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Criminologia

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Lélio Braga Calhau
R E S U M O D E 
C R I M I N O L O G I A
4a Edição, 
revista, ampliada e atualizada
I B H
Niterói, RJ
O lançamento de obras de elevada qualidade no mercado 
editorial brasileiro nos últimos dois anos e incremento da inclusão 
da matéria de Criminologia em concursos públicos em todo o país, 
em especial, para os cargos de delegado de polícia e promotor de 
justiça, refletem a importância que a matéria tem cada vez mais 
para os profissionais que atuam na área criminal.
A sociedade cobra uma ação mais eficiente de seus agentes 
públicos, os quais devem pautar suas ações pelas determinações 
do ordenamento constitucional e legal.
A Constituição Federal não autoriza “guerras contra o 
crime” e nem a figura de paladinos, mas uma ação integrada, 
com respeito aos direitos fundamentais dos acusados, e com a 
utilização eficiente dos recursos disponibilizados para controle 
da criminalidade.
Esta quarta edição recebe uma grande atualização, com 
o intuito de facilitar o estudo de seus leitores. Inserimos os 
pontos mais importantes e os exigidos nos cursos de graduação e 
especializações em ciências criminais. O conteúdo desta edição 
aborda o que o estudante ou profissional precisará, qualquer que 
seja o seu objetivo específico.
E por último, introduzimos de forma objetiva e clara temas 
avançados da moderna Criminologia, com o intuito de permitir 
um aprofundamento teórico para aqueles que assim o desejarem.
Belo Horizonte (MG), janeiro de 2009.
Lélio Braga Calhau
A violência e a criminalidade continuam a ser temas de 
extrema atenção dos brasileiros. De um lado autoridades afirmam 
que os crimes estão “sob controle”. Do outro, o brasileiro cada vez 
mais acuado, encastelado e receoso em sua residência.
As condições das cadeias públicas do Brasil são, em muitos 
casos, vexatórias. Não há vagas para todos os condenados nas 
penitenciárias. Gráficos são apontados pelos governantes, mas, de 
fato, a situação não mudará em curto prazo. Décadas de omissão 
não serão superadas de uma hora para a outra.
Não há soluções mágicas para reduzir a violência. Há 
trabalho. Muito trabalho aliado à técnica (fornecida pela 
Criminologia) pode gerar resultados efetivos e duradouros. 
O crime não é um problema somente da polícia, é de toda a 
sociedade civil.
A terceira edição mantém o espírito do trabalho idealizado 
pelo Professor William Douglas, nosso mestre. Ser simples, atual 
e objetivo.
Rio de Janeiro, maio de 2008.
Lélio Braga Calhau
Não foi surpresa para este autor o sucesso da primeira 
edição deste livro. Cartas, e-mails, telefonemas de professores, 
policiais, promotores, juizes, advogados, estudantes e candidatos 
de concursos públicos, bem como mensagens pelo Orkut deram 
rapidamente ao professor a sensação de que o objetivo da obra 
foi alcançado.
Procurei neste p ro je to esclarecer e sim plificar o 
entendimento da Criminologia. Além de fazer um paralelo 
sobre os principais temas apresentados pelos autores brasileiros, 
adicionei minha experiência de 10 anos de magistério dedicado 
às ciências criminais.
O fato que me surpreendeu foi a rápida aceitação por 
alunos e professores de outros cursos como Sociologia, Psicologia, 
Serviço Social, Jornalismo etc. Procurei trazer os assuntos mais 
importantes numa linguagem de fácil acesso a todos.
A violência e a criminalidade têm sido temas de maior 
interesse dos brasileiros por motivos óbvios. Precisamos 
compreender melhor este fenômeno para podermos atacá-lo, não 
somente nas conseqüências, mas em suas causas.
O “caso João Hélio” abalou a todos os brasileiros. Algo deve 
ser feito. Com respeito aos direitos fundamentais dos acusados, 
sim, mas algo que possa ser efetivo, legalista, justo e com custos 
sociais aceitáveis para o nosso país e em defesa da sociedade civil.
A Criminologia possui alternativas para o Brasil.
Rio de Janeiro, agosto de 2007.
Lélio Braga Calhau
O estudo da Criminologia tornou-se cada vez mais 
necessário para o profissional que atua na esfera criminal. Cada 
vez mais juizes, promotores, delegados e advogados criminais têm 
buscado o estudo e o desenvolvimento da Criminologia em seu 
âmbito de trabalho.
Figueiredo Dias registra que, sem deixar de ser na essência 
uma ciência empírica e interdisciplinar, com anseio de integração, 
o seu objeto não é tanto constituído pelo fenômeno social enquanto 
tal, mas reconverte-se em larga medida ao fenômeno jurídico- 
criminal; deixando, por outro lado, de se limitar estreitamente 
à investigação das causas do fato criminoso e da pessoa do 
delinqüente, para passar a abranger a totalidade do sistema de 
aplicação da justiça penal, nomeadamente as instâncias formais (a 
polícia, o Ministério Público, o juiz, a administração penitenciária, 
os órgãos de reinserção social e, em definitivo e antes de todas, a 
própria lei penal) e informais (a família, a escola, as associações 
privadas de ajuda social) de controle de delinqüência; para passar 
a abranger numa palavra, o inteiro “processo de produção ” da 
delinqüência.
O criminólogo na atualidade é um profissional que busca 
intervir no fenômeno criminal. Mais do que estudar e participar 
da repressão do crime, o criminólogo procura métodos que 
possam prevenir a ocorrência do delito, sendo sua atuação de 
suma importância no sistema criminal de nosso país.
A presente obra trata dos conceitos básicos da Criminologia 
moderna e foi escrita numa linguagem clara e de forma objetiva. 
Com ela você irá tomar contato de forma bastante acessível com 
a Criminologia.
Rio de Janeiro, julho de 2006.
Lélio Braga Calhau
direitopenal@uol.com.br
A obra Resumo de Criminologia, de Lélio Braga Calhau, 
veio ocupar um espaço próprio, e importante, para aqueles 
que se interessam pelo estudo da Criminologia e das ciências 
criminais em geral. Como seu título diz, trata-se de um resumo. 
Como tal, interessa àqueles que querem ter um primeiro contato 
sistemático e abrangente com a ciência criminológica, conhecer 
sua especificidade diante do direito criminal e demais ciências 
criminais, conhecer seu objeto de estudo (delito, delinqüente, 
vítima e controle social), ter uma visão de sua história e de suas 
principais correntes teóricas (teorias do consenso e teorias do 
conflito) e respectivos autores. E o autor o faz com clareza, 
didática e conhecimento da matéria. Dialoga com seu leitor de 
maneira informal, como se estivesse falando com ele numa sala 
de aula. A obra mostra-se adequada, portanto, para quem quer 
ter uma leitura relativamente rápida, sucinta, porém ao mesmo 
tempo clara, embasada e confiável sobre a Criminologia. Uma 
obra que, apesar de introdutória e resumida, não deixa de abordar 
com propriedade as grandes questões polêmicas da Criminologia, 
sejam elas referentes à história e à evolução do pensamento, sejam 
elas referentes aos temas enfrentados pelas ciências criminais 
na atualidade. Nesse passo, não se furta à discussão feita no 
âmbito dos embates teóricos sobre como entender e enfrentar 
na atualidade o problema da criminalidade. O autor não deixa 
também, ainda que vez ou outra, de imprimir na obra seu cunho 
de experiência como promotor de justiça no Estado de Minas 
Gerais. Gostaria de expressar aqui o meu sentimento de que o 
autor, promotor de justiça que é, deixa um recado importante 
(embora não explícito): o de que os estudiosos do crime e os 
operadores do direito devem se preocupar em entender as 
verdadeiras dimensões do fenômeno crime, seus verdadeiros 
significados e os desdobramentos possíveis das decisões que o
sistema punitivo toma (ou deixa de tomar) em relação àqueles que 
ele seleciona para punir (ou que preventiva ou privilegiadamente 
descarta de sua malha de punições). Oxalá o operador de direito 
seja sempre muito consciente, muito lúcido sobre aquilo que estáfazendo e decidindo. E, para o desenvolvimento desta consciência 
e lucidez, a obra de Lélio Braga Calhau vem trazer sua importante 
contribuição.
Alvino Augusto de Sá
Professor de Criminologia da 
Faculdade de Direito da USP
O mundo jurídico sente a ausência de trabalhos que além 
de atender às necessidades acadêmicas, sejam úteis também para 
a prática criminal do operador do Direito.
Lélio Braga Calhau é promotor de justiça do Ministério 
Público do Estado de Minas Gerais, professor, pós-graduado em 
Direito Penal, mestre em Direito, com grande destaque por sua 
experiência profissional e acadêmica na área jurídica.
Cultor do Direito Penal, percebe-se sua desenvoltura e o 
frutificar de sua vocação no que diz respeito à paixão pelas ciências 
criminais como objeto do Direito. Vale ressaltar que o autor é 
fundador e editor da Revista de Direito Penal & ciências afins do 
site www.direitopenal.adv.br.
O estudo da Criminologia está se tornando cada vez mais 
necessário para o profissional da área criminal e indiretamente 
para a sociedade, fato refletido recentemente na inclusão dessa 
disciplina nos concursos públicos. Cada vez mais os estudiosos do 
direito têm buscado o estudo e o desenvolvimento da Criminologia 
nas suas áreas de trabalho.
O objeto da Criminologia é buscar as causas e os motivos 
para o fato delituoso. Normalmente interessa ao criminólogo 
fazer um diagnóstico do crime e uma tipologia do criminoso, 
assim como uma classificação do delito cometido. Essas causas e 
motivos abrangem desde a avaliação do entorno prévio ao crime, 
os antecedentes vivenciais e emocionais do delinqüente, até a 
motivação pragmática para o crime.
Entre as qualidades da obra, permito-me citar de pronto 
a primeira: a objetividade nas explicações, didática e clareza nos 
exemplos. A obra é propícia, portanto, para quem deseja ter uma 
leitura rápida, sucinta, porém ao mesmo tempo clara e segura. De 
acordo com o seu título, trata-se de um resumo de criminologia, 
interessando àqueles que desejam ter um primeiro contato 
com os fundamentos teóricos da criminologia, seu conceito,
método, objeto e funções ou àqueles que desejam revigorar tal 
conhecimento na memória, não deixando que se percam.
O tema é atual e foi abordado de forma técnica e clara, 
trazendo ao leitor o complemento jurídico relevante.
William Douglas
Juiz Federal, Professor e 
Membro do Conselho Editorial
C apítulo 2 - O que é a C riminologia? ...........................................7
2.1. O conceito de Criminologia............................................................... 7
2.2. Interdisciplinaridade e multidisciplinaridade da Criminologia... 10
2.3. As principais características da m oderna Criminologia............. 14
2.4. Funções da Criminologia................................................................... 15
Capítulo 3 - H istória d o P ensamento C riminológico........ 17
C apítulo 4 - A ciência total d o D ireito P enal....................... 25
C apítulo 5 - O método crim inológico : em pirism o .................29
C apítulo 6 - O objeto da moderna C rim inologia .................. 33
6.1. O d e lito .................................................................................................34
6.2. O delinqüente......................................................................................39
6.3. A vítima crim inal............................................................................... 40
6.4. O controle social................................................................................. 52
6.4.1. Quanto ao modo de exercício do controle social.............55
6.4.2. Com relação aos destinatários.............................................. 55
6.4.3. Com relação aos agentes fiscalizadores............................. 55
6.4.4. Quanto ao âmbito de a tuação .............................................. 55
C apítulo 7 - A moderna C riminologia c ie n t íf ic a .................57
7.1. Biologia criminal..................................................................................... 57
7.2. Psicologia crim inal..................................................................................59
7.3. Sociologia crim inal.................................................................................61
Capítulo 1 - Por que estudar a C riminologia? .......................... 1
C a pít u lo 8 - T eorias m a c r o sso c io l ó g ic a s da
CRIMINALIDADE..............................................................63
8.1. Escola de Chicago....................................................................65
8.2. Teoria da associação diferencial............................................... 69
8.3. Teoria da anomia......................................................................72
8.4. Teoria da subcultura delinqüente............................................ 78
8.5. Teoria do labellingaproach, interacionismo simbólico,
etiquetamento, rotulação ou reação social.................................80
8.6. Teoria crítica, radical ou “nova criminologia”............................85
C apítulo 9 - P revenção da infração penal n o E stado 
D emocrático de D ireito ..........................................................................89
9.1. Prevenção primária.................................................................. 91
9.2. Prevenção secundária...............................................................92
9.3. Prevenção terciária................................................................... 93
9.4. Modelos de reação ao crime.....................................................93
C apítulo 10 - T ópicos especiais de C rim inologia ....................95
10.1. Fenômeno bullying................................................................... 95
10.2. Assédio moral e stalking.........................................................100
10.3. Justiça restaurativa................................................................. 104
10.4. Pena de morte........................................................................ 106
10.5. Depoimento sem dano...........................................................110
C apítulo 11 - C onsiderações finais............................................. 113
A pê n d ic e .......................................................................................................115
Exercícios de fixação/ Q uestões de con curso ............................ 115
O bras recomendadas para aprofundamento ................................. 119
Referências Bibliográficas....................................................................121
f^or cfrue eótuaSw K ^rlinLitofocjia ?
O Direito Penal é uma disciplina normativa capaz de criar 
um sistema abstrato de normas que possibilitam a análise e pos­
terior aplicação da lei ao caso concreto.
Do ponto de vista social (dinâmico), o Direito Penal é um 
dos intrumentos de controle social formal por meio do qual o 
Estado, mediante determinado sistema normativo (as leis penais), 
castiga com sanções de particular gravidade (penas ou medidas 
de segurança e outras conseqüências afins) as condutas desviadas 
ofensivas a bens jurídicos e nocivas para a convivência humana 
(fatos puníveis = delitos e contravenções).1
Sendo a finalidade do Direito Penal a proteção dos bens es­
senciais ao convívio em sociedade, deverá o legislador fazer a sua 
seleção. Embora esse critério de escolha de bens fundamentais 
não seja completamente seguro, já que nele há forte conotação 
subjetiva, natural da pessoa humana encarregada de levar a efeito 
tal seleção, podemos afirmar que a fonte de todos esses bens se 
encontra na Constituição.2 Essa seleção pelo Poder Legislativo não 
é perfeita. Há interesses sociais que deverão ser protegidos pelo 
Direito Penal e outros que poderão ser protegidos pelo Direito 
Administrativoe/ou Direito Civil. O legislador deve sobepesar, 
então, a necessidade ou não de se lançar mão de uma lei penal 
para tentar controlar a criminalidade. Para tanto, deverá lançar 
mão do Direito Penal apenas nos casos mais graves, e mesmo 
assim, quando a criminalidade não puder ser controlada por ins­
trumentos preventivos.
1 GOMES, Luiz Flávio. Direito Penal - parte geral. 2. ed., São Paulo: RT, 2004, p. 14.
2 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penai - parte geral. 5. ed. Rio de Janeiro: 
Impetus, 2005, v. 1. p. 5.
Sendo o Direito Penal o instrumento de controle (social) 
mais drástico, mais violento (precisamente porque conta com os 
meios coativos mais intensos - penas e medidas de segurança 
ou seja, mais ameaçadores aos direitos fundamentais da pessoa), 
desde o Iluminismo a preocupação do penalista (leia-se: do pe- 
nalista minimalista e garantista, que se opõe ao “punitivista”) tem 
sido a de construir lim ites ao exercício desse poder.3
Então, como dar mais segurança ao legislador quanto 
à necessidade de elaborar ou não uma lei? Quando podemos 
comprovar a necessidade ou não da criação de uma proibição 
normativa penal?
O Direito Penal traz em seu bojo essas proibições norma­
tivas, que são chamadas de infrações criminais, e isso ele faz com 
um sistema bem elaborado de princípios penais.
Todavia, o Direito Penal não dá o diagnóstico do fenômeno 
criminal, assim como também não está em condições de sugerir 
programas, diretrizes ou estratégias para intervir nele. Todas es­
sas iniciativas são próprias da Criminologia. Ex.: “Projeto Fica 
Vivo”4 em Minas Gerais, o Proasp5 - Programa de Ações em
3 GOMES, Luiz Flávio, MOLINA, Antonio García-Pablos de e BIANCHINI, Alice. Direito 
Penal, volume 1. São Paulo: RT, 2007, p. 47.
4 Um projeto piloto de prevenção à violência urbana está contribuindo significativamente 
para reduzir o número de homicídios em áreas violentas de Belo Horizonte (MG). 
Criado pelo Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (CRISP) da 
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o projeto Fica Vivo é coordenado 
pela Secretaria Estadual de Defesa Social de Minas Gerais. Além da comunidade 
acadêmica e do.governo de Minas, o Fica Vivo envolve o Ministério Público, as 
polícias Civil e Militar e outras entidades. Iniciado em agosto de 2002, o projeto é 
uma alternativa importante para a prevenção à violência urbana, avalia o Escritório 
das Nações Unidas contra Drogas e Crime para o Brasil e o Cone Sul. O Fica Vivo 
foi implantado primeiramente na favela Morro das Pedras, o aglomerado urbano mais 
violento de Belo Horizonte, com o objetivo de reduzir o número de homicídios na 
região. De acordo com a metodologia desenvolvida pelo CRISP, o projeto combina 
dois ingredientes básicos. De um lado, pesquisa aplicada, multidisciplinaridade e 
análise quantitativa de dados para efeitos de planejamento e avaliação. Leia mais 
sobre esse programa: http://www.unodc.org/brazil/es/best_practices_fica_vivo.html.
5 0 Programa de Ações em Segurança Pública atua em diversas frentes de trabalho: no 
desenvolvimento de Planos Municipais de Prevenção à Violência e Ordem Pública: em
z Resumo de Criminologia
Segurança Pública da ONG Viva Rio (RJ), "m étodo APAC' de 
execução penal etc.
Não existem soluções mágicas no controle da criminalidade. 
A prevenção do delito é um dos principais objetivos da moderna 
Criminologia, que busca o controle razoável da criminalidade, 
não a utopia do seu completo desaparecimento. A Criminologia 
busca pesar a eficácia do controle do crime e os custos sociais 
para a sociedade civil. Ex.: discussão que envolve a implantação 
do programa de política criminal tolerância zer& na cidade de 
Nova York (USA).
Custo
Social
Eficácia
Social
CRIMINOLOGIA
Figura 1: Criminologia/custos/eficácia
projetos de Capacitação de Policiais; e na reforma da polícia através do acompanhamento 
do trabalho dos GPAE (Grupamentos de Polícia de Áreas Especiais). O Viva Rio assessora 
as Prefeituras na criação, implementação e monitoramento de Planos de Prevenção 
da Violência que têm por objetivo a formulação de um modelo integrado de ordem 
pública municipal. Os planos têm duas orientações complementares: o controle de 
determinados delitos, desordens ou crimes, focalizando grupos e áreas de risco 
através da articulação das instituições de segurança (prevenção focalizada); e a 
prevenção dos fatores econômicos e sociais que dão origem ao delito. No Rio de 
Janeiro, o Viva Rio já desenvolveu planos para as cidades de Resende, Barra Mansa, 
Niterói e Piraí. Leia mais em: http://www.vivario.org.br/.
6 Para uma noção mais completa sobre o “tolerância zero" consulte o excelente artigo 
“teoria das janelas quebradas: e se a pedra vem de dentro?” de autoria de Jacinto 
Nelson de Miranda Coutinho e Edward Rocha de Carvalho. Disponível no meu site: 
htto://www.novacriminoloaia.com.br/artiaos/leiamais/default.asD?id=1440.
Por que estudar a Criminologia? 3
Então, como você já pôde perceber, uma das principais 
preocupações da Criminologia é com a qualidade da resposta ao 
fenômeno criminal. Essa resposta pode ser tanto da sociedade 
civil (informal) ou quanto do Estado (formal). As duas são muito 
importantes e possuem funções que não podem ser substituídas 
completamente pela outra.
A qualidade da resposta ao crime não depende apenas da 
punição do infrator, mas passa pelo atendimento da expectativa 
dos infratores e das vítimas (de suas famílias), bem como da 
comunidade onde ocorreu o delito.
A qualidade da resp osta ao crim e não depende 
prioritariamente da coerência do sistema legislativo criminal. 
Esperar a resposta somente das leis penais é o que caracterizamos 
como leis penais simbólicas. Elas existem, causam repercussão 
quando são sancionadas, mas na prática seus efeitos são irrisórios 
(quando não prejudicam a harmonia do sistema). No Brasil, são 
raras as leis criminais que são precedidas de estudos criminológicos 
científicos.
A prevenção do delito é um dos principais objetivos 
da moderna Criminologia
O jurista que se perm ite envolver com importantes 
questões criminológicas — a visão do crime como problema, 
a seletividade e a falibilidade do aparato repressor formal, o 
enfoque vitimológico, o controle social, a relação do fenômeno 
da criminalidade com a identidade social e com os aspectos 
econômicos, dentre outras — retorna aos seus processos, aos 
seus códigos e às suas audiências com uma visão mais ampla. E 
capaz de avaliar o contexto em que está inserido e, sobretudo, 
os limites de suas possibilidades. Se for verdadeiramente 
bem-intencionado, voltará à sua lida com mais humildade. 
Se a reconstrução jurídica dos fatos (aquela que transforma a 
subtração do projeto pertencente a José por João na infração do 
artigo 155 do CP) requer alguma teorização, a visão criminológica
4 Resumo de Criminologia
serve de lastro ao operador do Direito, que, dessa forma, não 
poderá afastar-se em demasia da realidade. A criminologia, 
por seu conteúdo instigante, mas também por seu método 
necessariamente interdisciplinar, guarda a vocação de ser fator 
de mudança até mesmo pessoal. Por seu conteúdo, traz sempre 
novas interrogações: verdadeiras molas propulsoras. Por seu 
método, rechaça a auto-suficiência e mostra o caminho da 
tolerância e da boa convivência. Experimente: a Criminologia 
pode mudar a sua vida.7 Nesse contexto, e segundo Luiz Flávio 
Gomes e Garcia-Plabos de Molina,8 as principais funções da 
moderna Criminologia são:
• Explicar e prevenir o crime. \
• Intervir na pessoa do infrator. 1
 ^ * Avaliar os diferentes modelos de resposta ao crime. J
Vê-se que a prevenção do delito é um dos objetivos principais 
da Criminologia, mas estamos falando em uma prevenção que seja 
mais efetiva, com custos sociais adequados para a população e que, 
sempre que possível,se antecipe ao início do fenômeno criminal.
Ensina Davi Tangerino que as ações intencionais de 
prevenção da criminalidade urbana encontram-se agrupadas 
em duas grandes categorias: as estatais e as patrocinadas pela 
sociedade civil. Quanto às estatais, merece atenção outra divisão 
possível das mencionadas ações: as políticas de segurança 
pública e as políticas públicas de segurança. As primeiras 
correspondem àquelas ações vinculadas ao poder punitivo estatal 
ou ainda ao controle social formal: polícia, leis penais, política 
penitenciária, etc. As últimas correspondem àquelas ações 
que, embora públicas, não estão ligadas ao sistema da justiça
7 OLIVEIRA, Ana Sofia Schmidt de Oliveira. Como a Criminologia pode mudar a sua 
vida. São Paulo, Boletim do IBCCRIM, 132, novembro de 2003.
8 MOLINA, Antonio García-Pablos; GOMES, Luiz Flávio. Criminologia - Introdução a 
seus fundamentos teóricos. 2. ed. São Paulo: RT, 1997. p. 39.
Por que estudar a Criminologia? s
criminal: educação, habitação, transporte público, intervenção 
urbanística, etc.9
A Criminologia, com a utilização de seu método científico, 
é justamente a ciência apropriada para diagnosticar e buscar uma 
aproximação realista dos índices de criminalidade de um bairro, 
cidade ou até de um país, oferecendo ao Poder Público informação 
válida e confiável para abalizar a opção de Política Criminal 
adequada para cada situação.
9 TANGERINO, Davi de Paiva Costa. Alternativas ao sistema punitivo: possibilidade 
de prevenção da criminalidade urbana violenta por meio do controle social informal. 
Revista de Estudos Criminais do ITEC/PUC-RS, n2 27, Porto Alegre, outubro-dezembro 
de 2007, p. 108.
Resumo de Criminologia
2.1. O conceito de Criminologia
O crime foi sempre um motivo de atenção do meio social.
As sociedades sempre buscaram meios de atribuir marcas 
identificatórias aos criminosos, usando, conforme os regimes 
e épocas, diversas mutilações, desde a extração dos dentes até 
a amputação sistemática de órgãos: nariz, orelha, mãos, língua 
etc. No Antigo Regime, na França, a marca feita com ferro em 
brasa constituía o traço infamante d crime, como é ilustrado em 
Os três mosqueteiros, de Alexandre Dumas, pelo personagem 
da Senhora de Winter. Entre os puritanos da Nova Inglaterra, o 
“A” de adultério era costurado na roupa das mulheres, como é 
testemunhado pelo célebre romance de Nathaniel Hawthorne 
(1804-1864), A letra escarlate,10
Segundo o Dicionário Aurélio, a palavra conceito tem 
origem no latim {conceptus). Entre outros significados, a pala­
vra conceito significa a ação de formular uma idéia por meio de 
palavras; definição e caracterização.11 Nesse sentido, conceituar 
criminologia não é uma tarefa fácil.
Etimologicamente, Criminologia deriva do latim crimen 
(crime, delito) e do grego logo (tratado). Foi o antropólogo francês, 
Paul Topinard (1830-1911), o primeiro a utilizar este termo no 
ano de 1879. Todavia, o termo só passou a ser aceito internacio­
nalmente com a publicação da obra Criminologia, já no ano de 
1885, de Raffaele Garofalo (1851-1934).
10 ROUDINESCO, Elizabeth; PLON, Michel. Dicionário de Psicanálise. Tradução de 
Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998. p. 137.
11 Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 3. ed. Curitiba: Positivo, 2004. p. 514.
Para Antonio García-Pablos de Molina, a Criminologia é a 
ciência empírica e interdisciplinar que tem por objeto o crime, o 
delinqüente, a vítima e o controle social do comportamento deli- 
tivo; e que aporta uma informação válida, contrastada e confiável, 
sobre a gênese, dinâmica e variáveis do crime - contemplado este 
como fenômeno individual e como problema social, comunitário 
assim como sua prevenção eficaz, as formas e estratégias de reação 
ao mesmo e as técnicas de intervenção positiva no infrator.12
O domínio do saber criminológico possibilita um co­
nhecimento efetivo mais próximo da realidade que o cerca, 
concedendo acesso a dados e estudos que demonstram o fun­
cionamento correto ou não da aplicação da lei penal. Com a 
utilização correta da Criminologia, por exemplo, o promotor 
de justiça criminal passa a gozar de uma amadurecida relação 
entre a teoria e a prática. Esse saber criminológico (científico) 
contrapõe-se ao saber popular, ainda muito arraigado na mente 
de agentes que atuam no controle do crime, em especial, um 
grande número de agentes policiais.
O estudo científico do delito também inclui a sua medida e 
extensão, isto é, quantos delitos são cometidos em certo período 
de tempo em dada unidade espacial, podendo ser um país, uma 
região ou bairro. Naturalmente, a medida pode se referir tam­
bém a tipos concretos de delitos. Também se ocupa de estudar 
as tendências dos delitos ao longo do tempo, por exemplo, se 
aumenta ou diminui; da comparação entre diferentes países, 
comunidades ou outras entidades; ou de estudar se o delito se 
concentra em certos lugares, momentos ou grupo de pessoas.13 
Nesse sentido, toda cautela deve ser adotada quando os agentes 
públicos analisam a variação da criminalidade em uma cidade em 
um período muito curto, forçando inferências de queda de crimi­
nalidade, que não se sustentam sem uma análise mais prudente 
por parte da Criminologia.
12 MOLINA, Antonio García-Pablos de. Tratado de Criminologia. 2. ed. Valencia. 
Tirant Io Blanch, 1999. p. 43
13 MAÍLLO, Alfonso Serrano, introdução à Criminologia. Tradução de Luiz Régis Prado. 
São Paulo: RT, 2007, p. 23.
8 Resumo de Criminologia
O saber comum ou popular está ligado estreitamente a 
experiências práticas, generalizadas a partir de algum caso; nesse 
sentido, poder-se-ia atribuir-lhe uma metodologia empírico- 
indutiva, que, como logo veremos, predomina nas ciências sociais. 
Não obstante, o saber comum se produz pela convivência social, na 
qual se instalam tabus, superstições, mitos e preconceitos, isto é, 
verdades estabelecidas que condicionam fortemente a vida social 
pela pura convicção cultural do grupo.14
E nesse sentido que Winfried Hassemer e Francisco Munoz 
Conde ensinam que para evitar a cegueira diante da realidade 
que muitas vezes tem a regulação jurídica, o saber normativo, ou 
seja, o jurídico, deve ir sempre acompanhado, apoiado e ilustrado 
pelo saber empírico, isto é, pelo conhecimento da realidade que 
brindam a Sociologia, a Economia, a Psicologia, a Antropologia, 
ou qualquer outra ciência de caráter não-jurídico que se ocupe de 
estudar a realidade do comportamento humano na sociedade.15 
Nesse contexto, não devemos nos esquecer do papel cada vez 
mais destinado à vítima16 criminal, assunto muito estudado pela 
Vitimologia e pela Criminologia, mas ainda abordado de forma 
tímida e precária na seara jurídico-penal.17
Para a maior parte da doutrina, a 
Criminologia é ciência autônoma e não 
apenas uma disciplina.
14 ELBERT, Carlos Alberto. Manual básico de Criminologia. Tradução de Ney Fayet 
Jr. Porto Alegre: Ricardo Lenz, 2003. p. 19.
15 HASSEMER, Winfried; CONDE, Francisco Munoz. Introducción a Ia Criminologia. 
Madri: Tirant, 2001. p. 22-23.
16 Para uma compreensão melhor do tema, sugerimos a leitura de nossa obra: 
CALHAU, Lélio Braga. Vítima e Direito Penal. 2. ed. Belo Horizonte: Mandamentos, 
2003.
'7 A reforma do Código de Processo Penal brasileiro de 2008 inseriu um capítulo 
específico sobre a vítima criminal, traçando uma série de direitos que a mesma passa 
a possuir, como, por exemplo: o ofendido será comunicado dos atos processuais 
relativos ao ingresso e à saída do acusado da prisão, à designação de data para 
audiência e à sentença e respectivos acórdãos que a mantenham ou modifiquem.
O que é a Criminologia? 9
2.2. Interdisciplinaridade e 
multidisciplinaridade da Criminologia
Figura 2: A Criminologia como “instância superior” em um modelo não-piramidal 
(não há preferência por nenhum saber criminológicoparcial).
A Criminologia é uma ciência plural.1* Buscando o conhe­
cimento científico, a Criminologia recebe a influência e a contri­
buição de diversas outras ciências (Psicologia, Sociologia, Biologia, 
Medicina Legal, Criminalística, Direito, Política etc.) com seus 
métodos respectivos.
Aceita-se também, com muita generalidade, que o método 
mais comum a ser aplicado em Criminologia é o interdisciplinar. 
Em princípio, essa denominação não parece oferecer problemas 
interpretativos: tratar-se-ia do fato de que várias disciplinas con- 
fluiriam a investigar um ponto, aportando cada uma seus próprios 
métodos. A noção de interdisciplinaridade está amplamente 
difundida, não só em Criminologia, como também em temas de 
família, educação, menores etc.19 Todavia, deve ficar claro que 
a Criminologia procura utilizar a visão interdisciplinar e não a 
multidisciplinar na análise do fenômeno criminal.
18 Há entendimento diverso minoritário que a Criminologia não teria autonomia 
cientifica, e que seria apenas uma disciplina. Nesse sentido: Carlos Albert Elbert.
19 ELBERT, op. cit, p. 36.
10 Resumo de Criminologia
A Criminologia busca mais que a multidisciplinaridade. 
Esta ocorre quando os saberes parciais trabalham lado a lado 
em distintas visões sobre um determinado problema. Já a inter- 
disciplinaridade existe quando os saberes parciais se integram e 
cooperam entre si.
Lembre-se1A visão interdisciplinar 
é mais profunda que a abordagem multidisciplinar.
O princípio interdisciplinar está significativamente as­
sociado ao processo histórico de consolidação da Criminologia 
como ciência autônoma.20
A interdisciplinaridade surge como uma necessidade 
prática de articulação dos conhecimentos, mas constitui um 
dos efeitos ideológicos mais importantes sobre o atual desen­
volvimento das ciências, justamente por apresentar-se como o 
fundamento de uma articulação teórica. Fundada num princípio 
positivista do conhecimento, as práticas interdisciplinares 
desconhecem a existência dos objetos teóricos das ciências; a 
produção conceituai dissolve-se na formalização das interações 
e relações entre objetos empíricos. Dessa forma, os fenômenos 
não são captados a partir do objeto teórico de uma disciplina 
científica, mas surgem da integração das partes constitutivas de 
um todo visível.21
Não é suficiente diferentes profissionais estarem lado a lado, 
num mesmo ambiente científico, respeitando-se mutuamente 
em suas especificidades, em suas diferenças, mas cada um preso 
hermeticamente à sua cultura profissional, sem oportunizarem
20 MOLINA, Antonio García-Pablos de; GOMES, Luiz Flávio. Criminologia. 4. ed. São 
Paulo: RT, 2002. p. 46,
*' LEFF, Enrique. Epistemologia ambiental. Tradução de Sandra Valenzuela. São 
Paulo: Cortez, 2000. p. 36.
O que é a Criminologia?
diálogo entre elas, para trocas e complementações que possam 
resultar em ampliação de suas perspectivas diante da realidade 
e em ações mais efetivas e abrangentes diante da sociedade, em 
otimização da qualidade social e política de seu desempenho.22 
Ou seja, não basta aos juizes de direito, promotores de justiça, 
policiais, psicólogos e assistentes sociais trabalharem no mesmo 
prédio no estudo do fenômeno criminal. E preciso manter um 
diálogo aberto (um verdadeiro diálogo) com os outros profis­
sionais, procurando interagir com as outras áreas materialmente, 
não somente no sentido formal, da boca para fora, sem estar 
internamente comprometido com isso.
Esse é um dos principais obstáculos para o avanço do con­
trole da criminalidade, porquanto muitos dos profissionais que 
lidam com o controle do crime mantêm-se resistentes a aceitar 
essa interdisciplinaridade, trazendo de suas instituições barreiras 
pessoais e corporativas para a melhoria da integração dos saberes 
e do Sistema da Justiça Criminal em nosso país.
Leciona Saio de Carvalho que a condição mínima para que se 
possam realizar investigações interdisciplinares é dotar os sujeitos 
interlocutores de condições similares de fala, ou seja, abdicar da 
idéia de estar um saber a serviço de outro. Significa, sobretudo, 
respeito às diferenças inerentes aos saberes.23 Essa advertência 
é importante para muitos de nós, profissionais do Direito, que 
temos o péssimo costume de iniciarmos nossas afirmações com 
a expressão “o certo é etc. e tal”, ato que fecha as possibilidades 
da realização de um diálogo franco e sincero com as outras áreas 
do conhecimento.
Adverte, ainda, Saio que o modelo oficial para as ciências 
criminais vislumbra os demais saberes como servis, permitindo 
apenas que forneçam subsídios para a disciplina mestra do Di­
reito Penal. A arrogância do Direito Penal, aliada à subserviência
22 MUNHOZ, Divanir Eulália Naréssi. Da multi à interdisciplinaridade: a sabedoria 
do percurso. Revista de Estudos Criminais, n. 18, abril/junho de 2005, Porto Alegre, 
Notadez, p. 67.
23 CARVALHO, Saio de. Antimanuai de Criminologia. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 
2007, p. 21-22.
12 Resumo de Criminologia
das áreas de conhecimento que são submetidas e se submetem 
a este modelo, obtém como resultado o reforço do dogmatismo, 
o isolamento científico e o natural distanciamento dos reais pro­
blemas da vida.24
Interdisciplinaridade não é um simples monólogo de espe­
cialistas, implica graus sucessivos de cooperação e coordenação 
crescentes, interações: reciprocidade de intercâmbios. O tra­
balho interdisciplinar leva ao enriquecimento de cada disciplina/ 
profissão/área de saber - pela incorporação de resultados de 
uma especialidade por outras, da partilha de métodos e técnicas 
à ampliação da consciência crítica. Contribui significativamente 
para o fim do imperialismo disciplinar, da departamentalização 
da ciência, dos distritos do saber.25
Como instância superior, não cabe à Criminologia se identi­
ficar com nenhum dos saberes parciais criminológicos (biológicos, 
psicológicos, sociológicos, estatísticos etc.), porquanto todos 
têm a mesma importância científica. Adota-se um modelo “não 
piramidal” (onde quem ocupa a parte superior é mais importante 
que aquele que está na parte inferior).
Lembrete: O criminólogo deve manter 
constante vigilância e humildade para 
compreender que existem outras 
variantes, teses, fatores que possam se 
aproximar mais da realidade. A função 
de “instância superior”, no estudo do 
fenômeno criminal, busca a integração 
dos saberes parciais, procurando sempre 
(que ocorrerem) a correção de pequenas 
inconsistências entre os dados criminais.
Essa postura do criminólogo diante do papel de instância 
superior da Criminologia é uma exigência estrutural do saber
24 CARVALHO, Saio de, op, cit, p. 22
25 Idem.
O que é a Criminologia? 13
científico, decorrente da natureza totalizadora desse e não admite 
monopólios dos setores que compõem o seu tronco principal.26
2.3. As principais características da moderna 
Criminologia
As principais características da moderna Criminologia, 
segundo Molina e Gomes são-.27
^ Parte da caracterização do crime como “problema ” - face 
humana e dolorosa do crime;
S Amplia o âmbito tradicional da Criminologia (adiciona a vítima 
e o controle social ao seu objeto);
S Acentua a orientação “prevencionista” do saber criminológico, 
diante da obsessão repressiva explícita de outros modelos 
con vencionais;
S Substitui o conceito “tratamento” (conotação clínica e 
individualista) por “intervenção” (noção mais dinâmica, 
complexa e pluridimensional, mais próxima da realidade 
criminal);
■S Destaca a análise e avaliação dos modelos de reação ao delito 
como um dos objetos da Criminologia;
•S Não renuncia, porém, a uma análise etiológica do delito 
(desviação primária) no marco do ordenamento jurídico como 
referência última.
26 Leciona Rogério Greco que a pesquisa do criminólogo, esquecendo momen­
taneamenteo ato criminoso praticado, mergulha no seio da família, no seu meio 
social, nas oportunidades sociais que lhe foram concedidas, no seu caráter; enfim, 
mais do que saber se a conduta praticada pelo agente era típica, ilícita e culpável, 
busca-se investigar todo o seu passado, que forma um elo indissociável com o seu 
comportamento tido como criminoso. Retrocede-se, enfim, em busca de possíveis 
causas do crime. Percebe-se, portanto, que o conceito criminológico de compor­
tamento delitivo é mais amplo do que aquele adotado pelo Direito Penal. GRECO, 
Rogério. Direito Penai do Equilíbrio: uma visão minimalista do Direito Penal. Rio de 
Janeiro: Impetus, 2005, p. 38.
27 MOLINA, Antonio García-Pablos; GOMES, Luiz Flávio. Criminologia - Introdução 
a seus fundamentos teóricos. 2. ed. São Paulo: RT, 1997. p. 40.
14 Resumo de Criminologia
Além das situações acima apontadas por Molina e Gomes, 
podemos também incluir a substituição da expressão combate ao 
crime por controle da criminalidade. A expressão combate ao 
crime dá idéia de exclusão - eu contra você, nós contra eles - e 
traz no seu bojo a idéia de que nós somos o bem e os outros o 
mal. O controle da criminalidade é uma expressão neutra, sem 
preconceitos e mais bem adequada ao pensamento criminológico 
moderno.
2.4. Funções da Criminologia
A função prioritária da Criminologia, como ciência 
interdisciplinar e empírica, é aportar um núcleo de conhecimentos 
mais seguros e contrastados com o crime, a pessoa do delinqüente, 
a vítima e o controle social.28
A investigação criminológica, enquanto atividade científica, 
reduz ao máximo a intuição e o subjetivismo, ao submeter o fenô­
meno criminal a uma análise rigorosa, com técnicas adequadas e 
empíricas. Sua metodologia interdisciplinar permite coordenar 
os conhecimentos obtidos setorialmente nos distintos campos de 
saber pelos respectivos especialistas, eliminando contradições e 
completando as inevitáveis lacunas. Oferece, pois, um diagnóstico 
qualificado e de conjunto do fato criminal mais confiável.29
28 MOLINA, Antonio García-Pablos de. Tratado de Criminologia. 2. ed. Valencia: Tirant
Io Blanch, 1999, p. 212.
29 Op. cit.
O que é a Criminologia?
^JJlâtonaG ^^enóam ento 
( ^ r im in - o ío Q l c o
° 9 {
O presente trabalho não nos permite a explanação integral 
da História da Criminologia. Isso demandaria uma quantidade 
maior de espaço e tempo de sua parte. Todavia, algumas idéias 
devem ser pinceladas aqui para que você não ingresse no estudo 
do objeto da moderna Criminologia sem saber o que ocorreu na 
ciência nos últimos 200 anos.
Uma das classificações históricas da Criminologia divide o seu 
desenvolvimento em duas fases: período pré-científico e período 
científico. O período pré-científico abrange desde a Antiguidade, 
onde encontramos alguns textos esparsos de alguns autores que 
já demonstravam preocupação com o crime, terminando com o 
surgimento do trabalho de Beccaria ou de Lombroso. Por que colo­
quei um ou outro? Porque você verá que existe uma divergência 
na doutrina sobre o nascimento da Criminologia como ciência. A 
maioria da doutrina aponta o surgimento da fase científica com 
o trabalho de Cesare Lombroso, mas há autores que creditam o 
nascimento da Criminologia a Cesare Beccaria também.
Para você, o importante nesse momento é saber que há essa 
divergência sobre o nascimento da Criminologia, mas que tanto 
Beccaria como Lombroso trouxeram grandes contribuições ao 
estudo do fenômeno criminal.
A nosso ver, a Criminologia passou a existir com o 
surgimento da Escola Clássica. Anteriormente já foram publicados 
alguns textos em que se questionava o problema da criminalidade, 
mas sem a atenção científica e sistemática que a matéria demanda.
17
Durante a Idade Média, destaca-se a influência e o poder 
político da Igreja, questão que determina todo o pensamento 
em torno da delinqüência por meio da filosofia escolástica e da 
teologia, que modelaram diretamente o campo do Direito Penal 
(então podia falar-se de confusão ou identificação entre o pecado 
e o delito, e de pecador e delinqüente).30
Pela sua índole e pelo seu impacto histórico, sobres­
sai naturalmente a obra de Beccaria, Dei D elitti e Delle Pene 
(1764), que já foi crismada (por Radzinowicz) como o manifesto 
da abordagem liberal ao direito criminal. Em síntese, Beccaria 
procurou fundamentar a legitimidade do direito de punir, bem 
como definir critérios da sua utilidade, a partir do postulado do 
contrato social. Serão ilegítimas todas as penas que não relevem 
da salvaguarda do contrato social (se., da tutela de interesses de 
terceiros), e inúteis todas as que não sejam adequadas a obviar as 
suas violações futuras, em particular as que se revelem ineficazes 
do ponto de vista da prevenção geral. É desta tese central que 
decorrem as reivindicações de direito substantivo e processual que 
Beccaria se fez eco e que, no seu conjunto, persistem ainda como 
arquétipo do moderno ordenamento jurídico-penal.31
O positivismo criminológico surge no fim do século XIX 
com a Scuola Positiva que foi encabeçada por Lombroso,32 Ga- 
rofalo e Ferri. Surge como crítica e alternativa à denominada 
Criminologia clássica, dando lugar a uma polêmica doutrinária 
conhecidíssima, que é, em última análise, uma polêmica sobre 
métodos e paradigmas do científico (o método abstrato e dedutivo 
dos clássicos, baseado no silogismo, diante do método empírico- 
indutivo dos positivistas, baseado na observação dos fatos, dos 
dados). A Scuola Positiva italiana, no entanto, apresenta duas
30 PAZ, Miguel Angel Nuriez; PEREZ, Francisco Alonso. Nociones de Criminologia. 
Madrid: Colex, 2002. p. 47.
31 DIAS, Jorge de Figueiredo; ANDRADE, Manuel da Costa. Criminologia - O homem 
delinqüente e a sociedade criminógena, 2a reimpressão. Coimbra: Coimbra, 1997. 
p. 9.
32 Sobre a vida de Cesare Lombroso, ver nosso artigo: CALHAU, Lélio Braga. Cesare 
Lombroso: Criminologia e a Escola Positiva de Direito Penal. Revista Síntese de Direito 
Penal e Processual Penal, Porto Alegre; janeiro de 2004, p. 156-159.
18 Resumo de Criminologia
direções opostas: a antropológica de Lombroso e a sociológica de 
Ferri, que acentuam a relevância etiológica do fator individual e 
do fator social em suas respectivas explicações do delito.33
O ponto de partida da teoria de Lombroso proveio de 
pesquisas craniométricas de criminosos, abrangendo fatores 
anatômicos, fisiológicos e mentais.34 A base da teoria, primeira­
mente, foi o atavismo: o retrocesso atávico ao homem primitivo. 
Depois, a parada do desenvolvimento psíquico: comportamento 
do delinqüente semelhante ao da criança. Por fim, a agressividade 
explosiva do epilético. Lombroso mudava o fundamento de sua 
teoria segundo as investigações que realizava. De Enrico Ferri 
(Itália, 1856-1926) ficou a luta progressista, sobalegenda: “Menos 
justiça penal, mais justiça social”. Sua obra recebeu a impregnação 
coletivista e assistencialista do século XIX.35
A contribuição principal de Lombroso para a Crimi­
nologia não reside tan to em sua famosa tipologia (onde 
destaca a categoria do “delinqüente nato”) ou em sua teoria 
criminológica, senão no método que utilizou em suas investi­
gações: o m étodo empírico. Sua teoria do delinqüente nato foi 
formulada com base em resultados de mais de 400 autópsias 
de delinqüentes e seis mil análises de delinqüentes vivos; e o 
atavismo que, conforme o seu ponto de vista caracteriza o tipo 
criminoso - ao que parece contou com o estudo minucioso 
de 25 mil reclusos de prisões européias.36 A idéia de atavismo 
aparece estreitamente unida à figura do delinqüente nato. Se­
gundo Lombroso, criminosos e não-criminosos se distinguem
33 MOLINA, Antonio García-Pablos; GOMES, Luiz Flávio. Criminologia - Introdução 
a seus fundamentos teóricos. 2. ed. São Paulo: RT, 1997, p. 148.34 ALBERGARIA, Jason. Noções de Criminologia. Belo Horizonte: Mandamentos,
1999. p. 131.
36 LYRA, Roberto. Direito Penal Científico (Criminologia). Rio de Janeiro: José Konfino, 
1974. p. 13.
36 MOLINA, Antonio García-Pablos de; GOMES, Luiz Flávio. Criminologia, 4. ed. São 
Paulo: RT, 2002. p. 191.
Breve estudo histórico criminológico: do passado ao presente na
Criminologia
19
entre si em virtude de uma rica gama de anomalias e estigmas 
de origem atávica ou degenerativa.37
Lombroso apontava as seguintes características corporais 
do homem delinqüente: protuberância occipital, órbitas grandes, 
testa fugidia, arcos superciliares excessivos, zígomas salientes, 
prognatismo inferior, nariz torcido, lábios grossos, arcada dentária 
defeituosa, braços excessivamente longos, mãos grandes, anomalias 
dos órgãos sexuais, orelhas grandes e separadas, polidactia. As 
características anímicas, segundo o autor, são: insensibilidade à 
dor, tendência à tatuagem, cinismo, vaidade, crueldade, falta de 
senso moral, preguiça excessiva, caráter impulsivo.38
No Brasil, seguindo com ardor as idéias de Lombroso, 
tivemos o trabalho do médico e sociólogo Raimundo Nina 
Rodrigues (1862-1906), o qual chegou a ser conhecido como 
Lombroso dos trópicos.39 Na Argentina, o grande seguidor de 
Lombroso foi sem dúvida o médico José Ingenieros.40
O grande equívoco dos positivistas foi acreditar na 
possibilidade de se descobrir uma causa biológica para o fenômeno 
criminal. Os estudos e as investigações nesse sentido ocuparam 
o centro das preocupações positivistas, cujos resultados foram 
um verdadeiro fracasso. Primeiro, porque não se pode falar em 
causaúnica da delinqüência e, em segundo lugar, porque a Escola 
Positiva se preocupou apenas com os aspectos biológicos do 
fenômeno criminal, quando se sabe que os fatores exógenos são 
preponderantes. Ferri procurou corrigir essa postura unilateral, ao 
escrever sua Sociologia Criminal, onde acentua a importância dos 
fatores socioeconômicos e culturais da delinqüência. Além disso, 
inútil também se revelou a proposta positivista de transformar o 
Direito Penal numa disciplina médico-científica.41
37 MOLINA, Antonio-García-Pablos de. Tratado de Criminologia. 2. ed. Valencia: 
Tirant, 1999. p. 381.
38 ALBERGARIA, op. cit., p. 131-132.
39 Para conhecer melhor a vida e o trabalho de Nina Rodrigues, consulte: http://www. 
polbr.med.br/arquivo/wal0803.htm.
40 Sobre a vida de José Ingenieros, ver nosso artigo: Criminologia Positiva e a obra de 
José Ingenieros. Belo Horizonte. Jornal do Sindicato dos Promotores e Procuradores 
de Justiça do Estado de Minas Gerais, maio de 2003.
41 LEAL, João José. Direito Penal Geral. São Paulo: Atlas, 1998. p. 77
20 Resumo de Criminologia
Não deixaram de aparecer e crescer vozes apostadas em 
contestar a validade e em explorar os limites das teses positivistas. 
Vozes provenientes não apenas do lado da sociologia criminal, que 
paralelamente se desenvolvia - casos de Tarde, Lacassagne e outros 
- mas também do campo da própria antropologia: casos de Baer, Der 
Verbrecher in antropologischer Bez/ehung (1893), e, sobretudo 
Goring, cuja obra The English Convict (1913) é em geral con­
siderada como que assinalando o termo da teoria lombrosiana.42
A Escola Francesa de Lyon atacou fortemente as idéias de 
Lombroso. Entre os mais notáveis membros dessa escola temos 
Lacassagne.
A tese fundamental da Escola de Lyon é a seguinte: o 
criminoso é como o micróbio ou o vírus, algo inócuo, até que o 
adequado ambiente o faz eclodir. O meio social desempenha papel 
relevante e se junta com a predisposição criminal individual latente 
em certas pessoas. Em outras palavras: a predisposição pessoal e 
o meio social fazem o criminoso.43
Enquanto a escola positiva percorria a trajetória descrita, 
consolidava-se, entrando em choque com aquela, a sociologia 
criminal. Pode-se considerar o 32 Congresso Internacional de 
Antropologia Criminal (Bruxelas, 1892) como que assinalando o 
início do desequilíbrio em favor das teorias sociológicas, a ponto 
de, na viragem do século - em que se situaram as obras de Lacas­
sagne, Tarde e Durkheim ser nítido o seu predomínio.44
Usando o crime como exemplo, Durkheim afirma que 
esse fenômeno é um traço generalizado das sociedades e, por se 
prender às condições gerais da vida coletiva, mostra-se normal. 
Nesse caso, tratar o crime como uma doença social, como um 
fenômeno mórbido, seria tornar a doença um traço característico 
do organismo. Seria, como afirma Durkheim, perder qualquer 
possibilidade de distinção entre o normal e o patológico. Devemos
42 DIAS, Jorge de Figueiredo; ANDRADE, Manuel da Costa. Criminologia - O homem 
delinqüente e a sociedade criminógena. 2a reimpressão. Coimbra: Coimbra, 1997. 
p. 17.
43 GOMES, Luiz Flávio, MOLINA, Antonío García-Pablos de e BIANCHINI, Alice. Direito 
Penal, volume 1. São Paulo: RT, 2007, p. 110.
44 DIAS, op. cit., p. 20.
Breve estudo histórico criminológico: do passado ao presente na
Criminologia
21
lembrar, por outro lado, que o fato de o crime ser normal não 
quer dizer que seja um fenômeno livre de limites, que o excesso 
não implique prejuízos para a coletividade. O normal, no sentido 
durkheimiano, é a existência do crime e a normalidade deve se 
submeter à condição de que, para cada tipo social determinado, 
não ultrapasse um certo nível.45
De importância destacável é Tarde, que realiza severa crítica 
da obra de Lombroso. Concede muita importância aos condicio­
namentos sociais e à imitação, que costuma ser interpretada como 
uma teoria antecipada da aprendizagem. Essa aprendizagem se 
transmitiria por gerações. A imitação também pode ter efeitos 
positivos como o bom exemplo dos cidadãos.46
O fim do século XIX assistiu ainda ao aparecimento da 
criminologia socialista em sentido amplo, entendida como ex­
plicação do crime a partir da natureza da sociedade capitalista 
e como crença no desaparecimento ou redução sistemática do 
crime depois de instaurado o socialismo. Surgiram nessa época, 
com efeito, numerosas obras, mais ou menos influenciadas pelos 
ensinamentos de Marx e Engels, encarando o crime segundo essa 
perspectiva.47
O século XX iniciou-se sob o signo do ecletismo, em que 
assistiu-se à exploração dos caminhos abertos no século ante­
rior, sob a influência moderadora da União Internacional de 
Direito Penal, fundada em 1889 por Hamel, Liszt e Prins. No 
que especificamente se prende com as teorias orientadas para 
o delinqüente, consumou-se o abandono do antropologismo 
lombrosiano, progressivamente substituído pelas teorias expli­
cativas de índole psicológica, psicanalítica, psiquiátrica e pela 
atenção dedicada às leis da hereditariedade, à combinação de 
cromossomos etc.48
45 MAGALHÃES, Carlos Augusto Teixeira. Crime, sociologia e políticas públicas. Belo 
Horizonte: Newton Paiva, 2004, pp. 33-34.
46 MAÍLLO, Alfonso Serrano. Introdução à Criminologia. Tradução de Luiz Régis Prado. 
São Paulo: RT, 2007, p. 87.
47 DIAS, op. cit., p. 25-26.
48 DIAS, op. cit., p. 30.
22 Resumo de Criminologia
Este panorama viria, contudo, a ser profundamente alterado 
por dois eventos significativos. Referimo-nos, em primeiro lugar, 
ao aparecimento da sociologia criminal americana, que se con­
fundiria praticamente com a criminologia ocidental. Há, em se­
gundo lugar, que se ter presente a criação da criminologia socialista 
em sentido estrito, isto é, o estudo das causas do crime nos países 
socialistas à luz dos princípios do marxismo-leninismo. A medida 
que os estados socialistas se constituíram, foi-se desenvolvendo 
neles uma “sociologia acadêmica” (Gouldner) que influenciou os 
rumos da criminologia praticada nos referidos países.49
Nos Estados Unidos, antes da Primeira Guerra Mundial, a 
Criminologia orientava-se pelo modelo europeu. Depois, seguiu 
orientação decaráter prático e sociológico. Gillin fundou a 
primeira clínica psiquiátrica, mas seu trabalho não suplantou a 
orientação sociológica de Burgess, Shaw e Mckay. A teoria socio­
lógica americana deve muito a Sutherland e Sellin.50
Essas teorias sociológicas, por serem nucleares ao nosso es­
tudo, serão adequadamente abordadas no capítulo oito desta obra.
49 DIAS, op. cil., p. 30-31,
50 ALBELGARIA, Jason. Noções de Criminologia. Belo Horizonte: Mandamentos, 
1999. p. 35.
Breve estudo histórico criminológico: do passado ao presente na
Criminologia
J c iênc ia f^ e n a (5í
Você também já deve ter lido em algum lugar sobre a ex­
pressão ciência conjunta (ou total) do Direito Penal. Trata-se de 
uma forma diferente de se refletir sobre o fenômeno criminal. 
Ele passa a ser abordado pelos ângulos da Criminologia, Direito 
Penal e pela Política Criminal. O modelo rompe com aquela visão 
formal e abstrata do intérprete da norma penal que fica postado 
em uma torre de marfim, alijado da realidade social.
Todavia, embora o assunto tenha sido reacendido recente­
mente por Jorge de Figueiredo Dias, ele já possui mais de 100 
anos. Vejamos então como surgiu essa idéia.
Foi Franz Von Liszt (1851 -1919), o maior político criminal 
alemão, que chamou primeiramente a atenção para esse conheci­
m ento totaldas ciências penais, visto que deu à ciência do Direito 
Penal uma complexa e nova estrutura. Passa ela a ser uma disci­
plina completa, resultante da fusão da dogmática, criminologia, 
política criminal: agesamte Strafrechtswissenschaft (ciência total 
do Direito Penal).52
Liszt procurou levar a bom termo a antinomia por ele des­
crita, dividindo a ciência penal em dois reinos: os pressupostos 
da punibilidade deveriam determinar-se segundo os postulados 
de um Estado Liberal de Direito, assim como havia proposto a 
Escola Clássica. Porém, uma vez caracterizada a punibilidade pelo 
método jurídico, a sanção deveria medir-se, exclusivamente, pelas 
necessidades sociais. Liszt identificou essas duas tendências com
51 O ponto "Relação entre Direito Penal, Criminologia e Política Criminal” é o tema 
principal deste capítulo e foi cobrado no 27a CONCURSO PARA PROMOTOR DE 
JUSTIÇA ADJUNTO PROVA ORAL - PERÍODO: 07 a 10/SET/2005 - MPDFT.
52 PRADO, Luiz Régis. Curso de Direito Penal brasileiro - Parte Geral. São Paulo: 
RT, 1999. p 51.
os conceitos de Direito Penal e Política Criminal, que considerava 
como opostos entre si. Daí a sua antológica e expressiva frase, 
considerando o Direito Penal como: a barreira intransponível da 
Política CriminalP
Liszt, como professor de Direito Penal, foi o primeiro a 
transpor os métodos e o conceito de ciência do positivismo para 
o Direito Penal. Ao definir o âmbito de toda ciência do Direito 
Penal, nele incluiu, como já foi visto, a Criminologia e a peno- 
logia (um termo por ele cunhado). A Criminologia para ele tem 
a função de explicar as causas do delito, enquanto a penologia 
deve estudar as causas e os efeitos da pena. O Direito Penal como 
teoria absoluta, da retribuição ou vingança, para Liszt, era apenas 
de importância secundária.54
Ao proferir sua aula inaugural na Faculdade de Direito da 
Universidade de Marburg em 1882, sem dúvida conhecedor dos 
trabalhos e das pesquisas de Cesare Lombroso, Enrico Ferri e 
Rafael Garofalo, Liszt, lançando sua doutrina da nova prevenção 
especial, obteve com esta, como construção racional abstrata, 
grande repercussão internacional, ao mesmo tempo, remodelando 
profundamente o sistema de sanções do Direito Penal alemão.55 
Rejeitou a tese do criminoso nato de Cesare Lombroso, afirmando 
estarem as mais profundas raízes criminais nas relações sociais.
O tema, que parece ter ficado esquecido pela literatura 
penal brasileira por um bom tempo, é lembrado por vários pe- 
nalistas do Direito Penal Comparado. Figueiredo Dias, em obra 
recente lançada no Brasil, chama a atenção para a chamada Ciência 
Conjunta do Direito Penal, finalizando sua conclusão com o en­
tendimento que cremos saber hoje, por um lado, que é à política 
criminal que pertence a competência para definir, tanto nos planos 
do direito constituído, como do direito a constituir, os limites da 
punibilidade; como, por outro lado, que a dogmática jurídico- 
penal não pode evoluir sem atenção ao trabalho “prévio" de uma
53 DOTTI, René Ariel. Curso de Direito Penal - Parte Geral. Rio de Janeiro: Forense, 
2001. p. 73.
54 ASHTON, Peter Walter. /\s principais teorias de Direito Penal, seus proponentes e 
seu desenvolvimento na Alemanha, Revista dos Tribunais: São Paulo, RT 742, p. 452.
55 ASHTON, op. cit., p. 453.
26 Resumo de Criminologia
índole criminológica. Mas também, este não pode evoluir sem uma 
mediação político-criminal que lance luz sobre as finalidades e os 
efeitos que se apontam à (e se esperam da) aplicação do Direito 
Penal. Política criminal, dogmática jurídico-penal e Criminologia 
são assim, do ponto de vista científico, três âmbitos autônomos, 
ligados, porém, em vista do integral processo da realização do 
Direito Penal, em uma unidade teleológica-funcional. E a esta 
unidade que continua hoje justificadamente a convir o antigo 
conceito de V Liszt, de ciência conjunta do Direito Penal?6
Reforçando esse entendimento, Claus Roxin registra que 
um Direito Penal moderno não é imaginável sem uma constante 
e estreita colaboração de todas as disciplinas parciais da “ciência 
global do Direito Penal”. Sem embargo, certamente o Direito 
Penal material é num certo modo a ciência base de todo esse 
campo jurídico, pois a punibilidade de uma conduta, que deve 
determinar-se segundo suas regras, é - e ele vale em substância 
também para o campo de objeto da Criminologia, concebido pela 
maioria dos autores de modo algo mais amplo - o pressuposto para 
que as demais ciências a serviço da justiça penal possam sequer 
se ocupar do caso.57
Antonio García-Pablos de Molina e Luiz Flávio Gomes escla­
recem que é hoje a opinião dominante, a de que a Criminologia, a 
Política Criminal e o Direito Penal são os três pilares do sistema das 
ciências criminais, inseparáveis e interdependentes. A criminologia 
deve incumbir-se, assim, de fornecer o substrato empírico do sistema, 
seu fundamento científico; a política criminal, de transformar a ex­
periência criminológica em opções e estratégias concretas de controle 
da criminalidade; por último, o direito penal deve encarregar-se de 
converter em proposições jurídicas, gerais e obrigatórias, o saber 
criminológico esgrimido pela política criminal, com estrito respeito 
às garantias individuais e aos princípios jurídicos de segurança e 
igualdade típicos do Estado de Direito.58
56 DIAS, Figueiredo, op. cit., p. 48.
57 ROXIN, Claus. Derecho Penal -P ane General. Madrid: Civitas, 1997. p. 47.
58 MOLINA, Antonio García-Pablos; GOMES, Luiz Flávio. Criminologia - Introdução a 
seus fundamentos teóricos. 2. ed. São Paulo: RT, 1997. p. 126-127.
A ciência total do Direito Penal 27
Embora a Política Criminal59 não seja reconhecida como 
uma ciência autônoma pela maioria da doutrina (e sim como 
disciplina), ela também é de suma importância para o profis­
sional que atua no sistema penal. E a Política Criminal que, em 
contato com a realidade criminal demonstrada pela Criminologia, 
seleciona quais são os programas, projetos e normas penais (e aí 
o Direito Penal poderá ser acionado) que ela irá escolher para a 
concretização da resposta penal (informal e formal) que o Estado 
adotará em face do fenômeno criminal.
59 Ensina Cláudio Guimarães que, a partir da análise econômica dos delitos e das 
penas, ficam formulados de maneira inter-relacionada os dois grandes marcos do 
Direito Penal oficial, a saber: a natureza e determinantes do comportamento criminal, 
assim como os indicativos de política criminal que devem ser elaborados, levando-se 
em conta,principalmente, a destinação de recursos que deve fazer a sociedade, 
por meio de seu sisterpa de justiça criminal, para previnir, ou pelo menos diminuir, 
a prática de condutas delitivas e assim evitar os custos de maneira mais eficiente, 
GUIMARÃES, Cláudio Alberto Gabriel. Funções da pena privativa de liberdade no 
sistema penal capitalista. 2a ed. Rio de Janeiro: REVAN, 2007, p. 32.
28 Resumo de Criminologia
0 m étodo c n ic o : em pínám o
O método de trabalho utilizado pela Criminologia é o 
empírico. Busca-se a análise, e através da observação conhecer 
o processo, utilizando-se da indução para depois estabelecer as 
suas regras: o oposto do método dedutivo utilizado no Direito 
Penal. Foi graças à Escola Positiva que surgiu a fase científica da 
Criminologia e generalizou-se a utilização do método empírico na 
análise do fenômeno criminal.
A Criminologia é uma ciência do ser, empírica; o Direito, 
uma ciência cultural, do dever ser, normativa. Em conseqüên­
cia, enquanto a primeira se utiliza de um método indutivo, 
empírico, baseado na análise e na observação da realidade, 
as disciplinas jurídicas utilizam um método lógico, abstrato e 
dedutivo.60
Segundo o Novo Dicionário Aurélio, a palavra empirismo 
significa doutrina ou atitude que admite, quanto à origem do 
conhecimento, que este provenha unicamente da experiência, 
seja negando a existência de princípios puramente racionais, 
seja negando que tais princípios, existentes embora, possam, 
independentemente da experiência, levar ao conhecimento da 
verdade.61
60 MOLINA, Antonio García-Pablos de; Gomes, Luiz Flávio, op. cit., p. 44.
61 Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, 3. ed. Curitiba: Positivo, 2004, p. 736.
29
Figura 3: Empirismo: análise - observação - indução
Empirismo não é achismo. O método empírico é árduo 
e pouco íntimo dos profissionais do meio jurídico (juizes, 
promotores de justiça, delegados e advogados) e lamentavelmente 
muitas pessoas se apresentam como criminólogos, emitindo 
opiniões totalmente sem fundamentos científicos e com base 
em entrevistas pessoais, sem nenhuma observação rigorosa do 
método científico e emitindo juízos de valor {acho isso, acho 
aquilo etc.). Existe muito disso no ambiente criminológico que 
investiga a segurança pública, onde o amadorismo do Estado ainda 
perde em qualidade e quantidade diante das formas modernas 
de criminalidade (crime organizado, ataques de hackers pela 
Internet, delinqüência transnacional, crimes contra o sistema 
financeiro etc.).
Nesse sentido, apesar da proximidade do Direito Penal 
em relação à Criminologia, a realidade de interpretação e a 
metodologia de ambas as matérias é por demais antagônica. 
Talvez, por isso, não haja um bom trânsito entre o Direito Penal 
e a Criminologia no Brasil, lembrando-se que a Criminologia nos 
Estados Unidos possui muita força nas faculdades de sociologia, 
e que no Brasil é pouco estudada nos cursos de graduação nas 
faculdades de Direito. E são raros os professores de Direito Penal 
que transitam facilmente nas duas ciências com a desenvoltura 
de Zaffaroni, García-Pablos de Molina, Francisco Munoz Conde, 
Antonio Beristain, Carlos Canedo, Miguel Angel Nunez Paz, Luiz 
Flávio Gomes, Paulo Queiroz, Alice Bianchini, Juarez Cirino dos 
Santos, Luciana Boiteux, Ana Lucia Sabadell e Sérgio Salomão
30 Resumo de Criminologia
Shecaira. Resumindo: nem sempre o bom penalista será um bom 
criminólogo e vice-versa. São realidades próximas, íntimas, mas 
com métodos distintos.
García-Pablos de Molina e Luiz Flávio Gomes lembram 
que o jurista parte de premissas corretas para deduzir delas as 
oportunas conseqüências. O criminólogo, ao contrário, analisa 
alguns dados e induz às correspondentes conclusões, porém, suas 
hipóteses se verificam - e se reforçam - sempre por força dos fatos 
que prevalecem sobre os argumentos subjetivos de autoridade.02
Como você já pode observar, o método de investigação 
criminológico é diverso do método utilizado pelo Direito Penal. 
Enquanto o Direito Penal trabalha com o método dedutivo, 
onde há uma regra geral, e dela se parte para o caso concreto, 
a Criminologia utiliza o método empírico, de observação da 
realidade para, após análises, retirar dessas experiências as suas 
conseqüências.
Um cuidado que você deve ter durante seus estudos é não 
confundir método experimental com método empírico. O método 
experimental [processo científico que consiste em construir uma 
hipótese com apoio na observação de fatos, pondo-os à prova por 
meio de um artefato experimental construído para esse fim) é um 
método empírico, de observação, mas nem todo método empírico 
é experimental. O importante é que a observação seja realizada 
de forma segura e que haja confiabilidade nos resultados.
1 Método experim entalm étodo empírico
Sustentar, pois, que só é científico o demonstrável de forma 
experimental dentro de um laboratório carece de fundamento. 
Trata-se de um pressuposto simplificador no qual incorrem, 
por exemplo, determinados setores criminológicos de natureza
62 MOLINA, Antonio García-Pablos de; Gomes, Luiz Flávio, op. cit., p. 44.
O método criminológico: empirismo
“biologicista” ( v.g., psicologia radical da conduta), que terminam 
por negar todo cientificismo à psicanálise, apesar de sua tradição 
empírica.63 Tal postura se faz necessária porquanto o crime é um 
fenômeno cultural e humano, demandando do criminólogo uma 
postura aberta e flexível.
Antonio García-Pablos de Molina e Luiz Flávio Gomes nos 
informa sobre as principais técnicas de investigação criminológica 
empíricas utilizadas na atualidade: reconhecimentos médicos, ex­
ploração, entrevista, questionário, observação, discussão em grupo, 
experimento (experimentação), testes psicológicos, métodos de 
medição, métodos sociométricos, métodos longitudinais, estudos 
de “seguimento” (follow-up), estudos paralelos e investigações 
com grupo de controle.64
63 MOLINA, Gomes, op. c/f., p. 45.
64 MOLINA, Antonio García-Pablos; GOMES, Luiz Flávio. Criminologia - Introdução a 
seus fundamentos teóricos. 3. ed. São Paulo: RT, 2002. p. 48-63.
Resumo de Criminologia
0 objeto dia m sw tm a (^rim lnolc°9 ia
Depois de estudarmos o conceito, as funções, as caracterís­
ticas e o desenvolvimento histórico da Criminologia, passamos a 
analisar agora o seu objeto de estudo.
Na atualidade, o objeto da Criminologia está dividido em 
quatro pilares: delito, delinqüente, vítima e controle social.
(^O bjeto da Criminologia
D e lito ^ (^ D e linqüente^)(^Vítim a} (^ControlesodãT^>
Figura 4: Objeto da Criminologia
Você já observou que do surgimento da Criminologia até 
a fase atual houve uma substancial transformação no seu objeto 
de estudo. Na época de Beccaria, a investigação era com relação 
apenas ao crime. Com o surgimento da Escola Positiva, e de 
Lombroso e seus seguidores, o objeto de estudo da Criminologia 
passou a ser o delinqüente. Até aí, verificamos uma substituição 
do objeto de estudo da Criminologia.
Durante muito tempo foram apenas o delito e o delinqüente 
os objetos de estudo da Criminologia. Da metade do século XX 
até a atualidade, passamos a ter não mais uma substituição, mas 
também uma ampliação do objeto de estudo, porquanto são man­
tidos os interesses com o crime e o delinqüente, e são adicionados 
mais dois pontos: a vítima e o controle social.
33
Foi por volta da década de 1950 que começaram a surgir 
estudos criminológicos específicos sobre a vítima criminal. Isso 
cresceu muito e talvez seja a área da Criminologia hoje que esteja 
em maior efervescência. E no Brasil não seria diferente. Afinal, 
hoje quase todos nós ou familiares já fomos vítimas de algum 
crime. Mais ou menos nessa época também começaram a eclodir 
os estudos sobre o controle social, sendo que iremos tratar deta­
lhadamente dessasquatro áreas de interesse a seguir.
A problematizaçãoào objeto da Criminologia - e do próprio 
“saber” criminológico - reflete uma profunda mudança ou uma 
crise do modelo de ciência (paradigma) e dos postulados até então 
vigentes sobre o fenômeno criminal. A Criminologia tradicional 
tinha por base um sólido e pacífico consenso: o conceito legal 
de delito, não questionado; as teorias “etiológicas” da criminali­
dade, que tomavam daquele seu autêntico suporte “ontológico”; 
o princípio da diversidade (patológica) do homem delinqüente 
(e da disfuncionalidade do comportamento criminal); e os fins 
conferidos à pena, como resposta justa e útil ao delito. Estes 
constituíam seus quatro pilares mais destacados.65
Todos os paradigmas da Criminologia tradicional vêm sendo 
questionados pela moderna Criminologia e serão explicados a seguir.
6.1. O delito
O delito é um dos objetos mais antigos de preocupação da 
humanidade. Já presente nos primórdios da narrativa bíblica com 
o homicídio praticado por Caim em face de Abel, ou nos escritos 
da Grécia Antiga, passando por diversos autores da Idade Média, 
não há dúvida de que o assunto crime angustia e movimenta a 
sociedade. Isso é claramente demonstrado hoje pelos jornais popu­
lares, tanto da televisão como da mídia impressa, que acumulam 
seus lucros narrando a ocorrência de crimes violentos e bizarros.
O crime é um fenômeno humano e cultural. Ele só existe 
em nosso meio. Na natureza não há a figura do crime. Os animais
65 MOLINA, Antonio García-Pablos; GOMES, Luiz Flávio. Criminologia - Introdução 
a seus fundamentos teóricos. 3. ed. São Paulo: RT, 2002. p. 64.
34 Resumo de Criminologia
são regidos por leis próprias e são irracionais. Embora alguns 
sejam mais inteligentes que outros, eles não possuem o poder 
de reflexão que o homem possui. E impossível a um animal ter 
a compreensão necessária para um julgamento racional - se tal 
ato é um crime ou não. Então, os animais estão excluídos da 
autoria de crime.
O Direito Penal trabalha com três conceitos de delito: mate­
rial, formal e analítico. O conceito material está vinculado ao ato 
que possui danosidade social, ou que provoque lesão a um bem 
jurídico. O conceito formal está ligado ao fato de existir uma lei 
penal que descreva determinado ato como infração criminal. Já o 
conceito analítico expõe os elementos estruturais e aspectos es­
senciais do conceito de crime. Perguntando a um penalista sobre 
o conceito analítico de delito, ele irá responder (pelo menos a 
grande maioria ) que o crime é um ato típico, ilícito e culpável. 
Outros responderão que o crime é um fato típico e ilícito. E agora 
também, retornando ao conceito de que o crime é um fato típico, 
ilícito, culpável e punível, haverá respostas apontando esses quatro 
elementos essenciais. Esses conceitos são fundamentais para que a 
hermenêutica possa ser utilizada. Assim, é possível ao intérprete da 
norma aplicar a norma abstrata ao caso concreto com a segurança 
que tais situações exigem.
Na verdade, os conceitos formal e material não traduzem 
com precisão o que seja crime. Se há uma lei penal editada pelo 
Estado, proibindo determinada conduta, e o agente a viola, se 
ausente qualquer causa de exclusão da ilicitude ou dirimente da 
culpabilidade, haverá crime. Já o conceito material sobreleva a 
importância do princípio da intervenção mínima quando aduz que 
somente haverá crime quando a conduta do agente atenta contra 
os bens mais importantes. Contudo, mesmo sendo importante e 
necessário o bem para a manutenção e subsistência da sociedade, 
se não houver uma lei penal protegendo-o, por mais relevante 
que seja, não haverá crime se o agente vier a atacá-lo, em face do 
princípio da legalidade.66
66 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal - Parte Geral, 5. ed. Rio de Janeiro: 
Impetus, 2005. p. 156.
O objeto da moderna Criminologia 35
Mas esses conceitos são rasos. Eles não traduzem a profun­
didade do fenômeno criminal. Isso fica visível na diferença que 
existe na aplicação da lei penal pela Justiça Criminal togada e pelo 
Tribunal do Júri. O crime é muitas vezes visto de forma distan­
ciada, sem emoção, comparando-se com jurisprudências e mais 
jurisprudências; no Tribunal do Júri é tudo insólito, a emoção nos 
julgamentos está presente, os jurados em seu íntimo se colocam 
no banco dos réus e se perguntam se teriam feito a mesma coisa. 
Antes de acusação e defesa discursarem sobre legítima defesa e 
inexigibilidade de conduta diversa, o jurado já fez, pelo menos 
por algumas vezes, a operação mental de ter se colocado no lugar 
do réu, com as condições pessoais do mesmo e na hora dos fatos. 
Antes da descrição abstrata do crime (utilizada pelo Direito Pe­
nal), o jurado quer perscrutar os fatores que levaram à ocorrência 
daquele homicídio. O Tribunal do Júri é pura Criminologia1.
O Tribunal do Júri épura Criminologial 
Ali estão bem visíveis: delito, delinqüente, 
vítima e o controle social.
A Criminologia moderna não mais se assenta no dogma de 
que convivemos em uma sociedade consensual. Pelo contrário, 
vivemos em uma sociedade conflitiva. Não basta afirmar que 
crime é o conceito legal. Isso não explica tudo e não ajuda em 
quase nada na percepção da origem do crime. O crime é muito 
complexo, ele pode ter origens das mais diversas como o excessivo 
desnível social de uma localidade, defeitos hormonais no corpo de 
uma pessoa, problemas de ordem psíquica como traumas, fobias 
e transtornos de toda ordem emocional etc.
A Criminologia moderna busca se antecipar aos fatos que 
precedem o conceito jurídico-penal de delito. O Direito Penal só 
age após a execução (ex.: tentativa) ou na consumação do crime. 
A Criminologia quer mais! Ela quer entender a dinâmica do crime
36 Resumo de Criminologia
e intervir nesse processo com o intuito de dissuadir o agente de 
praticar o crime, o que pode ocorrer das mais variadas formas. 
Mas para que isso seja feito, a Criminologia teve que desenvolver 
outros conceitos para o delito. Conceitos estes mais próximos e 
íntimos da realidade que o fenômeno criminal apresenta.
Diversos conceitos foram surgindo no desenvolvimento da 
Criminologia. Já foram tratados aqui os três conceitos utilizados 
pelo Direito Penal, os quais são obrigatórios pontos de partida da 
Criminologia, mas não esgotam o problema.
Molina leciona que Garofalo chegou a criar a figura do 
delito natural, ou seja, para ele, delito seria: “uma lesão daquela 
parte do sentido moral, que consiste nos sentimentos altruístas 
fundamentais (piedade e probidade) segundo o padrão médio 
em que se encontram as raças humanas superiores, cuja medida 
é necessária para a adaptação do indivíduo à sociedade”, outros 
autores, no entanto, realçam a nocividade social da conduta ou a 
periculosidade do seu autor.67
A sociologia criminal já utiliza outro parâmetro, bastante em 
voga na atualidade: o de conduta desviada ou desvio. Esse critério 
utiliza como paradigma as expectativas da sociedade. As condutas 
desviadas são aquelas que infringem o padrão de comportamento 
esperado pela população num determinado momento. É um con­
ceito que não se confunde com o de crime, mas que o abrange.
Anthony Giddens ensina que podemos definir o desvio 
como o que não está em conformidade com determinado conjunto 
de normas aceitas por um número significativo de pessoas de 
uma comunidade ou sociedade. Como já foi enfatizado, nenhuma 
sociedade pode ser dividida de um modo linear entre os que se 
desviam das normas e aqueles que estão em conformidade com 
elas. A maior parte das pessoas transgride, em certas ocasiões, re­
gras de comportamento geralmente aceitas. Quase toda a gente, por 
exemplo, já cometeu em determinada altura atos menores de furto, 
como levar alguma coisa de uma loja sem pagar ou apropriar-se de 
pequenos objetos do emprego - como papel de correspondência

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