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DIVERSIDADE ÉTNICO CULTURAL_APOSTILA 6

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Diversidade 
Étnico Cultural
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Dr. Ricardo Medina Zagni
Revisão Técnica
Profa. Ms. Vivian Fiori
Revisão Textual:
Prof. Ms. Luciano Vieira Francisco
Condição Humana e Diversidade das Culturas
em Tempos de Globalização
• Individualismo e globalização;
• Globalização tecnológica;
• Globalização e política;
• Globalização e diversidade cultural;
• Dimensão econômica da globalização;
• Globalização e sociedade;
• A mais dura crítica à globalização;
• Intolerância em sociedades globais.
 · Evidenciar as formas de globalização no mundo atual.
 · Destacar as influências na cultura a partir da globalização. 
OBJETIVO DE APRENDIZADO
Condição Humana e Diversidade das Culturas
em Tempos De Globalização
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem 
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua 
formação acadêmica e atuação profissional, siga 
algumas recomendações básicas: 
Assim:
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e 
horário fixos como o seu “momento do estudo”.
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma 
alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo.
No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e 
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também 
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua 
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, 
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato 
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Determine um 
horário fixo 
para estudar.
Aproveite as 
indicações 
de Material 
Complementar.
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma 
Não se esqueça 
de se alimentar 
e se manter 
hidratado.
Aproveite as 
Conserve seu 
material e local de 
estudos sempre 
organizados.
Procure manter 
contato com seus 
colegas e tutores 
para trocar ideias! 
Isso amplia a 
aprendizagem.
Seja original! 
Nunca plagie 
trabalhos.
UNIDADE Condição Humana e Diversidade das Culturas
Condição Humana e Diversidade das 
Culturas em Tempos de Globalização
Nesta Unidade trataremos das influências do processo de globalização na cul-
tura, nas sociedades, na economia que, de maneira integrada, interferem nas 
condições humanas.
Individualismo e Globalização
Figura 1 – Eric Hobsbawm
Fonte: BBC.co.uk
O historiador inglês Eric Hobsbawm (1917-
2012) afirmava que, com a globalização, surgiu 
uma espécie de dissolidarização de classes, 
constituída pelo que classificou como “valores 
de um individualismo associal absoluto”. Com 
isso, Hobsbawm (1995) problematizou um novo 
ciclo sistêmico do capitalismo, caracterizado 
pelo fenômeno da circulação global de capital, 
de modo a lançar luzes em seus sintomas sociais, 
na forma de indivíduos egocentrados. 
As novas necessidades de manutenção do frágil 
e já consolidado modo de produção moldaram 
inéditas relações sociais, em uma espécie de 
isolamento em que os indivíduos se alienam da 
condição de classe, ou seja, de pertencerem a 
grupos de interesses comuns. 
O movimento trabalhista teve força quando havia condições de 
desenvolvimento, quando sindicatos e partidos podiam levar suas 
reivindicações a Estados capazes de fazer concessões. Tudo isso terminou 
por conta da transformação nos modelos de produção. Como foram 
reduzidos em número, também passou a ser menor a sua ação política. 
Há uma diferença também no tipo da população trabalhadora, por causa, 
especialmente, dos progressos da educação em massa. Uma das coisas 
que eram características do movimento operário no passado era a boa 
qualidade de seus líderes, que eram cultivados e mantidos pelos sindicatos. 
Hoje, os mais inteligentes vão para a universidade sem compromisso de 
voltar, e viram outras coisas. Podem continuar a ser de esquerda, mas já 
não são mais operários. Isso faz diferença (HOBSBAWM, 1995).
Como, então, poderíamos definir globalização sem nos prendermos somente 
aos aspectos econômicos superestruturais e à frágil ideia de “aldeia global”, 
buscando como paradigma o exercício de Hobsbawm em aproximar a distante 
8
9
retórica sobre globalização do cotidiano de uma sociedade que privilegia o 
consumo de massa de tudo o que é amoedável pelo capital, incluindo desejos, 
pessoas, ideias e sentimentos?
Figura 2 - Fredric Jameson
Fonte: Wikimedia Commons
Definiremos globalização a partir dos estudos do crítico literário e político 
marxista Fredric Jameson (1934-), tratando dos cinco níveis que a caracterizariam 
para demonstrar a coesão e articular políticas de resistência à globalização e seus 
efeitos negativos. São os níveis tecnológico, político, cultural, econômico e social.
Globalização Tecnológica
Sintetizando a metodologia de Fredric Jameson no estudo Globalização e 
estratégia política, o autor elege, como dissemos, cinco níveis a partir dos quais 
discorre sobre os resultados de sua análise. 
O primeiro nível é o tecnológico e, logo de início, o termo já evidencia um dos 
principais antagonismos do conceito de globalização, que supõe a totalidade de algo.
A Revolução da Informática e as novas tecnologias de informação, apesar de 
terem se constituído de forma irreversível na produção e organização industriais e 
comercialização de produtos, não atingem a totalidade da população mundial, em 
sua grande maioria excluída não apenas do dialeto digital, mas do próprio mercado 
de consumo para esses produtos. 
A exclusão digital produzida no bojo de um sistema que se pretende totalizante, 
assiste ainda à formação de um exército de analfabetos digitais, cada vez mais 
excluídos das relações de produção mecanizadas e de acesso restrito à mão de obra 
extremamente especializada.
9
UNIDADE Condição Humana e Diversidade das Culturas
Globalização e Política
Da tecnologia para a política, Jameson dedica parte de seu estudo ao papel 
desempenhado pelo Estado-nação que, segundo alguns teóricos, teria dado 
lugar às corporações transnacionais – conhecidas na década de 1970 apenas 
como multinacionais. 
O neoliberalismo – ou a doutrina de livre mercado – defendido para que referidas 
corporações pudessem operar circulando capitais em âmbito global, ilusoriamente 
faz pensar em um distanciamento do Estado nas medidas econômicas para a 
autorregulação do mercado.
Por outro lado, o Estado passou a ser um agente fundamental nesse sistema, 
a partir da instituição de mecanismos legais e medidas intervencionistas que 
contraditoriamente garantem a “autogestão” das economias, requerendo, para 
tanto, uma efetiva intervenção governamental e um Estado centralizador.
Outro antagonismo é o papel nacionalista visivelmente exercido pelos povos 
e governos europeus e o estadunidense. Ao passo do frágil discurso de “aldeia 
global”, temos a ascensão de partidos políticos de extrema direita, ligados muitas 
vezes a grupos religiosos intolerantes, políticas racistas e xenófobas, na maior parte 
da Europa e também no Novo Mundo. 
Figura 3 – Durante discurso pronunciado no campo histórico do Rütli, 
durante feriado nacional, Samuel Schmid, atual presidente da Confederação Helvética 
e ministro da Defesa,é vaiado e insultado por setecentos neonazistas.
Fonte: Acervo do Conteudista
Há um evidente descompasso entre o discurso de aceitação da diversidade 
cultural em um mundo “cada vez menor” e o comportamento de povos europeus, 
notadamente cultos, tais como franceses, ingleses e alemães, repudiando 
publicamente africanos, hindus e latino-americanos; ou estadunidenses, que 
levantam barreiras físicas e legais para impedir a imigração de mexicanos, os quais 
comumente morrem nas fronteiras.
10
11
Na Alemanha, os neonazistas do Nationaldemokratische Partei Deutschlands 
(NPD), liderados por Peter Marx – jurista e secretário geral do grupo parlamentar 
do NPD –, conquistaram doze cadeiras no Parlamento Regional do Estado da 
Saxônia, o Landtag, em Dresden, denunciando a assustadora aceitação de 
9,2% dos eleitores, ou seja, 19.087 almas, aos preceitos da causa nazista que se 
pensava adormecidos. 
No discurso político do partido inclui-se a atribuição do desemprego que 
atinge boa parte dos jovens alemães aos imigrantes, ao contrário do que qualquer 
estatística racional possa concluir em relação à proporção entre a força de trabalho 
estrangeira e a alemã naquele Estado.
Figura 4 – Jean Marie Le Pen
Fonte: BBC.co.uk
 Em 2002, quando foram divulgados os resultados do primeiro turno da eleição 
presidencial francesa, o mundo “prendeu a respiração” com o sucesso de Jean-
Marie Le Pen, da Frente Nacional francesa, grupo político de extrema direita com 
intrínsecas relações com a NPD. O mesmo ocorreu na Áustria, com a eleição de 
um primeiro-ministro neonazista.
Na Inglaterra, basta que jogadores latino-americanos ou africanos toquem na 
bola, em partidas de futebol, para que hooligans imitem grunhidos aludidos a 
macacos – o mesmo fenômeno ocorre na Espanha.
Globalização e Diversidade Cultural
O discurso pró-globalização nos Estados Unidos constitui-se cuidadosamente 
sobre uma base “politicamente correta”, fundamentalmente em relação às 
diferenças étnicas, pregando uma aceitação que, de início, sabe-se frágil em um 
país que tem profundas tradições racistas.
11
UNIDADE Condição Humana e Diversidade das Culturas
Outro ponto central no discurso pró-globalização é o papel das unidades 
caracterizadas como Estados-nações e seu ficcional desaparecimento. 
Para Eric Hobsbawm (1995) as economias nacionais seriam “unidades mais 
velhas”, definidas por políticas territoriais de Estado, que estariam reduzidas às 
complicações decorrentes de atividades transnacionais. Nos argumentos de Fredric 
Jameson (2001) percebemos que essas unidades políticas são desestruturadas 
pela ideia e políticas neoliberais em virtude das necessidades do grande capital 
para a promoção de um estágio de comercialização mundial, com a formação de 
gigantescos blocos econômicos. 
Na prática, o que vemos é o enfraquecimento desses governos, alimentando 
a hegemonia de Estados centrais nessa nova ordem econômica, estabelecida por 
meio de comércios agressivos. Ao invés de desaparecerem os limites nacionais, os 
Estados-nações são paulatinamente subordinados a Estados centrais.
Como explicar o desaparecimento da ideia de nação com o ressurgimento do 
nacionalismo politicamente à direita dos movimentos sociais? Como coexistir a 
concepção de aceitação das diversidades étnicas e culturais com as graves condutas 
de intolerância religiosa, perseguição a homossexuais, negros e latino-americanos 
em diversas realidades nacionais.
Enquanto o discurso neoliberal, na periferia do sistema capitalista, defende a 
abertura de suas fronteiras fiscais e de seus mercados para a penetração de seus 
produtos e tecnologias, no centro do sistema vigora o nacionalismo econômico. 
A hegemonia política de Estados centrais no sistema capitalista caminha ao passo 
do chamado imperialismo cultural, ascendente principalmente após o término da 
Segunda Guerra Mundial, com os tratados de concessão para emissoras televisivas 
norte-americanas e de garantia de mercado para produções cinematográficas 
hollywoodianas, em acordos firmados com diversos países. 
As indústrias culturais locais de entretenimento dificilmente irão suplantar 
Hollywood com uma forma global bem-sucedida no mundo inteiro, em 
especial devido ao fato de que o próprio sistema americano sempre 
incorpora elementos exóticos do estrangeiro, um pouco de cultura 
samurai, outro de música sul-africana, o cinema de John Woo, comida 
tailandesa, e assim por diante (JAMESON, 2001).
A globalização cultural, lê-se no discurso de Jameson (2001), atua como tentativa 
de uniformizar o mundo a um modelo de cultura de massa, no campo televisivo, 
musical, comportamental, gastronômico, da indumentária e em todos os outros. 
Não se trataria de uma tentativa ingênua de tomada de mercados, evidenciando 
que a cultura, na Era do capital, constitui produto, é amoedável e, portanto, caminha 
ao passo da economia; mas a destruição de culturas locais onde se estabelece. 
Implica no desaparecimento de restaurantes típicos onde se fixam os fast foods; no 
desestímulo à produção cinematográfica de países antes tradicionais nesse ramo. 
12
13
Dimensão Econômica da Globalização
Para tratarmos da dimensão econômica da globalização, segundo Fredric 
Jameson (2001), temos que retomar o princípio de que não houve o desapa-
recimento dos Estados-nações diante das corporações transnacionais, afinal: o 
autor nos mostra que há uma notória cumplicidade entre ambos e os discursos 
em torno de sua inexistência mascaram seus interesses individuais, com o uso 
da fantasia criada pela ideia da globalização que, grosso modo, pode ser de-
finida como um novo ciclo sistêmico no modo de produção vigente, no qual 
há necessidades de circulação global de capital, cuja acumulação primitiva tem 
novo lugar nas megacorporações. 
O Estado tem o papel de garantir a quebra de barreiras para seu livre fluxo. Não 
se trata de um movimento natural: há um grande interesse das corporações em se 
estabelecer em países pobres, alimentando-se de miseráveis e desesperados como 
mão de obra barata e semiescrava, de isenções fiscais e concessões de governos 
corruptos e de multidões de desempregados nos locais de onde migraram. O mesmo 
ciclo se desencadearia novamente quando as mesmas corporações abandonassem 
esses novos locais, já não mais tão pobres com a criação de um mercado consumidor 
a partir da instituição de mão de obra assalariada, seguindo em busca de novos 
miseráveis que aceitassem uma espécie de “escravidão voluntária”.
Para Fredric Jameson (2001), da mesma forma que, em nível cultural, o 
estabelecimento econômico em áreas de exploração e a transferência de operações 
para locais mais baratos minariam as economias e destruiriam os mercados 
nacionais, evidenciando um dos vários aspectos perigosos da globalização, como 
a especulação destrutiva de moedas estrangeiras e a dependência econômica de 
países subdesenvolvidos, submissos às políticas econômicas dos países do Primeiro 
Mundo, em troca de empréstimos e investimentos. No mundo economicamente 
globalizado, nesses termos, transferências instantâneas de capital poderiam 
empobrecer, da noite para o dia, regiões inteiras.
13
UNIDADE Condição Humana e Diversidade das Culturas
Globalização e Sociedade
Figura 5
Fonte: iStock/Getty Images
O último nível caracterizado por Fredric Jameson em sua análise sobre a 
globalização é o social e, neste aspecto, a destruição do que se convencionou como 
tecido cotidiano faz-se evidente com o distanciamento do indivíduo do conceito 
de grupo e classe. Os padrões de unidades nucleares de família e clã cederam 
à sociedade moderna impessoal de consumo que, em seus próprios dizeres, 
“individualiza e atomiza”, negando o zõom politikòs de Aristóteles.
Para Fredric Jameson trata-se do elemento-chave que desencadearia toda a 
configuração de nossa sociedade, explicando-amelhor do que os conceitos de base 
moralista de “individualismo corrosivo” ou “materialismo consumista”. 
A Mais Dura Crítica à Globalização
John Peter Berger (1926-), crítico de arte, romancista, pintor e escritor inglês, 
prefaciando a obra Fahrenheit 11 de setembro, do cineasta estadunidense Michael 
Francis Moore (1954-), caracterizou o papel dos Estados Unidos sob o governo 
George W. Bush (1946-), em relação à globalização e às megacorporações, como 
uma “quadrilha” que teria tomado de assalto – pela fraude eleitoral denunciada 
no filme – a Casa Branca e o Pentágono “[...] para que o poder dos Estados 
Unidos dali em diante estivesse a serviço, prioritariamente, dos interesses globais 
das grandes empresas” (MOORE, 2004).
A afirmação parece dura pelas adjetivações que traz; porém, sintetiza os inte-
resses que levaram à formação de um grupo político a serviço das megacorpora-
ções, que teria conduzido o poder da nação economicamente mais desenvolvida 
14
15
e que se pretenderia a “polícia do mundo”, nos dizeres de Jameson, dando o 
tom de uma globalização extremadamente violenta, na defesa de um modelo de 
mundo, o que possibilitaria dizer de uma espécie de “globalitarismo”.
Sua percepção é a de que a globalização se caracterizaria como um embuste que 
mascararia uma nova fase do capital, no interesse das megacorporações aliadas aos 
Estados-nações mais ricos e industrializados do sistema capitalista, subordinados 
aos Estados Unidos que, de forma predatória, alimentar-se-ia das economias dos 
países pobres, da mão de obra semiescrava, aculturando povos inteiros no escopo 
de aliciar o consentimento unânime a todo e qualquer intervencionismo para o 
estabelecimento e manutenção de um modelo de hegemonia político-econômica, 
que prescindiria da dominação cultural.
Intolerância em Sociedades Globais
Como vimos até aqui, o que nos constitui essencialmente são as diferenças. O 
imperativo, para a construção de uma sociedade tolerante é, portanto, a aceitação 
do outro, do diverso. 
É impensável, nesses termos, que sociedades plurais, como a brasileira, convivam 
com graves problemas de intolerância exatamente ao diverso. Nos grandes centros 
urbanos, em cidades consideradas como globais, grupos religiosos profanam 
imagens e símbolos rituais de outras religiões, o racismo velado ou desvelado 
circulando como “enlatados culturais”, condutas de violência contra homossexuais 
– dos espancamentos ao assassínio –, o trato dos estrangeiros como inferiores e 
uma série de outros exemplos revelam que as sociedades que se dizem planetárias 
convivem mal com a diversidade.
Figura 6 – Erich Fromm (1900-1980) foi um Psicólogo Alemão
Fonte: erichfromm.net
15
UNIDADE Condição Humana e Diversidade das Culturas
Podemos afirmar, sob vários aspectos, que ao invés de valores de tolerância 
à diversidade, estamos na vigência de uma cultura de ódio expresso, vazado nos 
mais variados âmbitos da vida social, o que nos impõe uma imensa e urgente 
tarefa a fazer: construir uma contracultura da tolerância para reafirmar o homem, 
os próprios valores humanísticos, no seio de uma sociedade planetária que 
desumaniza, valorando o “ser” pelo “ter”, como nos disse o psicanalista e escritor 
alemão Erich Fromm.
Nos casos de guerras ideológicas, religiosas e étnicas, a intolerância chega a 
ultrapassar os limites da irracionalidade com relação a indivíduos ou grupos específicos.
Apesar de as guerras serem extremamente racionalizadas, de os morticínios 
na modernidade serem perpetrados com o recurso fundamental da técnica e de 
a intolerância ter se desenvolvido, como nos disse o escritor, filósofo, semiólogo, 
linguista e bibliófilo italiano Humberto Eco (1932-), de tipo selvagem para 
categórico, não podemos deixar de verificar que os argumentos sobre os quais 
tentam se ancorar condutas de intolerância em alguma base de cientificidade, 
fazem-no construindo ou se reapropriando de pseudociências, criadas em essência 
para legitimar seculares preconceitos ou ideias de superioridade civilizacional.
Infelizmente, os exemplos de intolerância concreta em sociedades que se 
apresentam como globais são vários. A modernidade pode ser caracterizada, 
primordialmente, por essas ocorrências.
Figura 7
Fonte: Wikimedia Commons
16
17
Os nazistas, durante a Segunda Guerra Mundial, ao perpetrarem o abominável: 
o Holocausto; os conflitos étnico-nacionalistas na África; as sistemáticas tentativas 
de “limpeza étnica” nos Bálcãs; e o “barril de pólvora” que se tornou o Oriente 
Médio, entre tantos outros exemplos.
Temos graves questões humanitárias em jogo, que não devem ser preteridas em 
relação às ideologias, convicções religiosas ou pertenças étnicas. O homem universal e 
seus direitos inalienáveis devem ser o cerne das reflexões sobre a política, não apenas 
um dos elementos componentes de um sistema mecânico-funcionalista.
Nesse contexto conturbado por ocorrências de ódio expresso em uma sociedade 
que propagandeia valores universais e totalizantes, seria possível estabelecer uma 
cultura de paz em favor da tolerância? Sociedades fragmentadas por diferentes 
grupos sociais, como é o caso, por exemplo, dos países que constituem a América 
Latina, experimentariam qual tipo de globalização?
O modelo de desenvolvimento, ou de progresso que adotou a civilização 
ocidental, entende tal progresso como puramente técnico, como o meio capaz de 
promover o progresso humano. 
Em verdade, a própria ideia de progresso deve ser repensada para incorporar 
uma gama muito mais variada de relações, para além dos processos produtivos. 
É preciso, então, pensar o progresso em termos totalizantes e meios para sua 
consecução, que abarque o homem e suas aspirações, não meras modernizações 
abstratas: é preciso repensar o homem para repensar a própria ideia de civilização, 
tendo como horizonte o mundo que queremos.
Figura 8
Fonte: freepalestinemovement.org
Atualmente, os exemplos mais latentes de intolerância no mundo globalizado 
são as constantes epidemias de fome em países periféricos do sistema capitalista; o 
reinventado imperialismo e o velho discurso civilizador dos países ricos; a ascensão 
de uma direita ultrarreacionária como força política na Europa; o conflito israelense-
17
UNIDADE Condição Humana e Diversidade das Culturas
palestino; a retórica de negação iraniana em relação ao Holocausto judeu durante a 
Segunda Guerra Mundial; a ascensão do terrorismo como ameaça global; os novos/
velhos terrorismos de Estado; os conflitos étnico-nacionalistas na África; golpes 
militares; a hiperexploração de trabalhadores pobres em vários lugares do mundo; 
o trabalho infantil e a pedofilia; a pena de morte nos Estados Unidos e em tantos 
outros países; o estupro legalizado no matrimônio afegão; o fundamentalismo em 
qualquer religião; a ideia de que matar pode ter um propósito divino, entre tantos 
outros exemplos possíveis.
Figura 9
Fonte: memoriasdaditadura.org.br
Obviamente, pensar a tolerância em sociedades duais, em formações sociais 
eivadas de contradições e com gravíssimos problemas de subdesenvolvimento e 
dependência, é uma tarefa muito mais difícil, mas que faz muito mais sentido. 
Isso porque temos, na América Latina, uma das mais violentas histórias de 
conflitos civilizacionais, desde a colonização; a hecatombe que vitimou civilizações 
antiquíssimas; a escravidão; as guerras de independência – excluindo-se daí a 
experiência lusófona –; o ciclo de civilização e barbárie; o caudilhismo; o populismo; 
as ditaduras; as revoluções sociais; a organização dos setores subalternos, oprimidos, 
como forças políticas etc.
A América Latina é complexa, apaixonante e pode ter ainda muito que ensinar 
aos povos da Terra em termos de multiculturalismo, hibridismo, aceitação das 
diferenças e consecutivas superações operadas pelos “de baixo” que tantas vezes“assaltaram o céu”, termo muito adequado, embora originalmente utilizado em 
outro contexto, do filósofo alemão Karl Marx (1818-1883), referindo-se ao efêmero 
– mas significativo – sucesso da Comuna de Paris, em 1871.
18
19
Seria preciso, portanto, para os novos tempos de circulação mundializada do 
capital, ou como queira, de globalização, repensar o homem na adversidade e 
frente os desafios a serem superados pelas novas/velhas sociedades.
Entendendo a intolerância como um dos maiores desafios a serem superados 
em um contexto de multiculturalismo, devemos observar sua ocorrência também no 
plano político, como o recurso a meios excessivamente coercitivos para a garantia, 
pela força ou ameaça do uso da força, de apenas uma interpretação de mundo, o 
que leva à ideia de civilidade ou cidadania como a adoção de comportamentos de 
obediência plena e irreflexiva.
Seria preciso repensar o indivíduo de forma plena, exatamente como aquele que 
deve tomar as rédeas do destino em suas mãos, o agente de sua própria história – 
e não aquele que anula a si, as suas particularidades, aquilo que o constitui como 
único, em nome de uma ideologia que uniformize corações e mentes e que o torne 
estupidamente obediente, como gado.
Figura 10
Fonte: memoriasdaditadura.org.br
Essa obediência não se manifesta apenas em relação aos Estados; mas à própria 
sociedade de consumo de massa na difusão de seus valores. Podemos utilizar, 
para a análise desse aspecto, o conceito de globalitarismo, cunhado pelo geógrafo 
brasileiro Milton Santos (1926-2001), quem entendia o consumo de massa como 
o “fundamentalismo” dos novos tempos. Não seriam as ideologias políticas os 
controladores desse “não admirável mundo novo”: o que nos uniformiza, padroniza 
e nos torna subservientes seriam os valores partilhados por essa sociedade 
materialista, difundidos pelas megacorporações, que nos submeteriam à ditadura 
da aparência, que entenderiam indivíduos, valorizando-os e lhes atribuindo a 
própria existência social em relação ao repertório de bens tridimensionais que 
conseguissem concentrar no tempo efêmero de sua existência. 
A ideologia vigente não seria política, totalitarista; mas do consumo acrítico, 
sem sentido e nocivo ao próprio Planeta, igualmente fundamentalista.
19
UNIDADE Condição Humana e Diversidade das Culturas
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Livros
Mundialização e Cultura
ORTIZ, Renato. Mundialização e cultura. São Paulo: Brasiliense, 1996.
Por uma outra Globalização: Do Pensamento Único à Consciência Universal
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 
São Paulo: Record, 2005. 
 Filmes
Encontro com Milton Santos
Encontro com Milton Santos, ou o mundo global visto do lado de cá (89 min., 2007). Documen-
tário feito a partir da entrevista de Milton Santos sobre a globalização.
Entre os Muros da Escola
Entre os muros da escola. François Marin (François Bégaudeau) trabalha como professor de 
Língua Francesa em uma escola de Ensino Médio, localizada na periferia de Paris, onde há um 
choque de culturas, já que há franceses e outros imigrantes provenientes de diferentes países.
Hotel Ruanda (2004)
Hotel Ruanda (2004). Em 1994, um conflito político em Ruanda levou à morte de quase um 
milhão de pessoas em apenas cem dias. Sem apoio dos demais países, os ruandenses tiveram 
de buscar saídas em seu próprio cotidiano para sobreviver. Uma das quais foi oferecida por Paul 
Rusesabagina (Don Cheadle), que era gerente do hotel Milles Collines, localizado na capital do 
País. Paul abrigou no hotel mais de 1.200 pessoas durante o conflito.
20
21
Referências
ARRIGHI, G.; SILVER, B. J. Caos e governabilidade no moderno sistema 
mundial. Rio de Janeiro: Contraponto; UFRJ, [20--?]. 
HOBSBAWM, E. Era dos extremos: o breve século XX, 1914-1991. São Paulo: 
Companhia das Letras, 1995. 
JAMESON, F. A cultura do dinheiro. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.
MOORE, M. O livro oficial do filme Fahrenheit 11 de setembro. São Paulo: 
Francis, 2004. 
MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: 
Cortez, 2000.
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