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Magistratura e MP Direitos Humanos Prof. Bruno Pontes redejuris.com 1 APOSTILA DE DIREITOS HUMANOS PROF. BRUNO PONTES Magistratura e MP Direitos Humanos Prof. Bruno Pontes redejuris.com 2 Proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo da apostila, sem autorização do autor – Lei 9610/98. DIREITOS HUMANOS 1. Conceito e considerações preliminares. Apesar de direitos humanos ainda estar em formação1, existem basicamente dois conceitos de direitos humanos, um amplo e outro estrito. O amplo está relacionado com a figura humana e que tem conexão com o direito natural (vida, liberdade e justiça – dar a cada um o que é seu). O sentido estrito vai além, porque não basta se correlacionar com o direito natural, havendo necessidade de estar positivado em tratados e convenções internacionais. Por outro lado, se forem incorporados no ordenamento jurídico interno de determinado país, passam a ser chamados de direitos fundamentais2. Assim, direitos humanos são aqueles que surgem em função da figura humana, conexos aos direitos naturais e positivados em tratados ou convenções internacionais, que visam efetivar a dignidade da pessoa humana3. O núcleo do conceito de Direitos Humanos está na dignidade da pessoa humana, que expressa um sistema de valores e orienta toda a ordem jurídica. A expressão “direitos humanos” é moderna, mas o princípio invocado é antigo como a própria humanidade, porque são fundamentais na medida em que, sem eles, a pessoa humana não consegue existir, se desenvolver e participar da vida em sociedade. 2. Concepções Para a concepção jusnaturalista, os direitos fundamentais do homem são imperativos do direito natural, e existem antes mesmo da estruturação estatal. Não haveria, então, nem mesmo necessidade de previsão positiva, porque os direitos não podem ser negados, já que são inerentes à natureza humana. Esta concepção, como se vê, está presente no Direito e na Filosofia, e serviu para combater o Estado absolutista e fundamentar revoluções, em especial para modificar o “status quo”. A concepção positivista, pelo contrário, entende que os direitos do homem são faculdades concedidas pela lei, e não pela natureza das coisas. Não havendo previsão no direito positivo, ter-se-á expectativa de direito, e não direito em si. A concepção idealista, por seu turno, entende que os direitos do homem são ideias abstratas, que nascem do imaginário e que vão sendo absorvidas pela realidade ao longo do tempo. Já para a concepção realista, os direitos do homem não nascem do imaginário e nem são absorvidos com o tempo de maneira natural. Muito ao contrário, os direitos fundamentais do homem são resultados reais das lutas sociais e políticas travadas na história. Para se chegar a eles, quase sempre há um rasto de sangue e muita luta por trás. A concepção liberal, que trata os direitos humanos como liberdades fundamentais, porque a liberdade é que dá força e possibilita modificar, inclusive, a natureza das coisas, porque os seres humanos 1 É comum a afirmação que o conceito de direitos humanos é, a um só tempo, polissêmico (porque não há um sentido único, mesmo diante do consenso estabelecido na Convenção de Viena), controverso (porque sempre gera debates polêmicos sobre a extensão, até em face da mutação constante do direito internacional e do desenvolvimento do tema) e estruturante (porque avança sobre as bases lógicas, naturais e fundamentais do ser humano enquanto tal). 2 Veja que a Constituição de 1988 fala em Direitos e Garantias Fundamentais no Título II, referentes àqueles reconhecidos na CF/88, e como princípio das relações internacionais, coloca a prevalência dos “direitos humanos”, justamente em referência àqueles universalmente aceitos, indicando a necessidade da nossa República incorporá-los. 3 É comum diferenciar direitos fundamentais, direitos humanos e direitos de personalidade/naturais. Os direitos naturais decorreriam da razão e seriam válidos em todos os momentos e locais; os direitos humanos seriam válidos em toda parte a partir de determinado momento; os direitos fundamentais valeriam em um determinado momento, porém em determinados locais. Magistratura e MP Direitos Humanos Prof. Bruno Pontes redejuris.com 3 podem, então, se associar, se reunir e lutar. Os direitos humanos estariam vocacionados para preservar a autonomia da vida do homem. A concepção histórico-crítica vincula fortemente os direitos humanos à sua característica de historicidade, porque estes seriam construções históricas marcadas por contradições, condições e nuanças da realidade social, política, econômica e cultural. 3. Características 3.1. Imprescritibilidade. Os direitos humanos não prescrevem. Interessante lembrar que na CF/88 a imprescritibilidade é a regra, sendo imprescritíveis o racismo e a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático (art. 5º, XLII, XLIV). Existe discussão para saber se este rol constitucional de imprescritibilidade é taxativo ou exemplificativo: a doutrina majoritária entende que é exemplificativo, possibilitando inclusão de outros crimes imprescritíveis, desde que para proteção da pessoa humana, como ocorre no Estatuto de Roma (criação do TPI), uma vez que seus arts. 5º e 29 preveem a imprescritibilidade dos crimes de genocídio, contra a humanidade, de guerra e agressão – este ainda não regulamentado. 3.2. Efetividade. O reconhecimento não basta. Somente a positivação não significa que os direitos humanos estão sendo respeitados, daí porque se exige a real aplicação na prática no território nacional. Caso o Estado partícipe não conseguir efetivar os direitos humanos (no caso, fundamentais), existem garantias como o “habeas corpus”. A efetividade realça a dimensão objetiva dos direitos fundamentais, porque é uma garantia de estabilidade dos mesmos no ordenamento jurídico e ainda impõe ao Estado a criação de planejamentos e procedimentos para sua efetivação para toda a sociedade. 3.3. Irrenunciabilidade. Não podem ser abdicados ou negociados, porque fazem parte da própria existência do ser humano. Pode deixar de ser exercido, mas seu titular não pode dispor dos mesmos de forma definitiva (não se pode exigir que um doente em estado terminal aceite a eutanásia). É costume dizer que a irrenunciabilidade não é absoluta, porque em alguns casos é possível renunciar algum direito fundamental, como é o caso de renunciar à integridade física, para fazer doação de rim para parente (vide Lei 9434/97, que trata da doação de órgãos, tecidos e partes do corpo humano), ou de fixar cláusula contratual para limitar a liberdade de expressão, para que o funcionário não divulgue segredo industrial da empresa em que trabalhou. A irrenunciabilidade, diferentemente da inviolabilidade, visa a proteção do próprio titular do direito fundamental, e não está previsto explicitamente na Constituição; a inviolabilidade, por seu turno, está prevista na Constituição e protege o indivíduo contra terceiros. 3.4. Inalienabilidade. A alienação também está vedada (não são disponíveis como se fosse um patrimônio qualquer). 3.5. Historicidade. Se por trás de cada direito há um rastro, senão de sangue, pelo menos de luta, é evidente que o direito fundamental é um direito histórico; 3.6. Relatividade. Nada na vida é absoluto. O direito, mesmo o fundamental, também não é e nem pode ser absoluto, porque é preciso, em vários casos, limitá-lo, mesmo em se tratando de um direito fundamental. O direito fundamental da liberdade, por exemplo, podeser limitado, a bem da sociedade. Alguns entendem que o direito de não ser torturado e de não sofrer penas cruéis, e o direito de não ser reduzido à condição análoga de escravo, seriam direitos fundamentais absolutos. Magistratura e MP Direitos Humanos Prof. Bruno Pontes redejuris.com 4 3.7. Proibição do retrocesso. Se o direito fundamental foi conquistado, não pode mais ser extirpado4. Por exemplo: se o direito fundamental contido em uma norma constitucional de eficácia limitada foi regulamentado, não pode uma regulamentação posterior acabar com o direito concretizado pela norma anterior. Para quem leva esta proibição do retrocesso às últimas consequências, entende que nem mesmo uma nova Constituição poderá acabar com os direitos fundamentais, porque os direitos naturais seriam limites ao poder constituinte originário (neste caso, o poder constituinte teria natureza jurídica jusnaturalista, e não normativista, como entende a maioria). 3.8. Interdependência. Não há choque irremediável entre os direitos fundamentais, porque eles devem se relacionar permanentemente para atingirem suas finalidades. 3.9. Complementaridade. A interpretação de um direito fundamental deve levar em conta os outros direitos fundamentais. Não se interpreta um direito fundamental isoladamente. 3.10. Inviolabilidade. Não pode ser tolerada violação dos direitos humanos, seja pela lei, pela autoridade ou pelo poder, órgão ou entidade pública, sob pena de responsabilização civil, administrativa e criminal. Inviolabilidade, como se viu, existe para proteção contra terceiros, e irrenunciabilidade para proteção contra o próprio titular. 3.11. Universalidade e indivisibilidade. Os direitos humanos/fundamentais nascem para todos os homens, independentemente de raça, nacionalidade, sexo, credo ou convicção político ou filosófica. A Declaração de Direitos Humanos de Viena, de 1993, no item 5, diz que “Todos os direitos humanos são universais, indivisíveis interdependentes e inter-relacionados. A comunidade internacional deve tratar os direitos humanos de forma global, justa e equitativa, em pé de igualdade e com a mesma ênfase. Embora particularidades nacionais e regionais devam ser levadas em consideração, assim como diversos contextos históricos, culturais e religiosos, é dever dos Estados promover e proteger todos os direitos humanos e liberdades fundamentais, sejam quais forem seus sistemas políticos, econômicos e culturais.” Ainda se fala em exigibilidade e justiciabilidade. A exigibilidade seria o reconhecimento de que cada cidadão tem a possibilidade de demandar a satisfação de seus direitos humanos, cabendo ao Estado e à própria sociedade, oferecer condições para sua efetivação. A justiciabilidade, por sua vez, imporia o reconhecimento de que os direitos humanos, por serem justiciáveis, podem ser demandados judicialmente caso não sejam realizados, especialmente nos dias atuais em que, em face do neoconstitucionalismo e do pós-positivismo, o Direito se aproxima da Ética, há aumento da jurisdição constitucional e o Judiciário é cada dia mais proativo. Questões de concursos 01) Prova: NUCEPE - 2012 - PM-PI - Agente de Polícia - Sargento Em relação ao conceito dos Direitos Humanos, identifique com V as alternativas VERDADEIRAS e F, as FALSAS e marque, em seguida, a sequência CORRETA. ( ) O núcleo do conceito de Direitos Humanos se encontra no reconhecimento da dignidade da pessoa humana. Essa 4 O art. 4º da Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto São José da Costa Rica, de 22.11.1969, aprovado pelo Congresso pelo Decreto-Legislativo 27, de 25.09.1992 e promulgado pelo Decreto 678, de 06.11.1992), no art. 4º, item 3, diz que: “Não se pode restabelecer a pena de morte nos Estados que a hajam abolido”. Consta, portanto, no Brasil, como norma supralegal, esta expressa disposição a respeito da proibição do retrocesso, em matéria de pena de morte. Magistratura e MP Direitos Humanos Prof. Bruno Pontes redejuris.com 5 dignidade expressa num sistema de valores, exerce uma função orientadora sobre a ordem jurídica porquanto estabelece “o bom e o justo” para o homem. ( ) Direitos Humanos é uma expressão moderna, mas o princípio que invoca é tão antigo quanto a própria humanidade. É que determinados direitos e liberdades são fundamentais para a existência humana. ( ) Os Direitos Humanos surgiram a partir do século XX, e devem ser utilizados apenas nos países democráticos. ( ) Os Direitos Humanos são considerados fundamentais porque sem eles a pessoa humana não consegue existir ou não é capaz de se desenvolver e de participar plenamente da vida. ( ) Os Direitos Humanos devem privilegiar apenas a parcela da população mais carente, fato que justifica sua própria existência. a) V, V, F, V, F; b) V, V, V, V, V; c) V, V, F, F, V; d) F, F, V, F, V; e) V, V, F, F, F 4. Natureza e classificação Existe uma classificação positiva pela CF/88, em relação aos direitos fundamentais, e várias classificações doutrinárias. No Título II (Dos Direitos e Garantias Fundamentais), a Constituição de 1988 classifica os direitos fundamentais em 05 capítulos: a) Capítulo I – dos direitos e deveres individuais e coletivos; b) Capítulo II – dos direitos sociais; c) Capítulo III – da nacionalidade; d) Capítulo IV – dos direitos políticos; e) Capítulo V – dos partidos políticos. Cada doutrinador, entretanto, costuma fazer sua própria classificação, daí a dificuldade em se adotar esta ou aquela, até porque nenhuma ganhou, ao longo do tempo, um destaque maior. Por isso, a seguir serão destacadas aquelas mais importantes e didáticas. Classificação de José Carlos Vieira de Andrade: 01) Direitos fundamentais de defesa: caráter negativo, porque exige uma abstenção do Estado (Constituição-garantia), para que ele não se intrometa arbitrária e despropositadamente na autonomia do homem, respeitando, assim, as liberdades públicas; 02) Direitos fundamentais de prestação: caráter positivo, porque exige uma prestação do Estado para o homem atingir a felicidade (Constituição-dirigente). O Estado tem o dever de agir para interferir na sociedade, quando isto for necessário para proteger os bens jurídicos, seja pela intervenção indireta ou jurídica, como na expedição de normas, seja pela intervenção direta ou material, pela intervenção policial ou pela prestação direta das necessidades básicas de saúde, educação e segurança; 03) Direitos fundamentais de participação – direito do cidadão de participar na governança da coisa pública. Outra classificação bastante difundida é aquela que os classifica em gerações (a doutrina está evoluindo para abandonar a expressão “gerações”, substituindo por “dimensões”, justamente para evitar a falsa impressão de que uma geração substui a outra, quando na verdade a completa). De toda forma, seriam 04 gerações/dimensões: 01 - Direitos fundamentais de 1ª geração (liberdade) - Surgidos influenciados pelas revoluções burguesas do final do século XVIII, especialmente aquelas ocorridas nos Estados Unidos e na França, são conhecidos como direitos civis e políticos. Ligados à liberdade, surgiram em oposição ao Estado para Magistratura e MP Direitos Humanos Prof. Bruno Pontes redejuris.com 6 limitar seus poderes absolutos. Exigia do Estado uma abstenção, daí o caráter negativo, próprio das constituições garantia (ou constituições quadro). Seu titular é o indivíduo, e são conhecidos como direitos negativos, ou direitos de defesa. Exemplos: liberdades físicas, liberdades de expressão, liberdades de consciência, direitos de propriedade privada, direitosda pessoa acusada e as garantias de direitos (“habeas corpus”, mandado de segurança, mandado de injunção, “habeas data”); 02 - Direitos fundamentais de 2ª geração (igualdade). Surgidos no século XX, estão ligados à igualdade, já que se referem aos direitos sociais, econômicos e culturais conquistados pela luta do proletariado (saúde, educação, segurança, habitação, cultura, esporte etc.). Visam a igualdade material (na lei). Têm caráter positivo, porque exigem uma prestação do Estado, e não só uma abstenção, para que sejam reduzidas as desigualdades, próprios das constituições dirigentes. Seu titular é a coletividade. São conhecidos como direitos positivos ou direitos de prestação. Exemplos: art. 6º da Constituição de 1988: “São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. O Título VIII da Constituição de 1988 (Da Ordem Social), prevê as seguintes categorias de direitos: Seguridade Social (Saúde, Previdência Social e Assistência Social), Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia, Comunicação Social, Meio Ambiente, Família, Criança, Adolescente, Jovem, Idoso, Índios. Entretanto, os direitos relacionados à Comunicação Social e ao Meio Ambiente se inserem nos direitos fundamentais de 3ª geração; 03 - Direitos fundamentais de 3º geração (fraternidade). A consciência de que o mundo, cada vez mais, estava se dividindo até perigosamente entre nações desenvolvidas e nações subdesenvolvidas, surge a consciência de que o mundo precisa de solidariedade, de fraternidade. Daí porque os principais direitos de 3ª geração são os direitos ao desenvolvimento, a paz, o meio ambiente, a autodeterminação dos povos, à comunicação, ao patrimônio comum e histórico da humanidade. Seu titular é o gênero humano. Exemplos: Direito ao desenvolvimento, à paz, ao meio ambiente, à autodeterminação dos povos, à comunicação e ao patrimônio comum da humanidade. 04 - Direitos fundamentais de 4ª geração. São direitos relacionados ao futuro da sociedade, com o futuro da própria cidadania, como é o caso do direito à democracia, à informação e ao pluralismo, além das questões éticas relacionadas com a biotecnologia (engenharia genética), ainda um campo sem fronteiras seguras. Referem-se à possibilidade de regulamentação jurídica da globalização política. Se a sociedade, um dia, ter como um grande problema o lixo ou a espionagem espacial, ou ainda com a clonagem humana, que interferirá no conteúdo das informações, na restrição da utilização da Internet e na característica básica do ser humano? Neste sentido, o julgamento da ADI sobre células tronco embrionárias seria um caso em que esta dimensão foi analisada pelo STF. Paulo Bonavides prefere incluir na quarta dimensão a democracia, pluralismo, informação. Coloca a paz como quarta dimensão, para outros, seria incluída na terceira dimensão. Paulo Bonavidades considera o Direito à Paz como um direito fundamental de 5ª geração. Questões de concurso 02)Prova: CESPE - 2012 - PM-AL - Oficial Combatente da Polícia Militar a6c63e420b3236 Com relação ao conceito, à evolução e à abrangência dos direitos humanos, assinale a opção correta. a) Os chamados direitos de solidariedade correspondem, no plano dos direitos fundamentais, aos direitos de segunda geração, que se identificam com as liberdades concretas, acentuando o princípio da igualdade; b) No século XX, inaugurou-se uma nova fase no sistema de proteção dos direitos fundamentais, na medida em que foi nele que os Estados passaram a acolher as declarações de direitos em suas Constituições; c) A individualidade é uma das características dos direitos humanos fundamentais, e, nesse sentido, eles são dirigidos a cada ser humano isoladamente considerado, o que se justifica em razão das diferenças de nacionalidade, sexo, raça, credo ou convicção político-filosófica; Magistratura e MP Direitos Humanos Prof. Bruno Pontes redejuris.com 7 d) Os direitos fundamentais são os direitos humanos reconhecidos como tais pelas autoridades às quais se atribui o poder político de editar normas, tanto no interior dos Estados quanto no plano internacional; são, assim, os direitos humanos positivados nas Constituições, nas leis, nos tratados internacionais; e) Com o fim da Primeira Guerra Mundial, a estrutura do direito internacional dos direitos humanos começou a se consolidar. A essa época, os direitos humanos tornaram-se uma legítima preocupação internacional e, então, foram criados mecanismos institucionais e de instrumentos que levaram tais direitos a ocupar um espaço central na agenda das organizações internacionais. 5. Evolução dos direitos humanos A doutrina costuma dividir a evolução dos direitos humanos de duas formas. A primeira, em períodos axial, do cristianismo, do iluminismo e do período do pós-guerra, além de referência aos documentos históricos. A segunda segue a divisão clássica da história, em Idade Antiga, Média, Moderna e Contemporânea, que é a divisão mais seguida. Assim, temos a primeira divisão: Período axial (600 a 480 a.C). Grandes princípios e diretrizes fundamentais da vida (Buda, Confúcio, Pitágoras, Isaías), quando então surge a filosofia, com grande importância para o saber racional em detrimento do saber mitológico. Isto propiciou um grande salto para a igualdade; Período do Cristianismo. Este período trouxe grande conquista aos direitos humanos porque propagou a igualdade entre os seres humanos no plano divino (todos são filhos de Deus). Não se pode esquecer, porém, que houve continuidade da escravidão e da inferioridade da mulher, dentre outros tantos problemas, como foi o caso da Inquisição. Como o cristianismo valorizou o homem, acabou ajudando, em alguma medida, para as políticas de conteúdo econômico e social; Período do Iluminismo. A fé na ciência e na razão foi um salto na humanidade, propagadas pelo Iluminismo, inclusive incentivando decisivamente os direitos naturais e a Revolução Francesa (igualdade, liberdade, fraternidade). Período Pós-2ª Guerra. Depois dos horrores da 2ª Guerra Mundial é que a sociedade definitivamente acordou para a necessidade de proteção dos direitos humanos. Houve, então, criação da ONU, a Declaração dos Direitos do Homem de 1948 e outros tantos documentos internacionais, que acabaram significando outro período. Documentos remotos e históricos. Importante citar, nesta evolução, os principais documentos de força e entusiasmo internacional, que protegeram, em boa medida, os direitos humanos: Magna Carta de 1215; Petition of Rights de 1628; Habeas Corpus Act de 1679; Bill of Rights de 1689; Declaração de Direitos do Estado da Virgínia de 1776; Declaração de Independência dos EUA e Constituição de 1787; Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão da França de 1789; Constituição do México de 1917; Constituição de Weimar de 1919; Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. No Brasil, a Constituição de 1988 e os chamados Planos Nacionais de Direitos Humanos: PNDH1 (1996); PNDH2 (2002); PNDH3 (2009) Na segunda divisão, mais aceita, temos: Idade Antiga (4000 a.C até 476 d.C, quando da tomada do Império Romano pelos povos bárbaros). Magistratura e MP Direitos Humanos Prof. Bruno Pontes redejuris.com 8 Neste período, não havia previsões normativas, e a regulação se baseava praticamente na justiça privada, com desproporção e injustiça. Poucas normas surgiram neste período, podendo ser citados o Código de Manu, o Código de Hamurabi e a Lei das 12 Tábuas. O Código de Hamurabi5 se notabilizou pela lei do talião (“olho por olho e dente por dente”6), mas tratava as pessoascom desproporcionalidade e ainda considerando três classes sociais de pessoas: 1ª classe mais alta (“awelum”): punição com patrimônio e sem sanções cruéis; 2ª classe intermediária (“mushkenum”): as vezes com penas cruéis, mas também punição com retirada do patrimônio; 3ª classe (“wardum”, ou bárbaros”: tinham direito à propriedade, mas a regra eram penas cruéis, difamantes e de morte7. Leis das 12 Tábuas8: regulava a vida do povo romano e tinha por base o princípio da igualdade, para tratamento igual de todos, ao contrário do Código de Hamurabi. Idade Média (iniciada com a queda do Império Romano, 476 d.C, e termina com a transição para a Idade Moderna, por volta de 1453 d.C). Apesar do período obscuro, com Inquisição, houve significativa evolução na proteção dos direitos humanos, com o surgimento da Magna Carta de 1215, do Rei João Sem Terra. Neste documento, o Rei começava a ser restringido, algo inusitado para a época, inclusive com previsão de “habeas corpus”, do direito de propriedade, do devido processo legal, da proporcionalidade, da proibição dos tributos com efeito de confisco. Idade Moderna (período que vai de 1453, com a tomada de Constantinopla pelos Turco Otomanos, até 1789, com a Revolução Francesa). Surgiu o chamado “Tratado de Vestfália” (ou Paz de Vestfália ou ainda Tratados de Münster e Osnabrück), conjunto de acordos internacionais celebrados em 1648 para encerrar a Guerra dos Trinta Anos, série de guerras entre nações na primeira metade do Século XV, especialmente motivadas por rivalidades religiosas e territoriais. O Tratado, então, fez surgir a concepção do Estado moderno, com elementos objetivos (povo, território e governo soberano) e subjetivos (reconhecimento da sua existência) e, consequentemente, um sistema internacional à vista das 5 O Código de Hamurabi, de aproximadamente 1700 a.C., foi uma necessidade para a sociedade da época, porque unificou os reinos sumérios e consagrando o primeiro imperador mesopotâmico (Rei Dhammu-rabi). Assim, eram necessárias regras de condutas unificadas para o império, o que acabou por ratificar a figura estatal conhecida na época e ainda trazer a noção de segurança e prévia definição de condutas. Estas regras de conduta estavam inseridas na pedra (estela em diorito), com 21 colunas e 282 cláusulas. 6 A lei do talião estava espalhada por todo o Código de Hamurabi, mas especialmente nos artigos 196 (“Se um homem arrancar o olho de outro homem, o olho do primeiro deverá ser arrancado - Olho por olho”) e 200 (“Se um homem quebrar o dente de um seu igual, o dente deste homem também deverá ser quebrado - Dente por dente”. A parte criminal (“lex talionis”) atingia inclusive os filhos dos causadores dos danos. No entanto, o Código também regulava o comércio (com importância especial para o caixeiro viajante), a família (inclusive prevendo divórcio, pátrio poder, adoção, adultério e o incesto), o trabalho (indicativo de salário mínimo, categorias profissionais e leis trabalhistas básicas) e a propriedade (inclusive o escravo tinha direito à propriedade). 7 O tratamento punitivo diferenciado entre as classes ficava bem evidente nas seguintes passagens: “198. Se ele arrancar o olho de um homem livre, ou quebrar o osso de um homem livre, ele deverá pagar uma mina em ouro”; “199. Se ele arrancar o olho do escravo de outrem, ou quebrar o osso do escravo de outrem, ele deve pagar metade do valor do escravo.” “201. Se ele quebrar o dente de um homem livre, ele deverá pagar 1/3 de uma mina em ouro. 202. Se alguém bater no corpo de um homem de posição superior, então este alguém deve receber 60 chicotadas em público”. 8 A Lei das Doze Tábuas, ou “Leis das Doze Tábuas” (Lex Duodecim Tabularum), deu origem ao Direito Romano, e organizava o procedimento judicial, estipulava normas conta os inadimplentes, pátrio poder, sucessões e tutela, propriedade, servidões e previa os delitos, e ainda tratava de normas atinentes ao Direito Público e Sagrado. Isto serviu para evitar a surpresa para os plebeus, que costumavam ser punidos sem saber o motivo, daí porque fixadas em 12 tabletes de madeira e colocados à frente do Fórum Romano, para todos lerem. Assim, foi formado um grupo de dez grandes homens (“decenvirato”), para redigir o projeto do Código, realizado o trabalho no período de 451 a 450 a.C., com promulgação em 452 a.C. Posteriormente, no Século VI, o imperador Justiniano, ao assumir o poder, quis salvaguardar a herança do Direito Romano e organizar a legislação, e assim determinou a compilação e a codificação das principais leis, perfazendo então o chamado Corpus Juris Civilis. Magistratura e MP Direitos Humanos Prof. Bruno Pontes redejuris.com 9 soberanias estatais. A soberania, neste tratado, surge como algo novo, capaz de propiciar a paz entre os povos, porque a hierarquia religiosa foi afastada, gerando aquietação territorial nas regiões, respeito e desenvolvimento dos povos. Também nesta Idade Moderna é que surgiram na Inglaterra a Petition of Rights, de 1628, que requeria direitos e liberdades para os súditos do Rei e ainda estabelecia, expressamente, que os impostos só poderiam ser cobrados com o consentimento do Parlamento, que não poderia haver prisão sem justa causa apresentada e que a lei marcial (restrição dos direitos) não poderia ser utilizada em tempo de paz; o Bill of Rights, de 1689, que repetia os direitos protegidos pela Magna Carta de 1215 e previa independência do Parlamento e, assim, a divisão dos poderes; o “Habeas Corpus Act”, de 1679, lei do Parlamento criada durante o reinado de Rei Charles II, e reforçava o já existente “habeas corpus” como garantia da liberdade individual contra prisão ilegal, abusiva ou arbitrária; o “Act of Settlement”, de 1701, que estabeleceu procedimentos e garantias para sucessão protestante do trono inglês e o poder do Parlamento, e ainda reafirmou que os governantes se submetiam ao princípio da legalidade, independência e autonomia dos órgãos jurisdicionais, inclusive acima da vontade da Coroa, além da responsabilidade política dos agentes políticos e possibilidade de “impeachment”. Nos EUA, digno de nota foi o surgimento da Declaração de Direitos do Bom Povo de Virgínia, de 16 de junho de 1776 (antes mesmo da Declaração da Independência dos EUA, de 04 de julho de 1776, e da sua Constituição, de 17 de setembro de 1787), estabelecendo que todo poder emana do povo, que em seu nome deve ser exercido, reconhecendo que todo ser humano tem direitos fundamentais, como a igualdade, a liberdade, os direitos inatos, a previsão e a separação dos poderes executivo, legislativo e judiciário etc. Idade Contemporânea9 (período iniciado com a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, surgido na França em 1789, influenciado pela Revolução Francesa e pela Declaração dos Direitos do Povo da Virgínea, de 1776, até o presente momento). Esta Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão foi baseada no direito natural, e estabelece o Estado laico, o princípio da legalidade, da anterioridade e da presunção da inocência. Insere-se neste período contemporâneo, as Emendas à Constituição dos EUA, de 1791, que constituíram as 10 primeiras emendas como “Bill of Rights” norte-americana, com ratificação por três quartos dos estados, prevendo vários direitos fundamentais, como liberdade religiosa e proibição de estabelecimento oficial de religião, direito à vida, devido processo legal, imparcialidade dos julgamentos,. Logo depois das Revoluções Americana (1776-1783) e Francesa (1789-1799), inúmeras constituições, além da Americana de 1789 e da Francesa de 1791, consagraram o constitucionalismo, com tentativas de limitar e separar os poderes e ainda prever direitos fundamentais, como foi o caso da Constituição da Espanha de 1812, dePortugal de 1822, do Brasil de 1824, da Bélgica de 1831. Depois, já no Século XX, merece destaque a Constituição Mexicana de 1917 e a Alemã, de 1919 (Constituição de Weimar), que, em meio à 1ª Guerra Mundial e logo depois do Tratado de Versalhes10, elegeram os direitos trabalhistas e previdenciários à condição de direitos fundamentais11. Foi neste Século, logo depois da 2ª Guerra Mundial, que surgiu a ONU, em 1945, além de inúmeros tratados internacionais e a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948, com três dimensões: liberdades públicas, direitos econômicos e sociais e fraternidade/solidariedade, porém apenas como recomendação, sem força 9 Entretanto, a concepção contemporânea de direitos humanos surgiu após a 2ª Guerra Mundial. 10 O Tratado de Versalhes, assinado pelas potências europeias em 1919, pôs fim à 1ª Guerra Mundial, com imposição, à Alemanha, a responsabilidade por ter causado a guerra, com reparações às nações da Tríplice Entente (Reino Unido, França e Império Russo), o que acabou por impulsionar o surgimento do movimento ultranacionalista na Alemanha, liderado por Hitler (nazismo). 11 Também pode ser citada a Declaração dos Direitos do Povo Trabalhador e Explorado, de 12.01.1918, da União Soviética, e logo depois a Lei Fundamental Soviética, de 10.07.1918. Tida por muitos como autoritária por acabar com o direito de propriedade, proclamou o princípio da igualdade, independentemente de raça ou nacionalidade e o direito ao asilo contra perseguições políticas e religiosas, dentre outros. Magistratura e MP Direitos Humanos Prof. Bruno Pontes redejuris.com 10 normativa de tratado; o Pacto Internacional de Direitos Internacional de Civis e Políticos, de 1966, e o Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Culturais e Sociais, também de 1966. 6. Princípio da máxima efetividade (eficiência ou interpretação efetiva) A Constituição de 1988 diz, claramente, que “as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata” (§1º do art. 5º). Isto não quer dizer que a dignidade humana será sempre respeitada, que o detento não sofrerá nas prisões e que ninguém passará fome. Sendo isto inconteste, a doutrina adotou o princípio da máxime efetividade, ao entender que o § 1º deve ser entendido como uma norma principiológica, influenciando o intérprete a atribuir aos direitos fundamentais um sentido que, em cada caso, tenha a maior efetividade possível. Este §1º não pode servir para a incorreta conclusão de que todos os direitos fundamentais têm eficácia plena, porque aplicabilidade imediata não se confunde com os graus de eficácia, vistos oportunamente. Daí porque este princípio da máxima efetividade, para os direitos fundamentais, significa que o intérprete e o aplicador deverá expandir o máximo possível estes direitos, sempre que for possível. 7. Teorias monista e dualista Estas duas teorias analisam a relação de ordenamentos jurídicos existentes no mundo. Monismo é, segundo nossos dicionários, o “sistema filosófico que, por oposição ao dualismo ou ao pluralismo, admite que tudo, no Universo, é redutível a uma única realidade ou substância.” Esta concepção, quando levada para o campo jurídico, entende que todos os ordenamentos jurídicos do mundo são redutíveis a um só. A teoria monista, então, defende que tanto o Direito Internacional quanto o Direito Interno de cada país constituem um só ordenamento jurídico, que é a origem tanto das normas internacionais quanto das nacionais, daí porque os tratados internacionais sobre direitos humanos não precisariam ser incorporados ao sistema jurídico nacional, até porque “as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata” (art. 5º, §1º). É o entendimento de Hans Kelsen, conforme se depreende do seguinte trecho da “Teoria Pura do Direito”: "Se esta norma, que fundamenta os ordenamentos jurídicos de cada um dos Estados, é considerada como norma jurídica positiva - e é o caso, quando se concebe o direito internacional como superior a ordenamentos jurídicos estatais únicos, abrangendo esses ordenamentos de delegação - então a norma fundamental- no sentido específico aqui desenvolvido, de norma não estabelecida, mas apenas pressuposta- não mais se pode falar em ordenamentos jurídicos estatais únicos, mas apenas como base do direito internacional". O monismo ainda dá margem para uma cisão interna, quando envolve a questão da hierarquia das normas: se há origem comum das normas nacionais e internacionais, como se dá seu escalonamento? A primeira corrente entende que o Direito Interno tem supremacia, sendo o Direito Internacional desdobramento lógico; a segunda corrente entende que o Direito Internacional tem supremacia, daí porque o Direito Interno estará limitado pelas normas internacionais, não podendo contrapô-las; a terceira corrente, moderada, entende ambos se equivalem, e o eventual conflito deverá ser solucionado por critérios próprios, como o da revogação da lei mais antiga pela mais recente. Daí porque o monismo não defende que é impossível o conflito entre as normas nacionais (internas) e internacionais (externas). A teoria dualista, por sua vez, separa claramente o ordenamento jurídico internacional do nacional. O internacional (externo) seria a reunião dos tratados e das demais normas e critérios que regulam o relacionamento entre os países, e o nacional (interno) seria a reunião da Constituição e das demais leis do país (os dois ordenamentos regulam realidades próprias e distintas). Deste modo, a norma internacional só teria vigência no ordenamento nacional se este a recepcionasse, por compatibilidade, e a ratificasse, não podendo valer sem tal ratificação. E se o país descumprisse a norma internacional, não teria qualquer consequência interna, pois só poderia sofrer consequências em nível internacional. Portanto, independentemente do novo parágrafo 3º do art. 5º, a CF/88 adota a teoria dualista, até porque o acatamento dos tratados internacionais é ato jurídico complexo, já que precisam de referendum do Congresso Nacional e promulgação pelo Presidente da República, como vimos e como, aliás, entende o STF. Magistratura e MP Direitos Humanos Prof. Bruno Pontes redejuris.com 11 O que ocorre, nos dias atuais, é cada vez mais uma aproximação com o monismo, no sentido de valorizar as normas internacionais, seja pelo estímulo para que os países adotem as regras internacionais, seja pela elevação de status das normas internacionais, quando elas entrarem no ordenamento nacional, como ocorreu com o §3º do art. 5º da nossa Constituição. Inclua-se também os fenômenos da Internet, da Globalização, dos Blocos Econômicos, da submissão ao Tribunal Penal Internacional, assim como a transformação da Europa por mecanismos uníssonos de relacionamento jurídico, político e social, como ocorre com a União Europeia, ganhando força, neste ponto, a interpretação do art. 5º, §2º, da CF/88, no sentido de que ali estaria uma mensagem clara de recepção automática de outros direitos e garantias decorrentes de tratados internacionais em que a República brasileira seja parte. Outro ponto importante é que algumas normas internacionais são absorvidas automaticamente pelo ordenamento jurídico interno dos países, inclusive no Brasil, como ocorre com os costumes e princípios gerais, que não precisam da internalização por meio de aprovação do Congresso, via Decreto- Legislativo, e posteriormente o ato final do Presidente da República, via Decreto Presidencial. É que este procedimento de internalização é destinado para os tratados internacionais, e não para as demais normas, como os costumes e os princípios gerais de direito, que são tratados como fontes do Direito Internacional, damesma forma que os tratados (esta posição, inclusive, foi adotada pelo STF no RE 94.084, julgado em 12/03/1986). Lembre-se que o Estatuto da Corte Internacional de Justiça diz, no seu art. 38, que são fontes do direito internacional os tratados, os costumes e os princípios gerais de direito, e ainda faz referência à jurisprudência e à doutrina como meios auxiliares na determinação das regras jurídicas, inclusive com possibilidade de utilização da equidade. Assim, via de regra, a norma internacional não tem autoridade para, imediatamente, ser exigida no âmbito interno, mas os costumes e os princípios gerais seriam exceções, situação que ratificaria a adoção, neste ponto, da teoria monista no Brasil. Questões de concurso 03) Prova: FUMARC - 2011 - BDMG - Advogado Leia as assertivas abaixo e coloque à frente de cada um dos parênteses (F) se FALSA e (V) se for VERDADEIRA: ( ) Dois ordenamentos jurídicos distintos e totalmente independentes entre si – Dualismo. ( ) Uma ordem jurídica internacional e uma ordem jurídica interna – Monismo. ( ) Impossibilidade de conflito entre Direito Internacional e o Interno – Monismo. ( ) O Direito Internacional é que dirige a convivência entre os Estados, ao passo que o Direito interno disciplina as relações entre os indivíduos e entre estes e o ente estatal – Dualismo. Marque a alternativa CORRETA, na ordem de cima para baixo: a) V – F – V – V. b) V – F – F – V c) F – V – F – F. d) F – V – V – F. 04) Prova: CESPE - 2012 - ANAC - Analista Administrativo - Área 3 No que concerne ao direito internacional público, julgue os itens a seguir. De acordo com o dualismo, as normas de direito internacional e de direito interno existem separadamente e não afetam umas às outras. No Brasil, a teoria adotada é o monismo, de acordo com a qual há unidade do ordenamento jurídico, ora prevalecendo as normas de direito internacional sobre as de direito interno, ora prevalecendo estas sobre aquelas. 8. Sistemas normativos global, regional, geral e específico de proteção dos direitos humanos Desde a aprovação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948, foram desenvolvidos sistemas de proteção a tais direitos, especialmente internacionais. Por isso, já em 2010, o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais contava com 160 Estados-artes; o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos contava com 165 Estados-partes; a Convenção sobre a Eliminação da Discriminação Racial, com 173 Estados-partes; a Convenção sobre a Eliminação da Discriminação contra a Mulher, com 186; e a Convenção sobre os Direitos da Criança, com 193. “Formou-se, então, um sistema global de proteção dos direitos humanos, no âmbito das Nações Unidas. Magistratura e MP Direitos Humanos Prof. Bruno Pontes redejuris.com 12 Esse sistema normativo, por sua vez, é integrado por instrumentos de alcance geral (como os Pactos Internacionais de Direitos Civis e Políticos e de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais de 1966) e por instrumentos de alcance específico, como as Convenções Internacionais que buscam responder a determinadas violações de direitos humanos, como a tortura, a discriminação racial, a discriminação contra as mulheres, a violação dos direitos das crianças, dentre outras formas de violação” (Flávia Piovesan, Temas de Direitos Humanos, pp. 48/49). Portanto, o sistema global ora é geral (com abstração e generalidade, isto é, para todos sem distinção), ora é especial (relacionado ao sujeito do direito e especificidade e concreticidade, como criança, mulheres etc.), ambos complementares entre si, para integração, sempre na perspectiva de maior proteção possível dos direitos humanos. O sistema normativo regional de proteção “busca internacionalizar os direitos humanos no plano regional, em especial na Europa, América e África. Consolida-se, assim, a convivência do sistema global – integrado pelos instrumentos das Nações Unidas como a Declaração Universal de Direitos Humanos, o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e as demais Convenções internacionais – com instrumentos do sistema regional, por sua vez integrados elos sistemas interamericano, europeu e africano de proteção aos direitos humanos” (Piovesan, op. Cit., p. 49). Veja, então, que os sistemas mundiais de proteção aos direitos humanos são: global (considerando a universalidade territorial); regional (para determinadas regiões, em especial Europa, América e África); geral (considerando que atinge todos os seres humanos, indistintamente); especial (destinados para determinadas categorias de pessoas, normalmente minoritárias, como deficientes, mulheres, crianças). Como lembra Piovesan, o Brasil começou a ser relacionar efetivamente com tais sistemas após o início da redemocratização, em 1985. O marco inicial deste processo de relacionamento se deu com a ratificação, em 1989, da Convenção contra Tortura e outros Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes, iniciando inúmeros instrumentos internacionais, de que são exemplos: a) Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura, de 20.07.1989 (aprovada pelo CN via Decreto Legislativo 05, de 31.05.1989 e promulgado pelo Presidente pelo Decreto 98.386, de 09.12.1989); b) Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes, de 24.09.1989; c) Convenção sobre os Direitos da Criança, de 24.09.1990; d) pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, de 24.01.1992; e) pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, de 24.01.1992; f) Convenção Americana de Direitos Humanos, em 25.09.1992; g) Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, em 27.11.1995; h) Protocolo à Convenção Americana referente à Abolição da Pena de Mote, em 13.08.1996; i) Protocolo à Convenção Americana referente aos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (Protocolo de San Salvador), em 21 de agosto de 1996; j) Convenção Interamericana para Eliminação de todas as formas de Discriminação contra Pessoas Portadoras de Deficiência, em 15.08.2001; k) Estatuto de Roma (TPI), de 20.06.2002; l) Protocolo Facultativo à Convenção sobre eliminação de todas as formas de Discriminação contra a Mulher, em 29.06.2002; m) Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos da Criança sobre o Envolvimento de Crianças em Conflitos Armados, de 27.01.2004; n) Protocolo Facultativo à Convenção contra a Tortura, de 11.01.2007; p) Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, de 01.08.2008; Magistratura e MP Direitos Humanos Prof. Bruno Pontes redejuris.com 13 q) Protocolo Facultativo ao Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e segundo Protocolo visando Abolição da penal de Morte, em 25.09.2009. Em 2009, como visto, a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência foi aprovada, inclusive na forma do art. 5º, §3º, da CF (aprovado pelo Congresso pelo Decreto Legislativo 186, de 09.07.2008 e promulgado pelo Presidente pelo Decreto 6.949, de 25.08.2009). A mesma Piovesan elenca inúmeros direitos que, embora não previstos no âmbito nacional, encontram-se enunciados em tratados internacionais: a) direito de toda pessoa a um nível de vida adequado para si próprio e sua família, inclusive à alimentação, vestimenta e moradia, nos termos do art. 11 do Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais; b) proibição de qualquer propaganda em favor da guerra e proibição de qualquer apologia ao ódio nacional, racial ou religioso, que constitua incitamento à discriminação, á hostilidade ou á violê4ncia, em conformidade com o art. 20 do PactoInternacional dos Direitos Civis e Políticos e art. 13 (5) da Convenção Americana; c) direito das minorias étnicas, religiosas ou linguísticas de ter sua própria vida cultural, professar e praticar sua própria religião e usar sua própria língua, nos termos do art. 27 do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e art. 30 da Convenção sobre os Direitos da Criança; d) proibição do restabelecimento da pena de morte nos Estados que a hajam abolido, de acordo com o art. 4º (3) a Convenção Americana; e) Possibilidade de adoção pelos Estados de medidas, no âmbito social, econômico e cultural, que assegurem a adequada proteção de certos grupos raciais, no sentido de que a eles seja garantido o pleno exercício dos direitos humanos e liberdades fundamentais, em conformidade com o art. 1º (4) da Convenção sobre Eliminação de todas as formas de Discriminação Racial; f) possibilidade de adoção pelos Estados de medias temporárias e especiais que objetivem acelerar a igualdade de fato entre homens e mulheres, nos termos do art. 4º da Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação contra a mulher; g) vedação da utilização de meios destinados a obstar a comunicação e a circulação de ideias e opiniões, nos termos do art. 13 da Convenção Americana; h) direito ao duplo grau de jurisdição como garantia judicial mínima, nos termo dos arts. 8, h, e 25, §1º, da Convenção Americana; i) direito de o acusado ser ouvido, nos temo do art. 8º, §1º, da Convenção Americana12; j) direito de toda pessoa detida ou retida de ser julgada em prazo razoável ou ser posta em liberdade, sem prejuízo de que prossiga o processo, nos termos do art. 7 (5) da Convenção Americana;13 k) proibição da extradição ou expulsão de pessoa a outro Estado quando houver fundadas razoes que poderá ser submetida à tortura ou a outro tratamento cruel, desumano ou degradante, nos termos do art. 3º da Convenção contra a Tortura e do art. 22, VIII, da Convenção Americana. Outro aspecto destacado pela autora citada, diz respeito ao preenchimento de lacunas internas pelos tratados internacionais, cuja transcrição segue: “O Direito Internacional dos Direitos Humanos ainda permite, em determinadas hipóteses, o preenchimento de lacunas apresentadas pelo Direito brasileiro. A título de exemplo, merece destaque decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal acerca da existência jurídica do crime de tortura contra criança e adolescente, no HC 70.389-5 (São Paulo, Tribunal Pleno, 23-6-1994, rel. Min. 12 Atualmente, o art. 400 do CPP, com redação dada pela Lei 11719/08, obriga a ouvida do acusado ao final da instrução. 13 A duração razoável do processo, como se sabe, foi incorporada na CF/88 pela EC 45/04 (art. 5º, LXXVIII). Antes desta EC 45/04, como se vê, já existia esta garantia em norma supralegal. Magistratura e MP Direitos Humanos Prof. Bruno Pontes redejuris.com 14 Disney Sanches, relator para o acórdão Min. Celso de Mello),. Neste caso, o Supremo Tribunal Federal enfocou a norma constante do Estatuto da Criança e do Adolescente que estabelece como crime a prática de tortura contra criança e adolescente (art. 233 do Estatuto). A polêmica se instaurou dado o fato de essa norma consagra um ‘tipo penal aberto’, passível de complementação no que se refere à definição dos diversos meios de execução do delito de tortura. Nesse sentido, entendeu o Supremo Tribunal Federal que os instrumentos internacionais de direitos humanos – em particular, a Convenção de Nova York sobre os Direitos da Criança (1990), a Convenção contra a Tortura adotada pela Assembleia Geral da ONU (1984), a Convenção Interamericana contra a Tortura, concluída em Cartagena (1985), e a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), formada no âmbito do OEA (1969) – permitem a integração da norma penal em aberto, a partir do reforço do universo conceitual relativo ao termo ‘tortura’. Note-se que apenas em 07 de abril de 1997 foi editada a Lei 9.455, que define o crime de tortura. Com esta decisão claramente demonstra, os instrumentos internacionais de direitos humanos podem integrar e complementar dispositivos normativos do Direito brasileiro, permitindo o reforço de direitos nacionalmente previstos – no caso, o direito de não ser submetido à tortura.” 9. O sistema interamericano de proteção dos direitos humanos Compreender este sistema regional é importante para compreensão do próprio ordenamento jurídico internacional, neste tema, e das possibilidades reais de proteção dos direitos humanos. A existência deste sistema regional14 parte do reconhecimento de que há uma desigualdade social de consolidação da própria democracia nos Estados da região, em especial pelas várias ditaduras que se instalaram na América do Sul nas décadas de 70 e 80 nestes países15, com execuções, desaparecimentos, perseguições, prisões sem fundamento e torturas. Neste contexto, a Convenção Americana de Direitos Humanos, de 1969 (Pacto de São José da Costa Rica), trouxe grandes conquistas para a região, na defesa dos direitos humanos, entrando em vigor em 1978, após alcançar o mínimo de 11 ratificações. Como se verá á frente, assegura direitos civis e políticos, mesmo priorizando os chamados direitos fundamentais de 1ª geração (vida, não escravidão, personalidade etc.), tanto é verdade que somente em 1988 houve aprovação do protocolo adicional, de San Salvador, para incluir os direitos sociais, culturais e econômicos, omitidos originariamente. Além de prever os direitos humanos, a Convenção Americana estabeleceu um aparado de monitoramento, como é o caso da Comissão Interamericana de Direitos Humanos16, que fiscaliza seus 14 Na verdade, existe no continente americano tanto o subsistema da OEA, baseado no Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos de 1966, quanto o subsistema que agora se trata, baseado na Convenção Americana de 1969. Por isso, um país pode fazer parte do subsistema da OEA, como os EUA, mas não fazer parte do segundo, mas todo Estado-parte do subsistema criado pela Convenção Americana necessariamente integra o primeiro. 15 O próprio “neoconstitucionalismo” iniciou-se mais intensamente na Europa depois da 2ª Guerra Mundial e só tardiamente chegou ao Brasil e na América Latina. Por isso, é comum a afirmação de que, enquanto o neoconstitucionalismo sempre valorizou a dimensão jurídica da Constituição Federal, o novo constitucionalismo democrático latino americano se preocupou mais com a legitimidade democrática e, assim, com mais mecanismos de participação popular, inclusive em face de ditaduras e regimes militares ao longo da história recente: no Brasil, de 1964 a 1985; na Argentina, de 1966 a 1973; no Peru, de 1968 a 1980; no Chile, de 1973 a 1990; no Uruguai, de 1973 a 1985; na Bolívia, de 1964 a 1982 etc.). Não foi por outro motivo que, em Viena, em 1993, após a Conferência Mundial sobre Direitos Humanos, ficou clara a relação entre democracia e direitos humanos: constou no item 8 da “Declaração de Viena e Programa de Ação”, o seguinte: “A democracia, o desenvolvimento e o respeito aos direitos humanos e liberdades fundamentais são conceitos interdependentes que se reforçam mutuamente. A democracia se baseia na vontade livremente expressa pelo povo de determinar seus próprios sistemas políticos, econômicos, sociais e culturais e em sua plena participação em todos os aspectos de suas vidas. Nesse contexto, a promoção e proteção dos direitos humanos e liberdades fundamentais, em níveis nacional e internacional, devem ser universais e incondicionais. A comunidade internacional deve apoiar o fortalecimento e a promoção de democracia e o desenvolvimento e respeito aos direitoshumanos e liberdades fundamentais no mundo inteiro.” 16 A Convenção Americana prevê, no art. 33, dois órgãos competentes para conhecer de assuntos relacionados ao cumprimento dos compromissos assumidos pelos Estados-partes: a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (com Magistratura e MP Direitos Humanos Prof. Bruno Pontes redejuris.com 15 signatários, composta por 07 membros, eleitos pela Assembleia Geral depois de encaminhamento de listas pelos Estados, para mandatos de 04 anos, com apenas uma reeleição, mas precisam ser nacionais de qualquer Estado da OEA e ainda possuírem alta idoneidade moral e reconhecido saber em matéria de direitos humanos (cada Estado pode propor até 03 nomes, e se assim o fizer, deve constar na lista pelo menos um nome que não seja seu nacional). A principal missão é fazer recomendações aos governos, a respeito da proteção de direitos humanos, mas também divulga estudos e relatórios, busca informações aos Estados mediante solicitação e submete, anualmente, um relatório à Assembleia Geral da OEA, já que deve estimular a consciência dos direitos humanos nos povos da América. Importante atribuição da Comissão está no recebimento de denúncias encaminhadas por indivíduos, grupos de indivíduos ou organizações não governamentais, mas a Comissão exige que, antes da denúncia ser conhecida, tenha se esgotado no âmbito interno todas as possibilidades de recurso ou, pelo menos, que haja uma infundada demora no andamento do processo, sem esquecer que a denúncia não terá andamento se houver uma litispendência internacional (isto é, quando o mesmo caso esteja sendo analisado por alguma instância internacional de proteção dos direitos humanos17). A Comissão tem autoridade na medida em que os Estados, ao assinarem a Convenção, reconhecem as competências da Comissão e se compromete em auxiliá-la. Importante regulação da Convenção se dá no âmbito da Corte Interamericana. É que, se o caso não for resolvido no âmbito administrativo, depois da atuação da Comissão, haverá uma litigiosidade naquela Corte. Não havendo possibilidade de acordo entre o requerente e o Estado, no âmbito da Comissão, esta dará o prazo de 03 meses para solução do caso, de modo que, diferentemente das Cortes Europeias de Direitos Humanos, o indivíduo não tem o direito de acessar diretamente a Corte Interamericana, porque necessariamente deve passar pela Comissão, que tem a missão de iniciar o processo (início do processo na Corte pela Comissão ou pelo Estado-parte envolvido)18. A Corte, então, é o órgão jurisdicional do sistema regional, composta por 7 (sete) juízes eleitos pelos Estados partes da Convenção, pelo período de 6 (seis) anos, com uma única reeleição, nacionais de países membros da OEA19, com quórum sempre constituído no mínimo por 5 (cinco) juízes e participação sede em San José da Costa Rica) e a Corte Interamericana de Direitos Humanos (com sede em Washington). A Comissão Interamericana já existia desde 1959, com a função de receber e examinar as reclamações de indivíduos contra violação de direitos humanos, mas foi ratificada somente com a Convenção, em 1969, depois que foram superados os debates sobre a conveniência política ou não de ser criado um arcabouço institucional de supervisão no continente. O modelo, portanto, é bifásico perante estes dois órgãos, que não são permanentes, na medida em que se reúnem em períodos pré- determinados de sessões ao longo do ano. 17 O art. 46 da Convenção diz que a petição ou comunicação será admitida se: a) forem i interpostos e esgotados os recursos da jurisdição interna, de acordo com os princípios de Direito Internacional geralmente reconhecidos, além da apresentação no prazo de seis meses, a partir da data em que o presumido prejudicado tenha sido notificado da decisão definitiva (salvo se na legislação interna do Estado não existir o devido processo legal para proteção, ou não tiver oportunidade de exercer direito aos recursos ou ficar impedido de esgotá-los ou, ainda, houver demora injustificada na decisão dos recursos); b) a matéria da petição ou comunicação não esteja pendente de outro processo de solução internacional; e c) a petição contiver o nome, a nacionalidade, a profissão, o domicílio e a assinatura da pessoa ou pessoas ou do representante legal da entidade que submeter a petição. A petição também precisa expor os fatos que caracterizam violação à Convenção e não repetir outra petição ou comunicação anterior à Comissão ou a outro organismo internacional. O processo e seu andamento, perante a Comissão, estão previstos nos arts. 48/51 da Convenção. 18 O art. 51-1, da Convenção Americana, diz que, se no prazo de 03 meses o assunto não for solucionado ou ainda não tiver sido submetido à Corte (submissão que se dá tanto pela Comissão quanto pelo Estado envolvido), a Comissão poderá emitir, pelo voto da maioria absoluta dos seus membros, sua opinião e conclusões sobre a questão. O art. 61-1, por sua vez, diz que “Somente os Estados-partes e a Comissão têm direito de submeter um caso à decisão da Corte”. 19 Se o Juiz for originário de um Estado que esteja envolvido em uma lide na Corte, não estará impedido ou suspeito, continuando com o direito de conhecer o caso. Porém, se houver mais de um Estado-parte envolvido na demanda, e apenas um deles tiver um juiz de sua origem, o outro Estado que não tem juiz poderá designar outra pessoa de sua escolha para fazer parte da Corte na condição de juiz “ad hoc”. Por outro lado, se a demanda envolver Estados-partes que não tenham juízes de suas nacionalidades, cada um poderá designar juízes “ad hoc”, sempre com os requisitos pertinentes aos demais (art. 55, 1, 2 e 3, da Convenção). Magistratura e MP Direitos Humanos Prof. Bruno Pontes redejuris.com 16 da Comissão em todos os casos. Tanto os juízes da Corte quanto os membros da Comissão terão imunidades reconhecidas aos agentes diplomáticos desde o momento da eleição e enquanto durar o mandato, além de possuírem ampla proteção quanto aos votos e opiniões emitidos no exercício de suas funções (não pode haver responsabilidade dos mesmos), e perceberão honorários e despesas de viagem na forma e nas condições que determinarem os seus estatutos, “levando em conta a importância e a independência de suas funções” (art. 72 da Convenção). Os membros da Comissão poderão ser punidos, conforme o caso, pela Assembleia Geral da Organização, nos casos previstos nos respectivos estatutos, via resolução decidida por dois terços dos votos dos Estados membros da Organização, e os juízes da Corte também poderão ser punidos, mas por dois terços dos votos dos Estados Pares na Convenção (art. 73). A Corte tem competência consultiva e contenciosa: a consultiva diz respeito à interpretação das disposições da Convenção Americana e contenciosa diz respeito à solução de conflitos acerca da interpretação da Convenção. Interessante anotar que qualquer membro da OEA, mesmo não sendo signatário da Convenção Americana, pode pedir à Corte pareceres consultivos em relação à proteção dos direitos humanos nos Estados americanos e, neste caso, pode emitir opiniões sobre a compatibilidade entre a legislação interna do Estado com os instrumentos internacionais, nos termos do art. 64-2 ( “controle de convencionalidade das leis”). No entanto, a função contenciosa da Corte Interamericana não recai sobre países que não fazem parte da Convenção: sua competência contenciosa, então, se limita aos Estados-partes que reconheçam a sua jurisdição. Esta competência contenciosa é iniciada pela Comissão, que faz um papel importante de filtragem e ainda impedindo,como se viu, que o indivíduo tenha acesso direto à Corte20. A Corte não substitui os tribunais interno dos países, e nem serve de instância recursal: sua missão é conferir conformidade das obrigações internacionais dos Estados signatários, em matéria de direitos humanos, muito embora sua decisão tenha caráter vinculante e de cumprimento imediato por todos eles. O Brasil passou a ter atuação efetiva no sistema interamericano de direitos humanos a partir de 10 de dezembro 1998, ano do cinquentenário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, quando reconheceu a jurisdição obrigatória da Corte Interamericana. Lembre-se que, na década de 80, com o fim do governo militar e especialmente com o arrefecimento da Guerra Fria, o Brasil intensificou seu comprometimento com a proteção dos direitos humanos. Porém, a ratificação da Convenção Americana só ocorreu em 1992, depois da Constituição de 1988 e a elevação da prevalência dos direitos humanos como princípio da relação internacional (Art. 4º da CF/88). A defesa do Estado brasileiro, então, passou a ser uma grande necessidade, em especial diante do aumento significativo de casos perante a Comissão e da maior estruturação das organizações não-governamentais, ficando a cargo, tal tarefa, à Advocacia- Geral da União, junto com o Ministério das Relações Exteriores e a Secretaria Especial dos Direitos Humanos. A República Federativa do Brasil já se envolveu em alguns casos perante a Corte Interamericana, dos quais21 merecem destaques os seguintes: 20 Uma das principais críticas à Corte Interamericana é justamente este impedimento para o indivíduo iniciar sua jurisdição, ao contrário do que ocorre nas Corte Europeias. Por isso mesmo, a partir de 1996, houve inovação trazida pelo III Regulamento da Corte Interamericana de Direitos Humanos, porque ampliou a possibilidade de participação do indivíduo no processo: é que agora a vítima passou a ser autorizada, por meio de representantes e familiares, a fazer alegações de forma autônoma, inclusive apresentar provas, durante a etapa de discussão sobre as reparações devidas. Também com as alterações produzidas pelo IV Regulamento, é possível que as vítimas, seus representantes e familiares não só ofereçam suas próprias peças de argumentação e provas em todas as etapas do procedimento, como também podem fazer uso da palavra durante as audiências públicas celebradas, acabando por ratificar a condição de parte no desenvolvimento do processo, mesmo sem poder para iniciá-lo. 21 De 1998 até 2009 foram mais de 507 demandas apresentadas na Comissão Interamericana, envolvendo o Brasil, das quais 29 foram admitidas, inclusive com várias recomendações ao Brasil pela Comissão (O Estado de São Paulo, de Magistratura e MP Direitos Humanos Prof. Bruno Pontes redejuris.com 17 a) Irene Ximenes Lopes Miranda vs. Brasil. Neste caso, a Corte condenou o Estado brasileiro em 2006, em U$ 130.000,00, por violação do direito à integridade pessoal, à vida, à proteção judicial e às garantias judiciais, por conta do tratamento desumano e degradante a Damião Ximenes Lopes, doente mental, que veio a óbito em 1999 na Casa de Repouso Guararapes de Sobral/CE, instituição privada integrante do SUS, atualmente desativada pelo Governo estadual (ficou comprovado que, depois de 4 dias da internação, o mesmo havia falecido com várias marcas de tortura). A irmã de Damião Ximenes, Irene Ximenes, junto com a ONG Justiça Global, acionaram a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Ceará, ocasião em que foi encaminhada para a Comissão Interamericana. O Estado brasileiro reconheceu o pedido quanto à violação do direito à vida e à integridade pessoal, assim como os fatos relacionados à morte de Damião Ximenes, os maus tratos e a falta de prevenção, mas não reconheceu os pedidos específicos de reparação, até porque tentara conciliação oferecendo pensão vitalícia à mãe da vítima, proposta recusada. Ficou comprovado que estava em trâmite, por mais de seis anos, ação civil de reparação de danos promovida pelos familiares da vítima, além da ação penal contra os acusados da sua morte (na condenação do Estado brasileiro, em 2006, as ações ainda não haviam sido julgadas, mesmo com a morte em 1999). Este caso foi paradigmático, especialmente para ratificar a proteção internacional dos direitos humanos, em particular dos pacientes psiquiátricos (a Corte nunca tinha julgado violação de direitos humanos de deficiente mental). Em 14 de agosto de 2007, decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi publicado, com autorização para que a Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência (SEDH) pagasse a indenização em torno de R$ 250.000,00 aos familiares da vítima. b) Nogueira de Carvalho e outro vs. Brasil. Em 13.01.2005, a Comissão Interamericana submeteu à Corte Interamericana a demanda contra a República Federativa do Brasil, depois de quase 08 anos da denúncia, datada de 11.12.1997. O advogado Gilson Nogueira de Carvalho havia sido assassinado em 20.10.1996, e era defensor dos direitos humanos (fazia denúncia contra grupo de extermínio no Rio Grande do Norte supostamente integrado por policiais, e recebia constantes ameaças de morte, tendo por isso recebido proteção policial do Ministério da Justiça por mais de um ano). Assim, a Comissão solicitou à Corte pronunciamento sobre o episódio, em especial violações ocorridas após 10.12.1998 (data em que o Brasil reconheceu a jurisdição obrigatória da Corte), no sentido de ausência de diligências na investigação do crime e punição dos responsáveis, e também para adoção de determinadas medidas e reparação. O Inquérito Policial havia sido arquivado por decisão da 1ª Vara da Comarca de Macaíba/RN, e chegou a ser reaberto em 1998 em face de investigação particular realizada por particular, quando então houve indiciamento de policial civil aposentado, porém sem condenação criminal. Assim, depois de esgotar os recursos no ordenamento jurídico interno, os pais da vítima, por meio da ONG Justiça Global, levaram o caso à Comissão Interamericana. Porém, a Corte, suscitada pela Comissão, absolveu o Brasil e determinou, à unanimidade, arquivar o expediente em virtude do “limitado suporte fático” (questão que incrementou a ausência de provas foi o fato de que a Corte julgou apenas eventuais violações do Brasil para com os pais da vítima, ocorridas depois de 10.12.1998). Importante observar que, neste caso, o Brasil havia apresentado exceção de incompetência da Corte para conhecer o caso, porque havia ocorrido antes do reconhecimento da sua jurisdição obrigatória pelo Brasil, e também porque não teriam sido esgotados os recursos internos. A Corte, nestes pontos, reconheceu sua competência para conhecer de violações que teriam ocorrido posteriormente, por serem contínuas ou permanentes, mesmo sobre fato ocorrido antes de 10.12.1998 e, em relação ao 10.08.09, p. A6). Vide GOMES, Luiz Flávio. Aumenta procura por corte internacional: 507 demandas. Jus Navigandi, Teresina, ano 14, n. 2262, 10 set. 2009. Disponível em: http://jus.com.br/artigos/13476. Acesso em: 2 fev. 2014. Veja, por exemplo, a medida cautelar 383/2010 (MC-382-10) emitida pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos, depois de acatar pedido do Movimento Xingu Vivo Para Sempre, solicitando ao governo brasileiro que suspendesse as obras da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, para que não se efetivasse risco de dano irreparável às comunidades atingidas. O governo brasileiro emitiu a Nota 142/2011, pelo Ministério das Relações Exteriores, argumentando que a medida cautelarera injustificável e precipitada. Esta Comissão acabou acatando pedido do Brasil e revogou a medida cautelar, passando apenas a recomendar proteção da vida, saúde, cultura e integridade dos membros das comunidades indígenas, se resguardando para análise do mérito final. Magistratura e MP Direitos Humanos Prof. Bruno Pontes redejuris.com 18 esgotamento dos recursos, enfatizou que não procede porque caberia ao Brasil demonstrar quais recursos deveriam ter sido esgotados e que os mesmos seriam adequados e eficazes, o que não ocorreu. c) Escher e outros vs. Brasil. Em 20.12.2007, a Comissão Interamericana submeteu à Corte Interamericana uma demanda originada em 26.12.2000 pelas organizações Rede nacional de Advogados Populares e Justiça Global em nome dos membros das organizações Cooperativa Agrícola de Conciliação Avante Ltda. e Associação Comunitária de Trabalhadores Rurais, porque teriam ocorrido interceptações telefônicas e monitoramento ilegais no ano de 1999 pela Polícia Militar do Paraná, divulgação das conversas telefônicas e ausência de justiça e reparação adequadas, o que violaria as garantias judiciais, a proteção à honra, a liberdade de associação e a proteção judicial previstas na Convenção Americana. Neste caso, o Brasil alegou preliminarmente: a) o descumprimento dos prazos pelos representantes (rejeitado, por não constituir tema de exceção); b) a impossibilidade de alegar violações no decorrer do procedimento (rejeitado, por não ser a conduta contrária às disposições da Convenção Americana, além de verificar que o Brasil teve oportunidade de se manifestar e se defender); c) a falta de esgotamento dos recursos judiciais (o Brasil alegou que os representantes impetraram mandado de segurança, quando deveria ter impetrado “habeas corpus”, sendo ainda possível ação ordinária para declarar a ilegalidade da prova e destruição, mas não o fizeram, e ainda que a ação penal, com as gravações telefônicas, tramitou dentro do devido processo legal, inclusive com declaração de legalidade das condutas policias e das interceptações à vista das autorizações judiciais, mas houve rejeição porque os recursos internos não seriam efetivos porque a interceptação e a divulgação da conversa já haviam ocorrido); d) inexistência de prévia ação penal devidamente julgada e processada (o TJ/PR havia determinado arquivamento da representação contra os policiais militares e contra a juíza que autorizou a interceptação, e determinou o recebimento e processamento contra o Secretário de Segurança Pública, que havia divulgado, mas o Secretário foi absolvido, de modo que a Corte Interamericana estava sendo usada como uma “quarta instância”, o que foi rejeitado porque a Corte não faz papel de quarta instância, mas apenas analisa se os procedimentos e casos internos se adequam ou não à Convenção Americana, daí porque a preliminar foi rejeitada porque não seria exceção preliminar, para ser julgada no mérito). Existiram outras preliminares, mas o importante deste caso é que a Corte Interamericana deixou claro que não é uma “quarta instância”, e condenou o Brasil por ter violado o direito à vida privada, à honra e à reputação (previstos no art.11 da Convenção), em prejuízo a Arlei José Escher, Dalton Luciano de Vargas, Delfino José Becker, Pedro Alves Cabral e Celso Aghinoni, pela interceptação, gravação e divulgação das suas conversas telefônicas, além da violação da liberdade de associação e das garantias judiciais e proteção judicial, muito embora não tenha condenado pela violação de proteções judiciais (condenou o Brasil em reparação por danos imateriais, estimados em US$ 20.000,00 para cada vítima, a ser paga no prazo de um ano, além de publicação no Diário Oficial, em jornal de ampla circulação nacional e em jornal de circulação no Paraná, de determinadas partes da sentença, investigação dos fatos e restituição de aproximadamente US$ 10.000,00 pelas custas e gastos). d) Garibaldi vs. Brasil. Neste caso, a Comissão submeteu à Corte a demanda contra o Brasil, originada de petição de 06.05.2003 apresentada pelas organizações Justiça Global, Rede nacional de Advogados e Advogadas Populares (RENAP) e Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em nome de Sétimo Garibaldi e seus familiares. A demanda envolvia responsabilidade do Estado brasileiro pelo descumprimento da obrigação de investigar e punir o homicídio de Sétimo Garibaldi, ocorrido em 27.11.1998 durante uma operação extrajudicial de despejo das famílias de trabalhadores sem terra, que ocupavam uma fazenda no Município de Querência do Norte/PR, violando as garantias judiciais do art.8º, as proteções judiciais do art. 25, com relação à obrigação geral de respeito e garantia dos direitos humanos e ao dever de adotar medidas legislativas e de outro caráter no âmbito interno (arts. 1.1 e 2 da Convenção) e outros. O crime ocorreu em 1998, quando vinte pistoleiros entraram em um acampamento do MST na Fazenda São Francisco, afirmando serem policiais, para fins de despejo de todos, quando Garibaldi foi ferido na perna e, sem atendimento, veio a óbito. Um ano depois, o caso foi arquivado Magistratura e MP Direitos Humanos Prof. Bruno Pontes redejuris.com 19 perante o Judiciário brasileiro. A Corte declarou a violação, pelo Estado brasileiro, dos direitos às garantias judiciais e à proteção judicial reconhecidos nos artigos 8.1 e 25.1 da Convenção Americana, em relação com o artigo 1.1 da mesma, em prejuízo de Iracema Garibaldi, Darsônia Garibaldi, Vanderlei Garibaldi, Fernando Garibaldi, Itamar Garibaldi, Itacir Garibaldi e Alexandre Garibaldi, além do descumprimento da cláusula federal do art. 2822 da Convenção, e por isso determinou: a) reparação, visando publicação no Diário Oficial, em jornal de ampla circulação nacional e em jornal de ampla circulação no Estado do Paraná, a página de rosto, a parte resolutiva da sentença, e sua íntegra, por no mínimo um ano, em página web oficial da União e do Estado do Paraná; b) obrigação do Estado em conduzir eficazmente e dentro de um prazo razoável o Inquérito e qualquer processo que for aberto, para identificar, julgar e eventualmente sancionar os autores da morte de Garibaldi, além de faltas funcionais de funcionários públicos; e) pagar, no prazo de um ano, o valor de US$23 1.000,00 para Iracema Garibaldi, a título de reposição de gastos de transporte e gestões pessoais em virtude do tema, mais US$ 8.000,00 a título de reposição de gastos e custas, além de US$ 50.000,00 em favor de Iracema Garibaldi e US$ 20.000,00 em favor de cada uma das seguintes vítimas: Darsônia Garibaldi, Vanderlei Garibaldi, Fernando Garibaldi, Itamar Garibaldi, Itacir Garibaldi e Alexandre Garibaldi, a título de indenização. O Decreto Presidencial 7.307, de 22 de setembro de 2010, autorizou a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência a dar cumprimento à referida sentença, inclusive para fins de indenização; e) Gomes Lund e outros vs. Brasi (“Caso Guerrilha do Araguaia”). A Corte Interamericana, neste caso, apresentado pela Comissão em 26.03.2009, condenou o Brasil a fazer a investigação penal da operação empreendida pelo Exército brasileiro entre 1972 e 1975 para erradicar a Guerrilha do Araguaia, inclusive para esclarecer, determinar as responsabilidades penais e aplicar as sanções previstas em lei pela detenção arbitrária, tortura e desaparecimento forçado de 70 pessoas, especialmente membros do Partido Comunista do Brasil e camponeses da região (declarou também o Estado brasileiro como responsável pelo desaparecimento forçado e pela violação dos direitos ao reconhecimento da personalidade jurídica, à vida, à integridade pessoal e à liberdade pessoal, além de descumprimento da obrigação de adequar seu direito interno à Convenção etc.). A demanda
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