06.MATERIAL AULA NATUREZA e CLASSIFICACAO POSSE

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TEXTO 06	-	DIREITOS DAS COISAS 
1. NATUREZA DA POSSE
TAMBÉM É TEMA CONTROVERTIDO NA DOUTRINA, DE TAL FORMA QUE VÁRIAS TEORIAS FORAM CRIADAS NO SENTIDO DE EXPLICAR SUA NATUREZA JURÍDICA. 
DESTACAM-SE NESTE SENTIDO 03 TEORIAS CONSAGRADAS PELA DOUTRINA:
POSSE ENQUANTO FATO: EMBASADA NA CONCEPÇÃO E QUE A POSSE É UM FATO E NÃO UM DIREITO PROPRIAMENTE DITO. NESTE SENTIDO, ARGUMENTA-SE QUE A POSSE NÃO TEM AUTONOMIA JURÍDICA PRÓPRIA, DEPENDENDO DE UM CONCEITO JURÍDICO ANTERIOR: O DA PROPRIEDADE. 
POSSE ENQUANTO DIREITO: ESSA TEORIA ENTENDE QUE A POSSE É UM DIREITO PORQUE CONSISTE EM UM INTERESSE JURIDICAMENTE TUTELADO. É UMA RELAÇÃO JURÍDICA TUTELADA PELO DIREITO QUE TEM COMO CAUSA UM FATO. 
POSSE ENQUANTO FATO E DIREITO: CHAMADA DE TEORIA ECLÉTICA. DEFENDE A POSSE COMO FATO E DIREITO SIMULTANEAMENTE. CONSIDERADA EM SI MESMA ELA É UM FATO. CONSIDERADA EM RELAÇÃO AOS SEUS EFEITOS É UM DIREITO. 
TEORIA PREVALENTE: TEORIA ECLÉTICA - A POSSE É UM FATO RELEVANTE PARA O DIREITO PORQUE PRODUZ EFEITOS IMPORTANTES NA ORDEM JURÍDICA E UM DIREITO PORQUE REPRESENTA UM INTERESSE REGULAMENTADO PELO SISTEMA JURÍDICO VIGENTE. 
1.1 NATUREZA DE DIREITO REAL OU DE DIREITO PESSOAL. 
SE A POSSE É DIREITO A QUE RAMO PERTENCE? A RESPOSTA TAMBÉM É CONTROVERTIDA. 
- DIREITO REAL – IHERING - A POSSE CONSTITUI-SE COMO CONDIÇÃO DA UTILIZAÇÃO ECONÔMICA DA PROPRIEDADE E POR ISSO O DIREITO A PROTEGE.
- DIRETO PESSOAL – SAVIGNY – A POSSE PERTENCE À CATEGORIA DOS DIREITOS PESSOAIS OU OBRIGACIONAIS.
- DIREITO PERSONALÍSSIMO – BEVILAQUA – A POSSE NÃO É DIREITO REAL NEM PESSOAL, É DIREITO ESPECIALÍSSIMO. NÃO SE ENQUADRA NAS CATEGORIAS DOGMÁTICAS EXISTENTES.
NOTA: NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO, O LEGISLADOR NÃO RELACIONA A POSSE NO ROL TAXATIVO DOS DIREITOS REAIS. 
OUTORGA UXÓRIA: O LEGISLADOR TRATA A POSSE COMO INSTITUTO JURÍDICO ESPECIAL. (VIDE CÓDIGO CIVIL ARTIGO 1.196 e LEI 8.952/94 QUE INCLUI O § 2º AO ARTIGO 10 do antigo CPC, RECEPCIONADO PELO § 2º do ARTIGO 73 DO NCPC: 
Art. 73. O cônjuge necessitará do consentimento do outro para propor ação que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o regime de separação absoluta de bens.
§ 1o Ambos os cônjuges serão necessariamente citados para a ação:
I - que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o regime de separação absoluta de bens;
II - resultante de fato que diga respeito a ambos os cônjuges ou de ato praticado por eles;
III - fundada em dívida contraída por um dos cônjuges a bem da família;
IV - que tenha por objeto o reconhecimento, a constituição ou a extinção de ônus sobre imóvel de um ou de ambos os cônjuges.
§ 2o Nas ações possessórias, a participação do cônjuge do autor ou do réu somente é indispensável nas hipóteses de composse ou de ato por ambos praticado.
§ 3o Aplica-se o disposto neste artigo à união estável comprovada nos autos.
2. CLASSIFICAÇÃO DA POSSE
A PRESENÇA OU AUSÊNCIA DE VÍCIOS, OBJETIVOS E SUBJETIVOS INFLUI NA QUALIFICAÇÃO DA POSSE.
2.1. POSSE DIRETA E POSSE INDIRETA: (Art. 1.197 DO CC)
Art. 1.197. A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto. (Grifo nosso). (IHERING)
POSSUIDOR DIRETO É AQUELE QUE TEM A COISA EM SEU PODER, INDEPENDENTE DO TÍTULO SOBRE A COISA POSSUÍDA.
POSSUIDOR INDIRETO É AQUELE QUE MUITO EMBORA TENHA O TÍTULO DE PROPRIEDADE (DOMÍNIO LEGAL) SOBRE A COISA, NÃO EXERCE SOBRE ELA A POSSE DE MANEIRA DIRETA, OU SEJA, NÃO DETÉM A COISA DIRETAMENTE. 
NESSE ASPECTO, O ENUNCIADO Nº. 76 DA I JORNADA DE DIREITO CIVIL “O POSSUIDOR DIREITO TEM DIREITO DE DEFENDER A SUA POSSE CONTRA O INDIRETO, E ESTE CONTRA AQUELE”. 
EM SUMA, TANTO O POSSUIDOR DIRETO QUANTO O INDIRETO PODEM INVOCAR A PROTEÇÃO POSSESSÓRIA UM CONTRA O OUTRO E TAMBÉM CONTRA TERCEIROS. 
EX.: 1. UM LOCATÁRIO VIAJA E QUANDO RETORNA PERCEBE QUE O LOCADOR/PROPRIETÁRIO INVADE O LOCAL. NESSE CASO CABERIA A REINTEGRAÇÃO DE POSSE DO LOCATÁRIO (POSSUIDOR DIRETO) CONTRA O LOCADOR (POSSUIDOR INDIRETO) NO EXERCÍCIO E VIGÊNCIA DO CONTRATO. 
2. E AINDA, EM OUTRA SITUAÇÃO EM QUE O LOCATÁRIO NÃO ESTA EM DIA COM SUAS OBRIGAÇÕES PECUNIÁRIAS E IGNORA O PEDIDO DE DEVOLUÇÃO DO BEM, CABERÁ A REINTEGRAÇÃO DE POSSE DO LOCADOR (POSSUIDOR INDIRETO) EM FACE DO LOCATÁRIO ( POSSUIDOR INDIRETO).
2.2. POSSE EXCLUSIVA, COMPOSSE E POSSE PARALELA:
Art. 1.199. Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada uma exercer sobre ela atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros compossuidores. 
- POSSE EXCLUSIVA É A POSSE EXERCIDA POR UMA ÚNICA PESSOA OU UM ÚNICO SUJEITO, O POSSUIDOR. 
- COMPOSSE É A POSSE EXERCIDA POR MAIS DE UMA PESSOA SOBRE UM MESMO BEM. (ARTIGO 1.199)
- COMPOSSE PRÓ-DIVISO: CADA UM DOS COMPOSSUIDORES EXERCE ATOS POSSESSÓRIOS SOBRE FRAÇÃO IDEAL DO BEM COMPOSSUÍDO.
- COMPOSSE PRÓ-INDIVISO: CADA UM DOS COMPOSSUIDORES EXERCE SOBRE A TOTALIDADE DO BEM ATOS POSSESSÓRIOS. 
- POSSE PARALELA É AQUELA QUE OCORRE EM RAZÃO DA EXISTÊNCIA DE POSSES DE NATUREZAS DIFERENTES SOBRE A MESMA COISA. 
2.3. POSSE JUSTA E POSSE INJUSTA
OS VÍCIOS DA POSSE ESTÃO ELENCADOS NO ART. 1.200 CC. SÃO ELES A VIOLÊNCIA, A CLANDESTINIDADE E A PRECARIEDADE.
Art. 1.200. É justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária.
POSSE JUSTA - É JUSTA APOSSE QUANDO NÃO FOR VIOLENTA, CLANDESTINA OU PRECÁRIA – ART. 1200 CC.
POSSE INJUSTA - É ADQUIRIDA QUANDO OBTIDA VICIOSAMENTE POR MEIO DE ATO DE VIOLÊNCIA, CLANDESTINIDADE OU POR ABUSO DO PRECÁRIO.
* POSSE VIOLENTA: é obtida por meio do ESBULHO, por força física ou moral. Muito associada pela doutrina, sociedade e meios midiáticos como CRIME DE ROUBO.
* POSSE CLANDESTINA: é aquela obtida as ESCURAS, de forma oculta, a surdina. Nesse caso é assemelhada ao CRIME DE FURTO.
* POSSE PRECÁRIA: é obtida com abuso de CONFIANÇA ou de um direito (precário). Tem forma assemelhada ao CRIME DE ESTELIONATO ou à APROPRIAÇÃO INDÉBITA, sendo denominada esbulho pacífico.
ATENÇÃO: CONVALESCIMENTO E TRANSMUDAÇÃO DA POSSE
É PRECÁRIA a posse adquirida pelo abuso de confiança. Explica-se: Alguém recebe a posse numa relação de desdobro (posse justa e direta) e, no prazo de término desta relação – ou devidamente notificado para devolver a coisa, recusa-se a entregá-la. Surge, então, a PRECARIEDADE que "SE CARACTERIZA JUSTAMENTE AO TEMPO EM QUE A RESTITUIÇÃO É RECUSADA." (TRANSMUDAÇÃO DA POSSE).
É dominante na doutrina e jurisprudência que, em face do instituído no art. 1.208 do CC, é possível que a posse viciada CONVALESÇA (CONVALESCIMENTO DA POSSE), depois de cessada a VIOLÊNCIA ou a CLANDESTINIDADE. 
E, cediço também é, que a POSSE PRECÁRIA, já que não há previsão legal, NUNCA CONVALESCE, sendo imprestável para fins de usucapião.
Deste modo, as posses VIOLENTAS ou CLANDESTINAS podem ser CONVALIDADAS conforme a inteligência do art. 1.208 do CC/2002, isso porque, consagra-se o princípio da CONTINUIDADE DO CARÁTER DE POSSE. 
CC/2002 Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade.
NOTA: Reconhece-se que aquele que tem a posse VIOLENTA ou CLANDESTINA não as tem de pleno direito e são meros DETENTORES, mas a combinação do ART. 558 DO NCPC/2015 e 1.228 do CC/2002 passados um “ANO E UM DIA” a posse injusta por violência ou de forma clandestina passa a ser JUSTA, levando-se em conta a CORRENTE CONTEMPORÂNEA DA FUNÇÃO SOCIAL DA POSSE. 
NCPC 2015 Art. 558. Regem o procedimento de manutenção e de reintegração de posse as normas da Seção II deste Capítulo quando a ação for proposta dentro de ANO E DIA da turbação ou do esbulho afirmado na petição inicial.
Parágrafo único. Passado o prazo referido no caput, será comum o procedimento, não perdendo, contudo, o caráter possessório.
ATENÇÃO: Basta a presença de um dos requisitos para que a posseseja INJUSTA. Embora injusta, ainda é POSSE e pode ser defendida por ações do JUÍZO POSSESSÓRIO, não contra aquele que tirou a coisa, mas contra terceiros. A posse somente será viciada em relação ao proprietário e não contra terceiros. 
2.4. POSSE DE BOA-FÉ E POSSE DE MÁ-FE:
Art. 1.201. É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição da coisa. Parágrafo único. O possuidor com justo título tem por si a presunção de boa-fé, salvo prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite esta presunção.
BOA-FÉ O POSSUIDOR IGNORA O VÍCIO OU O OBSTÁCULO QUE IMPEDE A AQUISIÇÃO DA COISA (ART. 1201 CC).
POSSE DE MÁ-FÉ É AQUELA EM QUE O POSSUIDOR CONHECE O VÍCIO (ELEMENTO SUBJETIVO).
ATENÇÃO: ELEMENTO OBJETIVO: POSSE JUSTA E INJUSTA; ELEMENTO SUBJETIVO: POSSE DE BOA-FÉ E POSSE DE MÁ-FÉ
OBS.: ERRO INESCUSÁVEL OU IGNORÂNCIA GROSSEIRA.
2.5. POSSE NOVA E POSSE VELHA
Art. 1.211. Quando mais de uma pessoa se disser possuidora, manter-se-á provisoriamente a que tiver a coisa, se não estiver manifesto que a obteve de alguma das outras por modo vicioso. 
POSSE NOVA: MENOR QUE ANO E DIA
POSSE VELHA: MAIOR QUE ANO E DIA.
2.6. POSSE NATURAL E POSSE CIVIL OU JURÍDICA
NATURAL - É A POSSE ORIUNDA DO EXERCÍCIO DOS PODERES DE FATO SOBRE A COISA.
POSSE CIVIL - É AQUELA QUE SE ADQUIRE POR FORÇA DA LEI, SEM QUE HAJA NECESSIDADE DA PRÁTICA DE ATOS FÍSICOS OU DA APREENSÃO MATERIAL DA COISA. 
2.7. POSSE AD INTERDICTA E POSSE AD USUCAPIONEM
AD INTERDICTA PODE SER DEFENDIDA PELOS INTERDITOS POSSESSÓRIOS, OU SEJA, PELAS AÇÕES DE NATUREZA POSSESSÓRIAS.
AD USUCAPIONEM É AQUELA CUJO EXERCÍCIO SE PROLONGA POR DETERMINADO PERÍODO DE TEMPO GERANDO A PRESCRIÇÃO AQUISITIVA, PELO INSTITUTO JURÍDICO DA USUCAPIÃO.
2.8. POSSE PRÓ-DIVISO E PRO-INDIVISO
PRO-DIVISO QUANDO OS POSSUIDORES TEM UNICAMENTE POSSE DE PARTE IDEAL DO BEM,.
PRO-INDIVISO QUANDO OS POSSUIDORES TEM POSSE SOBRE A TOTALIDADE DO BEM POSSUÍDO.