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ECONOMIA E FINANÇAS PÚBLICASII PARTEFormas de intervenção concreta do Estado na economia portuguesaCapítulo 1 - O Estado Social Elaborado originalmente por Cristina SousaCom contribuições de Paulo Marques 1 Programa 1. Estado Social; 2. Políticas públicas na área do mercado de trabalho; 3. Pensões; 4. Políticas de redistribuição do rendimento; 5. Educação; 6. Saúde; 7. Cuidados de Longa Duração. 2 Capítulo1 - O Estado Social 1. Conceitos: estado social e tipos de benefícios. 2. Objetivos do estado social. 3. Quem são os beneficiários do Estado Social? 4. Problemas de definição/avaliação. 5. Surgimento e evolução do estado social. 6. Regimes de ‘Welfare State’. 7. Evolução histórica do Estado Social em Portugal. 8. Desafios atuais. 3 1. Conceitos – Estado Social, modelo social e tipos de benefícios • Ideia central: economia/sociedade onde o Estado intervém deliberadamente na produção do bem- estar social à perspectiva intervencionista e de preocupação social • ≠ “Estado liberal” àmelhor do que ninguém, cada indivíduo sabe quais as suas próprias necessidades e o melhor modo de as satisfazer (individualismo, liberdade, mercado; “3 deveres do soberano”) 4 5 0 10 20 30 40 50 60 Antes de qualquer transferência social Após transferências relativas a pensões Após transferências sociais % Taxa de risco de pobreza* em Portugal 2013 (p) 2009 2005 *percentagem de pessoas que tem rendimentos considerados baixos face à restante população, ou seja, que ficam abaixo do valor fixado para o limiar de risco de pobreza (60 % do rendimento nacional mediano por adulto equivalente) Fonte: INE 1. Conceitos –Estado Social e modelo social e tipos de benefícios Duas formas de intervenção pública: - Financiada pelo estado (total ou parcial); - Financiada e provisionada pelo Estado. O que incluir? - Saúde - Educação - Proteção do ambiente - Cuidados de longa duração -... 6 1. Conceitos –Estado Social e modelo social e tipos de benefícios Existem duas distinções importantes relativamente aos tipos de benefícios sociais: Tipos de benefícios (1ª distinção): - Em dinheiro (e.g., subsídios de desemprego). - Em géneros (e.g., saúdee educação). Tipos de benefícios (2ª distinção): - Contributivos (‘Segurança Social’) - O acesso depende das contribuições realizadas previamente pelos indivíduos (e.g., subsídios de desemprego e pensões). - Não contributivos - Que se dividemem: - Benefícios universais (e.g. abonode família) - Assistência social (e.g. rendimentosmínimos). 7 1. Conceitos –Estado Social, modelo social e tipos de benefícios • Macro-eficiência: não permitir que despesa total seja demasiado elevada • Micro-eficiência: garantir equilíbrio entre os vários tipos de despesa • Incentivos: despesa social não deve dar incentivos negativos Promover eficiência • Redução da pobreza • Segurança ao longo da vida (em caso de desemprego ou doença) • Alisamento do consumo (pensões) Melhorar níveis de vida • Equidade vertical: entre diferentes grupos socioeconómicos • Equidade horizontal: entre os mesmos grupos socioeconómicos, diferenças de género e outras. Reduzir desiguldades • Dignidade: • Solidariedade social Promover inclusão social • Funcionalidade • Ausência de abuso Assegurar viabilidade administrativa 8 2. Objectivos do Estado Social • De acordo com Barr (2004), o Estado Social existe para melhorar o bem-estar: • Dos indivíduos em situação de fraqueza/vulnerabilidade; • Dos indivíduos em situação de pobreza; • Dos indivíduos que não estando em situações de vulnerabilidade ou pobreza beneficiam da organização dos benefícios monetários por razões de segurança ou alisamento do consumo (pensões) ou da prestação de serviços (saúde,educação). 9 3. Quem são os beneficiários do Estado Social? • Dificuldades de definição de conceitos (ou de chegar a consenso sobre definições). Ex: dignidade, equidade, solidariedade social. • Dificuldades demedição. Ex: linha de pobreza. • Conflitos entre objetivos. Ex: eficiência vs redistribuição; alisamento do consumo vs redistribuição; equidade horizontal vs simplicidadeadministrativa. • Dificuldadede avaliar os resultadosdas políticas públicas. 10 4. Problemas de definição/avaliação 5. Surgimento e evolução do Estado Social Muitas vezes tomado como um dado adquirido, resulta de uma longa evolução das políticas públicas à resulta da vontade expressa das nações... dependendo dos limites das suas economias Origem: Europa Resposta coletiva às necessidades das pessoas: industrialização e urbanização: • Desemprego, doença, invalidez e velhice tornam-se sinónimos de pobreza extrema. • Impossibilidade de gerir estes riscos sociais no meio familiar e/ou comunitário. 11 • Bismarck (Alemanha, 1883-89) • Legislação inovadora – criação de seguros sociais: doença, acidentes de trabalho,velhice, invalidez • Responsabilidade tripartida: empregadores, empregados, Estado • Ênfase na correção de falhas de mercado e em resposta ao ascenso de movimentos políticos de âmbito socialista. • Roosevelt (EUA, anos 1930) • OASI – Old Age & Survival Insurance; • Supera base puramente industrial: alargamento dos grupos de risco e da gama de ocorrências (abarcando todas as contingências que colocassemem causa a plena realização das pessoas); • Introdução do financiamento Pay As You Go (PAYG) – usam-se as receitas de cada ano para pagar as prestações dessemesmo ano. 12 Marcos históricos 5. Surgimento e evolução do Estado Social • Relatório Beveridge (RU, 1942) • Nova conceção da política social – “cidadania social”: reconhecimento de direitos de assistência aos cidadãos em risco (que se junta à cidadania civil e à cidadania política)à direito à segurança social a ao bem-estar; • A exclusão de algumas camadas da população é considerada inevitável, sendo responsabilidade do Estado garantir o pleno emprego e uma vida digna a todos os cidadãos. • Pós II Guerra Mundial (Europa) • Institucionalização do estado do bem-estar e do modelo social europeu; • Expansão dos sistemas sociais e contributivos; • Políticas públicas: serviço nacional de saúde, sistemas públicos de educação, redistribuição de rendimentos, segurança social; • Presente ao longo da vida dos cidadãos. 13 Marcos históricos 5. Surgimento e evolução do Estado Social • Historicamente, surgiram dois modelos de organização do bem-estar social na Europa: • Modelo continental (Bismarck: 1883-1889): sistema contributivo (Seguros sociais obrigatórios) à financiado sobretudo por contribuições de trabalhadores por conta de outrem (indústria, comércio e serviços); • Modelo nórdico - britânico (Beveridge: relatório Beveridge 1942, influência keynesiana): sistema universalista à financiado sobretudo por receitas fiscais (impostos), baseado no princípio de solidariedade nacional e no reconhecimento do direito à proteção social. • Evolução diferenciada de país para país (diferentes escolhas de política económica e social). 14 5. Surgimento e evolução do Estado Social 6. Regimes de Welfare State • Existem hoje, não dois, mas vários modelos sociais na Europa. • Os vários países ocidentais apresentam características muito diferentes; • Em particular, apresentam níveis diferentes de eficiência e justiça social; • Contudo, os países parecem agrupar-se por grupos que partilhamcaracterísticas comuns. 15 Diversidade de configurações nacionais Ideias basilares da teoria de Esping-Andersen (1990): • Baseado na tese de Karl Polanyi (1944), sobre a crescente mercadorização (‘commodification’) do trabalho. Esping- Andersen avalia cada um dos sistemas de protecção social de acordo com o seu grau de desmercadorização (‘decommodification’), istoé, se os direitos sociais são independentes (ou não) dos mecanismos de mercado (como o emprego anterior ou os salários). 6. Regimes de Welfare State 16 Antes de explicar a teoria de Esping-Andersen, importa clarificar as ideias centrais de Karl Polanyi. a) Conceito de incrustação Economia não é autónoma, está subordinada à ação da política, da religião e das relações sociais. Mercados existiam antes da ideia dos mercados autorregulados. A diferença consistia no facto de os mercados serem contidos e regulados, isto é, incrustadosna sociedade. 6. Regimes de Welfare State Porqueé que os mercados deixaramdeestar contidos? Uma economia de mercado é um sistema económico regulado e dirigido pelos preços de mercado – é a este mecanismo de autorregulação que se confia a definição da ordem nos domínios da produção e da distribuição dos bens. A autorregulação implica que toda a produção se destina a ser vendida no mercado e que todos os rendimentos resultam dessa venda. Por conseguinte, existem mercados para todos os elementos da indústria – não só para os bens mas também para o trabalho, a terra, e o dinheiro. Nesta lógica, nada deve ser feito que impeça a formação dos mercados, ao mesmo tempo que é necessário impedir que os rendimentos se formempor outras vias que não a venda. 6. Regimes de Welfare State Distinção entre mercadorias reais e mercadorias fictícias (trabalho, terra e moeda). O problema é que o trabalho, a terra e o dinheiro não são mercadorias. Não foram produzidas para serem vendidas. Permitir que seja exclusivamente o mecanismo de mercado a governar o destino dos seres humanos e o seu meio natural, ou até mesmo, na realidade, a determinar o montante e a utilização do poder de compra, teria por resultado a destruição da sociedade. A existência das mercadorias fictícias revela a impossibilidade de desincrustaçãoda economia. Papel do Estado na gestão dosmercados. 6. Regimes de Welfare State b) Conceito de duplo movimento As sociedades são configuradas por dois movimentos opostos: expansão do mercado e um contramovimento de proteção que emerge como resistência à desincrustação da economia. Até ao liberalismodemercado,os mercados eramcontidos. Paulo Marques – Departamento de Economia Política (ISCTE-IUL) – 2015/2016 6. Regimes de Welfare State c) Argumento central (em ligação com os conceitos expostos anteriormente) Guerra e crise económica de 1929 enquanto consequência direta da tentativa de organizar a economia global com base no liberalismodemercado; O ‘ascenso do fascismo’ e ‘economia planificada’ enquanto resultado do liberalismodemercado. Paulo Marques – Departamento de Economia Política (ISCTE-IUL) – 2015/2016 6. Regimes de Welfare State Retomando a discussão sobreEsping-Andersen... •Esping-Andersen analisa a generosidade dos sistemas de proteção social em três áreas: desemprego; doença; pensões. Para medir a generosidade de cada sistema não se baseia no nível da despesa em cada uma destas áreas, Esping-Andersen analisa os critérios de elegibilidade para os benefícios. 22 6. Regimes de Welfare State • Esping-Andersen utiliza as seguintes variáveis para calcular aquilo que denomina como: índice de desmercadorização (‘de- commodificationgenerosity index’): Core%programme% Programme%characteristic% Unemployment% Single%replacement%rate% Qualifying%period% Waiting%days% Duration%of%benefit% Coverage%ratio% Sickness%benefit% Single%replacement%rate% Qualifying%period% Waiting%days% Duration%of%benefit% Coverage%ratio% Retirement%pension% Minimum%replacement%rate%(single)% Standard%replacement%rate%(single)% Qualifying%period% Contribution%ratio% TakeCup%rate%! 6. Regimes de Welfare State 23 Generosidade do ‘Welfare State’–1980 – index total Desemprego Pensões Doença Index Austria 7,2 11,5 8,6 27,3 Belgium 11 10,9 11,6 33,5 France 9,4 11,6 8,2 29,2 Germany 8,8 9,3 11,8 29,9 Netherlands 11,2 14,9 10,1 36,2 Switzerland 8,9 11,5 11 31,4 Denmark 8,6 13,3 13,5 35,4 Finland 4,7 11,6 5,5 21,8 Sweden 7,9 16,7 15,2 39,8 Ireland 7,1 8 6,4 21,5 UK 8,7 9,7 6,7 25,1 Greece 3,5 : 3,7 : Spain 7,4 5,2 5,6 18,2 Portugal 5,3 6,3 5,1 16,7 Italy 2,4 10,3 6,5 19,2 6. Regimes de Welfare State 24 Generosidade do ‘Welfare State’ – 2010 - total Unemployment Pensions Sickness Index Austria 8,5 11,9 7,6 28 Belgium 13,4 14,8 11,8 40 France 8 11,8 9,1 28,9 Germany 8,3 6,7 10,6 25,6 Netherlands 9,6 17,9 10,8 38,3 Switzerland 11,4 8,2 11,2 30,8 Denmark 7 11,8 9,3 28,1 Finland 6,1 10,8 8,1 25 Sweden 5,6 11,8 13,4 30,8 Ireland 8,4 15,1 7,5 31 UK 5 10,7 5 20,7 Greece 4,9 : 5,5 : Spain 9,9 8,2 7,9 26 Portugal 8,9 10,6 7,6 27,1 Italy : 10,4 7,4 : 6. Regimes de Welfare State 25 1980 2010 Diff. 1980-2010 Austria 27,3 28 0,7 Belgium 33,5 40 6,5 France 29,2 28,9 -0,3 Germany 29,9 25,6 -4,3 Netherlands 36,2 38,3 2,1 Switzerland 31,4 30,8 -0,6 Denmark 35,4 28,1 -7,3 Finland 21,8 25 3,2 Sweden 39,8 30,8 -9 Ireland 21,5 31 9,5 UK 25,1 20,7 -4,4 Greece : : : Spain 18,2 26 7,8 Portugal 16,7 27,1 10,4 Italy 19,2 : : Generosidade do ‘Welfare State’ – 1980-2010 6. Regimes de Welfare State 26 • Esping-Andersen identifica três regimes de ‘Welfare State’: a) Liberal; b) Conservador; c) Social-democrata. 6. Regimes de Welfare State 27 Principais características de cada modelo: a) Liberal: i) O ‘Welfare State’ não deve interferir com o funcionamento do mercado, isto é, não deve limitar os incentivos para trabalhar nem as escolhas dos indivíduos. As políticas de proteção social devem concentrar-se em garantir benefícios mínimos (assistência social) para os mais pobres; ii) DominantenoReino, Irlanda e EUA; iii) Comparado com os outros dois, este é o regime menos generoso. 6. Regimes de Welfare State 28 b) Conservador: i) As transferências sociais visam manter o estatuto social. O acesso à segurança social depende da carreira contributiva dos beneficiários. Neste sentido, é um regime que tende a privilegiar os trabalhadores com carreiras contributivas longas; ii) Dominante nos países da Europa Continental (e.g. Alemanha); iii) Tendo em conta que os benefícios dependem das carreiras contributivas, este regime é menos generoso do que o sistema universalista, mas mais redistributivo do que o sistema liberal; iv) Partidos democratas-cristãos desempenharam um papel central na criação destemodelo. 6. Regimes de Welfare State 29 c) Social-democrata: i) Baseia-se no pressuposto de que o ‘Welfare State’ deverá garantir a todos o acesso aos benefícios sociais, garantir o pleno emprego e alargar os serviços públicos a todos os cidadãos. O acesso aos benefícios sociais não dependente da carreira contributiva,as políticas sociais têm um carácter universal; ii) Dominantenos países Escandinavos (e.g. Suécia); iii)Comparado com os outros dois regimes, este é o mais generoso; iv) Partidos Sociais-democratas desempenham um papel central neste regime. 6. Regimes de Welfare State 30 Variante do modelo conservador ou modelo próprio? Quatro países: - Espanha; - Grécia; - Itália; - Portugal. 31 O caso dos países do Sul 6. Regimes de Welfare State Traços comuns e percurso histórico-político semelhante: - Segurança social baseada num modelo de seguro social europeu + sistema universal de saúde; - Forte peso família na produção do bem-estar (no caso português: papel da (super)mulher); - Terceiro sector (ONGs, Igreja) substitui provisão pública de serviços sociais; - Níveis de desigualdade social elevados; - Clientelismo e particularismo no acesso aos fundos públicos (suporte político); - Expressão do trabalho e do sector informais. 32 6. Regimes de Welfare State 7. Evolução histórica do Estado Social em PortugalQuatro grandes períodos: a) Anterior ao Estado Novo; b) Estado Novo (1933-1974); c) Pós 25 de Abril (1974-1986); d) Pós adesão à CEE (a partir de 1986). 33 1835 - Conselho Geral de Beneficência, com os objetivos de extinção e repressão da mendicidade. 1851 - reorganização do Conselho Geral de Beneficência, sendo-lhe cometida a direção de estabelecimentos pios e hospitais. 1901 - Conselho Superior de Beneficência Pública (extinto em 1911). 1916 - Ministério do Trabalho (extinto em 1925). 1919 - Legislação dos Seguros Sociais Obrigatórios (doença; acidentes de trabalho; pensões de invalidez, velhice e sobrevivência) à sistema inovador quenão foi efetivamente implementado (extinto em1933). 1986 - Desenvolvimento do mutualismo (associações de socorros mútuos) - sistema privado de proteção social baseado na existência de um fundo comum para o qual contribuem, de modo a permitir, de forma previdente, acautelar o futuro próprioou dos familiares. 34 a) Antes do Estado Novo 7. Evolução histórica do Estado Social em Portugal Globalmente, a atuação do Estado neste período caracterizou-se por: • Insuficiência da proteção; • Carácter supletivo/complementar; • Não universalidade • Assistência pública – verificação da necessidade económica e social • Seguros Sociais Obrigatórios – dependentes de contribuições prévias • Descoordenação e desorganização das atividades de assistência e de previdência. 35 b) Estado Novo (1933-1974) 7. Evolução histórica do Estado Social em Portugal 1929 - Caixa Geral de Aposentações. 1931 - novo regime jurídico das associações de socorros mútuos, alargando o seu âmbito de atuação (embora centrada nas pensões de sobrevivência). 1933-1935 - Previdência Social Corporativaà Constituição e Estatuto do TrabalhoNacional. 1935 - Lei das Instituições de Previdência Social conhecida por Lei de Bases de Organização da Previdênciaà inspiração alemã (Bismark). 1962 - Reforma da Previdência Social (alterações na organização). 1969 - Introduçãodenovas prestações sociais e alargamento. 1971 - Reorganização do Ministério da Saúde e Assistência (consagrado direito à saúde e investimentos emcentros de saúde). 36 7. Evolução histórica do Estado Social em Portugal Constituição de 1933 e Estatuto do Trabalho Nacional: • Previdência social inserida na organização do trabalho; • Importância dos organismos corporativos na criação e organização das instituiçõesdeprevidência; • Objetivo das instituições de previdência: proteger trabalhadores em situações de doença, invalidez, desemprego involuntário, assegurar pensões de reforma; • Responsabilidade das entidades patronais em relação a acidentes de trabalho; • Financiamento com base em contribuições (entidades patronais e trabalhadores), semcomparticipação financeira do Estado; • Administração das instituições de previdência (entidades patronais e trabalhadores). 37 7. Evolução histórica do Estado Social em Portugal Lei de Bases de Organização da Previdência Social (1935). Quatro categorias das instituições de previdência social: • Instituições deprevidência dos organismos corporativos • Caixas Sindicais de Previdência • Caixas de previdência das Casas do Povo • Casas dos Pescadores • Caixas de Reforma ou de Previdência (natureza não corporativa) – inscrição obrigatória, financiamento baseado exclusivamente em contribuições; regimede capitalização. • Associações de SocorrosMútuos (inscrição facultativa); • Instituições de Previdência dos Servidores do Estado e dos Corpos Administrativos (Caixa Geral de Aposentações, Montepio dos Servidores do Estado). 38 7. Evolução histórica do Estado Social em Portugal • Seguros sociais obrigatórios (1935 a 1975): não inclui muitos trabalhadores e não cobre importantes riscos sociais (maternidade,desemprego) • Reformas de 1942 , 1962/63, 1969, procuram alargar o âmbito de cobertura à generalização a mais trabalhadores + política de abono de família • Saúde: até 1946, Assistência Pública, a ação do Estado é circunscrita à saúde pública (“polícia sanitária”). O Estado tem um carácter supletivo, os cuidados médicos são da responsabilidadedo indivíduo e da família. 39 Estado Novo (1933-1974) 7. Evolução histórica do Estado Social em Portugal 40 7. Evolução histórica do Estado Social em Portugal 41 7. Evolução histórica do Estado Social em Portugal 42 7. Evolução histórica do Estado Social em Portugal 1974, criação de um regime não contributivo: continuou a incluir os seguros sociais obrigatórios, mas acrescentou a proteção a não trabalhadores à Só depois de 1974 temos um verdadeiroregime de Segurança Social. • 1975, proteção contra o desemprego involuntário. Lei-quadro de 1986. • 1977, estabelecimento das Pensões Sociais (não contributivas); integração dos trabalhadores independentes. • 1984, Lei de Bases da Segurança Social. • 1986, Taxa social única. Saúde: 1976, Serviço Nacional de Saúde (universal e gratuito). Reconhecimento de um direito à saúde 43 c) Pós 25 de Abril (1974 – 1986) 7. Evolução histórica do Estado Social em Portugal “Europeização” àAumento da despesa social e convergência face média europeia Reforma da Segurança social (1995-2000); 2000 Nova Lei de Bases: • Universalidade e solidariedade (benefícios sociais financiados por impostos, criação do Rendimento Mínimo Garantido (atual RSI) acessível a todos os cidadãos e residentes a título de direito • Promoção do emprego e da inserção (reforço das medidas ativas de emprego -> Plano Nacional de Emprego inspirado nas orientações de estratégia europeia: mercado social de emprego, subsídio de desemprego parcial, inversão da tendência para subsidiar saída do mercado de trabalho; benefícios fiscais empresas que contratem jovens à procura de 1º emprego) • Novo princípio da subsidiariedade (envolvimento do terceiro sector e do poder local) • Complementaridade na segurança social (Estado, terceiro sector, privado)à Pré-escolar 44 d) Pós adesão à CEE (a partir de 1986) 7. Evolução histórica do Estado Social em Portugal 45 30 Numa primeira fundamentação desta ideia de convergência com a Europa, tome-se como referência a evolução comparativa da despesa social (OCDE) entre 1980 e 2003, conforme os dados presentes no Quadro 6. Os dados aqui apresentados demonstram não só um inegável aumento da despesa, sobretudo, tal como havia sido já referido, a partir de 1990, mas também, e este é um aspecto ainda mais elucidativo, uma clara aproximação dos níveis de despesa social europeus, se utilizarmos como critério a média da EU-15. No entanto, se realizarmos esta comparação directamente com países, note-se a particularidade da convergência com Espanha a partir de 1995, com a particularidade de a partir de 2000 até 2003 Portugal se ter destacado quer no contexto do grupo de países da Europa do Sul (Ferrera, 1996), ultrapassando mesmo a Espanha e Grécia em 2003, quer face a países mais avançados como o Reino Unido. QUADRO 6 Despesa Social pública em % do PIB (1980-2003) 1980 1985 1990 1995 2000 2003 EU 15 19,9 22,2 21,9 23,9 22,5 23,9 Portugal 10,8 11,0 13,7 18,1 20,2 23,5 Espanha 15,5 17,8 20,0 21,5 20,4 20,3 Grécia 11,5 17,9 18,6 19,3 21,3 21,3 Itália 18,0 20,8 19,9 19,8 23,2 24,2 Alemanha 23,0 23,6 22,5 26,6 26,6 27,6 Reino Unido 16,6 19,6 17,2 20,4 19,1 20,1 Suécia 28,6 29,7 30,5 32,5 28,8 31,3 Fonte: OCDE 2006 Base de dados das despesas sociais (adaptada) A fim de melhor sustentar esta ideia de convergência, veja-se o exercício realizado nos Gráficos 7 e 8. No primeiro, usando o critério de despesa social deste estudo (pensões velhice, prestações familiares e despesa saúde), medido em % do PIB, evidencia uma certa singularidade docaso português, ou seja, ganha destaque no âmbito dos países da Europa do Sul, sobretudo a partir de 2000, aproximando-se de países como a Alemanha (regime corporativo de Estado- 7. Evolução histórica do Estado Social em Portugal Public social spending in percentage of GDP* 46 0 5 10 15 20 25 30 19 80 19 81 19 82 19 83 19 84 19 85 19 86 19 87 19 88 19 89 19 90 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 20 10 20 11 20 12 EU-21 OECD-34 Portugal * Education is not included Fonte: OECD 7. Evolução histórica do Estado Social em Portugal Estado Novo 1974-1986 1986 à Cobertura de riscos sociais clássicos, associados ao mundo do trabalho Lógica de segurança social e solidariedade intra-profissional Alargamento dos direitos sociais Universalidade de alguns direitos Aumento da despesa social “Europeização”: alteração do contexto, do conteúdo, da intervenção e da orientação da política social Convergência da despesa social com valores médios da UE 47 7. Evolução histórica do Estado Social em Portugal 8. Desafios atuais • Globalização. • Abrandamento ritmo crescimento económico. • Alterações demográficas à Envelhecimento da população: aumento esperança de vida e diminuição natalidade. • Alterações da estrutura familiar à famílias monoparentais. • Alterações da estrutura de emprego. • Aumento da despesa associada: saúde, desemprego, reformas à défices orçamentais. • Aumento desigualdades sociais, níveis pobreza elevados; • Sustentabilidade ambiental. 48 Comuns às sociedades ocidentais 49 0 5 10 15 20 25 30 35 40 19 70 19 71 19 72 19 73 19 74 19 75 19 76 19 77 19 78 19 79 19 80 19 81 19 82 19 83 19 84 19 85 19 86 19 87 19 88 19 89 19 90 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 20 10 20 11 20 12 20 13 OECD Denmark Finland Germany Italy Netherlands Norway Portugal Spain Sweden United Kingdom United States Public social spending in selected OECD countries (% of GDP) Fonte: OECD 8. Desafios atuais Public, private and total net social expenditure As a percentage of GDP, 2009 500 5 10 15 20 25 30 35 40 Public Private Net total OECD Factbook 2013: Economic, Environmental and Social Statistics Fonte: OECD 1.8 Desafios atuais 51 Chart 4. Pensions and health expenditure are the main items of public social spending France (32.1) Denmark (30.2) Sweden (29.8) Belgium (29.7) Finland (29.4) Austria (29.1) Germany (27.8) Italy (27.8) Spain (26) Portugal (25.6) United Kingdom (24.1) Hungary (23.9) Greece (23.9) Ireland (23.6) Luxembourg (23.6) Norway (23.3) Netherlands (23.2) Slovenia (22.6) Japan (22.4) OECD (22.1) Poland (21.5) New Zealand (21.2) Czech Republic (20.7) Estonia (20) Canada (19.2) United States (19.2) Slovak Republic (18.7) Switzerland (18.4) Iceland (18.5) Australia (17.8) Israel 2 (16) Turkey (12.8) Chile (11.3) Korea (9.4) Mexico (8.2) Public social expenditure by broad social policy area, in percentage of GDP, in 2009 1 Note: 1. Countries are ranked by decreasing order of public social expenditure as a percentage of GDP. Spending on Active Labour Market Programs (ALMPs) cannot be split by cash/services breakdow n; they are how ever included in the total public spending (show n in brackets). Income support to the w orking-age population refers to spending on the follow ing SOCX categories: incapacity benefits, family cash benefits, unemployment and other social policy areas categories. Cash benefits Services 9.0 7.7 7.3 8.1 6.8 7.3 8.6 7.4 7.0 7.2 8.1 5.1 6.5 7.1 6.6 6.2 7.9 6.8 7.1 6.6 5.2 8.3 6.7 5.2 8.0 8.3 6.0 6.0 6.2 6.2 4.1 5.4 3.7 4.0 3.1 3.2 6.9 7.7 2.1 4.7 1.7 2.5 1.1 2.0 0.7 3.9 2.7 1.5 1.8 2.0 5.0 2.7 1.0 2.4 2.4 0.6 2.0 1.1 1.0 0.9 1.1 1.2 1.7 4.6 3.3 2.3 0.1 1.9 1.5 2.4 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 Health All social services except health 13.7 6.1 8.2 10.0 9.9 13.5 11.3 15.4 9.3 12.3 6.2 9.9 13.0 5.1 7.7 5.4 5.1 10.9 10.2 7.8 11.8 4.7 8.3 7.9 4.5 6.8 7.0 6.3 1.7 3.5 5.0 6.8 3.6 2.1 1.7 5.2 7.9 5.5 8.1 7.1 5.8 4.4 3.4 6.8 4.6 5.6 5.7 2.6 8.7 6.8 6.3 6.3 3.6 2.2 4.8 3.4 5.9 4.4 5.7 5.4 2.8 4.3 4.0 5.9 4.5 4.4 0.5 1.9 1.3 1.0 02468101214161820 Pensions (old age and survivors) Income support to the working-age population Fonte: OECD 52 Demografia 8. Desafios atuais 53 0.0 5.0 10.0 15.0 20.0 25.0 30.0 0.0 10.0 20.0 30.0 40.0 50.0 60.0 70.0 80.0 90.0 19 60 19 62 19 64 19 66 19 68 19 70 19 72 19 74 19 76 19 78 19 80 19 82 19 84 19 86 19 88 19 90 19 92 19 94 19 96 19 98 20 00 20 02 20 04 20 06 20 08 20 10 20 12 Esperança de vida à nascença Taxa bruta de natalidade Demografia, Portugal Fonte: Pordata 8. Desafios atuais 54 Korea Canada Ireland New Zealand United States Slovak Republic Finland Netherlands Poland United Kingdom OECD Luxembourg Switzerland Slovenia France Norway Czech Republic Denmark Belgium Sweden Spain Austria Portugal Hungary Greece Italy Germany Estonia Chart 6. Pension spending will grow but not as fast as elderly populations Note : Public pensions refer to old-age and survivors cash benefits. Calculations are based on SOCX data and public pension projections from OECD Pensions Outlook 2012 . OECD refers to countries for which data are available. 97 66 66 65 61 61 57 55 52 45 43 44 44 43 42 42 39 38 34 32 31 30 29 26 23 20 20 11 122 26 19 26 7 15 24 21 - 6 - 5 14 36 19 11 0 33 - 4 5 31 2 4 14 7 - 5 1 - 6 5 - 11 -20 -10 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 Expected change in the number of elderly (%) 2009-2025 Expected change in the percentage of public pension expenditure in GDP (%) 2009-2025 Fonte: OECD 55 0.0 5.0 10.0 15.0 20.0 25.0 30.0 35.0 40.0 45.0 50.0 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Taxa de risco de pobreza - Antes de qualquer transferência social Taxa de risco de pobreza - Após transferências relativas a pensões Taxa de risco de pobreza - Após transferências sociais Risco de pobreza, Portugal Fonte: Pordata 8. Desafios atuais 56 0.0 1.0 2.0 3.0 4.0 5.0 6.0 7.0 8.0 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 20 10 20 11 20 12 PT DE DK UK Desigualdade na distribuição do rendimento (S80/S20) Desigualdade Fonte: Pordata 8. Desafios atuais 57 Mercado de trabalho, Portugal 8. Desafios atuais 58 0% 2% 4% 6% 8% 10% 12% 14% 16% 18% 20% 19 86 19 87 19 88 19 89 19 90 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 1998 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 20 10 20 11 20 12 Pop empregada tempo parcial Pop trabalho temporário Mercado de trabalho, Portugal Fonte: Pordata 8. Desafios atuais Barr, N. (2004), Economics of theWelfare State (Capítulos 1e 2). Esping-Andersen, G. (1990) The Three Worlds of Welfare Capitalism, Cambridge, Polity Press. (capítulos 1 e 2). Pereirinha, J.A. e Carolo, D.F. (2009), A construção do Estado- Providência em Portugal: Evolução da despesa social de 1935 a 2003. 59 Referências bibliográficas Fontes de informação estatística Eurostat: http://epp.eurostat.ec.europa.eu/portal/page/portal/socia l_protection/introduction OECD: http://www.oecd.org/social/expenditure.htm INE: www.ine.pt CWED: http://cwed2.org 60
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