Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE FACULDADE DE ODONTOLOGIA RODRIGO FONSECA MARQUES REVITALIZAÇÃO PULPAR: UMA ALTERNATIVA DE TERAPÊUTICA ENDODÔNTICA PARA DENTES COM RIZOGÊNESE INCOMPLETA E NECROSE PULPAR – REVISÃO DE LITERATURA. BELÉM - PA 2018 RODRIGO FONSECA MARQUES REVITALIZAÇÃO PULPAR: UMA ALTERNATIVA DE TERAPÊUTICA ENDODÔNTICA PARA DENTES COM RIZOGÊNESE INCOMPLETA E NECROSE PULPAR – REVISÃO DE LITERATURA. Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado à Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Pará – UFPA, como requisito obrigatório para obtenção do grau Cirurgião-Dentista. Área de Concentração: Endodontia Orientador: Prof Dr Antônio Guilherme Maneschy Faria BELÉM 2018 RODRIGO FONSECA MARQUES REVITALIZAÇÃO PULPAR: UMA ALTERNATIVA DE TERAPÊUTICA ENDODÔNTICA PARA DENTES COM RIZOGÊNESE INCOMPLETA E NECROSE PULPAR – REVISÃO DE LITERATURA. Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado à Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Pará – UFPA, como requisito obrigatório para obtenção do grau Cirurgião-Dentista. Banca Examinadora Prof Dr Antônio Guilherme Maneschy Farias Orientador – UFPA Prof Dr Oscar Faciola Pessoa Examinador – UFPA Profª Dra Cláudia Pires Rothbarth Examinadora – UFPA Apresentado em: ____/____/______ Conceito: __________________ BELÉM 2018 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho à meus pais, Orlando Peixoto Marques e Norma Terezinha Fonseca Marques, por todo sacrifício, preocupação e apoio em prol da minha educação e bem estar geral. Por sempre estarem ao meu lado independente de qualquer circunstância, proporcionando amor, suporte e ensinamentos fundamentais que me fizeram a pessoa que sou hoje.... muito obrigado por tudo! Amo vocês!! AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, pelo dom da vida, pelo seu infinito amor e por cuidar de mim em todos os momentos. Mais uma vez aos meus pais por tudo. Aos meus filhos, Gabriel Lira Marques e Rafael Lira Marques, por serem minha maior inspiração, de onde provém toda a minha força e confiança. A minha esposa Danielly Brenda, pelo companheirismo, amor e amizade destinados a nossa família. Ao meu amigo e dupla, Marcelo Costa de Sousa, pela sua amizade e parceria sempre. Ao meu Orientador, Prof Dr Maneschy, por todos os ensinamentos e dicas, e por ter aceitado essa orientação. Aos membros da banca, por terem aceitado fazer parte da minha defesa de TCC. A Universidade Federal do Pará, por ter me proporcionado um ensino gratuito e de qualidade. A todas as pessoas que possam ter contribuído direta ou indiretamente para que esse momento chegasse. “Nas grandes batalhas da vida, o primeiro passo para a vitória é o desejo de vencer”. (Mahatma Gandhi) RESUMO A revitalização pulpar pode ser definida como a diferenciação de células progenitoras da porção apical de dentes jovens que passam a colonizar o canal radicular, resultando na deposição de tecido mineralizado nas paredes dentinárias, tendo como objetivo o reestabelecimento da vitalidade pulpar e a continuidade no desenvolvimento radicular. Este procedimento, atualmente, é indicado para dentes jovens com rizogênese incompleta como uma alternativa para o tratamento tradicional de apicificação. A apicificação consiste na inserção de pasta de hidróxido de cálcio a longo prazo no interior do canal radicular visando induzir a formação de uma barreira calcificada. Apesar de ser a terapia mais classicamente empregada, a permanência desta medicação por longos períodos pode levar a fragilidade das paredes radiculares devido às propriedades higroscópicas e proteolíticas do hidróxido de cálcio. Diante disso, há uma constante busca por novas alternativas de tratamento que possibilitem o completo desenvolvimento das raízes sem que as mesmas fiquem fragilizadas. A revitalização emergiu como uma nova opção para o tratamento de dentes jovens com necrose pulpar, utilizando técnicas terapêuticas tais como: a indução da formação de coágulo no interior do canal radicular e aplicação de pastas poliantibióticas, sempre visando a neoformação do tecido pulpar, que levaria além da complementação radicular em comprimento, também o aumento da sua espessura, fornecendo-lhe maior resistência. Recentemente, estudos mostram os “Scaffolds”como promessa de outra alternativa para a situação em questão, pois possuem a função de fornecer suporte ao crescimento celular. É objetivo desta revisão bibliográfica apresentar uma literatura pertinente ao mecanismo de revitalização pulpar, bem como, abordar de maneira geral o surgimento de outra alternativa regenerativa através das “scaffolds”. PALAVRAS-CHAVE: Rizogênese incompleta, Necrose pulpar, Revitalização pulpar. ABSTRACT Pulp revitalization can be defined as the differentiation of progenitor cells from the apical portion of young teeth that begin to colonize the root canal, resulting in deposition of mineralized tissue on the dentin walls, aiming at reestablishing pulp vitality and continuity in root development . This procedure is currently indicated for young teeth with incomplete rhizogenesis as an alternative to the traditional apicification treatment. Apicification consists of the insertion of long-term calcium hydroxide paste into the root canal to induce the formation of a calcified barrier. Although the therapy is more classically employed, the permanence of this medication for long periods can lead to fragility of the root walls due to hygroscopic and proteolytic properties of calcium hydroxide. In view of this, there is a constant search for new treatment alternatives that allow the complete development of roots without becoming fragile. Revitalization emerged as a new option for the treatment of young teeth with pulp necrosis, using therapeutic techniques such as: induction of clot formation within the root canal, application of polyanthiotic pulps, always aiming at the neoformation of pulp tissue, which it would take the radicular complementation in length, also the increase of its thickness, giving it greater resistance. Recently, studies show the "Scaffolds" as a promise of another alternative for the situation in question, since they have the function of providing support for cell growth. It is the objective of this literature review to present a literature pertinent to the mechanism of pulp revitalization, as well as, to address in general the emergence of another regenerative alternative through the “scaffolds”. KEYWORDS:Incomplete rhizogenesis, Pulp necrosis, Pulp revitalization. LISTA DE FIGURAS Figura 01 – Imagem radiográfica pré-operatória.........................................................................20 Figura 02 – Radiografia 26 dias após colocação da pasta tri-antibiótica. Lesão periapical quase resolvida............................................................................................................21 Figura 03 – Radiografia de controle após 6 meses......................................................................21 Figura 04 – Radiografia de controle após 12 meses....................................................................22 Figura 05 – Radiografia de controle, 18 meses após o tratamento..............................................22 SUMÁRIO 1 – INTRODUÇÃO....................................................................................................................10 2 – METODOLOGIA.................................................................................................................12 3 – REVISÃO...............................................................................................................................13 3.1 – CONSIDERAÇÕES SOBRE O TRATAMENTO ENDODÔNTICO DE DENTES IMATUROS................................................................................................................13 3.2 – APICIFICAÇÃO................................................................................................................13 3.3 – REVITALIZAÇÃO PULPAR..........................................................................................14 3.3.1 – PASTA TRIANTIBIÓTICA..........................................................................................15 3.3.2 – INDUÇÃO DE COÁGULO/MATRIZ ARTIFICIAL................................................17 3.3.3 – CÉLULAS ESTAMINAIS.............................................................................................17 3.3.4 – COMO A REVITALIZAÇÃO ACONTECE..............................................................18 3.3.5 – PROTOCOLO TERAPÊUTICO DA REVITALIZAÇÃO.......................................19 3.3.6 – O ATUAL CENÁRIO DA TERAPIA REGENERATIVA COM O USO DE SCAFFOLDS............................................................................................................................22 4 – DISCUSSÃO..........................................................................................................................25 5 – CONCLUSÃO.......................................................................................................................28 REFERÊNCIAS..........................................................................................................................29 10 1 - INTRODUÇÃO O tratamento endodôntico de dentes com rizogênese incompleta e necrose pulpar tem sido um desafio para a terapia endodôntica, tanto por sua dificuldade técnica como biológica, com isso, o desejo em se criar alternativas biológicas para o tratamento de canais tem inspirado o campo da endodontia regenerativa, onde o tecido pulpar danificado ou necrosado é removido e substituído por tecido pulpar regenerado para revitalizar os dentes. Na endodontia tradicional, os dentes imaturos e necrosados são tratados com apicificação (ALBUQUERQUE et al.,2014), que consiste na aplicação e trocas de pasta de hidróxido de cálcio no canal radicular, por período variável de tempo, a fim de induzir a formação de uma barreira mineralizada na região apical para acomodação adequada do material obturador. A utilização do trióxido de mineral agregado (MTA) para confecção de uma barreira apical também é uma alternativa ao uso do hidróxido de cálcio. Porém, independente do material utilizado, as duas técnicas apresentam as mesmas desvantagens, por não possibilitar a continuidade do desenvolvimento radicular, não ocorre o aumento em espessura das paredes do canal radicular, assim a raiz permanece com sua fragilidade e susceptibilidade a fratura (ANDREASEN et al., 2001; PACE et al., 2007., DING et al., 2009). Recentemente, estudos e relatos de caso apresentam uma alternativa para o tratamento de dentes imaturos com necrose pulpar, a regeneração deste tecido. Esse processo de revitalização tem recebido várias denominações como revascularização ou maturogênese, e seu protocolo envolve o uso de uma pasta triantibiótica (metronidazol, minociclina e ciprofloxacina) e a indução de sangramento no interior do canal radicular, formando assim um coágulo que serviria como matriz para o crescimento de um novo tecido pulpar vital. Com a regeneração pulpar, seria possibilitada a formação normal das raízes do dente injuriado com paredes fortalecidas e fechamento apical, como ocorre na apicigênese (TROPE et al., 2008). A revascularização é tida como um tratamento que restabelece a vitalidade dos dentes, permitindo o reparo e regeneração dos tecidos periapicais, devido as seguintes razões biológicas: o ápice aberto permite a migração de células-tronco/progenitoras para o interior dos canais radiculares, células da papila apical encontradas na região dos ápices imaturos possuem maior regeneração tecidual, estimulando o desenvolvimento radicular e o fechamento apical (PARYANI e KIM, 2013). 11 O sucesso do tratamento só é possível quando o canal radicular encontra-se limpo e descontaminado, permitindo assim, o crescimento de células para o futuro restabelecimento da vitalidade pulpar (SHAH et al., 2008). A descontaminação do canal radicular ocorrerá através da associação entre instrumentação (preparo mecânico), irrigação com substâncias químicas auxiliares e medicação intracanal (IWAYA S et al., 2011; THIBODEAU e TROPE et al., 2007). Mais recentemente, tem sido realizadas na endodontia regenerativa pesquisas sobre as scaffolds, que são matrizes extracelulares transitórias que possuem a função de “arcabouço”, servindo como suporte para que células e vasos possam crescer e desenvolver suas funções no processo de revascularização (AGGARWAL et al., 2012; BOTTINO et al., 2012). Diante do exposto, o objetivo desse trabalho é revisar a literatura acerca dos conhecimentos sobre revitalização pulpar, conhecendo seu mecanismo de diferenciação celular, vantagens e desvantagens, fazendo um comparativo com a apicificação e explorando de maneira geral os estudos relativos a uma futura tendência regenerativa através das “scaffolds”. 12 2- METODOLOGIA Para a realização deste trabalho, foram feitas pesquisas nas principais bases de dados: Google academic, pubmed, portal de periódicos CAPS, SCIELO, BBO, BIREME e LILACS, bem como em livros acadêmicos da área de endodontia. 13 3-REVISÃO 3.1- CONSIDERAÇÕES SOBRE O TRATAMENTO ENDODÔNTICO DE DENTES IMATUROS A necrose pulpar em dentes imaturos geralmente ocorre devido à invasão bacteriana ou por um trauma. Nessas situações,a inflamação do tecido pulpar vai ocorrendo gradualmente, e se não for interrompida, o mesmo necrosa, levando a morte dos odontoblastos, resultando na interrupção do desenvolvimento radicular. Com isso, por muitas vezes esses dentes ficam mais propensos à fratura (NAGATA et al., 2014). A necrose pulpar prejudica o desenvolvimento das raízes em dentes permanentes com ápice aberto, sendo que o tratamento dos mesmos ainda é um desafio, uma vez que não houve a completa formação do ápice radicular, com isso, tanto a modelagem como a posterior obturação do canal não ficarão devidamente aceitáveis (ERDEM A P e SEPET E, 2008). Para a situação citada acima, o tratamento tradicional de eleição era a apicificação, porém, apesar das taxas de sucesso desse tratamento, o desenvolvimento radicular geralmente não ocorria em sua totalidade, e as raízes permaneciam finas, frágeis e propensas à fratura. Desta forma era imprescindível para os pesquisadores e clínicos a procura por novas opções de tratamento (DAMLE et al., 2012). Atualmente, a revitalização pulpar tem surgido como uma possibilidade de tratamento, baseando-se essencialmente na proliferação de células do tecido conjuntivo para o preenchimento de espaços vazios deixados pela necrose pulpar (DE SOUSA FILHO et al., 2015). 3.2- APICIFICAÇÃO A apicificação é um tratamento para dentes com ápice aberto, que visa o selamento do forame apical por meio da neoformação de um tecido mineralizado induzido pela ação de uma medicação à base de hidróxido de cálcio usada para preencher o canal radicular (DE SOUSA FILHO et al., 2015). O canal é preenchido com hidróxido de cálcio devido a sua capacidade de auxiliar na desinfecção do sistema de canais radiculares e na indução de uma barreira apical. Os íons hidroxila causam danos à parede celular bacteriana e seus componentes, assim como aos 14 lipopolissacarídeos (LPS) (NELSON-FILHO, 2002; HUANG, 2009). A formação da barreira apical é imprescindível para a posterior obturação, para que não haja o extravasamento do material obturador durante a condensação, tendo sido demonstrado que o alto pH do hidróxido de cálcio pode induzir a formação de uma barreira apical (DA SILVA RA et al., 2008). Ainda assim, atualmente, esta técnica tem sido questionada, uma vez que o tratamento exige inúmeras trocas de curativo e não atinge resultados clínicos desejados, visto que as raízes permanecem finas e curtas, podendo assim, apresentar risco à fratura (CEVEK M, 1972). Como uma alternativa ao uso de pastas a base de hidróxido de cálcio pode-se lançar mão do MTA, que segundo WHITERSPOON E HAN (2001), tem a capacidade de formar uma barreira semelhante ao cemento quando usado adjacente aos tecidos perirradiculares devido à sua característica hidrofílica, que o permite tomar presa em presença de umidade e à sua biocompatibilidade. O MTA deve ser colocado no canal radicular de forma semelhante ao hidróxido de cálcio, formando uma barreira apical, e o restante do canal deve ser imediatamente preenchido pelo material obturador. Esta possibilidade reduz o tempo de tratamento, constituindo uma vantagem sobre o uso do hidróxido de cálcio, porém, esta técnica não induz de forma desejável a completa formação radicular. Atualmente, a apicificação tem sido indicada para casos de traumatismos severos, do tipo intrusão ou avulsão, e apresentam risco de reabsorções radiculares por substituição (SOARES ADE J et al., 2013). 3.3 – REVITALIZAÇÃO PULPAR A revitalização pulpar tem sido o principal foco da endodontia regenerativa, pois permite o seguimento no desenvolvimento radicular (LOVELACE et al., 2011). É um procedimento cujas bases biológicas visam a substituição de estruturas doentes, ausentes ou danificadas, dentre elas temos as estruturas da raiz, dentina e células presentes na polpa dentária, restabelecendo assim, suas funções fisiológicas normais (MURRAY et al., 2007). De acordo com JUNG, LEE e HARGREAVES (2012), uma alternativa biológica deveria ser desenvolvida para solucionar o caso de dentes imaturos com necrose pulpar, pois, apesar das altas taxas de sucesso da apicificação, os tratamentos convencionais resolvem apenas os problemas periapicais, no entanto os dentes continuam suscetíveis a fraturas. Para BANCHS e TROPE (2004), as vantagens da revitalização pulpar consistem na possibilidade do 15 desenvolvimento radicular e no reforço das paredes de dentina pela deposição de tecido duro, tornando o dente resistente a fraturas. Para THIBODEAU e TROPE (2007) o fator chave para o sucesso em dentes com ápice aberto, necrótico e infectado, está na desinfecção do sistema de canais radiculares, criando um ambiente que possa conduzir a revascularização. Após a descontaminação dos sistemas de canais radiculares ocorre a indução de sangramento da região apical, que irá posteriormente preencher o canal com o coágulo sanguíneo e células indiferenciadas que induzirão a formação de um novo tecido. O dente em questão é selado com MTA na porção cervical do canal radicular e com materiais restauradores como o cimento de ionômero de vidro (CIV) ou resina composta na porção coronária (SHAH et al., 2008). O processo de revitalização tem demonstrado ao longo dos anos um considerável aumento na espessura das paredes dentinárias, no fechamento apical e no comprimento radicular, baseados em controle radiográfico (BANCHS e TROPE, 2004), porém, apesar das evidências clínicas favoráveis em curto prazo, a técnica ainda apresenta algumas limitações, como a dificuldade para se causar o sangramento apical e a formação do coágulo sanguíneo. Além de não se ter certeza sobre a natureza do tecido formado no interior do canal e dos resultados em longo prazo (ALBUQUERQUE MT et al., 2014). 3.3.1- PASTA TRIANTIBIÓTICA Um dos objetivos do tratamento endodôntico em dentes com necrose pulpar e lesões periapicais é promover a eliminação da infecção que se encontra no sistema de canais radiculares. Esta desinfecção é alcançada através da instrumentação, da irrigação e de uma medicação intracanal. De acordo com AKGUN, ALTUN e GUVEN (2009), uma mistura de três antibióticos – minociclina, metronidazol e ciprofloxacina – tem mostrado eficiência na eliminação de patógenos endodônticos, tanto in vitro quanto in vivo. Os autores sustentam que os tecidos pulpares vitais tem demonstrado boa tolerância a essa mistura. Segundo SATO (1996), o metronidazol apresenta um amplo espectro bactericida contra anaeróbios obrigatórios orais, mas isoladamente, mesmo em altas concentrações, não é capaz de matar todas as bactérias presentes na dentina infectada. Os autores sugerem que outras drogas devam ser associadas para que ocorra a esterilização desses canais. A mistura dos três 16 antibióticos já citados pode atingir este objetivo, pois consegue penetrar nas camadas mais profundas da dentina. No entanto, esta união pode apresentar algumas desvantagens, tais como o desenvolvimento de resistência bacteriana, reações alérgicas, e um dos seus componentes (minociclina) pode produzir descoloração da coroa (REYNOLDS et al., 2009). Na tentativa de diminuir esses efeitos, alguns artigos tem sugerido a diminuição no tempo de aplicação da pasta para prevenir a descoloração associada ao seu uso (KIM et al., 2010), considerando que sua ação antimicrobiana pode se dar dentro de 24 a 48 horas (HOSHINO et al., 1996; SATO et al., 1996).Além disso, para que os microrganismos sejam totalmente eliminados é necessária uma concentração mínima de 25g/ml, contudo os antibióticos isoladamente não possuem um espectro de ação suficiente contra os diversos tipos de bactérias presentes nos sistemas de canais radiculares. Sendo assim, se faz necessária a combinação de diferentes antibióticos para um maior espectro de ação. O aumento do espectro da pasta tripla antibiótica se deve ao fato de que cada componente age em diferentes tipos de microrganismos: Minociclina (Gram + e Gram -); Ciprofloxacina (Gram + e Gram -) e Metronidazol (Bactérias anaeróbias e protozoários) (CHUENSOMBAT S et al., 2013; NAMOUR M e THEYS S, 2014). O pH ácido da minociclina e da ciprofloxacina pode não ser favorável para as células tronco, uma vez que apresentam citotoxidade. O metronidazol dentre os três antibióticos é o único que possui pH neutro, não causando agressão as células tronco (CHUENSOMBAT S et al., 2013; NAMOUR M e THEYS S, 2014). O metronidazol e a ciprofloxacina induzem a formação de fibroblastos (BOSE R et al., 2009). Outro ponto a favor da utilização da pasta tripla antibiótica é que a mesma é mais eficaz quando comparada a medicação com hidróxido de cálcio, pelo fato de conseguir uma eliminação quase que total dos microrganismos no canal radicular (BOSE R et al., 2009). A pasta tri-antibiótica ou também conhecida como pasta de Hoshino, mostrou-se efetiva em diversos casos, TROPE (2008) descreve a sua composição como uma mistura de 200 mg de ciprofloxacina, 500 mg de metronidazol e 100 mg de minociclina. PINK, SHASHIBHUSHAN e SUBBAREDDY (2011) lembram que a infecção do sistema de canais é considerada uma infecção polimicrobiana, e que estas bactérias podem estar em todo o sistema de canais e até mesmo no cemento do periápice. Devido a todos esses detalhes, a infecção se torna muito complexa para que apenas uma medicação seja eficiente na 17 esterilização dos canais. Assim, é necessária uma combinação de medicamentos para combater a diversidade de microorganismos encontrados. 3.3.2- INDUÇÃO DE COÁGULO/MATRIZ ARTIFICIAL Segundo TROPE (2008), a própria polpa necrótica, porém não infectada (casos de avulsão), pode ser usada como matriz para o desenvolvimento do novo tecido semelhante à polpa. No caso de dentes com polpa necrótica e infectada, o autor constata que a indução de um coágulo sanguíneo dentro do canal pode minimizar o problema, pois este serve como matriz para as células-tronco e os fatores de crescimento. E ainda há a possibilidade de, em estudos futuros, serem desenvolvidas matrizes sintéticas que facilitem este processo. De acordo com SABER (2009), uma matriz deve ser porosa, permitir o transporte de nutrientes e oxigênio, ser biodegradável, ser substituída por um tecido de regeneração, ser biocompatível e ter resistência física e mecânica adequadas. Elas podem ser naturais, como o colágeno, ou artificiais, que são polímeros sintéticos. Os autores relatam que células pulpares podem ser isoladas, multiplicadas em cultura e semeadas em uma matriz, formando um novo tecido semelhante ao tecido pulpar original. 3.3.3- CÉLULAS ESTAMINAIS As células estaminais são consideradas as células mais valiosas da medicina regenerativa. Segundo SABER (2009), estudos tem fornecido conhecimento avançado sobre como o organismo se desenvolve de uma célula, e como células saudáveis podem repor outras danificadas em organismos adultos. Células estaminais tem a capacidade de se dividir continuamente para replicarem-se (autorreplicação), ou produzir células especializadas que podem se diferenciar em várias outras. As células estaminais são classificadas em dois grupos: as multipotentes e as pluripotentes. As multipotentes são células com capacidade de se especializarem em qualquer célula que tenha como origem o mesmo tecido embrionário, e as pluripotentes são células com capacidade de se especializar em qualquer outra célula independente do tecido de origem. São células encontradas no período embrionário podendo ser de origem mesenquimal ou 18 ectomesenquimal. Seu principal objetivo é substituir, reparar e melhorar órgãos e tecidos danificados (JADHAV G, SHAH N e LOGANI A, 2012). As células estaminais da polpa dental possuem alta capacidade proliferativa, propriedade de autorrenovação e potencial de diferenciação em múltiplas linhagens. Diversos estudos desse tipo de célula tem mostrado que elas são multipotentes e se proliferam extensivamente, podem ser, seguramente, criopreservadas, são aplicáveis com diversas matrizes, tem uma longa vida, possuem propriedades imunossupressivas, e são capazes de formar tecido mineralizado similar à dentina. Sobre a diferenciação celular, esta se refere à especialização progressiva da morfologia e função celular que leva à formação de células especializadas, tecidos e órgãos, acompanhando as expressões diferenciais de genes específicos. Geralmente provoca variações no volume celular, no aparecimento de novos marcadores de superfície, modificações na atividade enzimática, e até mudanças na composição celular proteica (YAN MING et al., 2011). O sucesso dos procedimentos endodônticos regenerativos perante a necrose pulpar depende da capacidade de sobrevivência das células estaminais que se encontram nessa zona. Ao nível da região periapical e com interesse para os procedimentos regeneradores, existem cinco tipos de células estaminais: células estaminais da papila apical (CEPA); células estaminais da polpa dentária (CEPD); células estaminais do ligamento periodontal (CELP); células estaminais da medula óssea (CEMO) e células progenitoras da inflamação periapical (CPIP) (HUANG G T et al., 2008). 3.3.4- COMO A REVITALIZAÇÃO ACONTECE De acordo com YOUSEF SAAD (1988) os dentes com rizogênese incompleta possuem células multipotentes em seu espaço periapical, com grande capacidade de diferenciação, podendo formar novos odontoblastos, cementoblastos e fibroblastos. Segundo estudos na literatura uma possível hipótese seria a migração de células que se manteram vitais na região apical para o arcabouço recém-formado e em seguida diferenciarem-se em odontoblastos sob a organização influenciada pelas células da bainha epitelial de hertwig. Os novos odontoblastos auxiliam no alongamento da raiz devido a deposição de dentina peritubular no final apical, causando o reforço e fortalecimento da raiz (YOUSEF SAAD, 1988). 19 Outra Hipótese de desenvolvimento radicular pode ser explicada devido a possibilidade de após a indução de sangramento na região periapical, células estaminais provenientes da medula óssea ou da papila apical entrem no canal radicular, sendo que as mesmas possuem alta capacidade de proliferação (LIEBERMAN e TROWBRIDGE, 1983). Uma terceira possibilidade estaria na proliferação e crescimento de células estaminais oriundas do ligamento periodontal no ápice e dentro do canal radicular, havendo assim, deposição de tecido duro tanto no final apical quanto nas paredes da raiz. A presença de cemento e fibras de sharpey no tecido formado evidenciam esta hipótese (LIEBERMAN e TROWBRIDGE, 1983). Outra hipótese pode estar relacionada aos fatores de crescimento presentes no coágulo sanguíneo, apresentando assim, um papel de importância na regeneração (WANG et al., 2007). Por fim, outro mecanismo para a continuação da raiz pode serexplicado devido à abundância de células estaminais multipotentes na polpa de dentes imaturos, sendo que as mesmas podem se aderir as paredes do canal, transformando-se em odontoblastos que farão a deposição de dentina, aumentando a espessura das paredes dentinárias e finalizando o desenvolvimento radicular (GRONTHOS et al., 2002). 3.3.5- PROTOCOLO TERAPÊUTICO DA REVITALIZAÇÃO Foi observado que atualmente não há um protocolo único recomendado, mas as características comuns dos casos são: pacientes jovens, necrose pulpar e ápice imaturo, mínima ou nenhuma instrumentação das paredes dentinárias, colocação de um medicamento intracanal, criação de um coágulo de sangue ou o uso de plasma no interior do canal e a presença de um selamento coronário efetivo. Segundo BANCHS e TROPE (2004), o protocolo terapêutico da revitalização pulpar deve ocorrer de acordo com as seguintes etapas: 1. Acesso endodôntico; 2. Irrigação com 20 ml de hipoclorito de sódio à 5,25% e 10 ml de peridex (gluconato de clorexidina) 3. Secagem do canal com pontas de papel absorventes; 20 4. Preparo da pasta tri-antibiótica (PTA) composta por ciprofloxacina, metronidazol e minociclina, com aplicação por meio de uma espiral de lêntulo a uma profundidade de 8 mm no interior do canal radicular; 5. Selamento da cavidade com Cavit; 6. Reconsulta após 26 dias: remoção da PTA, com irrigação de 10 ml de hipoclorito de sódio à 5,5%; 7. Promover uma injúria aos tecidos periapicais com instrumento de pequeno calibre provocando um sangramento intrarradicular e, consequente, formação de coágulo. O sangramento deve ser estabilizado 3 mm abaixo do nível da junção amelocementária, aguardando cerca de 15 minutos para a formação do coágulo a esse nível; 8. Selamento da cavidade com MTA e Cavit; 9. Reconsulta após 14 dias: substituição do Cavit por uma resina composta 10. Acompanhamento clínico e radiográfico. BANCHES e TROPE (2004), demonstram através de um caso clínico a aplicação da técnica de coagulação sanguínea para promover revascularização. Um rapaz de 11 anos surge na consulta para avaliar um segundo pré-molar inferior, com fratura do tubérculo oclusal. O diagnóstico pulpar foi inconclusivo, registrando apenas uma sensibilidade positiva à percussão e palpação. O exame radiográfico mostrou um ápice com abertura de 4 mm e paredes dentinárias finas e propensas a futuras fraturas, além disso ainda estava presente uma lesão periapical (Figura 01). A opção foi abordagem regenerativa através da revitalização pulpar. Figura 01: Imagem radiográfica pré-operatória (BANCHES e TROPE, 2004) 21 Após cavidade de acesso e drenagem purulenta foi confirmada a necrose pulpar. O canal foi seguidamente irrigado com 20 ml de NaOCl até 1 mm aquém do comprimento total do dente. Uma mistura de ciprofloxacina, metronidazol e minociclina foi preparada e colocada no canal. A cavidade de acesso foi fechada com um material provisório (Cavit). O paciente regressou à consulta 26 dias depois, assintomático, e com uma evidente redução da radioluscência (Figura 02). Figura 02: Radiografia 26 dias após colocação da pasta tri-antibiótica. Lesão periapical quase resolvida (BANCHES e TROPE, 2004) O canal foi novamente irrigado com 10 ml de NaOCl. Com recurso de uma sonda endodôntica irritou-se o tecido periapical para criar algum sangramento para dentro do canal. O sangramento foi interrompido a 3 mm abaixo da junção cemento-esmalte e aguardou-se 15 minutos de forma a promover o coágulo a esse nível. Posteriormente foi colocado MTA cuidadosamente sobre o coágulo de sangue, seguido de uma restauração definitiva com resina composta. Após 6 meses, o paciente estava assintomático, e com completa resolução da radioluscência (Figura 03). Nas seguintes consultas foi observado a continuidade no desenvolvimento do ápice do dente e o espessamento das paredes dentinárias (Figuras 04 e 05). Figura 03: Radiografia de controle após 6 meses (BANCHES e TROPE, 2004) 22 Figura 04: Radiografia de controle após 12 meses (BANCHES e TROPE, 2004) Figura 05: Radiografia de controle, 18 meses após o tratamento (BANCHES e TROPE, 2004) 3.3.6- O ATUAL CENÁRIO DA TERAPIA REGENERATIVA COM O USO DE SCAFFOLDS O campo da endodontia regenerativa para o tratamento de dentes necrosados de ápice imaturo conta com o desenvolvimento de tecido pulpar a partir da combinação de três elementos chaves: as células-tronco, moléculas bioativas/fatores de crescimento e as scaffolds (DIOGENES et al., 2013). Apesar da revitalização já ser clinicamente empregada com o uso de medicações a base de hidróxido de cálcio e pasta tri-antibiótica, atualmente existe outro artifício usado na endodontia, mas que ainda está no universo das pesquisas in vitro e em animais, que é a introdução das scaffolds no interior dos canais radiculares (BANSAL R et al., 2015). As scaffolds são fatores utilizados nos processos de regeneração, que servem como “arcabouço” ou “esqueleto” às células estaminais. Estudos para a inclusão de fatores de 23 crescimento celular, bem como para a criação de uma estrutura apropriada para essas matrizes tem sido feitos afim de se obter êxito. Esse material serve de suporte para que células e vasos possam crescer e se desenvolver (LI et al ., 2005). A estrutura das scaffolds pode apresentar variações entre nanofibras e macroporos, que podem ser fabricados por diferentes vias, como o electrospinning, self-assembly e phase- separation (BOTTINO et al., 2013). Existe uma variedade de scaffolds sintetizadas à base de polímeros tanto sintéticos como naturais, que são desenvolvidos para auxiliar à proliferação e diferenciação de células estaminais da polpa dentária, para uma futura regeneração do complexo dentina-polpa (ROSA et al., 2013). A scaffold funciona como uma matriz extracelular transitória composta por uma estrutura tridimensional porosa responsável por fornecer suporte mecânico e regular às funções celulares (BOTTINO et al., 2012). Uma scaffold deve conter fatores de crescimento para auxiliar na proliferação e diferenciação das células estaminais, levando a um melhor e mais rápido desenvolvimento do tecido, pode conter também nutrientes para promover a sobrevivência e crescimento da célula, ou até mesmo antibióticos para prevenir qualquer crescimento bacteriano nos canais radiculares (SUN et al., 2011). Para atingir a meta da reconstrução do tecido pulpar, as scaffolds devem atender a alguns requisitos específicos. A biodegradabilidade é essencial, pois as scaffolds precisam ser absorvidas pelos tecidos circundantes, sem a necessidade de remoção cirúrgica. A alta porosidade e um adequado tamanho dos poros são fundamentais para facilitar a fixação celular e subsequente difusão por toda a estrutura de ambas as células e nutrientes. A taxa de degradação que ocorre tem que coincidir, tanto quanto possível com a taxa de formação de tecido, o que significa que as células ao mesmo tempo que estão a fabricar as suas próprias matrizes estruturais em torno de si próprias, o scaffold tem que ser capaz de assegurar sua integridade estrutural dentro do corpo, para que seja posteriormente desmembrado, deixando o tecido recém-formado que vai assumir a carga mecânica (MURRAY et al., 2007). Estas scaffolds tem sido usadascom sucesso para aplicações na engenharia de tecidos, por que são estruturas degradáveis fibrosas com a capacidade de suportar o crescimento de vários tipos diferentes de células estaminais. As desvantagens principais estão relacionadas com a dificuldade na obtenção de uma alta porosidade e um tamanho dos poros regulares. É por essa razão que a engenharia de scaffolds realiza-se a nível nanoestrutural, para melhorar as interações celulares. Embora os resultados iniciais sejam promissores em termos de promover 24 as funções e a sobrevivência celular, algumas reações imunes a esses tipos de materiais podem ameaçar o seu uso futuro na medicina regenerativa (MURRAY et al., 2007). 25 4-DISCUSSÃO Em minha revisão, concordo com os estudos de DAMLE et al (2012) e SOARES et al (2013), quando afirmam que atualmente tem se dado grande atenção à endodontia regenerativa no âmbito da revitalização pulpar, uma vez que apesar de consagrada na odontologia, a apicificação tende a gerar raízes finas e frágeis, podendo levar a uma fratura. Na revascularização ocorre a invaginação de células indiferenciadas do periodonto para a região apical de dentes imaturos, restauração da camada odontoblástica, substituição de estruturas danificadas, incluindo dentina e estruturas radiculares, bem como células do complexo dentina-polpa (DALI e RAJBANSHI, 2014). É indicada em dentes imaturos com necrose pulpar devido à presença de cárie profunda ou trauma que resultam em paralização do desenvolvimento radicular (ALBUQUERQUE et al., 2014; DHILLON et al., 2016). Esse tratamento visa restaurar o complexo do sistema de canais radiculares comprometido, através da descontaminação, seguida pela indução de um sangramento na região periapical, no qual ira preencher o canal radicular com o coágulo sanguíneo para o desenvolvimento de um novo tecido vascular (ALCADE et al., 2014). Com isso, melhora-se o prognóstico dos dentes através do reestabelecimento de um tecido funcional da polpa que promoverá o desenvolvimento contínuo da raiz e a competência imunológica (LAW A S, 2013). Em concordância com BANCHS e TROPE (2004), ALBUQUERQUE et al (2014) afirma que durante a proservação, deve-se realizar minuciosa avaliação clínica e radiográfica do dente, onde o sucesso da terapia de revascularização pulpar é evidenciado baseado em requisitos como, ausência de dor ou edema e resposta positiva ao teste de sensibilidade pulpar. Afirma também, que o exame radiográfico deve demonstrar aumento do comprimento da raiz, aumento na espessura das paredes dentinárias, diminuição do diâmetro apical e alteração da densidade óssea periapical. De acordo com GARCIA-GODOY e MURRAY (2012), o tratamento de regeneração pulpar somente deve ser realizado se alguns requisitos forem obedecidos: (1) o dente deve se apresentar necrosado e não estar apto para tratamentos como apicificação, pulpotomia parcial ou tratamentos que visam a obturação dos canais radiculares; (2) o dente deve ser permanente e apresentar-se imaturo com ápice aberto e exposição pulpar; (3) as paredes dentinárias devem apresentar-se finas; (4) o paciente deve possuir idade entre 7 e 16 anos; (5) um anestésico sem vasoconstritor deve ser utilizado na tentativa de evitar a isquemia, ou seja, estimulando o 26 sangramento para o interior do canal radicular; (6) uma medicação intracanal deve ser posicionada acima do coágulo sanguíneo. De acordo com VIJAYARAGHAVAN (2012), o sucesso da revitalização ou revascularização depende da desinfecção do canal radicular, da presença do coágulo sanguíneo e de um preenchimento hermético da região coronária. Além disso, VACANTI e LANGER (1993) afirmam que para um tecido sadio crescer no interior do canal radicular são necessários três elementos importantes: células-tronco, fatores de crescimento e um arcabouço, mais conhecido como scaffold. Segundo BANCHES e TROPE (2004), a revascularização de um dente necrosado imaturo já foi considerada impossível, devido à extrema dificuldade de desinfecção dos canais radiculares. Essa dificuldade fica evidenciada na afirmação de NAMOUR e THEIS (2014), quando colocam que a invasão bacteriana no sistema de canais radiculares provoca a formação de biofilmes bacterianos nas paredes dentinária e na região apical. De acordo com eles, para garantir a desinfecção do canal radicular e a possibilidade de regeneração tecidual, é necessário eliminar totalmente o biofilme bacteriano. ALBUQUERQUE et al (2014) e DING et al (2009) concordam que quando o ambiente torna-se livre de infecção bacteriana e o meio de crescimento celular apresenta-se favorável, a regeneração pulpar poderá ocorrer. Entretanto, NAGY et al (2014) afirma que a erradicação de bactérias no interior do canal radicular é obrigatória em procedimentos endodônticos auto- regenerativos bem-sucedidos. No que diz respeito à pasta triantibiótica, ALBUQUERQUE et al (2014) afirma que a mesma apresenta ação sobre bactérias nos sistemas de canais radiculares, inibindo o crescimento bacteriano e permitindo o crescimento radicular. Além disso, deve ser utilizada para um equilíbrio entre uma menor citotoxidade para as células estaminais e a desinfecção bacteriana máxima (NAMOUR e THEIS, 2014). AGGARWAL et al (2012) e LI et al (2005) acreditam que futuramente as scaffolds poderão ser empregadas como uma alternativa ao uso de medicações, sendo empregadas afim de fornecer suporte para que células e vasos possam crescer e desenvolver suas funções, além de promover a difusão de medicação, promovendo a desinfecção do sistema de canais radiculares. A maioria das terapias regenerativas utiliza a própria polpa do hospedeiro ou células vasculares para regeneração, mas outros tipos de terapias a partir de células estaminais 27 dentárias estão em desenvolvimento (GARCIA-GODOY e MURRAY, 2012). Atualmente, é certo que o espaço pulpar retorna a um estado vital após a revascularização, mas com base em pesquisas em dentes avulsionados, foi comprovado que o tecido no espaço pulpar regenerado é mais semelhante ao tecido do ligamento periodontal do que ao tecido pulpar propriamente dito (TROPE et al., 2010). Concordo em minha revisão, com as afirmações de HARGREAVES et al (2014), quando diz em seus estudos que a revascularização é um assunto relativamente novo na terapia endodôntica, que existe na literatura uma variedade de protocolos de tratamento divergentes devido à baixa evidência científica, e que independente do tipo de abordagem terapêutica, o objetivo é preservar quaisquer células pulpares vivas ainda existentes no ápice. 28 5-CONCLUSÃO Após a revisão de literatura realizada, conclui-se que: 1- A endodontia regenerativa é uma das áreas mais promissoras no âmbito da odontologia, com avanços rápidos e experimentações intensas; 2- Que a revitalização pulpar é de fato um tratamento válido para dentes com risogênese incompleta e necrose pulpar, apresentando claras vantagens quando comparada a técnica de apicificação, porém, segundo pesquisas realizadas ainda não há um protocolo estabelecido e considerado ideal; 3- Que o período de proservaçãoapós o procedimento é muito importante e deve ser cuidadosamente acompanhado para a confirmação ou não do sucesso no procedimento; 4- apesar das técnicas regenerativas serem neste momento apenas dirigidas a dentes permanentes imaturos, é possível que a aplicação dos conhecimentos obtidos possa ser direcionada também a dentes permanentes maduros; 5- Devido a revitalização ser um tratamento recente, ainda existem muitos questionamentos a serem esclarecidos por meio da realização de mais estudos, como a natureza do tecido que preenche o canal radicular, o possível desenvolvimento de cepas bacterianas resistentes, uma possível descoloração da coroa pelo uso de minociclina, a possibilidade de tratamento em sessão única e o conhecimento dos efeitos pós-revascularização. 29 REFERÊNCIAS 1. Albuquerque M T, Valera MC, Nakashima M, Nor JE, Bottino MC. Tissue – engineering- based strategies for regenerative endodontics. J Dent Res. 2014 Dec; 93 (12): 1222-31. 2. Andreasen JÁ, F. Texto e atlas colorido de traumatismo dental. Artmed. 2001. 3. Aggarwal V, Miglani S, Singla M. Conventional apexification and revascularization induced maturogenesis of two non-vital, immature teeth in same patient: 24 months follow up of a case. J conserve Dent. 2012 Jan; 15(1): 68-72. Doi: 10.4103/0972-0707.92610. 4. Akgun O M, Altun C, Guvem G. Use of triple antibiotic paste as desinfectant for a traumatized immature tooth with a periapical lesion: a case report. Oral Surgery, Oral Medicine, Oral Pathology, Oral Radiology and Endodontology, Chicago, v.108, n.2, p.62- 65, ago.2009. 5. Alcade M P, et al. Revascularização pulpar: Considerações técnicas e implicações clínicas. SALUSVITA, 2014, V.33, N.3, P.415-432. 6. Bottino M C, Thomas V, Schmidt G, Vohra Y K, Chu T M, Kowolik M J, et al. Recent advances in the development of GTR/GBR membranes for periodontal regeneration: a materials perspective. Dent Mater. 2012; 28: 703-721. 7. Banchs F, Trope M. Revascularização em dentes permanentes imaturos com periodontite apical: novo protocolo de tratamento? J Endod 2004; 30: 196-200. 8. Bose R, Nummikoski P, Hargreaves k. A retrospective evaluation of radiographic outcomes in immature teeth with necrotic root canal systems treated with regenerative endodontic procedures. I endod. 2009; 35 (10): 1343-9. 9. Bansal R, Jain A, Mittal S. Current Overview on Challenges in regenerative endodontics. J conserve dent, jan/fev. 2015, v.18, n.1, p.1-6. 10. Cvek M. Tratamento de incisivos permanentes não vitais com hidróxido de cálcio: acompanhamento de reparo periapical e fechamento apical de raízes imaturas . Odontol Revy 1972; 23:27-44. 11. Chuensombat S, Khemaleelakul S, Chattipakorn S, Srisuwan T. Cytotoxic effects and antibacterial efficacy of a 3 – antibiotic combination: an in vitro study. J Endod. 2013 Jun; 39 (6): 813-9. 12. Ding R Y, Cheung G S, Chen J, Yin X Z, Wang Q, Zhang C. Revascularização pulpar em dentes imaturos com periodontite apical: estudo clínico. J Endod. 2009; 35 (5): 745-9. 13. Damle S G, Battal H, Loomba A. Apexification of anterior teeth: a comparative evaluation of mineral trioxide aggregate and calcium hydroxide paste. J Clin Pediatr Dent. 2012 spring; 36(3): 263-9. 30 14. De Souza Filho, F J. Endodontia passo a passo: evidências clínicas. São Paulo: Artes Médicas, 2015. 15. Da Silva R A, Leonardo M R, da Silva L A, de Castro L M, Rosa A L, de Oliveira P T. Effects of the association between a calcium hydroxide paste and 0.4 % chlorhexidine on the development of the osteogenic phenotype in vitro. J Endod. 2008 dec; 34 (12): 1485-9. 16. Diógenes A, Henry M A, Teixeira F B, Hargreaves K M. An update on clinical regenerative endodontics. Endod Top. 2013; 28:2-23. 17. Damle S G, Bhattal H, Loomba A. Apexification of mineral trioxide aggregate and calcium hydroxide paste. J clin pediatr dent. 2012; 36: 263-268. 18. Dali M, Rajbanshi L. Regenerative endodontics: changes, chances, and challenges of revascularization in pediatric dentistry. SRM Journal of Research in Dental Sciences, jul/sep 2014, v.5, n.3. 19. Dhillon H, Kaushik M, Sharma R. Regenerative endodontics – creating new horizons. J Biomed Mater Res Part B: Appl Biomater, 2016, v.104B, p.676-685. 20. Erdem A P, Sepet E. Mineral trioxide aggregate for obturation of maxillary central incisor with necrotic pulp and open apices. Dent Traumatol 2008; 24: e 38-41 21. Gronthos S, Brahim J, Li W, et al. Stem Cell properties of human dental pulp stem cells. J Dent Res 2002; 81:531-5. 22. Garcia-Godoy F, Murray P E. Recomendações para o uso de procedimentos endodônticos regenerativos em dentes traumatizados imaturos e permanentes, 2012, v.28, p.33-41. 23. Huang G T, Lin L M. Letter to the editor: Comments on the use of the term “revascularization” to describe root regeneration. J Endod, 2008. 34(5): p. 511; author reply 511-2. 24. Huang G T. Apexification: the beginning of its end. Int Endod J. 2009 oct; 42 (10): 855-66. 25. Hoshino E, Kurihara – Ando N, Sato I, et al. In-Vitro antibacterial susceptibility of bactéria taken from infected root dentine to a mixture of ciprofloxacin, metronidazole and minocycline. Int Endod J 1996; 29: 125-30. 26. Hargreaves K M, Diógenes A, Teixeira F B. Paradigm Lost: a perspective on teh design and interpretation of regenerative endodontic research J Endod, 2014, v.40, p.65-69. 27. Iwaya S, Iwaia M, Kubota M. Revascularização de dente permanente imaturo com abscesso periradicular após luxação. Dental Traumatology, 2011 v. 27, p. 55-58. 31 28. Jung II – young, Lee Seung-Jong, Hargreaves Kenneth M. Biologically based treatment of immature permanent teeth with pulpal necrosis: a case series. Texas Dental Journal, Austin, v.129, n.6, p.601-616, jun. 2012. 29. Jadhav G, Shah N, Logani A. Revascularization With and Without platelet-rich plasma in non-vital,immature, anterior teeth: a pilot clinical study. J Endod, 2012. 38 (12): p. 1581-7. 30. Kim J H, Kim Y, Shin S J, Park J W, Jung Y. Tooth discoloration of immature permanent incisor associated with triple antibiotic therapy: a case report. J Endod 2010; 36: 1086- 1091. 31. Lovelace T W, Henry M A, Hargreaves K M, Diógenes A. Evaluation of the delivery of mesenchymal stem cells into the root canal space of necrotic immature teeth after clinical regenerative endodontic procedure. J Endod, New York, v.37, p.133-138, 2011. 32. Lieberman J, Trowbridge H. Apical closure of non-vital permanent incisor teeth where no treatment was performed: case report. J Endod 1983; 9: 257 – 60. 33. Li W J, Tuli R, Okafor C, Derfoul A, Danielson K G, Hall D J, et al. A three- dimensional nanofibrous scaffold for cartilage tissue engineering using human mesenchymal stem cells biomaterials. 2005; 26: 599-609. 34. Law A S. Considerations for regeneration procedures. Pediatr Dent, 2013. 35 (2): p.141- 52. 35. Murray P E, Garcia – Godoy F, Hargreaves K M. Regenerative endodontics: a review of current status and a call for action. J Endod. 2007 apr; 33 (4): 377-90. 36. Nagata J Y, Soares ADEJ, Souza – Filho F J, Zaia AA, Ferraz CCR, Gomes BPFA. Microbial evaluation of traumatized teeth treated with triple antibiotic pasto r calcium hydroxide with 2% chlorhexidine gel in pulp revascularization. J Endod 2014; 40: 778- 783. 37. Nelson – Filho P, Leonardo M R, silva L A, Assed S. Radiographic evaluation of the effect of endotoxin (LPS)plus calcium hydroxide on apical And periapical tissues of dogs. J Endod. 2002 oct; 28 910): 694-6. 38. Namour M, Theys S. Pulp revascularization of immature permanent teeth: a review of the literature and a proposal of a new clinical protocol. Scientific world journal. 2014. 39. Nagy M M, Tawfik H E, Hashem A A R, Abu – Seida A M. Regenerative potencial of immature permanent teeth with necrotic pulps after different regenerative protocols. JOE, 2014, v.40, n.2, p. 192-198. 40. Pace R, Giuliani V, Pini Prato L, Baccetti T, Pagavino G. Apical plug thechnique using mineral trioxide aggregate: results from a case series. Int Endod J. 2007; 40 (6): 478 – 484. 32 41. Paryani K, kim S G. Regenerative endodontic treatment of permanent teeth after completion of root development: A report of 2 cases. JOE, v.39, n.7, jul/2013. 42. Pinky C, Shashibhushan K K, Subbareddy VV. Endodontic treatment of necrosed primary teeth using two different combinations of antibacterial drugs: an in vivo study. Journal of Indianh Society of endodontics and preventive dentistry, Índia, v.29, n.2, p. 121 – 127, abr./ jun. 2011. 43. Reynolds K, Johnson J D, Cohenca N. Pulp revascularization of necrotic bilateral bicuspids using a modified novel technique to eliminate potential coronal discolouration: a case respost. International Endodontic Journal 2009, 42, 84-92. 44. Rosa V, Zhang Z, Grande R H, nor J E. Dental pulp tissue engineering in full – length human root canals. J Dent Res. 2013; 92: 970 – 975. 45. Soares Ade J, Lins FF, Nagata J Y, Gomes B P, Zaia A A, Ferraz C C, de almeida J F, de Souza – Filho F J. Pulp revascularization after root canal descontamination whith calcium hydroxide and 2% chlorhexidine gel. J Endod. 2013 mar; 39 (3): 417 – 20. 46. Shah N, Logani A, Bhaskar U, Aggarwal V. Efficacy of revascularization to induce apexification/apexogenesis in infected, non-vital, immature teeth: A pilot clinical study. J Endod. 2008; 34: 919 – 25. [Pub Med]. 47. Sato I. sterilization of infected root – canal dentine by topical application of a mixture of ciprofloxacin, metronidazole and minocycline in situ. International Endodontic journal, v.29, n.2, p. 118 – 124, 1996. 48. Saber S E. Tissue engineering in endodontics. Journal of oral science, Tóquio, v.51, n.4, p. 495 – 507, dez 2009. 49. Sun H H, Jin T, Yu Q, Chen F M. Biological approaches toward dental pulp regeneration by tissue engineering. J tissue eng regen med 2011; 4:1 – 16. 50. Sakai V T, Cordeiro M M, Dong Z, Zhang Z, Zeitlin B D, Nor J E. Tooth splice/scaffold model of dental pulp tissue engineering. Adv Dent Res. 2011 Jul; 23 (3): 325 – 32. 51. Thibodeau B, Trope M. Pulp revascularization of a necrotic infected immature permanent tooth: case report and review of the literature. Pediatric dentristy, jan/fev 2007, v. 29, n. 1, p. 47 – 50. 52. Trope M. Regenerative potential of dental pulp. Journal of Endodontics. 2008; 34 (75): p.13 – 17. 53. Trope M. Treatment of the immature tooth with a non-vital pulp and apical periodontitis. Dent Clin North Am, Apr 2010, v. 54, n. 2, p. 313 – 324. 54. Vijayaraghavan R, Mathian V M, Sundaram A M, Karunakaran R, Vinodh S. Triple Antibiotic paste in root canal therapy. J Pharm Biollied Sci. 2012 aug; 4 (suppl 2): S230-3. 33 55. Vacanti J P, Langer R. Tissue engineering science, 1993. 260 (5110): p.920 – 6. 56. Whitherspoon D E, Ham K. One – visit apexification: technique for inducing root – end barrier formation in apical closures. Pract Proced Asthet Dent. 2001 Aug; 13 (6): 455 – 60; quiz 462. 57. Wang Q, Lin Z Y, Liu G x, Shan X L. Expression of vascular endothelial growth factor in dental pulp of immature and mature permanent teeth in human Shanghai kou qiang yi zue 2007; 16: 285-9. 58. Yan Ming. A journey from dental pulp stem cells to a bio- tooth. Stem Cell Reviews and Reports, v.7, p. 161 – 171, 2011. 59. Yousef Saad A. Calcium hydroxide and apexogenesis. Oral surg oral med oral pathol 1988; 66: 499 – 501.
Compartilhar