de Hidrologia 3.6.1 PREENCHIMENTO DE FALHAS — MÉTODO DA PONDERAÇÃO REGIONAL É um método simplificado, geralmente utilizado para o preenchimento de séries mensais e anuais, onde as falhas de um posto são preenchidas através de uma ponderação com base nos dados de pelo menos três postos vizinhos, que devem ser de regiões climatológicas semelhantes a do posto em estudo e ter uma série de dados de no mínimo 10 anos. Designando por x a estação que apresenta falhas e por A, B e C as estações vizinhas, pode-se determinar a precipitação desta estação através da seguinte equação: ++= c c x b b x a a x x PM MP M MP M MP 3 1 (3.4)Onde: Px - É a variável que guardará os dados corrigidos Mx - Média aritmética da estação com falha Ma, Mb e Mc - Média aritmética das estações vizinhas Pa, Pb e Pc - É o dado da estação vizinha, ao posto com falha, do mesmo ano que utilizamos para preencher a falha. 3.6.2 ANÁLISE DE CONSISTÊNCIA DE SÉRIES PLUVIOMÉTRICAS Esse tipo de análise é utilizada para verificar a homogeneidade dos dados, isto é, se houve alguma anormalidade na estação pluviométrica, tal como mudança de local ou das condições do aparelho ou modificação no método de observação. MÉTODO DE DUPLA MASSA Este método consiste em selecionar os postos de uma região (que deve ser considerada homogênea do ponto de vista hidrometerológico), acumular para cada um deles os valores (mensais ou anuais conforme a análise), plotar em um gráfico cartesiano os valores acumulados correspondentes ao posto a consistir (eixo ordenado) com os valores médios das precipitações mensais acumuladas em vários pontos da região (eixo das abscissas) que servirá como base para comparação. Se os valores dos postos a consistir forem proporcionais aos observados na base de comparação, os pontos devem se alinhar segundo uma única reta. A declividade desta reta determina o fator de proporcionalidade entre ambas as séries. Quando os pontos não se alinham podem ocorrer as seguintes situações: a) Mudança na declividade: determina duas ou mais retas. Constitui o exemplo típico da ocorrência de erros sistemáticos, mudança nas condições de observação ou no meio físico, como alterações climáticas. Para se considerar a existência de mudança na declividade é prática comum exigir-se a ocorrência de pelo menos 5 pontos sucessivos alinhados segundo a nova tendência. Para corrigir os valores utilizamos a seguinte equação: o o a a PM MP = (3.5) Fig. 3.10 - Mudança de declividade Universidade Federal da Bahia – Departamento de Engenharia Ambiental Apostila 2011.1 39 Grupo de Recursos Hídricos – Notas de aula de Hidrologia Onde: Pa - Observações ajustadas à condição atual de localização Po - Dados observados a serem corrigidos Ma - Coeficiente angular da reta no período mais recente Mo - Coeficiente b) Alinhamento dos pontos em retas paralelas: ocorre quando existem erros de transcrição de um ou mais dados ou pela presença de valores extremos em uma das séries plotadas (figura 3.11). A ocorrência de alinhamentos, segundo duas ou mais retas aproximadamente horizontais (ou verticais), pode ser a evidência de postos com diferentes regimes pluviométricos. Fig 3.11 - Diferentes regimes c) distribuição errática dos pontos: geralmente é resultado da comparação de postos com diferentes regimes pluviométricos, sendo incorreta toda associação que se deseje fazer entre os dados dos postos plotados (figura 3.12). Fig. 3.12 - Distribuição errática d) Distribuição dos dados ao longo de uma única reta é a situação ideal que caracteriza dados sem inconsistência, com é visto na figura 3.13. Fig.3.13 - Dados sem inconsistência Uma vez finalizada a análise de consistência, pode ser necessária uma revisão dos valores previamente preenchidos. O preenchimento das séries é uma tarefa efetuada antes da consistência para evitar distorções no gráfico de Dupla Massa, mas se neste gráfico forem observadas modificações de tendência, o preenchimento poderá ser revisado. Universidade Federal da Bahia – Departamento de Engenharia Ambiental Apostila 2011.1 40 Grupo de Recursos Hídricos – Notas de aula de Hidrologia 3.7 PRECIPITAÇÃO MÉDIA SOBRE UMA BACIA 3.7.1 MÉTODO ARITMÉTICO A precipitação média, calculada por este método, nada mais é do que a média aritmética dos valores de precipitação medidos na área da bacia, o que implica na admissão de que todos os pluviômetros têm a mesma influência na bacia em estudo. O valor da média calculado por tal método apresenta algumas restrições para ser considerado consistente: os aparelhos de medição de precipitação devem estar distribuídos uniformemente na área da bacia; o relevo não deve ser acidentado; a área deve ser plana; e que os dados observados nos aparelhos não se distanciem do valor da média. Além disso, só poderá ser feita a média aritmética com postos dentro da bacia. Deve ser utilizada a seguinte formula: n h h n i∑ = 1 (3.6) Onde: h i = altura de precipitação de cada posto n = número de postos 3.7.2 MÉTODO DE THIESSEN Este método considera a não- uniformidade da distribuição espacial dos postos, delimitando geometricamente a área da bacia em que cada aparelho de medição exerce influência. Essas áreas são determinadas em mapas da bacia contendo as estações do seguinte modo: 1) Une-se os postos adjacentes por linhas retas formando triângulos (linha pontilhada); 2) traça-se as mediatrizes dessas retas (linha em negrito); 3) E prolongando-as até que se encontrem ou que saiam da bacia. Os lados dos polígonos (linha cheia) limitam as áreas de influência de cada estação, como pode-se ver na figura 3.14. Fig. 3.14 – Mapa do método de Tiessen em uma bacia. Disponível em: http://www.ltid.inpe.br/dsr/vianei/CursoHF/Capitulo4c.ht m. Acesso: 09/02/2011 A precipitação média é calculada pela média ponderada, entre a precipitação hi de cada estação e o peso a ela atribuído Ai, que corresponde a área de influência de cada posto, de acordo com a seguinte fórmula: Universidade Federal da Bahia – Departamento de Engenharia Ambiental Apostila 2011.1 Grupo de Recursos Hídricos – Notas de aula de Hidrologia 71 ( ) T n ii A hA h ∑ ⋅ = 1 (3.13) Onde: Ai = área do polígono interna à bacia (área de influência do posto) h i = precipitação observada em cada aparelho AT = área total da bacia n = número de posto. Os postos pluviométricos trabalhados não têm que estar necessariamente dentro da bacia. Esse método dá bons resultados em terrenos levemente acidentados, quando a localização e exposição dos pluviômetros são semelhantes e as distâncias entre eles não são muito grandes. 3.7.3 MÉTODO DA CURVA HIPSOMÉTRICA Quando se trata de calcular a pluviosidade média referente a um período bastante longo (ano, mês, etc.), numa bacia montanhosa, esse é um processo muito utilizado. Consiste em estabelecer para todas as frações da bacia, que serão tomada como homogêneas, a lei de variação da altura de precipitação, em função da altitude. Dispondo da curva hipsométrica, já anteriormente estudada, que como vimos nos dá a repartição da bacia por altitude, o cálculo da pluviosidade média é feito atribuindo-se a cada fatia de altitude a precipitação calculada. Conhecendo-se, então as precipitações em cada cota estabelecida pode-se calcular a média da seguinte maneira: ( ) ∑ ∑ ⋅ = i ii A hA h (3.14) Sendo: Ai = área parcial da bacia hidrográfica correspondente à determinada altitude; h = precipitação correspondente a uma certa altitude. 3.7.4 MÉTODO DA ISOIETAS É considerado o método mais preciso no cálculo da precipitação média sobre uma bacia. Consiste na ponderação das precipitações médias entre as duas isoietas que delimitam cada região utilizando como fator peso as suas respectivas áreas. De posse do mapa das isoietas da região, podemos calcular a média da seguinte forma: ∑ ∑ ⋅ + = + i ii A A hh h 1 1 2 (3.15) Sendo:hi e h i+1 = precipitação das duas isoietas sucessivas que delimitam a região; Ai = área de cada região limitada entre duas isoietas e/ou a linha que delimita à bacia. Universidade Federal da Bahia – Departamento de Engenharia Ambiental Apostila 2011.1 Grupo de Recursos Hídricos – Notas de aula de Hidrologia 72 QUESTIONÁRIO 1. Qual a diferença entre um posto pluviométrico e um posto pluviográfico? 2. Como é feito o preenchimento de falhas? Qual a fórmula utilizada? 3. Quais são os critérios utilizados para a escolha dos postos que serão utilizados como referência para o preenchimento de falhas? EXEMPLOS RESOLVIDOS 1- Preencher a falha da Estação 01. Chuvas totais anuais ( em mm) ANO Estação 01 Estação 02 Estação 03 Estação 04 1980 399,6 295,3 204,9 157,9 1981 722,2 406,5 346,7 341,4 1982 624,1 442,2 303,5 331,9 1983 822,8 393,7 374,4 344,6 1984 430,4 417,7 373,1 1985 783,0 492,1 817,0 747,4 1986 346,0 666,2 454,7 333,5 1987 572,1 571,5 720,2 648,4 1988 518,2 583,5 1027,7 739,5 1989 715,7 1045,0 541,9 832,0 1990 722,2 793,4 789,9 840,0 1991 433,8 652,4 723,1 743,2 1992 824,0 713,0 915,2 590,4 1993 1120,0 1559,6 1301,2 1458,0 1994 632,4 746,6 800,2 826,2 1995 850,4 990,3 842,9 662,1 1996 629,9 1126,7 790,5 802,6 1997 423,3 418,5 451,6 586,5 1998 663,4 720,2 725,1 650,9 Correlação entre as séries de dados dos postos Estação 01 Estação 02 Estação 03 Estação 04 Estação 01 1,00 0,77 0,76 0,71 Estação 02 0,81 0,83 0,89 0,77 Estação 03 0,76 0,78 1,00 0,64 Estação 04 0,71 0,77 0,64 1,00 Estação 05 0,77 1,00 0,78 0,77 Universidade Federal da Bahia – Departamento de Engenharia Ambiental Apostila 2011.1 Grupo de Recursos Hídricos – Notas de aula de Hidrologia 73 Média E01 655.73 Média E02 686.69 Média E03 660.44 Média E04 632.08 ++= c c a b b x a a x x PM M P M M P M M P 3 1 ++= 1,373 08,632 73,6557,417 44,660 73,6554,430 69,686 73,655 3 1 1984P ( )06,38772,41499,410 3 1 1984 ++=P = 404,26mm 2- Calcular a média das chuvas das estações acima pelo método da Média Aritmética Simples (somente estações dentro da Bacia). P = 4 4E3E2E1E +++ = 4 08,63244,66069,68649,642 +++ = 655,43mm Universidade Federal da Bahia – Departamento de Engenharia Ambiental Apostila 2011.1 Grupo de Recursos Hídricos – Notas de aula de Hidrologia 74 3.8 FREQUÊNCIA DE PRECIPITAÇÕES 3.8.1 Introdução Em Engenharia o conhecimento das características das precipitações apresenta grande interesse de ordem técnica por sua freqüente aplicação nos projetos hidráulicos. Nos projetos dos vertedores de barragens, no dimensionamento de canais, na definição das obras de desvio dos cursos d'água, na determinação das dimensões de galerias de águas pluviais, no cálculo de bueiros, deve-se conhecer a magnitude das enchentes que poderiam ocorrer com uma determinada frequencia. Nos projetos de irrigação e abastecimento d'água, deve-se conhecer a grandeza das estiagens que adviriam e com que frequencia ocorreriam. Portanto, há a necessidade de determinar as frequencias das precipitações extremas esperadas sejam estas máximas ou mínimas. Nos projetos de obras hidráulicas, as dimensões são determinadas em função de considerações de ordem econômica, portanto corre-se o risco de que a estrutura venha a falhar durante a sua vida útil. É necessário, então, conhecer este risco. Para isso analisam-se estatisticamente as observações realizadas nos postos hidrométricos, verificando-se com que frequência elas assumiram cada magnitude. Os dados observados podem ser considerados em sua totalidade, o que constitui uma série total, ou apenas os superiores a um certo limite (série parcial), ou, ainda, só o máximo de cada ano (série anual) 3.8.2 Definição de Frequência Freqüência (F): É a probabilidade de um fenômeno igual ou superior ao analisado, se apresentar em um ano qualquer (probabilidade anual). Por exemplo: uma enchente “x” ou uma chuva “x” tem a probabilidade de 1% de ser excedida em um ano qualquer. 3.8.2.1 Frequencia de Totais Precipitados Neste capítulo citaremos apenas dois métodos o método da Califórnia e o método de Kimbal. 1+ = n mF (Método Kimbal) n mF = (Método Califórnia) Onde: F = freqüência com que foi igualado ou superado um evento de orcem “m” m = número de ordem n = número de anos de observação Os dados devem ser ordenados em ordem decrescente e a cada um é atribuído o seu número de ordem m. Tabela 1: Exemplo método de Kimball Ordem X(mm) F(x≥X) 1 X1 1/(n+1) 2 X2 2/(n+1) 3 X3 3/(n+1) ... ... ... ... ... ... n Xn n(/n+1) 3.8.3 Definição de Tempo de Recorrência Universidade Federal da Bahia – Departamento de Engenharia Ambiental Apostila 2011.1 Grupo de Recursos Hídricos – Notas de aula de Hidrologia 75 Os eventos hidrológicos são expressos em função da probabilidade (P) de ser ou não excedidos. Por exemplo, uma chuva que tem 5% de ser igualada ou excedida em um ano qualquer. Tempo de recorrência (Tr) é o intervalo de tempo médio onde determinado evento (chuva, vazão, etc.) é igualado ou superado estatisticamente, também conhecido como período de recorrência ou de retorno e é definido como o inverso da probabilidade P. Tr = 1/ P Exemplo 1: Uma precipitação com 1% de probabilidade de ser igualada ou superada num ano tem um Tr = 100 anos. Exemplo 2: Se uma chuva h tem um período de recorrência de 50 anos isto significa que, em média(!), esta chuva é igualada ou excedida a cada 50 anos. Exemplo 3: Em outros termos: A chuva h tem uma probabilidade P= 1/T =1/50 = 0,02 (ou 2%) de ser igualada ou excedida, em um ano qualquer. Na Hidrologia podemos estudar eventos que excedem determinado valor “x” (probabilidade de excedência, [ ]xXP ≥ ), ou seja, valores máximos ou eventos que não excedem determinado valor “x” (probabilidade de não excedência, [ ]xXP ≤ ), ou seja, valores mínimos. Resumindo: [ ]xXPT ≥= 1 , para a análise de máximos. [ ]xXPT ≤= 1 , para a análise de mínimos. Como explicado acima freqüência (F) é a probabilidade de um fenômeno igual ou superior ao analisado, se apresentar em um ano qualquer. Adotaremos que P= F(x) no caso de valores mínimos (não excedência), logo para máximos (excedência), P= 1- F(x). 3.8.4 Principais modelos probabilísticos A seguir serão apresentadas duas distribuições de probabilidade teórica para variáveis contínuas de larga utilização em hidrologia e que serão utilizadas para a resolução dos exercícios desta disciplina. Além destas, existem diversas outras inclusive para variáveis aleatórias discretas e que podem ser encontradas na bibliografia recomendada ao final do capítulo. 3.8.4.1 - Distribuição Normal Variáveis hidrológicas como precipitação anual, calculada como a soma dos efeitos de vários eventos independentes tendem a seguir a distribuição normal, cuja função densidade de probabilidade se segue: ( ) 2 2 1 2 1 − − = σ µ piσ x xf e Pode-se provar que os parâmetrosµ e σ são iguais a esperança e à variância de X, respectivamente. [ ] [ ] 2σ µ = = XVAR XE Universidade Federal da Bahia – Departamento de Engenharia Ambiental Apostila 2011.1 Grupo de Recursos Hídricos – Notas de aula de Hidrologia 76 Fazendo-se a transformação para a variável reduzida, σ µ− = x t , temos a distribuição reduzida: ( ) 2 2 1 2ttf e−= pi , cuja função de distribuição acumulada de probabilidades é: ∫ ∞− − = t duuetF 2 2 1)( 2 pi Abaixo segue a ilustração gráfica de uma distribuição normal reduzida e acumulada, respectivamente: 3.8.4.2 Ajuste de um modelo de probabilidades- Método Gráfico Uma das formas de se avaliar visualmente um ajuste a um modelo de probabilidades é através de papéis de probabilidade. Um papel de probabilidades nada mais é que um papel cuja escala é ajustada para que a função de densidade acumulada, F(x) de determinada distribuição seja plotada em forma de uma reta. Pode-se então além de analisar - se a aderência do modelo teórico aos dados observados fazer-se extrapolações, sendo esta última prática pouco precisa e sujeita a erros. O ajuste da série de valores anuais de precipitação segundo a curva normal é muito facilitado pelo uso de papéis de probabilidade, no qual a distribuição normal se apresenta como urna reta que passa por f.d.p. x φ(x ) µ xµ− σ µ+ σ 68.27% f.d. 0 0.5 1 Φ(x ) xµ ba Φ(a ) Φ(b ) Universidade Federal da Bahia – Departamento de Engenharia Ambiental Apostila 2011.1 Grupo de Recursos Hídricos – Notas de aula de Hidrologia 77 três pontos característicos, µµµµ; µµµµ - σσσσ e µµµµ + σσσσ a cujas funções de distribuição são respectivamente F(µµµµ) = 50%; F(µµµµ - σσσσ) = 15,87% e F(µµµµ + σσσσ) = 84,13%. Os períodos de retorno são definidos por T = 1 / F(X) para F(x) < O,5 e T = 1 / l - F(x) para F(x) > O,5 e apresentam, a repartição de freqüência mostrada na tabela abaixo. Repartição das Freqüências em Função do Período de Retorno Probabilidades das Alturas Pluviométricas Esperadas Período de Retorno Máximas Mínimas 2 anos 50 % 50 % 5 anos 80 % 20 % 10 anos 90 % 10 % 20 anos 95 % 5 % 50 anos 98 % 2 % 100 anos 99 % 1 % 1.000 anos 99,9 % 0,1 % 10.000 anos 99,99 % 0,01 % Universidade Federal da Bahia – Departamento de Engenharia Ambiental Apostila 2011.1 Grupo de Recursos Hídricos – Notas de aula de Hidrologia 78 Exemplo: Dadas as precipitações médias anuais abaixo, analisar graficamente o ajuste da distribuição normal à série de dados em questão Ano P(mm) 1980 489,33 1981 651,4 1982 764,52 1983 850,38 1984 282,49 1985 417,58 1986 435,2 1987 859,51 1988 911,5 1989 1313,12 1990 767,59 1991 668,78 1992 736,8 1993 754,81 1994 806,48 1995 644,04 1996 447,42 1997 418,55 1998 401,05 Resolução: Utilizando o método de Kimbal, construímos a seguinte tabela: P(mm) Ordem Freq. m/(n+1) 282,49 1 0,05 401,05 2 0,10 417,58 3 0,15 418,55 4 0,20 435,2 5 0,25 447,42 6 0,30 489,33 7 0,35 644,04 8 0,40 651,4 9 0,45 668,78 10 0,50 736,8 11 0,55 754,81 12 0,60 764,52 13 0,65 767,59 14 0,70 806,48 15 0,75 850,38 16 0,80 859,51 17 0,85 911,5 18 0,90 1313,12 19 0,95 Universidade Federal da Bahia – Departamento de Engenharia Ambiental Apostila 2011.1 Grupo de Recursos Hídricos – Notas de aula de Hidrologia 79 Para o caso da distribuição normal têm-se uma reta que passa por três pontos distintos: ( ) ( ) ( ) mmF mmF mmF 76,90852,24424,664%13,84; 72,41952,24424,664%87,15; 24,664%50; =+==++ =−==−− == σµσµ σµσµ µµ Plota - se por fim, no papel de probabilidade da distribuição em estudo os valores obtidos da amostra e a reta da distribuição ajustada. Valores plotados para o exemplo Universidade Federal da Bahia – Departamento de Engenharia Ambiental Apostila 2011.1 Grupo de Recursos Hídricos – Notas de aula de Hidrologia 80 3.8.4.3 Ajuste de um modelo de probabilidades- Método Analítico ou Método dos Momentos Como visto a função de distribuição normal de probabilidades é: ( ) 2 2 1 2 1 − − = σ µ piσ x xf e Fazendo-se a transformação para a variável reduzida, σ µ− = x t , temos a distribuição reduzida: ( ) 2 2 1 2ttf e−= pi , A integral da função acima não possui solução analítica. A tabela abaixo relaciona valores da variável reduzida t com as variáveis x e F(x). Valores de F(x), para a variável reduzida t. Universidade Federal da Bahia – Departamento de Engenharia Ambiental Apostila 2011.1 Grupo de Recursos Hídricos – Notas de aula de Hidrologia 81 f.d.p normal reduzida EXEMPLO Estimar a precipitação média anual mínima para um período de retorno de 10 anos, através do método analítico (método dos momentos), levando em consideração a média e o desvio da série de chuvas dada. Solução: Temos as seguintes estimativas amostrais: x = 664,24 mm s = 244,52 mm Para o dado período de retorno, temos: [ ] ( ) ( ) 1,0 111 ==→= ≤ = T xF xFxXP T Consultando a tabela, temos t = -1,3 →t = s xx − → -1,3 = 52,244 24,664−X →x = 346,36 mm (precipitação média anual mínima) 3.8.4.4 Análise de frequência de eventos extremos – Método de Gumbel É necessário saber, com base nos dados observados, utilizando os princípios da probabilidade, as máximas precipitações que possa vir a ocorrer, com determinada frequência. Tratando-se de dados de chuvas diárias a ferramenta estatística utilizada é o método de Gumbel. Geralmente, as distribuições de valores extremos de grandezas hidrológicas se ajustam a distribuição de Gumbel ou distribuição tipo I de Fisher-Tippett, que veremos a seguir. A distribuição de Gumbel tem a seguinte função de distribuição acumulada de probabilidades: Média anual (mm) 282,49 418,55 401,05 447,42 417,58 644,04 489,33 668,78 806,48 754,81 764,52 651,40 850,38 1313,12 767,59 911,50 859,51 435,20 736,80 Universidade Federal da Bahia – Departamento de Engenharia Ambiental Apostila 2011.1 Grupo de Recursos Hídricos – Notas de aula de Hidrologia 82 ( )γ− − =≤= eexXPxF )()( Para Probabilidade de não excedência ( )γ− − −=≥= eexXPxF 1)()( Para probabilidade de excedência ( ) x n f S XXy σ−= Onde: P = probabilidade de um valor extremo da série ser maior ou igual a variável X = o valor analisado, y = variável reduzida, −= n n xf YSXX σ Xf = moda dos valores extremos, Sx = desvio padrão da variável X (série de valores extremos), x = média da variável x, (série de valores extremos), Yn, σn = respectivamente média e desvio padrão da variável reduzida y para uma amostra de n valores extremos. a) Resolvendo a equação F(x) para y no caso de não excedência, temos: ( ) yeexF −−=
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