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Atenção à Saúde da Mulher em situação de Violência

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 2 
 4 
Catalogação elaborada na Fonte.
Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária responsável: 
Rosiane Maria - CRB-14/1588
U588a Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de Ciências da Saúde. Departamento de 
 Saúde Pública. Curso de Atenção Integral à Saúde das Mulheres – Modalidade a Distância.
 Atenção à saúde das mulheres em situação de violência [Recurso eletrônico] / 
 Universidade Federal de Santa Catarina. Organizadoras: Sheila Rubia Lindner... [et al]. - 
 Florianópolis: UFSC, 2017.
 62 p. : il. color. 
 Modo de acesso: www.unasus.ufsc.br 
 Conteúdo do módulo: Unidade 1 – A violência contra as mulheres. – Unidade 2 – Situações 
 de violência e o papel do profissional na Atenção Básica. – Unidade 3 – Atenção às mulheres 
 em situação de violência no âmbito da Atenção Básica.
 ISBN: 978-85-8267-110-8
 1. Saúde das mulheres. 2. Violência contra a mulher. 3. Atenção básica. I. UFSC. II. Lindner, 
 Sheila Rubia. III. Delziovo, Carmem Regina. IV. Bolsoni, Carolina Carvalho. V. Oliveira, Caroline 
 Schweitzer de. VI. Coelho, Elza Berger Salema. VII. Título. 
CDU: 364.2
 5 
GOVERNO FEDERAL
Ministério da Saúde
Secretaria de Atenção à Saúde (SAS)
Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas
Coordenação-Geral de Saúde das Mulheres
Universidade Federal de Santa Catarina
Reitor: Luiz Carlos Cancellier de Olivo
Vice-Reitora: Alacoque Lorenzini Erdmann
Pró-Reitor de Pós-Graduação: Sérgio Fernando Torres de Freitas
Pró-Reitor de Pesquisa: Sebastião Roberto Soares
Pró-Reitor de Extensão: Rogério Cid Bastos
Centro de Ciências da Saúde
Diretora: Isabela de Carlos Back
Vice-Diretor: Ricardo de Sousa Vieira
Departamento de Saúde Pública
Chefe do Departamento: Fabrício Augusto Menegon
Subchefe do Departamento: Maria Cristina Marino Calvo 
Coordenadora do 
Curso de Capacitação: Elza Berger Salema Coelho
Créditos
 6 
EQUIPE TÉCNICA DO MINISTÉRIO DA SAÚDE
Coordenação-Geral de Saúde das Mulheres
 Caroline Schweitzer de Oliveira
 Célia Adriana Nicolotti
 Maria Esther de Albuquerque Vilela
 Thais Fonseca Veloso de Oliveira
Gestora geral do Projeto
 Elza Berger Salema Coelho
Equipe de produção editorial
 Carolina Carvalho Bolsoni
 Deise Warmling
 Elza Berger Salema Coelho
 Larissa Pruner Marques
 Sabrina Blasius Faust
Equipe executiva
 Dalvan Antonio de Campos
 Gisélida Vieira 
 Patrícia Castro 
 Sheila Rubia Lindner 
 Tcharlies Schmitz
 Thiago Ângelo Gelaim
 
Consultoria técnica
 Carmem Regina Delziovo
Créditos
 7 
AUTORIA DO MÓDULO
 Sheila Rubia Lindner
 Carmem Regina Delziovo
 Carolina Carvalho Bolsoni
 Caroline Schweitzer de Oliveira
 Elza Berger Salema Coelho
Assessoria pedagógica
 Márcia Regina Luz 
Identidade visual e Projeto gráfico 
 Pedro Paulo Delpino 
Diagramação 
 Paulo Roberto da Silva
Esquemáticos
 Naiane Cristina Salvi
Ajustes e finalização
 Adriano Schmidt Reibnitz
Design instrucional, revisão de 
língua portuguesa e ABNT 
 Eduard Marquardt
Fonte para imagens e esquemáticos
 Fotolia
Créditos
 8 
 9 
Atenção à saúde das mulheres em 
situação de violência
Olá. Convidamos você a iniciar seus estudos!
Este módulo se propõe discutir a violência 
que permeia a vida das mulheres, focando na-
quela que está mais presente em suas vidas, 
a violência nas relações com seus parceiros 
íntimos, compreendida como uma violência de 
gênero. Esta diz respeito às relações de poder 
e à distinção entre as características atribu-
ídas a homens e mulheres na sociedade em 
que vivemos. 
Assim, no contexto da Atenção Básica, apre-
sentaremos aqui estratégias para a atenção 
às mulheres em situação de violência de gêne-
ro. Para tanto, destacamos que o Brasil cons-
truiu políticas públicas hoje vigentes para o 
enfrentamento à violência contra a mulher e a 
garantia do atendimento integral e humaniza-
do. Estas políticas reconhecem a violência de 
gênero, raça e etnia como violência estrutural 
e histórica que expressa a opressão das mu-
lheres, problema que precisa ser tratado como 
questão da segurança, justiça, educação, as-
sistência social e saúde pública.
Neste âmbito, o setor saúde tem papel funda-
mental. Entre as suas responsabilidades está 
a atenção integral às mulheres agredidas e 
a coleta de informações sobre a prevalência 
desta violência, os fatores de risco e as conse-
quências para a saúde das mulheres, a fim de 
promover e fundamentar as políticas públicas 
nesta área. O setor tem também o compro-
misso de atuar na prevenção da violência com 
a disseminação de informações e ações na 
área a partir do reconhecimento desta como 
um problema de saúde pública (OMS,2013).
É importante ressaltar o desafio posto para 
os profissionais nos serviços de saúde, de 
atenção às mulheres em situação de violên-
cia como um cuidado na assistência cotidia-
na, e, sobretudo, somar com outras atuações 
sociais em movimentos ético-políticos contra 
a violência e a favor de seu controle e preven-
ção.
Para isso, o setor da saúde tem papel funda-
mental na articulação, de acordo com as po-
líticas vigentes, dos serviços e organizações 
que, direta ou indiretamente, atendem situa-
ções de violências. 
Neste sentido, abordamos pontos que con-
sideramos importantes para intrumentalizar 
 10 
Atenção à saúde das mulheres em 
situação de violência
você nesta área. Na primeira unidade discu-
tiremos sobre a violência contra as mulheres, 
relembrando definições e contextualizando 
esta agressão com as prevalências e conse-
quências na saúde. A segunda unidade apon-
tará como você pode indentificar as mulheres 
em situação de violência; na terceira unidade, 
por fim, veremos as políticas públicas que de-
vem nortear a atuação nesta área, as estraté-
gias para atenção às mulheres em situação 
de violência e o fortalecimento do trabalho em 
rede.
 11 
Atenção à saúde das mulheres em 
situação de violência
Este módulo trata da atenção às mulheres 
em situação de violência, instrumentalizando 
para a identificação e o cuidado no contex-
to da Atenção Básica. Descreve o panorama 
desta violência, aponta suas consequências e, 
por fim, elenca estratégias para o seu enfren-
tamento e fortalecimento da rede de atenção.
Objetivo geral do módulo
Ao final deste módulo você deverá ser ca-
paz de reconhecer os tipos de violência, com 
ênfase na violência por parceiros íntimos, 
as consequências dessas violências con-
tra as mulheres e a partir das políticas pú-
blicas vigentes identificar estratégias para o 
seu enfrentamento.
Carga horária
30 horas.
 12 
 13 
Sumário
Unidade 1 – UN1
A violência contra as mulheres 15
1.1 Tipos de violência contra as mulheres 18
1.2 Contexto da violência contra as mulheres no Brasil 22
1.3 Consequências da violência na saúde das mulheres 23
Unidade 2 – UN2
Situações de violência e o papel do profissional na Atenção Básica 27
2.1 As mulheres em situação de violência: como compreender esta situação 29
2.2 Como reconhecer as mulheres que estão em situação de violência 33
Unidade 3 – UN3
Atenção às mulheres em situação de violência no âmbito da Atenção Básica 37
3.1 Estratégias de atenção às mulheres em situação de violência 43
3.2 Rede de atenção às mulheres em situação de violência 47
Resumo do módulo 53
Referências 55
Sobre as autoras 60
 14 
 15 
UN1
A violência contra as mulheres
 16 
 17  17 
UN1 A violência contra as 
mulheres
Atenção à saúde das mulheres em 
situação de violência
A violência contra a mulherfoi definida pela 
ONU como todo ato baseado no gênero, que 
cause morte, dano ou sofrimento físico, se-
xual ou psicológico à mulher, tanto na esfera 
pública quanto na privada (Convenção de Be-
lém do Pará – ONU). Esta violência faz parte 
de um complexo fenômeno que afeta todas 
as classes sociais, constituindo-se em uma 
das principais formas de violação aos direitos 
humanos, apesar das várias declarações, po-
líticas, diretrizes e compromissos assumidos 
por muitos países em relação à garantia des-
tes. Está profundamente arraigada à cultura 
na sociedade, nas estruturas institucionais e 
sociais, nas quais as relações de poder exis-
tentes entre os gêneros são historicamente 
desiguais. É importante considerar que a per-
petuação da violência contra a mulher está 
relacionada ao aprendizado dos papéis do 
homem e da mulher, e que estes são usados 
como justificativas para determinados com-
portamentos violentos. 
O termo violência por parceiros íntimos 
refere-se a todo e qualquer comporta-
mento de violência presente tanto na 
unidade doméstica como em qualquer 
relação íntima de afeto, independente 
 
mente de coabitação. Compreende as 
violências física, psicológica, sexual, 
moral, patrimonial e o comportamento 
controlador (BRASIL, 2006; KRUG et al., 
2002).
Figura 1 – A violência contra a mulher atinge todas as 
classes sociais
 18  18 
UN1 A violência contra as 
mulheres
Atenção à saúde das mulheres em 
situação de violência
No Brasil, as políticas públicas e as legisla-
ções reconhecem a violência contra a mu-
lher como uma violação grave de direitos que 
compromete a saúde e a qualidade de vida, 
assumindo este como um problema de saú-
de pública. Entre as legislações destacamos a 
Lei no 11.340/2006, conhecida como Lei Maria 
da Penha, a principal normativa brasileira para 
enfrentar a violência contra as mulheres, re-
conhecida pela Organização das Nações Uni-
das como uma das três melhores do mundo 
no enfrentamento à violência de gênero. Esta 
lei estabelece que toda mulher – independen-
temente de classe, raça, etnia, orientação se-
xual, renda, cultura, nível educacional, idade 
e religião – goza dos direitos fundamentais 
inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asse-
guradas as oportunidades e facilidades para 
viver sem violência, preservar sua saúde física 
e mental e seu aperfeiçoamento moral, inte-
lectual e social (BRASIL, 2006). 
Para que você compreenda melhor esta vio-
lência, traremos a seguir informações que 
consideramos importantes quanto aos tipos 
de violência, com a finalidade de potencializar 
a identificação e o cuidado às mulheres que 
vivenciam alguma destas agressões.
Figura 2 – A lei Maria da Penha estabelece direitos funda-
mentais às mulheres
1.1 Tipos de violência contra as 
 mulheres 
Entender quais tipos de violência as mulheres 
sofrem é o primeiro ponto que trazemos neste 
módulo. Nosso objetivo é que você amplie sua 
capacidade de reconhecer as mulheres que 
estão passando por este agravo na sua área 
de atuação e assim portencialize ações de en-
frentamento a este grave problema de saúde 
pública.
Inicialmente é preciso destacar que a principal 
violência sofrida pelas mulheres se dá no âm-
bito das relações com maridos, ex-maridos, 
namorados e ex-namorados, configurando-se 
como violência entre parceiros íntimos. Consi-
derado um fenômeno global, em nenhum país 
ou cultura as mulheres estão livres deste tipo de 
violência. Ocorre em todas as classes sociais e 
se fundamenta no sistema patriarcal e na domi-
nação sistêmica das mulheres pelos homens. 
Um estudo da OMS em 11 países evidenciou 
que entre 15% e 71% de mulheres, dependendo 
do país, sofreram violência física ou sexual por 
parte do marido ou parceiro e que entre 4% e 
54% a vivenciaram no último ano (OMS, 2002).
DIA INTERNACIONAL PARA ELIMINAÇÃO DA 
VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER
 19  19 
UN1 A violência contra as 
mulheres
Atenção à saúde das mulheres em 
situação de violência
É importante salientar ainda que dependendo 
da idade da mulher, pré-adolescentes ou ido-
sas, outros agressores aparecem, configuran-
do-se como violência intrafamiliar, entre eles 
os irmãos, pais e os filhos.
Violência intrafamiliar é toda ação ou 
omissão que prejudique o bem-estar, a 
integridade física e a psicológica, ou a 
liberdade e o direito ao pleno desenvol-
vimento de outro membro da família. 
Derivado dos estudos de família, esse 
Figura 3 – Prevalência da violência física, sexual ou ambas, pelo parceiro íntimo em mulheres entre 15 e 49 anos de idade*, 
países selecionados, OMS, 2002.
 
termo é entendido de maneira mais ampla 
que a doméstica e que a violência contra 
a mulher, por considerar crianças, irmãos, 
homens e idosos. Esse tipo de violência 
é cometido, dentro ou fora de casa, por 
algum membro da família, inclusive pes-
soas que passam a assumir função paren-
tal, ainda que sem laços de consanguini-
dade, e que apresentam relação de poder 
sobre a outra pessoa (BRASIL, 2001).
Quanto aos tipos de violência contra as mu-
lheres, a Lei Maria da Penha, em seu artigo 
no 7, classifica como em 5 tipos, acompanhe o 
esquemático.
1 Violência física
2 Violência psicológica
3 Violência sexual
4 Violência moral
5 Violência patrimonial
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Prevalência durante a vida
Últimos 12 meses
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o
*No Japão e na Nova Zelândia, o grupo etário era de 18 a 49 anos de idade.
Nota: Dados levantados em províncias ou cidades específicas, exceto Maldivas e Samoa.
Fonte: Organização Mundial da Saúde.
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30
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10
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 20  20 
UN1 A violência contra as 
mulheres
Atenção à saúde das mulheres em 
situação de violência
ÝÝ a violência física, entendida como qual-
quer conduta que ofenda sua integridade 
ou saúde corporal;
ÝÝ a violência psicológica, entendida como 
qualquer conduta que lhe cause dano 
emocional e diminuição da autoestima, 
prejudique e perturbe o pleno desenvolvi-
mento ou que vise degradar ou controlar 
suas ações, comportamentos, crenças e 
decisões, mediante ameaça, constrangi-
mento, humilhação, manipulação, isola-
mento, vigilância constante, perseguição 
contumaz, insulto, chantagem, ridicula-
rização, exploração e limitação do direito 
de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe 
cause prejuízo à saúde psicológica e à au-
todeterminação;
ÝÝ a violência sexual, entendida como qual-
quer conduta que a constranja a presen-
ciar, a manter ou a participar de relação se-
xual não desejada, mediante intimidação, 
ameaça, coação ou uso da força; que a in-
duza a comercializar ou a utilizar, de qual-
quer modo, a sua sexualidade, que a impe-
ça de usar qualquer método contraceptivo 
ou que a force ao matrimônio, à gravidez, 
ao aborto ou à prostituição, mediante coa-
ção, chantagem, suborno ou manipulação, 
ou que limite ou anule o exercício de seus 
direitos sexuais e reprodutivos;
ÝÝ a violência patrimonial, entendida como 
qualquer conduta que configure retenção, 
subtração, destruição parcial ou total de 
seus objetos, instrumentos de trabalho, 
documentos pessoais, bens, valores e di-
reitos ou recursos econômicos, incluindo 
os destinados a satisfazer suas necessi-
dades;
ÝÝ a violência moral, entendida como qual-
quer conduta que configure calúnia, difa-
mação ou injúria.
Destacamos que na violência física por par-
ceiro íntimo o grau de severidade do ato 
cometido pode ser de“violência física mo-
derada” até “violência física grave”. Alguns 
estudos consideram como violência física 
moderada ou não grave o ato de receber ou 
dar um “tapa”, sem adicionar os demais atos 
de violência física (DE MELO, 2010; BRUSCHI, 
2006). Outra classificação comumente utili-
zada para a violência física moderada, além 
de receber um “tapa”, abrange os atos de “ter 
algum objeto arremessado” e “ser empurra-
do ou chacoalhado”. A violência física grave 
é representada com atos como “chute, soco, 
espancamento, uso de arma”. Vale destacar 
que o risco de suicídio para mulheres que so-
freram violência física moderada é três vezes 
maior, e para as que sofreram violência física 
grave é oito vezes maior quando em compa-
ração com mulheres que não sofreram vio-
lência física (FANSLOW, 2004). 
Consideramos importante, ainda, ressaltar al-
gumas formas de agressões que são conside-
radas violência:
ÝÝ Humilhar, xingar e diminuir a autoestima: 
agressões como humilhação, desvaloriza-
ção moral ou deboche público em relação 
a mulher constam como tipos de violência 
emocional.
ÝÝ Fazer a mulher achar que está ficando lou-
ca: há inclusive um nome para isso: o gas-
lighting. Uma forma de abuso mental que 
consiste em distorcer os fatos e omitir si-
tuações para deixar a vítima em dúvida so-
bre a sua memória e sanidade.
ÝÝ Controlar e oprimir a mulher: aqui o que con-
ta é o comportamento obsessivo sobre a 
mulher, como querer controlar o que ela faz, 
não deixá-la sair, isolar sua família e amigos 
ou procurar mensagens no celular ou e-mail.
 21  21 
UN1 A violência contra as 
mulheres
Atenção à saúde das mulheres em 
situação de violência
ÝÝ Expor a vida íntima: falar sobre a vida do 
casal para outros é considerado uma for-
ma de violência moral, como, por exemplo, 
vazar fotos íntimas nas redes sociais como 
forma de vingança.
ÝÝ Forçar atos sexuais desconfortáveis: não é 
só forçar o sexo que consta como violência 
sexual. Obrigar a mulher a fazer atos se-
xuais que causam desconforto ou repulsa, 
como a realização de fetiches, também é 
violência.
ÝÝ Impedir a mulher de prevenir a gravidez 
ou obrigá-la a abortar: o ato de impedir 
uma mulher de usar métodos contra-
ceptivos, como a pílula do dia seguin-
te ou o anticoncepcional, é conside-
rado uma prática da violência sexual. 
Da mesma forma, obrigar uma mu-
lher a abortar também é outra forma de 
abuso.
ÝÝ Controlar o dinheiro ou reter documen-
tos: tentar controlar, guardar ou tirar 
o dinheiro de uma mulher contra a 
sua vontade, assim como guardar do-
cumentos pessoais da mulher, isso é 
considerado uma forma de violência 
patrimonial.
ÝÝ Quebrar objetos da mulher: outra forma de 
violência ao patrimônio da mulher é causar 
danos de propósito a objetos dela, ou obje-
tos que ela goste.
Lembramos que estas formas de violência não 
se produzem isoladamente, mas fazem parte 
de uma sequência crescente de episódios, 
em que o homicídio é a manifestação mais 
extrema.
A seguir, apresentaremos as prevalências 
destas violências contra as mulheres con-
forme informações disponíveis no Brasil. 
Nosso objetivo é mostrar o quanto este 
agravo à saúde ocorre e mobilizar você para 
identificar também no seu território mulhe-
res que estejam sofrendo esta violência. 
Assim, você, junto com as mulheres, sua 
equipe e a comunidade, poderão desenvol-
ver ações contra a recorrência.
Veja em detalhe (BRASIL, 2015):
Humilhar, xingar
e diminuir 
a autoestima
Formas de agressão consideradas violência
Tirar a 
liberdade 
de crença
Fazer a mulher 
achar que está 
ficando louca
Controlar e 
oprimir a 
mulher
Expor a 
vida íntima
Atirar objetos, 
sacudir e 
apertar os 
braços
Forçar atos 
sexuais 
desconfortáveis
Impedir a 
mulher de 
prevenir 
a gravidez ou 
obrigá-la a 
abortar
Controlar o 
dinheiro ou 
reter 
documentos
Quebrar objetos 
da mulher
 22  22 
UN1 A violência contra as 
mulheres
Atenção à saúde das mulheres em 
situação de violência
1.2 Contexto da violência contra as 
 mulheres no Brasil
O Brasil é o quinto país do mundo com 
maior índice de homicídios de mulheres, 
ficando atrás somente para El Salvador, 
Colômbia, Guatemala (três países latino-
-americanos) e a Federação Russa. Es-
sas mortes representam 13 homicídios 
femininos diários (MAPA DA VIOLÊNCIA, 
2015). 
Estima-se que 2,1 milhões de mulheres são 
espancadas por ano, 175 mil por mês, 5,8 mil 
por dia, 243 por hora, 4 por minuto e 1 cada 15 
segundos, sendo que 65% das mulheres são 
agredidas por seus companheiros (PESQUISA 
PERSEU ABRAMO, 2013). 
Com relação à violência sexual, foram regis-
trados 50.320 estupros em 2013, uma mé-
dia de quase seis a cada hora, um a cada 
10 minutos (ANUÁRIO DE SEGURANÇA PÚ-
BLICA, 2015). Ressalta-se que a violên-
cia sexual ocorre cerca de seis vezes mais 
entre as mulheres do que entre os homens 
(SHRAIBER, 2005). Apesar do alto número de 
casos registrados, é preciso destacar que a 
maioria das mulheres que sofrem violência 
sexual não registram denúncia na polícia, o 
que torna difícil estimar a prevalência deste 
crime.
No setor saúde os dados apontam que 527 
mil pessoas são estupradas por ano no Bra-
sil, segundo notificações do SINAN, em 2011. 
Esses registros mostram ainda que 89% das 
vítimas são do sexo feminino e que 70% dos 
estupros são cometidos por familiares, na-
morados ou amigos e conhecidos da vítima 
(IPEA, 2014).
Outros dados relevantes sobre a violência 
contra a mulher são oriundos da Central de 
Atendimento à Mulher em Situação de Vio-
lência – Ligue 180. Em mais de 80% dos 
casos de violência reportados a agressão 
foi cometida por homens com quem as ví-
timas tinham ou tiveram algum vínculo afe-
tivo; entre eles encontram-se atuais ou ex-
-companheiros, cônjuges e namorados. Em 
43% dos casos de violência registrados as 
agressões ocorriam diariamente e para 35% 
das mulheres a frequência dos episódios de 
violência era semanal, segundo dados de 
2014. 
Figura 4 – Central de Atendimento à Mulher em Situação 
de Violência – Ligue 180
Em 2015, este serviço realizou 749.024 aten-
dimentos –  uma média de 62.418 por mês 
e 2.052 por dia, número 54,4% maior do que 
o registrado em 2014 (485.105). Do total de 
atendimentos, 50,16% corresponderam à vio-
lência física; 30,3%, violência psicológica; 
7,2%, violência moral; 2,1%, violência patri-
monial; 4,5%, violência sexual; 5,1%, cárcere 
privado e 0,4%, tráfico. Importante destacar 
que o Ligue 180 é um serviço de utilidade 
pública, gratuito e confidencial (preserva o 
 23  23 
UN1 A violência contra as 
mulheres
Atenção à saúde das mulheres em 
situação de violência
anonimato), oferecido pela Secretaria de Po-
líticas para as Mulheres da Presidência da 
República, desde 2005.
A taxa de homicídio de mulheres no Brasil 
teve um acréscimo de 8,8% na década de 
2003 a 2013. Em 2003 foi de 4,4 homicídios 
por 100 mil mulheres, já em 2013 esse núme-
ro passou para 4,8 por 100 mil mulheres. Em 
2015 ocorreram 4.621 mortes de mulheres 
no Brasil, o que corresponde a uma taxa de 
4,5 mortes para cada 100 mil mulheres. Ainda 
que a taxa de homicídios de mulheres tenha 
melhorado gradualmente nos anos mais re-
centes, tendo este indicador diminuído 2,8% 
entre 2010 e 2015, para as mulheres negras 
não houve redução, ao contrário, a mortali-
dade destas sofreu aumento de 22% no mes-
mo período. Com isso, cresceu a proporção 
de mulheres negras entre o total de mulheres 
vítimas de morte por agressão, passando de 
54,8% em 2005 para 65,3% em 2015 (MAPA 
DA VIOLÊNCIA, 2015; IPEA, 2017).
As taxas de homicídios de mulheres são maio-
res em alguns estados do país, destacando--se Rondônia, Mato Grosso, Goiás e Roraima. 
Acompanhe na figura 5. Já com relação a taxa 
de crescimento, destacam-se os estados do 
Piauí, Amazonas e Roraima.
Todos esses dados demonstram que a violên-
cia contra as mulheres está presente em nos-
sa sociedade. E esta violência acarreta graves 
consequências para a saúde das mulheres. 
Vamos conhecer quais são?
1.3 Consequências da violência na 
 saúde das mulheres 
Cada tipo de violência gera prejuízos nas esfe-
ras do desenvolvimento físico, cognitivo, social, 
moral, emocional ou afetivo. As manifestações 
físicas da violência podem ser agudas, como 
inflamações, contusões, hematomas, ou crôni-
cas, deixando sequelas para toda a vida, como as 
limitações no movimento motor, traumatismos, 
a instalação de deficiências físicas, entre outras. 
Os sintomas psicológicos frequentemente en-
contrados em vítimas de violência são: insônia, 
pesadelos, falta de concentração, irritabilidade, 
falta de apetite, e até o aparecimento de sérios 
problemas mentais como a depressão, ansie-
dade, síndrome do pânico, estresse pós-trau-
mático, além de comportamentos autodestru-
tivos, como o uso de álcool e drogas, ou mesmo 
15
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6
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Figura 5 – Ordenamento da UFs, segundo taxas de homicídio de mulheres (por 100 mil). Brasil (2015).
Fonte: Mapa da violência 2015. Homicídio de mulheres no Brasil.
 24  24 
UN1 A violência contra as 
mulheres
Atenção à saúde das mulheres em 
situação de violência
comportamentos autodestrutivos, como o uso de 
álcool e drogas, ou mesmo tentativas de suicídio 
problemas mentais como a depressão, ansiedade, 
síndrome do pânico, estresse pós-traumático
insônia, pesadelos, falta de concentração, 
irritabilidade, falta de apetite
crônicas, deixando sequelas para toda a 
vida, como as limitações no movimento motor, traumatismos, 
instalação de deficiências físicas etc. 
agudas, como inflamações, 
contusões, hematomas
Sintomas
psicológicos
Manifestações 
físicas
Violência
 25  25 
UN1 A violência contra as 
mulheres
Atenção à saúde das mulheres em 
situação de violência
tentativas de suicídio (KASHANI; ALLAN, 1998). 
Acompanhe no esquema da página 24 estas 
manifestações físicas e psicológicas.
A violência pode levar diretamente a traumatis-
mos sérios, incapacidades e óbitos, e indireta-
mente a uma variedade de problemas de saú-
de, como mudanças fisiológicas induzidas pelo 
estresse, uso de substâncias ou falta de con-
trole sobre a fertilidade e autonomia pessoal, 
como observado frequentemente em relacio-
namentos abusivos. As mulheres que sofreram 
violência têm altas taxas de gravidez não dese-
jada, de abortos, desfechos neonatais e infantis 
adversos, infecções sexualmente transmissí-
veis, incluindo o HIV (CAMPBELL, 2002). 
Mulheres que sofreram violência física ou 
sexual, por exemplo, têm mais problemas de 
saúde do que as que não sofreram – em re-
lação ao funcionamento físico, ao bem-estar 
psicológico e à adoção de futuros compor-
tamentos de risco, inclusive fumar, inativida-
de física e abuso de álcool e drogas. Essas 
substâncias foram consideradas por muitas 
pesquisas como um dos principais motivos 
para o desencadeamento da violência física 
entre os parceiros (MCCAULEY et al., 1995; 
KRUG, 2002). Alguns estudiosos conside-
ram que pessoas em situação de violência 
fazem o uso dessas substâncias como me-
canismos de fuga.
Além disso, a violência compromete a saú-
de mental, ao interferir na crença que a 
mulher possui sobre sua competência, 
isto é, sobre a habilidade de utilizar ade-
quadamente seus recursos para o cumpri-
mento das tarefas relevantes em sua vida. 
A mulher pode apresentar distúrbios na ha-
bilidade de se comunicar com os outros, 
de reconhecer e comprometer-se, de for-
ma realista, com os desafios encontrados, 
além de desenvolver sentimento de inse-
gurança concernente às decisões a serem 
tomadas.
Impactos da violência
Um em cada cinco dias de falta ao trabalho no mundo é causado pela violência sofrida 
pelas mulheres dentro de suas casas.
A cada 5 anos, a mulher que sofre violência perde 1 ano de vida saudável. 
As mulheres com idade entre 15 e 44 anos perdem mais anos de vida saudável (“disa-
bility-adjusted life year” ou DALY) em função do estupro e da violência do que em ra-
zão de câncer de mama, câncer de colo de útero, problemas relacionados ao parto, doen-
ças coronárias, AIDS, doenças respiratórias, acidentes de automóveis ou a guerra (World 
Development Report of the World Bank, 1993). 

O estupro e a violência são causas importantes de incapacidade e morte de mulheres em 
idade produtiva.
Mulheres vítimas da violência podem sofrer com isolamento social, incapacidade para tra-
balhar, ficar sem remuneração ou com menor remuneração, incapacidade para a partici-
pação em atividades na comunidade e terem sua capacidade de cuidar de si mesmas e de 
seus filhos diminuída. 

 26  26 
UN1 A violência contra as 
mulheres
Atenção à saúde das mulheres em 
situação de violência
A violência provoca impactos econômicos 
e sociais, segundo dados do Banco Mundial 
(BM) e do Banco Interamericano de Desen-
volvimento (BIRD), em 2012.
Figura 6 – A violência tem efeitos diretos e 
indiretos
Uma intervenção resolutiva a essa problemá-
tica não pode prescindir de uma conduta clí-
nica. No entanto, não é o suficiente; a atenção 
precisa ir além, buscando medidas que pro-
movam a conservação da saúde e a recupe-
ração da qualidade de vida. Isso porque ações 
clínicas não são suficientes para responder às 
variadas dimensões dos problemas e às ne-
cessidades em saúde das mulheres. Por isso 
o entendimento de como esta violência é vi-
venciada pelas mulheres é importante para 
que você possa reconhecer as necessidades 
e implementar um plano de cuidados em con-
junto com a mulher e a rede de apoio. 
Este é um assunto para a próxima unidade, 
vamos lá?
 27 
UN2
Situações de violência e o papel do 
profissional na Atenção Básica
 28 
 29  29 
Atenção à saúde das mulheres em 
situação de violência
Situações de violência e 
o papel do profissional na 
Atenção Básica
UN2
Esta unidade contextualiza o processo vi-
venciado pelas mulheres nas situações de 
violência, com o objetivo de instrumentalizar 
você para a compreensão deste processo. Na 
sequência, destacamos como reconhecer es-
tas situações e apresentamos considerações 
com relação ao seu papel como profissional 
da Atenção Básica no enfrentamento da vio-
lência relacionando com as políticas públicas 
vigentes. 
Quando nos referimos a enfrentamento 
da violência, entenda-se ações de pro-
moção da não violência e de proteção 
e atenção às pessoas em situação de 
violência.
2.1 As mulheres em situação de 
 violência: como compreender 
 esta situação 
É importante que você reconheça a dinâmica 
das situações de violência para uma avalia-
ção da melhor forma e momento para intervir, 
possibilitando assim uma abordagem mais 
adequada. É importante compreender essa 
dinâmica para poder ajudar a entender as ati-
tudes, por vezes incompreensíveis, como as 
que ocorrem com mulheres que denunciam 
as violências e depois retrocedem e retornam 
aos parceiros agressores.A violência por parceiro íntimo costuma acon-
tecer com tempo e intensidade diferenciada 
nas diferentes relações. A psicóloga Lenore 
Walker (1979) descreveu o ciclo da violência, 
apontando três fases nos relacionamentos 
violentos que iniciam pelo aumento da tensão: 
 30  30 
Atenção à saúde das mulheres em 
situação de violência
Situações de violência e 
o papel do profissional na 
Atenção Básica
UN2
Vejamos em detalhe o que caracteriza cada 
uma destas fases:
ÝÝ fase 1, onde ocorrem de forma frequente 
pequenos incidentes, que a mulher atribui a 
fatores externos e acredita ter controle so-
bre o comportamento do agressor;
ÝÝ fase 2, onde ocorrem incidentes violentos 
de forma mais grave e agudos. É quando 
ocorre a descarga da tensão acumulada 
na fase 1. A mulher nesta fase pode ter de-
pressão, ansiedade e queixas psicossomá-
ticas. Seus sentimentos são de terror, raiva, 
ansiedade, sensação de que é inútil tentar 
escapar desta situação;
ÝÝ fase 3, de apaziguamento e esperança de 
mudança. O agressor tenta fazer as pazes. 
A mulher agredida tenta acreditar que não 
sofrerá mais violência. É o período de calma 
onde os parceiros tornam-se dependentes 
um do outro.
Outros autores dividem o ciclo da violên-
cia em um número maior de fases, iniciando 
com um período de aumento de tensão (em 
que a ira do agressor começa a aumentar); 
uma fase de tensão (em que ele está pres-
tes a explodir); um momento de explosão (em 
que ocorre violência física, psicológica ou 
patrimonial, geralmente de forma grave); o 
remorso (o agressor pode sentir remorso ou 
medo de que os outros saibam); as promes-
sas (o agressor mostra-se arrependido, pede 
perdão e faz promessas à mulher maltrata-
da) e finaliza com a chamada lua de mel (o 
agressor comporta-se de modo carinhoso e 
romântico e a mulher acredita que ele vai mu-
dar) (MENEGUEL, 2015).
Aumento de tensão
Tensão
Explosão
Promessas
Lua de mel
Divisão do ciclo de violência
Esse ciclo na realidade é uma espiral ascen-
dente, cujas etapas vão se tornando mais 
cruéis e ocorrem em um espaço de tempo 
cada vez menor. Este modelo de comporta-
mento não representa uma exceção ou um 
comprometimento psicológico dos agresso-
res, mas constitui o modus operandi dos ho-
mens sob o regime do patriarcado, ou o meio 
de manter as mulheres sob controle e em po-
sições de subordinação, usando a cumplici-
dade delas próprias para ficarem submissas, 
se sentirem culpadas, envergonhadas porque 
a relação não está dando certo e, portanto, 
merecedoras de punição (AZEVEDO, 1985; 
BIGLIA, 2007; MENEGUEL, 2015).
Uma crítica ao modelo do “ciclo da violên-
cia” baseia-se na compreensão da violência 
de gênero contra a mulher como um conti-
nuum, em que os eventos vão se tornando 
cada vez mais frequentes e graves. A ideia 
do continuum desloca a explicação basea-
da nos comportamentos individuais do casal 
subjacente ao ciclo para focar a determina-
ção social e patriarcal da violência contra a 
mulher. Além do mais, como afirma Mont-
serrat Sagot (2000), muitas mulheres per-
manecem nas relações, não por estarem ilu-
 31  31 
Atenção à saúde das mulheres em 
situação de violência
Situações de violência e 
o papel do profissional na 
Atenção Básica
UN2
didas quanto à melhora do comportamento 
abusivo dos maridos e companheiros, mas 
por perceberem que, em certas situações, é 
mais perigoso sair do que ficar (MENEGUEL, 
2015).
Outro modelo explicativo para o processo 
vivido pelas mulheres em situação de vio-
lência por parceiro íntimo é proposto por 
Leitão (2014), que observa que a mulher 
nesta situação passa por um processo de 
quatro fases de transição sequenciais, mas 
não estanques, nem lineares ou exclusivas: 
entrada, manutenção, decisão de saída e 
(re)equilíbrio. 
Transição é um processo de passagem 
durante o qual as mulheres redefinem 
o sentido do eu e passam a desenvolver 
uma nova ação individual em respos-
ta a eventos de vida de rompimento. 
A transição requer da mulher capaci-
dades para incorporar novos  conheci-
mentos, para alterar comportamentos 
e até para  mudar a definição do seu 
self no contexto social (MELEIS, 2007; 
VAN LOON; KRALIK, 2005 apud LEITÃO, 
2014).
Vejamos o que cada fase apresenta: 
ÝÝ Entrada: o sonho vivido no processo de 
enamoramento e a desilusão em que fica-
ram aprisionadas. 
ÝÝ Manutenção: o vazio e o abandono vividos 
no processo de auto-silenciamento e de 
consentimento que as fez permanecerem 
na relação.
ÝÝ Decisão de saída: o desejo de  libertação 
que as fez enfrentar o problema e lutar 
pelo autorresgate.
ÝÝ (Re)equilíbrio: o (re)encontro consigo mes-
mas resultante de um processo muito di-
fícil de reconstrução de uma nova vida em 
liberdade. Este processo é atravessado por 
querer (e poder) autodeterminar-se e sus-
tentar-se em três pilares: querer ser livre; 
encontrar um sentido para a vida; (re)cons-
truir a sua identidade.
Este processo é dividido em dois períodos 
distintos: o primeiro integra as fases de en-
trada e manutenção da violência por parceiro 
íntimo e o segundo inicia-se com a decisão 
de saída da relação e termina com o (re)equi-
líbrio alcançado com a reconstrução da sua 
identidade. Assume-se como marco de rom-
pimento a tomada de decisão de abandonar 
a relação. 
Entrada
Fases de transição da situação de violência
Manutenção
Decisão de saída
(Re)equilíbrio
1
2
4
3
 32  32 
Atenção à saúde das mulheres em 
situação de violência
Situações de violência e 
o papel do profissional na 
Atenção Básica
UN2
Este é um movimento oscilatório, complexo, 
muitas vezes com (aparentes) estagnações ou 
desvios – e, por vezes,  com regressões. Tudo 
isso para poder ser uma mulher com direito 
à sua autodeterminação – vivendo (ou não) 
uma relação de intimidade – e poder usufruir 
daquilo a que tinha direito como pessoa e que 
lhe foi roubado durante anos: poder viver em 
liberdade, assumindo a condução da sua vida 
(LEITÃO, 2014).
Conversar sobre como se dá a violência na 
vida do casal também pode ajudar a desman-
char ilusões sobre o mito do amor romântico, 
além de entender o processo de ideologização 
que faz as mulheres aceitarem relações abu-
sivas, dificultando o processo de romper com 
a violência. 
Nas relações as mulheres sofrem diferentes 
tipos de violência. Esta pode ser do tipo se-
xual, física ou psicológica, apresentando-se, 
na grande maioria das vezes, de modo com-
binado, com os tipos se superpondo entre si 
(SCHRAIBER et al., 2009). 
Destaca-se neste processo algumas condi-
ções e crenças existentes na sociedade que 
inviabilizam a saída das mulheres de uma re-
lação violenta, entre elas:
Baixa da autoestima
Situações que inviabilizam a saída das 
mulheres de uma relação violenta
Crença de que a violência é temporária, 
que seus parceiros possam mudar
Dúvidas se podem viver sozinhas
Dificuldades econômicas
Crença de que o divórcio é como um 
estigma
O fato de que é difícil para uma mulher 
com filhos encontrar trabalho
Vergonha de ser vista como uma 
mulher espancada
Pena do marido
Ou pelo fato de amarem os seus 
companheiros
Importante! Você, como profissional 
da saúde, tem um papel importante na 
identificação de mulheres que estão 
em situação de violência e na cons-
trução conjunta de estratégias para o 
enfrentamento desta situação. 
Estas reflexões são importantes para que 
você se prepare para ampliar o acolhimento 
às mulheres em situação de violência. Para 
auxiliar nesta reflexão trazemos alguns da-
dos da pesquisa realizada no país, em 2013, 
pelo Data Popular e Instituto Avon, sobre 
as percepções dos homens com relação 
à violência contra mulher. Acompanhe no 
quadroda próxima págima.
Vamos falar um pouco sobre isso? 
 33  33 
Atenção à saúde das mulheres em 
situação de violência
Situações de violência e 
o papel do profissional na 
Atenção Básica
UN2
2.2 Como reconhecer as mulheres 
 que estão em situação de 
 violência 
Como profissional da saúde na Atenção Básica, 
você é um potencial identificador de casos de 
violência e possui um relevante papel na aten-
ção, redução de danos e no acionamento da rede 
intersetorial, tendo em vista as graves repercus-
sões na saúde física e mental das mulheres.
Reconhecer as violências nos contextos in-
trafamiliares e entre parceiros íntimos e saber 
como agir nestas situações é de fundamental 
importância, considerando a alta prevalência 
deste tipo de agravo à saúde das mulheres. 
Você pode realizar intervenções que ajudem 
as  mulheres em situação de violência a en-
contrar novos modos de viver e de ser, no sen-
tido de reformular a sua autoidentidade e de 
reconstruir os seus projetos de vida sem vio-
lência (LEITÃO, 2014).
Sabe-se que mulheres que vivem ou viveram 
em situação de violência têm mais queixas, 
distúrbios e patologias, físicas e mentais, e 
utilizam os serviços de saúde com maior fre-
quência do que aquelas sem esta experiência 
(SCHRAIBER et al., 2010). Por isso, você pre-
cisa estar atento às mulheres que procuram 
a Unidade Básica de Saúde, relatando sofri-
mentos pouco específicos, doenças crônicas, 
agravos à saúde reprodutiva e sexual ou trans-
tornos mentais. Estas condições e situações 
ocorrem em maior frequência nas mulheres 
que estão vivenciando situação de violência 
(D’OLIVEIRA; SCHRAIBER, 2014).
As mulheres também podem procurar o ser-
viço de saúde por problemas decorrentes di-
retamente da violência física ou sexual como 
traumas, fraturas, tentativas de suicídio, abor-
tamentos, entre outros. Você precisa atentar 
também para as mulheres que não buscam as 
ações de cuidado com a sua saúde, como a 
coleta de exame cérvico uterino, ou têm difi-
culdade no uso de métodos de planejamento 
reprodutivo. 
Nem sempre a mulher consegue reconhecer a 
situação que está vivendo como uma violência. 
Assim, uma estratégia que pode ser adotada é 
o rastreio para violência como parte integrante 
dos atendimentos na Atenção Básica. 
Percepções dos homens com 
relação à violência contra a mulher
Os homens entrevistados admitem 
com relação às mulheres que: já xin-
gou, empurrou, agrediu com pala-
vras, deu tapa, deu soco, impediu de 
sair de casa, obrigou a fazer sexo.
56%
A maioria considera inaceitáveis cer-
tas condutas por parte da mulher: 
85% condenam que ela fique bêbada; 
69% que saia com amigos/as, sem o 
marido; 46%, que ela use roupa que 
consideram “inadequada”.
85%
Os homens acham que, por causa da 
Lei Maria da Penha, as mulheres os 
desrespeitam mais.
37%
Os homens consideram inaceitável 
que a mulher não mantenha a casa 
em ordem.
89%
A mulher é a principal responsável 
pelo sucesso do casamento. 3%
 34  34 
Atenção à saúde das mulheres em 
situação de violência
Situações de violência e 
o papel do profissional na 
Atenção Básica
UN2
Figura 7 – Reconhecer as violências nos contextos intra-
familiares e entre parceiros íntimos é fundamental
Alguns sinais durante os atendimentos po-
dem servir de alerta na identificação de pos-
síveis situações de violências vivenciadas 
por mulheres (BRASIL, 2016). Veja o quadro 
ao lado.
Importante! Não tenha medo de per-
guntar. Contrariamente à crença popu-
lar, a maioria das mulheres nesta situa-
ção está disposta a revelar a violência 
quando se pergunta de forma direta e 
 
sem fazer juízos de valor. Na realida-
de, muitas mulheres encontram-se 
silenciosamente à espera que alguém 
as questione a respeito do assunto. 
Deve-se introduzir o tema da violên-
cia de forma cuidadosa, mas direta, 
expressando que não existe desculpa 
ou justificativa para a violência e que a 
pessoa tem o direito a viver sem medo 
e livre deste mal. 
Também é importante que você tenha aten-
ção porque a revelação da situação da 
violência poderá representar risco para a 
mulher, caso o(a) agressor(a) tenha conhe-
cimento desta. Garanta a confidencialida-
de, exceto nas situações previstas de pe-
rigo eminente ou elevado (DGS; ASGVCV, 
2014).
Destacamos, na página seguinte, exemplos 
de perguntas que podem ser realizadas em 
caso de suspeita de situação de violência 
(DGS; ASGVCV, 2014).
Sinais de alerta em situações de violência
ÝÝ queixas vagas, inexplicáveis ou recorrentes
ÝÝ distúrbios gastrointestinais
ÝÝ sofrimento psíquico
ÝÝ queixa de dores pélvicas e abdominais crônicas
ÝÝ Infecções Sexualmente Transmissíveis
ÝÝ prurido ou sangramento vaginal
ÝÝ evacuação dolorosa ou dor ao urinar
ÝÝ problemas sexuais e perda de prazer na relação
ÝÝ vaginismo (espasmos musculares nas paredes 
vaginais, durante relação sexual)
ÝÝ presença de doenças pélvicas inflamatórias
ÝÝ síndrome da imunodeficiência humana adquirida 
(AIDS)
ÝÝ gravidez indesejada ou em menores de 14 anos
ÝÝ entrada tardia no pré-natal
ÝÝ parceiro(a) demasiadamente atento(a), controla-
dor(a) e que reage se for separado da mulher
ÝÝ infecção urinária de repetição (sem causa secun-
dária encontrada)
ÝÝ síndrome do intestino irritável
ÝÝ complicações em gestações anteriores, aborto de 
repetição
ÝÝ transtorno do estresse pós-traumático
ÝÝ história de tentativa de suicídio ou ideação 
suicida
ÝÝ lesões físicas que não se explicam como acidentes
 35  35 
Atenção à saúde das mulheres em 
situação de violência
Situações de violência e 
o papel do profissional na 
Atenção Básica
UN2
Estive avaliando a sua história e encontrei algumas coisas que gostaria de 
conversar contigo. Vejo que … (relatar os fatos).
Perguntas com base em antecedentes e características pessoais:
 Perguntas realizadas na suspeita de violência
A que você atribui o seu mal-estar ou problema de saúde? 
Observo que está um pouco nervosa. O que a preocupa?
Está vivendo alguma situação problemática que a faz sentir-se assim?
Pode falar sobre isto? Pensa estar relacionado?
Muitas pessoas têm problemas como os seus, tais como… (relatar os mais 
significativos), habitualmente a causa é estarem vivendo algum tipo de mau 
trato por parte de alguém. É este o seu caso?
Em caso de suspeita por antecedentes como dispareunia, dor pélvica, disfunção 
sexual… questionar acerca das relações afetivas e sexuais, se são satisfatórias 
ou não.
Esta lesão habitualmente ocorre quando se recebe um empurrão, golpe, 
corte… foi isso que aconteceu?
O/a seu/sua companheiro/a ou alguma outra pessoa é violenta com 
você? Como? Desde quando?
Alguma vez a agrediram mais gravemente? (espancamentos, utilização 
de armas, agressões sexuais)
?
?
Gostaria de saber a sua opinião sobre esses sintomas que relatou (ansiedade, 
nervosismo, tristeza, apatia) … Desde quando é que se sente assim? A que acha 
que se devem? Relaciona-os com alguma situação?"
Perguntas com base em sintomas psicológicos:
Aconteceu ultimamente alguma situação na sua vida que a possa deixar 
preocupada? Tem algum problema com o/a seu/sua companheiro/a ou 
alguém da família?
Parece que se encontra assustada? O que teme?
?
?
?
?
Na unidade a seguir, abordaremos a atenção 
às mulheres em situação de violência no âm-
bito da Atenção Básica.
 36 
 37 
UN3
Atenção às mulheres em situação 
de violência no âmbito da 
Atenção Básica
 38 
 39  39 
Atenção à saúde das mulheres em 
situação de violência
 39 
UN3 Atenção às mulheres em 
situação de violência no 
âmbito da Atenção Básica
As mulheresem situação de violência têm di-
reito à atenção nos serviços de saúde. Esta é 
uma ação ético-política que compõe o conjun-
to de ações de enfrentamento à violência, jun-
tamente com a prevenção de situações desta 
natureza e a responsabilização do agressor. 
A prática profissional deve funcionar como 
instrumento de proteção e promoção dos di-
reitos humanos das mulheres. 
E quando indentificar as mulheres em situa-
ção de violência, qual o papel do serviço de 
saúde definido nas políticas públicas?
Neste sentido, a Atenção Básica, como uma 
das principais portas de entrada no sistema 
de saúde, e principalmente a Estratégia Saúde 
da Família, que trabalha com territorialização, 
têm papel importante no acolhimento das mu-
lheres e na coordenação do atendimento em 
rede de atenção inter e intrasetorial.
Estas ações vêm ao encontro da Política Na-
cional de Atenção Básica, da Política Nacio-
nal de Atenção Integral à Saúde da Mulher e 
da Política Nacional de Redução da Morbi-
mortalidade por Acidentes e Violências. Esta 
última política continua sendo o instrumento 
orientador da atuação do setor saúde nas 
ações relacionadas aos acidentes e violên-
cias, e possui diretrizes que estão no âmbito 
do território e da Atenção Básica: 
Figura 8 – As mulheres em situação de violência têm di-
reito à atenção nos serviços de saúde
Se você ainda não teve acesso a esta 
política, conheça-a agora, acessando: 
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publi-
cacoes/acidentes.pdf>.
Ampliando as ações propostas para atenção 
às pessoas em situação de violência, em 2004 
o Ministério da Saúde publicou a Portaria GM/
MS no 936/2004, iniciando a estruturação da 
Rede Nacional de Prevenção da Violência e 
 40  40 
Atenção à saúde das mulheres em 
situação de violência
 40 
UN3 Atenção às mulheres em 
situação de violência no 
âmbito da Atenção Básica
Promoção da Saúde com a implantação de nú-
cleos. O objetivo desses Núcleos de Prevenção 
à Violência e Promoção da Saúde é discutir a 
temática e fortalecer as ações de intervenção 
locais, bem como melhorar a qualidade da in-
formação dos acidentes de violência. Em se-
guida, estabelece um marco importante para 
dar visibilidade às violências contra as mulhe-
res a partir dos serviços de saúde, a notificação 
compulsória de violência contra a mulher, con-
forme disposto na Portaria GM/2.406/2004.
A notificação de violências foi ampliada em 
2009, quando passou a ser compulsória a 
notificação de violência doméstica, sexu-
al e/ou outras violências, devendo ser rea-
lizada de forma contínua nas situações de 
suspeita ou confirmação de violências en-
volvendo crianças, adolescentes, mulheres 
e idosos. Essa notificação deve ser reali-
zada por você, profissional da saúde, me-
diante o preenchimento de uma ficha de 
notificação específica inserida no Sistema 
de Informações de Agravo de Notificação 
(SINAN). Esta é uma ação que dá visibilida-
de às mulheres em situação de violências, 
potencializando a construção de políticas 
públicas.
Importante! Está previsto nas Portarias 
no 485 e 618/2014 que você e sua equi-
pe acolham as pessoas em situação de 
violência sexual com referenciamento 
para os serviços com maior comple-
xidade no atendimento quando neces-
sário, em especial quando a violência 
ocorreu em até 72 horas, a fim de que 
sejam administradas as medicações 
para redução dos danos deste agra-
vo, dentre eles as infecções sexual-
mente transmissíveis (HIV e Hepatite 
B, por exemplo) e também a gravidez 
indesejada.
Outro ponto importante a ser ressaltado na 
atenção às mulheres em situação de violên-
cia, é que você não está sozinho. As políticas 
públicas preveem a articulação intersetorial 
para o atendimento e o enfrentamento deste 
agravo. O enfrentamento da violência só será 
possível com a articulação intersetorial que 
envolve, entre outros, os setores da saúde, 
educação, justiça, segurança pública, assis-
tência social. O envolvimento da comunidade 
com a promoção de ambientes sem violência 
é outro ponto de destaque.
No contexto das políticas públicas de en-
frentamento à violência, destacamos que 
Diretrizes da Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por 
Acidentes e Violências
Promoção da adoção de 
comportamentos e de ambientes 
seguros e saudáveis
Estruturação e consolidação
do atendimento voltado à 
recuperação e à reabilitação
Monitorização da ocorrência
 de acidentes e de violências
04
01
02
 Assistência interdisciplinar
 e intersetorial às vitimas de
 acidentes e de violências03
 41  41 
Atenção à saúde das mulheres em 
situação de violência
 41 
UN3 Atenção às mulheres em 
situação de violência no 
âmbito da Atenção Básica
esta não pode ser tratada como um ato iso-
lado. É importante lembrar o fato de que ela 
se cronifica, sendo difícil enfrentá-la sem 
uma rede de apoio. E esta rede de apoio pre-
cisa ser instituída com políticas públicas in-
tersetoriais. Trata-se de trabalhar na direção 
de atenuar os impactos da violência na vida 
das mulheres e de suas famílias, reduzindo 
e até cessando os comportamentos violen-
tos, oportunizando novos posicionamentos 
frente a situações disparadoras de atos de 
violência. Este é o norte das ações de en-
frentamento à violência. 
Lembre-se que as mulheres sentem dificul-
dade de procurar o serviço de saúde quando 
estão sofrendo violência. Estudo realizado 
no interior de São Paulo (MELO, 2010) mos-
trou que as mulheres que necessitavam de 
cuidados de saúde, mas que não os rece-
beram, alegaram algumas circunstâncias 
para não o fazer, como vergonha de expor o 
problema, medo de represália por parte do 
companheiro, medo de comprometer o com-
panheiro. Geralmente, a procura por ajuda 
ocorre em múltiplas fontes, porém as mais 
frequentes são pessoas da própria família 
ou da família do companheiro e amigos. En-
tre as instituições, a polícia/delegacia foi a 
mais procurada, seguida das organizações 
de proteção à mulher/abrigos (BRUSCHI, 
2006).
Figura 9 – A violência não pode ser tratado com ato isola-
do. É preciso articulação entre as redes de apoio
Assim, a equipe de saúde precisa estar atenta 
e através da escuta e observação, reconhecer 
como a mulher em situação de violência se 
sente frente à situação, permitindo que ela ex-
presse estes sentimentos, oferecendo o apoio 
necessário e possível para que esta se sinta 
segura. Para que as mulheres reconheçam a 
Unidade Básica de Saúde como um ponto de 
atenção na rede de atendimento à situação 
de violência é importante que os profissio-
nais que nela atuam tenham uma cultura de 
respeito, propiciando tempo e condições para 
realizar uma escuta com qualidade e estabe-
lecer um diálogo com as mulheres. 
Importante! Muitas vezes é difícil para a 
mulher falar sobre as violências viven-
ciadas no seu cotidiano. Caso a mulher 
não queira falar sobre o assunto, é im-
portante que você expresse sua dispo-
nibilidade em ouvi-la quando ela sentir 
necessidade.
As mulheres que estão em situação de vio-
lência buscam diversas formas de apoio e 
meios de transformar a situação. Já foi iden-
tificado que a falta de apoio, o sentimento 
de vergonha e o desprestígio em relação ao 
cumprimento de papel esperado pela mulher, 
esposa e mãe bloqueiam internamente a de-
cisão da denúncia. Por outro lado, a qualidade 
do cuidado recebido em instituições é muito 
importante: o encorajamento, a informação 
precisa e o não julgamento contribuem para 
 42  42 
Atenção à saúde das mulheres em 
situação de violência
 42 
UN3 Atenção às mulheres em 
situação de violência no 
âmbito da Atenção Básica
a continuidade da rota de saída da situação 
de violência. O descaso,a burocracia e a difi-
culdade de acesso são grandes inibidores de 
denúncias por parte das mulheres (SAGOT, 
2000). 
Figura 10 – Caso a mulher não queira falar sobre o assun-
to, é importante que você expresse sua disponibilidade em 
ouvi-la quando ela sentir necessidade
É preciso mostrar que você está aberto e pre-
ocupado com a atenção às mulheres em si-
tuação de violência, preparando a UBS para 
que possa ajudar a informar as mulheres 
desta disposição, colocando cartazes, ban-
ners, divulgando pelos meios de comunica-
ção e através das visitas de agentes comu-
nitários de saúde. A informação que precisa 
estar visível para a comunidade é de que a 
UBS entende que violência é um problema 
de saúde e que dispõe de informações im-
portantes para quem está vivenciando esta 
situação. 
Outra estratégia para que a temática da vio-
lência possa emergir a partir das mulheres da 
comunidade é criar espaços, grupos de aten-
ção a dimensões psicossociais. Quando o 
tema surgir, poderá ser trabalhado a partir das 
expectativas e conhecimentos das mulheres. 
Destaca-se que seu papel é oferecer as in-
formações e os recursos existentes para o 
atendimento, valorizando o relato da mulher, 
respeitando a sua privacidade, a confidencia-
lidade, e principalmente o seu tempo.
Importante! Lembre-se: situações de 
violência que para muitas pessoas se-
riam inimagináveis, para outras sim-
plesmente fazem parte do cotidiano. 
Neste contexto, o atendimento com acolhi-
mento humanizado é uma diretriz e uma pos-
tura ética dos profissionais de saúde. Não 
pressupõe local nem hora certa para aconte-
cer, nem um profissional específico para fazê-
-lo: faz parte de todos os encontros no serviço 
de saúde (BRASIL, PNH, 2004). 
Humanizar é ofertar atendimento de qualida-
de, articulando os avanços tecnológicos com 
acolhimento, com melhoria dos ambientes de 
cuidado e das condições de trabalho dos pro-
fissionais. 
Figura 11 – Humanizar é ofertar atendimento de qualidade
Nesse sentido, há pontos que merecem aten-
ção redobrada pelos profissionais da saúde 
na atenção às mulheres em situação de vio-
lência. Confira no infográfico ao lado.
 43  43 
Atenção à saúde das mulheres em 
situação de violência
 43 
UN3 Atenção às mulheres em 
situação de violência no 
âmbito da Atenção Básica
Acolher neste atendimento é uma postura éti-
ca que implica na escuta da usuária em suas 
queixas, no reconhecimento do seu protago-
nismo no processo de saúde e adoecimento, e 
na responsabilização pela resolução, com ati-
vação de redes de compartilhamento de sabe-
res (BRASIL, 2006). 
Importante! Acolher é um compromisso 
de resposta às necessidades das cida-
dãs que procuram os serviços de saúde. 
3.1 Estratégias de atenção às 
 mulheres em situação de 
 violência
Lembre-se que trabalhar com mulheres em 
situação de violência é empoderá-las, para 
que possam fazer escolhas a partir da re-
alidade vivida. Assim, como profissional 
da saúde você precisa conhecer quais as 
possibilidades de atenção às mulheres em 
situação de violência existentes no seu ter-
ritório e quais são alternativas para cada 
uma delas. Só assim poderá informar e 
ajudar cada mulher a escolher que decisão 
tomar.
As mulheres precisam ser acolhidas e respei-
tadas na decisão tomada. Lembre-se que a 
escolha é da mulher e precisa ser realizada a 
partir da informação e das possibilidades que 
ela tiver. Por isso, assegure-se de que a infor-
mação que você deu foi entendida pela mu-
lher, a fim de que ela faça a melhor escolha.
Para a atenção às mulheres em situação de 
violência, alguns recursos devem estar dis-
poníveis na Unidade Básica de Saúde. En-
tre estes recursos estão os testes rápidos 
de gravidez, de HIV, de sífilis e de Hepatites 
B e C. 
Ý Quando você confirmar a situação de violência, observe estes pontos (DGS; ASGVCV, 2014) 
ÝÝ Faça com que a mulher em situação de vilência não se sinta culpada da agressão que sofre.
ÝÝ Ajude a refletir, a ordenar as ideias e a tomar decisões.
ÝÝ Alerte para os riscos e consequências que corre, mas aceitar a escolha da mulher.
ÝÝ Valide o relato, não colocando em dúvida nem emitindo juízos de valor.
ÝÝ Aborde o medo associado à revelação/denúncia.
ÝÝ Esclareça o direito à confidencialidade, excetuando as situações de perigo iminente.
ÝÝ Esclareça sobre o tipo de informação que pode ser fornecida às autoridades (boletim de ocorrência/tipo de crime).
ÝÝ Acione a rede intersetorial para evitar a revitimização, para a avaliação aprofundada da situação pelo/a(s) profis-
sional(is) responsável(is) pela intervenção/acompanhamento (Serviço Social e Segurança).
ÝÝ NÃO dê a sensação de que tudo vai se resolver facilmente.
ÝÝ NÃO dê falsas esperanças.
ÝÝ NÃO critique a atitude ou ausência de resposta com frases como: “Porque é que se mantém nessa situação? 
Se você quisesse mesmo parar com esta situação, já teria…”.
ÝÝ NÃO desvalorize a sensação de perigo que é expressa.
ÝÝ NÃO recomende terapia de casal nem mediação familiar.
ÝÝ NÃO prescreva fármacos que diminuam a capacidade de reação.
ÝÝ NÃO utilize uma atitude paternalista/maternalista.
ÝÝ NÃO imponha critérios ou decisões. 
 44  44 
Atenção à saúde das mulheres em 
situação de violência
 44 
UN3 Atenção às mulheres em 
situação de violência no 
âmbito da Atenção Básica
Estes exames são importantes especialmente 
nas situações de violência sexual, mas tam-
bém podem servir como estratégia para a 
identificação de situações de violência quan-
do são disponibilizados para as mulheres sob 
livre demanda na UBS. Caso a UBS não tenha 
disponível testes rápidos, pode-se solicitar os 
exames no laboratório de sua referência.
Figura 12 – Testes rápidos para HIV, sífilis, Hepatites B e C
A informação de que os testes rápidos estão 
disponíveis e podem ser realizados em qual-
quer horário durante o atendimento da UBS 
deve ser de conhecimento da população. O 
profissional de saúde que realizar o acolhi-
mento para a realização destes exames pode 
questionar sobre a possibilidade de a mulher 
estar vivenciando alguma situação de violên-
cia. Este pode ser o ponto de partida para o 
relato, que, a partir de uma escuta qualificada 
e informação, permitam elaborar em conjun-
to, profissional de saúde e mulher agredida, 
um plano de cuidados.
Outra oferta importante que deve estar dis-
ponível em todas as Unidades Básicas de 
Saúde é a anticoncepção de emergência. O 
Ministério da Saúde disponibiliza por meio 
dos estados e municípios a medicação le-
vonorgestrel, utilizada mundialmente para 
prevenir a gravidez indesejada. O acesso a 
esta medicação está prevista no protocolo de 
atenção à violência sexual e é um direito das 
mulheres. 
Como profissional da saúde, você precisa 
incentivar iniciativas de busca de soluções 
para os problemas, estabelecendo víncu-
los com as usuárias. A resiliência, definida 
como a capacidade de superar adversidades 
e lidar positivamente com situações difíceis, 
é fortalecida por uma rede de relacionamen-
tos que possibilita o suporte e a superação 
das situações difíceis fortalecendo as mu-
lheres agredidas. Assim, identificar e forta-
lecer a rede de apoio à mulher em situação 
de violência está entre os pontos principais 
no atendimento dos profissionais da saúde 
nesta situação.
Figura 13 – Informação é a chave para elaborar um plano 
de cuidados
Importante! Atender mulheres em situa-
ção de violência implica atuar no senti-
do de fortalecer para evitar ou superar a 
violência, empoderando-as para que te-
nham autonomia para mudar a situação 
de violência em que se encontram.
 45  45 
Atenção à saúde das mulheres em 
situação de violência
 45 
UN3 Atenção às mulheresem 
situação de violência no 
âmbito da Atenção Básica
Lembre-se que a mulher em situação de vio-
lência deve ter autonomia na decisão quanto 
à mudança na sua vida em relação à violência 
sofrida. São várias fases no processo, e reco-
nhecer em que fase ela está proporciona uma 
atenção adequada as suas necessidades.
Apontamos ao lado as fases do processo de 
mudança para a mulher em situação de vio-
lência e as possibilidades de intervenção do 
profissional da saúde.
O empoderamento da mulher, com esta as-
sumindo a condução de sua existência, é fa-
tor primordial para que a realidade de uma 
existência submetida a violência seja modi-
ficada. Para isso, as ferramentas genograma 
e ecomapa podem ser utilizadas por você, 
profissional da saúde, que a partir de uma 
escuta atenta pode construir um projeto te-
rapêutico singular (PTS) em conjunto com a 
mulher agredida. O PTS é um instrumento de 
organização do cuidado em saúde, conside-
rando as singularidades e a complexidade da 
situação vivida.
O genograma tem por função organizar os 
dados referentes à família e seus processos 
relacionais. Permite a visualização rápida e 
abrangente da organização familiar e suas 
principais características, constituindo um 
mapa relacional onde são registrados da-
dos relevantes ao caso. O ecomapa é útil no 
mapeamento de redes de apoios sociais e 
ligações da família com a comunidade. Am-
bos os instrumentos retratam graficamente 
constituição e dinâmicas relacionais de um 
grupo social, com foco na família. Enquanto 
o genograma identifica as relações dentro do 
sistema multigeracional familiar, o ecomapa 
Fases do processo de mudança da mulher 
em situação de violência Intervenção profissional
1 Não há tomada de consciência da situação de vio-lência ou nega que exista.
Relacionar a sintomatologia com a situação de vio-
lência. Oferecer informação para distinguir maus 
tratos de uma relação de respeito mútuo.
2
Inicia a tomada de consciência da situação de vio-
lência em que vive; contudo, não sente que possa 
mudar ou que possa intervir para a mudança.
Facilitar a expressão de emoções, medos, expec-
tativas e dificuldades. Identificar apoios e pontos 
fortes e analisar o ciclo da violência.
3
Começa a pensar que não pode continuar a viver 
na situação presente, mas não sabe como mudar. 
Analisa prós e contras para a mudança que, con-
tudo, não planeja ainda realizar.
Apoiar cada iniciativa de mudança e estabelecer 
em conjunto o plano mais adequado. Analisar as 
dificuldades. Motivar para procurar ajuda especia-
lizada ou outros apoios como grupos de suporte.
4
Inicia algumas mudanças e planeja a ruptura da 
situação, embora demonstre sentimentos ambi-
valentes, como autoconfiança e insegurança ou 
medo de enfrentar o futuro.
Valorizar os progressos e reforçar as decisões, 
realizando um acompanhamento continuado em 
coordenação com outros recursos.
5
O percurso de saída da situação de violência não 
é linear; pode haver momentos de abandono e re-
trocessos até conseguir consolidar e manter a sua 
autodeterminação.
Ajudar a compreender que os retrocessos e inse-
guranças são parte do processo. Analisar em con-
junto os motivos e situações que conduziram ao 
retrocesso.
6 Consolidado o processo de mudança, executa no-vos projetos de vida.
Potenciar a sua participação em atividades e redes 
de suporte social, na criação de vínculos saudá-
veis, no desenvolvimento da autoestima e da au-
toconfiança.
Adaptado de: RODRÍGUEZ; MOYA, 2012 apud DGS; ASGVCV, 2014.
 46  46 
Atenção à saúde das mulheres em 
situação de violência
 46 
UN3 Atenção às mulheres em 
situação de violência no 
âmbito da Atenção Básica
representa as interações da família com pes-
soas, instituições ou grupos sociais em de-
terminado momento.
Destaca-se que a equipe de saúde pode 
contribuir para o empoderamento da mulher 
fomentando também ações intersetoriais de 
geração de renda, oportunidades de forma-
ção escolar e profissional e espaços cole-
tivos de discussão da condição da mulher 
na sociedade. Com isso estará contribuindo 
para que as mulheres da comunidade pos-
sam ter autonomia e oportunidade de mu-
dança de vida.
Outro aspecto a ser trabalhado pela equipe 
de saúde é a promoção da não violência. O 
desenvolvimento de ações intersetoriais na 
comunidade de promoção de ambientes que 
propiciem a convivência saudável, como por 
exemplo a prática de esportes em áreas públi-
cas, pode oportunizar a redução dos índices 
de violência.
O trabalho integrado com a educação, pro-
movendo a reflexão sobre concepções e ati-
tudes que podem ser modificadas e assim 
promover uma sociedade mais justa e iguali-
tária para homens e mulheres é outro aspec-
to importante na promoção da não violência. 
É importante você lembrar que as escolas 
trabalham com a organização do ano letivo 
de forma antecipada. Procure conhecer quem 
atua neste setor e participe da discussão e 
do planejamento das ações de saúde na es-
cola, assim o trabalho fará parte do calen-
dário escolar e poderá ser incrementado nas 
disciplinas curriculares. 
Em 2016 o Ministério da Saúde publi-
cou o Protocolo da Atenção Básica: 
Saúde das Mulheres, que propõe um 
quadro-síntese para atenção às mu-
lheres em situação de violência sexual 
e/ou doméstica/familiar no âmbito da 
Atenção Básica, detalhando o que fazer, 
como fazer e quem pode fazer. Aces-
se: <http://189.28.128.100/dab/docs/
portaldab/publicacoes/protocolo_sau-
de_mulher.pdf>.
Entre as demais publicações que você pre-
cisa conhecer para atender mulheres em 
situação de violência está a Norma Téc-
nica denominada Prevenção e tratamento 
dos agravos resultantes da violência sexu-
al contra mulheres e adolescentes (BRASIL, 
2012). Esta normativa está voltada para a 
atenção às mulheres em situação de vio-
lência sexual e estabelece que os serviços 
devam organizar fluxos internos no setor da 
saúde definindo responsabilidades de aco-
lhimento e entrevista, registro da história, 
exame clínico e ginecológico, exames com-
plementares e procedimentos necessários 
de acordo com o caso e acompanhamen-
to, incluindo o psicológico. Também é ne-
cessário realizar a coleta de amostras para 
diagnóstico de infecções genitais e coleta 
de material para identificação do provável 
agressor.
Além disso, entre as ações que o setor da 
saúde deve oportunizar para as mulheres 
agredidas sexualmente incluem-se o acesso 
à anticoncepção de emergência e a profila-
xia de doenças sexualmente transmissíveis 
não virais e virais. O serviço de saúde é res-
ponsável ainda pelo encaminhamento dos 
procedimentos de interrupção da gestação, 
conforme previsto no Brasil desde 1940 pelo 
Decreto Lei no 2.848, artigos 28, Inciso II do 
Código Penal, que permite a interrupção le-
gal da gestação quando a gravidez resulta de 
violência sexual.
 47  47 
Atenção à saúde das mulheres em 
situação de violência
 47 
UN3 Atenção às mulheres em 
situação de violência no 
âmbito da Atenção Básica
Figura 14 – Conheça em detalhe esta Norma Técnica con-
tra violência sexual em mulheres e adolescentes
Fonte: Ministério da Saúde (2012).
A UBS pode ser cadastrada no CNES como 
serviço de atenção ambulatorial a pesso-
as em situação de violência sexual e ofere-
cer acolhimento, atendimento humanizado e 
multidisciplinar, preenchimento da ficha de 
notificação/investigação e encaminhamen-
to, quando necessário, para outros pontos de 
atenção.
Importante! A assistência à saúde da 
mulher que sofre violência sexual é 
prioritária e a recusa infundada ou in-
justificada de atendimento pode ser 
caracterizada ética e legalmente como 
omissão, não cabendo neste caso a 
alegação de objeção de consciência, 
como previsto noscasos da realiza-
ção da interrupção legal da gestação 
(BRASIL, 2011).
Como você já percebeu, a atenção às mu-
lheres em situação de violência deman-
da ações intersetorais. A seguir, faremos 
algumas considerações quanto à rede de 
atenção.
3.2 Rede de atenção às mulheres 
 em situação de violência
A atenção às mulheres em situação de violên-
cia demanda uma rede interna no setor saúde 
(intrassetorial) e uma rede externa (interseto-
rial), as quais se complementam.
Internamente, no setor saúde a atenção as 
mulheres em situação de violência deman-
da a integração entre os serviços da Atenção 
Básica, rede laboratorial para diagnóstico, 
serviços de urgência e emergência, hospitais, 
ambulatórios especializados para a atenção 
à saúde das mulheres e Centros de Atenção 
Psicossocial (CAPS). 
Já intersetorialmente, faz-se necessária a 
integração com os setores como a assistên-
cia social, os sistemas de justiça, a seguran-
ça pública, o Ministério Público, a Defensoria 
Pública, as Varas da Infância e Juventude, o 
Conselho Tutelar e os conselhos de direitos 
e a sociedade civil organizada existentes no 
território.
Para mudar a realidade de violência vivida 
pelas mulheres é necessário mudar a re-
lação dos homens agressores. Por isso, é 
importante conhecer os serviços que tra-
balham com homens autores de agressão. 
Algumas experiências com grupos reflexivos 
para homens autores de violência domés-
tica têm sido desenvolvidas pela Justiça. 
O projeto da Secretaria de Justiça do Paraná 
é um deles. 
 48  48 
Atenção à saúde das mulheres em 
situação de violência
 48 
UN3 Atenção às mulheres em 
situação de violência no 
âmbito da Atenção Básica
Figura 15 – A importância dos serviços que trabalham 
com homens autores de agressão
Na organização da rede de atenção às mulheres 
em situação de violência sexual, as Portarias no 
485 e 618/2014 são importantes, pois definem 
o funcionamento dos Serviços de Atenção às 
Pessoas em Situação de Violência Sexual no 
SUS e fazem referência ao cadastramento do 
Serviço no Sistema de Cadastro Nacional de 
Estabelecimentos de Saúde (CNES) como Ser-
viço Especializado 165 e suas classificações. 
Os serviços de saúde podem realizar o ca-
dastramento como Serviço Ambulatorial ou 
de Referência para a Atenção Integral às Pes-
soas em Situação de Violência Sexual e ain-
da como Referência para a Interrupção Legal 
da Gravidez. Esta organização pressupõe o 
atendimento em rede de atenção com enca-
minhamento das pessoas para o atendimento 
conforme Norma Técnica Prevenção e Trata-
mento dos Agravos resultantes da Violência 
Sexual contra Mulheres e Adolescentes e a 
Norma Técnica de Atenção Humanizada ao 
Abortamento. 
Com relação à violência sexual, é importan-
te destacar que em 2013 foi aprovada a Lei 
no 12.845, que tornou obrigatório o atendimen-
to a vítimas de violência sexual e o tratamento 
no serviço público em hospitais. Além desta 
legislação, o Decreto no 7.958, de 13 de março 
de 2013, e a Portaria Interministerial no 288, de 
25 de março de 2015, estabelecem a organi-
zação e integração do atendimento às vítimas 
de violência sexual pelos profissionais de se-
gurança pública e pelos profissionais de saú-
de do Sistema Único de Saúde (SUS) quanto à 
humanização do atendimento, ao registro de 
informações e coleta de vestígios de acordo 
com a Norma Técnica de Atenção Humaniza-
da às Pessoas em Situação de Violência Se-
xual, com registro de informações e coleta de 
vestígios. Estas normativas o processo com 
a finalidade de identificação e punição dos 
agressores.
Você pode acessar os serviços que se 
cadastraram na atenção às pessoas em 
situação de violência sexual. Disponível 
em: <http://cnes2.datasus.gov.br/Mod_
Ind_Especialidades.asp?VEstado=&V-
Mun=00&VComp=00&VTerc=00&VSer-
vico=165>. Selecione seu estado e as 
classificações 001, 006 e 007.
No âmbito da intersetorialidade, destacamos 
uma importante legislação que modificou no 
país no que se refere à punição dos agres-
sores na violência doméstica, a Lei Maria 
da Penha (Lei no 11.340/2006). Esta lei foi 
um marco nacional na questão da violência 
contra a mulher e é a principal legislação 
brasileira para enfrentar a violência contra 
as mulheres. É reconhecida pela ONU como 
uma das três melhores legislações do mun-
do no enfrentamento à violência de gênero. 
Dentro dessa conjuntura política, a nova lei 
pode ser considerada como um passo em 
direção ao cumprimento das determinações 
da Convenção de Belém do Pará e da Con-
venção para a eliminação de todas as for-
mas de violência contra as mulheres (CE-
DAW), além de regulamentar a Constituição 
Federal. 
 49  49 
Atenção à saúde das mulheres em 
situação de violência
 49 
UN3 Atenção às mulheres em 
situação de violência no 
âmbito da Atenção Básica
REDE INTERSETORIAL
ÝÝ Ligue 180 – Central de Atendimento à Mulher
ÝÝ Casa da Mulher Brasileira
ÝÝ Cras – Centro de Referência de Assistência Social
ÝÝ Creas – Centro de Referência Especializado de Assistência Social
ÝÝ Casas de Acolhimento Provisório
ÝÝ Casas-Abrigo
ÝÝ Deam – Delegacias Especiais de Atendimento à Mulher
ÝÝ Delegacia de Polícia
ÝÝ IML – Instituto Médico Legal
ÝÝ Ouvidoria da Secretaria de Políticas para as Mulheres
ÝÝ Disque 100 – Disque Denúncias Nacional de Violência Sexual
ÝÝ Juizados Especializados de Violência Doméstica e Familiar
ÝÝ Promotoria Especializada do Ministério Público
ÝÝ Núcleo Especializado de Defensoria Pública
ÝÝ ONG – Organizações não-governamentais
ÝÝ Centros de Referência de Atendimento à Mulher em Situação de Rua
ATENÇÃO BASICA
ÝÝ Unidade Básica de Saúde
ÝÝ Estratégia Saúde da Família (ESF)
ÝÝ Estratégia de Agentes Comunitários de Saúde (Eacs)
ÝÝ Núcleos de Apoio à Saúde da Família (Nasf)
ÝÝ Consultório na Rua (Mulher em situação de rua)
MÉDIA E ALTA COMPLEXIDADE
ÝÝ Serviços de Atenção Especializada
ÝÝ Hospitais
ÝÝ Urgência e Emergência
ÝÝ Unidades de Pronto Atendimento (UPA-24h)
ÝÝ Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA/HIV/AIDS), 
Caps, Capsi, Caps-AD
O termo Rede de Atendimento designa um conjunto de 
ações e serviços intersetoriais (com destaque dos se-
tores de Assistência Social, da Justiça, da Segurança 
Pública e da Saúde), que “visam a ampliação e a me-
lhora da qualidade do atendimento, a identificação ao 
encaminhamento adequado das mulheres em situação 
de violência e integralidade e a humanização do aten-
dimento”.
Os serviços da Rede de Saúde compõem a Rede de 
Atendimento às Mulheres em Situação de Violência 
e devem esgotar todos os recursos disponíveis para 
oferecer a Atenção Integral à Mulheres em Situação de 
Violência desde o acolhimento com escuta qualifica-
da até o monitoramento/seguimento das mulheres na 
Rede de Atendimento, fortalecendo a integração entre 
os seviços que compõem a rede.
 50  50 
Atenção à saúde das mulheres em 
situação de violência
 50 
UN3 Atenção às mulheres em 
situação de violência no 
âmbito da Atenção Básica
Em 2015, outra legislação que destacamos é 
a que inclui o feminicídio no rol dos crimes 
hediondos. O principal ganho com a Lei do 
Feminicídio (Lei no 13.104/2015) é justamen-
te tirar o problema da invisibilidade. Além da 
punição mais grave para os que cometerem 
o crime contra a vida, a tipificação é vista por 
especialistas como uma oportunidade para 
dimensionar a violência contra as mulheres 
no país quando ela chega ao desfecho ex-
tremo do assassinato, permitindo, assim, o 
aprimoramento das políticas públicas para 
coibi-la e preveni-la.
No Brasil, a rede de atenção e proteção 
ainda precisa ser mais estruturada. Nesse 
sentido, lembramos que o setor saúde tem 
um grande potencial articulador da rede

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