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Como especificar: vidros para fachadas Por Juliana Nakamura (Revista AU, Edição 223 | Outubro/2012) Antes vistos como inimigos da sustentabilidade, vidros para fachadas foram aperfeiçoados e se tornaram mais eficientes. Agora, dependendo da especificação e do projeto, a fachada de vidro pode até contar pontos para a obtenção de selos verdes Até pouco tempo, os arquitetos brasileiros tinham poucas alternativas para compor fachadas envidraçadas. As escolhas recaiam sobre o laminado incolor, que embora muito transparente gera efeito estufa no ambiente; o vidro verde, com desempenho térmico razoável; e o fumê, que filtra a radiação mas bloqueia a luminosidade, deixando os ambientes sem vida. O aperfeiçoamento tecnológico da indústria vidreira e a oferta de mais produtos trouxe mais liberdade, mais desafios aos especificadores e a possibilidade de tornar os edifícios mais eficientes do ponto de vista energético. O resultado: projetos de fachada mais complexos e elaborados. Um exemplo pode ser visto em São Paulo, na torre corporativa Eco Berrini, projetada por Aflalo e Gasperini. Ali, diferentes tipos de vidros foram combinados e inseridos de acordo com as condições de incidência de sol em cada face. A estratégia, conforme revela o arquiteto Roberto Aflalo, foi decisiva para somar pontos para a obtenção do selo Leadership in Energy and Environmental Design (Leed) na categoria Gold. A partir dos vidros duplos insulados (compostos por duas placas de vidro em um caixilho com uma camada de ar no meio), muitos desenvolvimentos visaram a agregar melhores propriedades térmicas às fachadas de vidro. Na Europa foi desenvolvida a tecnologia low-e (low emissivity glass), que reduz a emissividade e permite a entrada de grande quantidade de calor. O material, indicado para captar muita luz, é constituído por Projeto de fachada de Olafur Eliasson para a casa de concertos Harpa, na Islândia camadas óxido metálicas que se integram ao vidro em processos industriais de alto custo, a vácuo e em meio plasmático. Em uma adaptação ao clima do hemisfério sul, o low-e ganhou uma câmara de controle solar, resultando em uma solução que, além de permitir a passagem de luz, possui características refletivas. Segundo a Abravidro, o low-e de controle solar apresenta refletividade externa entre 8% e 10% e transmissão luminosa entre 70% e 80%. Além disso, o material pode ser beneficiado para intensificar suas propriedades energéticas e até conferir características de segurança. O consultor de fachadas Paulo Duarte conta que mais recentemente tornou-se viável dosar as características emissivas e refletivas dos vidros para a situação climática dos trópicos, desenvolvendo materiais seletivos que refletem menos luz e mais calor. Paulo lembra que os produtos seletivos são os que tendem a funcionar melhor em grandes peles de vidro para escritórios no Brasil. Um dos desenvolvimentos recentes nesse sentido é o vidro com capacidade de selecionar o comprimento de onda solar mais benéfico para o conforto luminoso e o controle solar. A tecnologia, utilizada em prédios como o Burj Khalifa, em Dubai, de Skidmore, Owings and Merrill, promete controlar a entrada de calor e de luz nos ambientes internos com redução do efeito espelhado e retenção dos raios ultravioleta. Para atingir esse desempenho, uma camada de PET (politereftalato de etileno) é inserida no meio do vidro laminado aderida entre duas estruturas de PVB (polivinil butiral). Dependendo da necessidade, o material pode ser combinado com vidros comuns, incolores, coloridos e até low-e. Segundo fabricantes, o vidro de espectro seletivo de alta performance chega a apresentar transmissão de calor de 29% e transmissão luminosa de 39%. Um vidro laminado comum apresenta fator solar de 78% e transmissão luminosa de 87%. O custo também é proporcional ao desempenho: os vidros de espectro seletivo mais simples custam a partir de 180 reais/m². "Vidros de controle solar têm custo maior, mas se utilizarmos os programas simuladores que apontam a economia energética proporcionada ou a redução do custo dos equipamentos especificados, a utilização fica mais viável", comenta o arquiteto Frank Siciliano, do escritório Todescan Siciliano Arquitetura. Vidros especiais para fachadas TIPO DE VIDRO PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS Low-iron Vidro confeccionado com baixos teores de ferro, o que assegura maior transparência e neutralidade de cor. Low-e (low emissivity glass) Evita a transferência térmica entre dois ambientes graças a uma fina camada de óxido metálico aplicada em uma das faces. Essa película filtra os raios solares, sem impedir a transmissão luminosa. Vidro autolimpante Produzido a partir de um vidrofloat que recebe uma película com partículas de dióxido de titânio (TiO2). A camada de cobertura quebra as moléculas orgânicas por processo fotocatalítico. Como é um produto hidrofílico (que absorve bem a água), em vez de formar gotículas, a água se espalha igualmente pela superfície do vidro. Vidro duplo ou insulado Pode ser composto por qualquer tipo de vidro (temperado, laminado, colorido, incolor, metalizado e baixo emissivo). Entre os dois vidros, há uma camada interna de ar ou de gás. Dependendo da composição, pode proporcionar isolamento térmico e acústico. Também pode conter uma persiana entre vidros. Vidro serigrafado Após a aplicação de esmalte cerâmico (branco ou colorido), o vidro float passa por têmpera. Depois de fundida a mais de 560oC, a tinta adere à peça, resultando em uma impressão com resistência a riscos e manchas de gordura. Fonte: Abravidro e catálogos de fabricantes ALÉM DO VIDRO De 15 a 85 milhões de toneladas de gás carbônico deixariam de ser lançadas na atmosfera se houvesse um uso maciço de vidros de controle solar em edifícios, segundo estudo da Glass for Europe, associação que reúne os fabricantes de vidros europeus. As entidades que certificam prédios verdes sabem disso, tanto que levam o desempenho do vidro em conta na hora de avaliar o grau de sustentabilidade de um edifício. Quando a preocupação é com a eficiência energética, o principal item a ser observado é o fator solar (FS) que indica a quantidade de calor que o material deixa entrar. "É importante que o FS seja baixo, de 30% a 40%", diz Marcos Casado, gerente técnico do Green Building Council Brasil (GBC). Casado explica que, além da escolha do vidro, toda envoltória é analisada em processos de certificação, pois pode impactar o consumo de energia. Além disso, o vidro pode contribuir para somar pontos na medida em que utiliza matéria-prima regional e conteúdo reciclado, melhora a qualidade ambiental nos interiores (decorrente do aproveitamento da luz natural e da maior conexão entre os espaços internos e externos) e diminui o consumo de água (por suas propriedades autolimpantes). A especificação criteriosa dos vidros pode somar até 20 pontos na conquista de selos verdes como o Leed. A análise de outras estratégias de projeto é igualmente importante para garantir uma fachada envidraçada eficiente. "Também podemos utilizar recursos como abas horizontais e verticais ou brises para sombrear fachadas insoladas", acrescenta Frank Siciliano. Luz natural Para a estação de Metrô Vila Prudente, em São Paulo, o projeto de arquitetura de Luiz Carlos Esteves priorizou o aproveitamento de ventilação e luminosidade naturais. A estação foi construída em três níveis enterrados. Daí a opção pela cobertura e fachada translúcidas. A solução aplicada écomposta por vidro temperado laminado de 12 mm, vidro autolimpante de 6 mm com película de PVB de 1,52 mm, e vidro de controle solar seletivo incolor de 6 mm, os dois últimos também temperados. FICHA TÉCNICA ARQUITETURA Luiz Carlos Esteves EQUIPE Thiago Pontes e Paula Miranda CAIXILHO Avec Design VIDROS Cebrace/Santa Marina - Fanavid CONSTRUÇÃO Andrade Gutierrez Sinfonia em vidro Parte de um plano de revitalização da região portuária de Reykjavik (Islândia), a casa de concertos Harpa chama a atenção pela fachada de vidro com elementos geométricos. O projeto de Olafur Eliasson, em parceria com os arquitetos do escritório Henning Larsen, é inspirado nas colunas de basalto cristalizadas comumente encontradas no país nórdico. O efeito caleidoscópico da fachada foi obtido com o uso repetitivo de módulos geométricos empilháveis de aço e vidro. As peças foram criadas por Eliasson, que há alguns anos vem testando alternativas à fachada cortina. Foram utilizados pelo menos dez tipos de vidros nas quatro fachadas em combinações variadas: coloridos, transparente, dicróico, antirreflexo e refletivo. FICHA TÉCNICA ARQUITETURA Henning Larsen Architects, Batteriid Architects PROJETO DE FACHADA Studio Olafur Eliasson, Henning Larsen Architects CONSULTORIA DE FACHADA Art Engineering, Rambøll, Mannvit, Hnit Verkis Consulting PROCESSADOR DO VIDRO Scholl Glass VIDRO CSG Architectural Glass SILICONE ESTRUTURA L Dow Corning ANO 2011 Combinação dinâmica Certificado com o Leed Gold, o Centro de Medicina Ambulatorial (especificamente o Pavilhão Vichy e Joseph Safra), do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, tem fachada que mistura revestimentos cerâmicos e faixas envidraçadas. A combinação cria um dinamismo que faz referência às venezianas do bloco A, desenhado por Karman, Fiorentini e Wilheim nos anos de 1960. Para não comprometer a eficiência energética do edifício, para a parte translúcida foram utilizados vidros duplos insulados low-e cinza e prata, além de vidro laminado refletivo prata de 10 mm. FICHA TÉCNICA ARQUITETURA Kahn do Brasil CONSTRUÇÃO E GERENCIAMENTO Racional Engenharia CONSULTORIA DE CAIXILHOS QMD VIDROS Glassec Viracon ANO 2009 Eficiência máxima Projetado para obter a certificação Leed, o Eco Berrini, assinado pelo escritório Aflalo & Gasperini, tem fachada que alia vidros especiais e anteparos para garantir bom aproveitamento da luz natural e alto desempenho térmico. As fachadas unitizadas da torre de 32 pavimentos foram projetadas em acordo com as condições de insolação de cada face. Os vidros nas versões opaca e semitransparente aparecem somente nas fachadas leste e oeste, onde o sol incide mais horizontalmente. Já as faces norte e sul apresentam vergas e peitoris abertos. Pelo lado interno, os vidros são protegidos por cortinas do tipo roll-on. Em toda a fachada privilegiou-se a escolha de vidros relativamente transparentes, que combinam boa transmissão luminosa e baixos índices de transmissão de calor. Entre eles, laminado de controle solar cinza com espessuras variando de 10 mm a 16 mm e laminado extraclaro branco de 10 mm. FICHA TÉCNICA ARQUITETURA Aflalo & Gasperini CONSULTORIA DE FACHADAS AEC CONSULTORIA DE ESTUDOS DE VENTOS Laboratório de Aerodinâmica das Construções (LAC) CONSULTORIA GREEN BUILDING CTE VIDROS Glassec Viracon e T2G BRISES T2G CAIXILHOS E ESQUADRIAS Artalum e Confort ANO 2011 VIDRO SELETIVO O HPSS é um vidro espectro seletivo de alta performance com capacidade de selecionar o comprimento de onda solar mais benéfico para o conforto luminoso. Retém raios ultravioleta, controla a entrada de calor e de luz nos ambientes internos com redução no efeito espelhado que impossibilita enxergar o exterior à noite. Nas opções laminado, temperados laminados, curvos e insulados. www.t2g.com.br FIXAÇÃO A Glass Vetro lançou o sistema de fixação Spider Pulmão, no qual a fixação das placas de vidro é feita sem colunas de sustentação. O próprio fixador, composto por quatro hastes de aço inoxidável, suporta peças de vidro de até 500 kg. www.glassvetro.com.br VIDRO IMPRESSO Produzido pela Saint Gobain Glass, o SGG Master- Carré é um vidro com pequenos quadrados em alto relevo que pode ser beneficiado com têmpera, serigrafia, espelhação, curvação e laminação, além de receber pintura a frio e aplicação de películas. Está disponível nas espessuras de 4 mm, 6 mm, 8 mm e 10 mm, e em chapas de até 330 cm x 204 cm. www.saint-gobain.com VIDRO SERIGRAFADO Os vidros serigrafados da Brazilglass possuem as mesmas propriedades de resistência do vidro temperado e, graças a equipamentos de impressão digital, podem receber desenhos, fotos e texturas. A figura escolhida é aplicada sobre uma lâmina de vidro com esmalte cerâmico e submetida ao processo de têmpera. www.brazilglass.com.br VIDRO DUPLO O Insulatto é fabricado com pelo menos duas lâminas de vidro separadas por um perfil de alumínio que forma uma câmara de ar vedada por dupla selagem. Dentro do perfil é aplicado um dessecante que impede a formação de vapor. O produto, oferecido pela Glassec Viracon, pode ser fabricado com vários tipos de vidros, combinando características de acordo com o projeto. www.glassecviracon.com.br FIXAÇÃO O sistema de fixação Spider Glass da Fanavid pode ser utilizado na construção de fachadas, coberturas, divisórias e vitrines. A solução é caracterizada por utilizar vidros furados, parafusados e fixados em quatro pontos com spiders de aço inoxidável ou alumínio. As juntas entre vidros são apenas seladas com silicone para aumento da área transparente. www.fanavid.com VIDRO LOW-E Classificado como low-E, o Sun-Guard Neutral é um vidro que dispõe de alta eficiência energética e baixa emissividade, com transmissão luminosa elevada. O produto, fabricado pela Guardian, pode ser utilizado laminado, insulado, curvado ou temperado. www.guardianbrasil.com.br
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