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GESTÃO AMBIENTAL DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 1 GESTÃO AMBIENTAL DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Graduação GESTÃO AMBIENTAL DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 41 U N ID A D E 3 POLUIÇÃO AMBIENTAL E DANOS À QUALIDADE DE VIDA Nesta unidade estudaremos a poluição ambiental enfocando, inicialmente, a poluição natural e, posteriormente, a promovida por ação antropogênica. Serão relatados exemplos com a descrição de seus efeitos nos seres vivos e nos ambientes. OBJETIVO DA UNIDADE: • identificar os tipos de poluição ambiental que alteram as interações, interferindo nocivamente nos processos metabólicos, ecológicos e psicossociais. PLANO DE UNIDADE: • Poluição ambiental natural. • Poluição ambiental antrópica. • Desigualdade social e pobreza. • Violência. • Direitos humanos. • O direito de viver. • O direito à prática da cidadania. Bons estudos! 42 UNIDADE 3 - POLUIÇÃO AMBIENTAL E DANOS À QUALIDADE DE VIDA POLUIÇÃO AMBIENTAL NATURAL Por definição, poluição é todo o material ou sujeira prejudicial à saúde dos seres vivos e dos ambientes naturais ou urbanizados. A poluição ambiental natural é aquela que ocorre como conseqüência dos processos naturais de ecossistemas ainda inalterados ou pouco alterados pelo homem. Segundo Fellenberg (1980, p.17), os seguintes elementos ambientais são exemplos de poluição natural: pó; pólen e esporos; óleos essenciais (na atmosfera); micotoxinas e fitoplancto-toxinas (toxinas). As plantas fanerógamas são aquelas em que os órgãos sexuais ficam expostos (sem ou com flor e fruto). Os ventos ajudam na polinização, ou seja, na reprodução sexuada porque há intercâmbio de genes. Os pólens são transportados pela atmosfera. Eles são outro exemplo de poluição natural atmosférica que pode provocar reações alérgicas no nariz e nos olhos. Lei mais sobre as plantas fanerógamas em http://educar.sc.usp.br/ ciencias/seres_vivos/seresvivos4.html. As bactérias se tornam esporos quando formam uma parede celular que as protege de ambientes inóspitos à sua sobrevivência. Quando há pouco alimento ou outros fatores ambientais limitantes, além de elaborarem uma “carapaça resistente”, elas reduzem, substancialmente, o processo metabólico e vivem de forma bem latente, até que as condições ambientais voltem a ser favorável ao seu desenvolvimento e perpetuação. Este é o estado de “dormência”, através do qual o metabolismo celular fica bem minimizado, com a economia de energia e reserva alimentar. Desta forma, as bactérias sobrevivem em poeiras acumuladas nos ambientes. Na atmosfera, elas podem ser absorvidas por nós, através da respiração, causando infecção. Existem bactérias que são responsáveis pela pneumonia. DICA 43 GESTÃO AMBIENTAL DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Os pinheiros são plantas coníferas, que armazenam óleos etéreos (terpenos e ésteres – óleos essenciais) em seus troncos e folhas. Quando elas desprendem muito óleo terpeno, as reações fotoquímicas formam partículas semelhantes a uma neblina ou névoa, na região atmosférica. O acúmulo desta neblina parece smog e os terpenos em excesso são prejudiciais à saúde, podendo causar irritações no trato respiratório. Por outro lado, possuem atividades inseticidas, que é uma alternativa química para o controle de insetos. A sua importância ecológica como defensivos de plantas está bem definida, já que são tóxicos a várias espécies predadoras de vegetais. Os limonóides são os terpenóides mais representativos como protetores naturais. São, inclusive, larvicidas, porque podem combater as larvas de Aedes aegypti, visando a erradicação da dengue. Os microorganismos são os maiores responsáveis pela contaminação ambiental. Os alimentos são a matéria-prima utilizada pelos fungos para a produção das micotoxinas, substâncias tóxicas que eles segregam aos vegetais superiores, aos animais e ao homem. Mesmos que haja ausência total de parasitismo (associação desarmônica entre organismos de espécies diferentes, que pode gerar a morte gradual do hospedeiro. Por exemplo, os antibióticos produzidos por fungos impedem a multiplicação das bactérias). Fungos produtores de aflatoxinas, da espécie Aspergillus flavus, se desenvolvem em quase todos os alimentos. A formação destas substâncias depende do tipo de alimentação e da velocidade de crescimento do fungo. Os fatores físicos apropriados para a proliferação desta espécie de fungos são: temperatura igual a cerca de 30ºC e umidade relativa do ar em torno de 75%. Os alimentos contaminados são resistentes ao calor. Nem a fervura e nem o cozimento são suficientes para recuperá-los. As aflotoxinas são de um grupo de toxinas carcinogências responsáveis por, principalmente, câncer de fígado e danos ao rim, baço e estômago. Ainda segundo Fellenberg (1980), quanto à profilaxia contra os ataques dos fungos, que inclusive geram deformações em vegetais superiores, nas raízes e nos rebentos, recomenda-se a conservação dos alimentos sob refrigeração em muito baixas temperaturas e o emprego de fungicidas nas plantações. 44 UNIDADE 3 - POLUIÇÃO AMBIENTAL E DANOS À QUALIDADE DE VIDA Normalmente, as sementes recebem um tratamento prévio com fungicidas para se evitar a contaminação. Porém, as substâncias empregadas são venenosas para nós e o uso incorreto pode poluir os solos e as águas superficiais. A política de qualidade da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) garante a qualidade sanitária dos produtos alimentícios. Como já foi mencionado, o fitoplanctôn é composto por micro-vegetais, que são a produção primária do ciclo alimentar da comunidade planctônica. Em condições ambientais propícias, pode haver um aumento da reprodução (multiplicação em massa ou “boom”) destas micro-algas, inadequado à qualidade ambiental. O aporte de muitos nutrientes, temperatura, luminosidade (fotossíntese), salinidade, entre outros fatores, favorecem este estado. Lembra? Mas a grande quantidade de algas que utilizou o alimento disponível libera substâncias para o meio aquático após os seus processos metabólicos. Essas substâncias, em abundância, tornam-se tóxicas, portanto, prejudiciais à sobrevivência das próprias algas e de outros organismos da cadeia trófica. Tanto da região superficial, das águas continentais, costeiras marinhas e oceânicas; da região nerítica, da plataforma continental (parte do ambiente marinho); como das águas mais profundas dos mananciais, lagos, lagoas, lagunas (mais internas e costeiras, dos continentes), mares e oceanos (região pelágica = marinha). Para mais explicações sobre o que significa região nerítica consulte www.ambientebrasil.com.br. Essas substâncias tóxicas, provenientes da produção do fitoplâncton, são chamadas de fitoplancto-toxinas. Elas podem alcançar o organismo humano de muitas maneiras porque se acumulam, por exemplo, em moluscos e peixes, que são consumidos por nós. A contaminação por essas toxinas nos conduz à questão da poluição antropogênica. O despejo de material orgânico, através dos esgotos, altera as características ambientais e propicia a proliferação desordenada das espécies fitoplanctônicas tóxicas. A espécie Gymnodimiun sanguineum é responsável pela Maré Vermelha, que se forma devido ao excesso de reprodução dessas micro-algas, gerando um “boom” DICA 45 GESTÃO AMBIENTAL DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL das mesmas, com a liberação de fitoplancto-toxinas e a conseqüente mortandade de peixes, prejudicando o ciclo da cadeia alimentar e da vida. POLUIÇÃO AMBIENTAL ANTRÓPICA Apesar das inúmeras divulgações de informações e dados sobre a necessidade de preservarmos os recursos naturais, o homem continua utilizando a natureza como se não fosse parte dela. O nosso manejo dos elementos naturais aindaé irracional porque ainda estamos degradando o ambiente. A poluição ambiental antrópica pode atingir o ar, a água e o solo. Quando as propriedades naturais da atmosfera ficam alteradas por agentes externos, podemos dizer que a poluição atmosférica se consumou como conseqüência das atividades e dos produtos humanos. As indústrias, fábricas de papel e cimento e refinarias de petróleo emitem enxofre, chumbo e outros metais pesados (além dos resíduos sólidos que veremos posteriormente). No entanto os veículos automotores são os maiores responsáveis pela emissão de gases tóxicos como o monóxido de carbono, o dióxido de carbono, o óxido de nitrogênio, o dióxido de enxofre e derivados de hidrocarbonetos e chumbo. As poeiras são partículas com dimensões tão pequenas que ficam suspensas no ar. As usinas termoelétricas alimentadas com carvão, indústrias de cimento e alguns ramos da indústria química, além dos veículos automotores, para Fellenberg (1980, p.31), são algumas fontes de poeiras não-metálicas. As pastagens, os desmatamentos e os desertos também são responsáveis por este tipo de poluição por causa dos ventos. Os solos empobrecidos enfraquecem a cobertura vegetal e possibilitam a formação de nuvens desta poeira em questão. Constantemente, a nossa atmosfera é atingida pela poeira cósmica, mas a sua quantidade é muito reduzida quando comparada com a que é produzida por nós. As irritações crônicas das mucosas provêm dessa poluição com a sua penetração nos pulmões e sedimentação nas vias respiratórias. O pó de asbesto de parte dos freios e embreagens dos veículos gera câncer nas vias respiratórias. A poeira comum de beira de estrada depositada nas folhas impede a realização da fotossíntese porque bloqueia a absorção da luz natural com a forte reflexão dos raios do sol. 46 UNIDADE 3 - POLUIÇÃO AMBIENTAL E DANOS À QUALIDADE DE VIDA Na poeira metálica (que contem metal e seus derivados), o chumbo é o elemento químico metálico mais tóxico. Os utensílios domésticos, traços de chumbo, fundição de chumbos e indústria de plásticos, em quantidades maiores, são exemplos de fontes dessa poluição. Como este metal é muito denso, o gás industrial o transporta por poucos quilômetros apenas e este composto é sedimentado rapidamente. Quando assimilado pelo trato digestivo, é parcialmente absorvido pelo estômago e pelo intestino. Porém, a porção que representa maior risco à saúde é a sua forma química, que se concentra no ar. O pulmão a assimila mais rápida e completamente do que o trato digestivo. Ela entra na circulação sanguínea e se distribui por todo o organismo, podendo provocar danos ao sistema nervoso central. Como conseqüência, pode gerar estados de agitação, epilepsia, mal de Parkinson e paralisia. As partículas coloidais sólidas que se apresentam na fumaça ficam misturadas às gotículas de líquidos e vapores. São muitas as formas de fumaças poluidoras produzidas pelo homem. A mais comum é a do cigarro. As folhas do tabaco são preparadas para sempre apresentarem certo grau de umidade que impede a imediata e completa queima do cigarro quando o mesmo é acendido. Por isso, não há formação de chamas. Junto com o vapor d’água, que se forma e fica aquecido, ocorre a destilação de muitos elementos químicos fisiologicamente ativos. Dentre os que existem, predominam nicotina, monóxido de carbono, benzopireno e alguns derivados, alcatrão e fuligem. A ressorção destes componentes voláteis ocorre com a inalação realizada pelo hábito de fumar. Através das vias respiratórias, atingem os brônquios, os alvéolos pulmonares e os eritrócitos. Como conseqüência, surgem o catarro, o câncer (nos brônquios e nos pulmões) e a constante sensação de cansaço. Pelo plasma sangüíneo, chegam ao coração, ao cérebro, ao córtex supra-renal e ao útero. A hipertensão, o enfarte, a euforia, as úlceras, a trombose, a pulsação alta e os nascimentos prematuros ou morte de fetos, são outros danos causados à saúde. Ressorção = absorção pelo sangue. 47 GESTÃO AMBIENTAL DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Pouca quantidade de cigarros é suficiente para poluir o ar de um ambiente pequeno. Quando o cigarro não era proibido em recintos fechados, cerca de 2,5% da hemoglobina de fumantes passivos ficava combinada com monóxido de carbono (CO). As outras substâncias nocivas também podem igualmente comprometer a saúde daqueles que não são fumantes e inalam a fumaça exalada pelas pessoas viciadas. Sob este aspecto, este vício foi, por muito tempo, uma questão ambiental preocupante. Atualmente, esta problemática está resolvida com relação aos lugares públicos de interesse comum como os ônibus, restaurantes, cinemas, shoppings, entre outros. Levando-se em consideração o gasto com a saúde pública, as despesas decorrentes do tabagismo podem ser altas com hospitalização, tratamento, invalidez e morte. Os gases são substâncias que, nas condições normais (temperatura ambiente e pressão de uma (1) atmosfera), se apresentam no estado gasoso e não condensam. Os vapores são os gases que podem se condensar em condições ambientais normais como o vapor d’água, por exemplo. O dióxido de carbono ou gás carbônico (CO2) e o monóxido de carbono (CO) são gases produzidos em grande quantidade. O monóxido de carbono é um gás muito tóxico e a sua atividade fisiológica se baseia na sua capacidade de combinação com a hemoglobina e a conseqüente redução do oxigênio no organismo. Isto pode ocorrer nos eritrócitos (sinônimo de hemácias, células vermelhas ou glóbulos vermelhos) enquanto o CO2 é acumulado nas células, podendo ocasionar uma acidose no citoplasma (plasma de uma célula), com distúrbios metabólicos. As plantas são bem resistentes às concentrações de CO, que são consideradas altas (em torno de 1%), enquanto o homem e os animais são muito sensíveis ao mesmo. Quando o monóxido de carbono possui a concentração de 60 ppm no ar, uma quantidade equivalente a 10% de carboxihemoglobina se forma no sangue. O ser humano reage apresentando indício de dificuldade visual e dor de cabeça leve. Em casos mais estremados, para o teor de 660 ppm do mesmo, passamos a ter 50% de carboxihemoglobina em nossa circulação sanguínea, ocasionando graves reações como paralisia, bloqueio das funções respiratórias e coma. 48 UNIDADE 3 - POLUIÇÃO AMBIENTAL E DANOS À QUALIDADE DE VIDA As atividades humanas também poluem a nossa atmosfera com emissões gasosas ácidas, que são compostas por gases caracteristicamente ácidos e que são capazes de formar gases ácidos. O dióxido de enxofre (SO2), o fluoreto de hidrogênio (HF) e o cloreto de hidrogênio (HCL) são gases ácidos característicos. O SO2 se origina a partir do aquecimento de minérios do grupo dos sulfetos e da fabricação de fertilizantes, celulose e ácido sulfúrico. O petróleo e o óleo combustível contêm enxofre, em proporções variáveis, conforme a origem. O HF se desprende de fundições de metais pesados e alumínios; e de indústrias de vidro, esmaltes, porcelana e fertilizantes. O HCL se forma nas indústrias de fertilizantes, de esmaltação e porcelana, de eletroquímica e na combustão de materiais contendo cloro, como cloreto de polivinila (PVC). Todos formam ácidos quando com a presença de água. No homem, eles atacam as mucosas e os alvéolos pulmonares. Em casos graves, há perda de sangue pelos alvéolos. O dióxido de enxofre junto com o dióxido de azoto formam as chuvas ácidas, que têm o pH baixo, com o valor igual a 4,5. O HF pode ser assimilado pelo trato digestivo. Ele penetra na corrente sanguínea, provoca a diminuição do número de eritrócitos, bloqueando a ação das enzimas responsáveis pela degradação oxidativa de glicídios durante a respiração celular. Por isso a fluoretação da água potável parao endurecimento destes é contra-indicado. É mais adequado o uso de pasta dental fluoretada. Nos vegetais, o SO2 bloqueia a fotossíntese pela destruição das clorofilas a e b. Assim como o HCL, através da redução da síntese de clorofilas, prejudica o mesmo processo fotossintético relativo às plantas autotróficas (fitoplâncton). A reação de oxidação é uma reação química característica de gases oxidantes. São eles os óxidos de nitrogênio [monóxido de nitrogênio (NO) e dióxido de nitrogênio (NO2)] e ozone. As suas principais fontes são o motor de combustão, além das indústrias de ácido nítrico e sulfúrico. Estes óxidos sofrem transformações que levam à formação de ozone (O3). Os raios ultravioletas, mais energéticos, podem decompor facilmente o NO2 em NO, 49 GESTÃO AMBIENTAL DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL formando a espécie química O, muito reativa. Esta reage com o oxigênio atmosférico e ozone: NO2 —UV—> NO + O O + O2 ———> O3 Isto ocorre na Camada de Ozônio, situada na estratosfera. Ela tem a função protetora porque absorve a maior parte dos raios UV, provenientes do Sol. Se toda a radiação solar UV alcançasse a superfície terrestre, teríamos muitas ocorrências de afecções dermatológicas e câncer de pele, sobretudo nos indivíduos de raça branca. A raça negra é menos sensível aos raios UV. Os gases oxidantes são nocivos à saúde humana, pois causam intoxicação e edemas pulmonares. O ozone e os óxidos de nitrogênio são lipossolúveis, portanto, podem penetrar profundamente nos alvéolos pulmonares, além de poderem provocar a desnaturação de proteínas, tornando porosas e ainda mais permeáveis as paredes dos alvéolos e capilares. Os primeiros são lentamente preenchidos com plasma proveniente dos vasos capilares. Os pulmões acumulam lentamente um líquido espumoso, propiciando o edema pulmonar, com a conseqüente morte por sufocação. Nas plantas, tais gases também alteram a permeabilidade das membranas celulares, mas não de modo tão grave como no homem. As clorofilas e os carotenóides são destruídos, o que diminui a capacidade fotossintética. Além de bloquearem a troca gasosa e impedirem a abertura dos estômatos das folhas. A transpiração, o transporte de materiais, a fotossíntese e a respiração ficam comprometidas. A grande reatividade dos óxidos possibilita a formação de smog [aerossóis e nitrato de peroxiacetila (PAN)]. Este é decorrente das dimensões de suas partículas, uma solução coloidal como a poeira e a fumaça. O acúmulo de diferentes tipos de substâncias do smog e a influência de fatores ambientais diversos provocam variados efeitos combinados no homem, nas plantas e no meio ambiente. Exemplos: em 1952, em Londres, durante uma inversão térmica, um smog matou 4000 pessoas. Uma concentração relativamente baixa de SO2 tornou-se nociva por causa da elevada concentração de poeira em suspensão no ar. O SO2 adsorvido (= aderido numa superfície) por partículas de pó penetra até os alvéolos pulmonares e as paredes dos capilares sofrem corrosão, formando edemas mortais no pulmão. O smog sem o pó e este sem o SO2 teriam sido inofensivos à saúde humana; o PAN existente neste conhecido nevoeiro também prejudica a fotossíntese, porque bloqueia o crescimento das plantas; muitos componentes juntos podem acarretar na interferência de um sobre o outro, resultando numa diminuição da atividade de cada um deles. Por isso é importante se avaliar corretamente a ação da combinação de fatores químicos contaminantes. Lipossolúveis = solúveis em gorduras Smog: do inglês, deriva das palavras smoke = fumaça e fog = neblina, nevoeiro. 50 UNIDADE 3 - POLUIÇÃO AMBIENTAL E DANOS À QUALIDADE DE VIDA O elemento químico eteno é um composto orgânico que ocorre no smog. As suas fontes podem ser o gás de iluminação, o craqueamento de petróleo e os gases de escape de veículos motorizados. Pequenas concentrações dele já são suficientes para danificar muitas plantas. Sistemas biológicos, animais ou vegetais, em alguns casos, podem possuir uma sensibilidade muito maior para registrar processos e/ou fenômenos do que técnicas de análise química ou física. Por outro lado, a análise físico-química permite resultados que reproduzem características mais próximas da realidade pontual da coleta de amostras. As emissões e imissões são caracterizadas por conceitos bem definidos como: “concentração máxima de emissão” (CME), que determina a quantidade máxima de substância tóxica que pode ser emitida para a atmosfera; e “concentração máxima de imissão” (CMI), que determina sobre as concentrações toleráveis e não prejudiciais à saúde do homem, animais e vegetais. Os padrões adotados para a definição dos agentes poluidores e os critérios para a aferição dos poluentes e seus efeitos sobre os seres vivos possibilitam a identificação das fontes de poluição atmosférica. Em cidades muito poluídas, os distúrbios conseqüentes das contaminações por substâncias tóxicas do ar são agravados pela inversão térmica, típica do período de inverno, quando uma camada de ar frio se forma na alta atmosfera, aprisionando o ar quente e bloqueando a dispersão dos elementos toxicogênicos. A atmosfera é um recurso natural muito compartilhado pelo mundo inteiro e os efeitos negativos da poluição também são rápida e globalmente sentidos. O mar representa 97% de toda a água existente na Terra. A poluição da água representa um aspecto muito inquietante da degradação antrópica do meio natural. O fluxo aquático subterrâneo, localizado abaixo das camadas mais profundas do solo, dificilmente é atingido e poluído. A contaminação das águas continentais mais superficiais e oceânicas é um problema contemporâneo de extrema gravidade. A poluição aquática se processa num ritmo muito mais alarmante que o referido sobre a poluição atmosférica. O número de despejos nocivos é muito maior que os poluentes emanados na 51 GESTÃO AMBIENTAL DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL atmosfera. As águas residuárias urbanas, agropecuárias e industriais; as de lavagem de petróleo e derramamento de óleo são alguns exemplos das principais fontes dos poluentes. Dos despejos dos grandes centros urbanos destacam-se os provindos de seus esgotos, através dos quais também são lançados restos de alimentos, sabões e detergentes, além dos detritos orgânicos. Os detergentes sintéticos, de utilização doméstica, são uma forma de poluição grave porque foram produzidos com substâncias orgânicas complexas de difícil biodegradação. Os seus fosfatos e polifosfatos são elementos químicos limitantes ao desenvolvimento de algas e bactérias. Portanto, são os principais responsáveis pela eutrofização da água. Além disso, reduzem a tensão superficial da água e formam espuma na superfície desta. Os coliformes fecais também representam risco contra a saúde da biota aquática e do homem, embora possam ser mais facilmente degradados por bactérias quimiossintetizantes. Em ambiente aquático contaminado com matéria de origem fecal, a Escherichia coli é a responsável pela degradação das fezes. O seu habitat natural costuma ser o lúmen intestinal dos seres humanos e de outros animais de sangue quente. Por isso, primeiramente é feita a contagem de bactérias coliformes e só depois é quantificado o número total contido em um conhecido volume d’água. Temos, assim, o “índice de coliformes fecais”, que é o critério mais importante para a avaliação de qualidade. Acesse o site http://pt.wikipedia.org/wiki/Escherichia_coli para obter mais informações sobre biodegradação e a bactéria Escherichia coli. Poluentes como as substâncias orgânicas, detergentes e produtos de limpeza, servem de substratos para microorganismos, possibilitando a colonização e o desenvolvimento dos mesmos. Em águas muito poluídas ocorre a eutrofização [água hipertróficacom excessiva quantidade de nutrientes presentes na coluna d’água e a quantidade anormal de microorganismos que praticam a oxidação biológica (= biodegradação = decomposição biológica)]. A decomposição destes materiais e de CO2 tem como conseqüência um consumo maior de oxigênio. Todos os organismos que precisam do oxigênio para viver são levados à morte e os seus restos fornecem ainda mais alimentos para as bactérias anaeróbias, que normalmente só existem em pequenas quantidades. Elas decompõem substâncias orgânicas em ausência de oxigênio com a formação de metano (CH4), amônia (NH3), dissulfeto de carbono (CS2) e gás sulfúrico (H2S), dos chamados gases de putrefação. Estes gases são bem tóxicos para os seres vivos, inclusive o homem, pois exterminam a existência dos animais aeróbios (os peixes morrem), além de comprometerem a atmosfera, porque esses elementos químicos também contribuem para a formação de chuvas ácidas. Os fertilizantes, os pesticidas e outros produtos químicos das águas residuárias de origem agropecuária atingem outras águas por percolação, lembra? São as águas de escorrência que percorrem os espaços vazios do solo, existentes entre as argilas. É desta forma que chegam aos rios, mares DICA 52 UNIDADE 3 - POLUIÇÃO AMBIENTAL E DANOS À QUALIDADE DE VIDA e, eventualmente, ao mar. Os elementos químicos, como o chumbo (Pb), o mercúrio (Hg), o cobre (Cu), o zinco (Zn), o crômio (Cr), o níquel (Ni) e o cádmio (Cd), são altamente tóxicos e mesmo assim são despejados nos rios e mares. O petróleo, na sua forma bruta, é uma grande mistura de hidrocarbonetos saturados e insaturados. Esta mistura é utilizada para a obtenção de óleo combustível, gasolina de diferentes tipos, parafina, medicamentos, cosméticos, fibras têxteis, plásticos e muitos outros produtos. A indústria do petróleo aumentou bastante a sua produção. Como também a poluição por este produto. Nas regiões oceânicas, mais profundas dos mares, que ocorrem após a plataforma continental, a partir do talude, navegam petroleiros. Estes, em suas viagens de retorno, lavam os seus tanques e suas águas de lavagem poluem o mar com os resquícios de petróleo e seus derivados. Por isso, zonas marítimas onde estas operações são permitidas foram delimitadas em convenções internacionais. O petróleo é hidrófobo e se espalha na superfície formando uma fina película, após a evaporação dos componentes voláteis. Os menos voláteis permanecem flutuando como uma massa viscosa. Assim, fica prejudicada a troca gasosa entre a água e o ar, com o ambiente aquático completamente alterado. As bactérias capazes de degradá-lo biologicamente podem ser uma alternativa de combate contra esse contaminante. Este tipo de poluição provoca a mortandade de várias espécies da cadeia alimentar e aves marinhas. O seu refino também possibilita o seu despejo. As substâncias inorgânicas liberadas por muitas indústrias de vários ramos são igualmente problemáticas. Os metais pesados são os predominantes. Eles são muito reativos e basta uma pequena concentração para trazerem efeitos adversos à água. Como, também, possuem a singular propriedade de serem precipitados por sulfetos. Participam da bioacumulação porque se acumulam através da cadeia alimentar (Trófica, lembra?) e os predadores apresentam a maior concentração. O mercúrio, um dos metais pesados, é empregado como catalisador na fabricação de acetileno e como cátodo (pólo negativo), em processos Hidrófobo = não é solúvel na água. 53 GESTÃO AMBIENTAL DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL eletrolíticos industriais. Como composto organo-mercúrio, é utilizado na indústria da madeira e na agricultura (agente de proteção das sementes contra bactérias e fungos). Em 1953, uma indústria de acetileno, localizada na ilha de Kyushu, Japão, depositou detritos de mercúrio na baía de Minamata. Este foi consumido pela cadeia trófica aquática. Os peixes e moluscos ficaram poluídos com um nível de toxicidade alto e intolerável para os homens. Principalmente os pescadores tiveram sérios problemas de saúde e uma média de 38% das pessoas atingidas faleceram. Elas tiveram uma paralisação progressiva dos órgãos dos sentidos, que se principiava pelas mãos e pelos pés e se propagava por todo o corpo. Outros sintomas foram identificados, como: lesões renais, tremores musculares, irritabilidade, distúrbios da fala, perturbações do sono, fraqueza de memória e diminuição da capacidade de concentração mental. As fontes de poluição por cádmio podem ser os fosfatos usados como fertilizantes, na indústria metalúrgica do zinco e em muitos processos de combustão. Também no Japão, pela primeira vez, foi observada uma estranha atrofia do esqueleto, muito dolorosa, provocada por intoxicação crônica com cádmio. Inicialmente, as vítimas eram acometidas por uma diminuição do olfato e pela formação de um anel amarelo no colo dos dentes. Posteriormente, a medula óssea ficou afetada com a redução dos glóbulos vermelhos e a crescente remoção de cálcio dos ossos. A deficiência de cálcio no tecido ósseo foi o fator responsável pela redução de até 30% do tamanho do esqueleto. Outros metais pesados que, freqüentemente, são provenientes das indústrias, são diretamente prejudiciais ao homem. Dois mecanismos de ação são fundamentais à explicação sobre os processos de intoxicação e surgimento de seus sintomas. Primeiramente, este poluente forma complexos com os grupos funcionais de muitas enzimas (formação de quelatos) e as partes das enzimas responsáveis por determinados processos metabólicos são bloqueadas. Porque a placenta é permeável aos metais pesados, muitos fetos foram afetados. Portanto, muitas crianças nasceram com sérios defeitos no sistema nervoso após a catástrofe de Minamata. O segundo mecanismo envolve as membranas celulares, com as quais estes metais podem se combinar e ocasionar as alterações de suas estruturas. O transporte de íons e substâncias orgânicas essenciais à manutenção dos processos vitais fica prejudicado. 54 UNIDADE 3 - POLUIÇÃO AMBIENTAL E DANOS À QUALIDADE DE VIDA A seguir, temos a relação dos ramos industriais e de alguns dos poluentes metálicos (metais pesados) que são emitidos: Ramo Industrial _________Metais pesados_________ Cd Cr Cu Hg Pb Ni Sn Zn Papel X X X X X X Petroquímica X X X X X X Ind. de Cloro e KOH (eletrolítica) X X X X X X Fertilizantes X X X X X X X Refinarias de petróleo X X X X X X Usinas siderúrgicas X X X X X X X X Ind. de metais não ferrosos X X X X X X X Veículos automotores e aviões X X X X X X Vidro, cimento e cerâmica X Indústria têxtil X Indústria de couro X Usinas termoelétricas X Sendo: Cd = cádmio Cr = crômio Cu = cobre Hg = mercúrio Pb = chumbo Ni = níquel Sn = estanho Zn = zinco Os pesquisadores ainda estão descobrindo sobre os efeitos das intoxicações lentas e contínuas por metais pesados e suas influências em doenças contemporâneas como nervosismo, baixa resistência a infecções, câncer e outras.O comportamento desses poluentes ainda não pode ser controlado e, muitas vezes, a presença deles só é identificada na biota após anos ou decênios. Conforme a descrição sobre os processos nocivos à qualidade da água, foi citada a principal forma de poluição do solo: a aplicação de fertilizantes e pesticidas, que percolam para as águas, pelos espaços intersticiais do solo, após poluírem o mesmo. As chuvas e as águas de escorrência transportam os poluentes para as suas camadas mais profundas. As técnicas modernas estão contaminando os solos cultivados de maneira irremediável a ponto de colocar a produção agrícola sob o risco de ficar comprometida em longo prazo. Conforme Fellenberg (1980), os fertilizantes são utilizados para enriquecer o solo com nutrientes químicos necessários ao bom desenvolvimento das culturas. O crescimento demográfico e a demanda de consumo conduziram o homem a otimizar as colheitas com o máximo de rendimento por área específica. Portanto, tornou-se necessário devolver ao solo os nutrientes que foram subtraídos pelas raízes. Como é muito caro purificar os fertilizantes, eles são aplicados com compostos químicos tóxicos que se concentram nas 55 GESTÃO AMBIENTAL DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL camadas superiores, onde se encontra a maior parte do sistema de raízes das plantas. Este manejo inadequado compromete os vegetais e o restante da biota, inclusive os microorganismos, todos responsáveis pela fertilidade do próprio solo. As suas características físicas e químicas se modificam propiciando a desertificação. Consulte na internet sites sobre desertificação. Os inseticidas, os fungicidas e os herbicidas são exemplos de pesticidas usados para combater pragas peculiares às plantas consumidas pelo homem. Eles são igualmente nocivos, poluidores, e afetam muitos seres vivos embora o objetivo seja destruir um número limitado de espécies. DESIGUALDADE SOCIAL E POBREZA A desigualdade social e a pobreza são frutos do desenvolvimento da nossa sociedade muito materialista, capitalista, imediatista e globalizada. Vejamos porque esta questão foi incluída nesta unidade. Como foi definida inicialmente, a poluição é todo o material ou sujeira que degrada o meio ambiente. Neste caso, o material é imaterial considerando- se que o agente poluidor, primeiramente, é a nossa cultura de desenvolvimento social. O mundo pós-moderno globalizado da nossa organização cultua o individualismo na busca pelo bem estar e pela satisfação do acúmulo de riquezas. Os conceitos que visavam nortear ações pela qualidade de vida foram transformados em práticas que aumentaram os índices de desigualdade social. Um exemplo disso é a favelização. A pobreza é a principal conseqüência desta realidade. É uma problemática histórica, através da qual muitos não têm acesso aos bens mais essenciais à vida. Podemos, então, considerar que aqueles que vivem na pobreza, ou em condições abaixo da pobreza, são seres que estão sendo altamente degradados em nossos sistemas urbanizados. O nosso “poluente” cultural foi produzido pela história das relações sociais das nossas organizações. Que tal pesquisa um pouco sobre a favelização? Consulte livros na biblioteca mais próxima. DICA DICA 56 UNIDADE 3 - POLUIÇÃO AMBIENTAL E DANOS À QUALIDADE DE VIDA VIOLÊNCIA A violência pode ser considerada um outro fator de poluição ambiental porque também causa danos aos seres vivos e objetos, inclusive a nós, seres humanos. É um ato que contraria a autonomia, a integridade física ou psicológica e a vida, com o uso da força que desrespeita os direitos alheios. O nosso limite comportamental deveria terminar onde começa o direito do próximo. A violência até pode ser uma doença ou patologia social, mas ainda é considerada uma reação a uma causa, um sintoma de que os valores estão muito invertidos enquanto a vida está banalizada e a conquista imediata de bens valorosos monetariamente está sendo priorizada. A fome e a pobreza, provindas da desigualdade social, são algumas fontes deste comportamento nocivo à qualidade de vida e à sobrevivência de toda a biota das teias alimentares do nosso planeta. DIREITOS HUMANOS Nas organizações sociais há uma diversidade de interesses que são administrados pelos poderes executivo, legislativo e judiciário, sem os quais seria muito difícil preservarmos os direitos humanos. Dos que são regidos pela legislação, responsável pelo direcionamento das intervenções permitidas aos atores representativos da sociedade, podemos enfatizar o direito de viver e o direito à prática da cidadania. Vivemos com dignidade quando temos o alimento, a moradia, a saúde e a educação. Possuímos, então, o direito de desenvolver a nossa criatividade 57 GESTÃO AMBIENTAL DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL visando o aprimoramento das nossas potencialidades. Quando acessamos o conhecimento acadêmico, nos preparamos para constantemente atualizar a nossa forma de olhar, pensar e sentir sobre o ambiente onde vivemos e freqüentamos. Portanto, nos tornamos identidades sociais capazes de igualmente sermos representativos através das ações interativas e participativas. Desta forma, passamos a ser pessoas habilitadas a construir o conhecimento sobre as áreas específicas degradadas, os fatores de poluição, a recuperação e a conservação ambiental pela preservação da biota e do bom funcionamento dos sistemas, naturais ou urbanizados. Estas iniciativas possibilitam a prática da cidadania, além de representarem ações importantes à manutenção da vida, com a nossa sobrevivência e a perpetuação de todas as espécies das futuras gerações. As trocas químicas relativas à química ambiental representam um conhecimento indispensável, mas não é um motivo de súbita memorização. Na verdade, nós ainda estamos discutindo sobre saúde pública. Não esqueça que os seres vivos também são considerados meio ambiente. As fontes dos poluentes, os tipos de dano ambiental e os efeitos por eles causados contra a saúde de todos os ambientes são o que há de mais importante para este estudo. http://www.geocities.com/ http://redeambiente.org.br http://www.unesco.org.br/ É HORA DE SE AVALIAR! Lembre-se de realizar as atividades desta unidade de estudo, presentes no caderno de exercícios! Elas poderão ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco! Esta unidade proporcionou subsídios para a observação das formas de poluição ambiental e dos efeitos danosos que ela pode causar à saúde dos seres vivos e à qualidade dos ambientes natural e urbanizado. Na próxima, estudaremos os ecossistemas degradados. IMPORTANTE LEITURA COMPLEMENTAR
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