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Barbieri e Feijó - Metodologia do Pensamento Econômico Cap1

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METODOLOGIA DO
PENSAMENTO
A..
ECONOMICO
o Modo de Fazer Ciência
dos Economistas
1
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relação enm
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de trabalho:
ções gerais «
Volternr
o que se sub
Logra do pen
toCIõlõgiã"(Íê
técnicos do
investigação
fundamento
1 Umberto Eco
Sumário
Parte I - Introdução, 1
1 A Estrutura da Ciência Econômica, 3
2 Introdução à filosofia da ciência, 51
Parte 11- Filosofia das ciências físicas, 73
3 Empirismo, positivisrno lógico e outras concepções da ciência, 75
4 O falseacionismo, 99
5 Crítica ao método ou paradigma e programas de pesquisa, 119
6 A ciência como atividade de solucionar problemas, 139
Parte III - A metodologia dos economistas clássicos e outras interpretações do
século XIX, 155
7 O convencionalismo de Adam Smith e o abstracionismo de Thomas Malthus e
David Ricardo, 157
8 A velha guarda da metodologia econômica: o método de Nassau Senior, Stuart
Mill e John Caimes, 175
9 Max Weber e a escola histórica alemã, 191
10 O método de Karl Marx: a ideia alemã de ciência, 217
11 A batalha do método e a tentativa de sintetizar-se teoria tradicional e história:
Carl Menger, Cliffe Leslie, Thorstein Veblen e Neville Keynes, 245
12 A metodologia dos marginalistas Jevons, Walras, Edgeworth, Fisher e Pare to e
do neoclássico Marshall, 263
Parte IV - Metodologia da escola austríaca de economia, 293
13 O método de Lionel Robbins: a economia e a lógica da escolha, 295
14 O individualismo metodológico de Ludwig von Mises e Friedrich August von
Hayek,305
viii Metodologia do pensamento econômico • Barbieri e Feijó
Parte V - Adaptações do positivismo à economia, 319
15 A controvérsia em torno do positivismo em econ0m.ia: Terence Hutchison,
Frank Knight e Fritz Machlup, 321
Parte VI - Outras concepções metodológicas de economistas do século XX, 341
16 Milton Friedman e a tese da irrelevância da veracidade da hipótese, 343
17 Paul Samuelson e o operacionalismo, 353
18 Filosofia da ciência em Maynard Keynes, 363
19 Schumpeter e o instrumentalismo epistemológico, 379
Parte VII - Visão atual da metodologia dos economistas, 401
20 McCloskey: crítica ao modernismo e estudo da arte da conversação na
economia científica, 403
21 Metodologia econômica contemporânea, 421
Parte VIII - Como fazer monografia, dissertação e tese, 429
22 Orientações gerais e dicas ao estudante de economia, 431 INTR
ovónoouiru -
EUOgJ
sts'dSd1
ItE'XX0{Il
1
A estrutura da ciência econômica
Este capítulo inicial tem como objetivo justificar o plano deste livro. O primeiro pas-
so, nesse sentido, é o de eE'licar o que devemos entender por metodologia da economia.- ---Depois, é claro, aborda-se a filosofia da ciência (Capítulo 2) e, por fim, investiga-se a- "-,
relação entre um~ coisa e outra, isto é, qll:~la importância da fQosofia da ciência para o
esclarecimento de questões metodológicas no campo da economia científi.s:a.
~--.,Metodologia da economia, nesse contexto, não deve ser entendida como o ensino ,
'de como fazer um trabalho monográfico em economia, c;~o ~screver uma dissertação \1
ou tese. Há muitos bons livros sobre esse tema. Por exemplo, o escritor e acadêmico
Umberto Eco, o célebre autor de O nome da rosa e O pêndulo de Foucault, entre outros
r;mances, oferece sua experiência de exímio pesquisador na orientação de estudan-
tes e pesquisadores, ensinando-os a escrever bons trabalhos. O romancista mostra.a
diferença entre pesquisar por obrigação, apenas para ascender profissionalmente, e
envolver-secom seriedade e verdadeira dedicação ao trabalho de confeccionar teses
acadêmicas.' O tema, por certo, é fascinante, mas não se trata do objetivo deste iiV"r~.
Não obstante, mesmo o leitor que o abriu com tal propósito, o de auxiliá-lo na escrita
de trabalhos mono gráficos, será agraciado com o capítulo final, que oferece orienta-
ções gerais e dicas de como fazê-lo em economia.
Voltemos ao tema central deste livro. Para tanto.ftrata-se inicialmente de explicar
o que se subtende por metodologia da economia e, mais especificamente, por metodo-
ogi~nt~ econômico: expressão esta ~mpregada no título deste tomo. Me-
todorogla da economia pode' significar tanto a descrição e análise dos procedimentos
técnicos do tra~alh~ acadêmico _dos economistas quarrto-; sentido mais fiIQTófico_de
investigação do significado dos conceitos, da validade e adequação das teorias, dos
fundamentos filosóficos e científicos dos princípi;;esuPostos básicos da economia
1 Umberto Eco, Como se faz uma tese,
4 Metodologia do pensamento econômico • Barbieri - Feijó
como ciência. Ambos os sentidos são perfeitamente válidos, tanto o técnico quanto o
fÜosó~o. Não obstante, irem~ priorizar, nesta obra, a~b?rda.8:em filosófica. De ~odo
que se pode interpretar esse esforço como uma proposta de aplicação da filosofia na
interpretação e avaliação da economia científica. Da filosofia em geral, mas especial-
mente do ramo filosófico conhecido como filosofia da ciência.
Pilhas e mais pilhas de livros e artigos em revistas especializa das foram escritos
versando sobre os pressupostos filosóficos da ciência econômica. De fato, não é tarefa
das mais fáceis; mesmo porque, no tema, treinamento filosófico prévio é exigido; além,
é claro, da necessidade de certa familiaridade com o trabalho dos economistas.
A primeira pergunta que surge na mente do leigo é se a economia trata-se de
ciência exata ou ciência do campo das chamadas humanidades (ciências humanas). Se
tivéssemos de escolher entre um enquadramento ou outro, diríamos que a economia
pertence ao campo das ciências humanas. No entanto, ela ocupa uma posição especial
dentre as ciências humanas: uma parte das contribuições científicas dos economistas
acadênilêos utiliza-se do método das ciências exatas. Assim, pode-se afirmar segura-
, '
m~nte que há um campo exato no âmbito das investigações feitas pelos economistas.
Nem todos os estudos oferecidos pelos economista~, no entanto, afiguram-se u!TIesfor-
ço em ciência exata. Mas uma parte importante deles, aliás, a p1ais expressiva, empre-
ga os métodos matemáticos rigorosos típicos das ciêncías naturais exatas que têm na
física o modelo central.
Portanto, pode-se dizer que a economia é tanto uma ciência exata quanto um cam-
po das humanidades. Indo além, pode-se também situar essa ciência, dentre as dife-
rentes ciências humanas, no âmbito das chamadas ciências sociais. Definitivamente, a
economia é uma ciência soci~l, pois ela estuda as ações humanas. Entrctanto, o estudo
d~ ação humana requer que se ex~inem fatores como as motivações ê as razões que
levam os agentes humanos a agirem, em dada situação, desta e não de outra maneira.
Então, a psicologia do agente econômico importa ao cientista da economia. De fato,
a economia não apenas é fronteiriça com a psicologia como uma parte das ciências psico-
lógicas está dentro dela. Não sem razão, o grande econ~ista clássico Stuart Mill define
a economia como uma ciência psicológica. Mas o mesmo Mill também a considera uma
~ência mor~l. Sem entrar numa discussão da moralidade e mesmo da ética, o que impor-
ta reter dessa definição complementar do economista clássico é que, no estudo da ação
humana, os economistas se preocupam com as normas sociais que comandam a ação, que. .
atuam sobre o indivíduo como causas do curso de ação escolhido por ele.
As normas sociais não são apenas os mandamentos morais, nem se encerrap nas leis
penais. É isso também. Contudo, é muito mais. Englobam todo tipo de comportamento
regular e padronizado, igual para todos os indi~duosdentro de um grupo. A ctt;Stãogue
sé coloca, portanto, é a de por que os agentes seguem normas. É evidente que os econo-
mistas devem se preocupar com essã questão. A explicação, em parte, pode serencon-
trada em áreas dos estudos da psicologia, pois a decisão de seguir a norma muitas vezes
advém de um fator psicológico. Por exemplo, quando as normas estão internalizadas
no indivíduc
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no indivíduo a ponto de fazê-lo se sentir bem ao segui-Ias. Contudo, os indivíduos não•seguem n0rr.E..asapenas movidos por impulsos de natureza psicológica. Há algo mais que
resulta no comportamento humano regular e padronizado na vida em sociedade.
Então também é necessário enfrentar essa questão. Mas ela não é objeto apenas
da ciência econômica. As n.QI!!1~opgjs também são estudadas pela sociologia, pela
ciência política, antropologia etc. E esse estudo remete diretamente à teoria da.:;Jns-
tituiç,ões. Por instituição social entende-se todo ordenamento soclll,l que faz com que
os indivíduos, pertencentes a certa comunidade, atuem em obediência a um conjunto
específico de normas de comportamento. A instituição é essencialmen~ um enquadra-
mento social que compele seus membros ao comportamento ditado por normas.- ~ .
cerram nas leis
:ompo~mento
I.Aquestão que
e que os econo-
ode ser encon-
ta muitas vezes
internalizadas
A preocupação com a psicologia do agente e com as instituições confere. à ciência
econÔmiCã o caráter de ciência social. Mas outras ciências sociais também se preo-
cupam com esses aspectos. Muitas são as ciências particulares que se enquadram no
campo das ciências sociais: além~~conomia, temos a sociologia, o direito, a antro-
pologia, a ciência política, a história, a geografia humana, a antropologia etc. No en-
tanto, as considerações filosóficas feitas no estudo da metodologia da economia estão
d~ecionadas, natural~e, para o campo da economia.
Por certo, há diferenças metodológicas que separam entre si as diferentes ciências
sociais, em que pese a existência de certo substrato filosófico comum a todas. A socio-
logia, por exemplo, como ~o~o..!!!ia, também se 'preocupa com as instituições. Ela
estuda como e por que uma determinada instituição social prevalece em competição
co~ outras. Mas o economista, na maior parte de seus estudos, t0JP.il a instjtuição
como dada para certo contexto, e não se preocupa em explicá-Ia em si mesma. A so-
ciologia oferece uma detalhada clas·sificaçãodas instituições sociais ·edetalha ;'estudo
do funcionamento delas. Para o economista, basta uns poucos tipos de instituições,
vistas como tipos estilizados, como a propriedade privada (que induz os agentes a
respeitarem direitos de propriedade e contratos) e o agente otimizador (que maximiza
utilidade ou lucro), ou então o comunismo (que os coage a aceitarem a propriedade
coletiva) e o agente cooperador.
Bo.aparte do trabalho teórico do economista remete a uns poucos tipos de insti-
tuições sociais. Para o paradigma da economia teórica, interessa o agente otimizador.
O con~eito de paradigttu: remet~ à obra de Thomas Kuh~ e·s,erá visto num capítulo
a~. Sem explicá-lo por enquanto, é suficiente dizer que 0.J!.!!!:adigma~a~o
da economia é aquilo que os estudantes de graduação são obrigados a ~p~s
diSCipliMste6ricas. Todo estudante de macroeconomia estuda os livros-textos escritos
pm autores como Blanchard, Boyes, Dornbusch, Fisc~~r, H~ll, Kohn, Krugman, Lieber-
man, Malvin, Mankiw, Nordhaus, Samuelson, Taylor, Tucker etc., sem contar autores
nacionais como Cysne, Gremaud, Lopes, Rosseti, Simonsen, Souza, Toneto Júnior, Ro-
setti, Vasconcellos etc. Aos estudantes de microeconomia é indicada a leitura de alguns
dos livros escritos por Besanko, Braeutigam, Ferguson, Nicholson, Pindyck, Rubisfeld,
Taylor, Varian etc., ou, dentre os nacionais, os de Albuquerque, Barbieri, Simonsen,
~
luanto um cam-
dentre as dife-
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~to, o estudõ
e as razõeLq!Ie
outra maneira.
momia. De fato,
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uart Mill define
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estudo da ação
iam a ação, que
~
6 Metodologia do pensamento econômico • Barbieri - Feijó
J
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L"
Oliveira etc. Então constata-se, no Brasil e no "mundo livre", que os estudantes são
submetidos à mesma formação, pois, em que pese as diferenças de abordagem, de esti-
lo e de profundidade, todos esses manuais didáticos de teoria econômica assemelham-
-se entre si em muitos aspectos. Em todos eles, vicejam as instituições da propriedade
privada, do contrato, do agente maximizador etc. como pressupostos dos modelos teó-
ricos. Todos abordam os problemas econômicos com álgebra e gráficos, e desenvolvem
modelos de equilíbrio.
Essa formação homogênea dos estudantes é característica da prática científica que
Kuhn denomina de c!Ê]cia nor'!2.al. Típica em ciências com paradigmas consolidados.
O paradigma da economia submete os estudantes à mesma formação teórica básica. É
claro que o treinamento assemelhado leva os profissionais formados nesse ambiente a
atuarem de uma maneira padronizada no trabalho com suas teorias e no teste empíri-
co delas. A pesquisa do economista, portanto, e não apena sua formação, também se
insere no escopo da ciência normal.
Na ciência normal da economia, os economistas elaboram teorias tão precisas
quanto as teorias da física e de outras ciências naturais exatas (química, geologia,
astronomia, astrofísica etc.). Como nas ciências físicas, as teorias econômicas também
apresentam implicações previsíveis dos supostos teóricos abstratos, que são, ao menos
potencialmente, testadas mediante evidências factuais.:
Isso significa então que os economistas trabalham exatamente como os físicos?
Vejamos essa questão mais de perto. De fato, os ~omistas, enquanto cientistas so-
ci..ais,não se veem como cientistas naturais. Sabem que sua ciência lida com entidades
dotadas de consciência e desejos e não com a matéria física insensível. Os economistas
lidam com os efeitos das escolhas humanas, quer o indivíduo numa ilha isolada ou,
principalmente, no contexto social em que cada ação individual interage e se combina
com a dos demais-resultando em um efeito. Nada das leis e processos a comandar fenô-
menos físicos pode ser visto como consequência, intencional ou não, da ação humana.
Também os processos biológicos que possibilitam a vida é um entorno à esfera da ação
humana. O indivíduo humano pode intervir na resultante dos processos físicos, eis a
engenharia e outros ramos da técnica, e contribuir, com suas ações, na preservação ou
destruição da vida. No entanto, fatos da física e da biologia desenvolvem-se alheios à
vontade humana. As leis das ciências naturais operam quer em nosso bonito planeta,
quer em qualquer parte do Universo.
Em oposição às ciências naturais, as ciências sociais estudam tudo o que decorre
da ação humana e a ação em si mesma. Nesse eséopo, vicejam fatos não naturais que
requerem explicação. Que fatossão esses? Diferentemente do que ocorre nas ciências
naturais, no domínio dos' fatos sociais não é simples ou fácil identificar o objeto da in-
vestigação científica. Mas não nos preocupemos com os demais ramos da invêstigação /"
social, examinemos apenas o caso da economia. O que exatamente estuda essa ciência?~- - -- - -
dizque a eco
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definição da (
-nos agora à (
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a~ocação efici,
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caso, e oloco;
apontado em
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a mera aloca-todos os fato
1
As defir
outras ciênci
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Isso parece-r
Sendo assim
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sociologia, 1
interdiscipli
do problema
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Fugindi
existência d
lógíêa.Emb
; trata de r
sociãlHá al
tista social,
Assim come
separar o cc
objetiva em
se elaborarr
Há pelos menos duas definições facilmente identificáveis ds>objeto 0t.I "matéria"
(subject matter) da economia. A primeira delas esteve muito em voga no século XIXe 2 Quando os fi
A estrutura da ciência econômica 7
; estudantes são
rdagern, de esti-
ica assemelham-
da propriedade
tos modelos teó-
, e desenvolvem
/C
diz que a economia "estuda o comportamento humano na busca da riqueza e na aversão '
ao esforço do trabalho". Trata-se da conhecida definição feita por Stuart Mill. Outra--- ~ .
definição da ciência econômica viria a substituir essa no século subsequente. Referimo-
-nos agora à definição .que se tornou muito popular nos livros-textos de economia, pro-
posta pelo economista Lionel Robbins: 'Ji economia estuda o comportamento humano na-------~ --alocação eficiente de meios produtivos escassos passíveis de usos alternaiivos"?- --- - _.- -- -. _._----
As duas definições em tela fa@m no comportamento humano e elas procuram res-
pOEder em rel"ação a que fim se presta o comportamento puramente econômico, enfo- ~
cado pela economia científica: acumulaçãp de riqueza com o mínimo esforço, no pnmeiro ~•.. ~ ..•. ,., ~
caso, e alocação eficiente, no segundo. Mas é preciso reconhecer que o fim em questão,
apontado em cada uma das definições anteriores, não é suficientemente claro e abran-
gente, e nem são mutuamente excludentes. Pode-se ..I2!:!guntar,considerando-se 'U2-.rimei-
ra definição: o que é riqueza ou aversão ao trabalho? Na segunda delas, questiona-se se
a mera alocação eficiente dos meios na produção e no consumo efetivamente esgotaria
~J t "').. -.. • J.. .
todos os fatos comportamçntais e outros fenômenos tidos como econômicos.
I •• ".;. #
I
As definições do comportamento puramente sociológico, político ou relativo a
ca científica que
IS consolidados.
:eórica básica. É-esse ambiente a
no teste empíri-
ção, também se
as tão precisas
mica, geologia,
ômicas também
~são, ao menos
o que decorre
o naturais que
re nas ciências,
~ objeto da in-
a investigação ./
a essa ciência?'-.'
tQu "matéria"
o século XIXe
outras ciências sociais são ainda mais polêmicas e intrigantes. Não obstante, focaliza-
-se o elemento comum, que reside no fato de todas elas estudarem a ação humana.
Isso parece-nos suficiente para os propósitos de uma investigação filosófica preliminar.
Sendo assim, generaliza-se dizendo que tais ciências focalizam os elementos subjetivos
que condicionam o comportamento humano e suas consequências quando múltiplas
ações de diferentes indivíduos se combinam em sociedade.
Por muito tempo no passado, os pensadores sociais polemizavam entre si se seria
possível uma divisão do conhecimento social em áreas específicas tais como economia,
sociologia, história, geografia humana e ciência política; ou se apenas o tratamento
interdisciplinar conjunto, sem divisões entre especialidades, seria capaz de dar conta
do problema. Atualmente reconhece-se a necessidade de uma investigação especializa-
da, muito embora as questões de método, autorizando essa divisão, ainda não estejam
inteiramente resolvidas.
Fugindo dessa discussão, mesmo sem resolvê-Ia, há de se reconhecer, a9 menos, a
existência de um objeto para as ciências sociais que não seja a natureza física ou bio-
lóglca. Embora não natural, não físico, o objeto de estudo da investigação social não
'"'-- -- ---- --
se trata c!eum~ construção puramente subjetiva engendrada !la~m..e ~ i~stigador
soc~al.Há algo além de um exercício puramente mental envolvido no trabalho do cien-
tista social, pois viceja uma realidade objetiva que deve ser racionalmente estudada.
Assim como nas ciências naturais, no campo da inyestigaçã,9 §ocial também se d~ve
separar o conhecimento que se formUIãdos fatos, por um lado, da realidade externa e,.;,-~--- - . - -
objetiva em si mesma, por outro. Com isso, a tradicional separação entre as ideias que
se elaboram sobre a realidade e essa realidade em si mesma estende-se também para o
nno os físicos?
;O cientistas so-
com entidades
Dseconomistas
a isolada ou,
:e e se combina
:omandar fenô-
1 ação humana.
esfera da ação
os físicos, eis a
preservação ou
TIl-se alheios à
oonito planeta,
2 Quando os fins puderem ser arranjados em uma ordem de importância pelos agentes.
8 Metodologia do pensamento econômico • Barbieri - Feijó
domínio da ciência social. A separação, usual nas ciências físicas, entre sujeito e objeto,
parcialmente violada apenas na mecânica quântica, tam~ém se aplica ao campo dos
estudos sociais. No caso, po~ém, as dificuldades são maiores devido ao caráter presu-
mivelmente menos tangível do objeto social.
Acontece que o. objeto das ciências sociais também pode ser um, "su'eito", pois,
amiúde, surpreendemos o cientista social como um sujeito, o analista; investigando
oJ:!.trosujeito, o agente ou ator social. Não queremos dizer que o objeto da investigação
social é sempre um sujeito. Aceita-se a possibilidade de que tal objeto sejam estruturas
sociais não redutíveis a sujeitos humanos. Não se pretende aqui entrar na polêmica
se, ou não, as estruturas sociais devem ser dissecadas até que se encontrem os sujeitos
individuais e suas ações que as geram.
O que não se pode negar é o fato de que a investigação social lida com compor-'-----tamentos individuais, embora não com apenas isso, e frequentemente faz suposições
sobre ~ compo~tamentõs." Mas nem sempre é o i~divíduo real e concreto que é
tratado nas teorias sociais, mas tipos estilizados que o teórico imagina como represen-
tant~de um comportamento que descreve razoavelmente uma gama de indivíduos
heterogêneos ou que, mesmo sem fazê-lo, uma vez incorporados ao modelo, levam a
resultados gerais que correspondern às observações em muitos casos específicos-:--
\ -Nocaso da econOl;nia, os cientistas passaram a dar mais importância à construção
I teórica que considera o indivíduo otimizador racional na representação abstrata dos
agentes. Assim, modelos com um agente estilizado proliferaram nos trabalhos teóricos
dos economistas, a-ponto de constituírem um elemento central do paradigma da aná-
lise econômica.
Parece ingenuidade imaginar que o agente econômico seja sempre um sujeito do-
tado de plena racionalidade, informação perfeita, que atue em mercados completos
(com mercadorias contingentes oferecidas para todos os estados possíveis da nature-
za), que tenha clareza de seus objetivos e que procure sempre o melhor resultado para
si no curto prazo, sem se preocupar com as consequências remotas de suas escolhas e
sem se importar com os demais. Inclusive, o paradigma da economia tem sido criticado
pela ingenuidade de seus supostos comportarnentais em sua análise. Mas, em muitos
casos, a pecha de ingenuidade caracteriza melhor a situação de quem faz esse tipo de
crítica do que os modelos dos economistas teóricos em si mesmos, pois as hipóteses
arroladas anteriormente, a bem da verdade, são apenas simplificações de livros-textos
introdutórios. A fronteira do conhecimento teórico em economia há muito aprendeu
a lidar com hipóteses comportamentais bem mais arrojadas e realistas do que essas.
Assim é que os economistas teóricos atuais sabem perfeitamente modelar a~ntes com
racionalidade limitada, informação imperfeita, mercados incompletos, agentes indeci-
sos e com objetivos múltiplos, e gue levam em conta o bem-estar de outras pessoas.
Po~também criticar os supostosdo paradigma econômico por considerar ape-- -
nas o modelo de concorrência perfeita. Outra crítica irrelevante, pois, variegadas estru-
turas de mercados, da concorrência perfeita ao monopólio, começaram a ser estudadas
já no século
-se com a co
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mas não son
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básico de Ir
economia, p----Abase (
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~ agentes COJJ1
igentes indeci-
tras pessoas.
onsiderar ape-
iegadas estru-
Iser estudadas
já no século XIX,e a partir do fim dos anos 1920 o conhecimento teórico aprofundou-
-se com a consideração de estruturas intermediárias como concorrência monopolística
~~lio. Os supostos ~a concorrência perfeita foram q~stionados e repensados
pela inl.luê!lcia dã crítica dos economistas da chamada eSEQLC{...Q.ustríClcCLc!:e~conQ.m{a,
mas não somente por ela, e su~stituídos pela ':.isão do agente econômico com compor-
tamento ativo na exploração do mercado e descoberta de oportunidades. O modelo
básico de monopólio foi questionado e reexaminado, em um contexto dinâ~ic~ da
economia, pelo renomado Joseph Schumpeter.-.....-- - -
A base da microeconomia paradigmática foi ampliada pela incorporação de diver-
sas ideias trazidas pela chamada análise institucional, no que hoje é conhecido como
microeconomia neoinstitucional. Nesse aspecto, introduziu-a a análise da microestru-
, -
tura d~ men;pdo, com o conceito de in~.i..árip_das transações mercantis, a incor-
poração da ideia de custo dSJraIlsação, a revisão do famoso Teorema de Coase, num--- , -- --
contexto em que ele deixa de prevalecer, e muitos outros exemplos."
No campo da microeconomia do equilíbrio geral, criticava-se o modelo de equi-
líbrio geral proposto por Arrow e Debreu pelo fato de não existirem mercadorias
contingentes para todos os estados da natureza, de as transações não poderem ser ne-
gociadas num único período e de as previsões dos agentes não serem perfeitas. Críticas
evidentemente cabíveis, mas que nas últimas décadas foram superadas pelo modelo de
Radner, que introduz ativos financeiros no lugar _demercadorias contingentes, permite
q;:; as transações entre o~agentes sejam reabertas em períodos subsequentes e que a~
expectativas não sejam perfeitas. Mesmo este úlli-mp~modelo foi criticado porque ima---gina um processo sequencial apenas determinista e não dá conta de explicar o equilí-
bri<?,Eosch<gllilc!Q.s~r~s incomP.l$tQ;5.4A demonstração do equilíbrio em mercados
incompletos avançou muito com a introdução de inadimplência e garantias físicas no
mercado financeiro. Modelos estocásticos não deterministas têm sido propostos em
anos recentes por economistas matemáticos como Kubler e Schmedders. Mesmo esses
modelos mais sofisticados ainda são criticados, no entanto, por suporem um processo
estocástico muito simples, do tipo markoviano, e atualmente os economistas buscam- ~-
novas teorias que dariam conta de uma hipótese mais arrojada de evolução temporal
das variáveis econômicas nelas incorporadas.
Essa sequência anterior de exemplos da evolução da microeconomia também po-
deria ser exemplificada pela história da macroeconomia e de outras áreas teóricas do
paradigma econômico. Tais exemplos mostram que aSJ~~ ..;::~môm~cas.E~adigTá- t:
ticas começam muito simples e estilizadas, com fortes hipóteses simplificadoras da
- - y - -- ••• - ---- --~----:....--- ~ ""---
3 o teorema de Coase assevera que as chamadas externalidades negativas não afetam a eficiência das tran-]
saçõês''dé mercado, pois -os prejuízos provocados pelas externalidades podem sei negociados e restituídos
em mercados especiais ~riados para tanto. Contudo, na economia neoinstitucional acredita-se que quando os I
direitos de propriedade não estão bem estabelecidos, toma-se problemático negociar acordos entre as partes I
envolvidas, de modo que o teorema em questão não se aplica.
4 O mercado é incompleto quando não se oferecem ativos financeiros suficientes que assegurem promessas
de pagamentos em todos os possíveis estados da natureza.
10 Metodologia do pensamento econômico • Barbieri - Feijó
Eealid~, e aos poucos vão sendo aperfeiçoadas com a incorporação de supostos mais
sofisticados e de um arcabouço técnico e matemático mais avançado. E ~ssim caminha
~ paradigma econômico.
Tal descrição faz lembrar a evolução da física. O paradigma quântico-relativístico
atual também se desenvolveu muito a partir da contribuição genial de Einstein, em 1905,
no campo da relatividade, e de físicos como Planck, Heisenberg, Bom, Bohr, Jordan, de
Broglie, Schrõdinger, Pauli, Bose, Hilbert, Dirac e von Neumann, no campo da mecânica
quântica." Amatemática e os supostos iniciais da física moderna eram mais simples e fo-
ram se tornando crescentemente sofisticados com o passar das décadas. Investiu-se mais
na ciência física, os laboratórios tornaram-se maiores e mais caros e as possibilidades de
experimentação dos resultados teóricos expandiram-se consideravelmente.
O .mesmo deu-se com a economia como ciência. Avançou-se no ~po teórico e,
inclusive, nas possibilidades de experimentos, com o desenvolvimento das técnicas de
análise estatística e econométrica, com o acúmulo de dados quantitativos da realidade
econômica dos paíS'es e de novas possibilidades de experimentação trazidas pelas no-
vãs técnicas de-coleta de dados, de experimentos controlados em clínicas de observa-
ç,ão com agentes reais etc.
De fato, economia e física são igualmente ciências ..com paradigmas consolidados.~ -
Mal, ainda assim, subsistem diferenças curiosas entre elas quanto à estrutura das res-
pectivas ciências. E o e~dante de metodologia da economia deve estar atento a elas.
Enquanto todos reconhecem que o paradigma da física é o quântico-relativístico, no
caso da nossa ciência não há nem mesmo um rótulo geral para denominar-se consen-
sualmente o paradigma da economia. No entanto, a falta de um nome consensual não
- -- --. --
significa que não se deva reconhecer a existência de um aradigma na economia. Pode-
-se chamá-Io de par5ma neoclássico, conforme costumam rotulá-lo seus detratores,
que não aceitam ã. exclusividade do paradigma econômico. Mas certamente essa deno-
minação não é apropriada, pois o termo neoclássico pressupõe algum compromisso, se
não a continuidade, com a tradição clássica da economia política inglesa.
Pense um pouco nisso, ninguém pode ser chamado de neopunk se não tiver algu-
ma proximidade com os punks dos. anos 1980. Um neonazista é o quê? Um nazista,
agora sem partido, sem poder e careca, mas igualmente racista e violento! Já o...para-
digma atual da economia não tem nada a ver com a economia política clássiça. Rom-
péüêõill ela em quase tudo, exceto na ~central de uma economia de mercado com
mecanismos automáticos de coordenação pautados em agentes autointeressados. Isso
é pouco para caracterizá-lo como "neo". Teríamos então de buscar outro rótulo para o
paradigma econômico.O melhor nome seria o de paradigma da economia matemático-
-estatistica âoequilibrio maximizador. Mas esse batismo afígura-se pessoa~ idíossin-
crático. Revela uma preferência nossa.
5 Curiosamente, von Neumann também contribuiu para o desenvolvimento da microeconomia do equilíbrio
geral dos mercados e na teoria econômica dos jogos.
!t O paracexatas. Entã
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7 Preferimos di
B Melhor seria (
e ideológico.
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A estrutura da ciência econômica 11
e supostos mais / j'
: assim caminha
o paradigma da economia é esse! E assemelha-se ao da física e das demais ciências
~s. Então nada-mais natural do que estudar as reflexões filosóficas e metodológicas
que foram feitas pelos mais renomados filósofos da ciência e historiadores da ciência
para avaliar-se a estrutura da física e de outras ciências assemelhadas a ela. Tal estudo
ajuda, por certo, na compreensão da economia como ciência, mesmo sabendo que tais
filósofos e historiadores não eram economistas e tinham muito mais afinidades com
a física e as ciências naturais. Dos que iremos estudar nos próximos capítulos, ?opper
era filósofo de formação, mas estudou a sério a teoria de Einstein, tida por ele como o... - - - c___ .__ --- ~- -_ ___~ _ _ ~ ~
modelo de boa ciência. Kuhn era graduado em física e envolveu-se com a história da
ciência no doutorado. FeyeraDeiícl. êra histori!.!90r e ~SiÓI;go de formação, mas formu-
lôUSuã";;isão ·sobre a natureza da ciência depois de estudar física. Laudan graduou-se___ "'" - ,c '
em filosofia, porém, seus livros estão carregados quase exclusivamente com exemplo---...." -
das ciências físicas.'----- -~ •..•
Tais pensadores não se preocuparam com economia. Quase nada conheciam de nos-
sa ciência. Alguns deles, como Kuhn, dão a entender que sua descrição da ciência não
se aplica às ciências sociais. Escreve ele, no prefácio da 2ª edição de seu principal livro:
rico- rel ativístico
lStein, em 1905,
3ohr, Jordan, de
ipo da mecânica
ais simples e fo-
Investiu-se mais
ossibilidades de
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~po teórico f.,
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lê? Um nazista,
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ro rótulo para o
rUa matemático-
5SOal e idiossin-
1Fiquei especialmente impressionado com o número e a extensão dos desacordos exis-
tentes ente os cientistas sociais no que diz respeito à natureza dos métodos e problemas
cientificos legítimos r·.J A prática da astronomia, da física, da química, da biologia
normalmente não evocam as controvérsias sobre fundamentos que atualmente parecem
endêmicas entre; por exemplo, psicólogos ou sociólogos.6
Para Kuhn, portanto, não existem paradigmas na psicologia e na sociologia. Ele
não se refere à economia, mas se ele tivesse tido a oportunidade de uma imersão nessa
ciência, iria formular uma opinião diferente da que expressara para as duas ciências
sociais por ele citadas.' Caro Kuhn, a economia também possui um paradigma!
Alguns leitores certamente ficariam indignados com nossa posição. Diriam que
estamos sendo injustos por não considerar a presença de outros paradigmas na eco-
nomia, pois, a escola austríaca de economia, a economia institucional, a economia
marxista." a economia da organização industrial, a economia keynesiana" e tantas ou-
tras correntes teóricas e reflexivas da economia científica também poderiam perfeita-
mente ser consideradas paradigmas da ciência econômica.
Ao nosso juízo, essa forma de pensar, no que se refere à ciência econômica, está er-
rada, tanto conceitualmente quanto descritivamente. Conceitualmente, equivoca-se por-
que o criador da ideia de paradigma científico só autoriza a coexistência de mais de um
oomia do equilíbrio
6 Thomas Kuhn. A estrutura das revoluções científicas, p. 12-13.
7 Preferimos classificar a psicologia de ciência humano-biológica, e não de ciência sociaL
8 Melhor seria denominá-Ia de economia marxiana, pois por marxismo subtende-se um movimento político
e ideológico.
9 Os seguidores das ideias do conceituado economista britânico John Maynard Keynes.
12 Metodologia do pensamento econômico • Barbieri - Feijó
paradigma em períodos revolucionários da ciência ou em disciplinas do conhecimento
pré-científicas. Ou seja, ao menos que se admita que a eco~omia seja uma ciência ainda
imatura, que ainda não se consolidou como uma verdadeira ciência, ou que ela viva em
permanente revolução, a ideia da existência de muitos paradigmas kuhnianos não se
sustenta conceitualmente. Descritivamente, a crença de competição entre paradigmas
no estágio atual da economia científica não se coaduna com a realidade observada. Um
estudante de economia que se forme apenas estudando as ideias de Marx será tido pela
comunidade científica como um marxólogo, e não um economista. Graduar-se tendo
tido apenas imersão nas brilhantes ideias da escola austríaca de economia também não
dará ao estudante uma formação adequada como bacharel em economia. Muito menos
em relação às outras correntes de pensamento da ciência econômica.
No cenário internacional, ao menos nos países ocidentais desenvolvidos, nenhum
estudante será aceito como um verdadeiro economista se não tiver tido um bom contato
com os cursos tradicionais de microeconomia, de macroeconomia, de econometria e de
outras disciplinas que compõem o núcleo do paradigma da economia científica. Se na
esmagadora maioria das boas escolas de economia, inclusive no Brasil, os alunos devem
atender a essas disciplinas habituais, então nota-se que já na formação de seus futuros
profissionais a ciência econômica tem-se comportado corno ciência com um paradigma.
Na produção científica, também nossa ciência comporta-se como um campo pa-
radigmático, pois a maioria das revistas especializadas só publica trabalhos que em-
pregam as ferramentas tradicionais de análise teórica e de avaliação empírica. Grande
parte das revistas científicas conceituadas de economia só publica artigos com modelos
matemáticos e análise empírica tradicional. Blaug cita um estudo, publicado no co-
meço dos anos 1980, o qual contatara que, em uma das mais prestigiadas revistas de
economia (se não a mais prestigiada do mundo), mais de metade (54%) dos artigos
versavam sobre modelos matemáticos sem quaisquer dados, quase um quarto deles
(24,6%) era sobre análise empírica, usando-se inferência estatística em dados publi-
cados ou com base em simulação e experimentos artificiais. Apenas 21,4% dos artigos
da American Economic Review dedicavam-se a outros temas, dos quais apenas 11,6%
diziam respeito a modelos sem matemática e sem dados."
Pode-se contestar o exemplo, argumentando-se que se trata de uma publicação
específica, cuja composição de temas espelha um viés dela e que isso não se traduz
numa radiografia da distribuição de temáticas relativa ao grosso das publicações in-
ternacionais especializadas em economia (journals de economia). Mas essa opinião
está equivocada. Vejam-se as 31 revistas internacionais de economia mais prestigia-
das, que receberam da CAPESll a classificação AI, das tops internacionais. Vinte delas
concentram-se sobremaneira em artigos com teorias matemáticas e eventuais testes
econornétrk
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lO Mark Blaug, Metodologia da economia ou como os economistas explicam, p. 32.
11 Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior. Órgão ligado ao Ministério da Educação.
12 The Americat
Review; Games
Theory; Joumal
of Economics an
Finance; The Qt
Statistics; The R
13 Joumal of Bu
Banking; Journc
A estrutura da ciência econômica 13
do conhecimento
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as essa opinião
mais prestigia-
ais. Vinte delas
.•-entuais testes
econométricos;" cinco dedicam-se a publicar ensaios em economia aplicada" e duas
estão voltadas à econometria (Journal of Applied Econometrics, Journal of Econome-
trics). Outras três distribuem-se entre história do pensamento econômico (History of
Political Economy), estudos em metodologia da economia (Journal of Economic Me-
thodology) e resenhas (Journal of Economic Literature). Apenas uma única revista AI
publica temas de escolas econômicas não inseridas no paradigma (Journal of Post Key-
nesian Economics).
Então, das 31 revistas de economia classificadas como AI tem-se apenas uma
única dedicada a uma escola de pensamento econômico à margem do paradigma da
ciência econômica, a qual prioriza trabalhos na linha do chamado pós-keynesianismo.
Considera-se ainda que estudos fora desse paradigma, incluindo-se também economia
marxiana, austríaca, institucional etc., podem ser aceitos para publicação em ao menos
mais três revistas AI: Cambridge Journal of Economics, Journal of Economic Methodology
e History of Political Economy.
Pode-se argumentar, entretanto, que as revistas classificadas como AI não são re-
presentativas da produção total dos economistas acadêmicos, pois representam apenas
3,44% das 1.115 revistas de economia classificadas em qualquer nível. É verdade, mas
reconhece-se aqui que o critério de excelência máxima do trabalho de pesquisa cientí-
fica, em qualquer área, não deve fugir do requisito de resultar em publicação nas mais
bem avaliadas revistas do respectivo ramo científico. O fato de apenas 4 das 31 revistas
de primeiríssima linha em economia abrirem espaço para trabalhos com conteúdos de
fora do paradigma da ciência mostra que as escolas de economia não paradigmáticas
recebem um acolhimento apenas marginal da comunidade científica. É natural que
seja assim, afinal uma ciência paradigmática dedica-se a cuidar do desenvolvimento
e articulação de teorias dentro do paradigma. Senão, nem mesmo haveria o referido
paradigma.
E quanto às outras 1.084 revistas de economia com classificação inferior, não esta-
riam as escolas de economia mais bem representadas nesse âmbito maior? Afinal, sabe-
mos que os economistas marxianos têm suas próprias revistas, e também os economistas
da escola austríaca, da economia institucional etc. Os economistas da escola austríaca,
por exemplo, publicam, entre outras revistas, o The Quarterly Journal of Austrian Eco-
nomics, o Review of Austrian Economics, Austrian Economics Newsletter, Mises Review e o
Journal of Libertarian Studies. Todas boas publicações, porém, sem classificação oficial.
Os economistas marxianos contam com um espaço para publicação de seus estudos na
olvidos, nenhum
um bom contato
econometria e de
científica. Se na
os alunos devem
) de seus futuros
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) um campo pa-
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un quarto deles
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.4% dos artigos
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rérío da Educação.
12 The American Economic Review; Cambridge Journal of Economics; Economic Theory; European Economic
Review; Games and Economic Behavior; Econometrica; International Economic Review; Journal of Economic
Theory; Journal of Financial Econormcs: Journal of Monetary Economics; Journal of Politicai Economy; Review
of Economics and Statistics; Review of Economic Studies; The Journal of Econ011licPerspectives; The Journal of
Finance; The Quarterly Journal of Economics; The Rand Journal of Economics; The Review of Economics and
Statistics; The Review of Economic Studies e The Review of Financial Studies.
13 Journal of Business & Econorrnc Statistics; Journal of International Economics; Journal of Money, Credit and
Banking; Journal of Public Economics e The Journal of Human Resources.
14 Metodologia do pensamento econômico • Barbieri - Feijó
conceituada Review of Radical Political Economics, bem como na Crítica Marxista, uma
versão italiana e outra brasileira, na Actuel Marx e na Rethinkitig Marxism, das que nos
parecem mais conhecidas da comunidade científica. 14 No entanto, apenas a primeira re-
vista conquistou uma boa colocação (é A2); as demais são, no máximo, BI.
Os economistas com trabalhos fora do paradigma contam com essas poucas e mal
classificadas revistas específicas às suas escolas de pensamento, ou então encontram
oportunidade de publicação em umas poucas revistas de prestígio que se abrem a seus
artigos, como as A2: Journal of Economic Issues e Review of Political Economy.
A mesma ordem de consideração aplica-se às revistas mantidas pelas demais es-
colas não paradigmáticas da economia: ocupam um espaço muito pequeno no conjun-
to das revistas classificadas. O fato de as revistas de economia, em âmbito mundial,
abrirem-se pouco para artigos fora da linha paradigmática de investigação mostra a
força e a hegemonia do modo de se trabalhar nessa ciência regido por seu paradigma.
Embora minoritária e com pouco espaço para publicações, as escolas não para-
digmáticas da economia sobrevivem e continuam gerando bons frutos. Seriam elas
apenas toleradas pela comunidade científica dos economistas ou a convivência com
elas representa algo de positivo para o paradigma? Essa é uma questão, a riosso ver,
fundamental para entender-se a estrutura da ciência econômica e a maneira peculiar
que a economia como ciência se distingue da física.
Vejamos o caso da física: o paradigma quântico-relativístico não convive com escolas
de pensamento físico à margem da corrente teórica exclusiva. É verdade que há físicos
que se especializam, ainda hoje, emfísica newtoniana ou clássica. De fato, certos proble-
mas e aplicações da física se prestam melhor a uma abordagem clássica. Não requerem,
de modo nenhum, as correções relativísticas e nem a descontinuidade energética da me-
cânica quântica. Isso por questão de escala espacial e de níveis de energia. O tratamento
newtoniano afigura-se, nesses casos, o modo adequado de se enfrentar o problema. Isso
não significa que o economista newtoniano moderno pretenda competir com o paradig-
ma quântico-relativístico de sua ciência, propondo um retorno ao antigo paradigma clás-
sico. Os físicos newtonianos de hoje em dia não se arvoram em uma escola que ataca e
compete com o paradigma da física moderna. Longe disso, constituem apenas um corpo
especializado de profissionais dessa ciência. O caso da economia é diferente.
Na economia científica, as escolas de pensamento à margem do paradigma com-
petem com ele. Criticam a corrente principal do paradigma matemático e estatístico
de equilíbrio maximizador da economia e almejam enfraquecê-lo e assim fazer a eco-
nomia caminhar na direção sinalizada por eles, à luz de suas próprias concepções dos
problemas econômicos mais importantes e do método científico adequado para tratá-
-los. Essa descrição pode levar o leitor a imaginar que existam, na economia como
ciência, não
paradigma c
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econômica.
14 Além de um número de revistas brasileiras que aceitam artigos em economia marxiana: Revista de Eco-
nomia Política, Revista ANPEC, Economia, Economia e Sociedade, Estudos Econômicos, Nova Economia, Novos
Estudos CEBRAP, Análise Econômica, Revista da Sociedade Brasileira de Economia Política e Oikos.
A estrutura da ciência econômica 15
: Revista de Eco-
Eamomia, Novos
eOilos.
ciência, não apenas um, mas diversos paradigmas que competem entre si. Além do
paradigma central, usualmente chamado de corrente principal (mainstream), haveria
em competição com ele, disputando a hegemonia na ciência econômica, os paradigmas
marxiano, keynesiano, institucional, austríaco etc.
Pensar dessa forma, no entanto, requer uma nova especificação do conceito de
paradigma científico. Certamente esse modo de interpretar a estrutura da ciência eco-
nômica atual, como competição entre grandes paradigmas, não pode ser sustentado à
luz do conceito kuhniano de paradigma. Vejamos a razão disso: primeiramente, sabe-
mos que praticamente nenhum curso de graduação em economia dedica-se a formar
o aluno em uma dessas escolas. Não há, na graduação, uma sequência de economia
marxista I, II etc.; não existe nenhuma disciplina em "escola austríaca de economia";
dedica-se pouco espaço à economia institucional, muita vezes apenas como tópicos da
disciplina de organização industrial, e assim por diante.
Geralmente, as escolas de pensamento são apresentadas e superficialmente discu-
tidas em disciplinas de história do pensamento econômico, teoria do valor, economia
das instituições etc., que em alguns cursos de graduação aparecem como disciplinas
optativas eletivas.
Exceto em umas poucas faculdades, bastante idiossincráticas e que compram a
ideia de encaminhar o aluno de graduação para uma dessas escolas de pensamento,
vendendo-a como se fosse a excelência na formação do economista, em detrimento da
formação teórica paradígmática, nenhum curso de graduação em economia pode-se
dar ao luxo de concentrar sobremaneira a preparação do aluno nas chamadas escolas
de pensamento. Mesmo cursos de economia sectários, no Brasil e no mundo, hoje em
dia estão se abrindo para uma formação sólida do estudante no paradigma da econo-
mia, com uma presença forte de disciplinas teóricas, na linha da microeconomia e da
macroeconomia, e boa formação matemática e estatística.
O estudante doutrinado nas escolas de pensamento (portanto, sem receber o con-
teúdo paradigmático) teria pouco espaço na carreira acadêmica, e mesmo no mercado
de trabalho profissional mais geral (bancos, empresas, sindicatos, governos, ONGs
etc.), pois teria dificuldade por conta de suas deficiências de formação nas técnicas
usuais do economista. Portanto, de modo nenhum as escolas de pensamento repre-
sentam paradigmas alternativos. Tais escolas não têm condição de apresentarem-se
como tal. Não são robustas ou desenvolvidas tecnicamente para tanto. Estão bastante
concentradas em discussões filosóficas e conceituais. Perdem uma parte considerável
de seus esforços em desenvolver uma visão alternativa ao paradigma, que permane-
ce apenas como visão, pois não se desenvolve a ponto de tornar-se uma verdadeira
linha competitiva de desenvolvimento técnico que possa ser tomada como um para-
digma alternativo da ciência econômica. Não representam, portanto, outros paradig-
mas da economia, mas simplesmente são escolas de pensamento presentes na ciência
econômica.
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ico e estatístico
sim fazer a eco-
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economia como
16 Metodologia do pensamento econômico • Barbieri - Feijó
Por conseguinte, a primeira razão evidente de as escolas de pensamento não se-
rem paradigmas kuhnianos é que elas não dominam a formação do estudante de econo-
mia. O segundo motivo já antecipamos: não há muito espaço de atuação profissional,
na academia e no mercado, para os alunos com formação carente, apenas especializa-
da em uma ou mais dessas escolas. Então estar fora do paradigma representa, para o
profissional, uma perda de oportunidades de inserção e de retomo financeiro na vida
profissional.
Um terceiro motivo de as escolas de economia não serem paradigmas é que não
existe no interior delas um consenso quanto aos modelos e técnicas de análise, às
representações e às interpretações de mundo. Ou seja, nem todos os adeptos de uma
determinada escola reconhecem os mesmos problemas e as mesmas soluções científi-
cas. Por exemplo, no interior da escola austríaca de economia subsistem diferenças im-
portantes entre os adeptos de três grandes mestres da escola: Menger, Mises e Hayek."
Outro exemplo: entre os adeptos da escola keynesiana, vicejam consideráveis discor-
dâncias entre os chamados neokeynesianos, os pós-keynesianos e os novos-keynesianos.
As escolas de economia, portanto, não estão à altura de um paradigma. Como tal,
nem ao menos chegam a competir, de fato, com o paradigma da economia. Se elas
não podem oferecer um caminho alternativo para a prática acadêmica do economista
profissional, então qual é a função delas? Se são apenas toleradas, qual a sua função
na estrutura e funcionamento da empresa científica da economia? Na verdade, as es-
colas de pensamento, muito embora não tenham condições práticas de se oferecerem
como paradigmas alternativos (não quer dizer que seus adeptos não acalentem essa
ambição), desempenham um papel fundamental no trabalho da comunidade de cien-
tistas econômicos. As escolas de pensamento arejam, por assim dizer, o paradigma da
economia. Instigam-no, praguejam contra, apontam equívocos, propõem mudanças,
tentam ridicularizar as teorias ortodoxas, denunciam a possível existência de um viés
político-ideológico. Isso é bom para o desenvolvimento do paradigma da economia,
pois ele é sensível a essas provocações e não vê problema em tentar incorporá-Ias em
seus desenvolvimentos futuros. É claro que o processo de incorporação das críticas é
parcial e acarreta uma adaptação que amiúde modifica, e mesmo distorce, o sentido
original da proposta feita pela escola de pensamento crítica.
As escolas de pensamento, portanto, ajudam no desenvolvimento do paradigma.
Mais do que toleradas, elas são bem-vindas. Seus membros devem ser respeitados. A
academia dos economistas não deve se preocupar com estar desperdiçando recursos
quando se abre para esses profissionais, tido como heterodoxos. Tais profissionais aca-
dêmicos não representam "picaretas" despreparados, com fraca formação matemática,
que buscaram refúgio nas escolas para sobreviverem," mas pessoas que optaram por
atuarem fora
na ciência. 1\1
e alguns dele
nais compete
caminho alte
recebeu de b
O Diagr
neste capítul
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Escola hetE
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O círcul
e estatístico
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15 Ver, a respeito, um estudo sobre as diferenças epistemológicas entre esses mestres em Ricardo Feijó, Eco-
nomia e filosofia na escola austríaca.16 Embora alguns possam sê-lo. Mas há também profissionais despreparados e tacanhos atuando no para-
digma da ciência econômica.
17 Vide o caso d
dos com o refer
A estrutura da ciência econômica 17
rsamento não se-
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ação profissional,
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ligma. Como tal,
:onomia. Se elas
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ncorporá-Ias em
ão das críticas é
norce, o sentido
atuarem fora do paradigma, por suas crenças pessoais e estratégia própria de inserção
na ciência. Muitos desses heterodoxos se tornam grandes autoridades em suas escolas
e alguns deles têm sido agraciados com o prêmio Nobel de economia. 17 São profissio-
nais competentes, pessoas de grande inteligência e espírito forte, que escolhem um
caminho alternativo e crítico ao mainstream. A academia dos economistas sempre os
recebeu de braços abertos.
O Diagrama 1.1 ilustra a visão da estrutura da ciência econômica apresentada
neste capítulo:
Diagrama 1.1 - O paradigma da ciência econômica e suas escolas
) do paradigma.
!T respeitados. A
içando recursos
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ção matemática,
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Paradiqrna da
economia científica:
Economia matemático-
-estatística do
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O círculo central representa o paradigma da economia (o paradigma matemático
e estatístico do equilíbrio maximizador). Os círculos menores, e entorno dele, são as
escolas de pensamento não paradigmáticas: keynesianos, austríacos, institucionalistas,
Ricardo Feijó, Eco-
amando no para- 17 Vide o caso de Hayek, da escola austríaca, e Douglas North, da escola da economia institucional, agracia-
dos com o referido prêmio.
18 Metodologia do pensamento econômico • Barbieri - Feijó
marxistas, teóricos da organização industrial, econometristas heterodoxos, historicistas
etc. As setas que partem desses círculos menores em direção ao círculo do paradigma
representam as contribuições dessas escolas para o desenvolvimento do paradigma,
muitas vezes involuntárias e até repudiadas por seus adeptos. Os exemplos desse pro-
cesso abundam na história do pensamento econômico: os keynesianos desgarrados da
macroeconomia ortodoxa e, portanto, refugiados na respectiva escola, contribuíram
com o famoso modelo IS-LM, com os modelos de preços rígidos, com os novos mode-
los de mercado de trabalho etc. incorporados no mainstream. Os marxianos, mesmo
mantidos entrincheirados na sua escola, contribuíram com o paradigma; por exemplo,
na assimilação por este de algumas contribuições importadas do chamado marxismo
analítico. Os institucionalistas ajudaram a compor a extraordinária microeconomia
neoinstitucional, ferramenta básica do microeconomista atual. A escola austríaca há
muito vem contribuindo decisivamente para o desenvolvimento de vários aspectos das
teorias paradigmáticas, muito embora ainda se mantenha bastante crítica ao modelo
de equilíbrio tradicional. Até Robert Lucas, o célebre teórico das expectativas racionais,
reconheceu-se inspirado nas contribuições de Hayek.
Se for assim, uma questão que surge é o por quê de tais escolas de pénsamento
não serem definitivamente incorporadas no paradigma da ciência econômica, como
ocorre em outras ciências exatas maduras, nas quais não se observa a presença de
escolas à margem do paradigma. Em parte, isso se deve à questão da formalização
matemática da teoria científica. É mais fácil conviver com a formalização na ciência
natural, onde há muito se compreendeu que a matemática é a linguagem da natureza.
É bem mais difícil aceitar que a matemática seja a linguagem de uma ciência humana
e social como a economia.
Essa questão do uso da matemática na economia é da maior importância, e voltare-
mos a ela em diversas passagens deste livro." Essa resistência ao emprego da matemá-
tica pode ser explicada por dois motivos básicos: (1) a incompreensão da matemática
pelos membros das escolas; (2) a abrangência dos discursos das escolas, os quais ofere-
cem uma visão do processo econômico com componentes descritivos, conceituais e um
tipo de análise dinâmica entremeada de história e filosofia que não permite reduzi-Ia,
sem grande empobrecimento, a modelos abstratos de estrutura matemática.
Vejamos o problema da incompreensão da matemática. Os críticos do uso da ma-
temática na economia, em geral, não são economistas matemáticos. Muitos deles não
tiveram uma formação profissional em matemática. Enveredaram por outras áreas.
Não quer dizer que não tenham sido bons estudantes de matemática. Marshall, por
exemplo, um crítico da matemática na economia, cujo emprego, para ele, não deveria
ser abusivo, mostrou-se, antes de concentrar-se na economia, um excelente matemá-
tico. Até mesmo Carl Menger, o pai da escola austríaca, totalmente crítico ao uso da
matemática
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A estrutura da ciência econômica 19
tas como Marshall, Je-
matemática na economia, ao que consta, fora um bom estudante de matemática no
ensino médio. Keynes foi um crítico da matemática, contudo, bom matemático, mesmo
sem ter a mente e a experiência de um matemático profissionaL Inclusive, ele graduou-
-se, com distinção, nessa disciplina.
É perfeitamente compreensível a visão contrária à matemática desses expoentes
clássicos da economia científica. Até porque eles estavam presos ao desenvolvimento
matemático de sua época. O problema é quando, hoje em dia, os membros das escolas
legadas por eles apegam-se às mesmas críticas ao uso da matemática, sustentando-as
em uma visão tosca e atrasada da matemática.
Criticam, por exemplo, que as variáveis econômicas não obedecem a relações fun-
cionais. Mas quem disse que a economia matemática atual empregafunções? Os econo-
mistas do paradigma amiúde trabalham com correspondências, mapas e outras técnicas
matemáticas muito mais poderosas do que as funções. Criticam o uso da matemática
na economia com base no argumento de que as variáveis econômicas não descrevem
uma trajetória bem comportada; de forma que não podem ser acompanhadas por cur-
vas contínuas e suaves, isto é, diferenciáveis em todos os pontos. Quem disse que o
paradigma atual tenha de lançar a hipótese de diferenciabilidade e que só emprega o
cálculo diferencial e integral? Na verdade, os economistas atuais do paradigma traba-
lham com análise convexa, que prescinde a diferenciabilidade das funções, tomando
apenas a hipótese bem mais fraca da convexidade. Não se impõe mais a existência de
curvas contínuas. Trabalha-se com descrições bem mais gerais e flexíveis, como a de
semicontinuidade superior (upper semicontinuos) etc. O uso do cálculo em economia
matemática há muito foi substituído pela análise convexa, pela topologia e pela topolo-
gia diferencial.
Criticam ainda o fato de o tratamento matemático pressupor uma relação deter-
minista entre as variáveis e de empregar a noção de equilíbrio. Quanto à primeira ob-
jeção, ela é fácil de ser demolida, pois os economistas matemáticos atuais aprenderam
a incorporar processos estocásticos.O esforço matemático atual vem acompanhado do
trabalho estatístico, os modelos abstratos relacionam-se estreitamente com técnicas de
simulação. A menos que o crítico esteja a par desses desenvolvimentos matemáticos
atuais, ele fica sem muito embasamento técnico para sustentar suas críticas.
Já a crítica à noção de equilíbrio é, de fato, mais consistente e difícil de ser en-
frentada pelo paradigma. Na verdade, a noção de equilíbrio é central ao paradigma
da economia, quase tão central quanto o princípio de conservação na física. Mas é claro
que os críticos a ela devem especificar qual ideia de equilíbrio estão criticando, pois,
essa noção pode significar diferentes coisas. Os economistas atuais trabalham com a
noção de equilibrio estacionário, um tipo de equilíbrio dinâmico obtido em processos
estocásticos bem comportados.
Hayek, por exemplo, faz uma crítica ao conceito tradicional de equilíbrio, pois tal
conceito pressupõe um grau de coordenação, de conhecimento e de poder de previ-
são do agente que não pode ser observado na prática. Keynesianos fundamentalistas
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20 Metodologia do pensamento econômico • Barbieri - Feijó
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apegam-se a uma visão de incerteza radical que impede um grau de ajuste no mercado
que descreveria um processo em equilíbrio. E assim por diante.
Então se deve reconhecer que há, de fato, questões de fundo realmente impor-
tantes que impedem a adesão ao paradigma da economia por membros das escolas.
Mas uma parte considerável das resistências seria atenuada se os críticos recalcitrantes
tivessem um maior contato com o tipo de trabalho atual do mainstream econômico, se
estivessem envolvidos na matemática de fronteira.
Uma parte da explicação do porquê de as escolas do pensamento sobreviverem
à margem do paradigma da economia é justamente esta: os adeptos da escola não
se envolvem na prática cotidiana de atuar nele. Com isso, naturalmente ficam tecni-
camente defasados e assim tendem a desenvolver uma visão estilizada e idealizada
das práticas dos cientistas normais. De fato, uma parte das críticas é descabida. Mas,
mesmo assim, eventualmente elas exercem um papel positivo para o desenvolvimento
do paradigma, quando a ciência normal se abre para as críticas de fora e consegue
incorporar aspectos delas em seus modelos. Mesmo que tais aspectos sejam reinter-
pretações adaptadas da crítica original, ainda assim a paternidade da ideia pode ser
buscada no trabalho das escolas.
Então, mais do que toleradas, as escolas de pe~samento são parte integrante,
necessária e benéfica da estrutura da ciência econômica. Mas não apenas porque
sugerem possibilidades de evolução do paradigma, não apenas por criticarem o
conhecimento hegemônico e proporem correções e mudanças numa direção particular.
As escolas possibilitam à ciência econômica examinar problemas da economia real
que não são suficientemente esclarecidos e resolvidos pelo mainstream. Por mais que
o paradigma matemático-estatístico do equilíbrio maximizador esteja tecnicamente
muito desenvolvido, ele não dá conta de interpretar, identificar os problemas e propor
soluções em todas as situações em que a ciência econômica é demandada pelo público.
A economia lida com um objeto tão complexo que seu paradigma depara-se com algu-
mas situações em que seus adeptos são obrigados a dizer, a bem da honestidade inte-
lectual, que não dispõem de ferramentas de análise para enfrentar o problema em tela.
Com a ciência paradigmática retirando-se de campo, surgem oportunidades para
os adeptos das escolas explorarem a ausência de boas explicações oferecidas pela ciência
normal (isto é, pelo paradigma) e apresentarem-se aos holofotes do público com suas
explanações idiossincráticas. Percebe-se então, nesses momentos, a riqueza da empresa
científica econômica, pois à enormidade de investigações técnicas ainda se agrega um
universo riquíssimo de reflexões e análises oferecidas pelos adeptos das escolas.
Quase sempre os trabalhos dos membros das escolas tecnicamente não se com-
param com o rigor matemático-estatístico do mainstream.P Ainda assim, frequente-
mente elas oferecem boas análises. É verdade que se trata de estudos e diagnósticos
muito peculiares, próprios da visão das escolas, cuja digestão pressupõe um grau de
A estrutura da ciência econômica 21
ijuste no mercado
ícas.
compartilhamento com seus pressupostos conceituais e filosóficos. Em muitos casos,
levá-los a sério requer um grau de engajamento, certo comprometimento com suas
ideias. Surgem resistências do público, mas sem dúvida a presença de explicações ofe-
recidas pelas escolas à margem do paradigma da economia enriquece o debate e pode,
inclusive, apontar para caminhos viáveis até então inimaginados.
Assim sendo, é evidente que os economistas devem se dedicar a estudar a men-
sagem de suas escolas de pensamento. Elas não podem ser excluídas da formação do
economista completo. É claro que no dia a dia da profissão, o cientista normal da eco-
nomia não se dedicará com muita frequência ao estudo das escolas, pois, em seu traba-
lho principal, o cientista econômico consome-se nas técnicas, em desenvolver e testar
seus modelos matemáticos; testá-los lógico e empiricamente, Mas é importante que ele
lembre-se sempre do conteúdo de algumas disciplinas cursadas na graduação (e mesmo
no mestrado e no doutorado), em que se expunham as reflexões e análises das escolas.
Isso não apenas poderia enriquecer o trabalho propriamente técnico, mas levar o econo-
mista acadêmico a expressar uma opinião fundamentada (e convincente) em situações
desafiadoras, ainda não passíveis de tratamento consistente pelas técnicas usuais.
Então as escolas teriam uma importância para além de somente arejar e enrique-
cer o trabalho do cientista no âmbito do paradigma. Elas ajudam a fazer a passagem
indo do trabalho do economista teórico, da investigação puramente abstrata, para o
enfrentamento de questões no campo da economia aplicada e da investigação dos fa-
tos atuais e históricos. De fato, a ciência da economia apresenta outra particularidade
em relação à física: a economia como ciência subdivide-se em áreas de conhecimento.
Além da economia teórica, pura e exata, tratada pelo paradigma, vicejam também,
convivendo lado a lado, a economia histórica e a economia aplicada.
A ideia de conceber a ciência econômica como uma coleção de campos de in-
vestigação distintos é muito antiga na histórica do pensamento econômico. Já esta-
va presente em alguns economistas da escola clássica do século XIX. Nassau Senior,
economista clássico, do começo desse século, propuseraa separação entre economia
teórica e normativa. Esta última ligada a situações de aplicação do conhecimento eco-
nômico. Essa mesma ideia de separação do conhecimento econômico foi mantida por
Stuart Mill e reforçada, sobremaneira, por Neville Keynes (pai do célebre Maynard
Keynes). Marshall insiste nessa separação. Léon Walras fala em economia pura (aná-
loga à análise da mecânica em situações simples, sem atrito), economia normativa e
economia aplicada. Carl Menger escreve sobre as diferenças entre economia exata (que
estuda as conexões gerais do fenômeno econômico), economia estatística (que estuda
as conexões particulares do fenômeno em termos estáticos), economia histórica (que
também focaliza as conexões particulares, mas de um ponto de vista dinâmico), econo-
mia aplicada, e até entre estas e um curioso estudo econômico que descreve as formas
do fenômeno social (a tal morfologia econômica).
Essa ideia de separar-se a atuação da ciência econômica em áreas estanques,
mas intercomunicantes, de investigação era, portanto, moda no século XIX.No século
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22 Metodologia do pensamento econômico • Barbieri - Feijó
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tém extremamente importante para se entender a estrutura da ciência econômica."
Devemos, no entanto, atualizar essa separação. Há, portanto, uma economia teórica,
ao lado de uma economia aplicada e da economia histórica (que trata de história econô-
mica). Essa é a separação relevante, ao nosso juízo, para se entender a estrutura atual
da economia como ciência.
Também os físicos se veem fazendo dois tipos de trabalho: a física teórica e ex-
perimental. Em muitas faculdades e institutos de física, inclusive, essas duas áreas
constituem departamentos separados. Parece-nos, entretanto, que a física experimen-
tal está muito mais próxima da física teórica do que a história econômica e a economia
aplicada estejam do núcleo teórico paradigmático da economia.
Vejamos novamente as revistas de economia. A separação proposta por nós refle-
te-se no escopo das revistas de economia. De fato, observam-se importantes periódicos
de economia que têm como critério aceitar estudos apenas em economia aplicada ou
em história econômica. Assim é que as revistas Applied Economic Letters, Applied Eco-
nomic, Applied Financial Economics Letters, Applied Stochastic Models in Business and
Industry, International Journal of Apllied Economics and Econometrics, como os próprios
títulos sugerem, divulgam apenas trabalhos em economia aplicada. Já as revistas The
Journal of Economic History, Explorations in Economi:c History e Economic History Re-
view, dentre outras, dedicam-se a publicar artigos em história econômica.
A existência dessa divisão de conhecimento dentro da economia científica trata-se,
portanto, de um aspecto há muito apontado pelos grandes economistas do passado.
Pode-se discordar apenas se os campos em que se subdivide a economia são esses mes-
mos ou se outros (como a economia moral) poderiam também ser incluídos. O campo
da economia teórica é praticamente preenchido pelo paradigma. Não que as escolas de
economia não apresentem também análise teórica. Mas as contribuições teóricas nes-
sas escolas afiguram-se uma obra mais conceitual, filosófica e descritiva do que uma
análise abstrata, tecnicamente robusta e sofisticada. Não se pretende aqui, no entanto,
alimentar qualquer tipo de preconceito contra as teorias propostas e articuladas pelas
escolas de pensamento. Mas não seria surpresa constatar que elas não se desenvol-
veram muito nas técnicas da análise econômica, naturalmente devido ao fato de não
terem se consolidado como paradigmas, não lograram atrair para si o esforço inves-
tigativo da maior parte da comunidade científica, de seus recursos e de suas revistas.
Cabe, portanto, ao paradigma da economia oferecer ferramentas tanto para a aná-
lise histórica quanto para a economia aplicada. Para a economia científica, a análise
histórica e a aplicação nutrem-se do núcleo teórico paradigmático da ciência. Mas há
também refluxos da história e da aplicação que atingem o seio da teoria. De fato, a
relação entre os três campos é muito complexa e não pretendemos aqui avançar muito
20 No século xx, talvez tenha sido Schumpeter quem mais chamou a atenção sobre isso. Ele asseverou a exis-
tência, na análise econômica, de quatro áreas técnicas distintas: economia exata e pura, além de estatística,
história e sociologia econômicas.
A estrutura da ciência econômica 23
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além de estatística,
nessa análise. O aspecto principal é que o economista precisa de uma boa inserção no
paradigma caso queira exercer com competência a função de historiador econômico e
de economista aplicado.
O paradigma matemático-estatístico do equilíbrio maximizador, entretanto, não
dá conta de enfrentar sozinho a missão de se fazer história econômica e de produzir
bons trabalhos aplicados. Pense na histórica econômica. Sabemos da enorme contribui-
ção da escola marxiana, da escola weberiana e da economia institucional na interpre-
tação dessa história. Só com o pano de fundo do paradigma teórico não seria possível
examinar-se, com eficiência, os fatos históricos e se chegar a uma boa análise. Necessi-
ta-se certamente de constructos teóricos, conceituais e interpretativos adicionais, e eles
são buscados naturalmente nas escolas de pensamento da economia científica.
Esse é o último argumento que gostaríamos de sublinhar a respeito da importância
da permanência das escolas ao lado do paradigma, e de sua convivência com ele, para
o funcionamento eficiente da empresa científica da economia, pois auxiliam bastante
os economistas a lidar com os trabalhos em história econômica (economia histórica) e
os exercícios em aplicações práticas (economia aplicada).
Com a descrição apropriada da estrutura da ciência econômica, oferecida até aqui,
voltemos à descrição da metodologia da economia e da metodologia do pensamento
econômico. Já argumentamos que a metodologia da economia pode significar tanto o
estudo das técnicas do trabalho acadêmico quanto uma investigação filosófica do fazer
ciência nesse domínio do conhecimento. Por metodologia da economia entendemos a
investigação filosófica do método de trabalho no paradigma da economia. Nesse âm-
bito; estuda-se principalmente a relação entre formulações teóricas paradigmáticas e
conclusões decorrentes delas sobre o mundo real. Afigura-se assim o ramo da economia
no qual se examinam as formas com as quais os cientistas normais da economia justifi-
cam suas teorias e as razões que eles mesmos invocam para preferir uma teoria à outra.

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