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Unidade 3 - Parte 1 Estruturas de Mercado Quantos produtos e serviços diferentes são oferecidos para venda no mercado brasileiro? Ninguém sabe quantificar isso, mas podemos afirmar que são dezenas de milhões. A diferenciação do produto nos faz perder a noção de quantos bens e serviços há à disposição. A comercialização dos pro- dutos é feita em um mercado com compradores e vendedores que também apresentam características diferentes. Um ser- viço médico, por exemplo, é comercializado de forma dife- rente do que um pneu para automóveis. Você não vê um médico na televisão convencendo-o a frequentar a clinica dele, nem um agricultor convencendo-o que o milho que vende é o melhor. A forma de interação entre compradores e vendedores varia conforme as característi- cas do mercado em que atuam. Em Economia, o estudo das características dos mercados e das diferenças de comerciali- zação entre bens e serviços é denominado de Estruturas de Mercado. Segundo Troster (2005, p. 191) as estruturas de mer- cado são “modelos que captam aspectos inerentes de como os mercados estão organizados”. Cada estrutura de mercado destaca alguns aspectos essenciais da interação da oferta e da demanda e se baseia em hipóteses e em características observadas nos mercados exis- tentes, tais como: tamanho da firma, diferenciação do produto, transparência do mercado, acesso de novas empresas, entre outras. As estruturas de mercado clássicas são: concorrência perfeita, monopólio, concorrência monopolística e oligopólio. Vamos conhecê-las? Renata Ferreira 116 5.1 Concorrência Perfeita Vamos começar com a palavra concorrência. Hall e Lieberman (2003, p. 254) trazem um exemplo interessante para ilustrar esse conceito. Concorrência pode representar uma rivalidade mais agressiva, como a que existe entre dois boxeadores competindo em um ringue ou, ainda, pode repre- sentar uma forma menos pessoal de concorrência, como o vestibular, em que milhares de jovens concorrem entre si por uma vaga na universidade. Esse último tipo de concorrência é impessoal: o candi- dato está fazendo o melhor que pode, buscando se destacar em relação aos demais candidatos que também estão fazendo a prova em diversas salas de aula espalhadas pelo país. Na Economia, o termo concorrência é usado no último sentido. Assim, a concorrência perfeita é a estrutura de mer- cado que apresenta as seguintes características: ▪ Grande número de compradores e vendedores: como o número de participantes do mercado é elevado, nenhum agente, seja comprador ou vendedor, conse- gue influenciar no preço de mercado, tornando impos- sível os acordos de preços. ▪ Homogeneidade de produtos: todas as empresas pro- duzem produtos idênticos (não há diferenciação de produto, embalagem, qualidade, etc.) e portanto são substitutos entre si. ▪ Aceitação de preços: com um significativo número de concorrentes, cada empresa vende uma parcela Es tr ut ur as d e M er ca do 117 pequena do total produzido pelo mercado e suas deci- sões não afetam o preço ali fixado. Desse modo, a empresa segue o preço de mercado, dizemos que ela é um tomadora de preços. ▪ Livre entrada e saída: é um mercado com livre mobi- lidade de firmas, ou seja, não há custos especiais que impeçam a entrada ou a saída de uma empresa no mer- cado. Nesta estrutura, os fornecedores podem entrar ou sair livremente do mercado, e os consumidores podem facilmente trocar de fornecedor. Se as empre- sas podem entrar e sair livremente, existe a flexibili- dade e a mobilidade de recursos (todos os insumos são perfeitamente móveis). ▪ Perfeita informação: (transparência) consumidores e vendedores têm acesso a toda informação relevante, ou seja, os consumidores conhecem os preços e a qua- lidade dos bens disponíveis, e as empresas dispõem de informações perfeitas sobre custos, preços e tecnologia. A hipótese de que uma firma, isoladamente, não con- segue interferir no preço de mercado tem uma consequên- cia importante, já que afeta o comportamento da demanda do produto. Já vimos, em unidades anteriores, que o preço de mer- cado é determinado pela intersecção das curvas de oferta e de demanda da indústria, porém, como a empresa competitiva é tomadora de preços, tem que se subordinar ao preço determi- nado pelo mercado (para a firma, o preço torna-se uma vari- ável externa, já que não é determinado por ela). A esse preço poderá vender a quantidade que decidir, fazendo com que a curva de demanda da empresa individual seja horizontal. 118 O gráfico abaixo ilustra essa situação. P PE PE P D Empresa Mercado Oferta de mercado Demanda de mercado Demanda da Empresa Diante dessas características, podemos afirmar que a concorrência perfeita é uma concepção mais teórica, porque atualmente mesmo os mercados mais concorrenciais apre- sentam uma parcela de diferenciação ou um grau de imper- feição e, portanto, não temos um exemplo que se enquadre perfeitamente nessa estrutura. Os produtos agrícolas são exemplos que se aproxi- mam desse conceito. Consideremos o espinafre, por exemplo. Temos muitos produtores e vendedores de espinafre, que é um produto homogêneo. Mas nenhum produtor se destaca e, portanto, não possui força isoladamente para interferir no preço do mercado. Trata-se de um mercado que possui livre entrada e saída (qualquer um pode produzir espinafre e não enfrentará barreiras impostas pela concorrência), tem-se mui- tos consumidores, visto que é um produto que faz parte do item “alimentação”, essencial para os indivíduos. Mesmo que essa estrutura seja apenas um modelo ideal, um referencial mais teórico, é importante conhecê-la. Troster (2005, p. 195) salienta que a concorrência perfeita é empregada em muitos estudos que procuram descrever o funcionamento da economia pelas inúmeras consequências derivadas de suas hipóteses, daí a importância de seu conhecimento. Es tr ut ur as d e M er ca do 119 5.2 Monopólio Na maioria das compras que realizamos existe mais de um vendedor “disputando” o nosso dinheiro e podemos escolher de quem comprar. Porém, existem casos em que a escolha não é possível. Se você pretende, por exemplo, man- dar uma carta por vias normais, você tem que usar o ser- viço dos Correios, não tem alternativa. Nesse caso, estamos diante de um monopólio. O monopólio é a estrutura em que existe apenas uma empresa atuando no mercado (a firma é o próprio setor), não há substitutos próximos para esse bem e existem barreiras à entrada de novas firmas no mercado. Desse modo, a oferta da empresa é a oferta de mercado, e a demanda da firma é a própria demanda do mercado (a demanda do monopolista é, portanto, decrescente – como as demandas que estudamos na unidade 02). A ausência de concorrência é que garante o monopó- lio, ou seja, ele persiste quando há barreiras à entrada que impedem que novas firmas entrem no setor. Essas barreiras podem ser: ▪ Barreiras legais: A lei limita que alguns produtos só podem ser produzidos por uma firma. ▪ Monopólios estatais (ou institucionais): Estão em setores estratégicos ou de infraestrutura Exemplo: Petrobrás. ▪ Patentes e direitos autorais: Direito único de produ- zir o bem, evitando que o outro copie a ideia durante 120 certo período. Exemplo: medicamentos (a patente é jus- tificada como meio de a indústria recuperar o capi- tal investido em anos de pesquisa até o lançamento do medicamento), direitos autorais do escritor de um livro ou de um compositor. Ao lidar com esses casos de patentes e propriedade intelectual, o governo assume o compromisso de permitir que os criadores do pro- duto desfrutem de ummonopólio e obtenham lucros extraordinários por um período de tempo. Após esse período, é concedida a permissão para que outros ven- dedores entrem no mercado e espera-se que a concor- rência entre eles abaixe os preços. ▪ Controle de recursos estratégicos: Um monopólio em um setor também pode surgir porque uma empresa já é monopolista na venda de alguma matéria-prima fundamental para o setor. Exemplo: a empresa sul afri- cana DE BEERS, nos anos 80, chegou a controlar 90% da produção mundial de diamantes, por ter comprado a maior parte das minas de diamante do mundo, e até hoje atua praticamente como monopolista. Outro exemplo é a empresa ALCOA (Aluminium Company of América), que até os anos 40 era a única vendedora de alumínio dos EUA porque possuía todos os depó- sitos de bauxita do país (um recurso necessário para a produção de alumínio). Atualmente, essa situação é a menos comum, uma vez que as economias atuais são grandes e os recursos têm muitos proprietários. Também há meios que facilitam a existência de substi- tutos próximos dos produtos, o que elimina a possibi- lidade de monopólio. ▪ Diferenças de custos, superioridade tecnológica e Es tr ut ur as d e M er ca do 121 grandes economias de escala: Em alguns mercados, devido à alta escala de produção requerida, os inves- timentos iniciais para participar do mercado são ele- vados, dificultando a entrada de concorrentes no mercado. Assim, a nova empresa não tem como ofere- cer o produto a um preço equivalente, e o resultado é um Monopólio Natural. Essa situação está associada, geralmente, a serviços de utilidade pública, como ener- gia elétrica, fornecimento de água, etc. ▪ Outros: tradição no mercado, força da marca, etc. A publicidade, a tradição da marca e outras estratégias mercadológicas referentes ao produto podem criar barreiras à entrada de possíveis rivais e aumentam o poder de mercado da empresa que atua no mercado. É muito comum nos monopólios (e até nos oligopólios) uma prática denominada Discriminação de Preços. Ela repre- senta a prática de vender os mesmos bens por preços diferen- tes. Para ser considerada discriminação de preços, é preciso que o bem tenha a mesma qualidade e o mesmo custo. Um exemplo de discriminação de preços é o cinema, pois pode-se vender duas poltronas por preços distintos, uma para estudantes (que paga menos) e outra para os não-estu- dantes. Ambos ocupam a mesma quantidade de produto (uma poltrona) e exibir o filme custa o mesmo. Por outro lado, com- prar um carro em Roraima e outro em São Paulo não represen- tam uma discriminação de preços, visto que as diferenças de preço refletem o custo adicionado do transporte. Como está sozinho no mercado, o monopolista tem papel fundamental na determinação do preço do mercado. Porém, cabe destacar que ele não pode aumentar o preço do produto da forma como bem entende, afinal, o monopolista 122 é limitado pela demanda do mercado, ou seja, seus consumi- dores sinalizam até que ponto o preço pode ser aumentado. Denominamos de poder de monopólio (ou poder de mercado) a capacidade de uma empresa de aumentar seus preços redu- zindo sua própria produção. Em alguns mercados, o poder de monopólio é maior (geralmente para produtos essenciais) do que em outros. Em comparação com a concorrência perfeita, no mono- pólio os preços são superiores, dado que a firma tem poder de monopólio sobre os preços do mercado (como está sozinho, pode cobrar um preço superior que, mesmo assim, continu- ará vendendo seus produtos), porém, por não haver concor- rência, a quantidade produzida em um mercado monopolista é menor do que a produzida por um mercado concorrencial. Desse modo, dizemos que, do ponto de vista social, a concor- rência perfeita é mais eficiente, pois coloca à disposição da sociedade mais produtos (a um preço menor). Nas últimas décadas, a execução de uma legislação rigorosa a favor da manutenção da concorrência eliminou muitos monopólios, e, os potenciais, ficaram sob o controle de órgãos reguladores dos governos. O objetivo dessa inter- venção é garantir a concorrência no mercado, beneficiando o consumidor que, além de obter mais produtos, pode esco- lher de quem comprar e a que preço. Os monopólios também enfrentam uma ameaça poderosa: a tecnologia. Veja, por exemplo, o serviço de telefonia fixa: existe um monopólio da empresa de telefonia local, não temos escolha. Na verdade, não tínhamos, pois com o avanço da tecnologia temos a possibilidade de usar o telefone por cabo (serviço já oferecido pelas empresas de televisão a cabo), acabando com o monopólio local da telefonia fixa. Alguns monopólios ainda sobreviverão, especialmente os sustentados por barrei- ras legais, mas, de um modo geral, podemos afirmar que o mundo monopolista está encolhendo. Es tr ut ur as d e M er ca do 123 Concorrência Imperfeita A maioria dos mercados não é perfeitamente competi- tivo, nem perfeitamente monopolista. Esses mercados ficam em algum lugar entre esses dois extremos. Para as estruturas de mercado que abrigam essas situações, denominamos de concorrência imperfeita. Segundo Hall e Lieberman (2003, p. 327) a concorrência imperfeita se refere às estruturas de mercado nas quais exis- tem mais de um vendedor, mas poucos para criar um mercado perfeitamente competitivo. Geralmente esses mercados violam outras condições da concorrência perfeita como a hipótese de produto homogêneo ou de livre entrada e saída de firmas. Estudaremos dois tipos de concorrência imperfeita: a concorrência monopolística e o oligopólio. Concorrência Monopolística Trata-se de uma estrutura de mercado com as seguin- tes características: ▪ Existem muitas firmas atuando no mercado. ▪ Cada firma produz um produto diferenciado, mas com substitutos próximos. Assim, a diferenciação pode ser real e informacional: a real refere-se à diferença física ou de localização entre o produto das firmas que atuam no mercado (são diferenças objetivas, como desempenho, tamanho, frequência de reparo, longe- vidade do produto, etc.). A diferenciação informacio- nal está relacionada à reputação ou imagem da firma pelo consumidor, estando, portanto, fortemente ligada 124 às estratégias de promoção, publicidade, divulgação e posicionamento da marca (são fatores que afetam a preferência do consumidor). ▪ Não há barreiras à entrada de novas firmas (livre entrada e saída). ▪ Cada empresa tem um pequeno poder sobre os preços, dado que os produtos são diferenciados, e o consumi- dor tem opções de escolha, de acordo com suas pre- ferências. Assim, uma empresa pode cobrar um preço diferente em relação aos seus concorrentes, já que exis- tem consumidores que aceitarão pagar mais caro pela identificação com a marca ou pela diferenciação que observa no produto. Porém, esse poder sobre o preço é limitado, já que o produto apresenta muitos substitutos (até mesmo os clientes mais fiéis desaparecem quando a diferença de preços é excessiva). Exemplos de concorrência monopolística podem ser dados pelo setor de serviços, como salões de beleza, acade- mias de ginástica, bares, etc. No curto prazo, como produz um produto diferenciado, um concorrente monopolista age como um monopolista, já que não existe um produto idêntico ao seu, elabora suas estratégias de modo individualizado (claro que não desconsidera a con- corrência). Porém, no longo prazo, tem comportamento de con- corrência perfeita, já que se depara com um mercado repleto de concorrentes que oferecem produtos similares. Veja, por exemplo, o McDonald’s: os seus lanches são diferenciados de tal modo que, no curto prazo, toma suas decisões de preçoe de divulgação do produto de forma indi- vidual. Mas, no longo prazo, sabe que pertence ao mercado Es tr ut ur as d e M er ca do 125 de lanches e a concorrência é elevada (qualquer um pode abrir uma lanchonete, é um mercado sem barreiras), portanto as decisões se aproximam da concorrência perfeita. Oligopólio O oligopólio é a estrutura de mercado que prevalece nas economias do mundo ocidental. Essa estrutura apresenta as seguintes características: ▪ Poucas empresas são responsáveis pela maior parte ou a totalidade da produção do mercado. ▪ Se levarmos em conta o posicionamento das empresas temos a seguinte classificação: ▪ Concentrado: há um pequeno número de firmas no setor. Exemplo: indústria automobilística, indústria de cimento, etc. ▪ Competitivo: existem várias empresas no mercado, porém um pequeno número de empresas domina o setor. Exemplo: setor de laticínios (praticamente dominado pela Nestlé e Parmalat), setor de produtos de higiene e limpeza (praticamente dominado pela Gessy Lever e Procter & Gamble). ▪ Há barreiras à entrada de novas firmas. ▪ Os produtos podem ser homogêneos ou diferenciados. ▪ Oligopólio com produtos homogêneos (oligopólio puro): cimento, alumínio, etc. ▪ Oligopólio com produtos diferenciados: automóveis, eletrodomésticos, etc. ▪ As firmas são interdependentes, ou seja, a ação de uma firma provoca uma reação das concorrentes. As empre- sas possuem controle sobre os preços, mas devem levar 126 em conta as prováveis reações de seus rivais antes de tomar decisões. Essa interdependência faz com que as empresas desenvolvam ações estratégicas para con- quistar mercado. Assim, cada mercado passa a ter uma forma de atuação diferente, o que dificulta a elabo- ração de um modelo único para explicar o funciona- mento dos oligopólios. No oligopólio, podemos encontrar duas formas de atu- ação das empresas: a. As empresas concorrem entre si, via diferenciação do produto, guerra de preços ou de promoções b. As empresas formam conluios, cartéis. Segundo Vasconcellos (2002, p. 171) um cartel é “uma organiza- ção (formal ou informal) de produtores dentro de um setor, que determina a política para todas as empre- sas, fixando preços e/ou cotas do mercado entre as empresas”. Um cartel pode ser: perfeito, quando todas as empresas têm a mesma participação, ou imperfeito, quando existem empresas líderes (têm maior tamanho ou custos menores), que fixam os preços ou definem a maior cota. O cartel mais conhecido em nível interna- cional é a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo). Os países integrantes reúnem-se regu- larmente para definir a quantidade que será produ- zida e vendida, afetando na determinação do preço do produto. Para evitar que se formem mercados muito concen- trados e até mesmo monopólios naturais, os governos bus- cam medidas para a organização de um sistema de defesa Es tr ut ur as d e M er ca do 127 da concorrência. No Brasil, quem trata desses assuntos é o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), que é responsável pela “prevenção e repressão às infrações sobre a ordem econômica orientada pelos princípios constitucio- nais de liberdade de iniciativa, livre concorrência, defesa dos consumidores e repressão ao abuso do poder econômico” (MOCHÒN, 2006, p. 139). Como exemplo, temos a fusão das empresas Brahma e Antarctica, cujo processo foi analisado pelo CADE, determi- nando que a nova empresa (Ambev) deveria vender a marca Bavária para que a fusão fosse autorizada. Teoria dos Jogos Nas outras estruturas de mercado, as firmas agem de forma independente, não se preocupam com as reações das concorrentes. Mas no oligopólio é diferente. A ideia de que as firmas agem de forma interdepen- dente é o grande desafio no estudo dos oligopólios, visto que não existe uma teoria única para explicar a determinação do equilíbrio nessa estrutura de mercado. Para entender um pouco sobre a interdependência estratégica, utilizaremos a abordagem da Teoria dos Jogos. A Teoria dos Jogos é o estudo das decisões em situação interativa, ou seja, é uma estrutura usada para analisar oli- gopólios ou outra situação em que o comportamento de uma pessoa afeta as outras. Não é uma abordagem usada ape- nas em Economia, pois é muito utilizada em Ciência Política, estratégia militar, Sociologia, entre outras áreas. 128 Conceitos Básicos Antes de entendermos como funciona a Teoria dos Jogos, é importante conhecermos alguns conceitos básicos. Segundo Gremaud e Braga (2005, p. 247) um jogo é caracterizado pelo conjunto de regras e pelo conjunto de resultados. Um jogo é uma situação em que os participantes (jogadores) tomam decisões estratégicas e geralmente é repre- sentado através de uma matriz de resultados (ou matriz de pay-offs), a qual mostra os lucros e as perdas para cada joga- dor, originados de cada uma de suas escolhas e de cada esco- lha de seus rivais. Basicamente existem dois tipos de jogos: ▪ Um jogo cooperativo ocorre quando seus participantes podem negociar contratos vinculados entre si, permi- tindo que planejem estratégias em conjunto. ▪ Já um jogo não-cooperativo ocorre quando não é possí- vel a negociação de tais contratos entre os participantes. Os jogadores são agentes econômicos que tomam deci- sões. Podem ser: consumidores buscando maximizar a sua satisfação; firmas buscando maximizar os seus lucros ou aumentar a fatia de mercado; governo analisando formas de implementar sua política econômica; bancos analisando o pro- cesso de concessão de empréstimos e captação de recursos; investidores analisando a viabilidade de projetos, entre outros. Outro conceito relevante é o de Estratégia, que repre- senta o conjunto de ações a ser executado ao longo do jogo: as alternativas possíveis. Essas alternativas podem ser simples (resumindo-se em apenas uma ação) ou complexas (quando consideramos alternativas do tipo: se o outro jogador fizer isso, eu faço aquilo - são ações inter-relacionadas). Es tr ut ur as d e M er ca do 129 Dilema dos Prisioneiros É o exemplo clássico da teoria dos jogos, é a maneira mais fácil de entender como a Teoria dos Jogos funciona. Para ilustrar o problema, temos: dois parceiros foram acusados de um crime (assassinato). Agora eles estão em celas separadas e não podem se comunicar. A polícia tem provas apenas para condená-los por roubo, desse modo, a evidência de assassinato não pode ser usada no tribunal, a não ser que consigam uma confissão. Cada preso é abordado pela polícia, de forma isolada, na tentativa de obter essa confissão. Se nenhum confessar o assassinato, os presos serão condenados apenas por roubo, pegando uma pena de 5 anos. Se apenas um dos criminosos admitir o crime de assas- sinato, o que confessou é beneficiado pela “delação premiada” e pega apenas 3 anos, enquanto o seu parceiro que não con- fessou pega 20 anos de prisão. Porém, se os dois confessa- rem, não haverá beneficiamento e ambos serão condenados por assassinato, pegando, cada um, 10 anos de prisão. O que você acha que acontecerá? Cada prisioneiro é um jogador e a matriz de pay-offs para esse jogo está ilustrada a seguir: Ações do preso A Não confessa Não confessa Confessa Confessa Preso A pega 10 anos Preso A pega 20 anos Preso B pega 3 anos Preso B pega 5 anos Preso B pega 20 anos Preso B pega10 anos Preso A pega 5 anos Preso A pega 3 anos Ações do preso B 130 Colocando apenas os resultados, temos: Preso A Preso B Confessa Confessa Não Confessa Não Confessa –3, –20 –10, –10 –5, –5 –20, –3 Vamos examinar ojogo: Se pudessem fazer um acordo, nenhum confessaria o crime e pegariam apenas 5 anos de prisão. Mas, como os presos estão isolados e não têm certeza das ações de seu companheiro (e nem confiam nelas), terão que analisar a interdependência das suas ações. Antes de tomar suas decisões, cada um se perguntará “qual é a melhor estratégia se o meu parceiro confessar?”. A primeira linha da matriz nos guia no raciocínio: se o com- panheiro confessar, eu posso ficar quieto e pegar 20 anos de prisão ou confessar o crime e pagar 10 anos. A melhor esco- lha será confessar. Depois fará o mesmo para o caso: “e se meu companheiro não confessar o crime, o que eu faço?”. A segunda linha da matriz nos ajuda a tomar a decisão: se ele ficar quieto eu posso fazer a mesma coisa e pegar 5 anos ou posso confessar e me beneficiar, pegando apenas 3 anos. O melhor a fazer é CONFESSAR. Como o outro prisioneiro terá o mesmo raciocínio, o resultado do jogo será: AMBOS CONFESSAM e pegam 10 anos de prisão cada um. A combinação de estratégias escolhidas nos leva ao resultado do jogo. Esse resultado é chamado de Equilíbrio de Nash, que é um equilíbrio não-cooperativo, ou seja, cada jogador toma suas decisões visando obter o maior ganho pos- sível em função da atuação dos seus concorrentes. No equilíbrio de Nash, podemos considerar os seguin- tes comportamentos dos jogadores: Es tr ut ur as d e M er ca do 131 ▪ Eu estou fazendo o melhor que posso em função do que o meu concorrente está fazendo; ▪ O meu concorrente está fazendo o melhor que pode em função do que eu estou fazendo. Reparem, ainda, que, neste caso, para cada indagação o melhor resultado é confessar, ou seja, independente da ação do outro jogador, cada um tem uma estratégia melhor. Nesse jogo, portanto, a estratégia “confessar” é deno- minada de Estratégia Dominante. O prisioneiro A passará menos tempo na cadeia se confessar, independentemente se o B confessar ou permanecer em silêncio. O mesmo acontece para o prisioneiro B. Estratégia Dominante: estratégia melhor para um jogador quaisquer que sejam as estratégias escolhidas pelos outros jogadores. O Dilema dos Prisioneiros e os Oligopólios As empresas oligopolistas agem da mesma forma que os prisioneiros, analisam o comportamento de seus concor- rentes e buscam a melhor alternativa para suas ações. Desse modo, podemos criar jogos a partir de situa- ções, como: decisões de produção, decisões políticas, guerra de preços, lançamento de produtos, decisões de promoção e publicidade, divulgação em mídias distintas (por exemplo, fazer ou não uma propaganda na TV), entre outros. Você não quer tentar uma situação que pode ser anali- sada através de um jogo corporativo? Tente e envie sua suges- tão para o professor pelo Fórum. 132 Algumas Estruturas Particulares Até agora analisamos as estruturas de mercado pelo lado da oferta, ou seja, caracterizando o número de empresas que atuam no mercado. Porém, também é possível observar características particulares pelo lado da demanda. Quando em um mercado existe apenas um compra- dor (um demandante) para um produto fornecido por várias empresas, temos um monopsônio. Essa situação pode ocor- rer no mercado de trabalho quando uma empresa se instala em uma cidade do interior. Por ser única, torna-se exclusiva demandante da mão de obra local. Já quando um número pequeno de demandantes deve absorver os produtos fornecidos por muitas empresas, esta- mos diante de um oligopólio de demanda, ou um oligopsônio. Um exemplo são as empresas fabricantes de leite pasteuri- zado, pois são poucas empresas que operam no mercado, com- prando matéria-prima (o leite) de muitos pequenos produtores. Resumo das Principais Estruturas de Mercado Os autores Passos e Nogami (2003, p. 355) apresentam um quadro que resume as quatro principais estruturas de mercado abordadas nesta unidade. Es tr ut ur as d e M er ca do 133 Estrutura Números de empresas Diferenciação do produto Condições de entrada e saída Influência sobre o preço Exemplos Concorrência Perfeita Muitas Produto Homogêneo Fácil Nenhuma Alguns produtos agrícolas Monopólio Uma Produto único sem substituto próximo Difícil Forte Exploração de petróleo Concorrência Monop- olística Muitas Produto Diferenciado Fácil Leve Restaurantes, confecções, etc. Oligopólio Poucas Produto ho- mogêneo ou diferenciado Difícil Consider´-avel Alumínio, automóveis, eletrodo- mésticos Nas cinco primeiras unidades nos concentramos em abordar assuntos ligados à Microeconomia, destacando fa- tores que afetam as decisões dos agentes econômicos, estu- dando isoladamente consumidores e produtores. Porém, sa- bemos que a Economia representa a ação conjunta de todos os agentes, e o estudo da atividade econômica global compete à Macroeconomia. A partir da próxima unidade, estudaremos as variá- veis agregadas, como: renda, consumo, poupança, inflação, emprego, juros e câmbio, enfim, abordaremos as questões mais relevantes da atualidade. Está pronto para enfrentar este desafio? Nos encontra- mos lá!!! REfERêNCIA BOYES, W.; MELVIN, M. Introdução à Economia. São Paulo: Ática, 2006. GREMAUD, A. P.; BRAGA, M. B. Teria dos Jogos: uma 134 introdução. In: PINHO, D.; VASCONCELLOS, M. A. S. (org). Manual de Economia. Equipe de Professores da USP. 5.ed. São Paulo: Saraiva, 2005. HALL, R. E.; LIEBERMAN, M. Microeconomia: Princípios e Aplicações. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003. MANKIW, G. N. Introdução à Economia: princípios de micro e macroeconomia. 2.ed. Rio de Janeiro: Campus, 2001. MOCHÓN, F. Economia: Teoria e Política. 5.ed. São Paulo: Mc Graw Hill, 2006. PASSOS, C. R. M.; NOGAMI, O. Princípios de Economia. 4.ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003. TROSTER, R. L. Estruturas de Mercado. In: PINHO, D.; VASCONCELLOS, M. A. S. (org). Manual de Economia. Equipe de Professores da USP. 5.ed. São Paulo: Saraiva, 2005. VASCONCELLOS, M. A. S. Economia: Micro e Macro. 3.ed. São Paulo: Saraiva, 2002
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