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p.390 • R Enferm UERJ 2005; 13:390-5. Reforma psiquiátrica A CONSTRUÇÃO DO CUIDADO À FAMÍLIA E A CONSOLIDAÇÃO DA REFORMA PSIQUIÁTRICA BUILDING THE FAMILY CARE AND CONSOLIDATING THE PSYCHIATRIC REFORM Rosâne Mello* RESUMO: RESUMO: RESUMO: RESUMO: RESUMO: Este artigo tem como objetivo discutir o cuidado à família de uma pessoa com transtornos mentais, dentro do contexto da Reforma Psiquiátrica. Para tal intento, utilizou-se como método de estudo a pesquisa bibliográfica. A partir da discussão, afirma-se que a família precisa sentir-se preparada para receber seu familiar em casa, assim como sentir-se segura quanto à disponibilidade do serviço em oferecer escuta e auxílio na resolução de problemas que venham a ocorrer. O fenômeno em questão é extremamente complexo, cabendo aos profissionais de saúde mental incluir a família no cuidado à pessoa com transtornos mentais, principalmente através de esclarecimento acerca do familiar adoecido, do seu sofrimento e dos tratamentos possíveis. Nesse sentido, o profissional estaria ajudando os famili- ares a aliviar o peso dos encargos, a diminuir os fatores estressantes e a melhorar a qualidade de vida de todas as pessoas envolvidas. Palavras-chave: Palavras-chave: Palavras-chave: Palavras-chave: Palavras-chave: Reforma psiquiátrica; saúde da família; saúde mental; sobrecarga familiar. ABSTRACTABSTRACTABSTRACTABSTRACTABSTRACT: : : : : This study discusses the care given to the family of patients with mental disease within the context of the Psychiatric Reform. The bibliographic research is used as a method to achieve such aim. It is stated that the family must be prepared to receive the patient at home, as well as to feel secure about the availability of a service ready to listen and to help solving possible problems. Mental diseases are very complex and mental health professionals must include the family in the care, giving explanations about the patient’s disease and possible treatments. Thus, professionals would contribute to reduce family overload and to diminish stressing factors, providing a better quality of life to all the involved people. Keywords: Keywords: Keywords: Keywords: Keywords: Psychiatric reform; family health; mental disease; family overload. INTRODUÇÃO A partir de abril de 2001, a assistência em saúde mental teve redirecionados, de forma jurí- dica, os paradigmas de atenção em saúde mental. Esse redirecionamento teve início com o Movimen- to dos Trabalhadores de Saúde Mental (MTSM), no ano de 1978, com a crise na Divisão Nacional de Saúde Mental (DINSAM). A crise foi deflagrada a partir da denúncia, por três médicos bolsistas, de irregularidades no Centro Psiquiátrico Pedro II, no Rio de Janeiro1. A partir daí, seguiram- se vários movimentos sociais que ratificaram a ne- cessidade de mudanças no cuidado a pessoa com transtornos mentais, com destaque para a 1ª, 2ª e 3ª Conferência Nacional de Saúde Mental. A partir desses movimentos, os paradigmas da saúde mental foram se modificando, ganhando matizes mais humanísticos e foram propostos no- vos modelos de assistência, com o objetivo de desinstitucionalização dos clientes. Vale destacar que a política de saúde mental, no Brasil, vem sendo influenciada principalmente pelo modelo basagliano de assistência em saúde mental. Nesse sentido, Rotelli, citado por Hirdes2, considera que a desinstitucionalização é um tra- balho de transformação e se refere à construção de uma política de saúde mental baseada nos seguintes pressupostos: - Ruptura com o paradigma clínico biomédico, de forma que o cuidado seja descompartimentalizado e que seu objetivo seja deslocado da cura para a invenção de um novo conceito de saúde; R Enferm UERJ 2005; 13:390-5. • p.391 Mello R - A substituição do manicômio por estruturas não asilares, de forma tal que os serviços se tornem dinâmicos e estejam em constante transformação; - Maior investimento em pessoas e menor investi- mento em aparatos, de forma que as competênci- as profissionais sejam valorizadas; - O cuidado como elemento transformador dos modos de viver e sentir o sofrimento, estimulan- do a auto-ajuda e a autonomia dos sujeitos; - Mobilização de profissionais e clientes na gera- ção de comunicação e solidariedade, objetivando a mudança das estruturas e dos sujeitos, de forma que as relações de poder entre instituições e su- jeitos sejam alteradas; e - Valorização do afeto nas relações terapêuticas e percepção da liberdade como um instrumento terapêutico. A Reforma Psiquiátrica brasileira tenta rom- per com uma ciência que tem como elementos norteadores a objetivação do fenômeno da lou- cura e a patologização dos comportamentos hu- manos, deslocando o foco do atendimento da pa- tologia para o modo de viver e sentir o sofrimento do sujeito. As mudanças em saúde mental são comple- xas, complementares e necessitam de: [...] uma interrelação de construção de conceitos; de espaços substitutivos de sociabilidade; de possi- bilidades plurais e singulares concretas para sujeitos concretos; de direito ao trabalho, à família, aos ami- gos, ao cotidiano da vida social e coletiva; de soli- dariedade e inclusão de sujeitos em desvantagem social [...]3:8. Para que esse processo se realize como políti- ca nacional de saúde mental, foi elaborada, após anos de discussão, a Lei Nº 10.216, de 6 de abril de 20014. Essa lei dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas com transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. Prevê a inclusão da família na assistência ao portador de transtorno mental, conforme os seus artigos: Parágrafo único do Art. 2º– São direitos da pessoa com transtorno mental: II - ser tratada com humanidade e respeito e no inte- resse exclusivo de beneficiar sua saúde, visando al- cançar sua recuperação pela inserção na família, no trabalho e na comunidade; Art. 3º – É responsabilidade do Estado o desenvolvi- mento da política de saúde mental, a assistência e a promoção de ações de saúde aos portadores de trans- tornos mentais, com a devida participação da socie- dade e da família, a qual será prestada em estabele- cimento de saúde mental, assim entendidas as insti- tuições ou unidades que ofereçam assistência em saúde aos portadores de transtornos mentais. A partir do que foi apresentado, este estudo tem como objetivo discutir a importância da in- clusão da família no cuidado aos clientes com transtorno mental, tendo como referência as di- retrizes da Reforma Psiquiátrica. Para alcançar o referido objetivo, foi desen- volvida uma pesquisa do tipo bibliográfica que, segundo Gil5, constitui-se da releitura de um de- terminado tema a partir de livros e artigos cientí- ficos. Foram utilizados textos publicados por vári- os profissionais especialistas em saúde mental e família. As publicações estudadas são oriundas de dissertações de mestrado, artigos de revistas ci- entíficas, livros, assim como a legislação norteadora da atual política de saúde mental. A Família no Cuidado à Pessoa com Transtorno Mental A concepção de família e suas atribuições são apresentadas a seguir: [...] instituição indispensável para a garantia da so- brevivência e da proteção integral dos membros que a constituem [...] É neste ambiente que seus mem- bros recebem os apoios afetivos, psicológicos e sobre- tudo os materiais necessários ao seu crescimento e desenvolvimento [...] Podemos concluir que o equi- líbrio familiar é indispensável para o nascimento, cres- cimento e desenvolvimento saudável de seus mem- bros, assim, como para contribuição de uma socieda- de saudável [...]6:380 Ao longo da história da humanidade, as atri- buições da família, no que diz respeito ao cuida- do com a pessoa com transtorno mental, já tive- ram vários significados. Rosa7 indica os vários pa- péis assumidos pela família, no que diz respeito ao cuidado com o louco e a loucura, ressaltandoque, na sociedade pré-capitalista, o cuidado com o doente era de competência da família. Esse pa- pel se modifica apenas no século XVIII, com Phillippe Pinel e o nascimento da psiquiatria, e considera o isolamento do doente, inclusive de sua família, como parte do tratamento. O isola- mento justificava-se na proteção da família con- tra o processo da loucura, esta relacionada com a indisciplina e a desordem moral. Por outro lado, a família era vista como propiciadora do adoecimento, ratificando a necessidade de isola- mento da pessoa doente7,8. Corroborando esse modelo assistencial, o Estado responsabilizava-se pelos cuidados com a pessoa com transtornos mentais, impondo barrei- p.392 • R Enferm UERJ 2005; 13:390-5. Reforma psiquiátrica ras e permitindo um contato mínimo entre os fa- miliares e o familiar adoecido. A partir dessa prá- tica, os vínculos familiares foram rompidos pela hospitalização prolongada e pelo isolamento do doente. Esse isolamento do doente de seu núcleo familiar foi reforçado de forma amena pelo referencial psicanalítico que “além de ser colo- cada como um agente patológico, a família co- meça a ser culpabilizada pela esquizofrenia, so- bressaindo a figura da mãe como principal pro- motora da enfermidade”7:61. A partir da década de 1970, com a crise eco- nômica deflagrada, ocorre a reorientação das po- líticas públicas e muitas funções, anteriormente assumidas pelo Estado, são devolvidas à família. Nesse momento, a família fica duplamente sobrecarregada, pois conta de forma precária com o suporte social anteriormente suprido pelo Esta- do e enfrenta uma crise econômica. Assim, a fa- mília que precisa assumir os cuidados domésticos com o portador de transtorno mental de longa duração foi diretamente atingida.8 Em seguida a esse movimento, no final da década de 1970, na Itália, com a Lei nº 180, fir- ma-se a psiquiatria de base comunitária de Fran- co Basaglia. A tradição basagliana de atendimen- to percebe a família como: [...] no cerne das condições de reprodução social do portador de transtorno mental, à medida que é vista como um sujeito que procura reconstruir relações cotidianas, criar novos sentidos, manter e fortalecer laços de sociabilidade [...]8: 67 A política de saúde mental contemporânea brasileira baseia-se, principalmente, nos referenciais basaglianos, que indicam o retorno e a permanência da pessoa com transtorno mental no seu meio social, englobando a família, o trabalho e a comunidade. A inclusão da família transforma- se então, em condição sine qua non para a efetivação das atuais propostas da Reforma Psiquiátrica. Spaniol, Zipple e Lockwood9 asseguram que os profissionais ainda mantêm uma visão da famí- lia como um agente causador e perpetuador da doença. Esses autores afirmam ainda que as famí- lias que já possuem uma experiência maior em lidar com o transtorno mental têm mais a ofere- cer que os profissionais, pois conhecem de perto as limitações e o que pode ser feito a respeito dos sinais da doença e a maneira mais adequada de lidar com a pessoa adoecida. Nesse sentido, quando o transtorno mental é compreendido pela família e esta consegue reduzir suas expectativas em relação à pessoa adoecida, torna-se mais fácil para os familiares ter experiên- cias emocionais positivas em relação ao doente8-12. Porém, não há como negar o impacto gerado na família em razão do adoecimento psíquico. Quando a família chega ao serviço de saúde men- tal, em geral, encontra-se estressada, cansada, desesperançosa, sem entender muito bem o que realmente está acontecendo com o seu familiar. Infelizmente, até os dias de hoje, muitas vezes a família é culpabilizada pelos profissionais ou dei- xada à margem do tratamento de seu familiar, não recebendo esclarecimento acerca da doença men- tal ou mesmo dos tratamentos medicamentosos e psicoterápicos necessários9. No que diz respeito ao impacto gerado pelo convívio com o transtorno mental, Koga10 consi- dera que a família recebe quatro tipos de sobre- carga, são elas: sobrecarga financeira: a pessoa adoecida deixou de trabalhar e receber salário; um dos familiares pára de trabalhar para cuidar da pessoa doente; aumento dos gastos em decor- rência da compra de medicação, de consultas médicas, de internações ou das atitudes do do- ente; sobrecarga nas rotinas familiares: a família precisa assumir as atividades domésticas do do- ente e um ou mais membros da família ausentam- se do trabalho ou da escola para levá-lo ao médi- co; sobrecarga em forma de doença física ou emo- cional: acarretada pelo desgaste físico e emocio- nal em razão dos sintomas da doença do familiar, como, por exemplo, ficar noites sem dormir, ansi- edade, emagrecimento e; alteração nas ativida- des de lazer e nas relações sociais: aumento dos gastos familiares com o tratamento psiquiátrico; impossibilidade de a pessoa ficar só em casa, ge- rando isolamento aos familiares e a sujeição às intempéries da pessoa adoecida. Melman8 acrescenta ainda como fatores ge- radores de impacto familiar: o estresse, a vivência de instabilidade e insegurança, os conflitos fre- qüentes, a vergonha, o cansaço e a frustração. Faz-se importante complementar que, no cenário doméstico de cuidados, entre os mem- bros do núcleo familiar, as mulheres são aqueles sobre quem recai, de forma mais incidente, o en- cargo de cuidador do membro com transtorno mental grave7,11. Construindo o Apoio à Família Se a atual política de saúde mental preconiza a inclusão dos familiares dos portadores de trans- R Enferm UERJ 2005; 13:390-5. • p.393 Mello R tornos mentais graves na assistência, precisa ofe- recer subsídios para que eles consigam exercer suas funções e responsabilidades. Destarte, torna-se imprescindível que os profissionais gerem, nos co- tidianos institucionais, dispositivos terapêuticos que contemplem as demandas dos familiares. Gonçal- ves e Sena11 relatam que é comum os profissionais de saúde imporem à família a aceitação e a responsabilização pelo cuidado do doente, sem ofe- recer o suporte e as orientações necessárias. Infere-se que os dispositivos necessários de auxílio não se resumem à ajuda econômica, que ocorre através dos benefícios oferecidos pelo sis- tema previdenciário, sendo necessários também: esclarecimentos sobre a doença mental; apoio psicoterápico individual, nuclear e/ou em grupo; acolhimento efetivo e rápido nos momentos de crise; garantia de continuidade na distribuição de medicamentos; e acesso aos diferentes servi- ços de saúde mental. Existem muitas situações na convivência com a pessoa com transtorno mental grave que são particularmente difíceis para a família. Nesse sentido, Spaniol, Zipple e Lockwood9 citam como exemplos a administração de medicamentos, o comportamento estranho, anti-social ou agressi- vo, o isolamento social, a deficiência no autocuidado (higiene, aparência, entre outros) e os comportamentos autodestrutivos e suicidas. Prosseguem ressaltando que é muito difícil para as famílias encontrar a atitude mais adequada para lidar com a pessoa com o transtorno mental, de tal forma que haja o equilíbrio entre uma vida independente e as limitações causadas pela do- ença mental. O profissional precisa ver os familiares como colaboradores da prática de cuidados à pessoa com transtorno mental e com eles trabalhar como um time9. Spaniol, Zipple e Lockwood9 destacam que os profissionais que oferecem apoio aos familiares precisam ser claros quanto a suas limitações. Faz- se necessário explicar aos familiares a complexi- dade que há em lidar com as disfunções causadas pela doença mental e as limitações do que se co- nhece ainda hoje sobre o transtorno mental e seu tratamento. No que diz respeito aos cuidados com o grupo de familiares indicam ainda: - Utilização de meios educativos para a aproxi- mação, pois a família sente-se confortávelno pa- pel de aprendiz e está ansiosa para receber infor- mações; - Inclusão dos familiares no planejamento dos gru- pos de família; - Aprender a responder a sentimentos intensos dos familiares porque eles precisam de profissionais que os ouçam com compreensão e compaixão, pois suas vidas estão repletas de frustração e até mesmo de abuso dos profissionais de saúde mental; - Buscar os grupos locais de apoio à família, sendo esses espaços excelentes para os profissionais conhe- cerem os interesses e resistências dos familiares; - Reconhecer outras crenças, pois há uma gama imensa de crenças e necessidades no campo da saúde mental; - A maior função do profissional de saúde mental é mostrar à família que ela possui poder e muita coisa a oferecer. Os profissionais que oferecem suporte aos familiares de pessoas com transtorno mental pre- cisam de apoio psicoterápico9. Tal indicação ocor- re em razão desses sujeitos lidarem cotidiana- mente com tensões oriundas do processo de apoio à família. Ainda no que diz respeito ao cuidado com a família, Rosa7 aponta algumas diretrizes para a construção de novas relações entre usuários, seus familiares e profissionais de saúde mental: reor- ganização da relação de gênero, aliviando a pres- são sobre as mulheres; reorganização da distribui- ção do peso do cuidado do portador de transtor- no mental entre a família e os serviços de saúde; melhoria das condições gerais nas condições de vida das famílias e das mulheres em especial; capacitação dos trabalhadores de saúde mental e democratização dos serviços; manutenção do di- reito ao refúgio nos momentos de crise e agudização do quadro clínico pelo Estado; forta- lecimento e ampliação dos novos serviços, produ- zindo novas formas de atendimento ininterruptas, de acordo com as necessidades dos usuários e seus familiares; articulação entre as políticas sociais de forma a permitir uma atenção integral nas vá- rias dimensões da vida familiar; e propiciar maior visibilidade ao trabalho do familiar que atua como cuidador no espaço doméstico. No que diz respeito à importância do apoio aos familiares de pessoas com transtorno mental, vale ressaltar que: [...] Ajudar os familiares na interação e na gestão da vida cotidiana dos pacientes alivia o peso dos encar- gos, facilita o processo de estabelecimento de uma cooperação, diminuem os fatores estressantes ativadores de situações de crise, estimula a criação p.394 • R Enferm UERJ 2005; 13:390-5. Reforma psiquiátrica de possibilidades participativas, melhorando a quali- dade de vida de todas as pessoas envolvidas [...]8:80 Apesar de avanços significativos no campo psiquiátrico, no Brasil, existem desafios para sua consolidação, entre os quais se destaca a neces- sidade de inversão dos gastos no tratamento – reduzir despesas com internações psiquiátricas em hospitais especializados e destinar mais recursos financeiros para os centros de atenção diária, para que o ritmo de crescimento desses serviços seja acelerado. Em 2001, os investimentos do Minis- tério da Saúde na implantação de serviços de atenção diária, apesar de terem sido autorizados, foram repassados de forma muito reduzida aos municípios e estados13. Ainda nesse contexto, Mello e Furegato14 desenvolveram estudo sobre a política de saúde mental no Rio de Janeiro e, a partir de dados dis- poníveis no sistema de informação DATASUS, constataram: redução de leitos psiquiátricos; au- mento do tempo de permanência nos hospitais psiquiátricos; estabilização do número de Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) que compõem a rede assistencial; instabilidade na distribuição de medicamentos psicoativos; reduzido número de profissionais nos CAPS e, conseqüentemente, a sobrecarga dos serviços existentes, que atendem um número excessivo de clientes em condições deficitárias. Acredita-se que não basta fechar os hospi- tais psiquiátricos ou reduzir o número de leitos psiquiátricos se antes não forem modificados os significados desses aparatos manicomiais nos cernes familiar e social. Logo, seria improdutivo transformar a política de saúde mental sem ofe- recer à família condições mínimas para manter a pessoa adoecida em seu cotidiano. CONSIDERAÇÕES FINAIS Para que a Reforma Psiquiátrica ocorra de forma efetiva, a família precisa ser vista como um agente fundamental de transformações da percep- ção da loucura pela sociedade, como também ser incluída de forma responsável no processo de cui- dado à pessoa com transtornos mentais graves. Faz- se necessário reverter a idéia de que o Estado é o único responsável pelo cuidado do familiar com transtorno mental, porém, em contrapartida, é preciso alertar que [...] defender o cuidado unicamente na família en- volve o risco de reforço às políticas regressivas nos moldes sugeridos pelo ideário neoliberal, que retira o Estado da assistência ao portador de transtorno men- tal [...] que, ao se orientar pela busca de racionaliza- ção econômica e administrativa, desospitalizou e pro- vocou desassistência.[...] 7:346 Então, faz-se evidente a necessidade da in- clusão dos familiares no movimento da Reforma Psiquiátrica, não apenas como objeto de pressão social e política, mas como coadjuvantes no tra- tamento, beneficiando não só a pessoa com trans- torno mental, mas a família como um todo. Os familiares precisam ser vistos como um grupo que necessita de apoio e orientação para lidar com o impacto gerado pelo sofrimento psíquico de lon- ga duração em seu núcleo familiar, que inegavel- mente acarreta alteração nas atividades cotidia- nas e no orçamento familiar. Fala-se continuamente na mudança da po- lítica de saúde mental, porém o que se tem obser- vado é o fechamento dos hospitais conveniados que oferecem uma assistência de má qualidade sem que recursos financeiros sejam aplicados na efetivação dos CAPS já existentes e na amplia- ção do número desses serviços. Ratifica-se aqui que cabe aos profissionais de saúde mental auxiliar os familiares a encon- trar soluções adequadas, de forma tal que ocorra o incremento da qualidade de vida da pessoa com transtorno mental, assim como do grupo familiar. A partir do que foi discutido, acredita-se que a família precisa sentir-se preparada para receber seu familiar em casa, assim como sentir-se segura quanto à disponibilidade do serviço em oferecer escuta e auxílio na resolução de problemas que venham a ocorrer. Sem esses recursos, a família, provavelmente, continuará sentindo-se desampa- rada e desassistida, não tendo condições de cui- dar do indivíduo com transtorno mental grave no âmbito familiar e tornando insustentável a per- manência da pessoa adoecida em casa. REFERÊNCIAS 1. Amarante P, organizador. Loucos pela vida: a trajetória da Reforma Psiquiátrica no Brasil. 2a ed. Rio de Janeiro: Fiocruz; 1998. 2. Hirdes A. Reabilitação psicossocial: dimensões teórico- práticas do processo. Erechim (RS): EDIFAPES; 2001. 3. Guimarães J, Medeiros SM, Saeki T, Almeida MCP. Desinstitucionalização em saúde mental: considerações sobre o paradigma emergente. Rev Saúde em Debate 2001; 25: 5-11. 4. Ministério da Saúde (Br). Lei Nº 10.216, de 6 de abril de 2001. Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas por- R Enferm UERJ 2005; 13:390-5. • p.395 Mello R tadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2001 5. Gil AC. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5a ed. São Paulo: Atlas; 1999 6. Oliveira MMB, Jorge MSB. Doente mental e sua relação com a família. In: Labate RC, organizadora. Caminhando para a assistência integral. Anais do V Encontro de Pesqui- sadores em Saúde Mental e IV Encontro de Especialistas em Enfermagem Psiquiátrica; 1999 maio. 27-30; Ribeirão Preto, Brasil. Ribeirão Preto (SP): Scala, 1999. p. 379-88. 7. Rosa L. Transtorno mental e o cuidado na família.São Paulo: Cortez, 2003. 8. Melman J. Família e doença mental: repensando a rela- ção entre profissionais de saúde e familiares. São Paulo: Escrituras, 2001. 9. Spaniol L, Zipple AM, Lockwood D. The role of the family in psychiatric rehabilitation. 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LA CONSTRUCCIÓN DEL CUIDADO A LA FAMILIA Y LA CONSOLIDACIÓN DE LA REFORMA SIQUIÁTRICA RESUMEN: Este artículo tiene como objetivo discutir el cuidado a la familia de una Este artículo tiene como objetivo discutir el cuidado a la familia de una Este artículo tiene como objetivo discutir el cuidado a la familia de una Este artículo tiene como objetivo discutir el cuidado a la familia de una Este artículo tiene como objetivo discutir el cuidado a la familia de una persona con transtorpersona con transtorpersona con transtorpersona con transtorpersona con transtornos mentales, dentro del contexto de la Reforma Siquiátrica. Con ese motivo, se utilizó como método de estudio la investigación bibliográfica. A partir de la discusión, se afirma que la familia necesita sentirse preparada para recibir su familiar en casa, así como sentir plena seguridad frente al servicio en ofrecer escucha y auxilio en la resolución de problemas que vengan a ocurrir. El fenómeno en cuestión es extremamente complejo, cabiendo a los profesionales de salud mental incluir a la familia en el cuidado a la persona con dichos transtornos, principalmente a través de la información acerca del enfermo, de su sufrimiento y de los tratamientos posibles. En eso sentido, el profesional estaría ayudando a los familiares a aliviar el peso de las obligaciones, a disminuir los factores estresantes y a mejorar la calidad de vida de todos. Palabras Clave: Palabras Clave: Palabras Clave: Palabras Clave: Palabras Clave: Salud de la familia, salud mental, sobrecarga familar, reforma siquiátrica. Recebido em: 17.01.2005 Aprovado em: 10.10.2005 NotasNotasNotasNotasNotas *Doutoranda da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto / Universidade de São Paulo, Departamento de Enfermagem Psiquiátrica e Ciências Humanas Endereço: Estrada da Bica, 327/106 – Ilha do Governador / Rio de Janeiro / RJ CEP:21931-050- Endereço eletrônico: zaneflor@terra.com.br
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