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AULA 1 - REFLEXÕES SOBRE O CONCEITO DE POLÍTICA Autor: SCHMITTER, Philippe GRÉCIA ANTIGA Preocupação com as formas de governo; (POL X CPOL) Diferente da abordagem que estuda sobre as formas de sociedade. SÉC. XX Preocupação com a delimitação da C. POL. O autor: o conceito de política foca em estudo das instituições, recursos, processos e funções. TIPOLOGIA Instituições Estado e Governo Recursos Poder – política como coação; Influência – política como arte de influenciar Autoridade – poder que se faz obedecer voluntariamente. Meio termo entre poder e influência. Também chamado de poder legítimo. Tipos de poder: econômico, político e ideológico. Processo Decision-Making: formulação de decisões sobre linhas de conduta para uma sociedade (conduta coletiva). O Decision-Making é um processo de investigação da Ciência Política. A tarefa da ciência política então seria a de explicar e predizer porque uma determinada linha de conduta foi, é ou será adotada. Há outra vertente que acredita numa visão mais flexível do decision-making, pois ela pode ser aplicada a vários níveis da sociedade. (Tribunais, Assembléias, Comunidades, etc). Outro processo existente é o policyformation. Funções Resolução não violenta de conflitos – Acordos. Condições para que um ato social seja político: 1. Conflito de interesses. (Qualquer acontecimento social é potencialmente político). 2. Integração/cooperação entre indivíduos e grupos. Atores reconheçam reciprocamente suas limitações nas reinvidicações de suas exigências. Sociedade política é heterogênea. Mantém relações de conflito e interdependência. Estado é poder institucionalizado de uma sociedade, instrumento de dominância de certas classes sobre outras para assegurar a ordem social. QUALIDADES DA CIÊNCIA POLÍTICA: Vontade de ser científica - rigor teórico e metodológico. Delimitação da Disciplina - tratar da interpretação de um setor particular do comportamento humano. Weber, Dahl, Diverger, Parsons, Furtado, Easton CONDIÇÕES DO ATO POLÍTICO A partir de Schmitter um ato social é político quando satisfizer duas condições: * NECESSÁRIA – tem que ser controverso, indicando um conflito, um antagonismo entre interesses ou atitudes por diferentes indivíduos ou grupos. Ocorre na heterogeneidade. * SUFICIENTE - os atores reconhecem, reciprocamente, suas limitações nas reivindicações das suas exigências; há um certo grau de cooperação entre contendores. Há um quadro (framework) de restrições mútuas. No ato político tem que haver "integração" ou "cooperação". CONCLUSÃO Política: conflito entre atores para a determinação de linhas de condutas (policies) coletivas de um quadro de cooperação-integração reciprocamente reconhecido. Celso Furtado: “Qualquer estrutura social que haja alcançado um certo grau de diferenciação necessitará organizar-se politicamente a fim de que os seus conflitos internos não a tornem inviável.” AULA 2/3: A POLÍTICA COMO VOCAÇÃO Autor: WEBER, Max “Por política entenderemos o conjunto de esforços feitos com vistas a participar do poder ou a influenciar a divisão do poder, seja entre Estados, seja no interior de um único Estado. [...] Sociologicamente, o Estado não se deixa definir a não ser pelo meio específico que lhe é peculiar.” (WEBER, 1968) Política: conjunto de esforços feitos com vistas a participar do poder ou a influenciar a divisão do poder. Para Weber o meio específico do Estado é o “monopólio do uso legítimo da violência física” (p.56). Se contrapondo a ele, está Arendt (ver próxima aula). Para Arendt, poder é “a habilidade humana de agir em concerto” (1970, p.60), opondo-se a violência, que gera relações de mando e obediência ao invés de condutas baseadas no consenso. A política weberiana possui uma série de semelhanças com a atuação de grupos criminosos como: territorialização, uso da violência, aparato administrativo, poder/obediência. Como distinção temos que o poder político tem presunção de legitimidade. ESTADO E VIOLÊNCIA Para Weber, Estado é uma determinada instituição que, dentro dos limites de seu território, detém o monopólio legítimo da violência física. Para que a violência, na condição de monopólio do Estado, seja considerada legítima, é necessário que haja aceitação, obediência e submissão à autoridade do Estado por parte dos homens dominados. TIPOS DE DOMINAÇÃO Dominação: capacidade de determinar obediência. * Tradicional: baseada nos costumes da sociedade. Ex: patriarca, senhor de terras; * Carismático: aptidões e ações “de alguém que se singulariza por qualidades prodigiosas, por heroísmo, ou por outras qualidades exemplares que fazem dele chefe”. Ex: líderes messiânicos, demagogo; * Racional-legal: crença na validez de um estatuto legal, fundada na obediência a essa lei. Ex: servidor do Estado. Líderes políticos usaram de sua carisma em certos momentos e da razão legal em outros. Ex: Lula, Dilma, Fidel Castro. Para Weber, a burocracia é a base da dominação racional-legal: estrutura a sociedade em hierarquias e funções. A burocracia é impessoal, exige uma profissionalização, o cargo é vitalício. Disfunções da burocracia: concentração excessiva do poder; lentidão; extremamente corporativa. Weber fala da importância do Parlamento como elemento importante para evitar as disfunções da burocracia. Ele deve estruturar os procedimentos e fiscalizá-lo. Precisa ter boas lideranças partidárias. Pluralismo político -> manifestação de interesses heterogênea. QUALIDADES DO HOMEM POLÍTICO Qualidades determinantes dos homens políticos: paixão, sentimento de responsabilidade e senso de proporção. * Paixão: propósito a realizar, devoção apaixonada por uma causa; * Sentimento de responsabilidade; * Senso de proporção: ele deve possuir a faculdade de permitir que os atos ajam sobre si no recolhimento e na calma interior de espírito, saber manter a distância. ÉTICAS DA AÇÃO POLÍTICA Ética da convicção: baseada nas crenças do indivíduo que detém o poder (líder), não se preocupa/responsabiliza pelo resultado de suas ações; a responsabilidade do ato não é do agente; ética das últimas finalidades. Partidário só se sente responsável por zelar pela pureza da doutrina a fim de que ela não pereça. Ex: líder talibã, Hitler, etc. Ética da responsabilidade: avaliação das consequências dos atos, racionalidade orientada a fins e valores, reúne o cálculo das consequências, prestação de contas dos resultados e ações. Não são exclusivas, mas se complementam. AULA 4 – VIOLÊNCIA: MANIFESTAÇÃO DO PODER Autor: ARENDT, Hannah CONCEITOS Arendt diferencia alguns conceitos (p. 60-63): * Poder: habilidade para agir em concerto. Nunca é propriedade do indivíduo, exige consenso de um grupo; * Vigor: propriedade individual, pertence ao caráter de uma pessoa. Capacidade da pessoa se destacar na relação com outras pessoas; * Força: Energia, fenômeno físico/social; * Autoridade: reconhecimento a quem se pede que obedeçam; é revestida em pessoas ou cargos; * Violência: instrumento para contornar a ausência do poder. Aproxima-se do vigor, pois é utilizada para multiplicar este. Mesmo que a violência promova uma obediência em certos momentos, dela nunca surgirá poder. É por essa razão que autora justifica a ocorrência de revoluções ainda que os Estados possuam armamentos mais poderosos que a população. PODER X VIOLÊNCIA Poder é o instrumento através do qual um grupo unido pode dominar os demais; está na essência dos governos através do apoio e consentimento do povo e, segundo Arendt, é mais importantedo que a violência, uma vez que requer apenas legitimidade e não possui caráter instrumental, mas um fim em si mesmo. (P.54, 1ª Coluna) Violência é de caráter intrinsecamente instrumental e possui em sua forma pura uma impotência autodestrutiva o que torna necessária a justificação contínua para os fins que almeja. Seus implementos podem multiplicar o vigor natural ou substituí-lo. (P. 55, 2ª Coluna) Relação: Poder e violência não apenas são diferentes, são opostos: onde um dominar absolutamente, o outro estará ausente. Nos governos reais, ambos estão presentes, o poder, no entanto, é a base primordial, uma vez que o aumento da violência estará ligado à perda de autoridade desse governo; A violência aparece onde o poder está em risco, porém jamais derivará do poder, ela poderá destruí-lo, mas nunca criá-lo e se deixada ao seu próprio curso, a violência conduzirá à desaparição do poder. (P.57, 2ª Coluna; P. 106; P. 107) “Substituir o poder pela violência pode trazer a vitória, mas o preço é muito alto; pois ele não é apenas pago pelo vencido, mas também pelo vencedor, em termos de seu próprio poder” – (ARENDT, 2007). Para Arendt, poder e violência são opostos; onde um domina absolutamente, o outro está ausente. A violência pode destruir o poder e é incapaz de criá-lo. A violência não pode ser derivada de seu oposto, o poder. Portanto, mesmo que a violência produza a vitória, o vencedor não possui poder sobre o derrotado, visto que a violência não pode produzir poder e um não pode coexistir com o outro. “Todas as instituições políticas são manifestações e materializações do poder; elas se petrificam e decaem tão logo o poder vivo do povo deixa de sustenta- los.” Arendt fala sobre a responsabilidade do burocrata: seus atos têm implicações morais. Obediência está ligada à violência. A gente não obedece as instituições, mas sim as apoiamos. Justificação x Legitimidade Justificação: ligada ao futuro. A violência tem que justificar porque aconteceu. Legitimidade: ligado ao passado. O poder já é legítimo por antecedência. Burocracia: domínio de ninguém. AULA 5 – A TEORIA DAS FORMAS DE GOVERNO Autor: BOBBIO, Norberto FORMAS DE GOVERNO: * Democracia – governo de muitos; defendida por Otanes. * Aristocracia – governo de poucos; defendida por Megabises. * Monarquia – governo de um só; defendida por Dario. Relação entre conceitos de igualdade e governo popular. Estabilidade: capacidade que uma constituição tem de perdurar, de resistir à corrupção. Aristóteles e Políbio: “A história é uma sucessão contínua de formas boas e más” Preocupação com as formas de governo: constituições dos Estados. Platão: preocupação com a unidade; Aristóteles: preocupação com a estabilidade. São questões de governabilidade. PLATÃO: 4 formas ruins – timocracia, oligarquia, democracia e tirania. 2 formas ideais – monarquia e aristocracia. “Nada se altera nas leis fundamentais do Estado, desde que os governantes sejam treinados e educados do modo que descrevemos.” Pessoas assumem diferentes funções na sociedade de acordo com sua posição social. Sequência descendente: Aristocracia -> Timocracia -> Oligarquia -> Tirania Paixões das formas corruptas: * Timocrático -> ambição * Oligárquico -> riqueza * Democrático -> liberdade imoderada (licença) * Tirânico -> violência. Mudança de constituição: passagem de geração. Corrupção do Estado se manifesta pela discórdia. Problema político: tema fundamental é unidade do Estado com relação ao indivíduo. República ideal: aquela em que cada homem é designado para a tarefa que faz melhor. Três categorias de homens: governantes-filósofos, guerreiros e os que se dedicam aos trabalhos produtivos. Modalidades de Discórdia: * Dentro de classes dirigentes. Aristocracia -> Timocracia -> Oligarquia. * Entre a classe dirigente e a dirigida (governante e governado). Oligarquia -> Democracia. Diferença de Desejos: * Oligárquico -> necessidades essenciais; * Democrático -> necessidades supérfluas; * Tirânico -> necessidades ilícitas. Democracia possui aspectos positivos e negativos. Anarquia: caos, inexistência de governo. ARISTÓTELES: Forma de governo: Constituição. “Dá ordem à cidade, determinando o funcionamento de todos os cargos públicos e sobretudo da autoridade soberana.” Critério entre bom e mau: interesse comum (bom) e interesse pessoal (mau). Vários tipos de monarquia: hereditária, militar, despótico. Poder despótico (absoluto) -> poder do senhor sobre seus escravos. Não obstante, é legítimo. Politia: mistura de oligarquia e democracia. Nunca existiu concretamente. Alcançado pela política do meio-termo (o centro é sempre melhor que os extremos). É um tipo de governo-misto. Na democracia governam os pobres, que constituem a maioria; na oligarquia governam os ricos, que representam a minoria. POLÍBIO: Classificação sêxtupla (constituições boas e más). Como? Bem Mal Quem? Um monarquia tirania Poucos aristocracia oligarquia Muitos democracia oclocracia Critério entre bom e mau: consenso (bom) ou violência (mau); legal (bom) ou ilegal (mau). Aproxima-se dos critérios de Platão. Constituição -> causa primordial do êxito ou insucesso de todas as ações do seu povo. Único autor que considera a democracia uma forma positiva de governo. Teoria dos ciclos Governos bons e maus se sucedem em um ciclo no tempo. Monarquia -> Tirania -> Aristocracia -> Oligarquia -> Democracia -> Oclocracia -> Monarquia. Teoria do governo misto Síntese das três formas boas de governo. Melhor forma de garantir estabilidade. Forma ideal Princípio do equilíbrio -> controle recíproco dos poderes. Órgãos do governo romano: cônsules (monarquia), senado (aristocracia) e eleições populares (democracia). AULA 6 – NICOLAU MAQUIAVEL: O CIDADÃO SEM FORTUNA, O INTELECTUAL DE VIRTÚ Autor: SADEK, Maria Tereza Maquiavel fala sobre o Estado real, capaz de impor ordem. Rejeita a tradição idealista (Platão, Aristóteles e São Tomás de Aquino) e segue a trilha dos historiadores antigos (Tácito, Políbio, etc). Ordem: produto necessário da política, não é natural. Deve ser construída para se evitar o caos. Não é definitiva, possuindo sempre a ameaça de ser desfeita. Natureza humana -> caos. Maquiavel acredita numa sucessão entre ordem e caos. Buscando defender Maquiavel de comentadores parciais e de adjetivos pejorativos como “maquiavélico”, Rousseau o defende em sua obra “Do Contrato Social” ao afirmar que “Maquiavel, fingindo dar lições aos Príncipes, deu grandes lições ao povo” Metodologia: verita effetuale. Maquiavel analisa a política na sua forma mais real. Privilegia o ser em detrimento ao dever ser. ANARQUIA X PRINCIPADO E REPÚBLICA Sociedade tem duas forças: uma que quer dominar e outra que não quer ser dominada. Essas forças opostas promovem uma instabilidade. Problema político: manter a estabilidade das relações que sustentem a correlação de forças. Respostas à anarquia: * Principado: fundador do Estado, agente de transição. * República: sociedade que encontrou as formas de equilíbrio. VIRTÚ X FORTUNA Luta de Maquiavel contra a predestinação. Fortuna não é só sorte, mas tudo que se faz para chegar até ela. Governantes devem possuir virtú para possuir o respeito dos governados. O poder se funda na força, mas é preciso virtú para manter o poder. Não adianta alcançar o poder se não se conseguir mantê-lo. Virtú: Sabedoria no uso da força; manutenção da conquista; agir como homem e como animal (leão - forte, raposa - astúcia). Homem de virtú: fama, honra e glória parasi, segurança para seus governados. Qualidade do príncipe: saber agir conforme as circunstâncias. Virtú política exige também os vícios. Ética de Maquiavel: ética do resultado, "os fins justificam os meios". Porém Maquiavel diz que não são todos os fins que justificam os meios! Política tem uma ética e uma lógica próprias. O PRÍNCIPE Formas de Governo: Repúblicas e Principados. Formas de Principados: Todos servem ao príncipe, ou todos servem aos nobres do príncipe. Cidades invadidas: conserva-se a lei, a destrói, ou a mantém e cobra-se tributo. Um príncipe deve proceder de forma tal que os seus súditos tenham sempre necessidade do Estado e dele. Deve priorizar a arte da guerra. Deve saber escolher seus ministros: a primeira opinião de um príncipe estriba- se da qualidade dos homens que o circundam. DISCURSOS SOBRE TITO LÍVIO Duas fontes de oposição: interesses do povo e interesse dos grandes. Instituições mais essenciais dão a salvaguarda da liberdade. Guardas da liberdade do Estado -> direito de acusar. Importância do tribunal. O Príncipe deve organizar o Estado de modo que este perpetue após sua morte. O Príncipe deve tentar conquistar o afeto do povo. AULA 7 – TEORIA POLÍTICA MODERNA: O INDIVÍDUO E A SOCIEDADE. Autor: MACFARLANE, L. J. HOBBES Não considerava a razão uma graça divina, mas a recompensa dos que faziam esforço para alcança-la. Duas categorias dos movimentos dos homens: Voluntários: apetite e desejo, impulsos humanos; Involuntários: aversão e ódio. Homem não é escravo completo da sua natureza: razão torna possível a anulação dos desejos e o discernimento do que lhe é realmente vantajoso. Ou seja, o homem hobbesiano é moralmente neutro, agindo de acordo com suas preferências pessoais, não necessariamente sanguinolento e sádico. Estado de natureza = Estado de guerra. Conceito de justiça no estado de natureza: não existe o justo nem o injusto. Isso será estabelecido no estado civil. Leis da Natureza: Autopreservação: todos os homens devem procurar a paz enquanto tiverem a esperança de obtê-la; quando não puderem alcança-la, devem procurar e utilizar todos os auxílios e vantagens da guerra. Aceitação mútua: devemos estar prontos a abandonar nosso direito a todas as coisas, em benefício da paz, contentando-nos em ter com relação aos demais a liberdade que eles têm conosco. Cumprimento de acordos: que os homens cumpram os contratos que fazem. Paz, Defesa, Renúncia dos direitos individuais em favor da paz, o contrato e seu cumprimento. Essas regras representam uma renúncia mútua ou transferência de direitos e pressupõe a existência de um poder comum exercido sobre todos, com direito e força suficientes para assegurar a obediência: Estado. Sociedade civil: necessária para dar segurança aos acordos. Leviatã: Estado soberano de Hobbes, uma construção geométrica que garante o cumprimento dos acordos (covenants). Sem ele, o homem está fadado a cair em seu estado de natureza. Contrato: Leviatã, vida e defesa, irrevogável, soberano, leis e equidade. Este Estado só poderia ser estabelecido pelo consentimento ou pela força. Em ambos os casos, sua instituição dá origem a direitos e deveres que os homens têm a obrigação de aceitar. Soberano é a fonte de todas as regras e leis. Estado soberano não é tirânico nem totalitário: ordens do soberano devem ser consubstanciadas em leis civis. Conquanto um soberano não possa ser contestado ou desobedecido, ele pode ser aconselhado. LOCKE Assim como Hobbes, deriva a sociedade política a partir do homem natural (homem abstraído da sociedade política em que normalmente vive). Racionalidade e parcialidade: características permanentes do homem, explica os problemas humanos e também as medidas tomadas para resolvê-los. "Os homens tendem a defender seus interesses pessoais, e essa parcialidade os impede de agir segundo os princípios da verdadeira razão, fazendo-os preferir a satisfação pessoal às vantagens de longo prazo." Distingue o estado de natureza e o estado de guerra: estado de guerra é força ou propósito declarado de aplicar força sobre outrem, não existindo uma autoridade na Terra à qual se possa apelar para obter socorro. Crítica ao Estado absoluto: contrastando Hobbes, Locke reconhece que os encarregados de aplicar a justiça podem cometer injustiças. Na sociedade civil, só haverá estado de guerra quando a autoridade política for ineficiente ou corrupta. Estado de natureza de Locke: condição social em que os homens vivem em unidades familiares, gozando de direitos de propriedade estabelecidos e reconhecidos (contrário a Hobbes). Embora seja possível viver fora da sociedade política, riscos de cair em um estado de guerra são iminentes. Base da obediência política: consentimento. "A única maneira que alguém abre mão de sua liberdade natural é através de um acordo com outros homens para se unirem numa comunidade a fim de garantir uma vida confortável, segura e pacífica." Repudia a tese de Hobbes segundo a qual a desobediência e a revolta implicam a ameaça de retorno ao estado de natureza: dissolução da sociedade e dissolução do governo são idéias distintas. Só se pode resistir legalmente a um soberano quando este tiver abusado de sua autoridade. Se um dos ramos do governo excede sua autoridade, invadindo direitos e liberdades dos cidadãos ou deixando de exercer suas responsabilidades, a estrutura do governo se dissolve e o poder retorna ao povo. Homem racional Leis da natureza: racionalidade atrelada à vontade divina Razão x Parcialidade Estado de guerra: na sociedade civil, fora de sociedades políticas. Estado de natureza: direitos de propriedade, ausência de lei/juiz/poder, condição maléfica. Pode haver também estado de guerra. Estado de natureza -> Estado civil (evolução) * Ato de consentimento * Renovação do consentimento * Resistência ao absolutismo arbitrário. ROUSSEAU Natureza do homem próxima à de Aristóteles: potencial de realização do homem em condições ótimas. O homem natural é o homem como poderia ser, não como é. Duas forças existentes no homem: amour de soi (auto-interesse esclarecido) e amour-propre (interesse egoístico). O segundo é uma degeneração do primeiro. Rousseau rejeita o homem natural de Hobbes (egoísta e belicoso) e o de Locke (moral e sociável). Homem natural de Rousseau: tímido, solitário e indolente, preocupado apenas em satisfazer necessidades de alimentação, sono e prazer sexual. Não dão origem nem ao estado de guerras nem à vida social estável. É amoral e auto- suficiente. Instintos pré-racionais do homem natural: auto-preservação e compaixão. Capacidade de aperfeiçoamento. Estado da natureza não é estático, mas um caminho gradual ao estabelecimento de sociedades civis estáveis. Primeiro estágio: crescimento da interrelação social, instituição da propriedade. Diminui a solidão humana, mas termina por culminar em conflitos de interesses em busca do benefício próprio. Se aproveitando disso, os ricos e corruptos fazem um contrato "anti-social" com os pobres e miseráveis, constituindo os grilhões da sociedade. Segundo estágio: a fraqueza dessa primeira sociedade induz os homens a designar magistrados para aplicar a lei. Apenas quando estes se tornam arbitrários que surge a tirania. Para Rousseau, o homem foi corrompido pela sociedade, mas devido à sua natureza maleável, ainda pode ser redimido. Porém, o retorno à sociedade primitiva é impossível e indesejável: a sociedade em si mesma não é responsável pelas circunstâncias, mas sim as formas degeneradas que assumiramao longo do tempo. A importância do Contrato Social e Émile é fornecer um padrão com o qual julgar as instituições sociais existentes e uma meta a se ter em mente quando da elaboração de reformas. O Legislativo (Parlamento) é o poder mais importante para Rousseau: representa os interesses democráticos. A lei não pode ser apenas o comando de quem detém o poder para assegurar obediência a sua vontade. Os homens não podem ter obrigações para com quem aquele exige o gozo de uma autoridade sobre eles: um homem só se pode obrigar na medida em que tem a liberdade de determinar se cumprirá ou não sua obrigação. Assim como Locke, condena o governo absoluto e arbitrário como contrário à natureza. Em contraste com Locke, não defende o direito inequívoco de rebelião contra o governo arbitrário. Para Rousseau, as revoluções tendem a provocar o colapso total da sociedade civil. A única comunidade genuinamente livre seria aquela em que cada indivíduo, embora unido aos demais, só obedece a si próprio, permanecendo tão livre quanto antes. Vontade Geral: susgêneres, onde se estabelece a soberania do coletivo. Perspectiva ideal; decisões devem emanar do povo e ocorrerem para o povo. Somatório das diferenças de vontades particulares de forma que apenas prevaleça o elemento geral, em prol da comunidade, e se elimine o auto- interesse. A soma das vontades individuais NÃO constitui a Vontade Geral. Rousseau prega a desobediência em detrimento da revolução. AULA 8 - ESTADO E TEORIA POLÍTICA: MARX, ENGELS, LENIN E O ESTADO Autor: CARNOY, Martin MARX E ENGELS Marx é influenciado por Rousseau. Também acredita que a propriedade privada é o mal da sociedade civil capitalista. Para ele, a economia é o que explica a forma de pensamento dos homens e a estrutura social. Materialismo: Condições materiais da sociedade é a base de sua estrutura social e da consciência humana. Estado emerge das relações de produção, não do desenvolvimento geral da mente humana ou o conjunto de suas vontades. Consciência humana é produto das condições materiais: o modo pelo qual as coisas são produzidas, distribuídas e consumidas. Sociedade civil: relações jurídicas e formas do Estado cujas raízes estão nas condições materiais da vida. Hegel (Idealismo): Estado ideal, envolve uma relação justa e ética entre os elementos da sociedade. Marx (Materialismo): Não é o Estado que molda a sociedade, mas esta que molda o Estado. A sociedade por sua vez é moldada pelos modos de produção e suas relações. Para Marx, o Estado é a expressão política da estrutura de classe inerente à produção, ou seja, é um instrumento essencial de dominação de classes na sociedade capitalista, a expressão política da dominação burguesa. O Estado não é um ideal, é o povo. A burocracia é um elemento particular que identifica os interesses particulares do povo com os do Estado e vice-versa. Marx e Engels defendem que o Estado surge da contradição entre o interesse de um indivíduo e o interesse comum de todos os indivíduos. Mais valia: o valor do trabalho produzido não volta ao trabalhador na proporção que deveria. É o trabalho excedente. Caráter opressor do Estado: necessidade de controlar os conflitos sociais entre os diferentes interesses econômicos. Esse controle é realizado pela classe economicamente mais poderosa na sociedade. Estado representa o braço repressivo da burguesia. Teoria do Estado como instrumento da classe dominante: 1. Membros do sistema de Estado tendem a pertencer à mesma classe ou classes que dominam a sociedade civil; 2. Classe capitalista domina o Estado através de seu poder econômico global; 3. Estado está inserido no modo capitalista de produção. Dois níveis de autonomia do Estado. No primeiro, a burocracia tem alguma autonomia frente à burguesia, devido à aversão desta em atuar diretamente no aparelho do Estado. No segundo, a luta de classes é congelada pela incapacidade de qualquer classe em demonstrar seu poder sobre o Estado. Assim, este adquire autonomia frente ao controle de classes. Estado representa os interesses de uma classe específica mesmo quando ele se posiciona acima dos antagonismos de classe. LENIN Para Lenin, assim como para Marx e Engels, o interesse no Estado centrava-se na revolução, na transformação do capitalismo para o comunismo. Interpretação leninista de Marx: sem conflito de classes, não há necessidade de Estado. Lenin objetivava estimular uma estratégia específica para a revolução soicalista: primeiro derrubar o Estado burguês, depois a transição para o socialismo. Ditadura do proletariado: criação de um Estado que elimine a burguesia. O Estado só desapareceria em um período posterior à revolução socialista. A destruição do Estado burguês de Lenin, resultou também na destruição de todas as tentativas de construção de um Estado democrático, dos trabalhadores, antevisto por Marx. Estado de Lenin era centralizado como um exército, com todo o poder e autoridade residindo em seu Comitê Central. Rosa Luxemburgo criticou o estado de Lenin: Rosa Luxemburgo criticava o centralismo e o abandono da democracia operária. A ditadura do proletariado se tornara obra de uma liderança minoritária, e não de participação ilimitada e ativa do povo, como deveria ser. A ditadura do proletariado não deveria eliminar a democracia, mas basear-se na participação ilimitada e ativa do povo: no "parlamento operário". Crítica aos sociais-democratas por se acomodarem com a democracia burguesa. AULA 9 - O ESTUDO DA POLÍTICA: TEORIA POLÍTICA CONTEMPORÂNEA Autores: PIO, Carlos; PORTO, Mario Três correntes: elitismo, marxismo, pluralismo. Questão central: relação entre os sistemas político e econômico; afinidades e incompatibilidades entre a democracia-representativa e a economia de mercado. No taxation without representation: Estado deve responder às demandas da sociedade e a ele prestar contas. Estado moderno: dominação racional-legal. Obediências às normas pelos membros da sociedade. Estado é foco de disputas. O Estado moderno monopoliza o uso legítimo da força em um dado território; a partir desse recurso fundamental de poder, toma decisões que requerem obediência por parte de todos os habitantes do território. Estado está submetido ao conjunto de regulações que ele próprio estabelece. Necessidade de obediência (povo deve perceber o processo de democratização e ser capaz de influenciar as decisões públicas) x Necessidade de riqueza (desigualdade de rendas e poderes) O Estado deve estabelecer mecanismos de estímulo à acumulação privada de riquezas para poder taxa-las. Incompatibilidade: mercado econômico realiza a desigualdade material enquanto a democracia se assenta na idéia de que os indivíduos dispõem de igual capacidade para fazer valerem os seus interesses. ELITISMO Pareto e Mosca Indivíduos que possuem um maior grau de capacidade. Possuem interesses homogêneos, sendo de fácil organização. Isso explica a capacidade de domínio sobre a massa. Mosca: elite homogênea, uma única elite que representa os valores da sociedade. A elite muda quando os valores mudam. Pareto: elite heterogênea, elites diferenciadas. As próprias elites aceitam novos membros com influência, se adaptando às mudanças da sociedade. Elite governante: membros natos da elite (qualidades superiores) que possuem características adequadas para exercer o poder (resíduos). Problemas relativos ao equilíbrio social: 1. elite não-governante é ameaça à estabilidade da ordem, ao assumirem postos de comando sem possuírem as qualidades requeridas para exercê-los.2. Eficiência do processo de “circulação de classes”. Membros da elite governante são substituídos por indivíduos recém-saídos da elite não- governante e da não-elite, que renovam as qualidades necessárias ao contínuo exercício da dominação. Atributos de poder: força física (poderio militar); exploração da terra (proprietários); crença religiosa (aristocracia clerical); cultura científica (sábios). Mills: as três altas rodas do poder, nos EUA (e toda sociedade pode ser assim) há 3 classes que comandam a sociedade: industriais, políticos e militares, essas altas rodas muito dificilmente aceitam a entrada de novos membros no seu seio (um grande empresário se torna um político, que se casa com uma filha de militar, assim as altas rodas dificilmente recebem novos membros). Estabilidade da ordem: constante renovação da elite, para renovar sua capacidade de domínio. Defendido por Pareto e Mosca Robert Michels, “Lei de Ferro da Oligarquia”: a democracia é uma utopia irrealizável. “Se nem os partidos políticos que advogam a plena democratização da sociedade conseguem organizar-se internamente de maneira democrática, seu objetivo de transformação radical da sociedade é irrealizável.” Elitistas: democracia é irrealizável, qualquer sociedade será governada por poucos. Acredita numa adaptação da elite. Concentração do poder político no topo das estruturas política, social e econômica. Ideal democrático rousseauniano, de autogoverno das massas, é descartado. PLURALISMO Schumpeter, Dahl e Lindblom. Anti-elitista. Condicionantes da ação individual. Homogeneidade cultural: permite a multifiliação (ver abaixo). Intensidade moderada das interações: não há ganhadores nem perdedores. É necessário que se demonstre como a elite efetivamente exerce sua dominação política. Os interesses reais da elite deveriam ser compartilhados e não são. Grupos sociais agem em nome dos interesses compartilhados por seus membros. São compostos por indivíduos autônomos que possuem ações individuais e distintas. Multifiliação: indivíduos que pertencem a mais de um grupo ao mesmo tempo. Volatilidade: indivíduos se agrupam em diferentes coalisões. Devem-se assegurar regras justas de interação política para que se mantenha a disposição de eventuais perdedores a continuar jogando. Eleições: interações competitivas entre os cidadãos para a constituição dos governos. Poliarquia: assegura o direito de contestação pública (liberdade de expressão, direito a eleições livres e competitivas, etc, etc). Capacidade de convencimento dos candidatos aos cargos públicos é recurso essencial ao exercício do poder. Críticas metodológicas ao pluralismo 1. Não-refutabilidade empírica do pluralismo como deficiência que deriva de seus princípios normativos (estudos conduzidos apenas em grupos). Lowi. 2. Antes de se questionar como o poder político é exercido, é preciso identificar os grupos beneficiados pelas estruturas vigentes – social, política e econômica (status quo). Bacharacz e Baratz. Schmitter: interdependência entre a estrutura política de um dado país e seu estágio de desenvolvimento econômico capitalista. O pluralismo não é uma forma capaz de durar para sempre. Desigualdades produzidas pelas interações de mercado afetam a distribuição de recursos políticos entre os cidadãos, ou seja, minam as bases sobre as quais se assentam os valores de igualdade política e soberania popular. MARXISMO Abordagem clássica Poder político está concentrado nas mãos daqueles que detêm posições dominantes na economia capitalista. Caráter coercitivo e parcial da dominação do Estado. Abolição da propriedade privada é condição necessária para a realização de qualquer princípio democrático. A base material da sociedade (relações de produção) determina a super- estrutura (relações políticas, jurídicas, ideológicas, etc). Abordagem leninista Ênfase no caráter coercitivo de dominação do Estado. Incompatibilidade entre democracia e economia de mercado. Marxismo Ocidental Ênfase na economia e no papel de elementos superestruturais, como a política e o Estado. Contraposição ao clássico, ultrapassa a ênfase econômica: aceita a autonomia do Estado em algumas circunstâncias. Antonio Gramsci: revolução socialista no ocidente fracassou devido à estratégia política equivocada. Em sociedades menos complexas, a luta pelo poder se desenvolve em torno do aparelho do Estado, enquanto que em sociedades ocidentais, o fundamental passa a ser a disputa pela hegemonia da sociedade civil. Amplia o conceito de Estado: esfera da coerção da sociedade política (burocracia, exército, polícia) e também da direção da sociedade civil (hegemonial cultural e político). Adam Przeworski: marxismo é análise das consequências das formas de propriedade para os processos históricos. Offe, Nicos Poulantzas: abordagem macro, ressalta as estruturas econômicas, políticas e sociais. Ralph Miliband: abordagem micro, ressalta as relações e comportamentos dos indivíduos. CONCLUSÕES DOS AUTORES Tipos ideais: conceitos extraídos da natureza, mas não encontrados em sua forma pura na natureza. Não há respostas definitivas: correntes complementares. Duas certezas: Distribuição do poder material afeta o sistema político, mas o poder material não provém apenas da posse de propriedades, no sentido tradicional. Em alguma medida, qualquer Estado é autônomo. AULA 10 - INTRODUÇÃO À SOCIOLOGIA POLÍTICA: IDEOLOGIAS POLÍTICAS Autor: SELL, Carlos Eduardo Ideologia política: ideais, valores e princípios voltados para a ação prática da sociedade. IDEOLOGIA Sentido positivo: projeto político (Bobbio). Sentido negativo: falsas idéias. (Karl Marx). Acepção negativa de Marx: * Visão Instrumentalista: instrumento de dominação das massas * Visão Sistêmica: ilusão socialmente necessária. Ideologia é fruto do próprio sistema e invisível para os olhos da sociedade. Acepção positiva de Bobbio: Conjunto de idéias e valores respeitantes à ordem pública e tendo como função orientar os comportamentos políticos coletivos Visão de como dever ser construída a sociedade. IDEOLOGIAS DA PRIMEIRA MODERNIDADE Ideologias na primeira modernidade Tipos Ideologias Modelo de economia Modelo de Estado DIREITA Conservadorismo - Estado centralizado Liberalismo Capitalismo de livre mercado Estado mínimo CENTRO Social-democracia Capitalismo regulado pelo Estado Estado de Bem-Estar Social (welfare) ESQUERDA Socialismo/Comunismo Substituição do capitalismo pelo comunismo Estado Planejador Anarquismo - Sociedade sem Estado As ideologias possuem pontos de contato e podem compartilhar de determinados traços comuns, chegando a identificar-se. Ligados à expansão da Revolução Industrial e do capitalismo Fundamentos comuns da extrema-direita e da extrema-esquerda: fundamentalismo e uso da violência como estratégia política. LIBERALISMO Ideologia de direita, prega por um Estado mínimo a fim do funcionamento de um Capitalismo de livre mercado. Vertentes, duas faces da mesma moeda. Político Principal autor: John Locke Relações entre indivíduo e Estado; Não-interferência do Estado na vida privada; Liberdades fundamentais: vida, liberdade individual e propriedade. Econômico Principal autor:Adam Smith Relações entre mercado e Estado; Não-interferência do Estado na vida econômica (princípio do livre mercado); Estado Gendarme: proteção da propriedade privada e segurança pessoal. Papel do mercado na compatibilização dos egoísmos e na sua tradução em benefícios coletivos. Divisão do trabalho: vontade do homemde trocar, poupar e ganhar. Crises do Liberalismo Econômico: * Depressão de 1929 e teoria de Keynes; * Necessidade da intervenção direta do Estado no funcionamento do mercado; * Surgimento da social-democracia; * Fascismo - restrição das liberdades Neoliberalismo - 1979 (Friedrich Hayek): a liberdade econômica e o próprio mercado são fundamentos da liberdade política, ou seja, o capitalismo é condição necessária para a democracia. Inglaterra: Margaret Tatcher EUA: Ronald Reagan Hegemonia do neoliberalismo - Consenso de Washington: implementação de rígidas políticas de austeridade fiscal e privatizações recomendadas pelo FMI, Banco Mundial e Bird. Liberalismo se relaciona com o Pluralismo, pois é contra a existência de uma elite dirigente. Críticas: Marxismo - liberalismo como ideologia burguesa para consolidar seu poder econômico; Não garante a existência digna para todos os indivíduos. SOCIALISMO Objetivo central: superação do capitalismo. Modelo de Marx 1. Abolição das classes sociais 2. Abolição do Estado Entre outras coisas isso implicava a eliminação da propriedade burguesa (abolição das classes sociais) Distanciamento dos socialistas utópicos: buscava modelos reais e previsíveis Modelo Soviético Revolução Bolchevique (1917) Governo ditatorial, de caráter repressivo e autoritário (totalitarismo). Economia: socialização dos meios de produção – propriedade das atividades produtivas passou para o Estado. Planos Quinquenais: regulação e determinação de todos os aspectos da esfera econômica Partido único: partido comunista Controle social: controle da imprensa Política: controle do Estado a partir do partido único. Contribuições do Socialismo Despertar a consciência política dos trabalhadores; Consolidar o valor da igualdade. SOCIAL-DEMOCRACIA Uma das estratégias de transição do capitalismo para o socialismo/comunismo. Possuía vertente diferente do grupo revolucionário. Também visa uma sociedade sem classes. Mediação do Estado na Economia. Socialismo revolucionário: Insurreição/Coletivização. Maior conquista – Revolução Russa, 1917. Socialismo social-democrata: Eleições/Reformas Graduais. Principal agremiação – Partido Social-Democrata Alemão (1875). Maior conquista – construção do Estado de Bem-Estar Social. Estado de Bem-Estar Social Reformas graduais pelas quais a sociedade fosse alterando lentamente seus fundamentos. Intervenção do Estado na Economia (idéias de Keynes). 1. O Estado responsabiliza-se pelas atividades não-lucrativas das empresas privadas; 2. Governo regula por meio de políticas anti-cíclicas o funcionamento do setor privado; 3. Estado atenua os efeitos distributivos do funcionamento do mercado. A social-democracia almejou humanizar o capitalismo e o colocou a serviço dos trabalhadores, porém abandonou seu objetivo inicial: a construção do socialismo. Pressupostos da social-democracia: capitalismo pode ser reformado e humanizado, tendo como instrumento mediador a ação do Estado. Pós Segunda Guerra Mundial: ascensão dos regimes socialdemocratas. Terceira Via Duplo-dilema do Welfare State – crise fiscal do Estado (1970): fontes de renda diminuíram (excessiva tributação comprometeu a produção industrial) e dependentes do Estado aumentaram (aumento do desemprego estrutural, fruto da automação). Terceira Via: transcender tanto o neoliberalismo (Primeira Via) quanto a velha social-democracia (Segunda Via). Busca aliar o Welfare State à otimização econômica. Representantes políticos: Tony Blair (Inglaterra, 1996); Leonel Jospin (França, 1997); Gerhard Schröeder (Alemanha, 1998); Bill Clinton (EUA, 1992-2000). SEGUNDA MODERNIDADE E CRISES DAS IDEOLOGIAS Clivagem direita x esquerda cada vez mais irrelevante. Queda do Muro de Berlim Critérios culturais e pessoais guiam a escolha política dos eleitores. Bobbio ainda defende a visão de esquerda e direita: propostas que se inspiram no valor da igualdade são de esquerda, enquanto os que toleram a desigualdade em nome de outros valores são de direita. Sell - Motivos do enfraquecimento dos ideais políticos: * Excesso: valores da liberdade e igualdade já consolidados * Carência: novos problemas de organização coletiva (meio-ambiente, direito das minorias, riscos de grande ameaça) não podem ser respondidos pelas ideologias tradicionais. Bobbio: Esquerda e Direita ainda são discerníveis. Giddens: inversão das ideologias - esquerda conservadora e direita progressista.. Risco do exagero ideológico Periculosidade das Ideologias Princípio Definição Ideologias Físis Valorizar forças da natureza Nazismo Conservadorismo Nómos Valorizar forças sociais e humanas Estalinismo Anarquismo Lógos Valorizar a razão Tecnocracismo Liberalismo Sell: Perda de relevância do embate liberdade-igualdade. Novas questões em pauta: meio ambiente, igualdade de gêneros. Busca por novas ideologias. AULA 11 - DILEMAS DO NACIONALISMO Autor: NASCIMENTO, Paulo César Nacionalismo é associado à transição das ordens dinásticas para sociedades baseadas na doutrina de soberania popular. Polêmica sobre a origem do nacionalismo, se sua essência é democrática ou autoritária. CONFUSÃO CONCEITUAL ENTRE ESTADO E NAÇÃO Gellner: Nacionalismo é o princípio político que advoga a congruência entre Estado e Nação. * A idéia que move o nacionalismo é a criação de um Estado que exerça autoridade sobre a nação. Nação é o grupo humano que compartilha da mesma cultura. * A definição de Gellner deixa de lado manifestações como flamengos, escoceses, catalões e bascos, que não buscavam um Estado independente, mas várias formas de autonomia polítca em relação ao poder central. * Essa definição também confunde conceitos, associando patriotismo (lealdade ao Estado) e nacionalismo (lealdade à nação) como sinônimos. Nação tem relação direta com a identidade e a auto-consciência (o que o indivíduo se considera). Perspectiva relacional (comparação entre nações). Revolução Francesa: noção de povo como nação passou a ser associada ao Estado. A soberania popular colocou o povo como fonte de todo poder político, tornando-o quase sinônimo de Estado. Crítica de Nascimento: Nos casos em que a cada Estado corresponde uma nação, a confusão entre os conceitos não é muito relevante. Porém, Estados homogêneos, como Alemanha e Japão, são raros. PRIMORDIALISMO E MODERNIDADE Gellner: nacionalismo está ligado à passagem da sociedade agrária para a industrial. É a ideologia, cultura comum e língua única necessária para a consolidação do poder das elites sobre territórios definidos. O nacionalismo não é o despertar das nações à auto-consciência: ele inventa nações onde elas não existem. Instrumentalistas enfatizam o caráter manipulador do nacionalismo: elites empenhadas em defender seu poder político e seus interesses econômicos fomentam movimentos étnicos e nacionalistas, dirigindo-os contra seus oponentes. Anderson: critica Gellner, cuja visão do nacionalismo o reduz a uma doutrina inventada para manipulação de massas. Defende a nação como uma comunidade “imaginada” porque se estende para além dos contatos face a face. Enfatiza a dimensão psicológica do nacionalismo, pois este aparece igualmente no rastro do declínio das religiões. Modernistas: concordam que o início do nacionalismo pode ser datado em fins do século XVIII, mas divergem quanto ao locus: além da Revolução Francesa, há o romantismo alemão, Guerra Civil das Rosas na Inglaterra e o movimento de independência na América Latina. O sentimento do nacionalismo surge com amodernidade e não é construído por meio da história. Charles Tilly: enfatiza a ligação entre guerras europeias e o nacionalismo. Guerras criam Estados nacionais, e estes, por sua vez, geram mais guerras. Primordialismo Nações são unidades naturais da história da humanidade. Se algumas delas ainda não conseguiram despertar, isso decorre de injustiças históricas a que os movimentos nacionalistas se propõem a corrigir. Defendido por ideólogos e líderes dos movimentos nacionalistas. Divergências continentais: enquanto na Europa, a formação das nações era baseada em uma etnia principal e sua associação ao Estado, em outros continentes, a transferência de lealdades primordiais para o Estado central tem se mostrado bem mais difícil (ex: África, Ásia e América do Sul). Stalin: nação é uma comunidade histórica e estável, formada com base em uma língua comum, território, vida econômica e psicologia manifestadas em uma cultura comum. Problema: pesquisas históricas indicam que não há características essenciais da nação. Modernidade: Nacionalismo instrumentalista: nacionalismo como resultado de um processo de engenharia social. Nacionalismo pode ser remetido a idéias e processos socioeconômicos e políticos ligados à Revolução Industrial e Francesa. Nação e Etnia Vertente da autoconsciência: a essência da nação está na autopercepção de diferença que uma comunidade tem a outras comunidades, bem como os laços de semelhança e união que cada comunidade percebe como “seus”. Laços de semelhança são os sentimentos primordiais de caráter étnico. Enquanto nação sempre envolve autodefinição, a etnia é inconsciente, sendo mais identificada pelo grupo externo que o observa. O sentimento de solidariedade étnica não forma uma nação. Smith: traça um painel comparativo dos elementos étnicos e mostra sua influência na cultura das nações modernas. Seis elementos principais: nome coletivo, mito comum de descendência, história em comum, cultura distinta, associação com um território, sentimento de solidariedade entre seus membros. Calhoun/Foucault: formação discursiva. O nacionalismo é um discurso que integra uma comunidade a partir do significado comum que seus membros atribuem a eventos, ações e tradições associadas a seus elementos étnicos. A ligação direta entre indivíduo e nação que revela a dimensão política do nacionalismo. NACIONALISMO CÍVICO E NACIONALISMO ÉTNICO A soberania coletiva da nação levou à constituição de um Estado que, por sua vez, é a expressão política de seus cidadãos. Nacionalismo cívico Adesão aos princípios políticos de soberania popular e do governo representativo. Nacionalismo democrático. Greenfeld: nacionalismo que fez o caminho para a modernidade, e não o contrário. Mudou os critérios de dignidade humana e tornou a atividade econômica respeitável. Nacionalismo étnico Enraiza-se em componentes étnicos e primordiais (atributos únicos e particularidades das culturas) Por natureza, é excludente e coletivista, sua origem ressentida o faz desenvolver tendências à xenofobia e ao autoritarismo. Brasil é um caso em que houve transvalorização de valores, transformando a miscigenação e o mito da democracia racial como parte integrante da identidade nacional brasileira, apesar da evidente discriminação racial existente no país. As identidades nacionais mudam ao longo do tempo, podendo assumir um caráter étnico ou cívico, ou uma mistura dos dois. Sociedades baseadas puramente em um dos dois critérios não existem. Críticas à oposição do nacionalismo cívico e étnico alegam que o nacionalismo cívico é também cultural e deve ser estudado como tal. A idéia de uma identidade nacional exclusivamente baseada na cidadania e despida de etnocentrismos é irreal. Transvalorização de Valores Resposta dos intelectuais brasileiros à suposta inferioridade racial do Brasil, transformando a miscigenação em fator positivo e motivo de orgulho nacional. Contraponto à visão negativa da miscigenação. AULA 12 - CIDADANIA NO BRASIL Autor: CARVALHO, José Murilo CIDADANIA Cidadania reflete a relação do indivíduo com o Estado. Discute os direitos em sociedade. Esses direitos surgiram (no modelo inglês) a partir de movimentos sociais. Cidadania é dividida em direitos civis, políticos e sociais, de acordo com o modelo inglês (Marshall). Este modelo tem uma abordagem cronológica, a partir da Revolução Industrial, compondo as gerações dos direitos fundamentais: Direitos civis (séc. XVIII): direitos fundamentais à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante à lei. Igualdade pelo Estado. Direitos políticos (séc. XIX): participação do cidadão no governo da sociedade. Direito de votar e ser votado. Controle do Estado. Direitos sociais (séc. XX): participação na riqueza coletiva. Direito à educação, ao trabalho, ao salário justo, à saúde, à aposentadoria. Relativo à justiça social. Na redemocratização, houve uma confusão entre o conceito de cidadania e a liberdade de expressão/direito de sufrágio. Educação popular: permitiu às pessoas tomarem conhecimento de seus direitos e se organizarem para lutar por eles. A construção da cidadania tem a ver com a relação das pessoas com o Estado (lealdade) e com a nação (identificação). CIDADANIA NO BRASIL Cidadania no Brasil veio de forma invertida: direitos sociais, políticos e por fim civis. A. Sociais: início, foram concedidos durante a ditadura civil de Getúlio Vargas. Não foram frutos de uma luta por direitos, mas foram concedidos por GV numa ação populista do governante. B. Políticos: foram desenvolvidos pelo regime militar, e não pelo processo democrático. Na abertura da ditadura para a democracia, a própria ditadura construiu as bases para o funcionamento da democracia brasileira. C. Civis: ainda em construção no Brasil. Cidadãos sendo tratados iguais pela lei. Drama da miséria, do desemprego, do analfabetismo e da violência são também dramas essenciais da cidadania. Perdeu-se a crença de que a democracia resolveria os problemas de desigualdade. Lei Agamenon (1945): se baseia nos princípios de Assis Brasil. Estruturou o Judiciário, definindo o novo Código Eleitoral, e instaurou o sufrágio universal (1946). "Estadania": neologismo (Estado + Cidadania). Intensa participação do Estado na construção dos direitos, e não na luta do povo contra o Estado. O Estado é que construiu a nossa cidadania. Estado como mecanismo de conquista da cidadania. Está mais orientada para o Estado do que para a representação: excessiva valorização do Executivo, baixo valor do Legislativo. As principais discussões não são feitas pelo legislativo. Consequências: * Excessiva valorização do poder Executivo. Busca por um messias político, um salvador da pátria. * Desvalorização do Legislativo * Visão corporativista dos interesses coletivos. * Ênfase na organização da sociedade: supremacia do Estado. Corporativismo: a sociedade brasileira se une de forma corporativa, para de forma corporativa conquistar seus direitos. O corporativismo definiu os direitos sociais e políticos no Brasil. Cidadania regulada: direitos associados a sua posição no mercado de trabalho e desde que você esteja vinculado a um sindicato. Além disso, haviam as representações funcionais (1932), que davam mais direitos de voto ao cidadão. Benefícios como aposentadorias ligados à filiação a um determinado sindicato. Lei Falcão: controle do direito político de ser votado. Futuro da cidadania: para conquistar os direitos civis de forma plena, é necessário abandonar a Estadania. Quando se conquista a igualdadepresente nos direitos civis, os outros direitos são expandidos. Porém, é necessário a sociedade se organizar e EXIGIR do Estado que todos sejam tratados de forma igual. Não se pode ficar dependendo do Estado para obter essa igualdade entre os indivíduos e perante o Estado. Esquizofrenia política: os eleitores desprezam os políticos, mas continuam votando neles em troca de benefícios pessoais. Crise do Estado-Nação: Redução do papel central do Estado como fonte de direitos e como arena de participação; Deslocamento da nação como principal fonte de identidade coletiva. Possibilidade de aperfeiçoamento dos mecanismos de representação. Faz-se necessário, no entanto, reforçar a organização da sociedade a fim de dar embasamento social ao político. Experiências de colaboração entre sociedade e Estado: ONGs e associações cooperativas. AULAS 13 E 14 - TEORIA DEMOCRÁTICA ATUAL: ESPAÇO DE MAPEAMENTO Autor: MIGUEL, Luiz Felipe Beetham: Democracia é forma de tomada de decisões públicas que concede ao povo o controle social. Elementos da democracia grega: assembleia popular, sorteio para preenchimento dos cargos públicos, isonomia, isegoria, rodízio nas posições do governo, crença na igual capacidade de todos os cidadãos para gestão da polis. Isegoria: todos são igualmente responsáveis pelos deveres cívicos. CLASSIFICAÇÕES Diferentes classificações de democracia. Miguel apresenta cinco tipos de democracia representativa: 1. Democracia liberal-pluralista: competição eleitoral livre e multiplicidade de grupos de pressão, que se envolvem em coalizões e barganhas. Cabe aos cidadãos formar o governo, mas não governar. Individualista. Política possui apenas valor instrumental. 2. Democracia deliberativa: decisões políticas são frutos de uma ampla discussão. Os agentes não estão presos a interesses fixos (ao contrário do modelo liberal), e podem alterar suas preferências em meio ao debate. 3. Republicanismo cívico: revalorização da ação na polis e do sentimento de comunidade. Opõe-se ao individualismo da tradição liberal. Participação política tem um valor em si mesmo. 4. Democracia participativa: ampliação dos espaços de decisão coletiva na vida cotidiana. Participação democrática no dia-a-dia. Combinação dos mecanismos representativos com a participação popular na base. 5. Multiculturalismo: política da diferença, afirmação das características distintivas dos diversos grupos presentes na sociedade nacional. Grupos, e não só indivíduos, são considerados sujeitos de direitos. Temas centrais: consenso e igualdade. DEMOCRACIA LIBERAL-PLURALISTA Defende a igualdade perante a lei. Schumpeter: Democracia é simplesmente uma maneira de gerar uma minoria governante legítima. Teoria elitista. Teoria concorrencial: luta competitiva pelos votos do povo. Visão desencantada da democracia, incapaz de cumprir suas promessas – governo do povo, igualdade política, participação dos cidadãos nas tomadas de decisões. Combinação entre eleitores pouco interessados e políticos competindo pelo voto representa a mais perfeita forma de governo. Riker: Manipulação dos mecanismos decisórios afeta os resultados. A democracia se resume ao ato de votar. Dahl: Concepção liberal atual de democracia. Presunção do desinteresse do eleitorado é relativizada – cidadãos se mobilizam no momento que seus interesses específicos são postos em questão. Eleições ocupam posição central, pois as preferências das minorias têm que ser levadas em contas pelos líderes quando fazem opções de política. Ênfase em eleições competitivas e múltiplos grupos de pressão. Poliarquia: capacidade de influência política diluída em inúmeras minorias. Admite que a democracia não é o governo do povo, mas nega a existência de uma classe dominante. Modelo bidimensional: inclusividade (ampliação da participação) e liberalização (direito de contestação) DEMOCRACIA DELIBERATIVA Principal corrente de oposição aos liberais-pluralistas; Defende a igualdade no debate. Habermas: Preferências são construídas e reconstruídas por meio das interações na esfera pública, em especial do debate entre os envolvidos. Ênfase na igualdade de participação. Autonomia: produção das normas sociais pelos próprios integrantes da sociedade é o valor fundamental que guia o projeto democrático. Habermas lamenta a decadência atual da esfera pública, manipulada por estratégias publicitárias. Defende o debate face-a-face. Utópico. Situação de “fala ideal”: 1. Qualquer contribuição pertinente ao debate pode ser apresentada; 2. Apenas a argumentação racional é levada em conta; 3. Os participantes buscam atingir o consenso. Dificuldades de implementação. Problemas na dimensão social. Problemas do consenso. Manin: Ampla participação na discussão como um método de legitimação: “uma decisão legítima não representa a vontade de todos, mas é aquela que resulta da deliberação de todos”. Problemas: Desafios da promoção da deliberação. Pode se revestir de um caráter conservador, ser paralisante e protelatório. Grupos dominados têm menor capacidade de traduzir seus interesses numa retórica universalista. Modelo deliberativo postula uma forma legítima de produção de decisões coletivas, mas ignora vieses que viciam seus resultados. O mero acesso de todos à discussão é insuficiente para neutralizar a maior capacidade que os poderosos têm de promover seus próprios interesses. Interesses são produtos sociais. Também são instrumentalistas. REPUBLICANISMO CÍVICO Rousseau Crítica aos contratualistas liberais, que percebem a sociedade como mera agregação. Apresenta o projeto de uma associação, onde se cria uma verdadeira identidade coletiva. Vontade geral: vontade do todo social, do eu-comum que nasce com a associação. Não é a vontade de todos, individualista, e não é deliberativa, pois possui um caráter metafísico. Direitos concedidos aos indivíduos seriam os compartilhados pela comunidade. Estado de bem-estar social, terreno da solidariedade concreta. Opõe-se tanto ao neo-liberalismo como à intervenção estatal. Maquiavel é um dos heróis dessa corrente. Resposta está na comunidade. Política não é um mero instrumento, mas um valor em si mesmo. É por meio da comunidade que as idéias de identidade, pertencimento e de bom e do mal serão definidos. Problemas com relação às minorias. Críticas: Estado de bem-estar: relações frias e burocratizadas. Quebra o vínculo de solidariedade. DEMOCRACIA PARTICIPATIVA Propõe alternativas que incrementem a presença popular na política. Democracia deve ser percebida e valorizada como um processo educativo. Reinvidicam Rousseau (busca da vontade-geral) e Stuart Mill (importância do voto) como precursores intelectuais. Autores mais representativos: Pateman e Macpherson. Pateman enfatiza a introdução de instrumentos democráticos na esfera de vida cotidiana. Macpherson aponta que o modelo participativo exige não apenas uma mudança de mentalidade como também a redução das desigualdades econômicas. Advogam a implantação de mecanismos democráticos nos espaços de vida cotidianos, como bairros, escolas, locais de trabalho e famílias. Criticam a relação entre democracia e capitalismo. Rompe-se com a idéia de que agir politicamente é um dom da elite. NÃO defendem a democracia direta. Rearranjos institucionais: equilíbrio entre o micro e o macro. Valorização da qualificação política dos cidadãos. A participação deve implicar decisão. Orçamento participativo NÃO engloba isso. Não é possível haver participação política quando hádesigualdade material. É possível ligar Capitalismo e Democracia? Socialismo real é solução? Não. Igualdade material sem participação política não adianta. Descentralização do poder: economia autogestionária e participação na base (mais accountability). Apatia: ausência de oportunidades + desigualdade material. MULTICULTURALISMO Constatação de que as sociedades contemporâneas são marcadas pela convivência entre grupos de pessoas com estilos de vidas e valores diferentes, por vezes conflitantes. Questão dos grupos oprimidos e dominados. Sujeitos a padrões desigualdade estruturados pela sociedade dominante. Inclusão dos grupos sociais numa reflexão política que, marcada pelo individualismo, tende a exilá-los. Um grupo social se define por um sentido de identidade compartilhada. Preocupa-se com a teoria da justiça. A democracia derivaria de um arranjo político propício à realização da justiça. (Justiça social). Autores multiculturalistas: Young, Williams e Kymlicka. Autores defendem que os grupos estão numa posição historicamente constituída de opressão e dominação. Conflitos entre os direitos de grupos e os individuais. Kymlicka defende a incorporação de restrições internas aos direitos de grupos, ligadas à manutenção das liberdades e dos direitos individuais. AULA 15 – IMPASSES DA ACCOUNTABILITY Parlamento eleitoral não existia no regime democrático grego clássico. Desafios da ordem democrática representativa: - relação entre preferência individual e vontade coletiva - igualdade formal não resolve a desigualdade - manipulação da vontade coletiva (Habermas) Três problemas fundamentais da democracia representativa: 1. Separação entre governantes e governados – as decisões políticas são tomadas por um pequeno grupo e não pela massa dos que são submetidos a elas; 2. Formação de uma elite política distanciada da massa da população, o grupo governante tende a exercer permanentemente o poder; 3. Ruptura do vínculo entre a vontade dos representados e dos representantes. Resposta: Accountabilty. Accountability horizontal: Controle que os poderes estabelecidos exercem um sobre o outro; divisão dos poderes. Accountability vertical: necessidade que os representantes têm de prestar contas e submeter-se ao veredicto da população. Seu ponto culminante é a eleição. Termo médio entre o mandato livre e o mandato imperativo. A accountability tem limitações. A capacidade de supervisão é limitada pela: * complexidade das questões públicas - representantes são obrigados a se especializar, e nem sempre a população tem conhecimento suficiente para reinvidicar; * fraco incentivo à qualificação pública - dificuldade de visibilidade dos representantes eficientes; * controle sobre a agenda: Executivo passa por cima do Legislativo e este por sua vez passa por cima de outros. O bom funcionamento da accountability vertical depende da existência institucional de sanções efetivas sobre os representantes, da provisão de informação adequada e plural e do interesse pela política disseminado nos diferentes grupos da população. Os representantes devem ter poder efetivo para a implantação das políticas que preferem. O processo de globalização complicou o exercício da accountability, pois órgãos externos interferem no exercício da soberania popular. Responsividade é diferente de accountability. É o papel que o governante tem de responder aos anseios da população. Accountability está ligado à prestação de contas. Mandato imperativo (Rousseau): representante como emissário ou negociador - deve fazer apenas o que a base atribui o que ele faça. Deve fazer o que a sociedade quer. Controle total sobre as ações do parlamentar. Mandato livre (Burke): delegação do mandato ao representante. Defesa da autonomia dos representantes com relação aos representados. Os deputados são colocados em uma posição que os permite compreender as questões públicas, têm formações e acessos a essas informações, e possuem especializações. Não preconiza interlocução entre representantes e representados. Accountability vertical restrita ao momento da eleição. Representação da nação como um tudo; competência e especialização dos representantes. Dificuldades: complexidade da sociedade e política; Caráter multifuncional da representação. Critérios para o bom funcionamento: * sanções efetivas * acesso à informação * efetividade dos governantes (soberania frente a políticas internacionais) * interesse político da população CRISE DA REPRESENTAÇÃO Democracia representativa encontra-se em crise: excesso de demandas e declínio da autoridade do governo. Dahl: Paradoxo democrático – cidadãos apegados às normas democráticas, mas descrentes das instituições que deveriam efetivá-las. Queda na confiança popular em relação aos políticos, aos partidos e às instituições. A ativação política dos anos 60 e 70, que procurava distender os limites das democracias ocidentais, foi substituída por um descrédito generalizado, pois os cidadãos não se sentem representados. PROPOSTAS PARA A REPRESENTAÇÃO Objetivos: 1. Ampliação da representatividade mimética do corpo decisósio, ou seja, governantes mais parecidos com os governados; 2. Ampliação da pluralidade de vozes e perspectivas presentes nas esferas decisórias; 3. Ampliação da força política de grupos tradicionalmente marginalizados; 4. Ampliação da rotatividade nos cargos decisórios, impedindo a cristalização de uma elite política. Sugestões: processos eletivos aleatórios e inserção de cotas. As propostas afetam em maior ou menos grau a accountability: na medida em que o acesso aos postos de decisão depende menos da vontade dos governados, e mais de regras prévias de distribuição das vagas entre grupos ou da sorte, a responsividade dos governantes à vontade popular é comprometida. As propostas tentam prover responsividade através da similitude: as decisões políticas poderiam corresponder à vontade dos cidadãos comuns porque seriam tomadas por pessoas similares a eles. Young defende a questão da perspectiva social: grupos marginalizados possuem uma perspectiva própria sobre determinado problema vinculado a certos padrões, socialmente estruturados, de experiências de vida. Instrumentos que promovam a responsividade de modo independente da accountability podem ser importantes para garantir a presença das diferentes perspectivas sociais nos locais de discussão e decisão política. (valorização das cotas). Propostas de sorteio são inviáveis, mas servem como críticas ao funcionamento da representação eleitoral e da accountability AULA 16 – ATIVIDADES PRIVADAS E PARTICIPAÇÃO NA VIDA PÚBLICA Autor: HIRSCHMAN, Albert Olson: participação de cidadãos em ações coletivas é improvável mesmo que os benefícios para o indivíduo superem os custos de participação. Fenômeno da carona: resultado da ação coletiva é um bem público que pode ser aproveitado por todos; indivíduo é tentado a abster-se de contribuir, na expectativa de que outros se empenharão em seu benefício. Crítica a Olson: os elementos de sua teoria da decisão econômica geral carecem de um passado. Efeito do impacto: exagero dos benefícios e subestimação dos custos da ação que se contrapõe ao caminho seguido anteriormente e que levou a resultados desagradáveis. Se A falhou, B é uma opção muito mais promissora, independente de seus custos. Carona x impacto: dúvidas ao argumento da carona, pois a satisfação buscada pelos consumidores decepcionados, ao voltarem suas atenções para a ação pública, não provém apenas dos resultados que se espera dessas ações. Atrativoda ação pública: não existe uma distinção entre a luta pela felicidade pública e a busca desta. Conforto: ausência de desconforto. Prazer: experimentado entre a transição do desconforto para o conforto. Prazer de comer é distinto do conforto da sensação de saciedade. Na arena pública, prazer e custos se misturam e tornam-se difíceis de separar. Incerteza da ação pública transforma esforço para obtê-lo em luta. Para compensar a sensação de incerteza, essa luta passa a ser capaz por si só de transmitir uma sensação de prazer. Mudança cognitiva radical: percepção de que eu posso agir para melhorar a sociedade e posso me juntar a pessoas que pensam como eu. Outra abordagem: não é minha capacidade de mudar a sociedade que me proporciona prazer, mas o fato de que meu trabalho e atividades na esfera pública me desenvolvem e transformam. FRUSTRAÇÕES DA PARTICIPAÇÃO NA VIDA PÚBLICA Onda de decepções com a vida pública são ecos e reflexos da mudança coletiva anterior no sentido do envolvimento em questões públicas; decepções em relação aos referidos movimentos são sistematicamente geradas por características institucionais das sociedades modernas. Shaw: duas tragédias – a não realização de nossos desejos e a realização. Defesa prolongada de causas infrutíferas é frustrante, mas o fato da meta atingida não ser tão atrativa quanto antecipada pode ser pior. Outra razão: perda da necessidade da ação (republicanos após o fim da monarquia; separatistas após secessão). O resultado de uma ação pública não pode ser claramente qualificado como um sucesso ou fracasso. Costumam ficar aquém das expectativas porque a imaginação moderna é propensa a deslumbrar mudanças radicais, não enxergando resultados intermediários e paradas temporárias. Ação pública costuma tomar mais tempo do que originalmente se espera. Problema do tempo excessivo: na medida que a atividade pública toma o tempo que seria normalmente dedicado ao consumo privado, seu custo sob acentuadamente em determinado momento. Constant: critica a participação máxima clamada por Rousseau; defende a política representativa: “a liberdade nos será tanto mais valiosa quanto maior for o tempo que o exercício de nossos direitos políticos nos permitir dedicar a nossos interesses particulares”. Motivos da subestimação do tempo necessário para a ação pública: ilusão de que ela pode ser facilmente assimilada; acreditar que seu ponto de vista é o único que faz sentido, e portanto, facilmente prevalecerá. Dependência da vida pública: pode surgir a partir da sensação de liberdade para romper com as tradicionais linhas de conduta moral. Cidadãos estão sujeitos a limites estritos que coíbem seu envolvimento em assuntos de natureza pública na medida em que certas instituições políticas os impedem de manifestar a intensidade total de seus sentimentos em relação a esses assuntos. Voto Dilema do voto: garante a todos uma parcela mínima no processo de decisão pública e ao mesmo tempo estabelece um máximo ou teto. Não permite que os cidadãos registrem as várias intensidades com que sentem suas respectivas convicções e opiniões políticas. Ambiguidade do voto: elemento de defesa contra um estado excessivamente repressivo; proteção contra uma coletividade excessivamente expressiva. Rousseau: representação e eleição periódica tem sua origem em processos anticívicos. Hirschman: diz o contrário – estabelecimento do voto como instrumento decisório soberano acarreta a decepção com as limitadas oportunidades de envolvimento cívico. A consequência é seu declínio. Hirschman acredita que o comparecimento eleitoral seja maior quando os partidos estão permanentemente alertando os cidadãos para várias questões públicas do que quando apenas em épocas de eleição. (EUA x Europa). Formas de participação política além do voto: (1) influências no voto a partir de campanhas políticas; (2) manifestações. Hirschman acredita que participação em manifestações podem ocorrer mais pela vontade do indivíduo de manifestar que ele é capaz de ter fortes convicções sobre alguma questão pública, mais que o objetivo da manifestação em si. Sufrágio universal: mecanismo utilizado para conter revoluções. Voto tira a legitimidade de outras ações mais diretas, intensas e expressivas de ação política que, além de mais eficientes, são mais satisfatórias. AULA 17 – PROBLEMAS CONCEITUAIS DO ESTUDO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS Autor: MUNCK, Gerard L. Escola americana da mobilização de recursos: Teoria da escolha racional – movimentos sociais como um problema de ação coletiva. Influência de Olson (caronas). Movimentos sociais estudados sob o ângulo individualista de custo e benefícios. Tarrow: crítica à tradição olsoniana. Movimentos sociais tem natureza social. Problema não é a participação, mas a organização da ação social. IDENTIDADE COLETIVA Touraine: identidade de um movimento social se forma no interior da estrutura de conflitos de uma determinada sociedade. Identidade coletiva apreende o sentido em que seus atores devem ser analisados nos termos da estrutura de conflitos de uma sociedade e, só depois, nos termos das estratégias que têm em vista. PEÇAS CONSTITUTIVAS DOS MOVIMENTOS SOCIAIS Três problemas: * Formação do ator – surgimento de fundadores ou organizadores que orientam o movimento social; * Coordenação social – constituição do movimento como tal, dificuldades de organizar massas descentralizadas e não-hierárquicas; * Estratégia política – orientação para a mudança. FORMAÇÃO DO ATOR Americanos: centra-se no ator, trata os fundadores dos movimentos sociais como dados; Europeus: não centraliza o ator, mas foca na explicação para a emergência do ator. Fundadores nascem da antiga ordem como portadores da aspiração de uma nova ordem. Movimento social nasce com uma identidade coletiva. Deve-se levar em conta a estrutura do conflito existente em uma sociedade determinada. COORDENAÇÃO SOCIAL Contribuições americanas. Fundadores do movimento não têm condições de controlar seus participantes por meio de aplicações compulsórias. Coesão ao movimento é feita por outros meios. Repertoires of contention: redes de relações sociais e marcos culturais disponíveis aos fundadores para coordenar a ação dos participantes do movimento. ESTRATÉGIA POLÍTICA Não abordada de forma satisfatória por nenhuma das correntes. Europeus: líderes e o movimento surgem da esfera social; a identidade coletiva e as implicações do movimento são importantes para uma análise da ação coletiva. Americanos: falta de clareza da dimensão social dos movimentos; não- distinção das tarefas de coordenação da liderança e sua estratégia política. Misturam e confundem o problema político-estratégico associado à orientação para a mudança dos movimentos sociais com as considerações estratégicas geradas pelo problema da coordenação social. DISCUSSÃO DO PROBLEMA DA ESTRATÉGIA POLÍTICA Estratégia política é orientação para uma mudança. Líderes do movimento devem agir como um ator estratégico – precisam pesar as consequências de suas ações ou encarnar uma ética da responsabilidade de Weber. Deve-se afirmar a natureza inegociável da identidade social do movimento e se recusar a agir meramente como um ator estratégico. Influência recíproca entre a capacidade do movimento para empreender uma ação estratégica e a identidade com a qual nasceu. Resultados negativos: * Quando os aspectos estratégicos se tornam mais importante que a identidade, e a desvirtuam. * Quando as considerações estratégicas são relegadas em nome da identidade. Desafio: manter equilíbrio entre a afirmação
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