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UNOCHAPECÓ ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS E JURÍDICAS CURSO: DIREITO COMPONENTE CURRICULAR: SOCIOLOGIA DO DIREITO PROFESSOR: CESAR DA SILVA CAMARGO ACADÊMICO: RICARDO METZ WEITZ CIDADE DE DEUS Resenha crítica REFERÊNCIAS: MEIRELLES, Fernando, LUND, Kátia, Cidade de Deus. Rio de Janeiro, 2002. O filme Cidade de Deus, dirigido por Fernando Meirelles e Kátia Lund, foi lançado em 2002 e impressionou a crítica e a sociedade desnudando de forma singular o modo de vida daqueles que estão à margem da sociedade moderna. O filme é narrado por um dos seus personagens, o menino Buscapé, interpretado pelo ator Alexandre Rodrigues. Menino humilde que tem o sonho de ser fotógrafo após ver uma máquina fotográfica, na mão de um policial, em uma cena de crime na Cidade de Deus. Na favela primeiramente somos apresentados ao Trio Ternura, os quais são três jovens pobres que realizam assaltos para sobreviver. Conhecemos também o personagem principal, Dadinho (SILVA, Douglas), o qual é desde pequeno ladeado pela violência. Vendo os atos de violência do Trio Ternura como heroicos, Dadinho sonha em entrar para o Trio junto com seu amigo Bené (GOMES, Michel) e, dessa forma, ser um bandido temível e respeitado. Dadinho ainda criança sugere aos amigos assaltar um motel. O Trio realiza o assalto e impede Dadinho de ajudar, o deixando na entrada somente para vigiar. Dadinho acaba ficando desapontado e para se vingar entra no hotel e promove uma chacina, nutrindo assim sua vontade de matar. Nessa cena vemos que o personagem principal apresenta traços de psicopatia e falta de remorso, pois realiza os assassinatos sorrindo e demostrando intenso prazer. Com a chacina a polícia entra na favela e acaba desintegrando o Trio. Um dos membros é morto pela polícia, outro decide mudar de vida e entrar para a igreja e o último é morto pelo próprio Dadinho ao pegar o dinheiro deste. Os personagens crescem e a favela também. Dadinho (agora interpretado por Leandro Firmino da Hora) sonha em dominar a favela. Vendo que o tráfico dava mais dinheiro ele convence seu amigo Bené (HAAGENSEN, Phillipe) a entrar no mundo das drogas e, dessa forma, os dois se tornam os traficantes mais bem-sucedidos e procurados do Rio de Janeiro. Evidencia-se as profundas alteridades entre os dois personagens. Dadinho é desiquilibrado, ambicioso, impulsivo e extremamente violento. Bené é caridoso e tenta por várias vezes conscientizar o amigo a ser menos violento e ambicioso, demonstrando assim que, em outras situações, poderia ter tido um futuro bem diferente. Quando Dadinho vê seu melhor amigo morrer em uma confusão no seu baile de despedida, visto que Bené iria sair da favela para morar em um sítio, se desvaira totalmente e decide tomar o território do outro grande traficante da Cidade de Deus, o Cenoura (NACHTERGAELE, Matheus). Nasce assim uma grande guerra entre facções criminosas e rivais, resultando em centenas de mortes, inclusive de crianças que são recrutadas por ambos os lados. Após ambos os grupos estarem maioritariamente dizimados a polícia intervém e captura os dois líderes do tráfico. Cenoura é preso e Zé Pequeno é solto após pagar propina para os policiais. Porém, ao ser liberado, Zé pequeno é morto por um grupo de crianças as quais o mesmo as havia armado. Buscapé, o narrador, durante todo o tempo morou na favela e assim presenciou toda a guerra. Para tentar realizar seu sonho de ser fotógrafo arrumou emprego em um veículo de comunicação, entregando jornais. Por ser morador da comunidade e conhecer os traficantes conseguia boas fotos para o jornal, ganhando assim um emprego de fotógrafo. Outro personagem marcante na trama é Mané Galinha, interpretado por Manoel Machado Rocha. Mané era uma pessoa íntegra e honesta que trabalhava como cobrador de ônibus. No entanto Zé Pequeno cismou com sua esposa e, após ser desprezado por ela, a estuprou e matou. Assim, o homem honesto e trabalhador, se alia ao crime objetivando se vingar do que foi feito à sua família. Logo se torna um assassino de sangue frio e é morto na favela pelo filho de um guarda que ele mesmo havia assassinado. O filme, baseado em fatos reais, retrata de forma constrangedora a realidade daqueles que estão longe do cartão postal da Cidade Maravilhosa. Pode ser considerado uma obra Realista, a qual mostra como é difícil a vida de quem nasce condenado a viver em um ambiente violento e desumano. Retrata o abandono do Estado, o descaso do poder público e a corrupção das autoridades. O tráfico é, muitas vezes, o único meio de matar a fome. Engana-se quem acredita cegamente no poder da meritocracia no Brasil. Meritocracia funciona aonde se tem igualdade de oportunidades, não é o caso do nosso país. Mesmo se pegarmos o personagem Buscapé, o qual conseguiu um bom emprego de forma honesta, veremos quanto sofrimento e quanta violência este presenciou ao longo da sua trajetória. A presente obra cinematográfica foi lançada em 2002 inspirada em personagens reais que viveram na cidade na década de 80. Todavia podemos afirmar que o cenário não é estranho a qualquer brasileiro minimamente antenado à situação social do país. Vemos cenas parecidas todos os dias nos noticiários, seja de corrupção policial, guerras de gangues e até mesmo chacinas. O poder público frequentemente se cala. Quando toma alguma providência é no sentido de aumentar a repressão, não de efetuar políticas públicas para melhor distribuição de renda e geração de oportunidades à estes jovens. Quando Durkheim nos mostra sua teoria em relação ao crime, a vemos encaixar perfeitamente na realidade brasileira, principalmente aquela mostrada no filme. Para ele, o crime em si não é um fato anormal e patológico. Em toda sociedade podemos verificar atitudes criminosas, cada qual com um tipo de crime, diversificado pelas diferentes culturas. Todavia, segundo o sociólogo, quando o em determinada sociedade a média de crimes se altera excessivamente, tanto no âmbito temporal quanto espacial, podemos nesse caso conceber o crime como patologia. É o que acontece no Brasil. Espacialmente existem regiões em que a quantidade de delitos difere muito da média nacional. Normalmente são regiões marcadas pela pobreza e pelo Estado ausente. Essa realidade de forma alguma pode ser tratada como natural e pertencente a fisiologia do corpo social que Durkheim cria para explicar a sociedade. Pelo contrário, é uma patologia de tal corpo e, como tal, necessita tratamento. Vivemos em uma polarização de opiniões que nos paralisa, quando não nos retarda. Existe um lado acreditando que o bandido é só uma vítima da sociedade e outro gritando fervorosamente que “bandido bom é bandido morto”. Esse antagonismo exagerado e intolerante só acaba premiando a sociedade com mais violência. Evidentemente que quem transpassa a lei deve ser punido, porém também é preciso pensar em políticas públicas para evitar que a violência aconteça. Enquanto não pensarmos em promover um futuro justo a todos, continuaremos a estampar nossos jornais com violência dia após dia.
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