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Érika Cerri dos Santos UFES 2022/2 NATUREZA JURÍDICA DA POSSE – FATO OU DIREITO SUBJETIVO? NATUREZA JURÍDICA -> Conceito que busca explicar o princípio ou a essência de um instituto jurídico, ou seja, de uma medida, situação ou um fato que existe no Direito. A natureza jurídica da posse busca identificar o que é a posse para o Direito. Indaga-se, precipuamente, se a posse é um fato ou um direito. A respeito do assunto, é preciso se ter em mente algumas características teóricas relacionadas aos direitos subjetivos. Visto isso, para a identificação da natureza jurídica da posse, foram criadas três teorias: IHERING: A posse é um direito, um interesse juridicamente protegido. 12 Os direitos da personalidade são os direitos subjetivos que têm por objeto os bens e valores essenciais da pessoa, no seu aspecto físico, moral e intelectual (Francisco Amaral, 2015). DIREITOS SUBJETIVOS CONCEITO Direito subjetivo é o poder que a ordem jurídica confere a alguém de agir e de exigir de outrem determinado comportamento. Trata-se do meio de satisfazer interesses humanos, derivado do direito objetivo, nascendo com ele. Ou seja, o direito subjetivo é constituído pela vontade associada ao interesse individuais. Seu fundamento é a autonomia dos sujeitos, a liberdade natural que se afirma na sociedade e que se transforma, pela garantia do direito, em direito subjetivo, isto é, liberdade e poder jurídico. CLASSIFICAÇÃO ➔ DIREITOS PATRIMONIAIS: Tem cunho patrimonial. São os direitos reais e os direitos de crédito/obrigacionais. ➔ DIREITOS EXTRAPATRIMONIAIS: Não tem cunho patrimonial. São os direitos da personalidade12. Érika Cerri dos Santos UFES 2022/2 WINDSHEIDT: A posse é um fato, sem qualquer natureza jurídica. Não recebe a tutela estatal; logo, não está subordinado aos princípios que regulam a relação jurídica no seu nascimento, transferência e extinção. SAVIGNY: A posse é um fato juridicamente tutelado13. A POSSE COMO UM DIREITO Tanto Savigny quanto Ihering apontavam a posse como um direito. Com relação à classificação, Ihering apontava que a posse era um direito real, enquanto Savigny apontava que a posse era um direito de crédito. Ou seja, ambos apontavam que a posse seria um direito patrimonial. Entretanto, no Brasil, estas teorias aparentemente não se aplicam. Isso porque os direitos subjetivos são classificados da seguinte forma: Sobre os direitos reais, apontam-se as seguintes características: ❖ Numerus clausus ( rol taxativo); ❖ Tem por objeto coisa determinada; ❖ Apenas encontra um sujeito passivo no momento em que são violados; ❖ Possui caráter absoluto. No Brasil, não se aplica a Teoria de Ihering, em razão da taxatividade do rol apresentado pelo art. 1.225 do CC: 13 Sobre esta corrente, discorre Lafayette que a posse é um fato, pelo que respeita à detenção, e um direito pelo que respeito à seus efeitos. 14 Os direitos da personalidade são os direitos subjetivos que têm por objeto os bens e valores essenciais da pessoa, no seu aspecto físico, moral e intelectual (Francisco Amaral, 2015). CLASSIFICAÇÃO ➔ DIREITOS PATRIMONIAIS: Tem cunho patrimonial. São os direitos reais e os direitos de crédito/obrigacionais. ➔ DIREITOS EXTRAPATRIMONIAIS: Não tem cunho patrimonial. São os direitos da personalidade14. Érika Cerri dos Santos UFES 2022/2 Art. 1.225, CC: São direitos reais I – a propriedade; II – a superfície; III – as servidões; IV – o usufruto; V – o uso; VI – a habitação; VII – o direito do promitente comprador do imóvel; VIII – o penhor; IX – a hipoteca; X – a anticrese; XI – a concessão de uso especial para fins de moradia; XII – a concessão de direito real de uso; e XIII – a laje. Além disso, observa-se que para as ações envolvendo direitos reais, é necessária a participação do cônjuge, o que não ocorre nas ações possessórias. Art. 73, CPC: O cônjuge necessitará do consentimento do outro para propor ação que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o regime de separação absoluta de bens. [...] §2º Nas ações possessórias, a participação do cônjuge do autor ou do réu somente é indispensável nas hipóteses de composse ou de ato por ambos praticados. Ademais, Marcus Vinicius Rio Gonçalves aponta que falta à posse o caráter absoluto dos direitos reais: A posse não é oponível erga omnes, cedendo passo, ao menos em duas situações. Com efeito, embroa a posse, como aparência de propriedade, possa ser protegida até contra o próprio proprietário, ela acaba cedendo à propriedade. Assim, ainda que o possuidor possa vencer demanda possessória contra o proprietário, este acabará reavendo a coisa, por meio das vias reivindicatórias. - Marcus Vinicius Rio Gonçalves, 2018 Com relação à aplicação da teoria de Savigny (a posse como um direito de crédito), nota-se que existem algumas compatibilidades com o sistema jurídico brasileiro. Para o autor, entretanto, o direito de crédito surgiria com base na responsabilidade civil e esta, por sua vez, apenas existe quando existir dano. Ocorre que, no que tange às ações possessórias, nem todo esbulho ou turbação irá gerar algum dano. Para o Direito brasileiro, a posse não é um direito real. Érika Cerri dos Santos UFES 2022/2 Art. 927, CC: Aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obriga a repará-lo. Parágrafo único: Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. Assim, alguns doutrinadores apontam que a posse seria um direito sui generis, ou seja, especial. Dentre eles, destaca- se José Carlos Moreira Alves. Dessa forma, os direitos subjetivos seriam classificados da seguinte maneira: Aceita a noção que Ihering nos dá, a posse é, por certo, direito; mas reconheçamos que um direito de natureza especial. Antes, convirá dizer, é a manifestação de um direito real. - Clóvis Bevilaqua. 1998 Desanimados, em razão das peculiaridades que a posse apresenta, de a enquadrarem em qualquer das categorias jurídicas da dogmática moderna, vários autores se têm limitado a salientar que a posse é uma figura especialíssima, e, portanto, sui generis. - José Carlos Moreira Alves, 1996 CLASSIFICAÇÃO ➔ DIREITOS PATRIMONIAIS: Tem cunho patrimonial. São os direitos reais e os direitos de crédito/obrigacionais. ➔ DIREITOS EXTRAPATRIMONIAIS: Não tem cunho patrimonial. São os direitos da personalidade. ➔ POSSE SUI GENERIS
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