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Unidade Acadêmica de Economia Disciplina: Economia Monetária Créditos: 04 Carga Horária: 60h Profª.: Karla Vanessa B. S. Leite Email: kvanessaleite@gmail.com Aula 3: Demanda por Moeda: A Teoria Quantitativa da Moeda Referência Básica: CARVALHO, F. J. C de. et al. Economia Monetária e Financeira. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. (capítulo 3) Objetivos da aula: • Apresentar as teorias de demanda por moeda em sua versão clássica Primórdios da TQM A verão de Fisher A versão de Cambridge Postulados básicos da TQM A versão de Wicksell Os primórdios da TQM: Debate monetário nos séculos XVIII e XIX • Desenvolvimento da teoria monetária decorrente da necessidade de definição de diretrizes políticas para a aplicação no mundo real • Debate sobre assuntos monetários dificuldades do controle entre pressões inflacionárias e deflacionárias • Berço da teoria monetária Inglaterra Guerras prolongadas com a França (final do século XVIII e início do século XIX) Necessidades anormais de emissão de moeda e criação de crédito Surgimento da moderna teoria monetária controvérsias na tentativa de suprir essas necessidades Moeda papel passou a competir com a moeda metálica 1797: Banco da Inglaterra corta vínculos entre suas notas e os metais preciosos Restrições à manutenção da oferta limitada de moeda Deterioração do valor cambial da libra, em termos de ouro Buscou-se uma explicação monetária para as flutuações na taxa de câmbio Por trás dessa discussão estava a causalidade entre oferta de moeda, nível de preços e crescimento do produto • Relatório da Comissão do Ouro (1810) Fruto do debate sobre flutuações na taxa de câmbio O debate durou até 1844 Inglaterra à conversibilidade e ao padrão-ouro formal • Controvérsia Bulionista Explicação para a depreciação da libra Bulionistas o Elevação do preço do ouro emissão excessiva de notas bancárias má administração do banco da Inglaterra o Principal causa da depreciação da libra: política inflacionária do Banco da Inglaterra emissão demasiada de papel moeda o Restauração da estabilidade impor ao Banco da Inglaterra uma restrição de resgatar suas notas em ouro retorno à conversibilidade e ao vínculo entre notas e metais o Representantes: Thornton, Ricardo, Horner e Malthus o Majoritária entre os economistas da época Anti-bulionistas o Despesas externas do governo inglês (guerras) + desaceleração das exportações o Negavam que as notas fossem emitidas acima das necessidades dos negócios o Os tomadores de crédito tomariam emprestado somente o que pudessem usar lucrativamente o Notas emitidas eram garantidas por “papéis-reais” asseguraria a liquidação dos empréstimos o Representantes: diretores do banco da Inglaterra e ministros do gabinete inglês Excesso de moeda não era motivado pela emissão propensão dos bancos a atender a demanda por crédito Moeda endógena Não é necessário apenas controlar a emissão legal, mas a atividade bancáriaregulação Base da TQM • A tese bulionista venceu a discussão O papel moeda passou a ser emitido com lastro 100% em ouro Julgava-se ser suficiente controlar essa moeda Controle rígido sobre a oferta de moeda Gerou um “freio” no processo de expansão da economia inglesa Gradativamente foi havendo diminuição do lastro em ouro (moeda fiduciária + moeda com lastro sistema monetário misto) • Debate entre: Escola do Meio Circulante; Escola Bancária e Escola dos Bancos Livres Continuação do debate anterior Teve início nos anos 20 do século XIX Resultou na Lei Bancária de 1844 Discussão centrada no descontrole monetário • Escola do Meio Circulante McCulloch, Lloyd, Longfield, Norman e Torrens Posição semelhante à linha Ricardiana Encontrar um nível de preços que fosse o mesmo para uma oferta de moeda completamente metálica quanto para uma moeda mista Padrão monetário puramente metálico os fluxos de ouro tem efeito imediato sobre o aumento ou diminuição da moeda em circulação Padrão monetário misto aumento do nível de preços e queda do volume de reservas são sintomas e emissão excessiva Banco da Inglaterra era responsável pela emissão excessiva de moeda Adoção de uma regulação rígida sobre os bancos assegurar que o estoque de papel-moeda fosse equilibrado Circulação de papel deveria ser rigidamente atada ao estoque nacional de ouro emissão de moedas deveria variar de acordo com as flutuações no estoque de ouro Não haveria necessidade de se regular a moeda bancária a moeda corrente mista se comportaria como moeda corrente puramente metálica bastava o controle sobre a emissão • Escola Bancária Tooke, Fullarton e John Stuart Mill Volume das notas em circulação é determinada pela demanda varia em função das necessidades de comércio Questão da emissão excessiva era irrelevante a expansão monetária somente era possível por períodos limitados Não possuíam um programa legislativo para reformar o sistema monetário o bom gerenciamento bancário não podia ser legislado A conversibilidade bastaria para salvaguardar a emissão e notas e manter o balanço de pagamentos equilibrado no longo prazo • Escola dos Bancos Livres Parnell, Gilbart e Scrope Visão favorável ao livre comércio na emissão de moeda conversível em espécie Sistema monetário-financeiro onde os bancos competiam em todos os serviços, inclusive na emissão Nenhum banco possuía o monopólio na emissão Sistema bancário descentralizado e competitivo o problema da emissão não se colocava Banco da Inglaterra: encorajava o problema da emissão • Resultado da discussão: Lei Bancária de 1844 Centralização do controle de oferta de moeda Banco da Inglaterra: máxima autoridade Fixação de um máximo para a emissão Divisão do banco em 2 departamentos: Departamento Bancário e Departamento de Emissão Banco Central com Monopólio na Emissão Sistema Bancário Competitivo e Descentralizado Escola Regra de Emissão Escola Regra de Emissão Escola do Meio Circulante Regra-limite para a AM Escola dos Bancos Livres Sistema emissor competitivo e autorregulado Escola Bancária Autoridade sem regras 100% lastreadas em ouro Conselho da moeda Demanda por moeda: As versões da TQM A TQM de Hume e Ricardo • Evolução do pensamento econômico na teoria monetária esteve relacionado ao desenvolvimento do sistema monetário e financeiro • Essa evolução exigiu que a teoria monetária fosse continuamente revisada A Versão de Transações de Fisher • TQM ficou conhecida e popularizada • Formalização de uma discussão que começou no século XVIII • Com essa formalização, grande parte da discussão foi perdida • Formulada inicialmente por Simon Newcomb (1885) • Popularizada por Irving Fisher (1911) • A TQM estabelece que os preços variam diretamente com a quantidade de moeda em circulação Velocidade de circulação da moeda e volumes de transação constantes • Uma mudança no estoque de moeda não tem efeito permanente sobre as variáveis reais resulta em uma mudança proporcional nos preços dos bens e serviços • O valor da moeda ou poder de compra varia inversamente com o nível de preços • Ponto de partida: estabelecer a identidade entre o total de pagamentos em moeda e o total de bens e serviços transacionados • Em cada ato de compra e venda de bens e serviços, os pagamentos em moeda e o valor dos bens e serviços trocados são idênticos • Total de moeda paga nas transações = valor total dos bens e serviços trocados • Equação de troca Relação matemática do total de transações efetivadas em um certo período Soma das equações envolvidasem todas as trocas individuais no período M V = P T M V + M’ V’ = P T O que significa o lado direito da equação? o Bens e serviços transacionados o Produto das quantidades de transações de bens e serviços trocados pelos seus preços E o lado esquerdo? o Total de moeda utilizada para pagamento o Produto do total de moeda pela sua velocidade de circulação A equação de trocas representa uma aplicação do método das partidas dobradas A inclusão de depósitos bancários (crédito circulante) não altera a relação quantitativa entre moeda e preços depósitos são, normalmente, múltiplos da moeda Versão modificada da equação de trocas o Problemas estatísticos e conceituais na determinação do nível de preços e das quantidades transacionadas o Substituição do volume total de transações na economia com bens finais pelo PIB o Só considera o produto final e o nível de preços da economia M V = P y A moeda é tratada como estoque e não como fluxo Velocidade de circulação: representa a taxa de utilização da moeda Instituições e hábitos determinam a velocidade agregada V = 𝑃 𝑇 𝑀 ou V = 𝑃 𝑦 𝑀 Variação dos preços O nível de preço resultaria dessas 3 influências No LP, o volume dos bens transacionados é determinado ao nível de sua plena capacidade por forças reais o produto estará no nível de pleno emprego é independente dos outros termos da equação Velocidade da moeda é considerada uma variável estável depende de fatores institucionais e muda vagarosamente no tempo é independente dos outros termos da equação Mudanças no nível de preços estão associadas a variações no estoque de moeda Nível de preços variável passiva determinada pela oferta de moeda Velocidade de circulação e volume de comércio constantes aumento na quantidade de moeda em circulação aumenta os preços na mesma proporção Única função da moeda MEIO DE TROCA Diretamente quantidade de moeda e velocidade de circulação Inversamente quantidade de bens trocadosP = 𝑀 𝑉 𝑦 A Versão dos Saldos Monetários de Cambridge • Fragilidade da versão de Fishermecanismo de transmissão de M para P (implícito) • Aumenta M aumenta DA (dada a AO) excesso de demanda eleva preços • O que acontece com a demanda por moeda? Ponto de partida de Marshall • Como as pessoas transformam a moeda em DA? • Para Marshall, falta a explicitação do lado monetário explicitar uma teoria de demanda por moeda via mercado monetário • Função da moeda servir como uma residência temporária para o poder de compra • Pagamentos e recebimentos não tem porque ser na mesma data torna necessário a existência de um objeto que possa transportar poder de compra • A moeda é esse veículo na abordagem dos saldos monetários da TQM • Qual a quantidade de moeda que as pessoas irão reter como residência temporária do poder de compra? Quantidade retida de moeda tem relação com a renda renda afeta o volume de compras potenciais M = k P y, onde k = 1 𝑉 k: constante marshalliana simboliza todas as demais variáveis das quais depende a demanda por moeda M: representa estoque P y: representa um fluxo Friedman: equação que representa uma função de demanda por moeda Expressa a demanda por moeda como uma proporção k do nível de renda A relação proporcional entre moeda e preços depende d estabilidade da velocidade de circulação ou k • Abordagem das transações e dos saldos monetários: diferentes ênfases na definição da moeda • A versão de Cambridge também parte da Lei de Say y deverá estar no nível de pleno emprego a longo prazo e k é estável e independente da oferta de moeda (que é exógena) • k constante resulta na mesma relação proporcional entre oferta de moeda e nível de preços mudanças na oferta de moeda causam mudanças diretas nas decisões de gastos dos agentes • A oferta de moeda deve crescer de forma suava para satisfazer as necessidades básicas da economia crescimento da renda real • Aumentos do estoque de moeda > crescimento da renda real aumento correspondente no nível de preços • Único motivo para uma economia experimentar inflação ou deflação desvios na oferta de moeda de seu nível de equilíbrio de LP • TQM como uma teoria da inflação taxa de crescimento de preços é determinada pela expansão dos meios de pagamento acima do produto real Postulados Básicos da TQM • Equiproporcionalidade entre moeda e preços V e y são constantes e não dependem do estoque de moeda no LP • Causalidade da moeda para os preços V e y não podem absorver permanentemente impactos o impacto da mudança em M ΔM ΔP (transmite seu efeito completo para P) Aumenta M restaurar V ao nível desejado aumenta gastos (produto de plena capacidade) aumenta P • Não-neutralidade de curto prazo e neutralidade da moeda no longo prazo Aumento de M não afeta permanentemente o produto (disponibilidade de fatores de produção) Independência entre nível de produto e estoque de moeda moeda não influencia permanentemente a atividade real • Independência entre oferta e demanda por moeda na versão Fisher Padrão ouro estoque de moeda determinado pelo estado do balanço de pagamentos • Dicotomia preços relativos/preços absolutos Mudanças compensatórias nos preços Mudanças no nível de P não podem ser causadas por alterações nos custos A Versão de Wicksell • Wicksell se diferencia das abordagens anteriores em dois aspectos: Exogeneidade X Endogeneidade da moeda (o sistema bancário também regula a velocidade da moeda) o MV é variável a oferta de moeda tem um componente endógeno Análise do processo cumulativo (processos inflacionários) o Explica a persistência da inflação Wicksell abre um estágio para o mecanismo de transmissão de M para P possibilidade de variação endógena • O Processo cumulativo Economia de moeda pura o Não existe banco para emitir depósitos transferíveis por cheque o Transações mediadas inteiramente por moeda metálica o Todas as premissas da TQM são verificadas Economia mista de moeda-crédito o Existência de bancos e de depósitos criados como contrapartida de empréstimos (ignorados pela TQM) O processo cumulativo considera o mecanismo direto e o mecanismo indireto de transmissão monetária o Mecanismo direto: aumento da oferta de moeda diretamente sobre a demanda por bens o Aumenta a oferta de moeda aumenta poder de compra real dos seus detentores dados os preços detenção de saldos reais em excesso aumenta gastos com bens e serviços produto de plena capacidade aumento dos preços o Mecanismo indireto: reconhecimento da existência de uma relação entre a demanda por moeda (e sua velocidade) e a taxa de juros o Aumenta oferta de moeda reduz a taxa de juros aumenta demanda por bens e serviços aumenta preços Wicksell procurou suplementar a TQM com a descrição do mecanismo através do qual o equilíbrio é inicialmente perturbado e depois restaurado processo de desequilíbrio cumulativo o Movimentos do nível de preços discrepância entre duas taxas de juros Taxa de juros de empréstimos ou de mercado (determinada no mercado de crédito) Taxa de juros natural (taxa de equilíbrio que iguala ex ante a poupança desejada com investimento planejado a pleno emprego corresponde à produtividade marginal ou à taxa interna de retorno Só por acaso essas taxas coincidem Situação 1: taxa de mercado < taxa natural o Custo do capital < produtividade marginal o Investimento planejado > poupança o Aumenta demanda por empréstimos bancários financiamento os projetos dos empresários o Demanda por crédito > depósitos do público o Bancos podem acomodar essa demanda adicional expandindo os depósitos transforma o excesso desejado de demanda agregada implícita no hiatoinvestimento-poupança em excesso efetivo de demanda agregada transborda para o mercado de bens e serviços aumento de preços o Expansão dos depósitos aumento persistente e cumulativo dos preços, enquanto o diferencial de juros durar o O que levaria a taxa de mercado a ficar abaixo da natural? Afluência permanente de ouro para o sistema bancário Expansão endógena da oferta de moeda aumento de reservas aumento de empréstimos (redução da taxa de mercado ao nível da natural) Variação cumulativa no volume do nível de reservas e dos preços Postura passiva dos bancos atende a demanda por crédito Diferença em relação a Stiglitz! Variação cumulativa no volume do nível de reservas e dos preços Diferencial de taxa de juros erro de gestão do sistema bancário a AM deveria regular os bancos Situação 2: taxa de mercado > taxa natural o Custo de capital > taxa de retorno esperada o Poupança > investimento planejado o Demanda agregada menor nível de preços menor O processo cumulativo do mecanismo indireto é explosivo? o Não! o Existência de um fator estabilizador o Aumento dos preços criação adicional de moeda para satisfazer a demanda transacional real de moeda o Conversão do público de depósitos em meio circulante drenagem das reservas dos bancos bancos elevam taxa de juros para recompor as reservas o Fator responsável pela conversão da taxa de empréstimos para o nível de equilíbrio natural perda de reservas A taxa natural de juros não é fixa o Flutua conjuntamente com as causas reais das flutuações econômicas o Está sujeita a mudanças intensas o É pouco provável que haja uma coincidência espontânea entre as taxas de mercado e natural o Importância da manutenção do valor da moeda estável, por parte do sistema bancário, via manejo das taxas de juros bancárias Economia de crédito puro o Processo cumulativo explosivo o Os bancos poderiam satisfazer qualquer demanda por crédito com taxa de juros baixa o Quantidade de moeda é determinada endogenamente pela sua demanda o Infinitos equilíbrios preço-quantidade o Nível de preços é indeterminado Wicksell traz a taxa de juros para a TQM A hipótese de que o produto agregado não responde a estímulos na demanda conduz Wicksell ao resultado da TQM Aumentos da oferta de moeda resultarão em aumentos de preço na mesma proporção produto não responde a esse aumento A resposta dos preços a uma expansão monetária é um processo longo o Filtrada pelos bancos, via taxa de juros o A AM deve controlar o crédito (sistema bancário) controlar a forma como os bancos operam o Grande parte da expansão monetária e da DA é determinada pela ação dos bancos o Resultado: intervenção direta sobre a operação dos bancos e não apenas controlar a base monetária Era Wicksell um quantitativista? o Responda com suas palavras e entregue na próxima aula! Próxima aula: Teoria da Demanda por Moeda em Keynes Referência Básica: CARVALHO, F. J. C de. et al. Economia Monetária e Financeira. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007 (capítulo 4) KEYNES, J. M. The General Theory of Employment, Interest and Money. London: MacMillan, 1937 (Capítulo 17)
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