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1 HIDROLOGIA APLICADA, PRIMEIRO MÓDULO CONCEITOS DE HIDROLOGIA A palavra HIDROLOGIA é originada das palavras gregas HYDOR, que significa “água” e LOGOS, que significa “ciência”. Hidrologia é, pois, a ciência que estuda a água (STUDART & CAMPOS, 2004). Durante a história, muitos conceitos errôneos e falhas de compreensão atravessaram o desenvolvimento da engenharia no seu sentido atual. Os gregos foram os primeiros filósofos que estudaram seriamente a Hidrologia, com Aristóteles sugerindo que os rios eram alimentados pelas chuvas (STUDART & CAMPOS, 2004). No Século XIX, muitas equações, fórmulas e instrumentos de medição foram criados no tocante às águas superficiais. O Século XX marcou a utilização dos computadores, que tornaram as análises mais rápidas e os modelos mais robustos. A Hidrologia está presente no nosso dia-a-dia, no rio ou córrego que atravessa a cidade, no volume de chuva precipitado numa região, no estudo e avaliação das enchentes e inundações, na drenagem urbana, nos sistemas de captação de água para abastecimento público ou industrial, na irrigação, nas rodovias, etc. Torna-se essencial o seu entendimento para possibilitar a compreensão de questões cotidianas, bem como melhorar e aperfeiçoar ações executadas nos municípios brasileiros, que tenham as águas superficiais como tema central. 2 Segundo Studart & Campos (2004), o ciclo natural da água tem sido interrompido ou alterado em regiões muito artificializadas, como as megacidades. É consenso geral que a gestão das águas é uma necessidade. E assim, a Hidrologia ressurge, hoje, como ferramenta indispensável para tal fim, uma vez que é a ciência que trata do entendimento dos processos de suprimento de água. Só ela pode avaliar como e quanto o ciclo hidrológico pode ser modificado pelas atividades humanas (STUDART & CAMPOS, 2004). Definição 1 - Hidrologia: estuda as fases do ciclo hidrológico, descrevendo seu passado, tentando prever seu futuro. Fonte: STUDART & CAMPOS, 2004. Definição 2 – Hidrologia: é a ciência que estuda a dinâmica da água na Terra, sua circulação e distribuição, as suas propriedades físicas e químicas, e sua reação com o meio ambiente, incluindo sua relação com as formas vivas. Fonte: LUGON JR & RODRIGUES, 2008. Hidrologia Aplicada: está voltada para os diferentes problemas que envolvem a utilização dos recursos hídricos, preservação do meio ambiente e ocupação da bacia hidrográfica. Fonte: CARVALHO & SILVA, 2006. O objeto central da Hidrologia é o estudo do Ciclo Hidrológico (CH) e dos diversos subciclos que o compõem (LUGON JR &RODRIGUES, 2008). No próximo tópico deste curso vamos estudar em detalhes o ciclo hidrológico para seu perfeito entendimento. CICLO HIDROLÓGICO, IMPORTÂNCIA E BALANÇO HÍDRICO A água (H2O) é um dos condicionantes da vida no planeta, sendo um recurso escasso e raro em diversas regiões do planeta. É utilizada em diversos processos industriais, sendo que a quantidade de água existente no planeta é constante, mas a poluição e contaminação deste recurso é que tem diminuído o volume de água disponível para consumo. 3 Este mineral está presente em toda a natureza, nos estados sólido, líquido e gasoso. É um recurso natural peculiar, pois se renova pelos processos físicos do ciclo hidrológico em que a Terra se comporta como um gigantesco destilador, pela ação do calor do Sol e das forças da gravidade. É, ainda, parte integrante dos seres vivos, e essencial à vida (BARTH & BARBOSA, 1999). Apesar da maior parte da água do Planeta, em qualquer momento, estar contida nos oceanos, a mesma está em contínuo movimento, em um ciclo cuja fonte principal de energia é o sol e cuja principal força atuante é a gravidade. A esta transferência ininterrupta da água do oceano para o continente e do continente para o oceano, dá-se o nome de Ciclo Hidrológico (STUDART & CAMPOS, 2004). Todas as formas de vida existentes na Terra dependem da água. Cada ser humano necessita consumir diariamente vários litros de água doce para manter-se vivo. Contudo, a água doce é um prêmio. Mais de 97% da água do mundo é água do mar, indisponível para beber e para a maioria dos usos agrícolas. Três quartas partes da água doce estão presas em geleiras e nas calotas polares. Lagos e rios são as principais fontes de água potável, mesmo constituindo, em seu conjunto, menos de 0,01% do suprimento total de água. Recentemente, foi estimado que a humanidade consome, sobretudo para a agricultura, cerca de um quinto da água que escoa para os mares; e as previsões indicam que essa fração atingirá cerca de três quartas partes no ano de 2025 (BAIRD, 2007). O comportamento natural da água quanto à sua ocorrência, transformações de estado e relações com a vida humana é bem caracterizado por meio de conceito de ciclo hidrológico, que pode ser considerado como composto de duas fases principais: uma atmosférica e outra terrestre. Cada uma delas incluem o armazenamento temporário de água, o transporte e a mudança de estado. Com fins didáticos e tendo em vista a aplicação à Engenharia, apresenta-se o ciclo hidrológico como compreendendo quatro etapas principais: - precipitações atmosféricas (chuva, granizo, neve e orvalho); - escoamentos subterrâneos (infiltração, águas subterrâneas); - escoamentos superficiais (torrentes, rios, ribeirões, lagos, córregos); - evaporação (na superfície das águas e no solo) e transpiração dos vegetais e animais. Quando universalmente considerado, o volume de água compreendido em cada parte do ciclo é relativamente constante, porém, quando se considera uma 4 área limitada, as quantidades de água em cada parte do ciclo variam continuamente, dentro de amplos limites. A superabundância e a escassez de chuva representam, numa determinada área, os extremos dessa variação. Os conflitos de utilização da água têm aspectos econômicos, sociais e ambientais que não podem ser resolvidos unicamente pelos técnicos de formação em ciências exatas. Novas categorias de profissionais, formados em ciências humanas precisam participar das soluções dos conflitos, nos processos de negociação entre o poder púbico e a sociedade (BARTH & BARBOSA, 1999). Com isto os engenheiros, geólogos, agrônomos, tecnólogos e economistas precisam conviver, interagir, e atuar em sinergia com sociólogos, cientistas sociais e comunicadores, formando equipes multidisciplinares de recursos hídricos. Essas equipes terão de ir a campo para interagir com os usuários das águas, com as comunidades urbanas e rurais, com os industriais, agricultores e ambientalistas a fim de encontrar, em processo de negociação complexo e difícil, as soluções de consenso para os conflitos de uso dos recursos hídricos (BARTH & BARBOSA, 1999). Figura 1 – Ciclo hidrológico e suas etapas (Fonte: DNAEE apud STUDART & CAMPOS, 2004). 5 Resumo do Aluno Ciclo Hidrológico: é o comportamento natural da água, transformações de estado e relações com a vida humana. Suas etapas são: - Precipitação, escoamento superficial, escoamento subterrâneo, evaporação e transpiração. Balanço Hídrico O balanço hídrico nada mais é do que o computo das entradas e saídas de água de um sistema. Várias escalas espaciais podem ser consideradas para se contabilizar o balanço hídrico. Na escala macro, o “balanço hídrico” é o próprio “ciclo hidrológico”, cujo resultado nos fornecerá a água disponível no sistema (no solo, rios, lagos, vegetação úmida e oceanos), ou seja, na biosfera (SENTELHAS & ANGELOCCI, 2009). Em uma escala intermediária, representada por uma microbacia hidrográfica, o balanço hídrico resulta na vazão de água desse sistema. Para períodos em que a chuva é menor do que a demanda atmosférica por vapor d’água, a vazão (Q) diminui, ao passo que nos períodos em que a chuva supera a demanda,Q aumenta (SENTELHAS & ANGELOCCI, 2009). Na escala local, no caso de uma cultura, o balanço hídrico tem por objetivo estabelecer a variação de armazenamentos e, consequentemente, a disponibilidade de água no solo. Conhecendo-se qual a umidade do solo ou quanto de água este armazena é possível se determinar se a cultura está sofrendo deficiência hídrica, a qual está intimamente ligada aos níveis de rendimento dessa lavoura (SENTELHAS & ANGELOCCI, 2009). De forma didática e simples, o balanço hídrico de uma bacia hidrográfica (vamos estudar seu significado nos próximos tópicos) pode ser dado pela equação: P = Qd + Qb + T + E, sendo: - P = Precipitação (chuva); 6 - Qd = Escoamento direto (água que deixa a bacia durante a chuva ou poucas horas após o seu encerramento); - Qb = Escoamento de base (água que infiltra no solo, alcançando camadas inferiores do solo, sendo temporariamente armazenada até contribuir para o rio na forma de escoamento de base, nas nascentes e áreas baixas); - T = Transpiração da vegetação; - E = Evaporação da água do solo e das superfícies líquidas. BACIA HIDROGRÁFICA COMO UNIDADE DE GEOPLANEJAMENTO Os desequilíbrios ambientais são originados muitas vezes, da visão setorizada dentro de um conjunto de elementos que compõe a paisagem. A bacia hidrográfica como unidade integradora desses setores (natural e social) deve ser administrada com essa função a fim de que os impactos ambientais sejam minimizados (CUNHA & GUERRA, 1996). Segundo Silveira (2003), a bacia hidrográfica é o elemento fundamental de análise do ciclo hidrológico. Christofoletti (1980) afirma que todos os acontecimentos que ocorrem numa bacia de drenagem repercutem, direta ou indiretamente, nos rios. Silva et al. (2001) salientam que dentre os recursos do meio físico que são degradados, os hídricos caracterizam-se como os mais facilmente afetados pelo processo de crescimento e ocupação desordenada. Conforme Cunha & Guerra (1996), sob o ponto de vista do auto-ajuste, pode- se deduzir que as bacias hidrográficas integram uma visão conjunta do comportamento das condições naturais e das atividades humanas nelas desenvolvidas, uma vez que, mudanças significativas em qualquer dessas unidades, podem gerar alterações, efeitos ou impactos a jusante e nos fluxos energéticos de saída (descarga, carga sólida e dissolvida). A bacia hidrográfica, segundo Garcez & Alvarez (1988), pode ser considerado uma área definida e fechada topograficamente num ponto do curso de água, de forma que toda a vazão afluente possa ser medida ou descarregada através desse ponto. 7 Com este entendimento podemos visualizar que todos os impactos ambientais oriundos dos terrenos adjacentes, pelo mau uso do solo, ocupação inadequada, falta de saneamento ambiental e baixa cobertura vegetal nativa ocasionam impactos hidrológicos, influenciando os recursos hídricos. Figura 2 – Bacia hidrográfica e seus elementos Fonte: MACHADO, 2011. Disponível em: <www.prof2000.pt/users/elisabethm/geo8/rio1.htm>. Acessado em: 21 Julho 2011. A erosão e o consequente processo de sedimentação, quando ocorrem em níveis elevados, geram uma série de impactos econômicos, sociais e ambientais, cujos custos são divididos não apenas por um setor, mas por toda a sociedade (BRASIL, 2009). A produção de sedimentos está sempre relacionada a um sistema erosivo composto pelas fases de retirada, transporte e deposição de materiais enfraquecidos pelo intemperismo (PEREIRA, 2007). Seja de maneira natural, seja catalizada pela ação humana, este sistema erosivo pode estar associado à ação de vários agentes físicos, como é o caso do vento, do gelo, do mar ou da ação da água escoando em uma bacia hidrográfica (PEREIRA, 2007). Estes impactos são exportados para a população urbana através do abastecimento público de água, pela influência nas enchentes urbanas e prejuízos 8 relacionados ao turismo. Para os proprietários rurais, os impactos refletem em baixa produtividade agrícola, aumento da pobreza rural, deterioração da qualidade de vida e impactos no custo da terra. Ambos refletem para toda a sociedade, como no aumento e oscilação no preço dos alimentos, aumento na taxa de fornecimento de água potável, desastres naturais, êxodo rural e aumento dos impostos. Figura 3 – Delimitação da bacia hidrográfica na paisagem (Foto: Diego de Toledo Lima da Silva, 2011). Garcez & Alvarez (1988) observam que a maioria dos problemas práticos de hidrologia tem como referência a bacia hidrográfica de um curso de água em uma seção determinada deste. Portanto, a compreensão que a bacia hidrográfica é a unidade básica de planejamento territorial (geoplanejamento) na realização de uma obra no curso d’água (como uma ponte, canalização, barragem, entre outros); no controle de inundações e enchentes; no desenvolvimento urbano e regional; no aproveitamento dos recursos hídricos para irrigação, abastecimento público e geração de energia; e 9 na revitalização e recuperação ambiental de uma determinada área; é essencial para que a população seja cúmplice nas mudanças e/ou no sucesso do projeto. PRECIPITAÇÃO ATMOSFÉRICA E FORMAS DE MEDIÇÃO A precipitação é um fenômeno através do qual o vapor de água presente na atmosfera se condensa em microgotículas, que se aglutinando podem assumir peso suficiente para que a gravidade vença o transporte ascensional. Essa aglutinação pode ser induzida por partículas de poeira, gelo ou gotas maiores (PINTO et al., 1990 apud LUGON JR & RODRIGUES, 2008). Entende-se por precipitações atmosféricas como o conjunto de águas originadas do vapor de água atmosférico que cai, em estado líquido ou sólido, sobre a superfície da terra. O conceito engloba, portanto, não somente a chuva, mas também a neve, o granizo, o nevoeiro, o sereno e a geada (GARCEZ & ALVAREZ, 1988). De maneira prática para o curso, as chuvas serão o tipo de precipitação atmosférica que estudaremos. A chuva é o principal tipo de precipitação que ocorre no Brasil, uma vez que a precipitação de neve está restrita a áreas serranas da região sul em ocorrências ocasionais. Por isso é comum o termo precipitação ser utilizado para a chuva, o elemento climático que deflagra os principais desastres naturais no Brasil: as inundações e os escorregamentos. A precipitação pluviométrica, ou chuva, tem sido o elemento do clima que provoca as transformações mais rápidas na paisagem no meio tropical e subtropical, sobretudo durante o verão, em episódios de chuvas concentradas (chuvas intensas ou aguaceiros), que ocorrem anualmente (TAVARES, 2009). Há uma relativa facilidade para medir as precipitações. Dispõe-se muitas vezes de longas séries de observações (mais de 200 anos em algumas estações na Europa, e com frequência mais de cinquenta anos em certos postos brasileiros) que permitem uma análise estatística de grande utilidade (Adaptado de GARCEZ & ALVAREZ, 1988). 10 Ainda segundo Garcez & Alvarez (1988), as precipitações atmosféricas representam, no ciclo hidrológico, o importante papel de elo de ligação entre os fenômenos meteorológicos propriamente ditos e os do escoamento superficial. As características principais que devem ser observadas das chuvas são a distribuição espacial (área) e temporal (período). Tipos de chuva Conforme Tavares (2009), as chuvas são classificadas de acordo com sua formação, que é resultado do tipo de processo que controla os movimentos de elevação do ar geradores das nuvens das quais se precipitam. Segundo Mendonça & Danni-Oliveira (2007) apud Tavares (2009) são assim diferenciadas: - Chuva de origem térmica ou convectiva: a convecção resulta do forte aquecimento do ar que ocorre ao longo do dia e caracteriza-se por movimentos ascensionais turbilhonares e vigorosos, que elevam o ar úmido. Com a continuidadedo aquecimento e atingindo a saturação, expressa pela temperatura do ponto de orvalho (TPO), ocorre a formação de pequenas nuvens cumulus, que tendem a se transformar em cumulo nimbos, gerando a precipitação, e não raras vezes os aguaceiros tropicais de final de tarde (“chuva de verão”). 11 Figura 4 – Chuva convectiva ou térmica Fonte: Valente, 2009. Disponível em: <www.ecodebate.com.br/2009/03/25/como- chove-aquela-chuva-artigo-de-osvaldo-ferreira-valente>. Acessado em: 11 Julho 2011. - Chuva de origem orográfica ou de relevo: ocorrem por ação física do relevo que atua como uma barreira à advecção livre do ar, forçando-o ascender. O ar quente e úmido, ao ascender próximo às encostas, resfria-se adiabaticamente devido à descompressão promovida pela menor densidade do ar nos níveis mais elevados. O resfriamento conduz à saturação do vapor, possibilitando a formação de nuvens estratiformes e cumuliformes, que, com a continuidade do processo de ascensão, tendem a produzir chuvas. Figura 5 – Chuva orográfica ou de relevo Fonte: Valente, 2009. Disponível em: <www.ecodebate.com.br/2009/03/25/como- chove-aquela-chuva-artigo-de-osvaldo-ferreira-valente>. Acessado em: 11 Julho 2011. - Chuva de origem frontal: forma-se pela ascensão forçada do ar úmido ao longo das frentes. As frentes frias, por gerarem movimentos ascensionais mais vigorosos, tendem a formar nuvens cumuliformes mais desenvolvidas. A intensidade das chuvas nelas geradas, bem como sua duração, será influenciada pelo tempo de 12 permanência da frente no local, pelo teor de umidade contido nas massas de ar que a formam, pelos contrastes de temperaturas entre as massas e pela velocidade de deslocamento da frente. Nas frentes quentes, a ascensão é mais lenta e gradual, gerando nuvens preferencialmente do tipo estratiforme. Figura 6 – Chuva frontal Fonte: Valente, 2009. Disponível em: <www.ecodebate.com.br/2009/03/25/como- chove-aquela-chuva-artigo-de-osvaldo-ferreira-valente>. Acessado em: 11 Julho 2011. Resumo do Aluno Tipos de chuva: - Convectivas: grande intensidade e curta duração, restritas a pequenas áreas. São responsáveis por boa parte das inundações; - Orográficas: ocorrem quando frentes do oceano encontram barreiras montanhosas. São normalmente de baixa intensidade e longa duração; - Frontais: provém da interação de massas de ar quente e frio. Possuem grande duração e média intensidade, podendo inundar até grandes bacias. Medindo as chuvas A medição do volume de chuvas de determinado local pode ser realizada por instrumentos meteorológicos, como o pluviômetro ou o pluviógrafo. 13 A unidade de medida é o milímetro (mm), sendo que cada milímetro de chuva equivale a 1 litro por metro quadrado. Exemplo: quando ouvimos nos telejornais que choveu mais de 100 mm em determinado local, quer dizer que choveu mais de 100 litros de água por metro quadrado neste local! Algumas grandezas e unidades de medida são muito utilizadas, vejamos: - Altura pluviométrica ou altura de precipitação (P): quantidade de água precipitada por unidade de área horizontal. Geralmente é expressa em milímetros (em polegadas nos Estados Unidos e Inglaterra) (GARCEZ & ALVAREZ, 1988); - Duração (t): intervalo de tempo decorrido entre o instante em que se iniciou a precipitação e seu término. É medida em geral em minutos (ou em horas) (GARCEZ & ALVAREZ, 1988); - Intensidade (i): precipitação por unidade de tempo. Geralmente expressa em mm/h (milímetro por hora) ou mm/min (milímetro por minuto); - Período de Retorno (T): intervalo médio de tempo, em anos, onde uma determinada chuva pode ser igualada ou superada pelo menos uma vez, em um ano qualquer; - Frequência (F): número de ocorrências de uma determinada precipitação (definida por uma altura pluviométrica e uma duração) no decorrer de um intervalo de tempo fixo (GARCEZ & ALVAREZ, 1988). Pode ser expressa pela equação abaixo: F = 1 / T, onde (/) representa o sinal de divisão, e: - F = Frequência; - T = Período de Retorno. Tipos de aparelhos Dois são os tipos principais de aparelhos utilizados para a medida das precipitações: os simples receptores, que recolhem a água tombada e a armazenam convenientemente para posterior medição volumétrica (pluviômetros), e os aparelhos registradores, que registram continuamente a quantidade de chuva que recolhem (pluviógrafos) (GARCEZ & ALVAREZ, 1988). 14 O pluviômetro é o dispositivo que se destina a registrar a quantidade de precipitação ocorrida em um determinado espaço de tempo. Os pluviômetros são normalmente observados uma ou duas vezes por dia, todos os dias, em horas certas e determinadas (importante); não indicam, portanto, a intensidade das chuvas ocorridas, mas tão somente a altura pluviométrica diária (ou a intensidade média em 12 h) (GARCEZ & ALVAREZ, 1988). Figura 7 – Pluviômetro instalado próximo de uma residência (Foto: Diego de Toledo Lima da Silva, 2011). 15 Figura 8 – O pluviômetro deve ser instalado em área aberta Fonte: FAEM/UFPEL, 2011. Disponível em: <www.ufpel.edu.br/faem/agrometeorologia/images/pluviometro86.jpg>. Acessado em: 21 Julho 2011. 16 Figura 9 – Pluviômetro utilizado nas áreas de risco da cidade de Petrópolis/RJ Fonte: DEFESA CIVIL – PETRÓPOLIS, 2011. Disponível em: <www.petropolis.rj.gov.br/index.php?url=http%3A//defesacivil.petropolis.rj.gov.br/def esacivil/modules/mastop_publish/%3Ftac%3D33>. Acessado em: 21 Julho 2011. Pluviógrafo: instrumento que mede e registra automaticamente a quantidade de chuva precipitada em um determinado local e a duração da chuva, podendo ser de 3 tipos: flutuador (o mais utilizado no Brasil), balança e basculante. Os pluviógrafos geralmente registram os volumes de chuva de hora em hora, possibilitando conhecer a intensidade da chuva, importante, por exemplo, na elaboração de equações de chuva intensa, que estudaremos mais à frente, e no estudo de escoamento de águas pluviais e vazões de enchentes de pequenas bacias. Figura 10 – Pluviógrafo Fonte: DIRECCIÓN METEOROLÓGICA DE CHILE, 2011. Disponível em: <www.meteochile.cl/instrumentos/inst_convencional.html>. Acessado em: 21 Julho 2011. 17 Instalação, operação e cuidados especiais com os pluviômetros Os aparelhos de medida de precipitação nunca medem exatamente a quantidade de água que cairia no local. Levando em conta que o valor medido deverá ser extrapolado para uma área muitas vezes superior à área de medição, há evidentemente um interesse grande em diminuir o mais possível essa discrepância, bem como em obter uma medida representativa de toda a região. Por isso devem ser tomados cuidados especiais na escolha do aparelho e em sua instalação, manutenção e operação (GARCEZ & ALVAREZ, 1988). Instalação: o pluviômetro deve ser instalado em local aberto, distante de qualquer obstáculo que possa causar interferência na coleta da chuva pelo recipiente. Na instalação, o pluviômetro deve ser colocado fixado a uma haste de madeira, a 1,5 de altura do solo. No caso de ser uma área densamente habitada, sem estas condições, o pluviômetro pode ser instalado no telhado da residência, fora de qualquer obstáculo. Operação: a medição do volume de chuvas deve ser realizada em horário fixo, de preferência toda manhã, às 07:00 hs ou 08:00 hs. O mesmo deve ocorrer com todos os pluviômetros da rede em uma determinada área. O operador deve tomar todo o cuidado na leitura, principalmente no tocante a erros grosseiros (golpe de vista). Manutenção: no geral, os pluviômetros não exigem manutenção constante. Apenas vistorias de acompanhamento. Distribuição: os pluviômetros devem ser distribuídos por bacia hidrográfica, de forma a se obter uma melhor cobertura de toda a área da bacia, uma melhor precisão nos resultados e evitar “zonas em branco”– sem qualquer tipo de medição. Vejam uma possível distribuição hipotética de pluviômetros em uma microbacia hidrográfica: 18 Figura 11 – Distribuição hipotética de pluviômetros em uma microbacia hidrográfica para um estudo detalhado (Foto: Diego de Toledo Lima da Silva, 2011). Análise de dados de uma estação pluviométrica A rede de estações pluviométricas distribuídas no Brasil fornece dados de vários anos que necessitam ser analisados. Segundo Garcez & Alvarez (1988), os dados colhidos pelos aparelhos de medida devem ser submetidos inicialmente a uma depuração prévia e a um preparo que possibilite seu emprego posterior. 19 Vários postos pluviométricos numa bacia hidrográfica Em alguns casos encontramos vários postos pluviométricos distribuídos dentro e fora da bacia hidrográfica, sendo que cada posto fornecerá um volume de chuvas. Isto é evidente, pois não chove de maneira uniforme em toda a bacia, um exemplo é que nas partes altas da bacia chove um determinado volume e nas áreas baixas outro. Para algumas análises existe a necessidade de apresentação de um único dado e existem basicamente 3 metodologias para o cálculo: Método da Média Aritmética Simples; Método Simplificado de Thiessen e Método das Isoietas. Método da Média Aritmética Simples A forma mais simples de determinar a lâmina média é admitir para toda a área considerada a média aritmética das alturas pluviométricas medidas nas diferentes estações nela compreendida ou em zonas vizinhas. A média assim determinada somente será representativa se a variação das precipitações entre as estações for muito reduzida e a distribuição das estações de medida for uniforme em toda a área (GARCEZ & ALVAREZ, 1988). Método Simplificado de Thiessen É uma espécie de média aritmética ponderada, onde cada posto pluviométrico assume um “peso”. Este método considera que os postos pluviométricos não estão uniformemente distribuídos. Procedimentos: - Ligue os postos por trechos retilíneos; - Trace linhas perpendiculares aos trechos retilíneos passando pelo meio da linha que liga os dois postos; - Prolongue as linhas perpendiculares até encontrar outra; - Formar um polígono pela intersecção das linhas, correspondente à área de influência de cada posto; 20 Método das Isoietas As isoietas são linhas de igual precipitação traçadas para um evento ou para uma duração específica. Neste curso não iremos abordar em detalhes este método, mas é bastante utilizado em trabalhos científicos e técnicos, e apresenta ótima precisão. EVAPOTRANSPIRAÇÃO Define-se por evaporação o processo físico, através do qual a água presente sobre a superfície terrestre ou nos poros do solo é transformada em vapor de água. Já a transpiração é um processo biológico, ativamente conduzido pelos vegetais no curso de suas atividades fisiológicas, resultando em liberação de água para a atmosfera, sob forma de vapor. Na maior parte das vezes, os dois fenômenos são tratados em conjunto, daí o termo evapotranspiração (PINTO et al., 1990 apud LUGON JR & RODRIGUES, 2008; TUCCI, 1993). Fatores que interferem no processo: - Relacionados à atmosfera: temperatura, insolação, umidade relativa do ar (URA), ventos, pressão atmosférica, etc. - Relacionados à superfície evaporante: superfície livre, solo nu ou cultivados, florestas, presença de óleos, etc. A unidade de medida normalmente utilizada é o mm. A intensidade da evapotranspiração pode ser expressa em mm/h ou mm/dia. A evaporação pode ser medida diretamente em águas não agitadas, através de evaporímetros. Esses se constituem em recipientes, cuja área de superfície 21 voltada para a atmosfera é conhecida, e que são colocados próximos aos corpos de água dos quais se pretende determinar a taxa de evaporação. Determina-se a evolução do volume presente no recipiente ao longo de um intervalo de tempo, monitorando-se, simultaneamente, as variáveis mais relevantes para o processo: temperatura, umidade do ar e velocidade do vento. Os cálculos devem, evidentemente, considerar o aporte de água decorrente da precipitação (LUGON JR & RODRIGUES, 2008). Por outro lado, a evapotranspiração decorrente do solo pode ser determinada através de lisímetros, que são tanques enterrados no solo, com geometria determinada, sendo recobertos pelo solo local, obedecendo à ordem original dos horizontes. Ao fundo do tanque são instalados drenos, que possibilitam recolher e medir a água drenada. Conhecendo-se a precipitação e determinando-se a quantidade de água percolada pelo solo, tem-se, por diferença, o total evapotranspirado (LUGON JR & RODRIGUES, 2008). A evapotranspiração também pode ser estimada por fórmulas matemáticas empíricas. Neste curso abordaremos a fórmula empírica para o cálculo da Taxa de Evaporação Mensal, conhecida como Fórmula de Vermuele (citada em Garcez & Alvarez, 1988): E = ( 1 + ( 0,75 * T )) * ( 3,94 + ( 0,0016 * P )), onde: - E = intensidade de evaporação (em mm/mês); - T = temperatura média anual (em °C); - P = altura pluviométrica anual (em mm). Exercício 7: No município de Extrema/MG, a temperatura média anual (T) de 2010 foi de 19,6 °C e o volume de chuva anual (P) foi de 1.500,5 mm. Qual a intensidade de evaporação, conforme a Fórmula de Vermuele? Resolução: Substitua os dados fornecidos pelo exercício na fórmula matemática E = ( 1 + ( 0,75 * T )) * ( 3,94 + ( 0,0016 * P )). -> E = (1 + ( 0,75 * 19,6 )) * ( 3,94 + ( 0,0016 * 1.500,5 ) -> E = ( 15,7 ) * ( 6,34 ) -> E = 99,54 mm/mês A intensidade de evaporação do município foi de 99,54 mm/mês, o que totaliza uma evaporação total de 1.194,5 mm no ano de 2010, conforme a Fórmula de Vermuele. 22 Dica: Para os cálculos em hidrologia, a precisão de duas a três casas após a vírgula (Ex.: 99,54 ou 99,538) já é o suficiente! Observem que a Fórmula de Vermuele para o cálculo da evaporação só deve ser utilizada nos casos em que não houver nenhuma estação meteorológica local. Para o município de Extrema/MG, no ano de 2010, a Evapotranspiração Potencial (ETP) foi de 1.004 mm, valor este 16% inferior ao calculado pela Fórmula de Vermuele, apenas para Evaporação. Exemplos de dados de evaporação medidos em reservatórios Reservatório Billings (Grande SP) – 808,8 mm (Ano de 1930) – Fonte: Eletropaulo. Reservatório Guarapiranga (Grande SP) – 1.059,6 mm (Ano de 1941) – Fonte: Eletropaulo. Reservatório de Ilha Solteira (região noroeste do Estado de São Paulo) – 1.771,8 mm (média de 1967 a 2007) – Fonte: Hernandez, 2007. Represa Hidrelétrica de Sobradinho (Bahia) – 2.025,7 mm – Fonte: Pereira, 2004. Observação importante! Um dos impactos dos grandes reservatórios é a alteração do micro-clima local, devido ao alto volume de evaporação do barramento. Este processo é responsável pela retenção de umidade na região. A inundação de grandes áreas também altera a intensidade dos ventos, pois não existe mais a rugosidade do solo anterior, que funcionaria como uma barreira contra os ventos. Geralmente, os impactos deste processo são considerados para a agricultura, como por exemplo, a restrição de algumas culturas agrícolas, como o morango, devido à umidade, e o aumento de doenças fúngicas. Mas também é possível que 23 os padrões de chuva convectiva na região sejam alterados, principalmente pelo aumento da umidade do ar, um dos condicionantes deste tipo de chuva. INFILTRAÇÃO Define-se por infiltração o processo de penetração da água no interior do solo. Há diversos fatores que controlam tanto a capacidade de infiltração quanto a velocidade com que o processo ocorre no interior do solo. O tipo, grau de umidade e de compactação do solo, bem como a cobertura vegetal e até mesmo a temperatura podem atenuar ou acelerar o processode infiltração (LUGON JR & RODRIGUES, 2008). As águas podem se infiltrar no solo sob ação da gravidade e capilaridade, formando assim a fase do escoamento subterrâneo do ciclo hidrológico. Intimamente ligado às características do solo e da cobertura vegetal! A infiltração pode ser medida diretamente no campo através de infiltômetros. Estes são tubos cilíndricos que, cravados verticalmente no solo, permitem um contato com a atmosfera, através dos quais um volume conhecido de água é adicionado, de maneira a manter-se constante uma lâmina de água sobrejacente a esse contato. Conhecendo-se a taxa de adição de água sobre essa superfície livre, é possível determinar-se a taxa de infiltração. Alternativamente, a exemplo da determinação da evapotranspiração, lisímetros podem ser utilizados para determinação da taxa de infiltração (LUGON JR & RODRIGUES, 2008). Tipo de solo e fatores que influenciam o processo de infiltração: - Quanto mais poroso um solo, maior a sua capacidade de infiltração; - A camada superficial do solo (os 20 cm superiores) influencia bastante no processo – quanto maior as partículas, maior a capacidade de infiltração; 24 - Grau de umidade do solo antes do evento de chuva, pois quanto maior o grau de umidade, menor a capacidade de infiltração (solo saturado, em vias de saturação ou encharcado); - Substâncias coloidais presentes no solo, que podem obstruir os poros quando o solo estiver úmido. Tipos de solo aplicados à Hidrologia Com o objetivo de facilitar a aplicação e os estudos desenvolvidos neste curso, podemos agrupar os solos brasileiros em 4 Grupos (A, B, C e D). Grupo A – Solos arenosos com baixo teor de argila total, inferior a uns 8%, não há rocha nem camadas argilosas e nem mesmo densificadas até a profundidade de 1,5 m. O teor de húmus é muito baixo, não atingindo 1% (PORTO & SETZER, 1979; PORTO et al., 1995). Solos que produzem baixo escoamento superficial e alta infiltração. Solos arenosos profundos com pouco silte e argila (TUCCI et al., 1993). Capacidade mínima de infiltração – 7,62 a 11, 43 mm/h; média - 9,53 mm/h (MCCUEN, 1998). Grupo B – Solos arenosos menos profundos que os do Grupo A e com menor teor de argila total, porém ainda inferior a 15%. No caso de terras roxas, esse limite pode subir a 20% graças à maior porosidade. Os dois teores de húmus podem subir, respectivamente, a 1,2 a 1,5%. Não pode haver pedras e nem camadas argilosas até 1,5 m, mas é, quase sempre, presente camada mais densificada que a camada superficial (PORTO & SETZER, 1979; PORTO et al., 1995). Solos menos permeáveis do que o anterior, solos arenosos menos profundo do que o tipo A e com permeabilidade superior à média (TUCCI et al., 1993). Capacidade mínima de infiltração – 3,81 a 7,62 mm/h; média – 5,72 mm/h (MCCUEN, 1998). Grupo C – Solos barrentos com teor de argila de 20% a 30%, mas sem camadas argilosas impermeáveis ou contendo pedras até profundidade de 1,2 m. No caso de terras roxas, esses dois limites máximos podem ser de 40% e 1,5 m. Nota- 25 se a cerca de 60 cm de profundidade, camada mais densificada que no Grupo B, mas ainda longe das condições de impermeabilidade (PORTO & SETZER, 1979; PORTO et al., 1995). Solos que geram escoamento superficial acima da média e com capacidade de infiltração abaixo da média, contendo percentagem considerável de argila e pouco profundo (TUCCI et al., 1993). Capacidade mínima de infiltração – 1,27 a 3,81 mm/h; média – 2,54 mm/h (MCCUEN, 1998). Grupo D – Solos argilosos (30% a 40% de argila total) e ainda com camada densificada a uns 50 cm de profundidade. Os solos arenosos como do grupo B, mas com camada argilosa quase impermeável ou horizonte de seixos rolados (PORTO & SETZER, 1979; PORTO et al., 1995). Solos contendo argilas expansivas e pouco profundos com muito baixa capacidade de infiltração, gerando a maior proporção de escoamento superficial (TUCCI et al., 1993). Capacidade mínima de infiltração – 0 a 1,27 mm/h; média – 0,64 mm/h (MCCUEN, 1998). Condições de umidade antecedente do solo Podemos distinguir 3 condições de umidade antecedente do solo, que influenciará o processo de infiltração e, consequentemente, da geração de escoamento superficial. - Condição I: solos secos – as chuvas nos últimos 5 dias não ultrapassam 15 mm. - Condição II: situação média na época de cheias – as chuvas nos últimos 5 dias totalizam entre 15 e 40 mm. - Condição III: solo úmido (próximo da saturação) – as chuvas nos últimos 5 dias foram superiores a 40 mm e as condições meteorológicas foram desfavoráveis a altas taxas de evaporação. 26 Lembrem-se: o tipo de solo, a condição de umidade antecedente e o uso e ocupação do solo serão utilizados nos modelos hidrológicos que trabalharemos mais à frente. Não é necessário decorar, apenas saber onde procurar estes dados quando necessitar! ESCOAMENTO SUPERFICIAL Define-se por escoamento superficial todo deslocamento de água que ocorra sobre a superfície terrestre. Para uma mesma precipitação, diversos fatores condicionam a intensidade e duração do escoamento superficial: área drenada, topografia, tipo de cobertura vegetal, tipo de solo e geologia da área drenada. Há ainda fatores decorrentes da atividade humana, tais como irrigação, canalização, captação e construção de barragens (LUGON JR & RODRIGUES, 2008). De maneira simplificada, o escoamento superficial pode ser calculado pela fórmula abaixo (Equação da Continuidade): Escoamento Superficial (ES) = Precipitação (P) – Infiltração (Inf.) – Evaporação (Evap.) – Transpiração (Transp.) O escoamento em uma bacia é, normalmente, estudado em duas partes: geração de escoamento e propagação de escoamento. O escoamento tem origens diferentes dependendo se está ocorrendo um evento de chuva ou não (COLLISCHONN, 2009). Durante as chuvas intensas, a maior parte da vazão que passa por um rio é a água da própria chuva que não consegue penetrar no solo e escoa imediatamente, atingindo os cursos d’água e aumentando a vazão. É desta forma que são formados os picos de vazão e as cheias ou enchentes. O escoamento rápido que ocorre em consequência direta das chuvas é chamado de escoamento superficial (COLLISCHONN, 2009). - Escoamento superficial: ocorre durante e imediatamente após a chuva. - Escoamento subterrâneo: é o que mantém a vazão dos rios durante as estiagens. Fonte: COLLISCHONN, 2009. 27 Hidrograma Hidrograma é a denominação dada ao gráfico que relaciona a vazão no tempo. A distribuição da vazão no tempo é resultado da interação de todos os componentes do ciclo hidrológico, que se dá entre a ocorrência da precipitação e a vazão na bacia hidrográfica (LUGON JR & RODRIGUES, 2008). Segundo Pinto et al. (1990), considerando-se chuvas de distribuição uniforme e intensidade constante sobre uma bacia, três proposições básicas podem ser enunciadas com respeito a um hidrograma: - em uma dada bacia hidrográfica, o tempo de duração do escoamento superficial é constante para chuvas de igual duração; - duas chuvas de igual duração, produzindo volumes diferentes de escoamento superficial, dão lugar a fluviogramas em que as ordenadas, em tempos correspondentes, são proporcionais aos volumes escoados; - a distribuição, no tempo, do escoamento superficial de determinada precipitação independe de precipitações anteriores. Segundo Collischonn (2009), a geração do escoamento é um dos temas mais complexos da hidrologia porque a variabilidade das características da bacia é muito grande, e porque a água pode tomar vários caminhos desde o momento em que atinge a superfície, na forma de chuva, até o momento em que chega ao curso d’água. Por último, deve ser destacado que a forma do hidrograma dá indicativos de algumas características da bacia hidrográfica à qual se relaciona. Assim,hidrogramas de bacias essencialmente rurais apresentam boa distribuição da vazão ao longo do tempo, enquanto que de bacias urbanas apresentam picos pronunciados. Por outro lado, bacias em forma radial (circular) apresentam hidrogramas com picos mais acentuados e prematuros, se comparadas com bacias em forma alongada (LUGON JR & RODRIGUES, 2008). 28 Figura 12 – Exemplo do Hidrograma de uma bacia em resposta a uma chuva Fonte: COLLISCHONN, 2009. Observem no hidrograma que: - durante e imediatamente após a chuva predomina o escoamento superficial; - durante a estiagem predomina o escoamento subterrâneo. Vazão Vazão ou descarga de um rio é o volume de água que passa entre dois pontos por um dado período de tempo. Normalmente, é expressa em metros cúbicos por segundo (m³/s). A vazão é influenciada pelo clima, aumentando durante os períodos chuvosos e diminuindo durante os períodos secos. Também pode ser influenciada pelas estações do ano, sendo menor quando as taxas de evaporação são maiores (PALHARES et al., 2007). Vejam outros conceitos: 29 - Vazão líquida, ou simplesmente vazão, é o volume de água por unidade de tempo que é transportada por uma seção transversal de um curso de água (LUGON JR & RODRIGUES, 2008). .- Chama-se vazão ou descarga, numa determinada seção, o volume de líquido que atravessa essa seção na unidade de tempo (AZEVEDO NETTO et al., 1998). As determinações de vazões realizam-se para diversos fins. Entre eles, citam- se sistemas abastecimento de água, estudos de lançamento de esgotos, instalações hidrelétricas, obras de irrigação, defesa contra inundações, etc. (AZEVEDO NETTO et al., 1998). De modo geral, a vazão pode ser representada (e determinada) pela Equação da Continuidade: Q = A * v, onde: Q = vazão (m³/s – metro cúbico por segundo, L/s – litros por segundo; m³/h – metro cúbico por hora, sendo que 1 m³ equivale a mil litros); A = área da seção de escoamento (m² - metro quadrado); v = velocidade média na seção (m/s – metros por segundo). Segundo Azevedo Netto et al. (1998), essa equação é de grande importância em todos os problemas da Hidrodinâmica. Hidrodinâmica: tem por objeto o estudo do movimento dos fluídos (AZEVEDO NETTO et al., 1998). Existem diferentes processos de medições de vazões, sendo que neste curso abordaremos os seguintes métodos: - Processo direto ou volumétrico; - Flutuador; - Vertedores; 30 - Químico; - Medidores de regime crítico (Calha Parshall); - Integração da velocidade (molinete); - Acústico (Doppler). Processo direto ou volumétrico Segundo Azevedo Netto et al. (1998), consiste na medição direta em recipiente de volume conhecido, (V); mede-se o tempo de enchimento do recipiente obtendo-se: Q = V / t, onde: Q = vazão (neste caso como estamos medindo pequenas descargas, geralmente expressa em l/s); V = Volume conhecido (em litros); t = tempo necessário para o enchimento do recipiente (em segundos). O método volumétrico baseia-se no tempo necessário para o enchimento de um volume conhecido. Embora seja o mais preciso de todos os métodos, é de difícil aplicação para a maioria das situações práticas (LUGON JR & RODRIGUES, 2008). Conforme Azevedo Netto et al. (1998), esse processo geralmente só é aplicável nos casos de pequenas descargas, como, por exemplo, de fontes, riachos, bicas e canalizações de pequeno diâmetro. Método do Flutuador A vazão medida por flutuadores consiste em determinar-se a velocidade de deslocamento de objetos que flutuem na lâmina de água. Conhecendo-se a área média das seções onde se conduz a medição, determina-se a vazão (LUGON JR & RODRIGUES, 2008). 31 Os flutuadores, conforme Azevedo Netto et al. (1998), consistem em objetos flutuantes que adquirem a velocidade das águas que os circundam. Os flutuadores simples ou de superfície podem ser uma garrafa plástica com água do próprio rio pela metade; uma laranja ou qualquer outro objeto que flutue satisfatoriamente. A velocidade média pode ser calculada como 80 a 90% da velocidade obtida pelo método, em superfície. Atualmente, os flutuadores são pouco usados para medições precisas, devido a muitas causas de erros (como as ondas, os ventos, irregularidades do leito do curso de água, etc.). Apenas são empregados para determinações expeditas e na falta de outros recursos (AZEVEDO NETTO et al., 1998). ESTUDO E CARACTERÍSTICAS DE BACIAS HIDROGRÁFICAS A maioria dos problemas práticos de Hidrologia tem como referência a bacia hidrográfica de um curso de água em uma seção determinada deste (quase sempre um ponto medidor de vazão). As características topográficas, geológicas, geomorfológicas, pedológicas e térmicas, bem como o tipo de cobertura da bacia, desempenham papel essencial no seu comportamento hidrológico, sendo importante medir numericamente algumas dessas influências. O objetivo deste capítulo é fixar a terminologia e expor os diversos métodos empregados para individualizar as principais características de uma bacia (GARCEZ & ALVAREZ, 1988). É necessário frisar o importante papel desempenhado pelo tipo de cobertura e uso da bacia hidrográfica em estudo e sua referência na avaliação do comportamento hidrológico desta. A tendência cada vez mais acentuada de ocupação de todas as partes do globo pelo homem, para aproveitar os materiais disponíveis, faz com que o tipo de cobertura do terreno de uma bacia se modifique, em alguns casos substancialmente, alterando as características da bacia no tempo (GARCEZ & ALVAREZ, 1988). 32 Índice de Conformação ou Fator de Forma (Kf) A relação entre a área de uma bacia hidrográfica e o quadrado de seu comprimento axial, medido ao longo do curso de água, da desembocadura ou seção de referência à cabeceira mais distante, constitui o índice de conformação ou fator de forma (Adaptado de GARCEZ & ALVAREZ, 1988). Como calcular? Kf = A / L2, onde: Kf = Índice de Conformação ou Fator de Forma, adimensional (sem unidade de medida); A = Área da bacia hidrográfica, em km²; L = Comprimento da bacia, medida ao longo do curso da água principal, em km. O fator de forma é um indicador da tendência para enchentes/inundações em uma determinada bacia hidrográfica. Os valores do fator de forma variam de 0 a 1. - Fator de forma baixo: bacia menos sujeita a enchentes/inundações que outra de mesmo tamanho, porém com maior fator de forma; - Fator de forma alto: bacia mais sujeita a enchentes/inundações que outra de mesmo tamanho, porém com menor fator de forma. Isso se deve ao fato de que uma bacia hidrográfica estreita e longa, com fator de forma baixo, há menor possibilidade de ocorrência de chuvas intensas cobrindo ao mesmo tempo, toda sua extensão, bem como a contribuição dos afluentes (tributários) atinge o rio principal em vários pontos ao longo do mesmo, afastando-se da condição ideal de bacia circular, em que a concentração de todo o escoamento superficial (deflúvio) da bacia hidrográfica se dá num só ponto. Coeficiente de Compacidade (Kc) É a relação do perímetro de uma bacia hidrográfica e a circunferência de círculo de área igual à da bacia (Adaptado de GARCEZ & ALVAREZ, 1988). 33 Como calcular? Kc = 0,28 * ( P / √ A ), onde: Kc = Coeficiente de Compacidade, adminesional; P = Perímetro da bacia hidrográfica, em km; A = Área da bacia hidrográfica, em km²; Observação: √ - Raiz Quadrada. O coeficiente de compacidade é um número que varia conforme a forma da bacia hidrográfica, independentemente do seu tamanho. - Bacia mais irregular: maior coeficiente de compacidade; - Bacia menos irregular: menor coeficiente de compacidade, ou seja, mais próximo ou igual a 1. Se outros fatores forem iguais, a tendência para picosmaiores de enchentes/inundações é mais acentuada quanto mais próximo de 1 for o coeficiente de compacidade. Índice de Circularidade (Ic) Definido como a razão entre a área da bacia e a área do círculo de igual perímetro. Apresentando significado semelhante ao fator de forma e coeficiente de compacidade. À medida que o valor do índice de circularidade se aproxima de 1, a bacia hidrográfica tende à forma circular e, portanto é mais sujeita a enchentes/inundações. Como calcular? Ic = 12,57 * ( A / P2 ), onde: Ic = Índice de Circularidade, adimensional; A = Área da bacia hidrográfica, em km²; P = Perímetro da bacia hidrográfica, em km. Densidade de Drenagem (Dd) 34 A relação entre o comprimento total dos cursos de água efêmeros, intermitentes e perenes de uma bacia hidrográfica e a área total da mesma bacia é denominada densidade de drenagem (GARCEZ & ALVAREZ, 1988). Como calcular? Dd = LT / A, onde: Dd = Densidade de Drenagem, em km/km²; LT = Comprimento total dos cursos d’água da bacia hidrográfica, em km; A = Área da bacia hidrográfica, em km². Se existir um número bastante grande de cursos de água numa bacia (relativamente a sua área), o deflúvio atinge rapidamente os rios. E haverá provavelmente picos de enchentes altos e deflúvios de estiagem baixos (GARCEZ & ALVAREZ, 1988). Segundo Villela & Mattos (1975), índices em torno de 0,5 km/km² indicaria uma drenagem pobre, índices maiores que 3,5 km/km² indicariam bacias excepcionalmente bem drenadas. Declividade (pura) do curso d’água A velocidade de escoamento de um rio depende da declividade dos canais da bacia hidrográfica. Quanto maior a declividade, maior a velocidade do escoamento, bem mais pronunciados e estreitos serão os gráficos vazão x tempo de pico das enchentes, num dado hidrograma. A declividade também reflete o potencial erosivo e de aeração do curso d’água, além da capacidade dos cursos d’água da bacia de escoarem as enchentes/inundações. Como calcular? S = ∆h / L, onde: S = Declividade do canal, em m/m; ∆h = Desnível altimétrico do canal, ou seja, diferença entre as cotas topográficas da nascente e da desembocadura ou seção de controle, em m; L = Extensão do canal, em m. 35 Hierarquia Fluvial (Lei de Horton) É uma classificação das ordens dos cursos d’água de uma bacia, que funciona como uma medida de sua ramificação. Portanto, um curso d’água de 1ª ordem é um tributário sem ramificações; um curso d’água de 2ª ordem é um tributário formado por dois ou mais cursos d’água de 1ª ordem, e assim por diante. Vejam a figura abaixo e as dicas no quadro seguinte: Figura 14 – Ordens dos cursos d’água de uma bacia, conforme a Lei de Horton Fonte: EQUIPE DE BIOLOGIA – CDCC/USP, 2011. Disponível em: <www.cdcc.usp.br/bio/mat_bacias.htm>. Acessado em: 30 Julho 2011. Dicas ao aluno Para ordenação dos canais de uma bacia, deve-se iniciar pelos cursos d’água que não apresentam ramificação. A estes canais será atribuído o número 1, ou seja, é um canal de 1ª ordem. Quanto maior o número de canais de 1ª ordem de uma bacia hidrográfica, maior o número de nascentes existentes naquela área, indicando, por exemplo, que é uma área de cabeceira – onde se formam os cursos d’água. 36 Quando há a junção (encontro) de dois canais de 1ª ordem, forma-se um canal de 2ª ordem. Quando há junção de dois canais de 2ª ordem, forma-se um canal de 3ª ordem, e assim por diante. Quando há junção de um canal de 2ª ordem e um canal de 1ª ordem, o canal de 2ª ordem continua sendo da mesma ordem, não alterando a hierarquia fluvial. O canal de maior ordem da bacia constitui o rio principal. Tempo de Concentração (tc) Segundo Tomaz (2002), há duas definições básicas de tempo de concentração: Tempo de concentração: é o tempo em que leva para que toda a bacia considerada contribua para o escoamento superficial. Tempo de concentração: é o tempo que leva uma gota de água mais distante até o trecho considerado na bacia. Existe uma diversidade de fórmulas matemáticas e métodos para determinação do valor do tempo de concentração, uma informação muito importante para o estudo de bacias hidrográficas e execução de projetos. Mas, conforme McCuen (1993) apud Tomaz (2002), o verdadeiro valor do tempo de concentração nunca será encontrado. Neste curso abordaremos as seguintes metodologias empíricas para o cálculo do tempo de concentração: - Tempo de concentração para lagos ou reservatórios; - Fórmula de Kirpich; - Fórmula de Picking; - Fórmula Califórnia Culverts Practice (com declividade pura e declividade equivalente). 37 O importante é o entendimento que, geralmente, o tc será encontrado por uma média dos resultados de várias fórmulas empíricas ou por meio de uma análise de sensibilidade. Em caso de necessidade, consulte um técnico da área, a Prefeitura Municipal e/ou o órgão estadual de recursos hídricos para verificar a metodologia aplicada em sua região. As pesquisas e trabalhos técnicos/científicos, muitos deles disponíveis na internet, podem contribuir para a resolução do problema. Tempo de concentração para lagos ou reservatórios Conforme Tomaz (2002), a AASHTO Highway Drainage Guidelines trás sugestões para o cálculo de tempo de trânsito da água dentro de um reservatório ou lago. A equação é a seguinte: Vw = ( g * Dm )0,5, onde: - Vw = velocidade de propagação da onda através do lago (m/s) e que varia entre 2,5 m/s a 9,0 m/s (TOMAZ, 2002); - g = aceleração da gravidade = 9,81 m/s²; - Dm = profundidade média do lago ou reservatório, em m. Fórmula de Kirpich Outra fórmula muito usada é de Kirpich, feita em 1940. Kirpich possui duas fórmulas, uma que vale para o Estado da Pennsylvania e outra para o Tennessee, ambas dos Estados Unidos. Valem para pequenas bacias até 50 hectares (ha) ou seja 0,5 km² (1 a 112 acres) e para terrenos com declividade de 3 a 10% (TOMAZ, 2002). A equação de Kirpich, conforme Chin (2000) é: Tennessee – tc = 0,019 * L0,77 / S0,385, onde: tc = tempo de concentração, em minutos; L = comprimento do talvegue, em metros; S = declividade do talvegue, em m/m. 38 Segundo Porto (1993) apud Tomaz (2002), quando o valor de L for superior a 10.000 m a fórmula de Kirpich subestima o valor de tc. Segundo Chin (2000) apud Tomaz (2002), a equação de Kirpich é usualmente aplicada em pequenas bacias na área rural em áreas de drenagem inferior a 80 ha. Fórmula de Picking (citada por SILVEIRA et al., 2007) A Fórmula de Picking estabelece que: tc = 5,3 * ( L2 / I )1/3, onde: tc = tempo de concentração, em minutos; L = comprimento do talvegue, em km; I = declividade, em m/m. Fórmula Califórnia Culverts Practice A grande vantagem desta fórmula é a fácil obtenção dos dados, isto é, o comprimento do talvegue e a diferença de nível H (PORTO, 1993). Geralmente é aplicada em bacias rurais para áreas maiores que 1 km² (TOMAZ, 2002). O DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica), do Estado de São Paulo, recomenda a utilização desta fórmula. tc = 57 * ( L³ / ∆h )0,385, onde: - tc = tempo de concentração, em minutos; - L = comprimento do talvegue do curso d’água, em km; - ∆h = desnível altimétrico entre a seção e o ponto mais distante da bacia, em metros. Segundo São Paulo (2005), essa equação simplificada pode ser usada quando não há dados topográficos que permitam um melhor detalhamento do perfil do talvegue. Havendo informações topográficas, com a definição de pontos intermediários entre a seção de estudo e o ponto mais distante, é possível conhecer melhor o perfil longitudinal do talvegue, com as diferentes declividades de cada trecho. Nesses casos, calcula-se tc utilizando-se a declividade equivalente (Ieq) na 39 equação, resultando a expressão abaixo que fornece valores maisrepresentativos para tc (min): tc = 57 * ( L² / Ieq ) 0,385 e Ieq = ( L / ( L1 / √j1 + L2 / √j2 + ... + Ln / √jn )), onde: - Ieq = declividade equivalente, em m/km; - L = L1 + L2 + ... +Ln = comprimento total do talvegue, em km; - jn = ∆hn / Ln, declividade de cada trecho n, em m/km. Figura 15 – Mapa da bacia hidrográfica do rio Jacareí, a montante do bairro Beira- Rio, município de Joanópolis/SP (Imagem: GOOGLE EARTH, 2007). . Hierarquia Fluvial (Lei de Horton) 40 Figura 16 – Ordenação dos canais, conforme a Lei de Horton (Imagem: GOOGLE EARTH, 2007). A bacia hidrográfica em estudo (área em amarelo) apresenta: - Canais de 1ª ordem: 15 canais; - Canais de 2ª ordem: 10 canais; - Canais de 3ª ordem: 3 canais. Observe a grande quantidade de canais de 1ª ordem na bacia, relativamente a outros canais, o que indica que é uma bacia hidrográfica de cabeceira. Realmente a bacia hidrográfica do rio Jacareí está localizada na Serra da Mantiqueira, numa das cabeceiras do rio Jaguari, afluente formador do rio Piracicaba, afluente do rio Tietê, no Estado de São Paulo. MODELOS DE TRANSFORMAÇÃO CHUVA-VAZÃO Bacias hidrográficas pequenas, como as existentes em áreas urbanas, raramente têm dados observados de vazão e nível de água. Assim, a estimativa de vazões extremas nestas bacias não pode ser feita usando os métodos estatísticos tradicionais. Para contornar este problema, costuma-se utilizar métodos de 41 estimativa de vazões máximas a partir das características locais das chuvas intensas (COLLISCHONN, 2009). Os métodos para estimativa das vazões máximas a partir da chuva dependem do tamanho da bacia. Em bacias muito pequenas pode ser utilizado um método conhecido como método racional. O método racional permite estimar a vazão de pico, mas não gera informações completas sobre o hidrograma. Em bacias maiores normalmente são utilizados modelos de transformação chuva-vazão, que estão baseados em métodos de cálculo de chuva efetiva (COLLISCHONN, 2009). Ainda segundo Collischonn (2009), os métodos de estimativa de vazões máximas a partir da chuva são especialmente importantes em bacias urbanas e em processo de urbanização. É possível utilizar estes métodos para fazer previsões sobre as vazões máximas em cenários alternativos de desenvolvimento, com diferentes graus de urbanização. Neste curso estudaremos 3 métodos: Método Racional, Método I-PAI-WU e Método SCS.
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