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2.Notas Livro de Fundamesntos Juridicos Segurança Pública

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FUNDAMENTOS DOS ESTUDOS JURÍDICOS EM SEGURANÇA PÚBLICA
Prefácio
Em muitos países os integrantes de instituições de segurança pública são chamados de aplicadores da lei, em inglês law enforcement officer. Ainda que no Brasil não tenhamos esta designação, ela nos ajuda a entender como é importante que as atividades de segurança pública estejam fundamentadas no sistema jurídico, conhecer alguns dados relacionados à violência e a criminalidade em nosso país, fazendo-se uma reflexão sobre do perfil das vítimas e das pessoas que praticam infrações penais.
Também é fundamental que as atividades de segurança pública sejam exercidas tendo por fundamento os princípios que regem nosso Estado Democrático de Direito, especialmente a cidadania, sendo importante inserir na cultura das instituições de segurança pública metodologias de gestão de conflitos como a comunicação não violenta.
A Segurança Pública na Constituição Federal
OBJETIVOS
•. Compreender as competências dos órgãos de segurança pública previstas no art. 144 da Constituição Federal;
•. Analisar as funções decorrentes das competências previstas no texto constitucional;
•. Identificar as responsabilidades dos agentes públicos que atuam na segurança pública;
•. Verificar no contexto da cidadania e dos direitos humanos as atividades de segurança pública.
1.1 A Segurança Pública: Conceitos, órgãos e competências.
Para que as pessoas possam usufruir dos direitos que lhes são conferidos por nosso sistema jurídico, é necessário que exista um sistema de regulação que permita conciliar os interesses particulares com os interesses da coletividade.
1.1.1 Poder de Polícia e atividades de Segurança Pública
Se conceitua como poder de polícia, cujo exercício cabe ao Estado, constituindo-se no dizer de Celso Antônio Bandeira de Mello (2005, p. 757) “tanto das leis que delineiam o âmbito da liberdade e da propriedade (isto é, que dimensionam tais direitos) quando dos atos administrativos que lhes dão execução”. O mesmo autor pontua ainda que a expressão poder de polícia “traz consigo a evocação de uma época pretérita, a do ‘Estado de Polícia’, que precedeu o Estado de Direito”.
Poder da polícia em sentido amplo refere-se tanto a atividade do poder legislativo em editar leis que especifiquem as limitações relativas à liberdade e à propriedade dos cidadãos, como também os atos do Poder Executivo, destinados a intervir em situações que posam trazer uma interferência indevida das referidas atividades particulares nos interesses de toda coletividade.
Já poder da polícia em sentido estrito, refere-se apenas aos atos do Poder Executivo, sejam eles normas de caráter geral (Ex.: portarias, decretos e regulamentos), sejam eles normas ou atos de caráter particular (Ex.: expedição de alvarás, respectiva fiscalização e imposição sanção). Tais atos estão dentro da concepção de polícia administrativa, conceito importante no contexto das atividades de segurança pública.
Para se definir as funções de cada órgão policial, primeiro é necessário que você tenha bem claro o conceito de ordem pública, dividido tradicionalmente pela doutrina em segurança, salubridade e tranquilidade (LAZZARINI, 2003, p.80), sendo que atualmente também se insere um quarto item, a dignidade da pessoa humana (GOMES, 1996). A partir desta divisão fica mais fácil entender e separar as atividades que são próprias da polícia administrativa e da polícia judiciária.
Abordando as competências da polícia administrativa e da polícia judiciária, Álvaro Lazzarini (2003, p. 85), esclarece:
[...] não é o rótulo que ostente o órgão policial que qualifica a atividade. O que a qualifica em polícia administrativa (preventiva) ou polícia judiciária (repressiva ou auxiliar) será, e isto sempre, a atividade de polícia em si mesma desenvolvida.
A diferença entre polícia administrativa e polícia judiciária sempre será a ocorrência ou não de um ilícito penal. A atividade de polícia administrativa que tenha por objeto auxiliar a Justiça criminal na repressão ao ilícito penal é a de polícia judiciária (2003, p. 85).
Ao tratar dos conceitos de polícia administrativa e polícia Judiciária, Celso Antônio Bandeira de Mello não adota a diferenciação a partir do caráter repressivo de uma e o caráter preventivo da outra, pois destaca que nas atividades de polícia administrativa, o Estado também age repressivamente (2005, p. 770). No entanto, assevera (Prova; ação de declarar algo com segurança; afirmação que se faz para certificar ou provar algo) que a “importância da distinção entre polícia administrativa e polícia judiciária está em que a segunda rege-se na conformidade da legislação processual penal e a primeira pelas normas administrativas” (2005,p. 771)
1.1.3 Competências das Corporações Policiais
1.1.3.1 Polícia Federal
No § 1º do art. 144 da Constituição Federal, estão enumeradas as funções da Polícia Federal (PF), nos seguintes termos:
§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a:
I. apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei;
II. prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência;
III. exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras;
IV. exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União (BRASIL, 1988).
A Polícia Federal é órgão permanente, ou seja, tal instituição não pode ser extinta em nossa atual configuração constitucional, condição que também foi atribuída às Policias Rodoviária e Ferroviária Federais. Esta garantia, que é muito importante para o exercício de suas atribuições, não foi conferida às polícias civis e militares.
A Polícia Federal tem atribuições de apuração de infrações penais (inciso I), de prevenção e repressão a determinados crimes (inciso II), de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras (inciso III) e de polícia judiciária (inciso IV).
A partir da classificação em polícia administrativa e polícia judiciária, verifica-se que as competências atribuídas à Polícia Federal são das duas naturezas. As de apuração de infrações penais e de polícia judiciária, pela própria designação e por fundarem-se na legislação processual penal, são de polícia judiciária.
Nas operações realizadas pela PF, as investigações dizem respeito à competência de apuração de infrações penais; já ao cumprir ordens judiciais de busca e apreensão a PF exerce funções de auxílio ao poder judiciário, ambas típicas de polícia judiciária.
Para apurar uma infração penal é necessário que ela pelo menos tenha entrado na fase de execução, pois a cogitação e meros atos preparatórios não configuram delito. Nesse sentido, o art. 31 do Código Penal estabelece que “o ajuste, a determinação, ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos a ser tentado” (BRASIL, 1940), uma vez que lhes faltaria a tipicidade e a antijuridicidade, elementos constitutivos do conceito de crime, sendo que a “ausência desses dois caracteres da conduta é suficiente, no nosso ordenamento jurídico-penal, para tornar os atos preparatórios indiferentes para o Direito Penal” (BITTENCOURT, p. 402).
Em relação às competências dos incisos II e III do § 1º do art. 144, da
Constituição, a Polícia Federal desenvolve todas as fases do ciclo de polícia, uma vez que atua como polícia administrativa e também como judiciária, sendo que no inciso II são utilizados os verbos prevenir e reprimir. No inciso III não há os verbos prevenir e reprimir, no entanto, as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras,incluem a atuação nas atribuições de polícia administrativa e também de polícia judiciária.
1 Ciclo completo de polícia significa o exercício de todas as atividades relacionadas à polícia administrativa e à polícia judiciária, começando com as atividades de manutenção da ordem, em caso de sua quebra com a restauração e, havendo ilícito penal na quebra da ordem, parte-se então para as atividades de polícia judiciária. Ressalte-se que o ciclo de polícia não tem necessariamente que se encerrar com atividades de polícia judiciária, podendo encerrar-se com a manutenção ou restauração da ordem, caso não ocorra ilícito penal.
A PF exerce o ciclo completo de polícia, todavia, há uma evidente falta de recursos materiais e humanos para atender a demanda decorrente de suas variadas atribuições. Basta olharmos no mapa do Brasil abaixo para verificarmos a dificuldade para o exercício das competências relativas à polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras, que sendo eficazes em sua prevenção, certamente reduziriam a necessidade da repressão de outros ilícitos dentro de nosso território.
A Polícia Federal está subordinada ao Ministério da Justiça, conforme dispõe o Decreto Federal 6.061 (BRASIL, 2007), sendo dirigida por meio do Departamento de Polícia Federal, cuja estrutura está definida na Portaria n.2.877 de 30.12.2011 do Ministério da Justiça (BRASIL, 2011), Países que fazem fronteira com o Brasil: Guiana Francesa, Suriname, Guiana, Venezuela, Colômbia, Peru, Bolívia, Paraguai, Argentina e Uruguai. 
1.1.3.2 Polícia Rodoviária Federal
A Polícia Rodoviária Federal (PRF), assim como a PF, é órgão permanente e estruturado em carreira, tendo como atribuição “na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das rodovias federais” (BRASIL, 1988), consoante art. 144, § 2º da Constituição.
A competência constitucional da PRF resume-se ao patrulhamento, ou seja, ela realiza uma das atividades em que se desdobra a atividade de policiamento ostensivo (divisão do policiamento ostensivo: patrulhamento, permanência, diligência e a escolta (BRASIL - IGPM, 1988). 
O art. 20, II, da Lei 9.503/97 – Código de Trânsito Brasileiro, também usa a denominação patrulhamento, definindo-o em seu Anexo I como a “função exercida pela Polícia Rodoviária Federal com o objetivo de garantir obediência às normas de trânsito, assegurando a livre circulação e evitando acidentes”
(BRASIL, 1997).
Já a Lei 9.654/98, que estrutura a carreira dos policiais rodoviários federais, atribui à PRF a competência de policiamento ostensivo de trânsito. Da mesma forma o Decreto Federal 1.655 de 03.10.1995 (BRASIL, 1995) e o Regimento Interno do Departamento de Polícia Rodoviária Federal, aprovado pela Portaria nº 1.375 de 02.08.2007 (Brasil, 2007) do Ministério da Justiça, conferiram a referida instituição às atribuições de policiamento ostensivo de trânsito.
A estrutura da PRF está definida no art. 2º, II, h, do Anexo I do Decreto Federal 6.061 de 15.03.2007 (BRASIL, 2007), que institui o Departamento de Polícia Rodoviária Federal.
1.1.3.3 Polícia Ferroviária Federal
A Polícia Ferroviária Federal (PFF), que também é órgão permanente e estruturado em carreira, tem como atribuição, “na forma da lei, o patrulhamento ostensivo das ferrovias federais”, conforme estabelece o art. 144, § 3º da CRFB (BRASIL, 1988). No que se refere ao conceito de patrulhamento e as competências dele decorrentes, servem aqui as mesmas observações feitas no tópico anterior.
O já citado Decreto Federal 6.061/07 (BRASIL, 2007), que define a estrutura regimental do Ministério da Justiça, no qual há previsão dos Departamentos de Polícia Federal e de Polícia Rodoviária Federal, não há um departamento de Polícia Ferroviária Federal, que chegou a existir na década de 1990.
Os policiais ferroviários federais foram sendo transferidos para outros órgãos do governo federal, especialmente em razão da privatização das ferrovias federais.
No entanto, a Lei 12.462/2011, inseriu o § 8º, no art. 29 da Lei 10.863/2003, especificando que os “profissionais da Segurança Pública Ferroviária oriundos do grupo Rede, Rede Ferroviária Federal (RFFSA), da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) e da Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre (Trensurb) que estavam em exercício em 11 de dezembro de 1990, passam a integrar o Departamento de Polícia Ferroviária Federal do Ministério da Justiça”. Assim, verifica-se que há previsão legal de um Departamento de Polícia Ferroviária Federal, que sequer foi estruturado ou mesmo criado.
1.1.3.4 Polícias Civis
Em seu art. 144, § 4º a Constituição Federal, fixa as competências das polícias civis, estabelecendo o que incumbe a elas, “ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares”(BRASIL, 1988), sendo este o limite das competências desses órgãos policiais estaduais.
Quanto à competência legislativa, as matérias referentes à “organização, garantias, direitos e deveres das polícias civis”, são concorrentes entre a União, os Estados e o Distrito Federal, consoante art. 24, XVI da CRFB, havendo a possibilidade de edição de uma Lei orgânica nacional das polícias civis, o que vem sendo discutido no Congresso Nacional, por meio de projetos de lei nesse sentido. Em razão da inexistência de uma lei orgânica nacional, os Estados exercem competência legislativa plena.
A inexistência da referida lei orgânica, não autoriza os Estados a inovar em relação às competências das Polícias Civis previstas na Constituição, razão pela qual é importante compreender o que significam polícia judiciária e de apuração de infrações penais, aspecto que não poderá mudar perante a atual ordem constitucional.
Se comparada à PF as polícias civis tem um campo de atribuições bem menor, o que deveria ser tratado de forma positiva, pois se elas conseguissem exercer integralmente a atividade de polícia judiciária que lhe compete, focada na apuração de infrações penais, teriam melhores condições de aproveitar seus recursos humanos e materiais.
As polícias civis tendem a tornarem-se órgãos extremamente burocratizados, nos quais as delegacias em muitos casos acabam se tornando verdadeiros cartórios, seja pelo enorme fluxo de registros de ocorrências e termos circunstanciados, seja pelos demorados flagrantes e até mesmo pela obrigação de elaboração do inquérito policial.
Além destas atribuições, muitas polícias civis exercem hoje atividades típicas de polícia administrativa (polícia ostensiva), como concessão de alvarás e fiscalização de determinadas atividades, chegando até mesmo a praticar policiamento ostensivo em suas várias modalidades.
Ressalte-se que disfunções de órgãos policiais não é uma prática exclusiva das polícias civis, pois os outros órgãos policiais e não policiais também se desvirtuam de algumas de suas atribuições.
1.1.3.5 Polícias Militares
As polícias militares têm suas atribuições definidas no art. 144, § 5° da Constituição,
incumbindo-lhes “a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública” (BRASIL, 1988). A falta de compreensão destas competências e seu alcance, têm gerado todo um conjunto de equívocos a respeito do papel destas instituições policiais no Estado Democrático de Direito.
É muito importante que você compreenda o que são polícia ostensiva e preservação da ordem pública. Assim, identificaremos a partir da Constituição e da Lei Orgânica das Polícias Militares - Decreto-Lei 667/69 (BRASIL, 1969) – bem como de seu regulamento Decreto 88777/83- R-200 (BRASIL, 1983), quais são as competências relacionadas a estes dois conceitos.
Inicialmente, é importante não confundir polícia ostensiva (gênero) com policiamento ostensivo (espécie), sendo este um dos propósitos do legislador constituinte ao utilizar a primeira.
Diogo de Figueiredo Moreira Neto define polícia ostensiva como aquela que desenvolve o ciclo completo de polícia administrativa, envolvendo as fases de ordem, consentimento, fiscalização e sanção de polícia. (2005, p. 418).
As atribuiçõesdas polícias militares abrangem tanto os ilícitos administrativos como infrações de trânsito, bem como os ilícitos penais como dirigir embriagado, o que se dá em seus aspectos preventivos e repressivos. Também é importante que você saiba o significado de preservação da ordem pública, que abrange tanto sua manutenção quanto sua restauração. Ao tratar do conceito de preservação da ordem pública, Álvaro Lazzarini (1999, p.105), assevera: A preservação abrange tanto a prevenção quanto a restauração da ordem pública, no caso, pois seu objetivo é defendê-la, resguardá-la, conservá-la íntegra, intacta, daí afirmar-se agora com plena convicção que a polícia de preservação da ordem pública abrange as funções de polícia preventiva e a parte da polícia judiciária denominada de repressão imediata, pois é nela que ocorre a restauração da ordem pública, conforme demonstro na explicação sobre o ciclo de polícia, particularmente nas duas primeiras fases.
No âmbito da legislação infraconstitucional, as corporações policiais militares, tem seu regramento em sua Lei Orgânica Nacional, que é o Decreto-Lei 667/69, o qual detalha as competências relacionadas à polícia ostensiva e de preservação da ordem pública. O R-200 (Decreto 88.777 de 30 de setembro de 1983), que é o regulamento do Decreto-Lei 667 também traz uma série de conceitos relacionados às atividades da polícia militar.
Na realidade coube às Constituições Estaduais e a legislação dos Estados detalhar as competências das polícias militares de acordo com o que estabelece a CRFB em seu art. 144, § 5°.
Observa-se que as polícias militares não atuam em áreas importantes da prevenção, ou atuam de forma restrita. As ações preventivas centram-se muitas vezes no conceito de policiamento ostensivo, deixando-se assim de atuar nas fases da polícia ostensiva que antecedem a fiscalização e a sanção, que seriam a ordem de polícia e o consentimento de polícia. EXEMPLO
Em um jogo de futebol no qual é solicitada a presença da polícia militar, especialmente os da Série A do Campeonato Brasileiro, é fundamental que a polícia militar atue preventivamente na fase de “consentimento” da polícia ostensiva, ou seja, fazendo vistoria no estádio de futebol e concedendo a autorização para o evento, não atuando apenas na fase de “fiscalização” (realizando o policiamento ostensivo). De nada adianta fazer um cordão de isolamento no caso de invasão do gramado durante o jogo (policiamento ostensivo) se houve falha no consentimento (autorização para realização do evento). Assim, verifica-se que a polícia militar, de vocação administrativa, acaba exercendo em algumas de suas atividades, apenas o policiamento ostensivo, que é uma das fases da fiscalização do ciclo completo de polícia administrativa. Muitas infrações penais têm seu nascedouro na execução incompleta ou sem coordenação da polícia ostensiva, como é o caso de estabelecimentos autorizados a funcionar por um órgão policial e fiscalizado por outro.
Conforme se observa, não é muito claro o limite entre as atribuições das instituições policiais, o que acaba provocando invasões de competências de umas instituições policiais em relação às outras, bem como o abandono ou negligência de algumas atribuições constitucionalmente previstas.
Tal problema também é verificado em relação às guardas municipais, que não são instituições policiais, mas que em muitos municípios têm ultrapassado os limites constitucionais, exercendo funções exclusivas de instituições policiais, como a realização de buscas pessoais em abordagens a cidadãos.
SAIBA MAIS A Câmara dos Deputados criou em 2015 a Comissão Especial de Unificação da Polícia
Civil e Militar (CEUNIF), com o objetivo de estudar e apresentar propostas de unificação das polícias civis e militares. Você pode acompanhar os trabalhos da comissão no endereço:
<http://www2.camara.leg.br/atividadelegislativa/comissoes/comissoes-temporarias/especiais/55alegislatura/unificacao-das-policias-civis-e-militares>.
1.1.4 Competências das Guardas Municipais
De acordo com o texto constitucional as guardas municipais podem ser instituídas pelos municípios para “proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei” (Art. 144, § 8º).
A proteção dos bens, serviços e instalações do município, não está inserida nas atividades de policiamento ostensivo, atividade na qual tem se percebido uma atuação mais frequente das guardas.
A justificativa para a atuação das guardas em atividades de policiamento ostensivo estaria no aumento das infrações penais.
O importante de se compreender sob o ponto de vista constitucional, é que as guardas municipais não são instituições polícias, não podendo atuar como tal.
O policiamento ostensivo é uma das modalidades de fiscalização da atividade de polícia ostensiva, que em todos os seus aspectos tem um custo elevado para a maior parte dos municípios brasileiros.
Destaque-se que o a Lei 13.022/2014 (Estatuto Geral das Guardas Municipais), detalhou as atribuições das Guardas Municipais, mas trata-se de legislação infraconstitucional, a qual não pode contrariar o disposto no art. 144, § 8º da Constituição, que não foi alterado, realizar tais atividades policiais sem amparo constitucional, é um atentado a democracia.
1.1.5 Corpos de Bombeiros Militares
Os corpos de bombeiros militares estão inseridos no artigo 144, § 5°, da Constituição, o qual estabelece que cabe a estes “além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil”. Assim, cabe aos corpos de bombeiros militares as atividades de defesa civil, sendo que as demais serão definidas em lei, circunstância que amplia bastante as possíveis atribuições dos corpos de bombeiros militares, dependendo da legislação.
1.1.6 Agentes de trânsito
A partir da Emenda Constitucional n. 82 de 2014, os agentes de trânsito foram incluídos no art. 144 da Constituição Federal. O § 10 do art. 144, incluído pela referida emenda, estabelece:
§ 10. A segurança viária, exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do seu patrimônio nas vias públicas:
I. Compreende a educação, engenharia e fiscalização de trânsito, além de outras atividades previstas em lei, que assegurem ao cidadão o direito à mobilidade urbana eficiente; e
II. Compete, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, aos respectivos órgãos ou entidades executivas e seus agentes de trânsito, estruturados em Carreira, na forma da lei.
Conforme se observa, a segurança viária foi incluída de forma expressa como direito constitucional. No entanto, tal direito já decorria da própria Constituição, especialmente no que se refere aos direitos fundamentais.
A inclusão dos agentes de trânsito no âmbito do texto constitucional teve por objetivo incluí-los dentre os agentes de segurança pública do art. 144 da Constituição, especificando sua competência para o exercício da segurança viária, mas apenas nas vias públicas.
1.2 A responsabilização dos Agentes Públicos civis e militares e suas peculiaridades
De acordo com Celso Antônio Bandeira de Mello os agentes públicos podem ser: agentes políticos, servidores estatais e particulares em colaboração com a administração (2015, p. 229).
Assim, a abordagem quanto à responsabilização será feita tendo em conta os agentes públicos que se enquadram na categoria de servidores estatais, sejam da União, dos Estados ou dos Municípios.
1.2.1 Formas de responsabilização
No exercício de suas funções na área de segurança pública, o servidor estatal pode ser responsabilizado civil, penal e administrativamente, sendo as esferas independentes umas das outras, ou seja, pode ser responsabilizado em apenas uma ou em todas as instâncias.
1.2.1.1 Responsabilidade Civil
A responsabilidade civil decorre do especificado no art. 927 do Código Civil que estabelece: “Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo”.
A definição de ato ilícito está no art. 186 do Código Civil: “Aquele que, por ação ou omissãovoluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”.
No entanto, a responsabilidade do Estado pode ser objetiva, ou seja, sem a necessidade de comprovar se houve dolo (vontade dirigida à obtenção de um resultado criminoso ou o risco de produzi-lo) ou culpa por parte do ente estatal, bastando que o Estado esteja exercendo a atividade da qual decorreu o dano.
Exemplo: Nesse sentido Celso Antonio Bandeira de Mello explica (2015, p. 962):
Dúvida alguma pode prosperar quanto ao cabimento da responsabilização objetiva no caso de atos ilícitos causadores de prejuízo especial e anormal aos administrados.
Assim também no caso de danos oriundos do chamado ‘fato das coisas’, quando as lesões ao patrimônio privado decorrem, por exemplo, de explosões em arsenais públicos ou de modo geral em bens ou serviços a cargo do Estado, ainda que esses sejam devidos a casos fortuitos.
Como exemplo de responsabilidade objetiva do Estado podemos citar a seguinte jurisprudência do Tribunal de Justiça de Santa Catarina:
O policial militar na condição de agente da administração pública, deve exercer sua atividade de forma preventiva e repressiva, no sentido de garantir a segurança da população e a incolumidade física das pessoas, mas não lhe é dado o direito de exceder-se no estrito cumprimento do dever legal. Há direitos fundamentais a serem respeitados. É objetiva a responsabilidade civil do Estado que lhe impõe a obrigação de indenizar os danos morais sofridos por vítima de agressões físicas e morais praticadas por policiais militares sem qualquer respaldo jurídico" (Apelação Cível n. 2014.014769-3, de Chapecó, Relator: Des. Jaime Ramos, 4ª Câm. Dir. Púb., j. 29/05/2014).
Constatando-se que no exercício de suas funções o agente público responsável pelo ato ilícito agiu com dolo ou culpa, surge a possibilidade das ações de regresso contra o agente público, consoante art. 37, § 6º, prevê:
Art. 37......
[...]
§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.
EXEMPLO
Se um policial dirigindo uma viatura, de forma imprudente, provoca um acidente no qual ocorrem apenas danos materiais no muro de uma residência, o proprietário do imóvel prejudicado poderá ingressar com uma ação contra o Estado para indenização do prejuízo sofrido.
Reparado o dano pelo Estado, este pode ingressar com uma ação regressiva contra o servidor para obter o ressarcimento dos valores pagos ao particular, além de cobrar também os prejuízos causados na viatura. O exemplo refere-se apenas à responsabilidade civil.
1.2.1.2 Responsabilidade Penal
	Todos que atuam na segurança pública estão sujeitos à responsabilidade penal decorrente do estabelecido no Código Penal (Decreto-lei 2.848/40) e da legislação penal especial. 
A responsabilidade penal decorre da prática de um fato típico, ilícito e culpável por parte do agente público.
No estudo de crime, fato típico é o primeiro substrato do crime. É um fato humano indesejado, que consiste numa conduta humana voluntária produtora de um resultado que se ajusta formalmente (resultado jurídico) e materialmente (resultado naturalístico) ao tipo penal. Verifica-se a existência de um elo entre a conduta do agente e o resultado. Portanto, nota-se configurado uma relação de causalidade (nexo causal) entre a conduta, que se enquadra perfeitamente ao modelo abstrato de lei penal (tipicidade), e o resultado. Conclui-se que fato típico é composto dos seguintes elementos: conduta, resultado, nexo causal, e tipicidade. Exemplificando: Sujeito A intencionalmente desfere golpes de faca (conduta) em B que vem a falecer (resultado naturalístico), em virtude da conduta de A, a qual se amolda perfeitamente ao modelo em lei art. 121 do Código Penal (tipicidade). O nexo causal ou relação de causalidade é o elo que liga a conduta do agente com o resultado produzido, e, portanto o resultado será imputado ao agente que lhe deu causa, logo A responderá pelo resultado (morte de B).
Tomando ainda emprestado o exemplo acima, imaginemos que B seja socorrido em uma ambulância, e que será pouco provável que se salve, mas no percurso ocorre um acidente e B falece em virtude deste.
Destarte, uma causa superveniente absolutamente independente é a produtora do resultado naturalístico, e portanto, este (morte de B) não poderá ser imputado ao agente, pois não existiu nexo causal ou relação de causalidade (art.13 CP), e, portanto, não há um elo que ligue a conduta do agente ao resultado naturalístico. Porém, o agente responderá de acordo com o amoldamento de sua conduta na Lei Penal (neste caso, uma tentativa).
Sugerimos o seguinte esquema para fixar o que foi estudado:
Quando a conduta do agente der causa a um resultado, ocorrerá o nexo causal ou relação de causalidade e por conseguinte o resultado naturalístico ser-lhe-á imputado.
Quando uma causa for produtora do resultado, não ocorrerá o nexo causal ou a relação de causalidade, portanto o resultado será atribuído à causa, e não ao agente. Entretanto, dependendo do fato, o agente responderá de acordo com o amoldamento de sua conduta na Lei Penal.
Exemplo: um policial ao realizar uma busca pessoal em determinada pessoa que estava em fuga pela prática de um delito, após dominá-la e algemá-la, sem que houvesse necessidade, desfere um potente tapa na orelha da mesma(nexo causal), provocando-lhe lesões corporais com o rompimento do tímpano e fratura no maxilar (resultado naturalístico). Neste caso o policial praticou um fato típico (substrato do crime, Código Penal art. 129 – lesão corporal), ilícito (não havia justificativa para agressão) e culpável (o policial é imputável, conhecia a ilicitude de sua ação e dele se podia exigir outra conduta).
Os militares estaduais (policiais militares e bombeiros militares), além da responsabilidade decorrente do Código Penal e da legislação penal especial, estão sujeitos ao Código Penal Militar – CPM (Decreto-lei 1001/69). Também não cabe aqui uma abordagem aprofundada da responsabilidade penal decorrente da legislação penal militar, bastando compreender que ela é aplicável aos militares estaduais que praticarem um fato típico previsto no CPM e que também seja ilícito e culpável. Exemplo: Policial Militar que exige de indevidamente de particular o valor de R$ 300,00, para liberar um veículo em que o condutor não possuía os documentos de porte obrigatório. Neste caso, o policial militar praticou um ato ilícito (Código Penal Militar, art. 305 – concussão), ilícito (não havia uma justificativa) e culpável (o policial militar é imputável, conhecia a ilicitude de sua ação e dele se podia exigir outra conduta).
Concussão É o crime praticado por funcionário público, em que este exige, para si ou para outrem, vantagem indevida, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela. O crime é punido com pena de reclusão, de dois a oito anos, e multa. Os parágrafos 1º e 2º, do artigo 316, do CP, preveem o excesso de exação, que são as formas qualificadas do delito de concussão, em que se pune mais severamente, com pena de reclusão de três a oito anos e multa, o funcionário que exige tributo ou contribuição social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza. E com pena de reclusão, de dois a doze anos, e multa, aquele que desvia, em proveito próprio ou de outrem, o que recebeu indevidamente para recolher aos cofres públicos.
Fundamentação:
Os tipos concussão e corrupção passiva são capitulados nos arts. 305 e 308 do Código Penal Militar, nos Capítulos III e IV, respectivamente, do Título VII – destinado a tratar dos Crimes Contra a Administração Militar. Evidencia-se o crime de concussão pela exigência, para si ou para outrem,direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, de vantagem indevida, por parte do funcionário público, na espécie, o militar.
A conduta típica é exigir, impor como obrigação, ordenar, reclamar vantagem indevida, aproveitando-se o agente do metus publicae potestatis, ou seja, do temor de represálias a que fica constrangida a vítima. 
Na lição do saudoso professor Julio Fabbrini Mirabete, não é necessário que se faça a promessa de um mal determinado; basta o temor genérico que a autoridade inspira, que influa na manifestação volitiva do sujeito passivo.
Destarte (desse modo), não é necessário que haja uma exigência sob ameaça explícita de represálias (imediatas ou futuras). Também não se faz mister a promessa de infligir mal determinado.
	Assim, observa-se que a intenção do legislador foi a de atestar a antijuridicidade da conduta perpetrada pelo agente funcionário público ímprobo, que, no exercício de sua atividade, ou mesmo fora dela,  fizesse por si ou por terceiros exigências maliciosas para a obtenção de vantagem indevida à sujeito passivo, classificando-se, portanto como um delito pluriofensivo, porquanto responsável por afetar indistintamente tanto Administração Pública em sua moralidade, assim como o próprio  concussionário ou o particular constrangido pela ação delituosa do funcionário ofensor.
Novamente é importante ressaltar que os exemplos deste subitem também podem ensejar responsabilidades civil e administrativa.
1.2.1.3 Administrativa
A responsabilidade administrativa dos agentes públicos que atuam na segurança pública, sempre vai estar vinculada à legislação do ente federativo no qual o servidor exerce suas funções.
No caso dos servidores públicos da União que exercem funções na PRF e na PFF (caso venha a existir), a responsabilidade administrativa está prevista na Lei 8.112/90, que em seus artigos 121, 124 e 125 estabelecem:
Art. 124. A responsabilidade civil-administrativa resulta de ato omissivo ou comissivo praticado no desempenho do cargo ou função.
Observação: Quando o agente faz alguma coisa que estava proibido, fala-se em crime comissivo.
Art. 125. As sanções civis, penais e administrativas poderão cumular-se, sendo independentes entre si.
Conforme se observa, tais agentes públicos de segurança pública da União, respondem por ações ou omissões que correspondam ao exercício irregular de suas atribuições de cunho administrativo, sendo que estas podem ser cumulativas com as sanções civis e penais.
EXEMPLO
Um Policial Rodoviário Federal em serviço, é flagrado dirigindo uma viatura sem cinto de segurança e falando no celular com sua namorada. Tais condutas, além de serem infrações de trânsito previstas no Código de Trânsito Brasileiro, podem ser consideradas infrações administrativas. Assim, o referido agente poderia responder por estes atos em um processo administrativo disciplinar de acordo com o estabelecido no art. 142 a 182 da Lei 8.112/90. Em relação aos Policiais Federais é aplicada a Lei 4.878/65, cujo regramento disciplinar está previsto nos arts. 41 a 57.
No que ser refere aos servidores civis da segurança pública dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, a responsabilidade administrativa está vinculada à legislação do respectivo ente federativo, podendo variar em aspectos específicos, mas devendo sempre estar de acordo com a Constituição Federal.
Com relação aos militares estaduais (policiais militares e bombeiros militares), os regulamentos disciplinares, são próprios das condições peculiares destes agentes públicos. Na maior parte dos regulamentos disciplinares militares há possibilidade de prisão administrativa (prisão e detenção), sendo que muitos seguem o Regulamento Disciplinar do Exército Brasileiro (Decreto Federal 4.346/2002) ou são quase que uma cópia fiel do mesmo.
EXEMPLO
O policial militar que chegar uma hora atrasado para o serviço sem justificativa, provocando com isso graves transtornos às atividades policiais militares, poderá ser punido com uma sanção de 2 dias de prisão administrativa, obedecendo-se, é claro, o devido processo legal no qual devem ser garantidos o contraditório e a ampla defesa.
1.3 A Segurança Pública, a Cidadania e os Direitos Humanos, a garantia dos direitos e a observância dos princípios jurídicos nacionais e internacionais
	O art. 1º da Constituição Federal estabelece como um dos fundamentos da República Federativa do Brasil a cidadania, sendo que em seu texto constitucional e, mais especialmente em seu art. 5º, estão previstos uma série de direitos e garantias fundamentais, que representam bem a consagração dos direitos humanos em nosso sistema jurídico. Assim, as instituições de segurança pública, que são regidas em primeiro lugar pela Constituição Federal, devem estar alinhadas com os ideais dos direitos humanos e, por decorrência, da cidadania.
1.3.1 Cidadania
A definição de cidadania como “direito a ter direitos”, tem sido alterada tendo em vista às gerações de direito, identificando-se em certa época com os direitos civis e políticos (1ª geração), incluindo-se, depois, os direitos socioeconômicos e culturais (2ª geração), para depois também incluir os direitos coletivos dos povos, e coletividades, como o direito ao desenvolvimento, autodeterminação e a paz (3ª geração), sendo que, atualmente, já se fala em uma 4ª geração de direitos, relacionada ao Estado Constitucional da Democracia Participativa, fundando-se na consolidação em benefício “da cidadania/ povo e da cidadania / Nação, concretamente dimensionadas, os direitos da justiça, mediante um Constitucionalismo de normas indistintamente designadas como principiais, principiológicas ou de princípio” (BONAVIDES, 2008, p. 51-52).
Identificando a relação entre direito, cidadania e democracia, Liszt Vieira pontua que “as principais correntes do pensamento político contemporâneo conferem centralidade ao papel do direito e da cidadania na construção de um Estado Democrático” (1998, p. 38).
Na classificação da cidadania em passiva e ativa, a primeira é concebida como aquela que é conferida pelo Estado, na qual o cidadão é passivo em relação a sua aquisição. Já a segunda, é aquela em que o cidadão, ao ser portador de direitos e deveres, é o próprio criador de novos direitos, formando, assim, novas frentes de participação na vida política da sociedade (VIEIRA, 1998).
Nas manifestações da sociedade civil, em busca de sua cidadania ativa, pode haver quebra da ordem pública, sendo este um importante espaço para análise do conceito de cidadania. Liszt Vieira ao tratar do conflito no Estado Democrático de Direito pontua:
Ora, a democracia não é apenas um regime político com partidos e eleições livres. É, sobretudo uma forma de existência social. Democrática é uma sociedade aberta, que permite sempre a criação de novos direitos. Os movimentos sociais, nas suas lutas transformaram os direitos declarados formalmente em direitos reais. 
[...]
Um Estado democrático é aquele que considera o conflito legítimo (1998, p. 39-40).
Alguns dos procedimentos das organizações responsáveis pela segurança pública, nas situações de quebra da ordem, são contrários à amplitude que é dada à cidadania por nossa Constituição Federal, pois ignoram que o conflito é algo comum às sociedades, sejam democráticas ou não. No entanto, nas sociedades democráticas como a nossa, é necessário conceber o conflito como algo legítimo em determinadas circunstâncias e até, como algo importante para provocar mudanças positivas.
Neste contexto, o cidadão é agente efetivo de participação política, que transcende o mero exercício dos direitos civis e políticos, passando a atuar atuando como partícipe no debate e construção de novos direitos.
Por outro lado, este mesmo cidadão deve compreender que esta participação o compromete com uma série de deveres, não somente perante a sociedade, mas também perante o Estado.
Milton Santos ao tratar da realização da cidadania destaca:
Ser “cidadão de um país”, sobretudo quando oterritório é extenso e a sociedade muito desigual, pode constituir, apenas, uma perspectiva de cidadania integral, a ser alcançada nas escalas subnacionais, a começar pelo nível local. Esse é o caso brasileiro, em que a realização da cidadania reclama, nas condições atuais, uma revalorização dos lugares e uma adequação de seu estatuto político (2001, p.113).
A revalorização dos lugares citada pelo autor, de certa forma ocorreu com a retomada de alguns espaços públicos pela sociedade civil a partir da abertura democrática, ocorrida nos anos 1980, mas foi paulatinamente sendo perdida com a urbanização desordenada e consequente aumento da violência, tanto que hoje há determinados locais em que o Estado somente consegue chegar de forma repressiva e em períodos curtos.
O respeito e estímulo pelo exercício da cidadania por parte dos órgãos de segurança pública e seus integrantes, passa por uma correta compreensão do que são direitos humanos e em que medidas estes influenciam (ou deveriam influenciar) as atividades de segurança pública.
O Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (PRONASCI) é um programa de iniciativa do governo federal que tem como objetivo realizar ações de segurança pública para o controle, prevenção e a repressão da criminalidade.
1.3.2 Direitos Humanos
Muitas vezes se confundem os Direitos Humanos com algumas entidades que defendem os direitos de determinados grupos vulneráveis, utilizando-se de forma inadequada uma expressão que têm uma significação muito mais ampla e que representa uma conquista histórica da humanidade.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi aprovada em 10 de dezembro de 1948, pela Assembleia Geral das Nações Unidas. O preâmbulo especifica que a Declaração é proclamada:
“Como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta Declaração, se esforcem, através do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universal e efetiva, tanto entre os povos dos próprios Estados-Membros, quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição” (ONU, 2013).
SAIBA MAIS
Para conhecer a Declaração Universal dos Direitos Humanos acesse o site da Organização das Nações Unidas no endereço: https://nacoesunidas.org/carta/. No mesmo endereço assista a vídeo denominado “Celebrando a Carta da ONU”.
A Constituição Federal de 1988 é um exemplo de positivação de uma série de Direitos Humanos, principalmente em seu Título II que trata “Dos Direitos e Garantias Fundamentais”.
Neste sentido o Art. 5º, § 2º, da Constituição Federal é claro ao afirmar que os direitos e garantias previstos na Constituição Federal “não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou nos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte”. A inserção dos tratados internacionais em nosso ordenamento jurídico se dá através dos preceitos indicados no mesmo Art. 5º, § 3º. Sobre a dificuldade conceitual dos Direitos Fundamentais Ingo Wolfgang Sarlet (2003), observa que “tanto na doutrina, quanto no direito positivo (constitucional ou internacional), são largamente utilizadas (e até com maior intensidade), outras expressões, tais como “direitos humanos”, “direitos do homem”, “direitos subjetivos públicos”, “liberdades públicas”, “direitos individuais”, “liberdades fundamentais” e “direitos humanos fundamentais”, apenas para referir as mais importantes” (2003)
Outro documento internacional importante no contexto dos Direitos
Humanos é Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa Rica) de 1969. No que se refere às entidades internacionais destaca-se também a Organização dos Estados Americanos – OEA, cujo âmbito de atuação é o continente americano. 
No que ser refere à segurança pública destacam-se o Código de Conduta para os Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei, os Parâmetros para a efetiva implementação do Código de Conduta para Agentes Responsáveis pela Aplicação da Lei e os Princípios Básicos sobre a Utilização da Força e de Armas de Fogo pelos Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei.
A Convenção Contra a Tortura e outros Tratamentos ou penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em sua XL Sessão, realizada em Nova York em 10 de dezembro de 1984, é documento de fundamental importância no âmbito das atividades de segurança pública, pelo frequente uso da força pelos integrantes das instituições de segurança pública, sendo que muitas vezes há denúncias a respeito da prática de tortura nestas ações.
Importante destacar que a expressão Direitos Humanos se refere a uma conquista histórica da humanidade, não se delimitando a determinadas entidades, por mais representativas que elas sejam dos Direitos Humanos. Ressaltamos este aspecto porque tais direitos fundamentais são inerentes à condição de ser humano, devendo ser garantidos sem qualquer forma de discriminação, especialmente por aqueles que têm a obrigação de aplicar a lei.
1.3.3 Princípios adotados na área de segurança pública
O Código de Conduta para os Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei foi adotado pela Assembleia Geral das Nações Unidas na sua Resolução 34/169, de 17 de dezembro de 1979.
O Código é dividido em artigos e alguns comentários que prestam informações para facilitar seu uso dentro da estrutura da legislação ou prática nacional.
A título de exemplo, o art. 2º estabelece:
“No exercício das suas funções, os agentes responsáveis pela aplicação da lei devem respeitar e proteger a dignidade humana, mantendo e melhorando os direitos humanos de todos os indivíduos”.
Tal dispositivo já é suficiente para dimensionar a forma de agir dos agentes responsáveis pela aplicação da lei.
O art. 3º ao tratar especificamente do uso da força prevê: “Os Agentes responsáveis pela aplicação da lei podem utilizar a força apenas quando estritamente necessário, e na extensão exigida para o desempenho de seu dever”.
Os Parâmetros para a efetiva implementação do Código de Conduta para Agentes Responsáveis pela Aplicação da Lei, foram adotados pelo Conselho Econômico e Social das Nações Unidas na sua resolução 1989/61, de 24 de maio de 1989.
Os Parâmetros dividem-se em dois itens:
I. Aplicação do Código
A) Princípios Gerais
B) Questões Específicas
II. Implementação do Código
A) Nível nacional
B) Nível internacional
No item I (Aplicação do Código), destaca-se na letra B (Questões Específicas),o subitem 1:
1. Seleção, instrução e treinamento. Deve-se dar importância primordial à seleção, educação e treinamento de agentes responsáveis pela aplicação da lei. Os Governos devem também promover treinamento e instrução por meio de troca proveitosa de ideias nos níveis regional e inter-regional.
No item II (Implementação), destacam-se na letra A (Nível Nacional), os subitens 1 e 2:
1. O código será disponibilizado para todos os agentes responsáveis pela aplicação da lei e as autoridades competentes em sua própria língua.
2. Os Governos deverão divulgar o Código e todas as leis domésticas, colocando-as em vigor para garantir que os princípios e direitos contidos nele sejam conhecidos pelo público em geral.
Em âmbito nacional pode-se citar a Portaria Interministerial 4.226 de 31de dezembro de 2010, que estabelece as Diretrizes sobre o Uso da Força pelos Agentes de Segurança Pública.
No entanto, antes de verificarmos a aplicação dos princípios no Brasil, é importante citar os Princípios Básicos sobre a Utilização da Força e de Armas de Fogo pelos Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei, adotados pelo Oitavo Congresso das Nações Unidas para a Prevenção do Crime e o Tratamento dos Delinquentes, realizado em Havana, Cuba, de 27 de agosto a 7 de setembro de 1999.
Nos princípios verifica-se a existência deDisposições Gerais e Disposições Especiais, sendo ainda abordados temas relativos à manutenção da ordem em caso de reuniões ilegais, à manutenção da ordem entre pessoas detidas ou presas, às habilitações, formação e aconselhamento e, por fim, aos procedimentos de comunicação hierárquica e de inquérito.
No que se refere à manutenção da ordem em caso de reuniões ilegais, é importante citar os Princípios 13 e 14, que estabelecem:
13. Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem esforçar-se por dispersar as reuniões ilegais, mas não violentas sem recurso à força e, quando isso não for possível, limitar a utilização da força ao estritamente necessário.
14. Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei só podem utilizar armas de fogo para dispersarem reuniões violentas se não for possível recorrer a meios menos perigosos, e somente nos limites do estritamente necessário. Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei não devem utilizar armas de fogo nesses casos, salvo nas condições estipuladas no princípio 9.
Em relação à manutenção da ordem entre pessoas detidas ou presas, destaca-se o Princípio 15:
15. Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei não devem utilizar a força na relação com pessoas detidas ou presas, exceto se isso for indispensável para a manutenção da segurança e da ordem nos estabelecimentos penitenciários, ou quando a segurança das pessoas esteja ameaçada.
O Princípio 20, que trata da formação dos servidores de segurança pública, prevê:
20. Na formação dos funcionários responsáveis pela aplicação da lei, os Governos e os organismos de aplicação da lei devem conceder uma atenção particular às questões de ética policial e de direitos do homem, em particular no âmbito da investigação, aos meios de evitar a utilização da força ou de armas de fogo, incluindo a resolução pacífica de conflitos, ao conhecimento do comportamento de multidões e aos métodos de persuasão, de negociação e mediação, bem como aos meios técnicos, tendo em vista limitar a utilização da força ou de armas de fogo. Os organismos de aplicação da lei deveriam rever o seu programa de formação e procedimentos operacionais, em função de incidentes concretos.
Tais princípios são reproduzidos na legislação brasileira, em especial na Portaria Interministerial 4.226 de 31 de dezembro de 2010, que estabelece as Diretrizes sobre o Uso da Força pelos Agentes de Segurança Pública.
Destaca-se no referido texto legal os seguintes itens:
2. O uso da força por agentes de segurança pública deverá obedecer aos princípios da legalidade, necessidade, proporcionalidade, moderação e conveniência.
[...]
12. Os critérios de recrutamento e seleção para os agentes de segurança pública deverão levar em consideração o perfil psicológico necessário para lidar com situações de estresse e uso da força e arma de fogo.
13. Os processos seletivos para ingresso nas instituições de segurança pública e os cursos de formação e especialização dos agentes de segurança pública devem incluir conteúdos relativos a direitos humanos.
Conforme se observa, a correta compreensão dos conceitos de cidadania e Direitos Humanos é essencial para que você possa compreender a importância da aplicação dos princípios internacionais de segurança pública em nossa legislação e, principalmente, na prática das atividades de segurança pública.
ATIVIDADES
01. “Ao iniciar seus estudos sobre segurança pública, a primeira ferramenta a ser analisada é a legislação infraconstitucional, pois somente após conhecer as leis é que você poderá compreender à Constituição Federal”.
Tendo em vista os estudos realizados neste capítulo, é possível afirmar que tal método de estudo está correto? Fundamente sua reposta.
Resposta: sim, pois através da CF podemos saber a competência, área de atuação das polícias e como se divide a segurança pública tudo isso é apresentado no 144 da CF.
02. Ao ser executado um mandado de busca e apreensão na residência de Altenor, suspeito da prática de crimes contra a administração pública, o Policial Federal Baltazar, irrita-se com as risadas irônicas de Altenor e com o fato de não encontrar os documentos descritos no referido mandado. Para provocar ainda mais Baltazar, Altenor faz uma ligação de seu celular e começa a criticar a Polícia Federal, momento em que Baltazar desfere um tapa na mão de Alternor, sendo que o aparelho cai no chão. Não bastasse isso, Baltazar pisoteia o aparelho até destruí-lo.
Embora provocado por Altenor, Baltazar agiu de forma correta? 
De acordo com os estudos realizados sobre a responsabilidade dos agentes públicos que atuam na área de Segurança Pública, indicando se o ato praticado por Baltazar alcança as esferas civil, penal e administrativa.
Resposta: não agiu corretamente, excedeu seu poder de polícia podendo ser responsabilizado administrativa e civil, tendo de reparar o dano causado sem um motivo justo. 
REFLEXÃO
Neste capítulo introdutório sobre os fundamentos jurídicos da atividade de segurança pública, você teve a oportunidade de verificar quais são as bases constitucionais e legais, tanto dos órgãos de segurança pública previstos na Constituição Federal, como das funções exercidas pelos agentes de segurança pública.
Também foi abordada a importante questão da responsabilidade dos agentes de segurança pública por seus atos, analisando-se as esferas civil, penal e administrativa e suas particularidades, aspecto fundamental nas limitações e no alcance das atividades de segurança pública num Estado Democrático de Direito.
No último item foi feita a uma análise da cidadania e dos Direitos Humanos e sua importância na construção de princípios para a área de segurança pública, tanto no âmbito internacional quanto nacional.
A partir destes elementos introdutórios, você já tem ferramentas para compreender como a segurança pública é projetada sob o ponto de vista do direito internacional e do direito constitucional, sendo que nossa realidade nacional, com todas suas desigualdades, muitas vezes não permite que tais projeções de princípios e normas se transformem em realidade.

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