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20. Formas ác Estado 10.1. Considerações in ic ia is Os Estados M o d e r n o e Contemporâneo têm assumido, basica- mente, duas formas: a forma federada (ou federativa, como consta na Constituição Brasileira), quando se conjugam vários centros de po- der autónomo, e a fornia unitária, caracterizada por u m poder central que conjuga o poder político. Lembra ainda Dal lar i que alguns au- tores têm sustentado a existência de uma terceira forma, o Estado Regional, menos centralizado do que o unitário, mas sem chegar aos S ^ ^ ^ extremos de descentralização do federal ismo, conforme se p o d e ^ é f ' ( S ^ ^ c f o na tese esposada por Juan Ferrando Badia, que aponta como Estados 0 Regionais a Espanha e a Itália. Entretanto, aduz Dal lar i , pail ía maio- ria dos autores que tratam do assunto, o Estado Regional é apenas uma forma unitária u m pouco descentralizada, pois não elimina a completa superior idade política e jurídica do poder central. Por esse m o t i v o , consideram que o Estado Federal continua sendo a opção para escapar ao excesso de central ização. 2 4 3 Para os limites deste trabalho, optamos pela classificação t r a d i c i o n a l , 2 4 4 isto é, Estado Fe- derado (ou Federativo) e Estado Unitário. 2 4 3 Cfe . Dallari , op. cit., p. 254 c segs. 2 4 4 O assim denominado Estado Unitário Descentralizado pode ser caracterizado como u m Estado que, embora aparecendo único nas relações internacionais, é cons- tituído por Estndos-Membros dotados de autonomia, notadamente quanto ao exer- cício de capacidade normativa sobre matérias reservadas à sua competência, embora apenas ocorra n descentralização administrativa, pois a política somente se dá no âmbito do Estado Federal. O u seja, nesta forma de Estado se dá a admissão de órgãos locais de decisão sujeitos a autoridades próprias , para o equacionamento de problemas do respectivo interesse, mas não há nenhuma autonomia, pois a tutela per- manece com o poiier central, não importando o nível de competência material que estabeleça. Ressalta-sc, assim, a dependência do ordenamento único do Estado, razão pela qual esse tipo de Estado não foge a classificação de Estado Unitário. - r o l tufa I tih Çth'rle TGE 10.2. Estado Federado Para entendermos a ideia federativa, é necessário que retome- mos desde a e t imologia do termo, o qual advém de foedus, s igni f i - cando pacto o u aliança. Sob a perspectiva histórica, como união de Estados, a Federação é u m fenómeno moderno que só aparece no século XV11I, em part i - cular desde a experiência norte-americana que, a part ir de 1787, transforma a Confederação em Federação, dando origem ao Estado Federal. A Federação, como estratégia de descentralização do poder po- lítico, impl ica uma repartição rígida de competências entre o órgão do poder central , denominado União, e as expressões das organiza- ções regionais, mais frequentemente conhecidas por Estados-Mem- bros, sendo que estes par t i c ipam naquela via representação, ou ainda - como no caso brasileiro - de u m terceiro nível de competên- cias: o município. Pode-se caracterizar a experiência federativa a part i r da criação de um Estado único, a part i r da União, cuja base jurídica é uma Cons- tituição - de regra escrita e rígida, não havendo direito de secessão, ou seja, o vínculo associativo é indissolúvel. A i n d a , a soberania pertence e é desempenhada pelo Estado Federal - a União, apesar de uma distribuição de competências feita por via consti tucional com poderes próprios a cada u m dos entes federados, que dispõem, ainda, de rendas próprias de cada esfera para poder fazer face aos encargos de que são t i tulares . O poder político é partilhado entre os governos fe- deral e estaduais - e, se for o caso, as demais unidades federativas, tais como os municípios - e uma repartição bicameral no legislativo federal, onde é necessária a participação dos componentes da estru- tura federal para a definição de seus comportamentos . Deve-se res- saltar, a inda, que a cidadania é atribuída pelo Estado Federal - pela União. A federação aparece como bloqueio à concentração autoritária do poder, em face da descentralização de poder que fomenta. Há uma transferência de at ividades do centro para a periferia. Dessa f o i ma, federação e democracia têm uma tendência simétrica, embora ta» não seja uma contingência inexorável, como se observa na expe- riência internacional e, par t icularmente , na tradição latino-america- nr>. Segundo Celso Bastos, a federação seria "a transplantação para o plano geográfico da tripartição dos poderes no plano horizontal dc M o n t e s q u i e u " . Pela teoria dos poderes enunciados e implícitos, além C i *rtM.i P o l í t i r t l P dos poderes expressos, a União detém aqueles que são instrumentais para o c u m p r i m e n t o das competências expressas em sede constitu- cional . A federação criaria uma estrutura forte , uma unidade poderosa sem, todavia, destruir os part icular ismos e as peculiaridades pró- prias dos seus membros. D o ponto de vista interno emergem, de regra, duas ordens jurí- dicas: a União e os Estados-Membros. Aquela é soberana; estes, au- tónomos. N o federal ismo brasi le iro, os municípios desfrutam da autonomia s imilar à dos Estados-Membros, pois possuem u m campo de atuação, leis e autoridades próprias p o r força do reconhecimento constitucional. Modelos : A - Federalismo Clássico, onde ocorre uma cisão p r o f u n d a de competências; B - Federalismo de Colaboração, onde há uma participação recí- proca das diversas entidades federadas nos destinos do Es- tado. O Poder Judiciário tem papel i m p o r t a n t e em toda federação, especialmente no sentido de d i r i m i r os confl i tos de competência entre as diversas instâncias em que se d i s t r i b u e m as competências estatais. O sistema de distribuição de competências pode assumir estra- tégias diversas, adotando a expressão das competências de u m dos entes federados e deixando as sobrantes ou residuais ao outro ou , ainda, pode-se adotar a técnica do esgotamento explícito das com- petências próprias de cada ente federado. O Brasil adotou este modelo com a Proclamação da República, r> mas sua implementação somente se dá com a Constituição de 1891. ^ C o m a Constituição de 37, volta ao m o d e l o unitário, somente ressur- gindo a federação com a Constituição de 1946. Após 64, o p r i n - ~ Cj cípio federativo f icou mais enfraquecido e com a Carta T Const i tucional de 05/10/88 permaneceu o modelo centralizador, sendo que a part i lha de competências t o r n o u mais evanescente o \f modelo federal ista . 2 4 5 Sobre Federalismo, consultar: Dallari , D a l m o de Abreu. O Estado Federal. São Paulo, Ática, 1985; do mesmo autor. Elementos de Teoria Geral do Estado, op. cit.; tb. Bonavides, Teoria do Estado, op. cit.; Baracho, José Alfredo de Ol ivei ra . Teoria Geral do Federalismo. Rio de Janeiro, Forense, 1986. 160 Lenio Luiz Slreck 10.3. Estado Unitár io Na origem do Estado M o d e r n o , a regra fo i a adoção de modelo inverso ao de descentralização federal , estratégia esta relacionada à sua plena afirmação, a p a r t i r da centralização do poder de dec idir . A característica máxima desta forma de Estado se dá pela ine- xistência de coletividades inferiores dotadas de organisrrtos c com- petências próprias, o que, modernamente, pode ser min imizado através de estratégias de desconcentração e descentralização parciais. O modelo unitário se caracteriza, pol i t i camente , pela unidade do sistema jurídico, exc lu indo qualquer p l u r a l i d a d e n o r m a t i v a e, administrat ivamente, pela centralização da execução das leis e da gestão dos serviços. Os agentes inferiores a tuam como meros execu- tores (instrumentos de execução) e controladores, em obediência estrita às ordens recebidas do poder central . U m único centro de c'ecisão aliado a u m ins t rumento de execução através de uma buro- cracia hierarquizada, sendo que pequena parcela de competência é atribuída aos agentes locais os quais, todavia , permanecem hierar- quicamente submetidos. Há uma parcela de poder público que é repassada, mas não há a u t o n o m i a . É diferente da descentral ização, pois não cria agentes a d m i n i s - trativos independentes. Na desconcentração, age-st em nome do Estado; na descentralização, atua-se a par t i r da cole t iv idade imedia - ta, mas tão-só adminis t ra t ivamente . Todavia, há q u e m apresente aspectos pos i t ivos na adoção deste modelo, dentre os quais estariam: 1) a existência de uma só o r d e m jurídica, política e a d m i n i s t r a t i v a ; 2) o for ta lec imento da autor idade estatal; 3) o reforço da u n i d a d e nacional ; 4) uma burocracia única que, assim, seria eficaz e racional izada; 5) impessoal idade e impar- cialidade no exercício das prerrogat ivas de governo . Por outro lado, u m conjunto de aspectos negativos também pode ser elencado: 1) ameaça à autonomia cr iadora das colet ividades menores com o desaparecimento dos g r u p o s sociais intermediários asseguradores das l iberdades i n d i v i d u a i s ; 2) sobrecarga adminis t ra - tiva do poder central ; 3) estancamento do autogoverno e desvincu- lação em face dos problemas públicos; 4) temas de interesse local resolvidos no plano da legislação nacional ; 5) re tardamento das de- cisões administrat ivas . Podemos, então, d i s t i n g u i r o Estado Unitário do Estado Federal, uma vez que naquele ocorre u m a descentral ização adminis t ra t iva , com dependência frente ao Estado Unitário, enquanto no Estado 'Federal há independência. Tal ocorre mesmo q u a n d o há uma certa Ciência Política e a „ A competência legislativa local reconhecida em sede consti tucional , como no caso da Itália. 2 4 6 A i n d a , no Estado Federal há dual idade de poderes políticos, sistemas jurídicos, e t c , bem como sua configura- ção se dá via estrutura const i tucional , ao passo que no Estado U n i - tário, quando há, ocorre por meio de legislação infer ior (ordinária). 0 O D M P A O A S ^ S J E ^ Ver Constituição italiana, arts. 114 e seguintes. 1 6 2 Lenio Luiz Streck 11. As funções do Estado 11.1. Considerações in ic ia is As funções do Estado vêm sofrendo transformações na exata medida em que o Estado assume novos contornos . Desse modo , a clássica separação de funções de cada u m dos Poderes do Estado (Executivo, Legislativo e Judiciário) de há m u i t o está superada. Ob- serve-se que, com os pr imeiros sinais do in tervenc ionismo estatal, próprios do Estado Social (Contemporâneo) , já ocorreram sensíveis alterações na esfera das relações entre os Poderes do Estado, mediante o deslocamento da esfera de tensão do Poder Legislativo para o Poder Executivo. Já no Estado Democrático de D i r e i t o , próprio do const i tu- cionalismo do pós-guerra, tem-se n i t i d a m e n t e o deslocamento dessa esfera de tensão, passando do Poder Execut ivo e do Poder Legisla- t ivo para o Poder Judiciário, mormente nos países com Constituições dirigentes, onde os Tribunais Const i tucionais p r o p o r c i o n a m aquilo que muitos autores chamam de " juridicização da pol í t i ca" . 2 4 7 11.2. Funções do Estado e sistema de f re ios e contrapesos Todavia, para entendermos esta questão, é necessário termos presente que a estratégia de d i s t i n g u i r as funções de Estado a t r i b u i n - do-as a órgãos diversos pode ser entendida como mais u m dos ins- trumentos de dispersão do poder no sent ido de evitar que a sua concentração compactue com a absolutização d o í tesmo. O u seja, a organização funcional da a t i v i d a d e estatal, para além de u m mecanismo de racionalização a d m i n i s t r a t i v a atua, também, como u m elemento de garantização para o asseguramento democrá- tico do poder político. 2 4 7 Para uma discussão mais aprofundada sobre esse tema, ver Streck, Hermenêutica, op. cit., em especial Capítulo 2. Ciência P o l í t i c a <•
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