Buscar

Mediadores de Leitura 4º Módulo

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

CURSO FORMAÇÃO DE 
mediadores de leitura
4 FASCÍCULO
Tadeu Feitosa
LEITURA E
Cultura
Gratuito!
50 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
QUANDO O NADA DÁ 
LUGAR AO ALGO
Uma das coisas que mais impressionam 
os estudiosos é por que os seres huma-
nos são tão iguais quanto à constituição 
física e tão diferentes quanto aos modos 
de se comportarem. Você discorda? Pois 
veja: todos eles pensam, sonham, choram 
e riem. Até aí nenhuma novidade, não é? 
Pois bem, são iguais na forma, mas com-
pletamente diferentes quanto aos sonhos, 
às sensações, aos comportamentos, aos 
valores, aos sentimentos e sentidos. E sa-
bem por quê? Porque os seres humanos 
são diferentes em cultura.
Neste fascículo vamos fazer uma via-
gem sobre essa coisa chamada cultura. 
Vamos saber por que criamos, atualiza-
mos e reformulamos nossas culturas; o 
motivo de darmos sentidos e significações 
aos nossos cotidianos e tradições; as mui-
tas formas de representarmos o mundo à 
nossa volta, a vida e os infinitos sentidos 
que damos a isso. 
Após transitarmos pelo universo fantás-
tico e infinito da cultura, vamos perceber 
que ela cria para nós um grande livro em 
branco, que preenchemos de gestos, vo-
zes, sons, letras, palavras, frases e sentidos 
vários, todos diversos, diferentes quanto 
às simbologias que inventamos para en-
tender o mundo e nos entender dentro 
dele. Sim, o mundo é um livro em perma-
nente escritura, gestualidade, sonoridade. 
No mundo escrevemos e inscrevemos o 
oral, o verbal (e também o não verbal) e 
o visual. Nós codificamos o mundo pelos 
sinais, pelos signos comunicantes. Logo, o 
mundo é um livro que precisa ser lido, en-
tendido, decodificado, comunicado, infor-
mado, noticiado. 
Este módulo, portanto, demonstrará 
que é na cultura e pela cultura que nós 
inventamos o mundo, que nós o escreve-
mos, o construímos simbolicamente. Ora, 
se inventamos o mundo pela cultura, é 
claro que é por ela e com os olhos dessa 
cultura, que lemos o mundo e seus misté-
rios. Assim, além de a leitura ser um con-
dicionamento cultural, a cultura também 
é uma leitura, uma interpretação, um pro-
cesso de entendimento.
Em outras palavras, aqui, relacionare-
mos leitura e cultura, a fim de ampliar-
mos o nosso entendimento sobre o que 
vem a ser colocar o “algo” onde antes im-
perava o “nada”.
Vixe, quem disse que complicou? Calma 
aí... Vamos ler o mundo da cultura?
E se você ainda não se inscreveu em 
nosso curso, ainda pode fazê-lo. E se está 
inscrito e está gostando, não deixe de com-
partilhar com seus colegas e amigos:
ava.fdr.org.br
 CURSO FORMAÇÃO DE mediadores de leitura 51
1.
MAS, AFINAL, O QUE É 
CULTURA?
Essa pergunta atravessa o mundo 
e inquietou muitas gerações com as 
respostas pouco ou nada precisas 
sobre a cultura humana. Tanto os 
cientistas como as pessoas em 
geral sempre se preocuparam 
em entender o porquê de nossas 
ações, valores, regras, músicas, 
crenças, mitos, modos de falar, de 
andar, de vestir, de preparar os ali-
mentos e tantas outras coisas são 
tão diferentes de pessoa para pes-
soa e de lugar para lugar.
Os primeiros cientistas a se ocu-
parem mais especificamente da 
tarefa de entender isso foram os an-
tropólogos. Claro que outros, antes 
deles, também se preocuparam com 
isso: os filósofos, por exemplo. Como 
a ciência mais adiantada da época, e 
mais próxima dos estudos humanos, 
era a Biologia, os primeiros antro-
pólogos tomaram de empréstimo 
desta ciência a Teoria da Evolu-
ção como modelo de explicação, 
cometendo o primeiro e definiti-
vo equívoco, pois que ela serviria 
para seres vivos e suas formas 
milenares de mudança, de evo-
lução das espécies. Mas será que 
esse modelo seria útil para explicar coisas 
que não são biológicas, como a arte de 
pensar, de criar, de inventar, como fazem os 
humanos? A resposta é NÃO! Contudo, foi 
assim que desenharam os primeiros mode-
los de cultura humana. Então, ao pensar a 
cultura na perspectiva de um processo de 
evolução, tornou-se necessário julgar ser 
um grupo cultural ou uma cultura supe-
rior (ou mais evoluída) à outra. Se pudés-
semos desenhar, era como se uma “escada” 
imaginária fosse erguida e seus degraus 
separando em “altura” as culturas “maio-
res” das “menores”. Sem outros paradigmas 
para serem usados, na época, durante mui-
to tempo esse modelo foi aceito, mesmo 
que equivocado. 
A cultura, entendida como um processo 
de evolução, “degraus a serem atingidos”, 
era a mesma coisa que dizer que as cultu-
ras se dividiam entre culturas inferiores 
e culturas superiores. E aí o problema 
maior: quem poderia, em nome de tantas 
culturas diferentes, de tantas gentes e po-
vos diversos definir, sem cair em erro, o grau 
das culturas alheias? Mais do que depressa, 
países como a França, Alemanha e Inglater-
ra chamaram para si essa tarefa ingrata de 
classificar essas culturas, a partir do olhar 
das suas e de seus interesses, é claro. 
A história é bem longa, mas para resu-
mir, inventaram o conceito de civilização e 
também o de cultura. As três nações não se 
entenderam muito bem quanto a uma con-
ceituação mais clara. E sabe por que isso 
aconteceu? Ora, porque mesmo elas eram 
absolutamente diferentes em suas cul-
turas, em seus entendimentos de mundo, 
em representarem suas vidas e seus mun-
dos, a partir de seus pontos de vista. 
EURECA! Agora eu entendi: se as três na-
ções eram diferentes em cultura, fica claro 
que todas as outras nações, todos os outros 
povos, todas as outras gentes, as diversas 
etnias, como elas três, também têm as suas 
próprias culturas, um “jeito de ser e fazer 
distinto”, e nenhuma é inferior ou superior à 
outra. Todas constroem o algo para pôr no 
lugar do nada. 
52 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
A Teoria da Evolução tem como 
principal articulador o naturalista 
britânico Charles Darwin (1809-1882), 
autor de Origem das Espécies, obra 
que revolucionou o mundo da ciência 
e, pelo que vemos, da cultura tam-
bém. Ela defende que as espécies 
atuais descendem de outras espécies 
que sofreram modificações ao longo 
do tempo, transmitindo novas carac-
terísticas aos seus descendentes.
PARA ALÉM 
DO TEXTO
Você já parou para pensar na cultura 
ou culturas que há nos espaços em que 
você habita? De que modo a cultura 
está presente na mediação da leitura?
PUXANDO 
PROSA
Assim, o que vale não é a colocação de 
cada cultura num degrau acima ou abaixo, 
mas o que é comum a todas as culturas: 
o ato ou efeito de dar sentidos às coisas dos 
seus mundos particulares. 
Ao escrever este fascículo, me lembro 
de uma situação interessante. No final de 
um semestre em que eu ministrei uma aula 
sobre cultura, era a última e nós já estáva-
mos nos despedindo, uma aluna saltou da 
cadeira e atirou-me sem dó: “Professor, a 
disciplina foi massa! Mas eu preciso que o 
senhor resuma objetivamente: para o se-
nhor, o que é mesmo a cultura?”
 CURSO FORMAÇÃO DE mediadores de leitura 53
Quase engasgado, ruborizado e achan-
do que aquele semestre não tinha valido 
de nada para aquela aluna nem para mim, 
olhei para baixo e algum ser soberano me 
deu uma resposta pronta, que eu jamais 
teria concebido: “A cultura é o processo 
através do qual o homem inventou o 
algo onde antes imperava o nada.”
Os alunos, com toda a sua ju-
ventude, responderam com uma 
vaia absolutamente cultural, com 
o sotaque e dicção da moleca-
gem cearense. Estão percebendo 
o grau de cultura local daquela 
vaia? É uma vaia com sotaque. 
Ou seja, a representação de vaia 
dada pelo cearense e bem dife-
rente da vaia “tradicional”. Isso é 
cultura. Não a vaia, apenas, mas, 
principalmente o modo como essa 
vaia e todas as coisas são construí-
das, inventadas, criadas,transmiti-
das, memorizadas com as marcas de 
uma cultura específica. Assim como o 
bayanihan filipino (costume de carregar 
uma casa de um local para outro), o Mai-
Nene na Indonésia (cerimônia de limpeza 
de corpos, desenterrando mortos), a Ashura 
(autoflagelação) entre os muçulmanos xii-
tas, entre outros.
A vaia do Cearense: Desde o 
século XIX, por meio de narrativas 
ficcionais, relatos orais e mesmo 
por meio de revistas e jornais, a 
irreverência e o comportamento 
rebelde do cearense vêm sendo 
gestados simbolicamente sob o 
epíteto de “Ceará-Moleque”. Entre 
os elementos mais tradicionais 
encontrados, fala-se da singularidade 
da vaia do cearense, que inclusive 
teve a ousadia de, em 1942, vaiar 
o próprio Sol. Há diversos livros 
memorialísticos que apresentam 
verdadeiros tratados sobre o tema, 
apresentando vaias específicas para 
cada momento. No seu estado, você 
conhece algum elemento, costume ou 
comportamento típico que seja, como 
a vaia cearense, destacado? 
CURIOSIDADE
54 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
2.
ENTRE NÃO 
CONHECER, CRIAR 
E SABER: O ALGO 
NO LUGAR NO NADA
Tenho apenas duas mãos e o 
sentimento do mundo.
Carlos Drummond de Andrade
O nada é não saber, não conhecer, não 
entender, não sinalizar. São exemplos de 
nada: o desconhecimento, a desinforma-
ção, a falta de memória. Onde existe um 
vácuo, uma vacância, um “mistério” a ser 
revelado, entendido, decodificado. O nada 
é instável ao ser humano. Deixa-o insegu-
ro, sem norte, sem indicação do que fazer 
e para onde ir. Isso causa uma adversidade 
e impulsiona o ser humano a saber, a in-
ventar, a criar.
É aí que entra a capacidade inventiva 
do ser humano. Instável, ele vai lá e inven-
ta, cria, faz acontecer. E de onde vem essa 
força inventiva? Ora, da sua espetacular 
habilidade de pensar, imaginar; da sua ca-
pacidade perceptiva, intelectiva, cognitiva. 
É a cultura que nomeia o mundo e 
suas coisas. 
 CURSO FORMAÇÃO DE mediadores de leitura 55
Nomear é criar sentidos culturais para 
as coisas do mundo.
Logo, isso não é próprio apenas das cul-
turas “superiores” ou “inferiores” (que nem 
existem). É próprio de todas as culturas. 
Não há diferenças entre quem cria mais ou 
menos, porque a criação é uma condição 
de todos os humanos. 
Assim, a cultura (ou o “algo” do qual falei 
anteriormente) é uma espécie de processo 
de “nomeação”. E existem infinitas formas 
de nomear, você sabia?
•	 Pelo gesto: a mímica, os sinais do 
corpo, do olhar, do andar, das ex-
pressões corporais, faciais etc.
•	 Pela voz: os grunhidos (perceba o 
exemplo do choro dos bebês), cânti-
cos, falas, declamações, cantorias etc. 
•	 Pela palavra: escrita, anunciada, 
noticiada, cantada, publicizada, dis-
cursada, etc.
•	 Pelos signos não verbais: a roupa 
e a moda; a religião e seus rituais; o 
vestuário e suas significações e sen-
tidos; a maquiagem e suas represen-
tações; a culinária e a história dos 
povos, nações e etnias etc.
A cultura é o processo de 
criação desse “algo”: a invenção, a 
inventividade, a criação simbólica, o 
sentido criado pelos seres humanos 
e que vão dar vida simbólica e real ao 
que antes não existia, porque nada 
se sabia. Na cultura humana, o “algo” 
está nos gestos, nos sons, na visão 
e em todos os sentidos humanos. 
São exemplos desse algo: o choro, o 
silêncio, o olhar e tudo mais que gere 
sentido, sensação, significado, leituras.
PUXANDO 
PROSA
56 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
3. 
O QUE TECE 
A CULTURA: 
AS SUAS MARCAS E AS 
POSSIBILIDADES DE 
LEITURA DO MUNDO 
De posse desse caleidoscópio cultural, 
podemos agora trazer alguns teóricos e 
cientistas modernos para dialogarem 
conosco sobre o que já se sabe sobre 
a cultura e suas formas de expressão. 
A cultura é uma fábrica espetacular 
de criação de sentidos. Para Clifford 
Geertz (1987), ela tece significações e 
sentidos, criando o que ele chama de 
“teias de significação”. Olha que baca-
na! Os sentidos e as significações vão 
se entrelaçando, criando vínculos com 
os “nós” simbólicos de cada amarração 
da teia. Esses “nós” ratificam os signi-
ficados e os põem em interação com os 
outros, criando um mapa de sentidos que 
vão se alterando conforme os contextos.
 CURSO FORMAÇÃO DE mediadores de leitura 57
É por isso que os gestos, as palavras, os 
comportamentos e seus respectivos senti-
dos sempre vão depender dos contextos. 
Lembra-se do que falamos a respeito do 
choro dos bebês? Há o choro de fome, de 
medo, de dor, de zanga, o manhoso. Todos 
carregados de sentido e que precisam ser 
lidos, interpretados. 
Pois sim. Há uma relação bem clara en-
tre o imaginário e seus sentidos. O antro-
pólogo François Laplantine (1997) traz uma 
excelente reflexão sobre o que é esse imagi-
nário. Para ele, trata-se de um processo hu-
mano de criação de imagens, de modelos 
criados pela mente humana. Transmitido 
de geração a geração e utilizado como me-
Você pode saber mais sobre 
essa temática na obra: A interpre-
tação das culturas, Clifford Geertz. 
Rio de Janeiro: LTC, 1989.
PARA ALÉM 
DO TEXTO
mória e tradição de um povo, o imaginário 
de tanto representar um sentido, confirma e 
valida esse sentido no imaginário coletivo. 
Para esse cientista, o imaginário é mais real 
do que o real, porque faz parte da memó-
ria de um povo e não se perde, sendo con-
tinuamente renovado, adaptando-se aos 
mais diversos contextos.
Lembra-se da expressão “contar um 
conto e aumentar um ponto”? Pois isso tem 
a ver com o imaginário, sabia? Ele se pro-
longa nas narrativas de um povo, na sua 
memória e tradição. Mas entender isso e o 
que liga a cultura à leitura requer conhe-
cer alguns conceitos que trataremos aqui. 
Em primeiro lugar, precisamos saber 
que não existe cultura sem um tempo e 
um espaço que a defina. Um dos princi-
pais espaços da cultura e também uma 
de suas marcas fortes é o cotidiano. É 
nas relações com o outro que os huma-
nos constroem seus significados e senti-
do. Tecer sentidos coletivos fortalece o 
ser humano, sua vida e as relações so-
cioculturais necessárias para se orienta-
rem no mundo. As vivências e experiên-
cias humanas são tecidas, inventadas e 
reinventadas nos seus cotidianos, onde 
se constroem seus códigos culturais, seus 
símbolos e simbolismos.
Será que existe uma cultura 
superior a outra? Por que os 
portugueses quando invadiram as 
terras brasileiras tentaram mudar 
os hábitos e costumes, inclusive as 
crenças indígenas?
Por que os brancos durante muito 
tempo, e ainda hoje, veem com 
desconfiança os rituais da Umbanda?
Pesquise costumes e hábitos de 
outros países e povos e reflita sobre a 
sua cultura e o espaço que as define.
DESAFIO
58 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
Para o pensador Michel de Certeau 
(1994), os cotidianos são inventados e se 
erguem e se modificam segundo essas 
invenções. Na verdade, segundo o pensa-
dor, são táticas, estratégias e artimanhas 
criadas para dar sentido às coisas naquele 
espaço e tempo. Mesmo sabendo que so-
bre os cotidianos culturais existem impo-
sições simbólicas (por regras, ordenações, 
convenções, disciplinamentos etc.), as 
práticas dos sujeitos den-
tro de cada cotidiano são 
resolvidas por táticas e 
invenções bem próprias 
do sotaque e dicção cul-
tural de cada grupo.
Ligada à cultura e ao 
cotidiano, temos a Tradi-
ção. É ela que difunde os 
sentidos de todas as cul-
turas. Os autores também 
dizem que, como o coti-
diano, a tradição também 
é inventada. A tradição 
é o resultado de seus 
sentidos. O antropólo-
go Paul Connerton (1993) 
vai mais longe. Para ele, 
a tradição é inventada e 
recordada pelo viés da 
memória. Entretan-to, ela é também 
atualizada e está em constante movimento. 
Tradição é também um processo de trans-
missão de cultura para as gerações futu-
ras. Ela é uma narrativa sobre os povos, as 
gentes e suas culturas. Mas, prestem aten-
ção: nunca se diga que tradição é algo 
do passado. Não é mesmo! Tradição não 
é algo velho, como um quadro amarelado 
pelo tempo. Tradição é continuidade, mo-
vimento, dinamismo. A tradição caminha 
dialogando com o novo, com as marcas da 
contemporaneidade, sem perder suas ma-
trizes fundantes. 
Junto a essas marcas, apresentamos a 
senhora Memória, marca indispensável da 
cultura. Como os demais, a memória tam-
bém tem os seus sentidos. Temos a me-
mória individual, que recebe dos nossos 
sentidos humanos os sinais representati-
vos do mundo e das coisas. Filósofos como 
Henri Bergson (1999) trabalharam muito 
bem essa questão e vale a pena a leitura. 
Temos também a memória coletiva que, 
para Maurice Halbwachs (1990), são as me-
mórias partilhadas coletivamente, quando 
nos juntamos para inventar, redimensionar 
e criar táticas e estratégias para o imaginá-
rio, o cotidiano e as tradições, só que em 
conjunto, levando em conta os contextos 
sociais dessas criações. Assim, a memória 
constrói a nossa marca sociocultural, sendo 
um patrimônio de toda cultura. 
 CURSO FORMAÇÃO DE mediadores de leitura 59
O Patrimônio é um bem cultural de 
todas as produções de sentido que a 
cultura deu e fez para nós. Ele é coirmão 
dos pilares anteriores citados acima. Como 
os demais, os patrimônios também têm 
seus sentidos. Assim, todas as coisas mate-
riais ou imateriais que nos chegam do pas-
sado vem carregado de sentidos desse pas-
sado. É preciso ler e entender esse passado 
e as marcas deixadas por ele se nos apre-
sentam como bens materiais e também 
simbólicos daquelas culturas. Dos utensí-
lios ancestrais mais simples àqueles que 
receberam da técnica um aprimoramento, 
como as edificações, tudo se configura em 
um bem cultural, bem simbólico, num patri-
mônio. Temos o Patrimônio Material e o 
Patrimônio Imaterial. Os patrimônios são 
excelentes fontes de informação e leitura. 
Por meio deles podemos entender culturas, 
decodificar tradições, revelar memórias e 
entender imaginários culturais dos mais di-
versos povos. Há uma ligação afetiva e sim-
bólica dos sujeitos com seus monumentos. 
Portanto, lê-los nos faz descobrir os misté-
rios simbólicos de onde eles provêm.
Por fim, mas absolutamente misturada 
aos outros pilares aqui citados, temos a his-
tória, que narra, que estuda, que interpreta, 
que dá ciência aos fatos, que estabelece re-
lações entre isso tudo e, por excelência, faz 
a leitura do tempo, das pessoas, das suas 
relações, das suas trajetórias. 
E também a história recebe da cultu-
ra as suas influências. Não por acaso, os 
historiadores pertencem – via de regra – a 
paradigmas investigativos que sofrem as in-
fluências dos culturais contextos históricos 
onde nasceram.
Mas você pode nos perguntar: 
o que é o patrimônio e o que ele 
tem a ver com a cultura?
PARA 
REFLETIR
Segundo artigo 216 da 
Constituição Federal, configuram 
patrimônio “as formas de expressão; 
os modos de criar; as criações 
científicas, artísticas e tecnológicas; 
as obras, objetos, documentos, 
edificações e demais espaços 
destinados às manifestações 
artístico-culturais; além de 
conjuntos urbanos e sítios de valor 
histórico, paisagístico, artístico, 
arqueológico, paleontológico, 
ecológico e científico.”
PARA ALÉM 
DO TEXTO
60 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
A CULTURA E OS 
SEUS PILARES 
Observe na figura, que os círculos menores assim o são apenas no desenho e por um 
recurso didático, mas a grandeza do que cada um deles representa é igual à cultura e à lei-
tura. Tente não simplificar o quadro e suas relações. Antes, leia de modo complexo, como 
também o é a cultura. Aliás, a fim de ratificar essa complexidade cultural e leitora, é bom 
manter isso sempre em mente: a cultura no singular é sempre plural! Do mesmo modo, 
os fenômenos que demonstramos aqui como “pilares da Cultura”. Não há a cultura, mas 
as culturas. De igual modo, costumamos falar – e é o mais correto – dos imaginários, dos 
cotidianos, das tradições, memórias, patrimônios e histórias de um povo, de um grupo, de 
uma etnia etc. 
Do mesmo modo, também são complexas, dinâmicas, plurais e diversas as práticas 
leitoras culturais. Voltando ao quadro acima, também as direções estão demonstradas 
de modo que você, leitor(a), escolha a que melhor lhe convier, porque tudo aqui está, como 
dizem os jovens, “junto e misturado”. Assim, esse é mais do que um “caminhar da cultura”. 
É, na verdade, a “teia de significações” de que nos fala Clifford Geertz. Cada pilar tem suas 
teias e elas vão interagindo numa “semiose ilimitada”.
Semiose é um conceito usado 
pela Semiótica (ciência que estudo 
dos signos e sinais da linguagem, 
o seu comportamento no universo 
e nas relações humanas, sociais, 
culturais etc.). É o processo 
através do qual cada signo, sinal 
ou linguagem interpretada gera 
um novo signo, um novo sinal, 
uma nova interpretação. Isso 
acontece porque as linguagens 
são dinâmicas. Seus sentidos não 
ficam aprisionados nas leis da 
escrita, por exemplo. Esses sentidos 
mudam, se renovam, ganham outras 
interpretações. Esse processo infinito 
de novas possibilidades de leitura 
e interpretação do mundo, nós 
denominamos de Semiose.
 CURSO FORMAÇÃO DE mediadores de leitura 61
4. 
CULTURA E LEITURA: 
UMA NÃO EXISTE SEM 
A OUTRA
Sim, porque cultura é um processo de lei-
tura de mundo. Da mesma forma, a lei-
tura é a decodificação dos sentidos que 
a cultura criou, transmitiu, ritualizou e 
foi assimilada pelos seres humanos, cada 
qual dentro da sua cultura específica. 
As significações mapeiam o mundo para 
nós. E sabe como mapeiam? Criando um li-
vro imaginário sobre o mundo e suas repre-
sentações. Lemos o mundo com os olhos 
da cultura. No lugar das letras, que podem 
proporcionar escrita e leitura, a cultura nos 
dá os signos (sinais) que lhe compõem 
como marcos para lermos o mundo. 
São exemplos de signos culturais poten-
cializadores de leitura: 
a) a culinária, que constrói e define o 
sabor de uma cultura, os rituais de 
preparo das comidas e bebidas e o 
que elas simbolizam; 
b) o vestuário, com seus modelos, 
cores, formas e adereços, além do 
modo de se vestir e do que as vesti-
mentas representam; 
c) as crenças, os mitos e as religiosida-
des, que moldam as condutas huma-
nas dentro de cada cultura; 
d) os valores de cada cultura, que de-
fine a moral e a ética de cada povo;
e) as narrativas míticas, que constroem 
os imaginários de cada povo; 
f) a música, que representa a sonorida-
de, poética e musicalidade de cada 
povo, etnia etc. 
Tudo isso e muitos outros mais empres-
tam a nós possibilidades de leitura. E é 
pelo processo de leitura que entendemos 
os signos de uma cultura.
Esses complexos processos de leitura 
também ensejam processos de práticas 
leitoras. Não entendeu? Ora, ninguém per-
manece igual após ler algo sobre alguma 
coisa. O “algo” lido nos tira do “nada” e nos 
modifica. Mas não modifica por um proces-
so mágico, mas sim pela dinâmica de mu-
dança que a prática leitora – aquilo que 
apreendemos com a leitura – provoca em 
nós e na nossa vida.
62 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
Se a cultura borda significados e significações, são o nosso afeto 
e a nossa sensibilidade, diante da leitura (apreensão, admiração, 
afeto etc.), que provocam mudanças comportamentais. Essas 
mudanças, esse entusiasmo pela descoberta, são resultantes 
dessa prática leitora. 
É por isso que Leitura e Cultura são inseparáveis e 
indissociáveis. As duas criam erepresentam um mundo de coisas 
para nós. Se Deus criou o mundo, foi a Cultura que o transformou, 
escrevendo um mundo para ser lido, interpretado e provocar 
práticas leitoras fantásticas, eternas e dinâmicas, porque a cada 
nova leitura, novos horizontes surgem.
Pela Leitura e pela Cultura estamos o tempo todo, do nascer 
ao morrer, ensinando e praticando as leituras de mundo. Isso lhe 
parece confuso? Pois não é. Tudo o que os nossos sentidos detectam 
são formas de leitura. Mas o que é a leitura. Calma, não vou repetir o 
que os outros fascículos explicarão com maior detalhamento. Aqui 
nos interessa apenas apresentá-lo a Leitura Cultural do Mundo.
Trata-se, como já dissemos, da natureza humana de dar sentido 
ao mundo e às suas coisas. Assim, na cultura, como na leitura, não 
podemos ter leituras iguais, mesmo que o texto seja o mesmo. O que 
diferencia uma leitura da outra é o sotaque cultural dessa leitura de 
cada indivíduo. Assim, tanto os contextos culturais alteram as leituras e 
as práticas leitoras, como o tempo, o momento dessa leitura altera o(a) 
leitor(a) e sua prática leitora. Leia um livro na sua infância e veja o que 
ele lhe diz. Volte a ele na adolescência e verá que nem você nem o livro 
são os mesmos. Espere com sabedoria e perceba, em sua maturidade, 
que embora seja o mesmo livro, o tempo atualizará sempre a sua 
leitura, transformando-a e lhe dando novas oportunidades de novos 
entendimentos. Esse processo de continuidade criativa dos sentidos e 
dos efeitos deles sobre nós é o que chamamos de cultura.
Com os olhos da cultura podemos ler um quadro, um filme, uma 
passeata. Podemos ler a vida. Ler a morte e reinventá-la como vida. Se a 
cultura é o algo onde antes imperava o nada, a leitura é o que imortaliza 
o algo, afastando-nos do nada. Isso é leitura e leitura é cultura.
REFERÊNCIAS
BERGSON, Henry. Matéria e memória: ensaio 
sobre a relação do corpo com o espírito. 3.ed. 
São Paulo: Martins Fontes, 1999. 
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano. 
Petrópolis: Vozes, 1994.
CONNERTON, Paul. Como as sociedades re-
cordam. Oeiras: Celta Editora, 1993. 
ELIAS, Norbert. O processo civilizador: uma his-
tória dos costumes. Rio de Janeiro: Zahar, 1990.
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. 
Rio de Janeiro: LTC, 1989
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito 
antropológico. 26 reimp. Rio de Janeiro: Zahar, 
2008.
HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. 
São Paulo: Vértice, 1990.
HALL, Stuart. Identidades culturais na pós-mo-
dernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 1997.
LAPLANTINE, François, TRINDADE, Liana. O que 
é imaginário. São Paulo: Brasiliense, 1997.
Assim, as práticas leitoras têm ligação 
com a cultura, mas não são reféns dela. Sim, 
porque as leituras se prolongam nos leitores, 
nas suas experiências, vivências e manifesta-
ções culturais. Se as escritas têm o sotaque 
cultural do seu autor, as leituras ganham as 
diversidades culturais dos seus leitores. As-
sim, além de estarmos diante de uma “se-
miose ilimitada”, estamos também diante de 
uma complexa diversidade cultural. 
Por fim, mas – como a Leitura e a Cultu-
ra – sem nunca acabar, essas duas magias 
com as quais o ser humano lida desde o 
sempre, jamais morrerão, porque estarão 
sempre no nosso imaginário, cotidiano, 
tradição, memória, patrimônio, história e, 
principalmente, na nossa mente e nos nos-
sos sentidos, sensações e sentimentos, cujo 
conjunto gera esse patrimônio humano, 
que, quanto mais o estimulamos, mais cria-
ção mágico-mítica ele produzirá. Assim é a 
Cultura. Assim é a Leitura.
Procure um livro que você leu 
durante a infância e a adolescência, 
de preferência, algum que lhe marcou, 
seja por qualquer motivo. Procure-o, 
leia-o novamente e se perceba nessa 
leitura, se encontre, procure aquele(a) 
leitor(a) do passado. Quais as suas 
impressões hoje a respeito dessa 
leitura? A obra ainda lhe causa alguma 
impressão? Você consegue encontrar-
se ou identificar-se com aquele(a) 
pequeno(a)/jovem leitor(a)? Como foi 
para você essa experiência? Até o final 
de nosso curso, gostaríamos de saber.
DESAFIO
Assista ao vídeo “A leitura e 
a cultura no desenvolvimento 
cerebral”, com a neurocientista 
Suzana Herculano-Houzel. ACESSE:
https://www.youtube.com/
watch?v=dLWiwD_YhUM
PARA ALÉM 
DO TEXTO
 CURSO FORMAÇÃO DE mediadores de leitura 63
Luiz Tadeu Feitosa (Autor)
É professor titular da Universidade Federal do Ceará (UFC) desde 1992. Docente do Programa 
de Pós-graduação em Ciência da Informação e do Departamento de Ciências da Informação, 
mestre em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 
doutor em Sociologia pela UFC. Atualmente faz pesquisa de pós-doutorado no Centro de 
Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS), Universidade do Minho, em Braga, Portugal. 
Rafael Limaverde (ilustrador)
É ilustrador, chargista e cartunista (premiado internacionalmente) e xilogravurista. Formado 
em Artes Visuais pelo Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia do Ceará (IFCE). 
Escreve e possui livros ilustrados nas principais editoras do Ceará e em editoras paulistas.
RealizaçãoApoio
EXPEDIENTE: FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR) João Dummar Neto Presidente André Avelino de 
Azevedo Diretor Administrativo-Financeiro Raymundo Netto Gestor de Projetos Emanuela Fernandes 
Analista de Projetos Tainá Aquino Estagiária UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE Viviane Pereira 
Gerente Pedagógica Luciola Vitorino Analista Pedagógica CURSO FORMAÇÃO DE MEDIADORES DE LEITURA 
Raymundo Netto Coordenador Geral e Editorial Lidia Eugenia Cavalcante Coordenadora de Conteúdo 
Emanuela Fernandes Assistente Editorial Amaurício Cortez Editor de Design e Projeto Gráfico Marisa 
Marques de Melo Diagramadora Rafael Limaverde Ilustrador
ISBN: 978-85-7529-893-0 (Coleção)
ISBN: 978-85-7529-896-1 (Fascículo 4)
Este fascículo é parte integrante do Programa Fortaleza Criativa, em decorrência do Termo de Fomento celebrado entre a Fundação Demócrito Rocha e a Secretaria Municipal da Cultura 
de Fortaleza, sob o nº 05/2018.
Todos os direitos desta edição reservados à:
Fundação Demócrito Rocha
Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora 
Cep 60.055-402 - Fortaleza-Ceará 
Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148 - Fax (85) 3255.6271
fdr.org.br 
fundacao@fdr.org.br

Outros materiais