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V Adam Smith

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V
A Riqueza das Nações, Adam Smith
Ano de publicação: 1776.
Introdução. Todos os bens necessários à vida e ao conforto consumidos anualmente por uma nação são fornecidos pelo seu trabalho anual e consistem na produção imediata desse trabalho ou em bens que essa produção permite comprar de outras nações. A produção é semelhante àquilo que ela permite comprar. A proporção entre a produção e o número de pessoas que devem consumi-la é determinada por dois fatores: primeiro, a habilidade, a destreza e o critério com os quais em geral se executa o trabalho da nação (forças produtivas do trabalho); em segundo, a proporção entre o número dos empregados em trabalho útil e o número dos desempregados. O primeiro fator é mais importante que o segundo. Nas nações civilizadas e prósperas, mesmo que grande parte pessoas não trabalhem, a produção do trabalho total da sociedade permite que todos se encontrem largamente providos e que mesmo o trabalhador da categoria mais pobre possa desfrutar de uma parcela maior de bens do que qualquer habitante de uma nação selvagem, em que todo indivíduo capaz de trabalhar está empregado em trabalho útil. 
Livro I, Capítulo 1. A divisão do trabalho se caracteriza pela distinção entre diversas atividades e empregos de uma única atividade ou emprego. Nela, o conjunto do trabalho constitui uma atividade específica, e a maior parte das tarefas em que o trabalho está subdividido também consistem em ocupações especializadas. Seu grande efeito é o aperfeiçoamento e o aumento proporcional das forças produtivas do trabalho. A divisão pode ser mais facilmente notada nas manufaturas pequenas e triviais do que nas grandes manufaturas, que não comportam numa mesma oficina todos os diferentes ramos do trabalho. A divisão do trabalho é uma características das sociedades desenvolvidas e não está presente em estágios primitivos de sociedade. A agricultura não se encontra sujeita à mesma facilidade com que a divisão do trabalho é realizada na manufatura e, por isso, o aprimoramento das forças produtivas da agricultura nem sempre acompanha o da manufatura. As nações mais ricas se distinguem das suas vizinhas mais pela sua superioridade na manufatura do que na agricultura. O aumento da quantidade de trabalho executado por um conjunto de pessoas promovido pela divisão do trabalho deve-se a três fatores: aumento da destreza dos trabalhadores, economia de tempo e invenção de máquinas apropriadas que facilitam e abreviam o trabalho. À medida que a sociedade avança, até mesmo a filosofia e a ciência tornam-se ocupações específicas de uma determinada classe de cidadãos e subdividem-se em ramos distintos e especializados, aumentando sua extensão e o volume de trabalho que realizam. A multiplicação da produção realizada pela divisão do trabalho permite que as classes mais baixas atinjam níveis de opulência, pois através troca dos produtos do trabalho entre os operários toda a fartura produzida é difundida pela sociedade. Assim, um operário de uma nação europeia desenvolvida pode ter necessidades maiores do que um rei africano. 
Capítulo 2. A divisão do trabalho não foi projetada pela sabedoria humana, mas surgiu como consequência necessária da propensão da natureza humana a cambiar, permutar e trocar uma coisa pela outra. O homem é a única raça de animais que realiza contratos e acordos, e a certeza de poder trocar o excedente de produção do próprio trabalho pelo excedente de produção do trabalho de outros homens estimula todo homem a dedicar-se a uma atividade específica para a qual possui maior destreza. A diferença de talentos entre os homens não é natural e não cria a divisão do trabalho, mas é fruto dela. Entre os cães existe uma grande variedade de talentos naturais, mas, por não possuírem propensão à troca e terem de prover-se individualmente de todas as coisas de que necessitam para a vida e o conforto, os cães não podem ser úteis para a própria espécie nem tirar vantagem do talento de outros cães. O resultado da divisão do trabalho é a criação de um patrimônio comum que permite a cada homem adquirir todas as partes produzidas pelo talento de outros. 
Capítulo 3. A divisão do trabalho é originada pelo poder de troca, e a sua extensão é sempre limitada pela extensão desse poder, isto é, pela extensão do mercado. Em mercados reduzidos, onde a possibilidade de trocar os excedentes é limitada, não existe estímulo para a realização de atividades especializadas. Por isso, certos gêneros de atividade só podem ser encontrados em grandes cidades. Como o transporte aquático, por ser maior, mais rápido e mais barato, abre um mercado mais amplo a todo gênero de trabalho do que o proporcionado pelo transporte terrestre, as atividades de todos os tipos subdividem-se e aperfeiçoam-se primeiro nas costas marítimas e nas margens de rios navegáveis.
Capítulo 4. Numa sociedade em que há divisão do trabalho, todos os homens vivem da troca da parte do produto do seu próprio trabalho que excede o consumo próprio, pois podem satisfazer apenas uma pequena parte das suas necessidades com o produto do seu próprio trabalho. Para evitar o inconveniente da situação em que um homem não possui excedentes de sua própria produção para trocar por excedentes da produção de outro homem, na qual não há possibilidade de comércio, os homens, desde que a divisão do trabalho surgiu, administram seus negócios de modo que sempre tenham consigo mercadorias que dificilmente são rejeitadas em troca de produtos. Algumas sociedades utilizam como instrumento comum de comércio o sal, o açúcar, gado, tabaco, pregos etc. Em todos os países, no entanto, razões inelutáveis levaram o homem a adotar os metais para essa finalidade: sua durabilidade e sua capacidade de ser dividido e reunido por fusão. Diferentes nações adotaram diferentes metais: ferro, cobre, prata, ouro, etc. Na antiguidade, o metal foi utilizado sob a forma de barras toscas, sem nenhuma marca ou cunhagem, o que ocasionava dois inconvenientes: as operações difíceis e tediosas de pesagem e de avaliação da pureza, sem as quais as pessoas estavam sempre expostas a fraudes. Para prevenir esses abusos, facilitar as trocas e incentivar o comércio, verificou-se ser necessário imprimir uma marca oficial sobre certas quantidades de tais metais que eram ordinariamente usados para comprar mercadorias, e assim surgiram a moeda cunhada e as instituições públicas denominadas Casas da Moeda. Originalmente, as denominações das moedas exprimiam o peso ou a quantidades de metal nelas contidas. No entanto, em todos os países do mundo, os príncipes e Estados soberanos, para pagarem suas dívidas com uma quantidade de metal menor do que a que lhes seria necessária, fizeram diminuir a quantidade real de metal contido nas moedas, sem alterar as suas denominações, o que fez diminuir o seu valor. Essa operação se mostrou favorável a todos os devedores e ruinosa a todos os credores. Todos os bens possuem dois tipos de valor: valor de uso, que expressa sua utilidade em particular, e valor relativo ou de troca, que é a capacidade de comprar outros bens que a posse desse bem transmite. As coisas que possuem grande valor de uso, como a água, possuem pequeno valor de troca, e as coisas que possuem grande valor de troca, como o diamante, possuem pequeno valor de uso.
Capítulo 5. O trabalho é a medida real do valor de troca de todas as mercadorias. O valor de qualquer mercadoria, para a pessoa que a possui e não pretende utilizá-la ou consumi-la, mas trocá-la por outras mercadorias, é igual à quantidade de trabalho que essa mercadoria lhe permite comprar ou comandar. Numa sociedade em que há divisão do trabalho, um homem é rico ou pobre de acordo com a quantidade de trabalho que compra ou comanda. O trabalho é o primeiro preço, a moeda original com que se pagam todas as coisas. O dinheiro e os bens contêm o valor de uma certa quantidade de trabalho que se troca pelo que, no momento, se supõe conter o valor de idêntica quantidade. A riqueza não é poder por si só, mas somente na medida em queconfere o poder de compra, um domínio sobre o trabalho e o produto do trabalho. Embora o trabalho seja a medida real do valor de troca de todas as mercadorias, não é pelo trabalho que normalmente se estima o valor delas. A proporção entre duas diferentes quantidades de trabalho é difícil de ser determinada, pois envolve, além do tempo de trabalho, os diferentes graus de fadiga e engenho, para os quais não é fácil encontrar uma medida exata. No mercado, as trocas não se regulam por uma medida exata, mas pela pechincha e pela negociação, que geram uma igualdade tosca e inexata, porém suficiente para levar a cabo as atividades da vida cotidiana. Além disso, é mais frequente estimar o valor de troca de uma mercadoria pela quantidade de uma outra mercadoria, que consiste num objeto simples e paupável, do que pela quantidade de trabalho que ela pode comprar, que consiste num noção abstrata. Quando a troca direta cessa e o dinheiro torna-se o instrumento comum do comércio, cada mercadoria é mais frequentemente trocada por dinheiro do que por qualquer outra mercadoria, e assim o valor de troca de cada mercadoria passa a ser mais frequentemente estimado pela quantia de dinheiro do que pela quantidade de trabalho ou de qualquer outra mercadoria que ela pode comprar. Contudo, ouro e prata, como qualquer outra mercadoria, variam de valor de acordo com a facilidade ou a dificuldade de adquiri-los, e a quantidade de trabalho que permitem comprar ou comandar também varia. Iguais quantidades de trabalho possuem para o trabalhador, em qualquer tempo e lugar, o mesmo valor, por isso o trabalho, cujo valor jamais varia, é o único padrão genuíno e real que pode servir, em todos os tempos e lugares, para avaliar e comparar o valor de todas as mercadorias. O trabalho é o preço real das mercadorias, e o dinheiro é apenas o seu preço nominal. Embora para o trabalhador quantidades iguais de trabalho sejam sempre de igual valor, para a pessoa que emprega o trabalho o valor de uma mesma quantidade de trabalho pode parecer variar, quando na realidade o que varia é o preço dos bens. O trabalho, tal como as mercadorias, possui um preço real, que consiste na quantidade de coisas necessárias à vida e ao conforto dada em troca por ele, e um preço nominal, que consiste na quantidade de dinheiro. O trabalhador é bem ou mal remunerado em proporção ao preço real e não ao preço nominal de seu trabalho. A distinção entre preço real e preço nominal das mercadorias e do trabalho não é um problema de mera especulação, mas também tem implicações práticas, como no caso da venda de uma propriedade fundiária por um preço nominal em moeda ou em metal puro que, com a desvalorização da moeda ou do ouro e da prata, pode render ao vendedor uma quantia menor do que a que ele esperava. Em grandes períodos de tempo, as rendas reservadas em trigo conservam mais o seu valor do que as rendas fixadas em dinheiro. No período de um século, iguais quantidades de trabalho são adquiridas por quantidades quase iguais de trigo (a subsistência do trabalhador). Uma mesma quantidade de dinheiro ou de qualquer outra mercadoria, entretanto, compra de um século a outro quantidades muito diferentes de trabalho, na mesma proporção da quantidade de trigo que pode adquirir. No entanto, em períodos curtos de tempo, como um ano, o valor real do trigo pode dobrar ou diminuir pela metade, enquanto o valor real da prata raramente varia. Assim, para comparar os valores de uma mesma mercadoria de um século para outro, o trigo que se dá em troca por ela é uma boa medida, e para comparar esses valores de um ano para outro, a prata é uma boa medida. No mesmo tempo e lugar, o preço real e o preço nominal de todas as mercadorias são exatamente proporcionais um ao outro, e o dinheiro é a medida exata do valor real de troca de todas as mercadorias. Em lugares e tempos diferentes, uma mesma quantidade de dinheiro pode comprar quantidades de mercadoria ou trabalho diferentes, de modo que um único valor nominal pode corresponder a valores reais diferentes. Em razão do desgaste das moedas, seu valor nominal nem sempre expressa seu valor real. Em consequência, os preços dos bens passam a ser regulados não pela quantidade de ouro ou prata puros que a moedas deveriam conter, mas pelo que a experiência do comerciante indica que em média elas contêm.
Capítulo 6. No primitivo estado da sociedade, o produto do trabalho pertence inteiramente ao trabalhador, e a quantidade de trabalho empregada para produzir ou adquirir uma mercadoria é a única circunstância que pode regular o valor de troca dessa mercadoria. Quando o capital começa a acumular-se nas mãos de particulares, estes o empregam para por em obra pessoas laboriosas, a quem fornecem matéria-prima e subsistência, a fim de obterem lucro com a venda de seu trabalho, ou o valor que sua força de trabalho acrescenta às matérias-primas. Ao venderem o produto acabado ou trocá-lo por força de trabalho ou outras mercadorias recebem, além do suficiente para pagar o preço das matérias-primas e do salário dos trabalhadores, um lucro referente ao risco do capital aplicado no empreendimento. Assim, o valor adicionado pelos trabalhadores às matérias-primas divide-se em duas partes: os seus salários e o lucro do empregador. Os lucros do capital não correspondem a salários de uma espécie particular de trabalho, o de inspeção e direção, mas regulam-se por princípios totalmente diversos, não mantendo proporção com a quantidade e o grau de dificuldade e de engenho dessa espécie de trabalho. Eles regulam-se inteiramente pelo valor do capital empregado, sendo maiores ou menores conforme o montante desse capital, supondo-se uma taxa de lucro constante. Nesse estado de coisas, o produto total do trabalho não pertence ao trabalhador, que deve dividi-lo com o detentor do capital que o emprega, e o valor de troca das mercadorias não é determinado apenas pela quantidade de trabalho empregada para produzi-la ou adquiri-la, sendo somada a ela uma quantidade adicional pelos lucros do capital. Quando toda a terra de um país se converte em propriedade privada, o preço da maior parte das mercadorias se resolve definitivamente em três partes: a renda paga ao proprietário da terra, os salários pagos à manutenção dos trabalhadores e o lucro do arrendatário. O valor real de cada uma dessas três partes componentes do preço se mede pela quantidade de trabalho que cada uma delas pode comprar ou adquirir. Assim como o preço ou valor de troca de cada mercadoria reduz-se a matéria-prima, salário e lucro, a totalidade do que é anualmente arrecadado ou produzido pelo trabalho de toda a sociedade, ou seu preço total, é originalmente distribuído dessa maneira entre os diferentes membros da sociedade, de modo que a renda da terra, os salários e os lucros são as fontes originais de todo rendimento bem como de todo valor de troca. O rendimento que procede do trabalho denomina-se salário, o que é extraído de um capital que o próprio dono administra ou emprega chama-se lucro, o que procede do capital que não é empregado pelo próprio detentor mas emprestado a outro é chamado de juro, usura ou dinheiro, o rendimento que procede inteiramente da terra denomina-se rendas da terra. Como apenas uma parte do produto anual do trabalho de um país advém do trabalho somente, pois a renda e o lucro participam dele, esse produto é suficiente para comprar ou adquirir uma quantidade de trabalho muito superior à que foi empregada para criá-lo, prepará-lo e transportá-lo ao mercado. Se a sociedade empregasse anualmente todo o trabalho que é capaz de comprar num ano, a quantidade de trabalho e a produção aumentariam consideravelmente a cada ano.
Capítulo 7. Existe em toda sociedade uma taxa média, normal ou natural de salários, de lucro e de renda para cada emprego do trabalho, do capital e da terra, que se regula naturalmente pelas circunstâncias gerais da sociedade e pela natureza específica de cada emprego. Quando o preço de uma mercadoria qualquer não é superior nem inferior ao necessário para pagar,segundo as taxas naturais, a renda da terra, os salários do trabalho e os lucros do capital, então ela é vendida pelo seu preço natural, que corresponde exatamente ao que ela custou à pessoa que a levou ao mercado. O verdadeiro preço pelo qual qualquer mercadoria é efetivamente vendida é chamado preço de mercado, pode ser superior, inferior ou igual ao seu preço natural e é determinado pela proporção entre a quantidade da mercadoria particular levada ao mercado e a demanda dos que estão dispostos a arcar com o seu preço natural. Essa é a demanda efetiva e difere da demanda absoluta, que inclui também as pessoas que desejam consumir uma mercadoria, mas não podem arcar com o seu preço natural. Quando a quantidade de uma mercadoria qualquer posta no mercado é insuficiente para satisfazer sua demanda efetiva, seu preço de mercado se eleva acima de seu preço natural; quando ela excede a demanda efetiva, seu preço de mercado fica abaixo do preço natural. O preço natural é o preço central em torno do qual os preços de mercado de todas as mercadorias gravitam, e a quantidade de toda mercadoria posta no mercado ajusta-se naturalmente à sua demanda efetiva. Se o preço de mercado de uma mercadoria, devido à sua escassez, está acima do seu preço natural, sua produção é estimulada e sua quantidade oferecida aumenta; se o seu preço de mercado, devido à sua abundância, está abaixo do seu preço natural, sua produção é desestimulada e sua quantidade oferecida diminui. As flutuações ocasionais e temporárias no preço de mercado de qualquer mercadoria recaem principalmente sobre as suas partes componentes que se resolvem em salários e lucros, afetando tanto o seu valor como a sua taxa, e menos sobre as rendas, que geralmente são fixadas em dinheiro. A concessão de monopólios, os privilégios exclusivos das corporações, os estatutos de aprendizagem e todas as leis que restringem a concorrência produzem o efeito de aumentar o preço de mercado das mercadorias muito acima de seu preço natural, pois fazem com que o mercado se mantenha sempre subabastecido e a demanda efetiva nunca seja plenamente suprida.

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