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Unidade 4 - Parte 3 Câmbio e Internacionalização da Economia Chegamos à última unidade! Estudamos os concei- tos básicos da Microeconomia e, dentro da Macroeconomia, discutimos o crescimento econômico, a inflação, as políticas monetária e fiscal e o déficit público. Para encerrar, vamos ampliar os horizontes e “abrir a economia”. Até agora con- sideramos apenas o que acontece dentro do nosso território, mas os países se relacionam entre si e, especialmente, com o advento da globalização, o comércio internacional adquire uma importância crescente. O comércio internacional permite a cada país aproveitar sua posição favorável na produção de certos bens e serviços. Vimos, na aula de Crescimento Econômico, que as exportações e importações fazem parte da demanda agregada (cálculo do PIB pela ótica da despesa) e, portanto, o comércio internacional afeta diretamente o desempenho de um país. Nesta unidade final abordaremos a importância do comércio internacional, a taxa de câmbio e o balanço de pagamentos. Vamos lá? Renata Ferreira 212 9.1 O Comércio Internacional O comércio internacional consiste no intercâmbio de bens, serviços e capitais entre os diferentes países. (MOCHÓN, 2006). Nesse sentido, o comércio interna- cional existe porque proporciona vantagens em relação ao que as pessoas ganhariam se apenas consumissem artigos produzidos localmente. Além disso, cada país possui recur- sos distintos em decorrência das condições climáticas, geo- gráficas, riqueza mineral, tecnologia e quantidade disponível de mão de obra, capital e terra cultivável. Em virtude dessas diferenças, não é possível produzir todos os bens e serviços na quantidade necessária para aten- der a população e, se conseguir produzir todos os bens, não conseguirá ser eficiente em todas as produções. Assim como as pessoas que escolhem uma profissão e se especializam em uma área, os países procuram se especia- lizar na produção de bens e serviços que possuem recursos para produzi-los. Alguns países possuem uma área para o plantio maior e, portanto, irão se especializar na agricultura, outros países possuem tecnologia avançada e se especializa- rão na produção de um bem que exija maior disponibilidade de recursos tecnológicos. Esse fenômeno permite que cada país se especia- lize naquilo que faz melhor e ganhe o suficiente para poder comprar os bens e serviços que não produz, alimentando o comércio internacional. C âm bi o e I nt er na ci on al iz aç ão d a Ec on om ia 213 Teorias do Comércio Internacional A diferença de recursos e o fenômeno da especiali- zação justificam a existência do comércio internacional. Po- rém, existem algumas teorias que explicam isso e merecem ser destacadas. a. Teorias das Vantagens Absolutas Adam Smith, considerado o pai da Economia, escre- veu, em 1776, o livro A Riqueza das Nações, no qual defendeu o livre comércio como a melhor alternativa para todas as nações. A sua teoria destaca a impor- tância da especialização, afirmando que um país deve se especializar na produção da mercadoria que pro- duz com mais eficiência do que as outras nações, ou seja, que tivesse Vantagem Absoluta, e deve importar as mercadorias que tivesse desvantagem absoluta (ou produzisse de modo menos eficiente do que os demais países). (PASSOS e NOGAMI, 2003, p. 515). Vejamos um exemplo: Consideremos apenas dois países, Brasil e Japão, os quais produzem apenas dois bens: café e arroz. Temos ape- nas a mão de obra como fator de produção e ela está apta a trabalhar nas duas produções. O quadro abaixo mostra a quantidade produzida em cada país. Produto Fator de produção Brasil Japão Café 1 trabalhador pro-duz por ano 1500kg 300kg Arroz 1 trabalhador pro-duz por ano 600kg 900kg 214 O exemplo acima mostra que um trabalhador no Brasil produz mais café do que um trabalhador no Japão, ao passo que um trabalhador no Japão produz mais arroz do que um trabalhador no Brasil. Se os países não se especializarem, produzirão os dois bens. Para simplificar, vamos supor que cada produção acon- teça por um semestre de modo que, durante o ano, o país con- siga produzir os dois bens. Teríamos a seguinte situação: ▪ Sem especialização (sem comércio internacional) Brasil: 2º Semestre produz arroz = 300kg Japão: 1º Semestre produz arroz = 450kg Total mundial de arroz = 750kg Brasil: 1º Semestre produz café = 750kg Japão: 2º Semestre produz café = 150kg Total mundial de café = 900kg Brasil: 1º Semestre produz café = 1500kg Japão: 2º Semestre produz café = 0kg Total mundial de café = 1500kg Porém se cada país se especializasse na produção em que é mais eficiente, teríamos: ▪ Com especialização (com o comércio internacional) C âm bi o e I nt er na ci on al iz aç ão d a Ec on om ia 215 Brasil: 2º Semestre produz arroz = 0kg Japão: 1º Semestre produz arroz = 900kg Total mundial de arroz = 900kg Sem especialização - Café = 900kg Arroz = 750kg Com especialização - Café = 1500kg Arroz = 900kg Ganho líquido café = 600kg Arroz = 150kg Comparando os resultados das duas situações: ▪ Ganho líquido: Com a especialização de cada país na produção do bem que possui vantagem absoluta, haveria um ganho líquido de 600 kg de café e 150 kg de arroz. Assim, com especialização, a produção é maior, permitindo que os países compartilhem esse ganho através das trocas (comércio internacional). b. Teorias das Vantagens Comparativas A Teoria de Adam Smith sobre as Vantagens Absolutas é correta, mas só explica uma parte do comércio inter- nacional. Coube a David Ricardo, em 1817, através do livro Princípios de Economia Política e Tributação, ampliar a teoria. Para Ricardo, a especialização internacional e a divisão do trabalho trazem vantagens para todas as nações (concordando com a teoria de Adam Smith), porém seria necessário analisar os custos de produção com outros países. Cada país deveria se dedicar à produção de bens em 216 que tivesse custos comparativos menores em relação aos demais países. Essa situação permite que, mesmo que um país tenha desvantagem absoluta na produção das mercadorias, tenha ganhos com o comércio internacional, desde que ele se especialize na produção e na exportação do bem em que sua vantagem absoluta seja menor. Além disso, deve importar a mercadoria cuja vantagem absoluta seja menor (PASSOS e NOGAMI, 2003, p. 517). Assim, o Princípio das Vantagens Comparativas sugere que cada país deva se especializar na produ- ção daquela mercadoria em que é relativamente mais eficiente ou que tenha um custo relativamente menor (VASCONCELLOS, 2002, p. 354). Essa é a mercadoria que deve ser exportada. E deve-se importar as mer- cadorias cuja produção interna implicaria num custo relativamente maior (ao comparar com o custo dos demais países). Vamos a um exemplo: Produto Fator de produção Brasil Japão Café 1 trabalhador pro-duz por ano 1500kg 300kg Soja 1 trabalhador pro-duz por ano 750kg 600kg Neste caso, o Brasil supera a produção japonesa para ambos os bens, possui, portanto, vantagem absoluta na pro- dução de café e de soja. Mesmo assim, valerá a pena para o Brasil se concentrar apenas na produção de apenas um dos bens, no caso, o café. C âm bi o e I nt er na ci on al iz aç ão d a Ec on om ia 217 Sem comércio internacional Com comércio internacional Japão 1kg de café = 2kg de soja 1500kg Brasil 1kg de soja = 2kg de café 750kg Observando a tabela, percebe-se que, com a mesma mão de obra, o Brasil consegue produzir o dobro de café se compa- rado coma sua produção de soja. E no Japão, a mesma mão de obra produz o dobro de soja em relação ao café produzido. Assim, em termos relativos, o custo de produção do café no Brasil é menor do que no Japão, visto que, no Brasil, para pro- duzir 1 kg de café seria necessário abrir mão de 0,5 kg de soja (750/1500). Enquanto que, no Japão, para se produzir 1 kg de café seria necessário deixar de produzir 2 kg de soja (600/300). O inverso ocorre para a produção de soja. O custo rela- tivo no Japão é menor do que no Brasil porque, para os brasi- leiros, produzir 1 kg de soja representa abrir mão de 2 kg de café (1500/750); enquanto que, no Japão, produzir 1 kg de soja representa abrir mão de 0,5 kg de café (300/600). Nesse sentido, o Brasil deve se especializar na produ- ção de café e, o Japão, na de soja. Se a relação de troca entre café e soja for 1 para 1 (1 kg de soja = 1 kg de café), ambos os países sairão ganhando. Vamos analisar os ganhos: Sem o comércio internacional, para produzir 1 kg de café, o Japão teria que abrir mão de 2 kg de soja. Ao se es- pecializar na produção de soja, pode comprar no comércio internacional 1 kg de café pagando com apenas 1 kg de soja. Já no Brasil, sem o comércio internacional, para se obter 1 kg de soja custaria 2 kg de café (deixaria de ser produzido). Ha- vendo comércio internacional, o mesmo 1 kg de soja é obtido com 1 kg de café. 218 Concluindo, o comércio internacional facilita a espe- cialização ao permitir que cada país coloque para o resto do mundo os excedentes dos produtos nos quais se especializou, trazendo benefícios para todos. Além disso, o comércio in- ternacional fomenta a concorrência e os avanços tecnológi- cos, além de aumentar a produtividade, a redução de custos e propiciar a melhoria na qualidade dos bens. Assim, ganham tanto os produtores quanto os consumidores. Atuação do Governo no Comércio Internacional: Políticas Protecio- nistas Apesar das vantagens do livre comércio internacional (especialmente no ganho de eficiência), existem casos em que o governo intervém, limitando as práticas de comércio. Cha- mamos essa intervenção de políticas protecionistas. “Os instrumentos de proteção são formados por um conjunto de políticas, medidas e procedimentos que os go- vernos adotam com a finalidade de criar obstáculos às tran- sações econômicas com o exterior.” (MOCHÓN, 2006, p. 381). a. As razões que justificam as políticas protecionistas são: ▪ Proteção à indústria nacional: Proteger uma indús- tria considerada estratégica do ponto de vista da segurança nacional ou, ainda, proteger uma indús- tria nascente (setor emergente), que se encontra na fase de formação de sua estrutura produtiva e não possui condições de sobreviver à competição internacional. C âm bi o e I nt er na ci on al iz aç ão d a Ec on om ia 219 ▪ Proteção do emprego: Ao importar alguns bens, a produção interna é reduzida, o que afeta o emprego, visto que uma quantidade considerável de traba- lhadores deixa de ser empregada por causa do fim da produção interna. Para proteger o emprego, o governo pode fomentar a industrialização nacional através do processo de substituição de importações, ou seja, desestimulando a importação de bens fabri- cados no próprio país. ▪ Combate aos déficits comerciais: Desestimular as importações e estimular as exportações para redu- zir os desequilíbrios na balança comercial (exporta- ções menos importações). b. Tipos de políticas protecionistas: O governo pode criar restrições ao comércio interna- cional através das seguintes práticas: ▪ Tarifas de importação: É um imposto especial sobre os produtos importados. O objetivo é elevar o preço do produto estrangeiro no mercado interno e, assim, pro- teger os produtos nacionais. Por exemplo, uma tarifa de importação de 25% sobre um veículo de R$50.000,00 torna seu preço final dentro do território nacional R$62.500,00, fazendo com que o consumidor analise a opção de adquirir os veículos nacionais, com preços mais baixos. ▪ Cotas de importação: O governo limita a quantidade de importações que podem ser realizadas. Por exem- plo, em 2001 o governo dos Estados Unidos estabeleceu a cota de 200 mil toneladas de aço importado do Brasil. 220 O preço pode ser fixado livremente pelo mercado, ape- nas a quantidade é controlada. ▪ Subsídios à exportação: São ajudas aos fabricantes nacionais de determinados bens para que possam exportá-los a preços menores e mais competitivos. Esses subsídios estimulam a produção nacional e o emprego. Os produtos agrícolas produzidos pelos Estados Unidos recebem subsídios do governo para terem custos competitivos frente aos países agroexpor- tadores (como o Brasil, por exemplo). ▪ Restrições burocráticas: O governo pode estabelecer processos aduaneiros complexos, com uma série de documentos, normas de qualidade sanitárias e obten- ção de vistos consulares para dificultar a importação de certos bens. 9.2 Mercado de Câmbio e Taxa de Câmbio O mercado de câmbio ou de divisas é o mercado no qual se compram e vendem as moedas dos diferentes países. Por ser um mercado como outro qualquer, existem compra- dores e vendedores: Quem compra moeda estrangeira (demanda moeda estrangeira): ▪ importadores; ▪ viajantes brasileiros; C âm bi o e I nt er na ci on al iz aç ão d a Ec on om ia 221 ▪ quem investe no exterior; ▪ quem paga dívidas com o exterior; ▪ quem aposta que a moeda estrangeira irá se valorizar. Quem vende moeda estrangeira (oferta moeda estrangeira) ▪ exportadores; ▪ viajantes estrangeiros no Brasil; ▪ investidor estrangeiro no país; ▪ quem paga dívidas com o Brasil; ▪ quem aposta que a moeda estrangeira irá se desvalorizar. A Taxa de câmbio é o preço, em moeda nacional, de uma unidade de moeda estrangeira. É o preço de uma moeda expressa em termos de outra. Exemplo: Quando falamos que o dólar americano vale um real e setenta e cinco centavos, já estamos expressando a taxa de câmbio entre duas moedas: US$1,00 = R$1,75. Do mesmo modo que definimos a taxa de câmbio do dólar, existem taxas de câmbio para as diversas moedas es- trangeiras (euros, libras, escudos, pesos, etc.). Quanto maior a oferta de divisas, menor será a taxa de câmbio e, quanto maior a demanda por divisas, maior será a taxa de câmbio. Define-se como valorização cambial, ou apreciação cambial, o aumento do poder de compra da moe- da nacional perante as outras moedas (quando um real com- pra mais dólares), ou seja, quando a taxa de câmbio cai (por exemplo, quando o valor do dólar cai). Por raciocínio análogo, uma desvalorização cambial ocorre quando há perda do po- der de compra da moeda nacional (quando um real compra 222 Taxa real de câmbio = = 1,35= 1,80 × 30 54 40 40 Taxa de câmbio real: US$ 1 = R$ 1,35 Sendo: E = taxa de câmbio nominal P* = preço do produto estrangeiro P = preço do produto nacional Exemplo: Considere um produto no Brasil custando R$40,00 e nos EUA sendo vendido por US$30,00. Se a taxa de câmbio estiver em US$1,00 = R$1,80, a taxa de câmbio real entre os dois países será: menos dólares), isso corresponde a um aumento na taxa de câmbio (no preço do dólar, por exemplo). Cabe distinguir variações nominais e variações reais na taxa de câmbio. Taxa de câmbio real é a taxa de câmbio nominal (a divulgada pelo mercado), deflacionada pela ra- zão entre a taxa de inflação doméstica e externa (GREMAUD, VASCONCELLOS e TONETO JUNIOR, 2006, p. 281). A fórmula para obtenção da taxa de câmbio real é: C âm bi o e I nt er na ci on al iz ação d a Ec on om ia 223 Taxa real de câmbio = = 1,35= 1,80 × 30 54 40 40 Taxa de câmbio real: US$ 1 = R$ 1,35 A taxa de câmbio é uma variável muito importante dentro de uma economia, pois pode influenciar o nível de produção e de inflação, além do próprio comércio internacio- nal e dos movimentos de capitais entre os países. O esquema a seguir ajuda a entender o efeito de uma desvalorização cambial (aumento na taxa de câmbio): Estimula as exportações Produtos para produção de outros bens Aumenta o custo de produção Pressiona a inflação Produtos para consumo: importação cai Aumenta a produção Nos mercados exportadores Desestímulo às importações Aumenta o empregoAumenta a taxa de câmbio Pressiona os juros para cima Um aumento na taxa de câmbio faz com que os com- pradores estrangeiros, com os mesmos dólares, comprem mais produtos brasileiros, o que estimula as exportações. Se as exportações subirem de forma representativa, provocará um aumento na produção interna dos produtos brasileiros, o que estimula o emprego nesses mercados exportadores. Em contrapartida, os produtos importados ficam mais caros (são necessários mais reais para pagar um pro- duto em dólar). A importação de produtos destinados aos 224 consumidores finais tende a diminuir, já que os consumi- dores podem adquirir produtos nacionais similares por um preço mais acessível. Já a importação de bens intermediá- rios (que serão usados como matérias-primas na produção de outros bens) não é facilmente retraída, a quantidade impor- tada se mantém, porém a um custo maior, o que tende a ser repassado para os preços, provocando inflação. Uma forma de reduzir a taxa de câmbio é aumentar a taxa de juros da economia; juros mais altos atraem capital estrangeiro para investir no Brasil, aumenta a oferta de dóla- res e com isso pressiona o câmbio para baixo. Atualmente, a taxa de câmbio tem sido usada pelos países como forma de controlar a inflação, chamamos isso de âncora cambial. Uma valorização cambial torna a moeda nacional mais forte, estimula a compra de produtos importados, aumentando a concorrência com os nacionais, provocando uma pressão pela queda dos preços domésticos, controlando a inflação. 9.3 Regimes Cambiais O governo procura regulamentar o mercado de câmbio com o objetivo de melhorar o desempenho de certas variáveis econômicas de seu interesse. Por isso existem diferentes regi- mes cambiais. Os principais regimes cambiais são: ▪ Regime de taxas de câmbio fixas: a taxa de câmbio do país é fixa e o que se ajusta é apenas a quantidade demandada e ofertada àquele valor. O governo deter- mina o valor da taxa de câmbio e intervém, através C âm bi o e I nt er na ci on al iz aç ão d a Ec on om ia 225 do Banco Central, de modo a equilibrar a oferta e a demanda de divisas no nível da taxa de câmbio estabelecida. Quando no mercado há um excesso de oferta de divi- sas (dólares, por exemplo) o governo entra no mercado adquirindo essas divisas pela taxa de câmbio fixada (compra o excesso para evitar que a taxa de câmbio se altere), equilibrando oferta e demanda. Se tivermos o inverso, excesso de demanda de divisas, o governo vende, a essa taxa, divisas que possui em reserva. Como a taxa de câmbio não se altera, esse sistema permite maior controle da inflação, mas possui como desvantagem a vulnerabilidade das reservas interna- cionais, já que para manter a taxa cambial fixa ocorrem oscilações sobre o volume de reservas internacionais do país e sobre a quantidade de moeda nacional. No Brasil esse sistema vigorou nos Planos Cruzados (1986) e Verão (1989). ▪ Regime de taxas de câmbio flutuantes ou flexíveis: a taxa de câmbio do país é livre, o governo intervém ape- nas como ofertante e demandante de divisas em fun- ção de suas necessidades, do mesmo modo que o setor privado. As taxas de câmbio são determinadas sem a intervenção do Banco Central, pelas forças da oferta e da demanda. A vantagem desse sistema é que a política monetária fica mais independente do câmbio e as reservas interna- cionais são mais protegidas de ataques especulativos. A grande desvantagem desse sistema é sua vola- tilidade, pois movimentos bruscos na oferta ou na demanda de divisas provocam grandes oscilações na taxa de câmbio, gerando inconvenientes para a econo- mia: torna-se um campo fértil para a especulação, gera 226 dificuldades para os importadores determinarem os preços em reais das mercadorias importadas e acaba por desestimular as exportações pela incerteza do valor que será recebido pelo exportador. Gera maiores dificuldades para controlar a inflação devido às desva- lorizações cambiais (VASCONCELLOS, 2002, p. 358). Essa volatilidade faz com que alguns países ado- tem a chamada “flutuação suja” (ou flutuação diri- gida ou dirty floating). Nesse sistema, o câmbio flutua livremente, mas dentro de certos limites que o Banco Central não comunica ao mercado. Assim, se o mer- cado estiver muito oscilante ou em um patamar que está afetando negativamente a economia, o Banco Central intervém para estabilizar ou para direcionar a taxa para o patamar desejável. ▪ Regime de bandas cambiais: O governo estabelece (e informa o mercado) os valores limites que a taxa de câmbio pode assumir. Dentro desses limites, o sistema funciona como se fosse câmbio flutuante e, nos limi- tes, como câmbio fixo, ou seja, estabelece-se uma faixa de flutuação. Quando a taxa atinge os limites, o Banco Central intervém, vendendo ou comprando moeda estrangeira. Esse sistema foi implantado no Brasil entre 1995 e 1999. 9.4 Balanço de Pagamentos É um resumo contábil das transações econômicas (co- merciais e financeiras) que um país faz com o resto do mun- C âm bi o e I nt er na ci on al iz aç ão d a Ec on om ia 227 Balanço de Pagamentos A. Balanço de Transações Correntes: B. Balança de Capitais C. Erros e Omissões Saldo = A + B + C A. 1. Balança Comercial A. 2. Balança de Serviços A. 3. Transferências Unilaterais do durante certo período de tempo. A partir desse balanço pode-se avaliar a situação econômica internacional do país. No Brasil, é elaborado pelo Banco Central a partir do registro das transações efetuadas entre residentes no país e residentes em outras nações. De um modo geral, o Balanço de Pagamentos é com- posto pelas seguintes contas: 1. Balança Comercial: Registra as operações de compra e venda de mercado- rias, ou seja, inclui as exportações e as importações de mer- cadorias. ▪ Exportações: venda para outros países de mercado- rias produzidas internamente, isto é, corresponde à demanda de não residentes por mercadorias produzi- das no país. Representam uma entrada de capital, uma receita em moeda estrangeira. ▪ Importações: compra de mercadorias produzidas em outro país por residentes do país. Representam uma 228 saída de capital, uma despesa em moeda estrangeira. ▪ Saldo da Balança Comercial: Exportações (X) - Importações (M). Também pode ser chamada de exportações líquidas. Se o saldo for positivo, dizemos que ocorreu um superávit comercial, porém se o saldo for negativo, temos um déficit na balança comercial. 2. Balança de Serviços: Inclui as transações de produtos não tangíveis, ou seja, refere-se ao pagamento (saída de dólares) e recebimentos (entrada de dólares) relativos à remuneração de serviços. Os principais componentes dessa conta são: ▪ Transporte e seguros: toda mercadoria transacionada internacionalmenteenvolve despesa de frete e seguro. Se o seguro ou transporte for feito por uma empresa brasileira, ocorre entrada de divisas (vende-se o ser- viço de transportes, recebimento em dólar), se for efe- tuado por empresas estrangeiras, teremos uma saída de divisas. ▪ Turismo: Saldo das receitas e despesas com turistas. Dólares recebidos por turistas estrangeiros (entrada de divisas) menos dólares despendidos por turistas brasi- leiros no exterior (saída de divisas). ▪ Juros: serviços da dívida externa (não incluem amor- tizações). Representa os juros devidos tanto pelo setor público quanto pelo privado. Como o Brasil é tomador de empréstimos no exterior, e não emprestador, essa conta é negativa, representando uma saída de divisas. C âm bi o e I nt er na ci on al iz aç ão d a Ec on om ia 229 ▪ Rendas: nessa conta estão incluídos: ▪ Lucros e dividendos: referem-se às remessas efe- tuadas por empresas multinacionais instaladas no país para seus países de origem. Embora existam empresas brasileiras no exterior, o número de mul- tinacionais no país é maior, fazendo com que essa conta seja negativa (saída de dólares da economia) (LANZANA, 2001, p. 125). ▪ Rendas de investimento em carteiras: englobam os juros, dividendos e bonificações relativos às aplica- ções em ações e os juros correspondentes às aplica- ções em títulos e aplicações financeiras no exterior (MOCHÓN, 2006, p. 404). 3. Transferências Unilaterais: Referem-se ao fluxo de recursos provenientes de pes- soas trabalhando fora do país, donativos, manutenção de es- tudantes no exterior e aposentadorias. Por exemplo, se um brasileiro vai trabalhar no Japão e remete parte de seu salário para o Brasil, será uma entrada de dólares no balanço de pa- gamentos brasileiros. 4. Balança de Transações Correntes: É a soma dos três itens anteriores (balança comercial, de serviços e transferências unilaterais). É o item mais im- portante do balanço de pagamentos à medida que mostra as necessidades de recursos que o país terá de buscar no exterior para não perder reservas internacionais. Um déficit muito elevado nessa conta torna o país vulnerável a qualquer mu- dança no contexto internacional (LANZANA, 2001, p. 126). 230 5. Balança de Capitais: É a conta que indica as alternativas de cobertura do déficit em transações correntes, envolvendo as operações que modificam a estrutura de direitos e obrigações de um país em relação ao resto do mundo. É dividida em: ▪ Investimentos: representam o ingresso de capitais estrangeiros (investimentos feitos por não residentes no país - entrada de dólares) e/ou o capital de residen- tes aplicados no exterior (saída de dólares). Podem ser investimentos diretos, quando o capital estrangeiro migra para o mercado produtivo (por exemplo, o capi- tal entra no país por meio da construção de uma mul- tinacional), ou investimento em carteira, quando o capital estrangeiro migra para o mercado financeiro. ▪ Empréstimos: registram empréstimos recebidos do exterior (pelo FMI, Banco Mundial, bancos privados externos - neste último caso, pode ser tanto para o setor público como para o privado) e ainda o lançamento de títulos de empresas públicas e privadas no exterior. ▪ Amortizações: pagamento do principal referente aos empréstimos e financiamentos obtidos no exterior ou, ainda, recebimentos do principal feito por não residen- tes referentes aos empréstimos concedidos pelo país ao exterior. ▪ A principal variável a explicar o movimento de capi- tais entre os países é a taxa de juros. Quanto maior a taxa de juros de um país em relação aos demais, maior o estímulo à entrada de capitais externos nesse país. C âm bi o e I nt er na ci on al iz aç ão d a Ec on om ia 231 6. Erros e Omissões: Surge em função de equívocos existentes no registro das operações do país com o exterior. Na verdade, algumas contas são registradas com valores estimados. Esse item entra no balanço para corrigir os erros estatísticos e as transações não registradas. 7. Saldo do Balanço de Pagamentos: Somadas todas as contas anteriores, temos o saldo do balanço de pagamentos. Se negativo, significa que a saída de divisas foi superior à entrada, gerando um déficit. Se positivo, temos um superávit. O resultado nessa conta reflete a varia- ção das reservas internacionais. O superávit significa que há mais divisas do que as necessárias para cobrir as saídas e essa “sobra” representa um aumento nas reservas internacionais do país. Já o déficit mostra que as entradas não foram suficientes e tal resultado negativo poderá ser coberto por uma saída de divisas ou de ouro do país, reduzindo as reservas internacionais. Nessas nove unidades, percorremos rapidamente os principais conceitos que norteiam a Economia. Esperamos que tenham diminuído o “medo” de aprender economia, de discutir e ler sobre questões, como a inflação, o desemprego, a recessão, a inadimplência, o câmbio, os juros, os custos das empresas, os oligopólios, a demanda, a oferta, etc. Sabemos o quanto é difícil popularizar uma ciência tão complexa, mas também temos a consciência da importância desses conceitos para a vida pessoal e profissional de cada um de nós. Valorizamos o esforço de cada um de vocês em 232 acompanhar cada unidade, em fazer as atividades propos- tas e realmente esperamos que o resultado seja positivo, que vocês tenham gostado da disciplina e que possam levar para a vida o que aprenderam aqui. Se precisarem de ajuda, sabem onde e como nos procu- rar, estamos à disposição. Para finalizar, só nos cabe desejar sucesso e muitas felicidades! REfERêNCIA GREMAUD, A. P.; VASCONCELLOS, M. A. S.; TONETO JR, R. Economia Brasileira Contemporânea. 6.ed. São Paulo: Atlas, 2006. KRUGMAN, P. R.; OBSTFELD, M. Economia Internacional: Teoria e Prática. 6.ed. São Paulo: Pearson, 2005. LANZANA, A.E.T. Economia Brasileira: Fundamentos e Atualidade. São Paulo: Atlas, 2001. MANKIW, G. N. Introdução à Economia: princípios de micro e macroeconomia. 2.ed. Rio de Janeiro: Campus, 2001. MOCHÓN, F. Economia. Teoria e Política. 5.ed. São Paulo: Mc Graw Hill, 2006. PASSOS, C. R. M.; NOGAMI, O. Princípios de Economia. 4.ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003. RATTI, B. Comércio Internacional e Câmbio. São Paulo: Aduaneiras, 1997. C âm bi o e I nt er na ci on al iz aç ão d a Ec on om ia 233 SAYAD, J.; SILBER, S. D. Comércio Internacional. In: PINHO, D.; VASCONCELLOS, M. A. S. (org). Manual de Economia. Equipe de Professores da USP. 5.ed. São Paulo: Saraiva, 2005. TONETO Jr., R. Economia Aberta: Regimes cambiais, determinação da renda e impactos da política econômica. In: PINHO, D.; VASCONCELLOS, M. A. S. 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