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EFP 16 17 1. ESocial

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ECONOMIA	E	FINANÇAS	PÚBLICASII	PARTEFormas	de	intervenção	concreta	do	Estado	na	economia	portuguesaCapítulo 1	- O	Estado	Social
Elaborado	originalmente	por	Cristina	SousaCom	contribuições	de	Paulo	Marques
1
Programa
1. Estado	Social;
2. Políticas	públicas	na	área	do	mercado	de	trabalho;
3. Pensões;
4. Políticas	de	redistribuição	do	rendimento;
5. Educação;
6. Saúde;
7. Cuidados	de	Longa	Duração.
2
Capítulo1	- O	Estado	Social
1. Conceitos:	estado	social	e	tipos	de	benefícios.
2. Objetivos	do	estado	social.
3. Quem	são	os	beneficiários	do	Estado	Social?
4. Problemas	de	definição/avaliação.
5. Surgimento	e	evolução	do	estado	social.
6. Regimes	de	‘Welfare	State’.
7. Evolução	histórica	do	Estado	Social	em	Portugal.
8. Desafios	atuais.
3
1.	Conceitos	– Estado	Social,	modelo	social	e	tipos	
de	benefícios
• Ideia central: economia/sociedade onde o Estado
intervém deliberadamente na produção do bem-
estar social à perspectiva intervencionista e de
preocupação social
• ≠ “Estado liberal” àmelhor do que ninguém, cada
indivíduo sabe quais as suas próprias necessidades e
o melhor modo de as satisfazer (individualismo,
liberdade, mercado; “3 deveres do soberano”)
4
5
0
10
20
30
40
50
60
Antes	de	qualquer	
transferência	social
Após	transferências	relativas	
a	pensões
Após	transferências	sociais
%
Taxa	de	risco	de	pobreza*	em	Portugal	
2013	(p)
2009
2005
*percentagem de pessoas que tem rendimentos considerados baixos face à restante população, 
ou seja, que ficam abaixo do valor fixado para o limiar de risco de pobreza (60 % do 
rendimento nacional mediano por adulto equivalente)
Fonte: INE
1.	Conceitos	–Estado	Social	e	modelo	social	e	tipos	de	benefícios
Duas formas de intervenção pública:
- Financiada pelo estado (total ou parcial);
- Financiada e provisionada pelo Estado.
O que incluir?
- Saúde
- Educação
- Proteção do ambiente
- Cuidados de longa duração
-...
6
1.	Conceitos	–Estado	Social	e	modelo	social	e	tipos	de	benefícios
Existem duas distinções importantes relativamente aos tipos
de benefícios sociais:
Tipos de benefícios (1ª distinção):
- Em dinheiro (e.g., subsídios de desemprego).
- Em géneros (e.g., saúdee educação).
Tipos de benefícios (2ª distinção):
- Contributivos (‘Segurança Social’)
- O acesso depende das contribuições realizadas
previamente pelos indivíduos (e.g., subsídios de
desemprego e pensões).
- Não contributivos
- Que se dividemem:
- Benefícios universais (e.g. abonode família)
- Assistência social (e.g. rendimentosmínimos). 7
1.	Conceitos	–Estado	Social,	modelo	social	e	tipos	de	benefícios
• Macro-eficiência:	não	permitir	que	despesa	total	seja	demasiado	elevada
• Micro-eficiência:	garantir	equilíbrio	entre	os	vários	tipos	de	despesa
• Incentivos:	despesa	social	não	deve	dar	incentivos	negativos
Promover	eficiência
• Redução	da	pobreza
• Segurança	ao	longo	da	vida	(em	caso	de	desemprego	ou	doença)
• Alisamento	do	consumo	(pensões)
Melhorar	níveis	de	
vida
• Equidade	vertical:	entre	diferentes	grupos	socioeconómicos
• Equidade	horizontal:	entre	os	mesmos	grupos	socioeconómicos,	diferenças	
de	género	e	outras.
Reduzir	desiguldades
• Dignidade:	
• Solidariedade	social
Promover	inclusão	
social
• Funcionalidade
• Ausência	de	abuso
Assegurar	viabilidade	
administrativa 8
2.	Objectivos	do	Estado	Social
• De acordo com Barr (2004), o Estado Social existe para
melhorar o bem-estar:
• Dos	indivíduos	em	situação	de	fraqueza/vulnerabilidade;
• Dos indivíduos em situação de pobreza;
• Dos indivíduos que não estando em situações de
vulnerabilidade ou pobreza beneficiam da organização dos
benefícios monetários por razões de segurança ou
alisamento do consumo (pensões) ou da prestação de
serviços (saúde,educação).
9
3.	Quem	são	os	beneficiários	do	Estado	Social?
• Dificuldades de definição de conceitos (ou de chegar a
consenso sobre definições). Ex: dignidade, equidade,
solidariedade social.
• Dificuldades demedição. Ex: linha de pobreza.
• Conflitos entre objetivos. Ex: eficiência vs redistribuição;
alisamento do consumo vs redistribuição; equidade horizontal vs
simplicidadeadministrativa.
• Dificuldadede avaliar os resultadosdas políticas públicas.
10
4.	Problemas	de	definição/avaliação
5.	Surgimento	e	evolução	do	Estado	Social
Muitas vezes tomado como um dado adquirido, resulta de uma
longa evolução das políticas públicas à resulta da vontade
expressa das nações... dependendo dos limites das suas
economias
Origem:	Europa
Resposta coletiva às necessidades das pessoas: industrialização
e urbanização:
• Desemprego, doença, invalidez e velhice tornam-se
sinónimos de pobreza extrema.
• Impossibilidade de gerir estes riscos sociais no meio
familiar e/ou comunitário.
11
• Bismarck	(Alemanha,	1883-89)
• Legislação inovadora – criação de seguros sociais: doença,
acidentes de trabalho,velhice, invalidez
• Responsabilidade tripartida: empregadores, empregados,
Estado
• Ênfase na correção de falhas de mercado e em resposta ao
ascenso de movimentos políticos de âmbito socialista.
• Roosevelt	(EUA,	anos	1930)
• OASI – Old Age & Survival Insurance;
• Supera base puramente industrial: alargamento dos grupos de
risco e da gama de ocorrências (abarcando todas as contingências
que colocassemem causa a plena realização das pessoas);
• Introdução do financiamento Pay As You Go (PAYG) – usam-se as
receitas de cada ano para pagar as prestações dessemesmo ano. 12
Marcos históricos
5.	Surgimento	e	evolução	do	Estado	Social
• Relatório	Beveridge	(RU,	1942)
• Nova conceção da política social – “cidadania social”:
reconhecimento de direitos de assistência aos cidadãos em
risco (que se junta à cidadania civil e à cidadania política)à
direito à segurança social a ao bem-estar;
• A exclusão de algumas camadas da população é
considerada inevitável, sendo responsabilidade do Estado
garantir o pleno emprego e uma vida digna a todos os
cidadãos.
• Pós	II	Guerra	Mundial	(Europa)
• Institucionalização	do	estado	do	bem-estar	e	do	modelo	social	
europeu;
• Expansão	dos	sistemas	sociais	e	contributivos;
• Políticas	públicas:	serviço	nacional	de	saúde,	sistemas	públicos	de	
educação,	redistribuição	de	rendimentos,	segurança	social;
• Presente	ao	longo	da	vida	dos	cidadãos.
13
Marcos históricos
5.	Surgimento	e	evolução	do	Estado	Social
• Historicamente, surgiram dois modelos de organização do
bem-estar social na Europa:
• Modelo continental (Bismarck: 1883-1889): sistema
contributivo (Seguros sociais obrigatórios) à financiado
sobretudo por contribuições de trabalhadores por conta de
outrem (indústria, comércio e serviços);
• Modelo nórdico - britânico (Beveridge: relatório Beveridge
1942, influência keynesiana): sistema universalista à
financiado sobretudo por receitas fiscais (impostos), baseado
no princípio de solidariedade nacional e no reconhecimento
do direito à proteção social.
• Evolução diferenciada de país para país (diferentes
escolhas de política económica e social).
14
5.	Surgimento	e	evolução	do	Estado	Social
6.	Regimes	de	Welfare	State
• Existem	hoje,	não	dois,	mas	vários	modelos	sociais	na	Europa.
• Os vários países ocidentais apresentam características
muito diferentes;
• Em particular, apresentam níveis diferentes de eficiência e
justiça social;
• Contudo, os países parecem agrupar-se por grupos que
partilhamcaracterísticas comuns.
15
Diversidade de configurações nacionais
Ideias	basilares	da	teoria	de	Esping-Andersen	(1990):
• Baseado na tese de Karl Polanyi (1944), sobre a crescente
mercadorização (‘commodification’) do trabalho. Esping-
Andersen avalia cada um dos sistemas de protecção social
de acordo com o seu grau de desmercadorização
(‘decommodification’), istoé, se os direitos sociais são
independentes (ou não) dos mecanismos de mercado
(como o emprego anterior ou os salários).
6.	Regimes	de	Welfare	State
16
Antes	de	explicar	a	teoria	de	Esping-Andersen,	importa	clarificar	
as	ideias	centrais	de	Karl	Polanyi.
a)	Conceito	de	incrustação
Economia não é autónoma, está subordinada à ação da política,
da religião e das relações sociais.
Mercados existiam antes da ideia dos mercados autorregulados.
A diferença consistia no facto de os mercados serem contidos e
regulados, isto é, incrustadosna sociedade.
6.	Regimes	de	Welfare	State
Porqueé que os mercados deixaramdeestar contidos?
Uma economia de mercado é um sistema económico regulado e
dirigido pelos preços de mercado – é a este mecanismo de
autorregulação que se confia a definição da ordem nos domínios
da produção e da distribuição dos bens. A autorregulação
implica que toda a produção se destina a ser vendida no
mercado e que todos os rendimentos resultam dessa venda. Por
conseguinte, existem mercados para todos os elementos da
indústria – não só para os bens mas também para o trabalho, a
terra, e o dinheiro.
Nesta lógica, nada deve ser feito que impeça a formação dos
mercados, ao mesmo tempo que é necessário impedir que os
rendimentos se formempor outras vias que não a venda.
6.	Regimes	de	Welfare	State
Distinção entre mercadorias reais e mercadorias fictícias
(trabalho, terra e moeda).
O problema é que o trabalho, a terra e o dinheiro não são
mercadorias. Não foram produzidas para serem vendidas.
Permitir que seja exclusivamente o mecanismo de mercado a
governar o destino dos seres humanos e o seu meio natural, ou
até mesmo, na realidade, a determinar o montante e a utilização
do poder de compra, teria por resultado a destruição da
sociedade.
A existência das mercadorias fictícias revela a impossibilidade de
desincrustaçãoda economia.
Papel do Estado na gestão dosmercados.
6.	Regimes	de	Welfare	State
b)	Conceito	de	duplo	movimento
As sociedades são configuradas por dois movimentos
opostos: expansão do mercado e um contramovimento de
proteção que emerge como resistência à desincrustação da
economia.
Até ao liberalismodemercado,os mercados eramcontidos.
Paulo Marques – Departamento de Economia Política (ISCTE-IUL) – 2015/2016 
6.	Regimes	de	Welfare	State
c)	Argumento	central	(em	ligação	com	os	conceitos	expostos	
anteriormente)
Guerra e crise económica de 1929 enquanto consequência
direta da tentativa de organizar a economia global com base
no liberalismodemercado;
O ‘ascenso do fascismo’ e ‘economia planificada’ enquanto
resultado do liberalismodemercado.
Paulo Marques – Departamento de Economia Política (ISCTE-IUL) – 2015/2016 
6.	Regimes	de	Welfare	State
Retomando a discussão sobreEsping-Andersen...
•Esping-Andersen analisa a generosidade dos sistemas de
proteção social em três áreas: desemprego; doença; pensões.
Para medir a generosidade de cada sistema não se baseia no
nível da despesa em cada uma destas áreas, Esping-Andersen
analisa os critérios de elegibilidade para os benefícios.
22
6.	Regimes	de	Welfare	State
• Esping-Andersen utiliza as seguintes variáveis para calcular aquilo
que denomina como: índice de desmercadorização (‘de-
commodificationgenerosity index’):
Core%programme% Programme%characteristic%
Unemployment%
Single%replacement%rate%
Qualifying%period%
Waiting%days%
Duration%of%benefit%
Coverage%ratio%
Sickness%benefit%
Single%replacement%rate%
Qualifying%period%
Waiting%days%
Duration%of%benefit%
Coverage%ratio%
Retirement%pension%
Minimum%replacement%rate%(single)%
Standard%replacement%rate%(single)%
Qualifying%period%
Contribution%ratio%
TakeCup%rate%!
6.	Regimes	de	Welfare	State
23
Generosidade	do	‘Welfare	State’–1980	– index	total
Desemprego Pensões Doença Index
Austria 7,2 11,5 8,6 27,3
Belgium 11 10,9 11,6 33,5
France 9,4 11,6 8,2 29,2
Germany 8,8 9,3 11,8 29,9
Netherlands 11,2 14,9 10,1 36,2
Switzerland 8,9 11,5 11 31,4
Denmark 8,6 13,3 13,5 35,4
Finland 4,7 11,6 5,5 21,8
Sweden 7,9 16,7 15,2 39,8
Ireland 7,1 8 6,4 21,5
UK 8,7 9,7 6,7 25,1
Greece 3,5 : 3,7 :
Spain 7,4 5,2 5,6 18,2
Portugal 5,3 6,3 5,1 16,7
Italy 2,4 10,3 6,5 19,2
6.	Regimes	de	Welfare	State
24
Generosidade	do	‘Welfare	State’ – 2010	- total
Unemployment Pensions Sickness Index
Austria 8,5 11,9 7,6 28
Belgium 13,4 14,8 11,8 40
France 8 11,8 9,1 28,9
Germany 8,3 6,7 10,6 25,6
Netherlands 9,6 17,9 10,8 38,3
Switzerland 11,4 8,2 11,2 30,8
Denmark 7 11,8 9,3 28,1
Finland 6,1 10,8 8,1 25
Sweden 5,6 11,8 13,4 30,8
Ireland 8,4 15,1 7,5 31
UK 5 10,7 5 20,7
Greece 4,9 : 5,5 :
Spain 9,9 8,2 7,9 26
Portugal 8,9 10,6 7,6 27,1
Italy : 10,4 7,4 :
6.	Regimes	de	Welfare	State
25
1980 2010 Diff.	1980-2010
Austria 27,3 28 0,7
Belgium 33,5 40 6,5
France 29,2 28,9 -0,3
Germany 29,9 25,6 -4,3
Netherlands 36,2 38,3 2,1
Switzerland 31,4 30,8 -0,6
Denmark 35,4 28,1 -7,3
Finland 21,8 25 3,2
Sweden 39,8 30,8 -9
Ireland 21,5 31 9,5
UK 25,1 20,7 -4,4
Greece : : :
Spain 18,2 26 7,8
Portugal 16,7 27,1 10,4
Italy 19,2 : :
Generosidade	do	‘Welfare	State’ – 1980-2010
6.	Regimes	de	Welfare	State
26
• Esping-Andersen	identifica	três	regimes	de	‘Welfare	State’:	
a) Liberal;
b) Conservador;
c) Social-democrata.
6.	Regimes	de	Welfare	State
27
Principais	características	de	cada	modelo:
a)	Liberal:
i) O ‘Welfare State’ não deve interferir com o
funcionamento do mercado, isto é, não deve limitar os
incentivos para trabalhar nem as escolhas dos indivíduos.
As políticas de proteção social devem concentrar-se em
garantir benefícios mínimos (assistência social) para os
mais pobres;
ii) DominantenoReino, Irlanda e EUA;
iii) Comparado com os outros dois, este é o regime menos
generoso.
6.	Regimes	de	Welfare	State
28
b)	Conservador:
i) As transferências sociais visam manter o estatuto social.
O acesso à segurança social depende da carreira
contributiva dos beneficiários. Neste sentido, é um
regime que tende a privilegiar os trabalhadores com
carreiras contributivas longas;
ii) Dominante nos países da Europa Continental (e.g.
Alemanha);
iii) Tendo em conta que os benefícios dependem das
carreiras contributivas, este regime é menos generoso do
que o sistema universalista, mas mais redistributivo do
que o sistema liberal;
iv) Partidos democratas-cristãos desempenharam um papel
central na criação destemodelo.
6.	Regimes	de	Welfare	State
29
c)	Social-democrata:
i) Baseia-se no pressuposto de que o ‘Welfare State’ deverá
garantir a todos o acesso aos benefícios sociais, garantir o pleno
emprego e alargar os serviços públicos a todos os cidadãos. O
acesso aos benefícios sociais não dependente da carreira
contributiva,as políticas sociais têm um carácter universal;
ii) Dominantenos países Escandinavos (e.g. Suécia);
iii)Comparado com os outros dois regimes, este é o mais
generoso;
iv) Partidos Sociais-democratas desempenham um papel central
neste regime.
6.	Regimes	de	Welfare	State
30
Variante	do	modelo	conservador	ou	modelo	próprio?
Quatro	países:	
- Espanha;	
- Grécia;	
- Itália;	
- Portugal.
31
O caso dos países do Sul
6.	Regimes	de	Welfare	State
Traços	comuns	e	percurso	histórico-político	semelhante:
- Segurança	social	baseada	num	modelo	de	seguro	social	europeu	+	
sistema	universal	de	saúde;
- Forte	peso	família	na	produção	do	bem-estar	(no	caso	português:	
papel	da	(super)mulher);
- Terceiro	sector	(ONGs,	Igreja)	substitui	provisão	pública	de	
serviços	sociais;
- Níveis	de	desigualdade	social	elevados;
- Clientelismo	e	particularismo	no	acesso	aos	fundos	públicos	
(suporte	político);
- Expressão	do	trabalho	e	do	sector	informais.
32
6.	Regimes	de	Welfare	State
7.	Evolução	histórica	do	Estado	Social	em	PortugalQuatro	grandes	períodos:
a) Anterior	ao	Estado	Novo;
b) Estado	Novo	(1933-1974);
c) Pós	25	de	Abril	(1974-1986);
d) Pós	adesão	à	CEE	(a	partir	de	1986).	
33
1835 - Conselho Geral de Beneficência, com os objetivos de extinção e repressão da
mendicidade.
1851 - reorganização do Conselho Geral de Beneficência, sendo-lhe cometida a direção de
estabelecimentos pios e hospitais.
1901 - Conselho Superior de Beneficência Pública (extinto em 1911).
1916 - Ministério do Trabalho (extinto em 1925).
1919 - Legislação dos Seguros Sociais Obrigatórios (doença; acidentes de
trabalho; pensões de invalidez, velhice e sobrevivência) à sistema
inovador quenão foi efetivamente implementado (extinto em1933).
1986 - Desenvolvimento do mutualismo (associações de socorros
mútuos) - sistema privado de proteção social baseado na existência de
um fundo comum para o qual contribuem, de modo a permitir, de
forma previdente, acautelar o futuro próprioou dos familiares. 34
a) Antes do Estado Novo
7.	Evolução	histórica	do	Estado	Social	em	Portugal
Globalmente, a atuação do Estado neste período caracterizou-se
por:
• Insuficiência da proteção;
• Carácter supletivo/complementar;
• Não universalidade
• Assistência pública – verificação da necessidade económica e
social
• Seguros Sociais Obrigatórios – dependentes de contribuições
prévias
• Descoordenação e desorganização das atividades de
assistência e de previdência.
35
b) Estado Novo (1933-1974)
7.	Evolução	histórica	do	Estado	Social	em	Portugal
1929 - Caixa Geral de Aposentações.
1931 - novo regime jurídico das associações de socorros mútuos, alargando o seu âmbito
de atuação (embora centrada nas pensões de sobrevivência).
1933-1935 - Previdência Social Corporativaà Constituição e Estatuto do
TrabalhoNacional.
1935 - Lei das Instituições de Previdência Social conhecida por Lei de
Bases de Organização da Previdênciaà inspiração alemã (Bismark).
1962 - Reforma da Previdência Social (alterações na organização).
1969 - Introduçãodenovas prestações sociais e alargamento.
1971 - Reorganização do Ministério da Saúde e Assistência (consagrado
direito à saúde e investimentos emcentros de saúde).
36
7.	Evolução	histórica	do	Estado	Social	em	Portugal
Constituição	de	1933	e	Estatuto	do	Trabalho	Nacional:
• Previdência social inserida na organização do trabalho;
• Importância dos organismos corporativos na criação e
organização das instituiçõesdeprevidência;
• Objetivo das instituições de previdência: proteger trabalhadores
em situações de doença, invalidez, desemprego involuntário,
assegurar pensões de reforma;
• Responsabilidade das entidades patronais em relação a acidentes
de trabalho;
• Financiamento com base em contribuições (entidades patronais e
trabalhadores), semcomparticipação financeira do Estado;
• Administração das instituições de previdência (entidades
patronais e trabalhadores). 37
7.	Evolução	histórica	do	Estado	Social	em	Portugal
Lei de Bases de Organização da Previdência Social (1935).
Quatro categorias das instituições de previdência social:
• Instituições deprevidência dos organismos corporativos
• Caixas Sindicais de Previdência
• Caixas de previdência das Casas do Povo
• Casas dos Pescadores
• Caixas de Reforma ou de Previdência (natureza não corporativa) –
inscrição obrigatória, financiamento baseado exclusivamente em
contribuições; regimede capitalização.
• Associações de SocorrosMútuos (inscrição facultativa);
• Instituições de Previdência dos Servidores do Estado e dos Corpos
Administrativos (Caixa Geral de Aposentações, Montepio dos
Servidores do Estado). 38
7.	Evolução	histórica	do	Estado	Social	em	Portugal
• Seguros sociais obrigatórios (1935 a 1975): não inclui muitos
trabalhadores e não cobre importantes riscos sociais
(maternidade,desemprego)
• Reformas de 1942 , 1962/63, 1969, procuram alargar o âmbito de
cobertura à generalização a mais trabalhadores + política de
abono de família
• Saúde: até 1946, Assistência Pública, a ação do Estado é
circunscrita à saúde pública (“polícia sanitária”). O Estado tem
um carácter supletivo, os cuidados médicos são da
responsabilidadedo indivíduo e da família.
39
Estado Novo (1933-1974)
7.	Evolução	histórica	do	Estado	Social	em	Portugal
40
7.	Evolução	histórica	do	Estado	Social	em	Portugal
41
7.	Evolução	histórica	do	Estado	Social	em	Portugal
42
7.	Evolução	histórica	do	Estado	Social	em	Portugal
1974, criação de um regime não contributivo: continuou a
incluir os seguros sociais obrigatórios, mas acrescentou a
proteção a não trabalhadores à Só depois de 1974 temos um
verdadeiroregime de Segurança Social.
• 1975,	proteção	contra	o	desemprego	involuntário.	Lei-quadro	de	
1986.
• 1977,	estabelecimento	das	Pensões	Sociais	(não	contributivas);	
integração	dos	trabalhadores	independentes.
• 1984,	Lei	de	Bases	da	Segurança	Social.
• 1986,	Taxa	social	única.
Saúde:	1976,	Serviço	Nacional	de	Saúde	(universal	e	gratuito).	
Reconhecimento	de	um	direito	à	saúde
43
c) Pós 25 de Abril (1974 – 1986)
7.	Evolução	histórica	do	Estado	Social	em	Portugal
“Europeização”	àAumento	da	despesa	social	e	convergência	face	média	
europeia
Reforma	da	Segurança	social	(1995-2000);	2000	Nova	Lei	de	Bases:
• Universalidade e solidariedade (benefícios sociais financiados por
impostos, criação do Rendimento Mínimo Garantido (atual RSI)
acessível a todos os cidadãos e residentes a título de direito
• Promoção do emprego e da inserção (reforço das medidas ativas de
emprego -> Plano Nacional de Emprego inspirado nas orientações de
estratégia europeia: mercado social de emprego, subsídio de
desemprego parcial, inversão da tendência para subsidiar saída do
mercado de trabalho; benefícios fiscais empresas que contratem
jovens à procura de 1º emprego)
• Novo princípio da subsidiariedade (envolvimento do terceiro sector e
do poder local)
• Complementaridade na segurança social (Estado, terceiro sector,
privado)à Pré-escolar
44
d) Pós adesão à CEE (a partir de 1986)
7.	Evolução	histórica	do	Estado	Social	em	Portugal
45
 
 
 
 
 
30 
 Numa primeira fundamentação desta ideia de convergência com a Europa, tome-se 
como referência a evolução comparativa da despesa social (OCDE) entre 1980 e 2003, conforme 
os dados presentes no Quadro 6. 
 Os dados aqui apresentados demonstram não só um inegável aumento da despesa, 
sobretudo, tal como havia sido já referido, a partir de 1990, mas também, e este é um aspecto 
ainda mais elucidativo, uma clara aproximação dos níveis de despesa social europeus, se 
utilizarmos como critério a média da EU-15. No entanto, se realizarmos esta comparação 
directamente com países, note-se a particularidade da convergência com Espanha a partir de 1995, 
com a particularidade de a partir de 2000 até 2003 Portugal se ter destacado quer no contexto do 
grupo de países da Europa do Sul (Ferrera, 1996), ultrapassando mesmo a Espanha e Grécia em 
2003, quer face a países mais avançados como o Reino Unido. 
 
QUADRO 6 
Despesa Social pública em % do PIB (1980-2003) 
 1980 1985 1990 1995 2000 2003 
 
EU 15 19,9 22,2 21,9 23,9 22,5 23,9 
Portugal 10,8 11,0 13,7 18,1 20,2 23,5 
Espanha 15,5 17,8 20,0 21,5 20,4 20,3 
Grécia 11,5 17,9 18,6 19,3 21,3 21,3 
Itália 18,0 20,8 19,9 19,8 23,2 24,2 
Alemanha 23,0 23,6 22,5 26,6 26,6 27,6 
Reino Unido 16,6 19,6 17,2 20,4 19,1 20,1 
Suécia 28,6 29,7 30,5 32,5 28,8 31,3 
Fonte: OCDE 2006 Base de dados das despesas sociais (adaptada) 
 
A fim de melhor sustentar esta ideia de convergência, veja-se o exercício realizado nos 
Gráficos 7 e 8. No primeiro, usando o critério de despesa social deste estudo (pensões velhice, 
prestações familiares e despesa saúde), medido em % do PIB, evidencia uma certa singularidade 
docaso português, ou seja, ganha destaque no âmbito dos países da Europa do Sul, sobretudo a 
partir de 2000, aproximando-se de países como a Alemanha (regime corporativo de Estado-
7.	Evolução	histórica	do	Estado	Social	em	Portugal
Public	social	spending	in	percentage	of	GDP*
46
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20
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20
10
20
11
20
12
EU-21 OECD-34 Portugal
* Education is not included Fonte: OECD 
7.	Evolução	histórica	do	Estado	Social	em	Portugal
Estado	Novo 1974-1986 1986	à
Cobertura	de	riscos	
sociais	clássicos,	
associados	ao	mundo	do	
trabalho
Lógica	de	segurança	
social	e	solidariedade	
intra-profissional
Alargamento	dos	direitos	
sociais
Universalidade	de	alguns	
direitos
Aumento	da	despesa	
social
“Europeização”:	
alteração	do	contexto,	
do	conteúdo,	da	
intervenção	e	da	
orientação	da	política	
social
Convergência	da	despesa	
social	com	valores	
médios	da	UE
47
7.	Evolução	histórica	do	Estado	Social	em	Portugal
8.	Desafios	atuais
• Globalização.
• Abrandamento	ritmo	crescimento	económico.
• Alterações	demográficas	à Envelhecimento	da	população:	
aumento	esperança	de	vida	e	diminuição	natalidade.
• Alterações	da	estrutura	familiar	à famílias	monoparentais.
• Alterações	da	estrutura	de	emprego.
• Aumento	da	despesa	associada:	saúde,	desemprego,	
reformas	à défices	orçamentais.
• Aumento	desigualdades	sociais,	níveis	pobreza	elevados;
• Sustentabilidade	ambiental.
48
Comuns às sociedades ocidentais
49
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5
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20
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20
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20
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20
10
20
11
20
12
20
13
OECD Denmark Finland Germany
Italy Netherlands Norway Portugal
Spain Sweden United	 Kingdom United	 States
Public social spending in selected OECD countries (% of GDP)
Fonte: OECD 
8.	Desafios	atuais
Public, private and total net social expenditure
As a percentage of GDP, 2009
500
5
10
15
20
25
30
35
40
Public Private Net total
OECD Factbook 2013: Economic, Environmental and Social Statistics
Fonte: OECD 
1.8	Desafios	atuais
51
Chart 4. Pensions and health expenditure are the main items of public social spending
France (32.1)
Denmark (30.2)
Sweden (29.8)
Belgium (29.7)
Finland (29.4)
Austria (29.1)
Germany (27.8)
Italy (27.8)
Spain (26)
Portugal (25.6)
United Kingdom (24.1)
Hungary (23.9)
Greece (23.9)
Ireland (23.6)
Luxembourg (23.6)
Norway (23.3)
Netherlands (23.2)
Slovenia (22.6)
Japan (22.4)
OECD (22.1)
Poland (21.5)
New Zealand (21.2)
Czech Republic (20.7)
Estonia (20)
Canada (19.2)
United States (19.2)
Slovak Republic (18.7)
Switzerland (18.4)
Iceland (18.5)
Australia (17.8)
Israel 2 (16)
Turkey (12.8)
Chile (11.3)
Korea (9.4)
Mexico (8.2)
Public social expenditure by broad social policy area, in percentage of GDP, in 2009 1
Note: 1. Countries are ranked by decreasing order of public social expenditure as a percentage of GDP. Spending on Active Labour Market Programs 
(ALMPs) cannot be split by cash/services breakdow n; they are how ever included in the total public spending (show n in brackets). Income support to the 
w orking-age population refers to spending on the follow ing SOCX categories: incapacity benefits, family cash benefits, unemployment and other social policy 
areas categories.
Cash benefits Services
9.0
7.7
7.3
8.1
6.8
7.3
8.6
7.4
7.0
7.2
8.1
5.1
6.5
7.1
6.6
6.2
7.9
6.8
7.1
6.6
5.2
8.3
6.7
5.2
8.0
8.3
6.0
6.0
6.2
6.2
4.1
5.4
3.7
4.0
3.1
3.2
6.9
7.7
2.1
4.7
1.7
2.5
1.1
2.0
0.7
3.9
2.7
1.5
1.8
2.0
5.0
2.7
1.0
2.4
2.4
0.6
2.0
1.1
1.0
0.9
1.1
1.2
1.7
4.6
3.3
2.3
0.1
1.9
1.5
2.4
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
Health
All social services
except health
13.7
6.1
8.2
10.0
9.9
13.5
11.3
15.4
9.3
12.3
6.2
9.9
13.0
5.1
7.7
5.4
5.1
10.9
10.2
7.8
11.8
4.7
8.3
7.9
4.5
6.8
7.0
6.3
1.7
3.5
5.0
6.8
3.6
2.1
1.7
5.2
7.9
5.5
8.1
7.1
5.8
4.4
3.4
6.8
4.6
5.6
5.7
2.6
8.7
6.8
6.3
6.3
3.6
2.2
4.8
3.4
5.9
4.4
5.7
5.4
2.8
4.3
4.0
5.9
4.5
4.4
0.5
1.9
1.3
1.0
02468101214161820
Pensions (old age
and survivors)
Income support to
the working-age
population
Fonte: OECD 
52
Demografia
8.	Desafios	atuais
53
0.0
5.0
10.0
15.0
20.0
25.0
30.0
0.0
10.0
20.0
30.0
40.0
50.0
60.0
70.0
80.0
90.0
19
60
19
62
19
64
19
66
19
68
19
70
19
72
19
74
19
76
19
78
19
80
19
82
19
84
19
86
19
88
19
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19
92
19
94
19
96
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00
20
02
20
04
20
06
20
08
20
10
20
12
Esperança	de	vida	à	nascença Taxa	bruta	de	natalidade
Demografia, Portugal
Fonte: Pordata 
8.	Desafios	atuais
54
Korea
Canada
Ireland
New Zealand
United States
Slovak Republic
Finland
Netherlands
Poland
United Kingdom
OECD
Luxembourg
Switzerland
Slovenia
France
Norway
Czech Republic
Denmark
Belgium
Sweden
Spain
Austria
Portugal
Hungary
Greece
Italy
Germany
Estonia
Chart 6. Pension spending will grow but not as fast as elderly populations
Note : Public pensions refer to old-age and survivors cash benefits. Calculations are based on SOCX data 
and public pension projections from OECD Pensions Outlook 2012 . OECD refers to countries for which 
data are available.
97
66
66
65
61
61
57
55
52
45
43
44
44
43
42
42
39
38
34
32
31
30
29
26
23
20
20
11
122
26
19
26
7
15
24
21
- 6
- 5
14
36
19
11
0
33
- 4
5
31
2
4
14
7
- 5
1
- 6
5
- 11
-20 -10 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130
Expected change in the number of elderly (%) 2009-2025
Expected change in the percentage of public pension expenditure in
GDP (%) 2009-2025
Fonte: OECD 
55
0.0
5.0
10.0
15.0
20.0
25.0
30.0
35.0
40.0
45.0
50.0
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Taxa	de	risco	de	pobreza	 - Antes	de	qualquer	 transferência	 social
Taxa	de	risco	de	pobreza	 - Após	transferências	 relativas	a	pensões
Taxa	de	risco	de	pobreza	 - Após	transferências	 sociais
Risco de pobreza, Portugal
Fonte: Pordata 
8.	Desafios	atuais
56
0.0
1.0
2.0
3.0
4.0
5.0
6.0
7.0
8.0
19
95
19
96
19
97
19
98
19
99
20
00
20
01
20
02
20
03
20
04
20
05
20
06
20
07
20
08
20
09
20
10
20
11
20
12
PT	 DE DK UK
Desigualdade na distribuição do rendimento (S80/S20)
Desigualdade
Fonte: Pordata 
8.	Desafios	atuais
57
Mercado de trabalho, Portugal
8.	Desafios	atuais
58
0% 
2% 
4% 
6% 
8% 
10% 
12% 
14% 
16% 
18% 
20% 
19
86
19
87
19
88
19
89
19
90
19
91
19
92
19
93
19
94
19
95
19
96
19
97
1998
19
99
20
00
20
01
20
02
20
03
20
04
20
05
20
06
20
07
20
08
20
09
20
10
20
11
20
12
Pop	empregada	tempo	 parcial Pop	trabalho	 temporário
Mercado de trabalho, Portugal
Fonte: Pordata 
8.	Desafios	atuais
Barr, N. (2004), Economics of theWelfare State (Capítulos 1e 2).
Esping-Andersen, G. (1990) The Three Worlds of Welfare Capitalism,
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59
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Fontes	de	informação	estatística
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http://epp.eurostat.ec.europa.eu/portal/page/portal/socia
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OECD:	
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INE:	
www.ine.pt
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http://cwed2.org 60

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