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VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER pela perspectiva da Atenção Primária à Saúde Organização Ackel Stannier Souza Reis Amália Dias dos Santos Ana Clara Fernandez Martins Ana Flávia Santana Lousada Camilla Mesquita da Silva Carolina Ferreira Santos Cinthia De Fátima Machado Clara Bensemann Gontijo Pereira Danielle Souza Reis Eveline de Oliveira Frota Fernanda Alves Martins Gabriela Silva do Nascimento Geice Zago Haus Giovanna Lopes Ventura Moraes Hanna Eduarda Soubhia Quaglia Huara Berbert Câmara de Vidal Iasmin Silva Campos Isabela Miranda Caldas Isadora Monteiro Dutra Jessica Alves Rodrigues Joyce Beatriz Pasqualotto Reis Borges Luísa Chaves Simões Silva Ilustrações Juliana Garcez Silva Carvalho Autores Juliana Garcez Silva Carvalho Karina Faria Barbosa Laura de Oliveira Martins Rosa Lia Prudente Guimarães Arantes Lívia Gontijo Silva Livia Nardelli Araújo Luana Maria Pereira Galdino Luana Martins Ribeiro Luísa Chaves Simões Silva Marcela Silveira Freitas Drumond Maria Clara Nolasco Alves Barbosa Maria Clara Santana Silveira Maria Laura Mendes dos Santos Leal Matheus Arengheri Vicente Matheus Silva Antonio Melissa Vieira de Moraes Agapito Mercês Maria Otati e Silva Monalisa Maria de Souza Fernandes Paulo Oilson José Hostert Junior Raphaela Ferreira de Sousa Stella Rodrigues Barros do Nascimento Sthefany de Paula Gomes Suellen Maroco Cruzeiro Lombello Tânia Carolina Rodrigues Subirá Vanessa Maria Oliveira Morais Autores 1. Contexto 1.1. Global 1.2. Do Brasil 2. Prevenção e Educação em Saúde 3.9. Feminicídio 4. Machismo 5.8. Em situação de rua 6.3. Grupos INTRODUÇÃO 3. Violências 3.1. Violência física 3.2. Violência psicológica 3.3. Violência sexual e cultura do estupro 3.4. Violência patrimonial 3.5. Violência moral 3.6. Violência doméstica e relacionamento abusivo 3.7. Violência obstétrica 3.8. Violência cibernética 5. Recortes sociais 5.1. Feminismo 5.2. Raça e Etnia 5.3. Classe 5.4. Gênero 5.5. Orientação sexual 5.6. Privadas de liberdade 5.7. Com deficiência 6. Redes de apoio 6.1. Saúde 6.2. Justiça e Segurança SUMÁRIO 7.4. Sigilo médico: aspectos éticos 8.7. Notificação em caso de suspeita 9.5. Equipe Multidisciplinar e Projeto Terapêutico Singular 10.4. Divórcio 11. Abordagem ao agressor REFERÊNCIAS 7. Lei Maria da Penha 7.1. Como funciona 7.2. Denúncia: como e quando realizar 7.3. Direitos e principais informações legais 8. Rastreamento: como identificar? 8.1. O início 8.2. Perfil do agressor 8.3. Como a vítima pede ajuda 8.4. A culpabilização da mulher 8.5. Sinais 8.6. Anamnese básica 9. Atendimento à Mulher 9.1. Papel do profissional de saúde 9.2. Acolhimento 9.3. Prevenção e profilaxia de IST 9.4. Acesso ao aborto 10. Acompanhamento 10.1. Empoderamento e independência 10.2. Pensão 10.3. Filhos 12. A importância do SUS na abordagem à violência INTRODUÇÃO 5 Esse Ebook foi produzido por 46 pessoas, espalhadas por vários estados do Brasil e em fuso-horários diferentes! Começou com um grupo de interessadas(os) na área de Medicina - estudantes e graduadas - com interesse em aprender sobre Medicina de Família e Comunidade com uma Residente do segundo ano na especialidade. Ao longo de menos de 1 mês, construímos em conjunto esse material, embasado cientificamente e sem conflitos de interesse! Mas, claro, com muitos interesses: capacitar a atuação da Saúde à nível Primário, defender as mulheres e comemorar os 15 anos de Lei Maria da Penha (celebrado em 07/08/21, dia de lançamento deste material). O acesso à saúde vai além de consulta médica dentro de consultórios, exames de alto custo e medicamentos de nomes difíceis, a saúde é ampla e passa pelos direitos básicos, como moradia, segurança, alimentação, educação e justiça. Convido então você, leitor e leitora, a desenvolver o olhar atento para a sua prática, as pessoas do seu convívio e as questões políticas e sociais. A saúde é determinada por uma série de fatores, que serão brevemente abordadas aqui. E todos os dias milhares de mulheres sofrem com violências estruturais da sociedade patriarcal. E a todas(os) as(os) colaboradoras(es), autoras(es) e ilustradora (sem palavras de tão talentosa) deste livro: PARABÉNS! Em breve temos mais! 1. CONTEXTO 6 1.1. Global Em 1789, a Assembleia Nacional Constituinte aprovou a "Declaração dos Direitos Humanos e Civis", sendo este o primeiro passo da República Francesa para formular uma constituição por escrito, visando garantir a liberdade aos cidadãos. No entanto, ao usar "homens", "homem" e "todo homem" para se referir a todo o povo francês, eles excluíram os sem propriedade, escravos, negros livres e as mulheres. Na Revolução Francesa de 1789, a discussão sobre a interna- cionalização dos direitos civis como um direito básico foi proposta pela primeira vez. No entanto, mesmo após a internacionalização, as mulheres foram excluídas dos direitos. Portanto, muito foi discutido sobre sua aplicação, se realmente envolve todos os seres humanos ou apenas os homens. Com base no conceito de igualdade, privar as mulheres de seus direitos naturais seria complexo, pois é preciso provar que elas não pertencem ao gênero humano. Nesse contexto, o direito ao voto universal para ambos os sexos na Revolução Francesa foi defendido contra os fundamentos da inferioridade feminina e da chamada discriminação natural, como a gravidez e a menstruação. Prove assim a importância de defender a educação e a universalidade de direitos através de manifestações, pois as mulheres eram consideradas imprudentes e rejeitadas por grande parte da sociedade. De acordo com a história, a francesa Olympe de Gouges foi guilhotinada por escrever a "Declaração dos Direitos da Mulher e dos Cidadãos", após ser apresentada à Assembleia Nacional Francesa durante a Revolução Francesa em setembro de 1791, exigindo que o "direito natural" fosse estendido às mulheres. A partir deste fato, muitas sentiram a necessidade de afirmar seus direitos através de reivindicações feitas por elas envolvendo questões de gênero. Diante disso, o conceito de gênero sofreu grandes mudanças, de modo que a perspectiva de gênero posteriormente passou a fazer parte das políticas públicas em todas as áreas de ação governamental. Além disso, no processo de busca do empoderamento da mulher e de seus direitos, falar AUTORA Huara Berbert Câmara de Vidal 7 8 falar sobre gênero tem se tornado uma forma de superar padrões de desigualdade. Durante séculos, em face de todas as lutas e revoluções que apoiam a proteção dos direitos humanos, as relações de gênero têm sido turbulentas e desiguais. Afirma-se que “[a]s feministas começaram a utilizar a palavra “gênero” mais seriamente, num sentido mais literal, como uma maneira de se referir à organização social da relação entre os sexos”. Essa palavra pode incluir sexo, mas não é diretamente determinada pelo gênero e tem muito a ver com pesquisas sobre coisas relacionadas às mulheres. Portanto, gênero é uma forma de expressão da estrutura cultural, que estabelece papéis sociais adequados para homens e mulheres. Essa palavra foi muito importante para que os debates ganhassem mais força. Na luta pelos direitos, as mulheres se organizaram e formaram forças de mobilização para reivindicar a igualdade de gênero nas relações sociais. As principais reivindicações das mulheres são os direitos básicos, como voto, participação política e direitos à vida pública; uma grande revolução das feministas da época chocou-se com visões de diferentes períodos históricos. Nessa visão, a mulher deve ser sempre a zeladora da família e não ter compreensão suficiente das disputas no campo do poder. Este é um dos temas da primeira onda feminista, que questionou o papel da submissão e da passividade sobre as mulheres. Durante o movimento feminista, ocorreu a Primeira Convenção dos Direitos das Mulheres de 1848, sendo o primeiro encontrosobre os direitos das mulheres nos Estados Unidos. Outro marco na luta das mulheres por seus direitos é o Movimento Sufragista, que ocorreu durante o século XIX, levando muitas mulheres na Inglaterra e nos Estados Unidos, irem às ruas como forma de protesto e luta pelo direito à participação política, como candidatas e eleitoras. Em registro histórico na Inglaterra, foi fundado o grupo “Women´s Social and Political Union”, que teve uma grande influência em outros posteriores movimentos das mulheres. Já nos Estados Unidos, os direitos de voto foram definidos em 1919, e o movimento obteve grande influência das sufragistas inglesas que surgiu com a luta contra a escravidão. 9 Diante das catástrofes ocorridas e a negação do valor do ser humano na Segunda Guerra mundial que “simbolizou a ruptura com relação aos direitos humanos, significando o Pós-Guerra a esperança de reconstrução destes mesmos direitos”. Pelo fato ocorrido, se fez necessário construir um código universal de direitos humanos que representou um grande desafio para os Estados membros da ordem internacional, a fim de consolidá-la e tomando os direitos humanos como referência ética para orientar a ordem internacional. Diante disso, os 48 estados membros da Organização das Nações Unidas (ONU), realizaram a universalização dos direitos humanos em 10 de dezembro de 1948 e consolidaram a ética universal que introduziu os conceitos contemporâneos de direitos humanos. Os Direitos Humanos são uma forma abreviada e genérica de se referir a um conjunto de exigências e enunciados jurídicos superiores aos demais direitos. São fundamentais, pois sem eles o ser humano não é capaz de existir, desenvolver-se e participar plenamente da vida. Além de serem universais, qualquer autoridade política e/ou lugar precisa deles. Eles representam os requisitos mínimos para uma vida decente. O movimento feminista no início preocupava-se com a igualdade política e econômica das mulheres perante os homens. Porém, após a segunda guerra mundial, o feminismo aborda outros temas, as feministas procuram alcançar uma compreensão da natureza cultural da opressão, observando o agir das próprias instituições culturais que alicerçam e perpetuam a subordinação das mulheres. A partir de uma supremacia do falo, as sociedades foram fundadas e isso fez com que as mulheres fossem inferiorizadas. O homem adquiriu uma posição historicamente privilegiada por ser o portador do falo, diferente das mulheres que passaram por lutas na história para conquistar seus direitos e serem reconhecidas. Em diversas sociedades, as mulheres são extremamente oprimidas e ainda há uma necessidade de oprimir e subjugar a mulher em diversos lugares, não apenas no mercado de trabalho. Com a expansão dos debates acerca das condições de gênero, sucede a possibilidade de incluir debates sobre as mulheres nos encontros ocorridos em âmbito internacional. O apoio da ONU foi muito importante para o movimento dos direitos das mulheres; como na questão da igualdade em termos de direitos e liberdades para mulheres e homens, sendo este um dos princípios básicos da carta da ONU. Além disso, esta carta é o primeiro documento legal, com vínculo internacional que se concentra o princípio da igualdade. Outro marco importante ocorreu no ano de 1975, quando a ONU instituiu o dia 8 de março como o Dia Internacional da Mulher. Atualmente esta data é celebrada em mais de 100 países, relembrando os progressos alcançados pelas mulheres e a busca continua por uma igualdade de gênero no mundo. No ano de 1993, a ONU reafirma os Direitos Humanos das Mulheres perante a comunidade internacional e destaca atenção para as questões relacionadas à violência contra as mulheres. Além de sofrerem pela não garantia total de seus direitos, as mulheres sofrem violências diárias. Portanto, através da Declaração sobre a Eliminação da Violência contra as Mulheres, a Assembleia Geral cita a necessidade de “um compromisso por parte dos Estados em relação às suas responsabilidades, e um compromisso da comunidade internacional em geral para a eliminação da violência contra as mulheres”. Somente em 1995, com a Declaração e Plataforma de Ação de Pequim, que se define o conceito de gênero, estabelecendo consenso de um compromisso dos Estados membros com os Direitos Humanos das Mulheres. O documento traz doze áreas prioritárias de preocupação relativa às mulheres e o seu empoderamento consiste em um dos objetivos centrais. Ao apresentar o conceito de gênero, a declaração tem como base uma análise da situação da mulher em caráter de aspecto biológico para uma compreensão das relações entre homens e mulheres. Assim, as relações de gênero passam a constituir o centro das preocupações relativas aos padrões de desigualdade. No ano de 2000, o tema gênero foi integrado em muitos dos objetivos da Declaração do Milênio. A partir de então as nações se comprometeram a uma nova parceria global, conhecidos como os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. 10 Em 2010, a Assembleia Geral da ONU criou um órgão com objetivo de acelerar os processos para alcançar a igualdade de gênero e fortalecer a autonomia das mulheres. O órgão recebeu o nome ONU Mulheres, uma entidade dedicada à igualdade de gênero que trabalha em conjunto com a sociedade civil e os governos, a fim de elaborar leis, programas e serviços necessários para certificar que a norma seja efetivamente realizada e amparar verdadeiramente mulheres e meninas em todo o mundo. Portanto, diante dos diferentes avanços conquistados na história dos Direitos Humanos e na história dos Direitos Humanos das Mulheres, ainda persistem as desigualdades de gênero e a violência contra mulheres. As lutas das mulheres pela libertação de seus direitos avançaram significativamente ao longo das décadas, acarretando na ampliação de programas internacionais e em uma maior demanda por Direitos Humanos das Mulheres pelo mundo. 1.2. Do Brasil AUTORA Vanessa Maria Oliveira Morais A violência contra a mulher no Brasil tem raízes profundas. A história de dominação do patriarcado se estende desde os primórdios da sociedade quando as mulheres eram tratadas como propriedade de seus pais e maridos e viam-se obrigadas a permanecer em relacionamentos extremamente machistas e dominadores, que eram regulamentados pelo Código Civil de 1916. Apesar das muitas conquistas alcançadas até então, como a Lei do divórcio, nº 6,515 de 26 de dezembro de 1977, e a Lei Maria da Penha sob o número 11.340 de 7 de agosto de 2006, muitas mulheres ainda são submetidas a situações de violência, as quais em sua maioria são cometidas por pessoas próximas, e em número expressivo pelos seus parceiros íntimos. 11 12 A maior parte dos casos de violência contra a mulher ocorre na própria casa da vítima, enquanto a violência que atinge os homens acontece majoritariamente fora do domicílio. No ano de 2013 o Brasil ocupava a quinta posição no ranking de homicídios de mulheres no mundo e que, no mesmo ano, no Brasil, o SINAN (Sistema de Informação de Agravos de Notificação) registrou que 37,3% das notificações de violência contra a mulher cadastradas na plataforma se tratavam de violência de repetição. Durante a pandemia pelo SARS-CoV-2, iniciada em 2020, os números dessa covarde prática aumentaram. O maior tempo de convívio com os agressores, a limitação do convívio social e a dificuldade em encontrar uma rede de apoio são determinantes. Embora não seja estritamente um problema de saúde pública, a violência contra a mulher é muitas vezes identificada e notificada somente a partir da Atenção Primária. Os atendimentos às vítimas de violência contra a mulher passaram a ser obrigatoriamente notificados no Brasil a partir da criação da lei nº 10.714, de 2003. Mais tarde, em 2009, começaram a ser adicionados ao SINAN e no ano de 2011, tornaram-separte da lista de notificação compulsória, sejam eles suspeitos ou confirmados. Analisando a perspectiva psicossocial da problemática percebe-se que, atualmente, os serviços de saúde são uma das principais formas pelas quais as situações de violência são identificadas, já que mesmo quando não ocorre a denúncia, muitas mulheres recorrem ao sistema de saúde para buscar ajuda/atendimento. Portanto, evidencia-se a grande necessidade da atenção primária, como porta de entrada do sistema, através dos seus profissionais, acolher, apoiar e tratar para além das sequelas físicas dessas mulheres, visualizando suas fragilidades e buscando formar uma rede de apoio multidisciplinar e sólida no entorno da vítima. 2. PREVENÇÃO E EDUCAÇÃO EM SAÚDE 13 Em vista das problemáticas que culminam na violência contra a mulher cabe destacar que a prevenção representa o eixo mais importante para reduzir e exterminar as agressões. Desse modo, a prevenção deve ter dois focos gerais, primeiramente deve-se buscar a resolução de conflitos já existentes, com o objetivo de garantir a segurança da vítima e evitar futuras agressões. Em paralelo, deve-se atuar na educação em saúde, visando promover uma melhora substancial na sociedade como um todo. AUTORA Geice Zago Haus 14 O ambiente de ensino, enquanto formador social, deve abordar a temática da violência desde os primeiros anos escolares, visando que os educandos aprendam sobre direitos, responsabilidades individuais e respeito às diferenças. Além disso, as escolas também devem ser um local seguro para denúncias presenciados pelos educandos no ambiente familiar. As empresas também devem fornecer postos de trabalhos e salários igualitários às mulheres, pois isso auxilia na independência e empoderamento feminino, diminuindo os casos de permanência em relações abusivas por dependência financeira. A Atenção Primária à Saúde deve promover capacitação constante dos profissionais, para que estes estejam aptos a identificar sinais de violência em consultas rotineiras e auxiliar a sanar dúvidas caso a mulher deseje realizar denúncias de violência. No que tange à Estratégia de Saúde da Família, o Agente Comunitário de Saúde, tem um papel fundamental, já que, quando capacitado ele consegue perceber sinais de relações abusivas durante as visitas domiciliares, ainda que sutis. Esse profissional também tem um importante papel em campanhas de conscientização sobre essa temática, buscando criar um vínculo com a comunidade e permitindo que as vítimas sintam-se seguras em buscá-lo para relatar situações de violência. Os meios de comunicação devem abordar essa violência - e suas várias formas de manifestação, nas diferentes produções midiáticas visando conscientizar a sociedade de uma forma geral sobre a gravidade do assunto. Algumas medidas podem ser tomadas no campo da prevenção: Cabe salientar que, para que haja uma mudança na estrutura da sociedade e a mitigação (ou erradicação) da violência contra mulher, os diferentes setores sociais, públicos e privados precisam se inter- relacionar, ainda que atuem em diferentes âmbitos. Por exemplo: campanhas escolares podem ser financiadas e coordenadas por psicólogos, médicos e enfermeiros atuantes na Unidade Básica de Saúde. 3. VIOLÊNCIAS 15 A violência física contra a mulher compreende comportamentos agressivos, relacionados ao uso de armas ou da própria força, que prejudicam a integridade do corpo feminino e comprometem a sua saúde orgânica. Estes atos violentos são praticados de forma intencional tendo como objetivo ocasionar lesões físicas, promover dor e sofrimento ou causar a morte da mulher. Diversos são os comportamentos associados à violência física, tais como beliscões, chutes, empurrões, tapas, queimaduras, esfaqueamentos e tiros. Além disso, as agressões podem ocorrer uma única vez ou então repetitivamente. Geralmente, se não houver denúncia, com o tempo a violência física vai se tornando mais frequente e intensa. Sendo comumente relatada, a violência física doméstica contra mulheres é aquela cometida por pessoas com quem a mulher tem convívio familiar, como cônjuge, pais, filhos e irmãos. De acordo com dados da Pesquisa Nacional de Saúde de 2019, 52,4% das mulheres que sofreram agressão física afirmaram terem sido agredidas por parceiros íntimos. Logo, os agressores mais envolvidos em violência doméstica são os cônjuges, companheiros ou namorados atuais ou anteriores. Diversos fatores podem ser geradores dessa agressão. O machismo, por exemplo, envolve um sentimento de direito, no qual o homem sente que tem a liberdade e a autoridade para agredir a mulher. Atualmente, devido à luta feminista, as mulheres têm ganhado voz e se tornado provedoras do lar e profissionais competentes em diversas áreas. Todavia, essa igualdade de gênero, muitas vezes, não agrada o homem, que ainda acredita na condição de submissão conferida à mulher histórica e culturalmente. Dessa forma, a violência de gênero compreende os atos agressivos destinados à mulher pelo fato de ser mulher, independente da raça, idade, classe social ou outro fator. 16 3.1. Violência Física AUTORA Stella Rodrigues Barros do Nascimento Em relação à situação econômica, a diferença econômica entre o homem e a mulher, a dependência financeira feminina e a dificuldade de gestão podem ser motivos que colaboram com a hostilidade masculina. Apesar de ocorrer em todas as classes sociais, a violência doméstica ocorre acontece mais frequentemente com mulheres com menores taxa de escolaridade e condição econômica. Entretanto, em famílias com maior aporte financeiro, tem-se a possibilidade de ocultação da violência em razão da disponibilidade de recursos, podendo ocorrer subnotificação nestas classes sociais. O uso de álcool é um dos principais fatores relacionados à violência doméstica. O álcool é utilizado por diferentes motivos socioculturais, entretanto, é mais consumido para melhora do humor e desinibição. Dessa forma, sentimentos como raiva e frustração podem se tornar exorbitantes, gerando o aumento da agressividade. Além disso, o consumo abusivo de álcool pode comprometer à relação familiar, em relação às questões econômicas, quando o homem utiliza o dinheiro para alimentar seu vício nas bebidas, e devido à dificuldade de diálogo, haja vista que o álcool pode prejudicar a conversa clara e também levar à violência verbal. Os ciúmes são fatores importantes. A insegurança associada à baixa autoestima pode provocar o comprometimento da relação, principalmente conjugal, sendo precipitante para a expressão de violência física. Ademais, o consumo de álcool e de outras drogas pode produzir pensamentos delirantes de ciúmes, induzindo o homem a agredir a mulher. Apesar dos agressores serem mais frequentemente parceiros íntimos, os maus tratos contra a mulher também podem resultar de qualquer tipo de violência extrafamiliar executada por qualquer agressor, incluindo por pessoas desconhecidas. Dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019 demonstram que 8,7% das mulheres que sofreram violência tiveram como agressores amigos, colegas ou vizinhos, e que 11,6% sofreram ataques de desconhecidos. Outros dados importantes envolvem o local da agressão física, 72,8% das mulheres informaram sofrer violência dentro de suas residências e 17,9% afirmaram terem sido agredidas em espaços públicos. A violência física pode envolver agressões que resultem em lesões leves ou graves, conforme o Código Penal Brasileiro. As lesões leves são aquelas que não apresentam grande comprometimento da integridade física da vítima. Já as lesões graves estão relacionadas às agressões que levam à impossibilidade da mulher de realizar seus afazeres cotidianos, que 17 18 que prejudicam permanentemente algum membro ou órgão, que favorecem o desenvolvimento de doenças consideradas incuráveis e que podem provocarperigo de morte. Considerando uma mulher grávida, a antecipação do parto e o aborto também são consideradas lesões graves em decorrência da violência física. Quanto ao local de dano, geralmente as regiões de cabeça e pescoço são as mais atingidas, destacando-se a face. A escolha pela face pode ser explicada pelo agressor querer expor a lesão e causar humilhação à vítima, o que implica a intenção de comprometer a beleza feminina. As agressões aos membros superiores podem também estar correlacionadas à tentativa da mulher em se proteger dos ataques, utilizando as mãos e braços para impedir que lesione o rosto. Além disso, outras regiões do corpo também podem ser atingidas, como membros inferiores, abdome e costas. As lesões mais comuns evidenciadas devido à violência física são os hematomas, escoriações, luxações e lacerações. Em relação às doenças decorrentes da resposta inflamatória e imunológica, pode haver desenvolvimento da obesidade, crises da gastrite e úlcera, além de aumento da pressão arterial e dores no corpo. Dessa forma, a violência contra a mulher é concebida como um problema de saúde pública, haja vista que compromete a saúde física e emocional da mulher, além de que, por muitas vezes as agressões serem recorrentes, pode haver demasiados gastos ao serviço de saúde. 3.2. Violência Psicológica Definida pela Lei Maria da Penha, a violência psicológica é caracterizada por atitudes que resultam em danos ao âmbito emocional. Dessa forma, o agressor pode fazer o uso de várias técnicas, tais como a ridicularização da vítima, chantagem, episódios de humilhação, bem como desrespeito às crenças, controle de outros vínculos sociais e principalmente manipulação das ideias, com o intuito de manter o controle sobre a situação. AUTORA Raphaela Ferreira de Sousa A cultura é um compartilhamento de ideias, símbolos e valores por uma sociedade. Ela é formada artificialmente pelo homem, de uma forma não natural. O termo cultura do estupro tem sua origem na década de 70, quando mulheres feministas passaram a utilizá-lo para descrever situações e ambientes onde a violência contra a mulher e o estupro eram normalizados. Dizer que tal atitude faz parte da cultura, caracteriza-a como regra e não como exceção, deixando a ação normalizada pela atividade humana. Logo, a perpetuação da cultura do estupro ocorre devido a manutenção e normalização de ideias machistas vindas de uma sociedade patriarcal, como por exemplo o consumo de músicas que infamam a mulher, piadas sexistas, a culpabilização da vítima e a tolerância a violência contra a mulher. Violência sexual pode ser caracterizada por uma violência de gênero, em que ocorre um abuso de poder no qual a vítima, sem seu consentimento, é usada como forma de gratificação sexual do agressor, com ou sem violência física. Estupro, tentativa de estupro, sedução, aten- 19 Recentemente, as mulheres tiveram uma conquista muito importante no combate à violência psicológica com promulgação da Lei n°14.188, de 28 de julho de 2021, que institui a pena de 6 meses a 2 anos e multa aos abusadores. Nesse sentido, a identificação da violência psicológica contra a mulher por profissionais da saúde se tornou ainda mais importante, dado que é a forma de abuso mais prevalente entre as usuárias da Atenção Primária e, agora, é reconhecido criminalmente. Ainda, cabe elencar, que esse tipo de violência pode ser não percebido pelas pessoas do convívio da vítima. No entanto, é necessário que todo profissional da saúde esteja atento, pois a abordagem precoce ajuda a prevenir outros tipos de violência. 3.3. Violência Sexual e Cultura do Estupro AUTORA Marcela Silveira Freitas Drumond 20 tado violento ao pudor e assédio fazem parte da violência sexual. Tal situação pode acabar gerando em suas vítimas problemas de saúde física, reprodutiva e até mesmo psicológica. Na maioria das vezes, as vítimas passam a apresentar problemas que se estendem para além das consequências imediatas dos atos vivenciados, por isso, uma abordagem interdisciplinar é crucial. Os agressores podem ser conhecidos, desconhecidos, e até mesmo familiares. Com muita frequência os autores das agressões contra a mulher são parceiros, maridos ou namorados. A magnitude e a frequência da violência sexual são difíceis de se estimar, pois em muitos casos, as vítimas não denunciam seus agressores, seja por vergonha, sentimento de culpa ou até mesmo medo de represália. Como a agressão cursa com diversas consequências, é imprescindível que a vítima procure o atendimento à saúde para que todas as medidas cabíveis sejam tomadas em prol da saúde de sua saúde, tendo em vista que o ato pode trazer diversas ameaças a saúde, como por exemplo infecções do trato reprodutivo, infecções sexualmente transmissíveis e a chance de gravidez. 3.4. Violência Patrimonial Entre os tipos de violência descritos na Lei Maria da Penha encontra- se a violência patrimonial. Trata-se, então, de: [...] qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades. (BRASIL, 2006) As ações de violência patrimonial podem aparecer no controle do dinheiro da mulher, na destruição de seus documentos e objetos pessoais, em deixar de pagar a pensão alimentícia, em furtos, estelionatos e privação de seus bens, além de outras formas. (Instituto Maria da Penha) AUTORA Juliana Garcez Silva Carvalho 21 Ainda, esse tipo de violência pode passar despercebido, e alguns sinais para se atentar são a troca de senhas do banco, a destruição de objetos da mulher ou negar acesso ao dinheiro do casal. A violência patrimonial também pode ocorrer em momentos de término ou brigas, de forma que muitas mulheres sem independência financeira ficam presas naqueles relacionamentos, sem meios de conseguirem sair, fato este que é reforçado pelas estruturas sociais de desigualdades de gênero. Por fim, é importante salientar que este tipo de violência é um crime, e o agressor pode (e deve) ser denunciado. 3.5. Violência Moral Define-se honra como um conjunto de atributos morais, físicos e intelectuais de um ser humano, que o fazem merecedor de respeito no meio social e promovem sua autoestima, sendo inerente a todo ser humano. Três são os crimes contra a honra previstos pelo Código Penal: calúnia (art. 138), difamação (art. 139) e injúria (art. 140). A Lei Maria da Penha (nº 11.340/2006) em seu artigo 7º, inciso V, tipifica a violência moral da seguinte forma: “V – A violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria”. É um crime com prazo decadencial, ou seja, perde a efetividade se não requerido no prazo legal (no caso, 6 meses) e necessita de representação, o que diz que somente se a vítima tiver interesse em ver o autor do crime processado e julgado é que o Ministério Público dará continuidade aos trâmites. Essa violência, por se tratar de um crime contra a honra, pode ser considerado algo subjetivo, pois vai nortear-se através dos próprios princípios da vítima, sendo sempre necessário na abordagem médico- paciente compreender particularidades como religiosidade, crenças, questões éticas, além do histórico cultural baseado na submissão do papel da mulher dentro do ambiente doméstico e no meio social. AUTORA Eveline de Oliveira Frota Ao falar em Saúde Pública, é notória a importância de se entender os fatores que levam à prática de alguma forma de violência. No âmbito doméstico, a violência contra a mulher configura o agravo de uma desigualdade social, cujo respaldo está na construção histórica das relações interpessoais, no qual a atribuição da mulher é pautada em ações de subordinação. Dessa forma, factualmente, as questões de gêneroimpuseram um papel inferior à mulher, incitando condições desiguais e diversas formas de violência, seja ela psicológica, verbal, financeira ou física, como a sexual. A violência doméstica e o relacionamento abusivo são situações que, na prática, expõe uma falha social e configuram um perfil epidemiológico que afeta a saúde da população. Essas formas de violência são abusos cometidos por pessoas próximas à vítima, dentro de sua casa, pelos parceiros ou familiares. Após o ocorrido, as vítimas de agressão demonstram resistência em procurar a ajuda e fazer a denúncia. Seus medos permeiam uma retaliação por parte do agressor – no caso da violência doméstica, é alguém conhecido –, vergonha, medo, sentimento de culpa e/ou merecimento, provável exposição, além da dependência emocional e financeira do parceiro agressor, dentre outros diversos motivos. Nesse contexto, a Atenção Primária à Saúde (APS) é de suma importância para o reconhecimento da violência e posterior combate dessa mazela social. De frente ao exposto, infere-se que, após os episódios de violência 22 Acusações de traição, críticas mentirosas, exposição da vida íntima, xingamentos que incidem sobre a sua índole, desvalorização da vítima sobre seu modo de vestir, emitir juízo moral sobre suas condutas são exemplos de violência moral que fazem parte do cotidiano de mulheres. Isso afeta o seu bem-estar, saúde e equilíbrio, necessitando de um olhar atento por parte da rede de apoio e dos profissionais de saúde. 3.6. Violência Doméstica e Relacionamento Abusivo AUTORA Luana Martins Ribeiro episódios de violência, a vítima busque atendimento em algum serviço de saúde, seja para reparar danos físicos quanto psíquicos. Tal quadro relatado exige que os profissionais de saúde estejam preparados para atender a vítima e tenham sensibilidade para conduzir o caso da melhor maneira para a paciente. O olhar do profissional da saúde deve ser treinado para que tenha a capacidade de entender a mulher como um todo complexo, além do que foi verbalizado explicitamente. A linguagem corporal, as lacunas na explicação do ocorrido, o olhar da vítima e o tom da fala devem ser analisados para que possam incorporar a percepção que o profissional da saúde tem da pessoa que busca o atendimento. Dessa forma, a atenção primária detém um leque de profissionais que devem estar dispostos a combater esse tipo de violência. O Agente Comunitário de Saúde (ACS), os psicólogos, os enfermeiros e os médicos, ao atender a vítima de violência doméstica, devem ter a postura adequada ao caso. Identificar o ocorrido, conversar com a vítima, acolhê-la e apoiá-la são atitudes essenciais nesse primeiro momento. Deve-se abordar o caso de forma que a vítima entenda que a culpa não é dela e que existem mecanismos legais que a defende. Após o reconhecimento do ocorrido, é obrigatória a notificação à autoridade sanitária do local. Assim, deve-se orientar a mulher a fazer uma denúncia em uma delegacia, caso ela deseje e com caráter facultativo, lembrando-a da Delegacia da Mulher, cujo princípio envolve o acolhimento da vítima. Em casos especiais de violência física, orientar para a realização do exame de corpo de delito. Porém, para as situações em que há resistência em fazer a denúncia, o profissional da saúde pode informar sobre a Central de Atendimento à Mulher, “Ligue 180”, cuja ligação é gratuita e disponível 24 horas. Um meio para analisar as formas de violência que chegam à Unidade Básica de Saúde (UBS) é a Ficha de Notificação Individual de Violência Interpessoal/Autoprovocada, que foi implementada em 2006 pelo Plano Nacional de Redução de Acidentes e Violências. Deve ser preenchida pelo profissional da saúde após a confirmação ou suspeita de violência - nesse caso, 23 24 nesse caso, a violência doméstica. De forma contrária ao objetivo do plano, a subnotificação ou notificação inconclusa dos casos é uma realidade no Brasil. Como consequência, institui-se uma visão errônea do quadro epidemiológico da região e do país, desestimulando campanhas e ações de combate à violência doméstica e aos relacionamentos abusivos. Outro ponto essencial durante a abordagem da vítima, além do acolhimento inicial, é a importância do atendimento psicológico com um profissional qualificado. A mulher precisa ser atendida de forma integral e humanizada, sanando todas as suas demandas dentro de sua realidade. Todo processo de combate à violência de gênero é difícil. Envolve ciclos de naturalização e aceitação de diferentes formas de agressão e subordinação da mulher. O reconhecimento da violência como tal, a denúncia e o acolhimento da vítima são essenciais para o início da quebra de um comportamento. Ao ajudar uma mulher e dar voz ao seu relato, a Atenção Primária à Saúde estará cumprindo seu papel, contribuindo para a saúde pública e zelando pela comunidade adscrita. 3.7. Violência Obstétrica AUTORA Livia Nardelli Araújo Violência por negligência: negar atendimento ou impor impedimentos para que a gestante não receba a atenção adequada e os serviços que são garantidos por lei, como por exemplo o direito a X consultas pré natais e o direito ao acompanhante durante o momento do parto, a fim de garantir a saúde da mãe e do bebê... .pp. A Constituição Brasileira de 1988 garante, em seu artigo 6º, o direito à saúde, ao lazer, à proteção à maternidade e à infância e à convivência familiar, a todos os brasileiros. Tal artigo protege a mulher de qualquer ofensa, de forma verbal ou física, praticada pelo médico, pela equipe do hospital, por um familiar ou acompanhante, durante a gestação, no momento do trabalho de parto, no período de puerpério ou recuperação pós abortamento. A violência obstétrica pode ser dividida em vários subtópicos, tendo todos eles em comum o desrespeito à mulher: Violência física: contemplam práticas e intervenções desnecessárias, sem o consentimento da mulher. Destacam-se aplicação do soro com ocitocina, lavagem intestinal, privação da ingestão de líquidos e alimentos, exames de toque em excesso, ruptura forçada da bolsa, raspagem dos pelos pubianos, imposição de uma posição de parto, não oferecer alívio para dor (seja ele natural ou medicamentoso), realização de episiotomia ou uso de fórceps sem indicação médica e cesariana sem indicação e consentimento da mulher. Violência verbal: contempla humilhações verbais, desconsiderações das necessidades e dores da mulher. Dentre das frases mais escutadas por mulheres incluem: “NÃO CHORA NÃO QUE ANO QUE VEM VOCÊ ESTÁ AQUI DE NOVO”, “NA HORA DE FAZER NÃO CHOROU, POR QUE ESTÁ CHORANDO AGORA?”, “SE GRITAR EU PARO AGORA O QUE EU ESTOU FAZENDO, NÃO VOU TE ATENDER”, “SE FICAR GRITANDO VAI FAZER MAL PRO SEU NENÉM, SEU NENÉM VAI NASCER SURDO”. Violência psicológica: toda e qualquer ação verbal ou comportamental que cause a mulher sentimento de culpa, inferioridade, abandono, medo, instabilidade emocional ou insegurança. Violência obstétrica em casos de abortamento: consiste na negação ou demora ao atendimento, questionamentos e acusações sobre a causa do aborto e até mesmo culpabilização e denúncia da mulher. Desde 2011 o Ministério da Saúde disponibiliza a Rede Cegonha, que tem o objetivo de reduzir a mortalidade materna e infantil e garantir os direitos sexuais e reprodutivos de mulheres, homens, jovens e adolescentes, proporcionando às mulheres saúde, qualidade de vida e bem estar durante a gestação, parto, pós-parto e o desenvolvimento da criança até os dois primeiros anos de vida. Além disso, a caderneta da gestante é um instrumento distribuído e reconhecido na rotina de pré-natal dos serviços de saúde que realizam ..... 25 acompanhamento da gestação pelo SUS, que permite à gestante o fácil acesso aos direitos de atendimento, trabalhistas, legais, dentre outros. É importante realizar a denúncia em casos de violência obstétrica.Para realizá-la deve-se reunir todos os documentos: prontuário médico (fornecido pelo hospital ou unidade de saúde, sem custo), cartão da gestante, plano de parto, exames, contratos e recibos (quando na rede privada); além de redigir um relato detalhando o que sofreu, como se sentiu ao sofrer isso e quais as consequências dessa violência. A denúncia pode ser feitas nas secretarias Municipal, Estadual ou Distrital, CRM (Conselho Regional de Medicina) quando se tratar de profissional médico ou COREN (Conselho Regional de Enfermagem) quando a abordagem violenta venha de enfermeiro ou técnico de enfermagem. Denúncias também podem ser feitas pelo número 180 ou pelo Disque Saúde 136. 26 3.8. Violência Cibernética AUTORA Isabela Miranda Caldas O surgimento da internet e a facilidade de acesso, consumo e propagação de informações trouxe para as mulheres uma nova categoria de medo: ter sua imagem injuriada para milhares de pessoas, em questão de segundos. Segundo dados da ONG SaferNet, os crimes cibernéticos contra mulheres foram os que mais cresceram nos anos de 2017 e 2018, com aumento de 1.600%. A violência contra a mulher, infelizmente muito recorrente no mundo real, ganhou novos formatos na rede, mas se baseando no mesmo princípio: A busca do homem pela reafirmação do seu poder sobre o corpo e a autonomia feminina. Dessa vez, através de ameaças que em sua maioria, estão ligadas à exposição de conteúdos íntimos como fotos e vídeos sexuais, sem o consentimento da vítima, quando feitas na intensão de punir a mulher, é descrito como crime de pornografia de vingança e, quando feitas para extorquir financeiramente a vítima, é chamado de sextorsão. 27 Outros tipos de violência na rede de computadores também comuns, são o estupro virtual, em que o autor do crime ameaça e chantageia a vítima, exigindo favores sexuais como despir-se em uma chamada de vídeo, e a perseguição online, que é uma forma de violência psicológica em que o agressor, ao invadir a privacidade da mulher envia mensagens e expõe boatos e fatos sobre a vítima nas redes. A violência cibernética contra a mulher, apesar de não ser algo recente, demorou a alcançar a visibilidade necessária para ser tratada como crime. Foi somente em 2012, após uma atriz global ter sido vítima desse tipo de abuso, é que foi criada no Brasil a primeira lei que defende mulheres contra crimes cibernéticos. A Lei Carolina Dieckmann tornou crime a invasão de computadores e aparelhos eletrônicos com finalidades ilícitas, mas foi somente no ano de 2018, que a Lei nº 13.718/18 deixou claro a criminalização de divulgação de foto, vídeo ou cena de sexo, nudez ou pornografia sem o consentimento da vítima. 3.9. Feminicídio AUTOR Ackel Stannier Souza Reis O Feminicídio, Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015, trata-se de homicídio contra a mulher por razões da condição de sexo feminino. A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve: violência doméstica e familiar e/ou menosprezo ou discriminação à condição de mulher. Em primeira análise, é indispensável salientar que o feminicídio tem como base conceitual a definição de crime de gênero que se perpetua sobre as mulheres na sociedade de modo geral. Assim, o feminicídio é o ápice que finda a vida de mulheres, sendo a etapa final de uma sequência de negligências que o meio social tem para com os seres humanos do sexo feminino. Desse modo, diversos tipos de agressões podem levar aos homicídios de mulheres, incluindo agressões de caráter físico, psicológico, sexual e patrimonial, que podem culminar nas mortes de indivíduos do sexo ............ 28 feminino, que têm como agente potencializador o despreparo do Estado em buscar alternativas que possam sanar esse infortúnio e uma sociedade que se molda no machismo e nas bases patriarcais de submissão do gênero feminino. Portanto, o assassinato de forma intencional de mulheres por ações de homens que se empoderam de conceitos sociais errôneos e do poder biológico que possuem é a principal forma de violência contra as mulheres, que pode gerar em muitas das vezes a morte dessas. Ademais, há três vertentes que necessitam serem identificadas e compreendidas para que se possa ser realizada uma melhor análise no tocante geral do feminicídio, dentre elas há a vertente “genérica” que busca reconhecer que uma das causas centrais é a discriminação pela desigualdade de gênero, a vertente “específica” que analisa de forma singular a compreensão de cada fator que levou a ocorrência desse crime e a “judicializada” que expõe de forma coerente uma maior necessidade da avaliação acerca do tratamento e da punição devida aos infratores, debatendo a judicialização desse crime. 4. MACHISMO 29 AUTORA Luísa Chaves Simões Silva 30 Machismo é definido pela discriminação e recusa à igualdade de direitos entre homens e mulheres e a reprodução de violências de gênero. O machismo é um sistema de representações simbólicas que oferecem modelos de identidade tanto para o sexo masculino quanto para o feminino. A sociedade brasileira foi historicamente construída com base em uma cultura machista e misógina, pondo sempre a mulher em uma posição secundária. Sendo assim, o machismo pressupõe que há um único detentor de todo o respeito e reverência: o macho. Essa submissão do feminino ao masculino é o que chamamos de machismo, oferecendo modelos de identidade e de postura para ambos os sexos, assim como um ideal a ser atingido por todos os homens e acatado ou invejado pelas mulheres. Esse sistema privilegia os homens ao longo do tempo em diferentes áreas da vida por não estar em igualdade com as mulheres, o que resulta em movimentos e lutas feministas, em busca da igualdade entre os gêneros. Há fatores considerados condicionantes da violência: opressões perpetradas pelas desigualdades de ordem econômica, machismo, instituições discriminatórias à mulher e efeitos da educação que privilegia o gênero masculino em detrimento ao feminino. Sendo assim, ao discutir violência contra a Mulher, faz-se necessário destacar que é um debate também sobre o machismo, fator importante relacionado às várias formas de violência. Na perspectiva da Atenção Primária à Saúde é fundamental considerar essas questões sociais e culturais, tanto na identificação, na abordagem e na prevenção. 5. RECORTES SOCIAIS 31 32 5.1. Feminismo AUTORA Luana Maria Pereira Galdino O feminismo surge como um movimento político e coletivo de luta das mulheres por direitos civis e por emancipação, decorrente do reconhecimento da opressão sofrida, a separação desigual dos poderes e a evidência de que as desigualdades nas relações entre entre homens e mulheres não estão inscritas na natureza e sim na sociedade. Dessa forma, o movimento feminista rompe ideologias politicas, econômicas, sociais e culturais, ou seja, ultrapassa os moldes de organização tradicionais, mediada pela desigualdade e pelo autoritarismo. Em virtude disso, o feminismo não pende somente sobre uma questão específica, uma vez que as relações de gênero permeiam toda a sociedade e seus impactos não estão subjugados somente às mulheres. Diante disso, o feminismo expôs que a integralidade corporal, autonomia pessoal, igualdade e diversidade são componentes vitais para a transformação democrática da sociedade e para a extinção de desigualdades. A partir disso, as mulheres assumem a posse acerca das decisões em relação ao seu próprio corpo e da sua vida, tornando favorável o livre exercício da sua sexualidade. AUTORA Joyce Beatriz Pasqualotto Reis Borges 5.2. Raça e Etnia A violência contra as mulheres não se restringe a uma questão de gênero, somente. Quando se analisa a formação da sociedade no Brasil, a raça - definição quanto características fenotípicas, como a cor da pele - e a etnia - que envolve fatores culturais, como a nacionalidade,religião, língua e tradições - produziram hierarquias, que, juntamente com o gênero, determinaram como certo grupo se comportaria e o modo como ele é visto. A objetificação da mulher, principalmente negra, parda e indígena, e sua inserção desigual nas relações sociais é histórica. Desde os tempos do Brasil Colônia, essas mulheres sofrem inúmeros tipos de violência e exploração, além de serem objetos de prazer disponíveis fruto de uma hiperssexualização em um meio machista. 33 No contexto atual, depois de muitos avanços através de ações de movimentos feministas e o estudo da interseccionalidade entre raça, etnia e violência de gênero, os dados ainda são alarmantes. O Atlas da Violência (IPEA, 2020) informou que, em 2018, 68% das mulheres assassinadas no país eram negras. Ainda, entre 2008 e 2018, a taxa de homicídios de mulheres brancas caiu 11,7%, enquanto a taxa entre as mulheres negras aumentou 12,4%. Além disso, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, a violência contra mulheres, independentemente de sua raça ou etnia, aumenta o risco de problemas de saúde. Há relatos que correlacionam vítimas de violência e o desenvolvimento de doenças como alergias, dores pélvicas, irregularidade menstrual, complicações gestacionais e aborto, além de repercussões psíquicas evidentes. Esses problemas são mais evidentes em mulheres negras, pardas e indígenas vítimas de violência, que tem sua autopercepção em saúde classificada como regular, ruim ou muito ruim após o episódio de agressão sofrido, enquanto mulheres brancas permanecem com uma autopercepção boa ou muito boa. Por mais difícil que seja mensurar consequências, elas podem se manifestar como dificuldade de acesso aos serviços de saúde, que, associado ao fato de mulheres negras, indígenas ou pardas possuírem menor escolaridade, serem trabalhadoras informais e residentes em ambientes insalubres, ampliam os determinantes do processo saúde- doença tornando o atendimento primário na atenção básica mais complexo. Cabe ressaltar que a análise aqui abordada discute com mais afinco a interseccionalidade de raça - quanto caráter biológico - e a violência de gênero. Quando se volta à etnia, embora muitas vezes confundida com raça, há um conceito mais ampliado que compreende fatores culturais, como a nacionalidade, religião e língua. Dessa forma, quando se nasce mulher e negra, indígena ou parda, além da herança genética, elas carregam uma herança cultural que as colocam num estereótipo e perfil mais violentados no convívio social, principalmente nas relações familiares. Por outra perspectiva, diante do aumento do número de migrantes no Brasil (haitianos, senegaleses, venezuelanos, entre outros), a relação da etnia e violência de gênero se torna ainda mais necessária para ultrapassar obstáculos culturais e linguísticos e melhorar a assistência à saúde dessas mulheres, muitas vezes negligenciada. À luz desse contexto, a maior vulnerabilidade de mulheres negras, pardas, indígenas e de múltiplas etnias torna imprescindível a discussão e problematização de todos os tipos de violência contra a mulher e seus fatores associados. Dessa forma, a sociedade seguirá em um caminho rumo à diminuição das disparidades de cor e gênero e melhoria no atendimento em saúde dessa população. AUTORA Lia Prudente Guimarães Arantes 5.3. Classe O mito de que a mulher de baixa renda e com pouca escolaridade é a única a sofrer violência doméstica deve ser desfeito. Segundo Cavalcanti, não é possível traçar um perfil exato da vítima e do agressor porque a violência doméstica está presente em todas as classes sociais. Estudos mostraram que 42,6% de mulheres atendidas em hospitais do Rio de Janeiro por violência doméstica tinham renda familiar entre um a três salários mínimos. Entretanto, deve-se considerar que em famílias de rendas maiores, os casos de violência são ocultados por advogados e muitas vezes não são denunciados como crime. Outro estudo realizado em parceria entre o DataPopular e o Instituto Avon mostrou que entre os homens entrevistados pertencentes a classe alta, 59% admitem ter realizado algum tipo de agressão contra mulher, enquanto que da classe média 55% e da baixa 53% admitem. Portanto, o recorte social de classe é muito importante de ser analisado pois a violência contra a mulher é um problema amplamente disseminado em todas as classes sociais que envolve questões culturais e históricas. 34 O conceito de trans ou transgênero equivale aos que não se identificam com seu sexo desde o nascimento, sendo eles homens trans, mulheres trans e travestis. Há 17 anos, a data 29 de janeiro tornou-se o dia da visibilidade trans no Brasil, a partir de um manifesto realizado por toda a comunidade denominada transexual, em frente ao Congresso Nacional, em Brasília, com intuito de lançar a campanha “TRAVESTI É RESPEITO”. O dilema que as pessoas trans sofrem é diário, a identificação pessoal e o julgamento da sociedade criam um debate sobre como lutar de forma efetiva para quebrar paradigmas enraizados na cultura em que vivemos. As pessoas são treinadas para entender que o que define o homem e a mulher são critérios da anatomia corporal e a compreensão de conceitos diferentes trava um transterrorismo, impedindo a libertação daqueles que possuem uma identidade psicológica diferente da sexual. Com os estigmas psicológicos e sociais colocados diretamente sobre esses indivíduos, a falta de políticas públicas destinadas às necessidades de pessoas TGNC (“transgender and gender non-conforming children”, ..... 35 No contexto atual, as consequências da pandemia de COVID-19 sobre a renda familiar dos brasileiros impactou nos índices de violência contra as mulheres. O estudo “Visível e Invisível: A vitimização de mulheres no Brasil” realizado pelo Datafolha e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostrou que dentre as mulheres que sofreram violência doméstica 25% afirmaram que a dificuldade de garantir o próprio sustento seja por perda do emprego ou da renda foi o fator principal que contribuiu para o episódio de violência que sofreram, enquanto que 22% afirmaram que o motivo foi a maior convivência com o agressor. Além disso, dentre as mulheres que vivenciaram violência doméstica, 62% relataram piora nas condições de vida e dentre as que não sofreram, a proporção foi de 50%. 5.4. Gênero AUTORAS Danielle Souza Reis e Amália Dias dos Santos 36 que significa: crianças transgêneras e em desconformidade de gênero) cria dificuldades significativas para elas/eles. Com isso, a violência, o isolamento, repressão comunitária, evasão escolar e a defasagem no apoio familiar se tornam uma realidade presente no cotidiano desses indivíduos, normalmente sendo algo naturalizado pela sociedade. Destarte, após um longo período de aversão a essa comunidade, principalmente ofertada pelos sistemas governamentais e autoritaristas, a nova conjuntura formada, oferecia mudanças que agregariam melhorias efetivas, melhorias essas, tanto emocionais, como físicas e principalmente que recolocariam a comunidade transgênero em um novo pilar social. A luta pelo concebimento de direitos a esse grupo é tardia, mas muito válida. O Ministério da Saúde ajudou a estabelecer o Dia da Visibilidade Trans em 29 de janeiro de 2004, e assim no mesmo ano o Governo Federal criou o programa “Brasil sem homofobia”, fundou o comitê técnico para a formulação de proposta da política nacional de saúde de população GLTB (gays, lésbicas, traveis e bissexuais). Em 2008 foi instituído o Processo Transexualizador no SUS por meio da portaria GM/MS nº 1.707. Já em 2009, a carta dos direitos dos usuários do sus passou a assegurar o uso do nome social, independentemente do registro civil e em 2011 o Ministério publicou a Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT). Em 2013, houvea redefinição e ampliação do processo transexualizador no SUS, incluindo o atendimento a travestis e homens trans, pela portaria nº 2.803. E em 2016, o decreto nº 8727 determinou o uso do nome social e reconhecimento da identidade de gênero de pessoas travestis e trans no âmbito da administração pública federal direta, autárquica e fundacional. A partir disso, estabelecem-se as lesbofobias — diversas formas de opressão, subjetivas e objetivas, cujos objetivos são marginalizar, apagar, silenciar, invisibilizar e violentar tal grupo social em desacordo com a heteronorma. Essa violência sexual e de gênero pode se manifestar tanto no âmbito intrafamiliar, a partir do não acolhimento da orientação sexual das filhas por parte dos responsáveis; como no ambiente coorporativo, mediante importunações, perda de cargos pela orientação sexual, silenciamento, avisos com normas de comportamentos e apagamento ocasionado pela internalização da cisheteronormatividade. Também podem acontecer opressões na formação escolar e acadêmica, por meio de bullying e da negligência da coordenação ou dos responsáveis. É possível citar também a violência religiosa, cujo condenamento e demonização das práticas homossexuais femininas promovem conflitos familiares, emocionais, sociais e espirituais, na medida em que afastam tais mulheres de uma necessidade humana que é a espiritualização. Além das violências já citadas, evidencia-se o estupro corretivo — aquele em que uma ou mais pessoas estupram mulheres lésbicas, supostamente como forma de "curar" sua orientação sexual. Tal prática além de reforçar o ideal de algo patológico necessitado de cura, nega as identidades lésbicas, de modo a configurar-se causa específica de aumento de pena dos crimes de estupro. Outra violência mais cruel é o próprio lesbocídio: assassinato de mulheres lésbicas como forma de aniquilação dessas identidades em detrimento de uma plena aceitação social desse grupo como sujeitos em igualdade de direitos e deveres constitucionais. 37 Lesbofobia: Lésbicas e outras mulheres que se relacionam afetiva e/ou eroticamente entre si sofrem dupla opressão, o machismo e as violências decorrentes da divergência da cisheteronormatividade — sistema patriarcal e capitalista pautado na validação apenas de estruturas de expressão afetiva-sexual que se enquadrem em contextos heterossexuais, monogâmicos, cristãos, tradicionais e cisgêneros. Dessa forma, a lesbianidade configura-se a fuga do roteiro sexual tradicional imposto às mulheres como mecanismo de subordinação. AUTORA Maria Laura Mendes dos Santos Leal 5.5. Orientação sexual 38 Bifobia: a bifobia feminina caracteriza-se pela discriminação de mulheres que se relacionam afetiva e/ou sexualmente com mais de um gênero, tal violência difere daquela sofrida por lésbicas na medida em que as mulheres bissexuais sofrem opressões particulares e, na maioria das vezes, simbólicas e subjetivas. Isso porque são muito os estereótipos associados a bissexualidade feminina, tais como a promiscuidade, estigma favorecedor da sexualização e fetichização dessas mulheres por homens. Pode-se citar também as violências ocasionadas pela invisibilidade, pois, na visão errônea dos bifóbicos, essas mulheres estariam apenas passando por uma fase indecisa a fim de chamar atenção, já que para eles a bissexualidade inexiste. Essa invisibilização pode ser definida como um processo de apagamento social dessas identidades, repercutido na ausência de representação nas mídias comunicativas, nos ambientes sociais coletivos, no entretenimento, nas próprias organizações LGBTQIA+, na abordagem à saúde digna e, sobretudo, na computação de dados sobre bifobias. As poucas investigações tangentes às opressões sofridas por essas mulheres vai de encontro à urgência da abordagem da temática, visto que, segundo uma pesquisa estadunidense sobre violência, mulheres bissexuais são mais frequentemente vítimas de violências sexuais que outros grupos de mulheres, por exemplo. Além disso, configura-se imprescindível citar e discutir nos espaços coletivos as bifobias sofridas por mulheres trans e travestis que se identificam como bissexuais. Isso porque as questões deste grupo demográfico não se restringem à sua identidade de gênero, mas também dizem respeito às demandas vivenciadas pela sua orientação sexual. Logo, ratifica-se a necessidade de analisar as opressões nas relações sáficas com recortes de gênero, sexualidade, identidade de gênero, etnia e classe, visto que as interseccionalidades são diversas. Violência sáfica nos relacionamentos: é preciso romper o mito da inexistência de violência nas relações afetivas e/ou sexuais entre mulheres, pois tal grupo também é influenciado por valores patriarcais e ... 39 machistas. Assim, é comum observar casais sáficos com dinâmicas cisheteronormativas internalizadas, nas quais, geralmente, uma mulher assume pra si o papel de “homem da relação” e passa a reproduzir opressões de gênero no cotidiano e nas performances do casal. Por isso é importante que mulheres sáficas vítimas de violência conjugal não se silenciem e busquem uma rede de apoio. Ademais, convém relatar as violências sofridas por mulheres bissexuais em seus relacionamentos com lésbicas decorrentes do estigma social de promiscuidade socialmente atribuído à bissexualidade feminina. Isso porque, corriqueiramente, as bissexuais sofrem rejeição por parte de algumas lésbicas, cuja visão preconceituosa tangente à bissexualidade as fazem acreditar que a bissexual irá trocá-la a qualquer momento por um homem ou que essas mulheres são “sujas”, pois transam com a população masculina e “trazem doenças” para a comunidade lésbica. Saúde da mulher sáfica: A negligência da saúde de mulheres que se relacionam com mulheres enquadra-se como lesbofobia, pois acarreta deficiências no rastreamento de câncer de colo uterino e de mama, ausência de informações corretas sobre sexo seguro e descuidos a respeito do planejamento reprodutivo dessas mulheres. Essa ineficiência no atendimento ocorre pelo fato de os profissionais de saúde possuírem uma formação acadêmica incompleta que desconsidera a saúde sexual de mulheres divergentes da cisheteronormatividade. Convém apontar também as dificuldades no atendimento à saúde psicológica, já que a lesbofobia e a bifobia são violências, por si só, fragilizadoras do emocional de mulheres não heterossexuais. Aliado a essas discriminações, observa-se que tais empecilhos não apenas retardam a melhoria da saúde mental, como podem ser também caracterizados como uma violência simbólica. Isso porque são poucos os profissionais capacitados para lidar com as vivências dessas mulheres, cujas demandas são, muitas vezes, relativizadas e questionadas em detrimento da construção de um ambiente de apoio assistencial efetivo e seguro. 40 Desta maneira a antropóloga Debora Diniz define em seu livro “Cadeia: relatos sobre mulheres” o perfil das mulheres presas em uma penitenciária no Distrito Federal, após seis meses de convivência. Tal definição pode ser ampliada à outras penitenciárias do Brasil, à outras mulheres em situação de vulnerabilidade social; mulheres que são privadas não somente de sua liberdade, mas também de seus direitos e qualidade de vida. “Assim, se há um universo oculto no presídio, ele se manteve desconhecido mesmo após meu longo trabalho de campo. Do que conheci, posso dizer que o presídio é uma máquina de abandono para a qual os sentidos da violência são múltiplos. Uma mulher ao atravessar o grande portão principal em um cubículo de camburão jamais será a mesma. Não importa se permanecerá no presídio como sentenciada ou se a estadia será provisória. O abandono é a cena final de um rito de vida que teve início na casa ou na rua. As mulheres do presídio são muito parecidas – pobres, pretas ou pardas, pouco escolarizadas, dependentes de drogas,cujo crime é uma experiência de economia familiar. Não são apenas mulheres presas quem conheci, mas famílias de pessoas presas. O principal crime é a categoria ambígua de “tráfico de drogas”. Não conheci uma traficante semelhante a líder de facção criminosa, talvez uma característica do tráfico na capital ou, quem sabe, da traficante dos presídios do país. Elas eram mulheres comuns, donas de casa, ambulantes ou empregadas domésticas, que um dia resolveram levar drogas no corpo para os maridos ou companheiros no presídio masculino. Ou que acharam possível esconder um pacote de cocaína embaixo da cama, ou vender pamonha com maconha.” 5.6. Em privação de liberdade AUTORA Fernanda Alves Martins No dia 06 de julho de 2015 foi promulgada a Lei nº 13.146, a qual determinou a criação da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com . 41 A jornalista Nana Queiroz retrata em seu livro “Presos que menstruam: a brutal vida das mulheres – tratadas como homens – nas prisões brasileiras”, as diversas violências que sofrem as reclusas no seu dia a dia. Desde questões mais gerais como a higiene pessoal – a autora cita em seu livro que, em geral, cada mulher recebe por mês dois papéis higiênicos e 16 absorventes, uma quantia insuficiente para os seus cuidados, recorrendo às vezes a miolos de pão durante o período menstrual – a questões mais específicas como a maternidade – as presas sofrem agressão física mesmo durante a gestação, é comum que não tenham atendimento pré-natal e não são tratadas com respeito durante o parto e o período de amamentação. Quando as crianças não são retiradas do cuidado materno precocemente, vivem em condições desumanas junto às suas mães, o que afeta diretamente seu desenvolvimento. Quando se fala em minorias no campo social, não se fala de uma minoria em números, mas de uma minoria de direitos. O termo é usado para referir-se a populações que são de alguma forma prejudicadas no contexto social em que vivem, que são privadas de bem-estar social, de sua autonomia; que perdem o caráter de ser humano. É necessário oferecer a essas mulheres confinadas em presídios aquilo que se oferece às mulheres que estão em condição de liberdade. Deve-se fornecer a elas acesso integral à saúde, de maneira que todas suas particularidades sejam respeitadas e suas queixas atendidas. O Estado, que pune essas mulheres de acordo com seus dispositivos legais, tem responsabilidade sobre as mesmas durante o cumprimento da pena, e portanto deve fornecer profissionais da saúde especializados no cuidado dessas mulheres, fiscalizar as condições do ambiente em que vivem e garantir o exercício de seus direitos, já que ser presidiária não lhes quita a condição de cidadã. AUTORA Iasmin Silva Campos 5.7. Com deficiência 42 Deficiência. Em seu Art. 5º, a lei descreve que “são considerados especialmente vulneráveis a criança, o adolescente, a mulher e o idoso, com deficiência”. Logo, a mulher com deficiência está em situação de maior vulnerabilidade. Em seu Art. 26, a lei define que “os casos de suspeita ou de confirmação de violência praticada contra a pessoa com deficiência serão objeto de notificação compulsória pelos serviços de saúde públicos e privados à autoridade policial e ao Ministério Público, além dos Conselhos dos Direitos da Pessoa com Deficiência”. A partir disso, a lei obriga o SUS a desenvolver ações destinadas à prevenção de deficiências por causas evitáveis, através da nutrição da mulher e da criança, por exemplo. Sabe-se que, além das mulheres com deficiência possuírem menos acesso à proteção contra violência sexual e outros tipos de violência, frequentemente são menos capazes de se defender. Geralmente os agressores são os responsáveis por prover o cuidado, ajuda física ou financeira e, com isso, há uma barreira para a denúncia, inclusive porque há uma tendência de que suas denúncias não venham a ter crédito e, também, por falta de acessibilidade para que essas informações cheguem ao Estado. Além disso, a situação da violência contra mulher com deficiência é agravada por falta de políticas e agendas que estejam voltadas para essas ações, pela omissão e baixa cobertura de procedimentos de socorro1. AUTORA Cinthia De Fátima Machado 5.8. Em situação de rua A população em situação de rua, conforme a Política Nacional para a População em Situação de Rua (PNPR) – 7.053/2009, pode ser definida como: Os principais motivos que levam os seres humanos até ás ruas são o desemprego, os vícios – álcool e drogas, as desavenças familiares e a violência. Além disso, destaca-se a intensa exclusão e invisibilidade social existente, sobretudo pelo modelo econômico vivenciado no século XXI, bem como pelas estruturas políticas-sociais que negam a garantia de direitos previstos na Constituição, como o acesso a saúde, transporte, moradia, educação e oportunidades. Estudos realizados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada no Brasil (IPEA) – ano 2020, estima-se a existência de cerca de 221.900 pessoas em situação de rua, sendo dessas cerca de 15% a 20% representadas por mulheres – o percentual é variável de acordo com a cidade, não existindo dados atualizados e disponíveis nacionalmente. Entretanto, embora sejam minorias na população de rua, segundo levantamento realizado pelo Ministério da Saúde (MS), as notificações de violência em indivíduos do sexo feminino foram cerca de 56% no ano de 2017, e embora as agressões entre homossexuais e bissexuais apresente cerca de 4%, evidencia-se que a maioria das notificações no que tange a identidade de gênero ocorre entre travestis e transexuais mulheres. A dificuldade em avaliar os dados reais acerca da violência sofrida pela mulheres em situação de rua ocorre principalmente pela defasagem de dados oficiais e atualizados desse grupo, bem como pelas subnotificações das brutalidades sofridas. Todavia, o que se pode inferir é que as mulheres em situação de rua estão mais expostas aos obstáculos e aos diversos tipos de violência, devido a situação de maior vulnerabilidade, como também à cultura patriarcal existente em nosso país. 43 [...] grupo populacional heterogêneo que possui em comum a pobreza extrema, os vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e a inexistência de moradia convencional regular, e que utiliza os logradouros públicos e as áreas degradadas como espaço de moradia e de sustento, de forma temporária ou permanente, bem como as unidades de acolhimento para pernoite temporário ou como moradia provisória (BRASIL, 2009). Cabe ressaltar que a forma de violência mais evidente é a física, e que apesar da existência das demais, essas são pouco nominadas, sendo reconhecida como algo sem relevância. Além disso, nota-se que as múltiplas formas de violência estão em todas as partes, gerando maior medo, insegurança e violação dos direitos. Dessa forma, quando se relata a violência contra as mulheres em situação de rua, observamos entraves, pois essas, vivem á margem da sociedade, são abandonadas, depreciadas tanto pela sociedade, quanto pelas políticas públicas. Nessa perspectiva, para além das dificuldades enfrentadas para combater e denunciar as violências, tais mulheres sofrem ainda mais pela falta de informação, apoio, direcionamento e impunidade ao agressor – que muitas vezes é desconhecido. Nesse sentido, ressalta-se que as estratégias de enfrentamento da violência contra mulheres em situação de rua, baseia-se principalmente no olhar dos profissionais que assistem esta população. Assim, é necessário que o conceito de cuidado perpasse a literatura e comece a existir no seu aspecto mais amplo. Desse modo, no que tange ao serviços públicos de acolhimento em casos de violência contra as mulheres em situação de rua pode-se destacar as Equipes de Consultórios de Rua, que é uma estratégia instituída pela Política Nacional de Atenção Básica em 2011.Nesse ambiente, oferta-se acolhimento, acesso os serviços básicos de saúde, ..... 44 *PSR: Pessoas em situação de rua Os diversos tipos e as formas de violências vivenciadas pelas mulheres em situação de rua são demonstradas no esquema a seguir: bem como ações juntamente com as Unidades Básicas de Saúde do território, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPSs), os serviços de Urgência e Emergência e os outros pontos de atenção da rede de saúde intersetorial. Além disso, tais consultórios são compostos por uma equipe multidisciplinar incluindo os profissionais do Nasf, o que permite maior atuação na temática de violência. Também, pode-se citar o Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop). Esses centros permitem o convívio social e o desenvolvimento de relações que envolvem a solidariedade, o respeito e a afetividade, o que permite a longitudinalidade e a criação de vínculo, garantindo um maior acesso às políticas públicas, aos direito e a confiabilidade de medos e receios, já que é possível realizar encaminhamentos, contatos, reuniões e articulações direcionadas a essa população, principalmente após a Resolução n° 2, de 27 de fevereiro de 2013 que define diretrizes e estratégias de orientação para o processo de enfrentamento das iniquidades e desigualdades em saúde com foco na População em Situação de Rua (PSR) no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Além disso, destaca-se as redes de atendimento às mulheres em situação de violência, que são a articulação entre as instituições/ serviços governamentais, não governamentais e a comunidade, que visa auxiliar, promover e prevenir casos de violência. Nesse sentido, a rede possui como tripé o combate, a prevenção, a assistência e a garantia de direitos como previsto na Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres. Desse modo, no que se refere aos serviços especializados existem Centros de Atendimento à Mulher em situação de violência, Casas Abrigo, Casas de Acolhimento Provisório (Casas-de- Passagem), Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (Postos ou Seções da Polícia de Atendimento à Mulher), Núcleos da Mulher nas Defensorias Públicas, Promotorias Especializadas, Central de Atendimento à Mulher - Ligue 180, Ouvidoria da Mulher, Serviços de saúde voltados para o atendimento aos casos de violência sexual e doméstica, dentre outros. 45 Contudo, apesar de existir meios para o processo de denúncia, a população em situação de rua encontra diversos empecilhos. Conforme PINTO (2019), em casos de adoecimento, a população busca inicialmente o atendimento nos hospitais de emergência, e as Unidades Básicas de Saúde. Porém, devido ao processo de discriminação, estigmatização e olhares preconceituosos, essas mulheres evitam buscar auxílios mesmo em caso de necessidade, inferindo-se que em casos de violência essas permanecem em silêncio e sem buscar auxílio. Diante disso, cabe considerar a necessidade da ampliação dos serviços especializados e da criação de ajuda diferenciada para essas mulheres, garantindo maiores informações, apoio e acolhimento humanizado, assegurando acesso às políticas a fim de evitar a perpetuação dos ciclos de violência. Assim, a articulação entre as esferas públicas torna-se fundamental, a fim de considerar a especificidade de cada mulher e o seu contexto histórico, já que a vida das mulheres vão além das ruas. Também é fundamental entender que embora seja um fenômeno social semelhante, existem singularidades que necessitam ser vistas e solucionadas, afinal, ninguém quer estar na rua, ninguém quer sofrer diversas formas de violências, e sim querem ser vistas, ouvidas, ajudadas. Por fim, tal realidade demonstra a necessidade de novas ações principalmente da Atenção Primária a Saúde, a fim de assegurar os direitos sociais das mulheres em situação de rua que vivenciam a violência. Sendo assim, é fundamental desenvolver mecanismos mais reflexivos e palpáveis, visando a organização de condutas conjuntas e efetivas. Assim, em um cenário brasileiro caótico e invisível para essas mulheres, desenvolver estratégias que possam acolher e solucionar a demanda dessas é iniciar o fim da perpetuação desses ciclos, e garantir quem sabe um pouco de esperança. 46 6. REDES DE APOIO 47 Centros de Referência de Atendimento à Mulher: Os Centros de Referência são espaços de acolhimento/atendimento psicológico e social, orientação e encaminhamento jurídico à mulher em situação de violência, que devem proporcionar o atendimento e o acolhimento necessários à superação de situação de violência, contribuindo para o fortalecimento da mulher e o resgate de sua cidadania. Como o setor de saúde é um dos espaços estratégicos para identificar mulheres e adolescentes em situação de violência, seu papel é essencial na definição e articulação dos serviços e organizações que, direta ou indiretamente, atendem situações de violência. É necessário que gestores de municípios e estados sejam ativos para a organização de redes integradas de atendimento, na capacitação de recursos humanos, na provisão de insumos e na divulgação dessa rede para o público em geral. É preciso que todos os serviços de orientação ou atendimento tenham pelo menos uma listagem com endereços e telefones das instituições componentes da rede, como tanto Unidades Básicas de Saúde quanto Hospitais podem ser porta de entrada para mulheres em situação de violência, é necessário que essas informações sejam de fácil acesso para profissionais e para as mulheres nessa situação. Essa lista deve ser do conhecimento de todos os colaboradores dos serviços, permitindo que as mulheres tenham acesso a ela sempre que necessário e que possam conhecê-la independentemente de situações emergenciais. Em 2010, o sistema de atendimento para mulheres em situação de violência foi reformulado. Anteriormente, os serviços e órgãos disponibilizados no sistema da rede de atendimento e no site da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) não eram categorizados, o que dificultava a busca de informações por parte dos usuários. Dessa forma foram criadas seis categorias gerais e especificados os conceitos dos serviços e órgãos listados no sistema. As principais categorias de Serviços Especializados de Atendimento à Mulher serão listados no próximo tópico, mas vale destacar 48 6.1. Saúde AUTORA Melissa Vieira de Moraes Agapito Serviços de Saúde voltados para o atendimento dos casos de violência sexual e doméstica: a área da saúde, por meio da Norma Técnica de Prevenção e Tratamento dos Agravos Resultantes da Violência Sexual contra Mulheres e Adolescentes, tem prestado assistência médica, de enfermagem, psicológica e social às mulheres vítimas de violência sexual, inclusive quanto à interrupção da gravidez prevista em lei nos casos de estupro. A saúde também oferece serviços e programas especializados no atendimento dos casos de violência doméstica. Embora todos os serviços de apoio estejam listados na Rede de Enfrentamento à Violência Contra às Mulheres, é preciso que os serviços de saúde, principalmente as Unidades Básicas de Saúde, que se constituem como porta de entrada, bem como pelo atendimento longitudinal e integral da sua população, disponibilizem o acesso facilitado aos endereços desses serviços no seu município e no seu estado. Pois a Rede de Atendimento à Mulher não pode ser apenas composta por serviços isolados, eles devem ser integrados, de forma que a UBS possa ser coordenadora do cuidado quando alguma mulher precisar utilizar esses serviços. Pelo contato próximo, a APS tem papel fundamental na identificação dos casos de qualquer tipo de violência contra a mulher, portanto, deve sempre capacitar os profissionais da equipe para o atendimento nessas situações, promovendo o acolhimento, o suporte e o referenciamento necessários. Desde 2003, através da Lei 10.778, tornou-se
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