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2016 Educação Física adaptada E primEiros socorros Prof. Igor de Oliveira Insaurriaga Silva Profª. Paula Dittrich Corrêa Copyright © UNIASSELVI 2016 Elaboração: Prof. Igor de Oliveira Insaurriaga Silva Profª. Paula Dittrich Corrêa Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. SI586e Silva, Igor de Oliveira Insaurriaga Educação física adaptada e primeiros socorros. / Igor de Oliveira Insaurriaga Silva; Paula Dittrich Correa – Indaial: UNIASSELVI, 2016.1,5 225 p.; il. ISBN 978-85-7830-981-7 1.Educação física para deficientes – Brasil. 2.Primeiros socorros - Legislação – Brasil. I. Correa, Paula Dittrich. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 371.904486 III aprEsEntação Prezado(a) acadêmico(a)! Bem-vindo(a) à disciplina de Educação Física Adaptada e Primeiros Socorros. Este Caderno de Estudos foi elaborado com o objetivo de contribuir para a realização de seus estudos e para a ampliação de seus conhecimentos sobre a inclusão de pessoas com deficiência na prática de atividades físicas. Serão abordadas, também, as emergências mais frequentes na prática de atividades físicas, suas causas, sintomatologia, prevenção, tratamento e condições de discernimento de ação nessas situações. Na Unidade 1, você estudará as características da Educação Física Adaptada, enfatizando as diferentes deficiências, suas causas, graus de comprometimento (sensorial, motor e cognitivo) e o processo de inclusão na Educação Física escolar. Verá que ninguém é deficiente, ou portador de deficiência, mas há sim pessoas com deficiência. Conhecerá a história dos Jogos Paraolímpicos e suas modalidades e entenderá a sua importância para as pessoas com deficiência, além de aprender o que é Classificação Funcional e a sua aplicabilidade em cada modalidade paraolímpica. Na Unidade 2, você descobrirá como surgiram os primeiros socorros, compreenderá que o professor de educação física exerce um papel importantíssimo no desempenho e recuperação da saúde de um indivíduo. Também estudará sobre sinais vitais, atendimento pré-hospitalar e ética profissional, com foco no atendimento à vítima. Na Unidade 3, você aprenderá como atuar diante de determinados acidentes relacionados às atividades esportivas, bem como frente a alguns acidentes corriqueiros durante sua atuação profissional, objetivando agilidade, segurança e consciência, a fim de evitar agravamento da saúde da vítima. Nesse contexto, delineamos os assuntos importantes a serem conhecidos e dessa forma, convidamos você a iniciar as atividades, como multiplicador da boa ideia de trabalharmos juntos a educação física. Atenciosamente, Igor de Oliveira Insaurriaga Silva Paula Dittrich Corrêa IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA V VI VII UNIDADE 1 – EDUCAÇÃO FÍSICA E INCLUSÃO ......................................................................... 1 TÓPICO 1 – TIPOS DE DEFICIÊNCIAS, CARACTERÍSTICAS E CAUSAS ............................. 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 AS DEFICIÊNCIAS .............................................................................................................................. 4 2.1 DEFICIÊNCIA AUDITIVA ............................................................................................................. 4 2.2 DEFICIÊNCIA FÍSICA .................................................................................................................... 6 2.3 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL ..................................................................................................... 10 2.4 DEFICIÊNCIA VISUAL .................................................................................................................. 12 3 OUTROS ACOMETIMENTOS .......................................................................................................... 13 3.1 DEFICIÊNCIAS MÚLTIPLAS ........................................................................................................ 13 3.2 SÍNDROMES .................................................................................................................................... 14 3.2.1 Síndrome de Down ................................................................................................................. 14 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 16 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 17 TÓPICO 2 – MOVIMENTO PARAOLÍMPICO ................................................................................. 19 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 19 2 PARAOLIMPÍADAS ............................................................................................................................ 20 3 ESPORTES PARAOLÍMPICOS ......................................................................................................... 21 4 CLASSIFICAÇÃO FUNCIONAL ...................................................................................................... 46 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 60 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 61 TÓPICO 3 – ATIVIDADES FÍSICAS ADAPTADAS ........................................................................ 63 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 63 2 ORIENTAÇÕES METODOLÓGICAS ............................................................................................. 65 2.1 SURDOS ........................................................................................................................................... 65 2.2 DEFICIENTESFÍSICOS .................................................................................................................. 66 2.3 DEFICIENTES INTELECTUAIS .................................................................................................... 66 2.4 CEGOS OU COM BAIXA VISÃO .................................................................................................. 67 3 AVALIAÇÃO MOTORA ..................................................................................................................... 67 4 ATIVIDADES ADAPTADAS ............................................................................................................. 69 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 74 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 84 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 85 UNIDADE 2 – PRIMEIROS SOCORROS NA EDUCAÇÃO FÍSICA ........................................... 87 TÓPICO 1 – ASPECTOS GERAIS DOS PRIMEIROS SOCORROS ............................................. 89 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 89 2 HISTÓRIA E CONTEXTUALIZAÇÃO ............................................................................................ 90 3 CONCEITO ............................................................................................................................................ 92 4 ASPECTOS LEGAIS ............................................................................................................................. 96 sumário VIII 5 ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA EM PRIMEIROS SOCORROS .....99 5.1 ATENDIMENTO INICIAL E CONDUTA .................................................................................... 102 5.2 AVALIAÇÃO PRIMÁRIA ............................................................................................................... 103 5.3 AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA ........................................................................................................ 106 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 108 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 109 TÓPICO 2 – FUNÇÕES VITAIS E PLANEJAMENTO ..................................................................... 111 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 111 2 SINAIS VITAIS ..................................................................................................................................... 112 2.1 PULSO ............................................................................................................................................... 113 2.2 RESPIRAÇÃO ................................................................................................................................... 115 2.3 PRESSÃO ARTERIAL ..................................................................................................................... 117 2.4 TEMPERATURA .............................................................................................................................. 120 2.4.1 Como realizar a leitura do termômetro de mercúrio ........................................................ 121 2.4.2 Classificação da temperatura conforme Oliveira et al. (2007) .......................................... 122 3 IMPORTÂNCIA DA PREVENÇÃO E DO PLANEJAMENTO ................................................... 122 3.1 PLANEJAMENTO ESCOLAR ....................................................................................................... 123 3.2 INSTALAÇÕES ................................................................................................................................ 124 3.3 EQUIPAMENTOS ............................................................................................................................ 125 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 128 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 129 TÓPICO 3 – ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR E ÉTICA ........................................................ 131 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 131 2 EMERGÊNCIA E URGÊNCIA ........................................................................................................... 131 2.1 EMERGÊNCIA ................................................................................................................................ 132 2.2 URGÊNCIA....................................................................................................................................... 134 2.3 DIFERENÇA ENTRE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA ................................................................ 134 3 ÉTICA E ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR ............................................................................. 135 3.1 ÉTICA ................................................................................................................................................ 135 3.2 ÉTICA NO ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR ...................................................................... 136 4 PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA ............................................................................................. 138 4.1 CONCEITO ....................................................................................................................................... 139 4.2 PRINCIPAIS CAUSAS .................................................................................................................... 139 4.2.1 Respiratórias ............................................................................................................................ 139 4.2.2 Cardíacas .................................................................................................................................. 140 4.3 REANIMAÇÃO CARDIORRESPIRATÓRIA ............................................................................. 141 4.3.1 Passos para reanimação de acordo com a Associação American Heart Association (2015) .......142 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 145 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 148 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 149 UNIDADE 3 – EMERGÊNCIAS CIRCUNSTANCIAIS EM PRIMEIROS SOCORROS ........... 151 TÓPICO 3 – PRIMEIROS SOCORROS EM LESÕES ESPORTIVAS ........................................... 153 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 153 2 FRATURAS ............................................................................................................................................ 153 2.1 CONCEITO ....................................................................................................................................... 153 2.2 CLASSIFICAÇÃO ............................................................................................................................155 2.3 SINAIS E SINTOMAS DE FRATURAS ......................................................................................... 156 2.4 COMO SOCORRER ......................................................................................................................... 158 IX 3 HEMORRAGIA ..................................................................................................................................... 159 3.1 IMPORTÂNCIA DO SANGUE...................................................................................................... 159 3.2 CONCEITO DE HEMORRAGIA ................................................................................................... 160 3.3 CLASSIFICAÇÃO ............................................................................................................................ 161 3.4 COMO PROCEDER ......................................................................................................................... 162 3.5 TORNIQUETE .................................................................................................................................. 164 4 FERIMENTOS ....................................................................................................................................... 166 4.1 CONCEITO ....................................................................................................................................... 166 4.2 CLASSIFICAÇÃO ............................................................................................................................ 166 4.2.1 Ferida fechada ......................................................................................................................... 166 4.2.2 Ferida aberta ............................................................................................................................ 168 4.3 COMO PROCEDER ........................................................................................................................ 169 4.4 FATORES QUE INTERFEREM NO PROCESSO DE CICATRIZAÇÃO .................................. 171 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 172 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 173 TÓPICO 2 – PRIMEIROS SOCORROS EM INCIDENTES EMERGENCIAIS ........................... 175 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 175 2 CURATIVO E BANDAGEM............................................................................................................... 176 2.1 CONCEITO E MODO DE APLICAÇÃO...................................................................................... 176 2.2 CUIDADOS PARA CURATIVOS E BANDAGENS .................................................................... 177 2.3 TIPOS DE FERIMENTOS E CURATIVOS .................................................................................... 180 3 QUEIMADURAS .................................................................................................................................. 180 3.1 CONCEITO ....................................................................................................................................... 180 3.2 CLASSIFICAÇÃO ............................................................................................................................ 182 3.3 EXTENSÃO DA LESÃO ................................................................................................................. 183 3.4 COMO PRESTAR SOCORRO ........................................................................................................ 185 4 CHOQUE ELÉTRICO ........................................................................................................................... 186 4.1 INFORMAÇÕES GERAIS SOBRE ELETRICIDADE .................................................................. 186 4.2 EFEITOS NO ORGANISMO .......................................................................................................... 187 4.3 COMO SOCORRER ......................................................................................................................... 188 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 190 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 191 TÓPICO 3 – EMERGÊNCIAS NO AMBIENTE EXTRA HOSPITALAR ...................................... 193 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 193 2 OBSTRUÇÃO DAS VIAS AÉREAS .................................................................................................. 194 2.1 CONCEITO E SINAIS DE ASFIXIA .............................................................................................. 194 2.2 COMO SOCORRER ......................................................................................................................... 194 2.3 CAUSAS PARA OBSTRUÇÃO DAS VIAS AÉREAS.................................................................. 196 2.4 MANOBRA DE HEIMLICH .......................................................................................................... 197 3 DESMAIO .............................................................................................................................................. 199 3.1 CONCEITO ....................................................................................................................................... 199 3.2 CAUSAS DO DESMAIO ................................................................................................................. 199 3.3 SINAIS E SINTOMAS ..................................................................................................................... 200 3.4 COMO SOCORRER ......................................................................................................................... 201 4 INSOLAÇÃO ......................................................................................................................................... 203 4.1 CONCEITO ....................................................................................................................................... 203 4.2 SINAIS E SINTOMAS ..................................................................................................................... 204 4.3 COMO SOCORRER ......................................................................................................................... 205 5 INTOXICAÇÃO .................................................................................................................................... 207 X 5.1 CONCEITO ....................................................................................................................................... 207 5.2 SINAIS E SINTOMAS ..................................................................................................................... 208 5.3 O QUE FAZER .................................................................................................................................. 210 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 212 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 214 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................215 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................... 217 1 UNIDADE 1 EDUCAÇÃO FÍSICA E INCLUSÃO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade, você será capaz de: • conhecer atividades físicas adaptadas para serem aplicadas na escola; • entender a importância e a história dos jogos paraolímpicos; • refletir sobre o deficiente e sua participação nas aulas de Educação Física. Esta unidade está dividida em três tópicos. Ao final de cada um deles, você encontrará atividades que o(a) auxiliará a fixar os conhecimentos estudados. TÓPICO 1 – TIPOS DE DEFICIÊNCIAS, CARACTERÍSTICAS E CAUSAS TÓPICO 2 – MOVIMENTO PARAOLÍMPICO TÓPICO 3 – ATIVIDADES FÍSICAS ADAPTADAS 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 TIPOS DE DEFICIÊNCIAS, CARACTERÍSTICAS E CAUSAS 1 INTRODUÇÃO As pessoas com deficiências possuem algumas características que as impedem (de acordo com a especificidade da deficiência) de movimentar-se com desenvoltura, organizar ou abstrair rapidamente seu pensamento, ou seja, são aquelas que por alguma condição motora, sensorial ou intelectual, são limitadas de viver plenamente, mas é importante que fique bem claro que elas merecem respeito e têm todo o direito de participar de qualquer atividade proposta, desde que sempre respeitando as limitações de cada um. A CIDID (Classificação Internacional das Deficiências, Incapacidades e Desvantagens) propõe uma classificação da conceituação de deficiência que pode ser aplicada a vários aspectos da saúde e da doença, sendo um referencial unificado para a área. Por essa classificação são conceituadas: Deficiência: perda ou anormalidade de estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica, temporária ou permanente. Incluem-se nessas a ocorrência de uma anomalia, defeito ou perda de um membro, órgão, tecido ou qualquer outra estrutura do corpo, inclusive das funções mentais. Representa a exteriorização de um estado patológico, refletindo um distúrbio orgânico, uma perturbação no órgão. Incapacidade: restrição, resultante de uma deficiência, da habilidade para desempenhar uma atividade considerada normal para o ser humano. Surge como consequência direta ou é resposta do indivíduo a uma deficiência psicológica, física, sensorial ou outra. Representa a objetivação da deficiência e reflete os distúrbios da própria pessoa, nas atividades e comportamentos essenciais à vida diária. Desvantagem: prejuízo para o indivíduo, resultante de uma deficiência ou uma incapacidade, que limita ou impede o desempenho de papéis de acordo com a idade, sexo, fatores sociais e culturais. Caracteriza-se por uma discordância entre a capacidade individual de realização e as expectativas do indivíduo ou do seu grupo social. Representa a socialização da deficiência e relaciona-se às dificuldades nas habilidades de sobrevivência. UNIDADE 1 | EDUCAÇÃO FÍSICA E INCLUSÃO 4 Na CIDID evitou-se utilizar a mesma palavra para designar as deficiências, incapacidades e desvantagens. Assim, para uma deficiência foi adotado um adjetivo ou substantivo, para uma incapacidade, um verbo no infinitivo e para uma desvantagem, um dos papéis de sobrevivência no meio físico e social (AMIRALIAN et al., 2000). TABELA 1 - DISTINÇÃO SEMÂNTICA ENTRE OS CONCEITOS FONTE: AMIRALIAN et al., 2000 Para que haja a plena inclusão dos alunos com deficiência nas aulas de Educação Física concordamos com SOLER (2006, p. 14) quando afirma que o professor precisa entender “a diferença entre adestramento e educação”, ou seja, independentemente de ser ou não deficiente, a criança deverá construir seu próprio saber e nunca realizar uma atividade de forma mecânica, com fim em si mesma. Nesta unidade, buscaremos aprofundar os conhecimentos sobre os tipos de deficiências, suas características principais e o que pode causá-las. 2 AS DEFICIÊNCIAS 2.1 DEFICIÊNCIA AUDITIVA A comunicação é uma necessidade básica de sobrevivência de todos os indivíduos, possibilita vários acontecimentos, como a interação social. O homem está sempre se comunicando, seja através da linguagem verbal, gestual ou corporal, mas de alguma maneira está se relacionando com o outro, expondo sua opinião, seus sentimentos compartilhando emoções e, dessa forma, vivendo a realidade de um mundo que necessita das relações interpessoais. Conforme BORDENAVE (1987, p. 9): “A comunicação confunde-se, assim, com a própria vida. Temos tanta consciência de que comunicamos, como de que respiramos ou andamos”. TÓPICO 1 | TIPOS DE DEFICIÊNCIAS, CARACTERÍSTICAS E CAUSAS 5 TABELA 1 - DISTINÇÃO SEMÂNTICA ENTRE OS CONCEITOS 2 AS DEFICIÊNCIAS 2.1 DEFICIÊNCIA AUDITIVA Para que a boa comunicação e o relacionamento com os demais aconteçam, o ser humano precisa vivenciar, durante o seu desenvolvimento, diferentes formas de expressão, ter oportunidades de se relacionar, de manter contato, enfim, de movimentar-se e, de alguma maneira, comunicar-se no meio em que vive. A comunicação humana é muito rica em suas diferentes formas e meios, ou seja, o ser humano comunica até mesmo em silêncio, pois o seu corpo está servindo como instrumento desta comunicação de si para os outros ou para ele mesmo, e essas situações com significados é que tornam a comunicação humana interessante e necessária na vida das pessoas. A transmissão e compreensão de mensagens e estímulos ocorrem diferentemente entre as pessoas. Muitas vezes nos expressamos querendo transmitir algo, porém obtemos diferentes respostas ao que realmente pensamos e queremos dizer, pois a comunicação também depende da interpretação de cada um. Os indivíduos, ao se comunicarem, utilizam diferentes formas de expressão. Formas que podem ser comuns a todos, denunciar o grupo a qual pertencem, ou ainda, caracterizar a individualidade de cada um. Resumindo, o processo de comunicação é uma experiência entre quem transmite e quem recebe uma determinada informação, onde ambos utilizam significados comuns, como signos, símbolos, fala, gestos etc. Agora que já entendemos a importância da comunicação para os humanos, vamos falar sobre as pessoas que apresentam dificuldades na comunicação oral e dependem da linguagem de sinais para uma plena comunicação, infelizmente limitada às outras pessoas que necessariamente devem ter conhecimento desta linguagem. Deficiência auditiva é a perda total, ou parcial, na condução ou percepção de sinais sonoros (DIEHL, 2006). Conforme ROSADAS (1989), considera-se, em geral, que a audição normal corresponde à habilidade para detecção de sons até 20 decibéis (dB). A surdez é classificada em leve, média, severa e profunda, como podemos observar no Quadro 1. UNIDADE 1 | EDUCAÇÃO FÍSICA E INCLUSÃO 6 QUADRO 1 - CLASSIFICAÇÕES DA SURDEZ Classificação Perda da audição Características Surdez Leve 20-40 dB A criança se mostra insegura, desatenta, ansiosa, mas capaz de adquirir a linguagem sem complicações. Surdez Média 40-70 dB A criança não compreende a fala, requer repetição ou auxílio da visão, necessita atendimento especializado. Surdez Severa 70-90 dB Nestes casos, a criança necessita de escola ou classe especial para aquisição da linguagem básica, precisa de auxílio de um intérprete educacional. Surdez Profunda > 90 dB Há extrema dificuldade para compreender a voz humana e necessita de reeducação auditiva, além do exposto para a surdez severa. FONTE: O autor ROSADAS (1989) destaca, como principais causas: ■ Período Pré-natal – alterações genéticas, rubéola, caxumba, sarampo. ■ Período Neonatal – fator Rh incompatível, circular de cordão umbilical, parto demorado ou com contrações intensas intrauterinas; ■ Período Pós-natal – sífilis, meningite, traumatismos locais, viroses.2.2 DEFICIÊNCIA FÍSICA Podemos conceituar a deficiência física como um comprometimento limitador, nos diferentes níveis de intensidade e localização, os movimentos de um indivíduo. Esse comprometimento pode ser em consequência de fatores de origem congênita ou adquirida. Segundo Diehl (2006, p. 92), deficiência física é: [...] algum tipo de comprometimento para a realização dos padrões motores esperados. Essa dificuldade em executar os padrões motores pode acarretar comprometimento ou a não realização de alguns movimentos como: caminhar, correr, saltar, manipular coordenadamente objetos e movimentos de estabilização do corpo. A deficiência física pode ser de origem neurológica ou de origem ortopédica, conforme os quadros a seguir: TÓPICO 1 | TIPOS DE DEFICIÊNCIAS, CARACTERÍSTICAS E CAUSAS 7 QUADRO 2 - ORIGEM NEUROLÓGICA FONTE: O autor QUADRO 3 - ORIGEM ORTOPÉDICA FONTE: O autor A origem principal de deficiências físicas no Brasil é de cunho social, ou seja, as deficiências adquiridas em: [...] acidentes de trânsito, acidentes de trabalho, devido principalmente à falta de condições adequadas ao trabalho, à negligência dos trabalhadores quanto ao uso de equipamentos de segurança; erros médicos, embora de difícil constatação e comprovação; poliomielite, apesar de as campanhas de vacinação diminuírem sensivelmente este tipo de doença; violência urbana como tiros e uso de outras armas; desnutrição, quando ocorre na infância ou em períodos de gestação. Tais causas podem conduzir o indivíduo à restrição total ou parcial dos seus movimentos expressivos e funcionais e à necessidade de adaptações específicas para a realização dos mesmos. (DIEHL, 2006, p. 92). UNIDADE 1 | EDUCAÇÃO FÍSICA E INCLUSÃO 8 É possível classificar a deficiência física conforme o aparecimento, a etiologia, a localização e a origem e, portanto, abordá-la de diversos ângulos (SANCHÉZ,1990). É importante conhecer as diversas classificações, pois elas definirão a condição motora para as atividades físicas e esportivas. Pode-se ainda considerar, para a classificação, os segmentos do corpo afetados (monoplegia, diplegia, triplegia, tetraplegia, hemiplegia e dupla hemiplegia); ou o grau de comprometimento do quadro (leve, moderado e severo). O conhecimento dessas classificações é importante, pois será utilizado no esporte adaptado. O desconhecimento do quadro clínico leva à tendência de enquadrar a criança com paralisia cerebral como deficiente mental. Isso ocorre, muitas vezes, em razão da aparência que a criança apresenta (DUARTE; ARAÚJO, 2002, p. 31). As definições auxiliam o profissional no trabalho junto às pessoas com deficiência física, na escolha de atividades que elas possam fazer, de acordo com seu potencial remanescente, sua eficiência, que dependerá de sua força de vontade e autonomia. Infelizmente, lesões no sistema nervoso central, como cérebro e medula, podem levar a graves sequelas, até o momento, irreversíveis. As deficiências físicas de origem cerebral são causadas por lesões ocorridas no cérebro que afetam diferentes segmentos do corpo, causando monoplegia quando afetam um membro; diplegia quando afetam dois membros; triplegia se afetarem três membros; quando atingem quatro membros, será quadriplegia; e hemiplegia, quando todo um lado do corpo é atingido. Em relação ao membro/segmento afetado, o comprometimento pode variar conforme o grau: leve, quando a pessoa consegue realizar movimentos quase na sua perfeição; moderado, quando há necessidade de alguma forma de auxílio; e severo, se a pessoa se torna dependente em função do comprometimento. As lesões mais comuns são a paralisia cerebral e os traumatismos cranioencefálicos. A paralisia cerebral (PC) é uma lesão que afeta o Sistema Nervoso Central (SNC) antes que seu desenvolvimento tenha se completado, causando uma desordem motora e sensitiva na movimentação ampla e fina do corpo. Segundo Adams (1985, p. 80): "Essa alteração frequentemente é complicada pela ocorrência de convulsões, alterações do comportamento ou retardo mental". As PCs mais comuns são subdivididas em três tipos: espástica, atetoica e atáxica. Espástica: quando há uma desordem no movimento voluntário, o que faz com que todo o corpo participe de um movimento que, normalmente, envolveria apenas uma parte do corpo. Pode agravar-se conforme o estado emocional. Atetoica: reflexo que causa um movimento involuntário do corpo, até mesmo quando em repouso. TÓPICO 1 | TIPOS DE DEFICIÊNCIAS, CARACTERÍSTICAS E CAUSAS 9 Atáxica: distúrbio motor que causa problemas na postura e na coordenação motora, causando dificuldades no equilíbrio e na percepção tátil. Raramente ocorre em estado puro. É caracterizada pela falta de coordenação da atividade ou função, ou ambas, por causa do distúrbio do senso cinestésico. O atáxico tem de se concentrar para não cair e sua marcha assemelha-se àquela de uma pessoa intoxicada. Na maioria dos casos, o tônus muscular é fraco. O grau de envolvimento na paralisia cerebral determina as capacidades do movimento e a capacidade funcional. As atáxicas são classificadas de acordo com as extremidades afetadas: MONOPLEGIA: é um membro comprometido, é raro, pode ser a perna ou braço. PARAPLEGIA: quando a paralisia afeta apenas os membros inferiores; podendo ter como causa resultante uma lesão medular torácica ou lombar. Este trauma ou doença altera a função medular, produz como consequências, além de déficits sensitivos e motores, alterações viscerais e sexuais. HEMIPLEGIA: somente um lado do corpo é comprometido. Pode ser mais afetado o membro superior ou inferior. DIPLEGIA: envolvimento de ambas as pernas, com leve envolvimento dos braços, pode o lado direito ou esquerdo se mais comprometido. TRIPLEGIA: três membros, com frequência as duas pernas e um braço. É raro porque a lesão é sempre difusa. TETRAPLEGIA ou QUADRIPLEGIA: quatro membros acometidos, as pernas geralmente espásticas e os braços discinéticos. O traumatismo cranioencefálico é um outro tipo de lesão no cérebro que afeta o SNC, provocada por trauma ou Acidente Vascular Cerebral (AVC). Pode causar hemiplegia, afasia (dificuldade da fala), comportamento social e emocional alterados. É adquirido e ocorre após os três meses de idade. De acordo com Sanchéz (1990), as causas mais comuns são acidentes domésticos como quedas e golpes; acidentes de trânsito ou de outra natureza. Segundo o autor, suas características são variadas, pois dependem da região lesionada, da gravidade, da combinação com outros traumatismos, da duração e profundidade da perda da consciência. Os aspectos comumente apresentados são lentidão gestual e intelectual e movimentos involuntários, parecidos com os movimentos dos atetoicos ou dos atáxicos. Além de afetar o cérebro, as lesões do SNC podem também afetar a medula, causando um traumatismo raquimedular. UNIDADE 1 | EDUCAÇÃO FÍSICA E INCLUSÃO 10 As deficiências de origem medular são causadas por lesões na região da coluna medular, afetando a sensibilidade o controle motor ou ambos. Pode ocorrer na coluna cervical, torácica, lombar ou sacral. As lesões podem ser originadas pela poliomielite, espinha bífida, degeneração ou traumatismos. NOTA Você poderá encontrar mais informações sobre poliomielite, espinha bífida, degeneração e traumatismos na trilha da disciplina. Há tipos de degeneração progressiva da musculatura, de origem genética ligada ao sexo. A forma mais comum é a denominada distrofia muscular de Duchenne, distúrbio recessivo ligado ao cromossomo X. Na origem osteoarticular, as malformações congênitas podem ocorrer durante a gestação ou no momento do nascimento, variando desde a ausência da parte distal até a ausência total do membro afetado. A ausência do membro ou parte dele pode sercausada por toxicidade de medicamentos como a talidomida. Outra forma de malformação congênita é a rigidez articular, em que há calcificação de articulações, de tal forma que o indivíduo perde a mobilidade das áreas atingidas. A amputação é uma lesão ósseo muscular adquirida, em geral, por algum trauma que afeta o sistema nervoso periférico, causa sequelas graves e leva à necessidade da retirada do membro um pouco acima da lesão, como medida de segurança, para garantir a saúde do indivíduo. 2.3 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Deficiência intelectual pode ser caracterizada pelo inferior funcionamento intelectual, geralmente abaixo da média, que, juntamente com déficits no comportamento adaptativo, manifesta-se no período de desenvolvimento. É a condição na qual o cérebro está impedido de atingir um desenvolvimento adequado, dificultando a aprendizagem no indivíduo, privando-o de adaptação social. Segundo Almeida (2004), deficiência intelectual é o estado de diminuição evidente do funcionamento intelectual expressivamente abaixo da média, acompanhado de limitações em, pelo menos, dois aspectos do funcionamento adaptativo: comunicação; cuidados pessoais; competências domésticas; habilidades sociais; utilização dos recursos comunitários; autonomia; saúde e segurança; aptidões escolares; lazer; trabalho. TÓPICO 1 | TIPOS DE DEFICIÊNCIAS, CARACTERÍSTICAS E CAUSAS 11 Podemos, também, caracterizar o deficiente intelectual como um indivíduo que apresente seu Quociente de Inteligência (QI) inferior a 70. De acordo com Diehl (2006), para que um indivíduo seja diagnosticado como deficiente intelectual, todos os aspectos citados acima devem ocorrer, impreterivelmente, durante seu desenvolvimento infantil. A tendência atual é de não classificar por QI, por serem esses testes muito específicos e, por isso, limitados. Devemos sempre levar em conta o histórico de cada aluno, o meio onde vive, a maneira como é tratado e os estímulos que recebe. Podemos encontrar crianças ou adolescentes com o mesmo QI e respostas comportamentais muito diferentes. Ou seja, alguns conseguem articular e organizar o pensamento conforme as tarefas propostas e outros, com o mesmo QI, não apresentam iniciativa de respostas comportamentais. A deficiência intelectual pode ser classificada em seis áreas, conforme a etiologia (Diehl, 2006): 1) genéticas; 2) complicações pré-natais; 3) complicações no parto; 4) complicações pós-natais; 5) socioculturais e 6) desconhecidas. Nesta unidade serão relacionadas aquelas que apresentam maior incidência. 1) Genéticas – Apresentam-se sob duas formas: aquelas geradas por desordem bioquímica, como a fenilcetonúria e a galactosemia e aquelas com aspecto de desordem cromossômica, como a Síndrome de Down, a Síndrome de Rett e a Síndrome do X Frágil. 2) Complicações pré-natais – No período entre a concepção até o início do trabalho de parto, o feto não é imune aos fatores exógenos. Sendo assim, pode ser afetado por determinados hábitos e ações da mãe ou, ainda, por doenças por ela contraídas. As complicações pré-natais podem ser causadas pela ação de raios X durante o período de gestação, ingestão de drogas e álcool pela mãe no período gestatório, doenças adquiridas pela mãe e que passam ao feto, tais como rubéola e infecções hepáticas. É muito importante que a futura mãe tenha boa assistência médica durante a gestação, pois muitos riscos podem ser minimizados através de cuidados médicos. 3) Complicações no parto – O período perinatal corresponde ao início do trabalho de parto e vai até o 30° dia de vida do bebê. Os problemas decorrentes deste período são relacionados à prematuridade, que ocasiona o baixo peso (PIG – Pequeno para a Idade Gestacional); má assistência no momento do parto, que pode ocasionar traumas ao bebê; hipóxia ou anóxia e icterícia grave do recém- nascido. 4) Complicações pós-natais – As complicações pós-natais são aquelas que incidem do 30° dia de vida até o final da adolescência e podem ser causadas por desnutrição ou desidratação grave; carência de estimulação global; infecções UNIDADE 1 | EDUCAÇÃO FÍSICA E INCLUSÃO 12 como encefalites, febres altas que podem destruir as células cerebrais, e meningite, resultante do ataque de bactérias que causam danos ao sistema nervoso central; intoxicações exógenas (envenenamento) por remédios, inseticidas, produtos químicos (chumbo, mercúrio); acidentes, tais como de trânsito, afogamento, choque elétrico, quedas etc. Ou infestações como a neurocisticercose. UNI Ainda podemos citar as complicações socioafetivas, que são problemas decorrentes da insuficiência de estímulos sensoriais nos primeiros anos de vida, além de fatores que não podem ser atribuídos a nenhum dos acima relacionados. Muitas das causas podem ser evitadas através dos exames pré-natais. 2.4 DEFICIÊNCIA VISUAL De acordo com DIEHL (2006 apud CHIVIACOWSKY et al., 2009) deficiente visual é um indivíduo com redução ou incapacidade total de ver com o melhor olho, mesmo após o uso de correção ótica (recursos como óculos ou lente de contato). Para uma pessoa ser considerada com comprometimento visual, além de apresentar um comprometimento em relação à acuidade visual, ela deverá ter seu campo visual restrito. São consideradas com baixa visão as pessoas que possuem resquícios visuais, mas que necessitam utilizar recursos de orientação; são consideradas cegas aquelas que não possuem capacidade total de ver a qualquer distância e, apesar de distinguir a luminosidade, não distinguem as formas. Segundo Diehl (2006), nós podemos classificar a deficiência visual em leve, moderada, severa, profunda (visão subnormal ou baixa visão) e ausência total da resposta visual (cegueira). Sob o enfoque educacional, os cegos são indivíduos que apresentam desde ausência total da visão até a perda da projeção de luz. Seu processo de aprendizagem se dará com o uso dos sentidos remanescentes (tato, audição, olfato e paladar), utilizando o sistema Braille como meio de leitura e escrita. Já os indivíduos com baixa visão preservam algum resquício de sua acuidade visual para a percepção de luz, vultos, letras etc. Apesar de utilizar recursos específicos, seu processo educativo se dará, preferencialmente por meios visuais. TÓPICO 1 | TIPOS DE DEFICIÊNCIAS, CARACTERÍSTICAS E CAUSAS 13 2.4 DEFICIÊNCIA VISUAL As causas podem ser congênitas ou adquiridas, de fatores genéticos e ambientais. Nem todas as anomalias visuais congênitas resultam de fatores genéticos, muitas são resultantes de fatores ambientais que atuam no feto, como radiação (mãe exposta a raio x), doenças infecciosas, alcoolismo e uso de drogas em geral (lícitas ou não). Os principais acometimentos que ocasionam a cegueira são: - Glaucoma. - Retinose pigmentar. - Retinoblastoma. - Retinopatia da prematuridade. - Retinopatia diabética. - Degeneração macular senil. - Rubéola (até os três meses de gestação). - Outras infecções neonatais: sarampo, quando ocorre lesão da retina e a prematuridade. 3 OUTROS ACOMETIMENTOS Além das deficiências supracitadas, existem diversos acometimentos que poderão dificultar o pleno desenvolvimento dos indivíduos, como as deficiências múltiplas (surdocegueira), síndromes (Down, Rett), transtornos do desenvolvimento (TDAH, autismo, Asperger) e transtornos psíquicos (pânico, esquizofrenia, desordem obsessiva compulsiva (DOC), depressão e distúrbio bipolar). 3.1 DEFICIÊNCIAS MÚLTIPLAS O Ministério de Educação do Brasil define a deficiência múltipla como: O termo deficiência múltipla tem sido utilizado com frequência, para caracterizar o conjunto de duas ou mais deficiências associadas, de ordem física, sensorial, mental, emocional ou de comportamento social. No entanto, não é o somatório dessas alterações que caracterizam a múltipladeficiência, mas sim o nível de desenvolvimento, as possibilidades funcionais, de comunicação, interação social e de aprendizagem que determinam as necessidades educacionais dessas pessoas. (GODÓI, 2006, p. 11). UNIDADE 1 | EDUCAÇÃO FÍSICA E INCLUSÃO 14 3.1.1 Surdocegueira Pessoa surdocega é "aquela que tem uma perda substancial da visão e da audição, de tal forma que a combinação das duas deficiências cause extrema dificuldade na conquista de metas educacionais, vocacionais, de lazer e sociais", como consta nos documentos da I Conferência Mundial Helen Keller sobre serviços para os surdocegos jovens e adultos. Segundo informações do Instituto Benjamim Constant, do Rio de Janeiro, o comprometimento simultâneo de ambos os sentidos varia de pessoa para pessoa. Alguns surdocegos têm audição residual e até a fala, nos casos em que a surdez evoluiu depois de o indivíduo já ter adquirido a linguagem oral (os chamados "pós-simbólicos"). Os casos mais graves são os "pré-simbólicos", de surdocegueira congênita ou adquirida antes da aquisição da linguagem. Estes, sem dúvida, precisam de mais atenção para desenvolver formas alternativas de comunicação. FONTE: Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/formacao/surdo-cegueira-deficiencia- multipla-inclusao-636397.shtml>. Acesso em: 13 jan. 2016. 3.2 SÍNDROMES Síndrome é o nome que se dá a uma série de sinais e sintomas que, juntos, evidenciam uma condição particular. A síndrome de Down, por exemplo, engloba deficiência intelectual, baixo tônus muscular (hipotonia) e dificuldades na comunicação, além de outras características, que variam entre os atingidos por ela. FONTE: Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/formacao/aprender-superar-511027. shtml>. Acesso em: 13 jan. 2016. 3.2.1 Síndrome de Down A síndrome de Down é um distúrbio genético que ocorre ao acaso durante a divisão celular do embrião. Esse distúrbio ocorre, em média, em 1 a cada 800 nascimentos e tem maiores chances de ocorrer em mães que engravidam quando mais velhas. É uma síndrome que atinge todas as etnias. Em uma célula normal da espécie humana existem 46 cromossomos divididos em 23 pares. A pessoa que tem síndrome de Down possui 47 cromossomos, sendo que o cromossomo extra é ligado ao par 21 (MORAES, 2016). TÓPICO 1 | TIPOS DE DEFICIÊNCIAS, CARACTERÍSTICAS E CAUSAS 15 IMPORTANT E O problema ortopédico mais conhecido em crianças com síndrome de Down é a instabilidade atlantoaxial, que significa um movimento maior do que o usual entre a primeira e a segunda vértebra do pescoço. Estima-se que 15% das crianças com síndrome de Down apresentem essa condição. A instabilidade atlantoaxial é uma preocupação por causa do risco presumido de danos na espinha dorsal, caso uma das vértebras pressione a mesma. De acordo com as Diretrizes de Atendimento à Pessoa com Síndrome de Down do Ministério da Saúde, independentemente de um diagnóstico prévio, todas as crianças com síndrome de Down devem realizar um exame de raio-X da coluna cervical aos três e aos dez anos para identificar se existe instabilidade atlantoaxial e deve evitar atividades que coloquem pressão sobre o pescoço, como mergulho, ginástica olímpica e esportes de contato, como basquete e futebol, por exemplo. FONTE: Disponível em: <http://www.movimentodown.org.br/2013/01/questoes- ortopedicas-2/>. Acesso em: 14 jan. 2016. 16 Neste tópico, você estudou que: • Podemos definir a deficiência como a perda ou anormalidade de estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica, temporária ou permanente. Incluem-se nessas a ocorrência de uma anomalia, defeito ou perda de um membro, órgão, tecido ou qualquer outra estrutura do corpo, inclusive das funções mentais. • A deficiência auditiva é a perda total, ou parcial, na condução ou percepção de sinais sonoros. • A deficiência física como um comprometimento que limita, nos mais diferentes níveis de intensidade e localização, os movimentos de um indivíduo. • A deficiência intelectual pode ser caracterizada pelo inferior funcionamento intelectual, geralmente abaixo da média, que, juntamente com déficits no comportamento adaptativo, manifesta-se no período de desenvolvimento. • Deficiente visual é um indivíduo com redução ou incapacidade total de ver com o melhor olho, mesmo após o uso de correção ótica. • Além das deficiências supracitadas, existem diversos acometimentos que poderão dificultar o pleno desenvolvimento dos indivíduos, como as deficiências múltiplas (surdocegueira), síndromes (Down, Rett), transtornos do desenvolvimento (TDAH, Autismo, Asperger) e transtornos psíquicos (pânico, esquizofrenia, desordem obsessiva compulsiva (DOC), depressão e distúrbio bipolar). RESUMO DO TÓPICO 1 17 1 Quais atividades um aluno com Síndrome de Down, que apresenta diagnóstico de instabilidade atlantoaxial, não poderá realizar nas aulas de educação física? 2 Cite duas causas para cada deficiência a seguir: a) Auditiva: b) Física: c) Intelectual: d) Visual: AUTOATIVIDADE 18 19 TÓPICO 2 MOVIMENTO PARAOLÍMPICO UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO O esporte é um bem cultural e um direito de todos. Os deficientes como todos os outros, podem e devem praticar esportes. Muitas modalidades esportivas são adaptadas às suas peculiaridades, com o objetivo de lhes oferecer os benefícios trazidos pelo esporte: o desenvolvimento de uma autoimagem positiva, a utilização de capacidades ainda não conhecidas, a autorrealização, a melhoria da saúde, uma autonomia maior e a interação social e cultural. Existem várias modalidades, competitivas ou não, a que os deficientes podem se dedicar. Os Jogos Paraolímpicos são uma expressão internacional importante na valorização do esporte adaptado. O estímulo ao desenvolvimento da prática esportiva pelos deficientes deve romper duas barreiras: a falta de conhecimento e o preconceito. UNI Paralímpicos ou Paraolímpicos? Novembro de 2009, época em que foi divulgado o evento Rio 2016 – “Jogos Paralímpicos” que ocorrerão em 2016. Constatamos, disso não resta nenhuma dúvida, embora não tenhamos nos atentado para o fato de que a vogal “o” foi suprimida da palavra “Paraolímpicos”. Daí, usuários desse precioso idioma que somos, sentimo-nos questionados: mais uma vez a língua estaria sendo maltratada? Há rumores de que o VOLP tão logo passará a registrar a nova forma, pois somente assim teríamos ciência de que o termo, em questões formais, estaria sendo registrado. Prosseguindo com o impasse, as discussões parecem ganhar ainda mais vivacidade, restando saber as reais intenções de tal fato. A resposta parece emergir quase que de forma imediata, uma vez que para o CPB (Comitê Paralímpico Brasileiro), fundado desde 1995, a nova mudança operou-se no intuito de o Brasil se igualar mundialmente aos demais países. Assim, diante de tais intenções, estaria o Comitê seguindo adiante e deixando para trás o esquecido “o” de épocas e épocas de permanência, vindo a se transformar em Comitê Paralímpico Brasileiro? Ao contextualizarmos essa questão, tudo parece estar perfeitamente nítido, haja vista que não há nada que contradiga: o fato é que tudo isso nada mais é do que o reflexo da globalização sobre a nossa língua, de cujas origens não podemos discordar. Nesse sentido, é bom que se diga que a palavra “paraolímpico” resultou da junção do prefixo de origem grega para (de paraplegia) com o adjetivo olímpico, semelhantemente a tantas outras palavras que compartilham nosso cotidiano linguístico. UNIDADE 1 | EDUCAÇÃO FÍSICA E INCLUSÃO 20 O que se percebe é que, vivenciando fatos norteados por um estilo amplamente sincrônico da língua, precisamos nos conscientizar de que somente o tempo dirá: se eles permanecerão, até se tornarem formalizados, ou se conceberão como objeto de refutação,pelo menos por boa parte dos gramáticos. Ao menos, por enquanto, prevalece a segunda das alternativas, mesmo porque até para os atletas paraolímpicos trata-se da Paraolimpíadas, Jogos Paraolímpicos, enfim, justamente porque são realizados de forma paralela ao Jogos Olímpicos. FONTE: DUARTE, V. M. do N. Jogos Paralímpicos ou Jogos Paraolímpicos?". Brasil Escola. Disponível em <http://brasilescola.uol.com.br/gramatica/jogos-paralimpicos-ou-jogos- paraolimpicos.htm>. Acesso em: 6 mar. 2016. 2 PARAOLIMPÍADAS Há notícia da existência de clubes esportivos para pessoas surdas em Berlim, Alemanha, ainda em 1888. Em 1922, foi fundada a Organização Mundial de Esportes para Surdos (CISS). Assim, as pessoas com este tipo de deficiência chegaram a organizar uma própria competição internacional – os Jogos Silenciosos. Hoje, os atletas surdos costumam praticar esportes junto de pessoas sem deficiência e não possuem modalidades no programa paraolímpico. Em 1948, Ludwig Guttman organizou uma competição esportiva que envolvia veteranos da Segunda Guerra Mundial com lesão na medula espinhal. O evento foi realizado em Stoke Mandeville, na Inglaterra. Quatro anos mais tarde, competidores da Holanda uniram-se aos jogos e, assim, nasceu um movimento internacional. Este fez com que jogos no estilo olímpico, para atletas deficientes, fossem organizados pela primeira vez em Roma, em 1960. Em Toronto, 16 anos depois, foram adicionados na competição outros grupos de pessoas com deficiência. A partir daí, surgiu a ideia de fundir estes diferentes atletas em um grande torneio esportivo internacional. Naquele mesmo ano, 1976, a Suécia organizou os primeiros Jogos Paraolímpicos de Inverno. Hoje, os Jogos Paraolímpicos são um evento de esporte de alto rendimento para atletas deficientes. Apesar disso, os jogos enfatizam mais as conquistas do que as deficiências dos participantes. O movimento tem crescido de maneira significante desde os primeiros dias. Quatrocentos atletas participaram dos Jogos Paraolímpicos de Verão de Roma, em 1960. Nos Jogos de Pequim, em 2008, foram 3.951 atletas, de 146 países. TÓPICO 2 | MOVIMENTO PARAOLÍMPICO 21 2 PARAOLIMPÍADAS Os Jogos Paraolímpicos têm sido sempre realizados no mesmo ano dos Jogos Olímpicos. Desde os Jogos de Seul, em 1988, também têm sido sediados no mesmo local. Em 19 de junho de 2001, foi assinado um acordo entre o Comitê Olímpico Internacional (COI) e o Comitê Paraolímpico Internacional (IPC) que assegura esta prática para o futuro. Desde o processo de escolha para os Jogos de 2012, a cidade-sede escolhida também é obrigada a acolher os Jogos Paraolímpicos. Londres, no Reino Unido, sediou os últimos Jogos Paraolímpicos de Verão, em 2012 e os Jogos Paraolímpicos de Inverno foram realizados em Sochi, na Rússia. FONTE: Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB). Disponível em: <http://www.cpb.org.br/>. Acesso em: 16 fev. 2016. 3 ESPORTES PARAOLÍMPICOS Entre os mais diversos esportes destinados aos deficientes, falaremos a seguir sobre os que compõem o programa paraolímpico, de acordo com o Comitê Paralímpico Brasileiro, até RIO 2016: ATLETISMO O atletismo faz parte do programa dos Jogos Paraolímpicos desde a primeira edição, em Roma-1960. Mas foi apenas em 1984 que o Brasil conquistou as primeiras medalhas, em Nova Iorque (Estados Unidos) e em Stoke Mandeville (Inglaterra). Naquele ano, o país faturou seis medalhas de ouro, doze de prata e três de bronze na modalidade. FIGURA 1 - ATLETISMO FONTE: CPB/divulgação UNIDADE 1 | EDUCAÇÃO FÍSICA E INCLUSÃO 22 Como é disputado O atletismo paraolímpico é praticado por atletas com deficiência física ou visual. Há provas de corrida, saltos, lançamentos e arremessos, tanto no feminino quanto no masculino. Os competidores são divididos em grupos de acordo com o grau de deficiência constatado pela classificação funcional. Nas corridas, os atletas com deficiência visual mais alta podem ser acompanhados por guias, ligados a eles por uma corda. Já entre os deficientes físicos, há corridas com o uso de próteses ou em cadeiras de rodas. O Brasil nos jogos O atletismo brasileiro passou a brilhar com mais força a partir de 2004, nos Jogos Paraolímpicos de Atenas, quando o país conquistou 16 medalhas. Os Jogos Parapan-Americanos do Rio de Janeiro, em 2007, foram outro marco. Em casa, a delegação verde e amarela somou 73 medalhas apenas neste esporte, sendo 25 de ouro, 27 de prata e 21 de bronze, terminando em primeiro lugar geral. No total, o país já faturou 112 medalhas na modalidade em Jogos Paraolímpicos: 32 de ouro, 50 de prata e 30 de bronze. BASQUETE EM CADEIRA DE RODAS Praticado inicialmente por ex-soldados norte-americanos que haviam saído feridos da 2ª Guerra Mundial, o basquete em cadeira de rodas fez parte de todas as edições já realizadas dos Jogos Paraolímpicos. As mulheres passaram a disputar a modalidade em 1968, nos Jogos de TelAviv. FIGURA 2 - BASQUETEBOL EM CADEIRA DE RODAS FONTE: CPB/divulgação TÓPICO 2 | MOVIMENTO PARAOLÍMPICO 23 No Brasil, o basquete em cadeira de rodas tem forte presença na história do movimento paraolímpico, sendo a primeira modalidade praticada no país, a partir de 1958, introduzida por Sérgio Del Grande e Robson Sampaio. Depois de ficar de fora dos Jogos Paraolímpicos por 16 anos, a Seleção Brasileira voltou à disputa ao conquistar a vaga para Atenas-2004 durante os Jogos Parapan- Americanos de Mar Del Plata-1995. As cadeiras de rodas utilizadas por homens e mulheres são adaptadas e padronizadas pelas regras da Federação Internacional de Basquete em Cadeira de Rodas (IWBF). Como é disputado O jogador deve quicar, arremessar ou passar a bola a cada dois toques dados na cadeira. As dimensões da quadra e a altura da cesta seguem o padrão do basquete olímpico. São disputados quatro quartos de dez minutos cada. O Brasil nos Jogos Apesar da popularidade no país, o Brasil ainda não conquistou medalhas na modalidade em Jogos Paraolímpicos. A estreia da seleção masculina foi nos Jogos de Heidelberg-1972, e, da feminina, em Atlanta-1996. A melhor colocação brasileira na modalidade foi o oitavo lugar em Atlanta-1996 e Pequim-2008, com a Seleção Feminina. BOCHA Praticada por atletas com elevado grau de paralisia cerebral ou deficiências severas, a bocha estreou nos Jogos Paraolímpicos em 1984, no masculino e no feminino. A modalidade passou a contar com a disputa em duplas em Atlanta-1996. A origem do esporte, no entanto, é incerta. Os indícios dizem que tudo começou na Grécia e no Egito antigos como um passatempo, tornando-se um esporte apenas mais tarde, na Itália. No Brasil, a bocha desembarcou junto com os imigrantes italianos. FIGURA 3 - BOCHA FONTE: CPB/divulgação UNIDADE 1 | EDUCAÇÃO FÍSICA E INCLUSÃO 24 A versão adaptada da modalidade só passou a ser praticada na década de 1970. Antes de se tornar uma modalidade olímpica, no entanto, a bocha teve um antecessor nos Jogos Paraolímpicos. Foi o lawnbowls, uma espécie de bocha jogada na grama. Foi justamente no lawnbowls que o Brasil conquistou sua primeira medalha na competição. Róbson Sampaio de Almeida e Luiz Carlos “Curtinho” foram prata nos Jogos de Heidelberg, na Alemanha em 1972. Como é disputado Os atletas usam cadeiras de rodas e têm o objetivo de lançar as bolas coloridas o mais perto possível de uma branca (jack ou bolim). É permitido usar as mãos, os pés, instrumentos de auxílio e até ajudantes (calheiros) no caso dos atletas com maior comprometimento dos membros. O Brasil nos Jogos O Brasil estreou em Pequim-2008, com duas medalhas de ouro e uma de bronze. Em Londres-2012, o país conquistou outros três ouros e um bronze. ESTUDOS FU TUROS Ao final desta unidade, serão apresentadas, como LEITURA COMPLEMENTAR, as regras da BOCHA.CICLISMO Praticado desde a década de 1980, o ciclismo paraolímpico era destinado apenas aos deficientes visuais. Nas Paraolimpíadas de Nova Iorque-1984 foi estendido aos paralisados cerebrais e aos amputados, e nas de Seul-1988, passou a contar com a prova de estrada no programa oficial. Mas foi apenas na edição de Atlanta-1996 que as deficiências passaram a ser setorizadas em categorias. O velódromo entrou para a programação naquele ano e, em Sydney-2000, foi exibido pela primeira vez o handcycling. TÓPICO 2 | MOVIMENTO PARAOLÍMPICO 25 FIGURA 4 - CICLISMO FONTE: CPB/divulgação Como é disputado Paralisados cerebrais, deficientes visuais, amputados e lesionados medulares (cadeirantes), de ambos os sexos, competem no ciclismo adaptado. Seguindo as regras da União Internacional de Ciclismo (UCI), a modalidade tem apenas algumas diferenças para adequar-se ao programa paraolímpico. Entre os paralisados cerebrais, por exemplo, as bicicletas podem ser convencionais ou triciclos, de acordo com o grau de lesão do atleta. Já os cegos pedalam em uma bicicleta dupla (tandem), sendo guiados por outra pessoa, que fica no banco da frente. Enquanto isso, o handcycling é movido pelas mãos e destinado aos cadeirantes. As provas são de velódromo, estrada e contrarrelógio. Velódromo As bicicletas não têm marchas e a competição ocorre em uma pista oval, que varia de 250 m a 325 m de extensão. Estrada Os ciclistas de cada categoria largam ao mesmo tempo. As competições são as mais longas da modalidade, com até 120 km de percurso. Contrarrelógio Os atletas largam de um em um minuto, pedalando contra o tempo. Nesta prova, a posição dos ciclistas na pista não diz, necessariamente, a colocação real em que se encontram, pois tudo depende do tempo. UNIDADE 1 | EDUCAÇÃO FÍSICA E INCLUSÃO 26 O Brasil nos Jogos A estreia brasileira na modalidade ocorreu em Barcelona-1992, com a participação de Rivaldo Gonçalves Martins. O atleta foi também o primeiro do país a ser campeão mundial, em 1994, na Bélgica. Apesar disso, o Brasil ainda não conquistou medalhas no ciclismo em Jogos Paraolímpicos. ESGRIMA EM CADEIRA DE RODAS Destinada a atletas com deficiência locomotora, a esgrima adaptada surgiu em 1953 e foi aplicada originalmente pelo médico alemão Ludwig Guttman, o pai do movimento paraolímpico. A modalidade, uma das mais tradicionais, é disputada desde a primeira edição dos Jogos Paraolímpicos, em Roma-1960. FIGURA 5 - ESGRIMA EM CADEIRA DE RODAS FONTE: CPB/divulgação A disputa segue as regras da Federação Internacional de Esgrima (FIE), mas é administrada pelo Comitê Executivo de Esgrima do Comitê Paraolímpico Internacional (IPC). Como é disputado Em competição, as pistas medem 4 m de comprimento por 1,5 m de largura, e as cadeiras de rodas ficam fixas ao chão. Se um dos esgrimistas mover a cadeira, o combate é interrompido. Há duelos de florete, espada e sabre. Para cada prova, há uma proteção específica para o competidor e para as cadeiras, além de regras para a pontuação ser validada. O Brasil nos Jogos Em Londres-2012, o Brasil faturou pela primeira vez uma medalha na modalidade: um ouro. O gaúcho Jovane Guissone derrotou os franceses Marc Cratere e Alim Latreche nas quartas de final e na semifinal, respectivamente. Na TÓPICO 2 | MOVIMENTO PARAOLÍMPICO 27 decisão, superou a disputa acirrada com Chik Sum Tam, de Hong Kong, por 15 a 14. O gaúcho perdeu o movimento das pernas após levar um tiro nas costas durante um assalto. FUTEBOL DE 5 Há relatos de que no Brasil, na década de 1950, cegos jogavam futebol com latas. Em 1978, nas Olimpíadas das APAEs, em Natal (RN), ocorreu o primeiro campeonato de futebol com deficientes visuais. A primeira Copa Brasil foi em 1984, na capital paulista. Das quatro edições da Copa América, os brasileiros trouxeram três ouros: Assunção (1997), Paulínia (2001) e Bogotá (2003). Em Buenos Aires (1999), o título não veio, mas os brasileiros venceram os argentinos. Em 1998, o Brasil sediou o primeiro Mundial de futebol e levou o título. Dois anos depois, em Jerez de la Frontera (ESP), a Seleção se sagrou campeã novamente. FIGURA 6 - FUTEBOL DE 5 FONTE: CPB/divulgação Como é disputado O futebol de cinco é exclusivo para cegos ou deficientes visuais. As partidas normalmente são em uma quadra de futsal adaptada, mas desde os Jogos Paraolímpicos de Atenas também têm sido praticadas em campos de grama sintética. O goleiro tem visão total e não pode ter participado de competições oficiais da Fifa nos últimos cinco anos. Junto às linhas laterais, são colocadas bandas que impedem que a bola saia do campo. Cada time é formado por cinco jogadores – um goleiro e quatro na linha. Diferentemente de um estádio convencional de futebol, as partidas de futebol de cinco são silenciosas, em locais sem eco. A bola tem guizos internos para que os atletas consigam localizá-la. A torcida só pode se manifestar na hora do gol. Os jogadores usam uma venda nos olhos e, se tocá-la, cometerá uma falta. Com cinco infrações, o atleta é expulso de UNIDADE 1 | EDUCAÇÃO FÍSICA E INCLUSÃO 28 campo e pode ser substituído por outro jogador. Há ainda um guia, o chamador, que fica atrás do gol, para orientar os jogadores, e que diz onde devem se posicionar em campo e para onde devem chutar. O jogo tem dois tempos de 25 minutos e intervalo de 10 minutos. No Brasil, a modalidade é administrada pela Confederação Brasileira de Desportos de Deficientes Visuais (CBDV). Brasil nos Jogos A modalidade passou a fazer parte dos Jogos Paraolímpicos na edição de 2004, em Atenas (GRE). Desde então, o Brasil faturou a medalha de ouro em todas as ocasiões. Na estreia, a decisão foi contra os rivais argentinos. A seleção ficou com o topo do pódio ao bater os sul-americanos por 3 a 2. Na edição seguinte, em Pequim (CHN), a briga pela láurea dourada se deu contra os donos da casa. Em partida disputada, o Brasil ficou com o bicampeonato ao batê-los por 2 a 1. A hegemonia verde e amarela seria consolidada quatro anos mais tarde, nos Jogos Paraolímpicos de Londres. A terceira conquista consecutiva ocorreu após o triunfo por 2 a 0 sobre os franceses, em jogo na capital britânica. FUTEBOL DE 7 Em 1978 surgiu o futebol de 7 para paralisados cerebrais. Foi na cidade de Edimburgo, na Escócia, que aconteceram as primeiras partidas. A primeira Paraolimpíada em que a modalidade esteve presente foi em Nova Iorque, em 1984. Em Barcelona (1992), o Brasil estreou nos Jogos Paraolímpicos e ficou em sexto lugar. Na Paraolimpíada de Atlanta (1996), a seleção brasileira ficou em penúltimo lugar na classificação geral. Quatro anos depois, em Sidney, virou o jogo e conquistou o terceiro lugar geral. Nos Jogos Paraolímpicos de Atenas (2004), o Brasil se superou mais uma vez e conquistou a medalha de prata, deixando para trás potências como a Rússia, Estados Unidos e Argentina. FIGURA 7 - FUTEBOL DE 7 FONTE: CPB/divulgação TÓPICO 2 | MOVIMENTO PARAOLÍMPICO 29 O futebol de sete é praticado por atletas do sexo masculino, com paralisia cerebral, decorrente de sequelas de traumatismo cranioencefálico ou acidentes vasculares cerebrais. As regras são da FIFA, mas com algumas adaptações feitas pela Associação Internacional de Esporte e Recreação para Paralisados Cerebrais (CP-ISRA). O campo tem no máximo 75 m x 55 m, com balizas de 5 m x 2 m e a marca do pênalti fica a 9,20 m do centro da linha de gol. Cada time tem sete jogadores (incluindo o goleiro) e cinco reservas. A partida dura 60 minutos, divididos em dois tempos de 30, com um intervalo de 15 minutos. Não existe regra para impedimento e a cobrança lateral pode ser feita com apenas uma das mãos, rolando a bola no chão. Os jogadores pertencem às classes menos afetadas pela paralisia cerebral enão usam cadeira de rodas. No Brasil, a modalidade é administrada pela Associação Nacional de Desporto para Deficientes (ANDE). GOALBALL O Goalball foi criado em 1946 pelo austríaco Hanz Lorezen e o alemão Sepp Reindle, que tinham como objetivo reabilitar veteranos da Segunda Guerra Mundial que perderam a visão. Nos Jogos de Toronto – 1976, sete equipes masculinas foram estreantes. Dois anos depois, ocorreu o primeiro Campeonato Mundial de Goalball, na Áustria. Em 1982, a Federação Internacional de Esportes para Cegos (IBSA) começou a gerenciar a modalidade. As mulheres entraram para o Goalball nos Jogos Paraolímpicos de Nova Iorque, em 1984. A modalidade foi implementada no Brasil em 1985. Inicialmente, o Clube de Apoio ao Deficiente Visual (CADEVI) e a Associação de Deficientes Visuais do Paraná (ADEVIPAR) realizaram as primeiras partidas. O primeiro campeonato brasileiro de Goalball foi realizado em 1987, em Uberlândia-MG. FIGURA 8 - GOALBALL FONTE: CPB/divulgação UNIDADE 1 | EDUCAÇÃO FÍSICA E INCLUSÃO 30 Como é disputado Ao contrário de outras modalidades paraolímpicas, o Goalball foi desenvolvido exclusivamente para pessoas com deficiência – neste caso, a visual. A quadra tem as mesmas dimensões da de vôlei (9 m de largura por 18 m de comprimento). As partidas são realizadas em dois tempos de 12 minutos, com 3 minutos de intervalo. Cada equipe conta com 3 jogadores titulares e três reservas. De cada lado da quadra há um gol com 9 m de largura e 1,30 m de altura. Os atletas são, ao mesmo tempo, arremessadores e defensores. O arremesso deve ser rasteiro ou tocar pelo menos uma vez nas áreas obrigatórias. O objetivo é balançar a rede adversária. A bola possui um guizo em seu interior que emite sons – existem furos que permitem a passagem do som – para que os jogadores saibam sua direção. O Goalball é um esporte baseado nas percepções tátil e auditiva, por isso não pode haver barulho no ginásio durante a partida, exceto no momento entre o gol e o reinício do jogo e nas paradas oficiais. A bola tem 76 cm de diâmetro e pesa 1,25 kg. Sua cor é azul. Hoje, o Goalball é praticado em 112 países dos cinco continentes. No Brasil, a modalidade é administrada pela Confederação Brasileira de Deporto de Deficientes Visuais (CBDV). Brasil nos Jogos A Seleção Brasileira masculina conquistou uma medalha de prata no Parapan de Buenos Aires, em 1995. Na Carolina do Sul, em 2001, as mulheres conquistaram o bronze no Parapan-americano, enquanto a seleção masculina ficou com o quarto lugar. Em 2003, as atletas brasileiras foram vice-campeãs no Mundial da IBSA, disputado em Quebec, no Canadá. Com isso, o Brasil se classificou para uma edição dos Jogos Paraolímpicos pela primeira vez. Em Pequim-2008, foi a estreia da Seleção masculina em uma edição dos Jogos Paraolímpicos. Nos Jogos Parapan-Americanos de Guadalajara-2011, a Seleção feminina conquistou a medalha de prata e, a masculina, a outro, o que resultou na classificação de ambas para Londres-2012. Nos Jogos Paraolímpicos de Londres, a Seleção masculina realizou o maior feito do goalball brasileiro, ao conquistar a medalha de prata. No Mundial disputado em 2014, na Finlândia, a Seleção masculina sagrou-se campeã mundial pela primeira vez. HALTEROFILISMO O halterofilismo apareceu pela primeira vez em uma edição de Jogos Paraolímpicos, em 1964, em Tóquio (JAP). A deficiência dos atletas era apenas com lesões na coluna vertebral. Até os Jogos de Atlanta (1996), somente os homens competiam. Quatro anos depois, em Sydney, as mulheres entraram de vez para a modalidade. Atualmente, 109 países possuem halterofilistas paraolímpicos. TÓPICO 2 | MOVIMENTO PARAOLÍMPICO 31 FIGURA 9 - HALTEROFILISMO FONTE: CPB/divulgação O Brasil estreou nos Jogos de Atlanta, com o atleta Marcelo Motta. Em Sydney (2000), Alexander Whitaker, João Euzébio e Terezinha Mulato competiram. Três anos depois, no Pan-Americano de Oklahoma (EUA), Marcelo Motta conquistou medalha de ouro, e um novo recorde das Américas na categoria até 60 kg. João Euzébio (até 82,5 kg) e Terezinha Mulato (até 60 kg) ganharam prata e Walmir de Souza (até 75 kg) ficou com o bronze. Em Atenas, Whitaker e Euzébio ficaram em quarto e 12º lugares, respectivamente. Nenhum atleta do país, contudo, conquistou medalhas em Jogos Paraolímpicos até hoje. Como é disputado No halterofilismo, os atletas permanecem deitados em um banco e executam um movimento conhecido como supino. A prova começa no momento em que a barra de apoio é retirada – com ou sem a ajuda do auxiliar central – deixando o braço totalmente estendido. O atleta flexiona o braço descendo a barra até a altura do peito. Em seguida, elevam-na até a posição inicial, finalizando o movimento. Hoje, competem atletas com deficiência física nos membros inferiores ou paralisia cerebral. As categorias são subdivididas pelo peso corporal de cada um. São dez categorias femininas e dez masculinas. O atleta pode realizar o movimento três vezes, e o maior peso é validado. Os árbitros ficam atentos à execução contínua do movimento e à parada nítida da barra no peito. No Brasil, a modalidade é organizada pelo Comitê Paralímpico Brasileiro por meio da Coordenação de Halterofilismo. HIPISMO A estreia paraolímpica do hipismo ocorreu nos Jogos de Nova Iorque (EUA), em 1984. Três anos depois, foi realizado o primeiro Mundial, na Suécia. A modalidade só voltaria ao programa oficial na Paraolimpíada de Sydney (2000). A única disciplina do hipismo do programa paraolímpico é o adestramento. UNIDADE 1 | EDUCAÇÃO FÍSICA E INCLUSÃO 32 FIGURA 10 - HIPISMO FONTE: CPB/divulgação Em março de 2002, nasceu o hipismo paraolímpico nacional a partir de um curso promovido pela Confederação Brasileira de Hipismo (CBH). Ainda naquele ano, ocorreram as primeiras provas-treino, com a participação de competidores do Distrito Federal, Minas Gerais e São Paulo. Em julho de 2003, houve o primeiro Campeonato Brasileiro, em Ibiúna. Participaram nove atletas dos três estados pioneiros na modalidade. Em agosto Ibiúna sediou a Primeira Copa Sul-americana. No mesmo ano, os cavaleiros Natalie Goutglass e Daniel Loeb participaram pela primeira vez de uma competição paraolímpica internacional, o Mundial de Moorsele, Bélgica. Ainda em 2003, no Parapan de Mar del Plata, Marcos Fernandes Alves (o Joca) garantiu a primeira vaga do país em uma Paraolimpíada. Como é disputado O hipismo paraolímpico é praticado por atletas com vários tipos de deficiência, em cerca de 40 países. A competição de hipismo é mista. Ou seja, cavaleiros e amazonas competem juntos nas mesmas provas. Outra característica da modalidade é que não só os competidores recebem medalhas, mas os cavalos também. No Brasil, o hipismo é organizado pela Confederação Brasileira de Hipismo (CBH). Brasil nos Jogos Nos Jogos de Atenas (2004), o Brasil contou com a participação do cavaleiro Marcos Fernandes Alves, cuja melhor posição foi um nono lugar no estilo livre. Quatro anos mais tarde, em Pequim (CHN), pela primeira vez, o Brasil competiu com equipe completa. Joca foi o principal nome da equipe, responsável por faturar duas medalhas de bronze: uma no estilo livre e outra na prática individual. Em Londres 2012, novamente o país foi com a sua equipe completa, mas não obteve vaga no pódio. TÓPICO 2 | MOVIMENTO PARAOLÍMPICO 33 JUDÔ Praticado por deficientes visuais desde a década de 1970, o judô foi a primeira modalidade de origem asiática a integrar o programa paraolímpico, estreando nos Jogos de Seul-1988, apenas com disputas entre homens. Os Jogos de Atenas-2004 marcaram a entrada das mulheres nos tatames. A entidade responsável pelo judô é a Federação Internacional de Esportes para Cegos (IBSA, na sigla em inglês), fundada em Paris, em 1981. No Brasil, a Confederação
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