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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOS CAMPOS GERAIS - CESCAGE http://www.cescage.edu.br/publicacoes/technoeng ISSN: 2178-3586 / 6ª Edição / Jul – Dez de 2012 RELAÇÃO CRIANÇA E MEIO AMBIENTE: Avaliação da percepção ambiental através da análise do desenho infantil CHILD RELATIONSHIP AND ENVIRONMENT: Assessment of environmental perception by analyzing the children's drawing Chayanne Alessandra Telles¹; Guilherme Leonardo Freitas Silva² ¹ Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais – CESCAGE – Curso de Pós-graduação em Gestão Ambiental e Desenvolvimento Sustentável - Ponta Grossa – PR – Brasil. chaytelles@yahoo.com.br ² Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais – CESCAGE – Departamento de Pós- graduação em Gestão Ambiental e Desenvolvimento Sustentável - Ponta Grossa – PR – Brasil. guilherme.silva@cescage.edu.br Resumo: Estudos anteriores demonstram que os elementos presentes em atividades gráficas, como no desenho, podem indicar conhecimentos, valores, dificuldades e interesses, além de possibilitar analisar a capacidade de raciocínio do ser humano. Este trabalho apresenta uma análise de como as crianças percebem e interpretam o meio ambiente, utilizando como ferramenta para a coleta de dados o desenho infantil. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, de uma amostra de 55 crianças com idades que variavam de 07 a 10 anos e que estavam cursando o ensino infantil I e II de duas escolas públicas, sendo uma do interior do Estado da Bahia e outra do interior do Estado de Pernambuco. Através dos elementos encontrados nos desenhos, concluiu-se que a maior parte das crianças possui uma visão naturalista do que é o meio ambiente, não considerando o homem e si próprias como parte integrante do mesmo. Assim, considerando os resultados encontrados destaca- se a importância da inserção da Educação Ambiental nos processos educativos, em especial na Educação Infantil, fase em que o ser humano encontra-se em processo inicial de formação de seus valores e de uma consciência crítica. Deste modo, a educação estará voltada à formação de uma consciência ecológica e de responsabilidade socioambiental, com cidadãos sensíveis e conscientes do meio ambiente, não apenas que os cerca, mas certamente, do qual fazem parte. Palavras-Chave: Educação Ambiental, Criança, Meio Ambiente, Percepção Ambiental, Desenho infantil. Abstract: Previous studies show that the elements present in graphic activities such as the design, may indicate knowledge, values, problems and interests, and enable the ability to analyze human reasoning. This paper presents an analysis of how children perceive and interpret the environment, using as a tool for data collection the drawing. This is a qualitative study of a sample of 55 CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOS CAMPOS GERAIS - CESCAGE http://www.cescage.edu.br/publicacoes/technoeng ISSN: 2178-3586 / 6ª Edição / Jul – Dez de 2012 children with ages ranging from 07 to 10 years who were enrolled in kindergarten I and II of two public schools, one in the state of Bahia and other interior State of Pernambuco. Through the elements found in the drawings, it was concluded that the majority of children has a naturalistic view of what the environment, and not considering man themselves as an integral part thereof. Thus, considering the results highlight the importance of integrating environmental education in the educational processes, especially in the kindergarten stage, where the human is in the initial process of forming their values and critical awareness. Thus, education is focused on the formation of an ecological awareness and environmental responsibility with citizens sensitive and aware of the environment, not only about that, but certainly, they are part of. Keywords: Environmental Education, Children, Environment, Environmental Awareness, childlike drawing. 1 INTRODUÇÃO O avanço tecnológico e o aumento da produção em escala mundial do pós-guerra potencializaram a capacidade de degradação ambiental. Na década de sessenta, surgiram manifestações sobre a finitude dos recursos naturais e previsões trágicas do colapso ambiental ocasionado pelo crescente consumo. A deterioração do solo, a poluição atmosférica e a contaminação dos recursos hídricos são alguns exemplos desta degradação, além da forte pressão sobre os recursos naturais, devido à intensa procura por matéria prima para produção. Diante destes fatos, emerge a grande problemática socioambiental, evidenciando a estreita conexão entre os processos naturais de degradação ambiental e os modos sociais de uso dos recursos naturais. Procurando reverter este quadro, busca-se a construção de uma sociedade sustentável, através da concepção de um modelo de desenvolvimento alternativo chamado Desenvolvimento Sustentável, termo que nasceu a partir da tomada de consciência de que a degradação ambiental e humana é conseqüência do modelo de desenvolvimento econômico dominante na atualidade (PRADO, 1999). CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOS CAMPOS GERAIS - CESCAGE http://www.cescage.edu.br/publicacoes/technoeng ISSN: 2178-3586 / 6ª Edição / Jul – Dez de 2012 A busca de sociedades sustentáveis supõe transformar padrões de produção e consumo, os valores associados às relações entre os humanos e a natureza, e a forma de interação e comunicação humana. Isto implica em uma mudança nos processos de tomada de decisão sobre o desenvolvimento humano, o qual deve se democratizar, fortalecendo as comunidades locais assim como as pessoas diretamente afetadas pelos processos de transformação tecnológica e social (PRADO, 1999). A maioria dos eventos e congressos mundiais e regionais em gestão ambiental e desenvolvimento sustentável mostraram que a educação é o meio mais eficaz de promover e consolidar as mudanças necessárias. Uma educação capaz de impulsionar essas mudanças só poderá ser aquela que esteja dirigida em direção à transformação dos modelos sociais, econômicos e culturais dominantes na atualidade, em função da construção de sociedades sustentáveis. Diante deste fato, a educação ambiental (EA) tem a missão de contribuir com a formação da sociedade sustentável, na reorientação e na capacitação das pessoas para a construção de um novo estilo de desenvolvimento local, visando formar cidadãos conscientes, preparados para a tomada de decisões e atuando na realidade socioambiental, com um comprometimento com a vida, o bem estar de cada um e da sociedade, tanto a nível global como local. Neste sentido, a inclusão da EA no processo educativo, seja ele formal ou informal, constituindo-se em um processo de ensino-aprendizagem permanente e contínuo, tem apontado resultados significativos no processo de desenvolvimento da sensibilidade e da percepção ambiental, tanto em alunos como também em educadores, proporcionando-lhes novos conhecimentos, contribuindo para a formação de seus conceitos ambientais e para que haja uma nova postura em relação ao meio ambiente (DIAS, 2003). A educação escolar é um dos agentes fundamentais para a divulgação dos princípios da Educação Ambiental que deve ser abordada, de forma sistemática e transversal (DEPRESBITERIS, 1998), em todos os níveis de ensino, mas principalmente no ensino infantil, onde o cidadão encontra-se em CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOS CAMPOS GERAIS - CESCAGE http://www.cescage.edu.br/publicacoes/technoeng ISSN: 2178-3586 / 6ª Edição / Jul – Dez de 2012 formação inicial dos seus conceitos e valores (NEAL & PALMER, 1990), assegurando a presença da dimensão ambiental, de forma interdisciplinar, nos currículos das diversas disciplinas e das atividades escolares. Assim, o presente artigo teve como objetivoanalisar como as crianças, de 7 (sete) a 10 (dez) anos, das cidades de Petrolina/PE e Juazeiro/BA, percebem e interpretam o meio ambiente, através da análise de desenhos infantis, visando obter uma avaliação do nível de percepção ambiental destas crianças em relação à questão ambiental. 2 DESENVOLVIMENTO 2.1 Revisão da literatura 2.1.1 Um breve histórico da Educação Ambiental Na década de setenta, o reconhecimento do impacto ambiental originado pelas mais diversas atividades econômicas ganhou dimensão mundial. Em 1972, em Estocolmo, a Organização das Nações Unidas (ONU) promoveu a Primeira Conferência sobre o Meio Ambiente, na qual se atribuiu à Educação Ambiental um papel estratégico na superação da crise ambiental e estabeleceu-se, pela primeira vez, a importância da ação educativa nas questões ambientais, além de recomendar o treinamento de professores e o desenvolvimento de novos recursos e métodos (DIAS, 1992). Em 1977, em Tbilisi, na Geórgia, foi realizada a Primeira Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental, que dispõe sobre a natureza da EA, definindo-lhe objetivos, características, recomendações e estratégias, bem como reforça a necessidade urgente de investigação de novos métodos e materiais educativos. O Relatório Brundtland é um documento da ONU, também chamado “Nosso Futuro Comum”, resultado de discussões de uma equipe intergovernamental sobre o estágio ecológico da Terra entre 1983 e 1987, através do qual projetou-se o ideal de “desenvolvimento sustentável” - considerado como aquele que satisfaz as necessidades das atuais gerações CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOS CAMPOS GERAIS - CESCAGE http://www.cescage.edu.br/publicacoes/technoeng ISSN: 2178-3586 / 6ª Edição / Jul – Dez de 2012 sem comprometer a das futuras, atendendo ao equilíbrio social e ecológico e prioritariamente às necessidades dos mais pobres (DIAS, 1992). Também conhecida como Eco-92, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Humano produziu um plano de ação denominado Agenda 21, assinada por 179 países, que se constitui num roteiro detalhado com vistas ao alcance de uma educação orientada para a sustentabilidade. A Agenda considera a Educação Ambiental como indispensável para a modificação de atitudes, o que exige que ela seja desenvolvida em todos os níveis escolares, devendo-se rever programas e metodologias. O Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, oriundo também da Eco-92, reforça a Educação Ambiental dentro de uma perspectiva interdisciplinar e voltada para o desenvolvimento de uma consciência ética e crítica (MEC, 2001). Assim, dentre os princípios e objetivos relacionados à Educação Ambiental, percebe-se que esta é tida como algo amplo e que visa, principalmente, melhorar a relação homem-natureza e a qualidade de vida com base no conceito de desenvolvimento sustentável. 2.1.2 Base Legal e obrigatoriedades da Educação Ambiental Pode-se dizer que a Educação Ambiental obedece a duas normas legislativas: uma é a legislação ambiental, desenvolvida no Brasil especialmente a partir da década de 1980, e a outra é a legislação educacional, que regulamenta a Educação Ambiental em todos os âmbitos do ensino, formal e não-formal. A Constituição Federal de 1988, em seu Artigo 225, § 1º, já determinava a obrigatoriedade do Poder Público na promoção da Educação Ambiental em todos os níveis de ensino. Coadunando-se com os compromissos firmados pelas Nações Unidas desde a Conferência de Estocolmo em 1972, os legisladores brasileiros formulam o Plano Nacional de Meio Ambiente (Lei nº 6.938/81), no qual a Educação Ambiental é um princípio que CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOS CAMPOS GERAIS - CESCAGE http://www.cescage.edu.br/publicacoes/technoeng ISSN: 2178-3586 / 6ª Edição / Jul – Dez de 2012 garante a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar no país condições ao desenvolvimento sócio econômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana (art 2º, BRASIL, 2004). Determina, outrossim, que deve ser oferecida em todos os níveis de ensino e em programas direcionados à comunidade (art. 2º, BRASIL, 2004). O marco da Educação Ambiental do Brasil foi reforçado com a promulgação da Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999, a qual reconhece a EA não como disciplina isolada, mas como prática educativa em todos os níveis do ensino formal, e define-a como sendo o processo por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do Meio Ambiente, bem como de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (art. 1º, BRASIL, 2004). Já a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) prevê que a dimensão ambiental deva constar em todos os níveis e modalidades do ensino formal, ou seja, na educação básica, a qual contempla a educação infantil e o ensino fundamental e médio, na educação superior, especial, profissional e na educação de jovens e adultos, onde um dos objetivos de se inserir a EA no ensino formal é desenvolver a sensibilidade e a percepção ambiental, tanto em alunos como também em educadores (ProNEA, 2005). Assim, a EA deve desenvolver-se como uma prática educativa integrada, contínua e permanente, e não implantada como uma disciplina especifica no currículo. Do mesmo modo, as atividades de EA devem estar presentes também na educação infantil, sendo desenvolvida através de projetos coletivos de transformação das realidades locais e globais, por meio da ação política e do fortalecimento da cidadania, visando o desenvolvimento de competências e habilidades, bem como o de valores éticos e de cidadania individual e planetária à efetivação do desenvolvimento sustentável. Buscando, desta forma, atender ao que foi proposto como meta da Educação Ambiental na Carta de Belgrado, escrita em 1975: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOS CAMPOS GERAIS - CESCAGE http://www.cescage.edu.br/publicacoes/technoeng ISSN: 2178-3586 / 6ª Edição / Jul – Dez de 2012 Desenvolver um cidadão consciente do ambiente total, preocupado com os problemas associados a esse ambiente e que tenha o conhecimento, as atitudes, motivações, envolvimento e habilidades para trabalhar individual e coletivamente em busca de soluções para resolver os problemas atuais e prevenir os futuros (DIAS, 1992). 2.1.3 A importância da Educação Ambiental na Educação Infantil Em seus estudos, Vygotsky (1994), chama a atenção para o fato de que a criança pequena era vista a partir de uma analogia com o desenvolvimento das espécies vegetais. Essa forma de perceber as crianças contribuiu para que o espaço reservado a elas fosse chamado de Jardim de Infância. Segundo Korpela, citado por Elali (2003), a criança tem uma necessidade declarada de ter contato com áreas externas e ambientes naturais, e essa necessidade aumenta conforme a criança é menor. É notável perceber que a maioria das crianças possui, desde muito pequenas, uma ligação muito forte com natureza, quando demonstram o seu prazer em estar em contato com ela, através do brincar na grama, do brincar com a terra, do contato com a água do rio e do mar e do contato com os animais. Entretanto, o homem, à medida que vai deixando de ser criança e torna- se adulto, tem perdido esta ligação com natureza. O individualismo, conseqüente do capitalismo e do neoliberalismo, tem tornado a relação homem-natureza cada vez mais frágil e até mesmo insustentável. Além da crescente urbanização,que afasta o indivíduo da natureza, produzindo uma sensação de desligamento do natural. Diante deste fato, a Educação Ambiental surge como ferramenta indispensável e essencial em dois processos, um no de levar o homem a um re-encantamento e a uma religação com a natureza, assim como propõe Boff (1999) e outro quando abordada, de forma sistemática e transversal, em todos os níveis de ensino, especialmente na educação infantil, onde o cidadão encontra-se em formação inicial de seus conceitos e valores. Considerando o processo de ensino/aprendizagem, Freinet, citado por Sampaio (2002), foi um dos estudiosos que abordou a relação das crianças com a natureza. Para ele, o que está do lado de fora da sala de aula gera muito CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOS CAMPOS GERAIS - CESCAGE http://www.cescage.edu.br/publicacoes/technoeng ISSN: 2178-3586 / 6ª Edição / Jul – Dez de 2012 mais encantamento nas crianças do que o que está dentro, pois, nas salas, as crianças não encontram motivação e permanecem sentadas. Portanto, é de fundamental importância que as crianças travem contato com a natureza, despertando sentimentos e exercitando todos os sentidos. Ver e compreender a natureza como o resultado de inúmeras relações de causa e efeito pode contribuir para uma religação, um novo despertar para a valorização do todo e para a compreensão de que cada um de nós faz parte deste todo. Além de atividades que permitam as crianças o contato direto com a natureza, como passeios em parques e trilhas ecológicas, outra ferramenta que os educadores podem utilizar em suas práticas pedagógicas que envolvam a Educação Ambiental, são as atividades lúdicas, como os jogos, o teatro e o desenho. Segundo Almeida, citado por Bezerra (2007), o lúdico permite à criança aprender de forma prazerosa, uma vez que a ludicidade se dá principalmente através do brincar. Almeida diz que o brincar desenvolve a criatividade, a competência intelectual, a força e a estabilidade emocionais e sentimentos de alegria e de prazer. Assim, a união da Educação Ambiental e da Educação Infantil é primordial para criar uma nova geração que conheça e compreenda, não apenas a natureza, mas sim o meio ambiente como um todo, tratando-o com respeito e admiração e reconhecendo-se como parte integrante dele. 2.2 Percepção ambiental e o desenho infantil Segundo Del Rio (1996) a percepção ambiental é um processo mental de interação do indivíduo com o meio ambiente, que se dá através de mecanismos perceptivos, os quais são dirigidos por estímulos externos e captados através de nossos órgãos do sentido (visão, tato, olfato, audição e paladar). O processo de percepção envolve também a área cognitiva do ser humano, a qual compreende o processo de contribuição da inteligência, admitindo-se, portanto, que a mente não funciona apenas a partir dos sentidos e nem recebe essas sensações passivamente. CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOS CAMPOS GERAIS - CESCAGE http://www.cescage.edu.br/publicacoes/technoeng ISSN: 2178-3586 / 6ª Edição / Jul – Dez de 2012 Tuan (1980) ressalta que a percepção varia de acordo com o que tem valor para cada indivíduo, para sua sobrevivência biológica e para proporcionar certas satisfações que estão enraizadas nas diferentes culturas. As respostas, ou manifestações de cada pessoa, são resultados das percepções, julgamentos e expectativas de cada um. É importante ressaltar que a percepção não se constrói somente com aquilo que as sensações nos trazem, mas também com aquilo que as representações coletivas, ou seja, a sociedade nos impõe. É certo que cada indivíduo percebe, reage e responde de forma diferente às ações sobre o meio. Portanto, existem diversas maneiras de se ver e interpretar o mundo a nossa volta, as quais são estabelecidas a partir das experiências pessoais de cada um. Machado (1996) diz que “a superfície da Terra é elaborada para cada pessoa pela refração por meio de lentes culturais e pessoais, de costumes e fantasias.” Ou seja, o universo perceptivo de cada um varia de acordo com as experiências vividas, com aquilo que foi observado, vivenciado e praticado, e com o meio social em que se vive, sendo assim o nosso olhar para o mundo em grande parte social. Para aprender a cuidar e a proteger o ambiente no qual se está inserido é necessário conhecê-lo antes de tudo. Ainda segundo Tuan (1980), as percepções revelam o modo como se vive e se planeja o espaço, é a resposta das diferentes interações entre ser humano e o meio ambiente. Podemos ver os arbustos, árvores e gramas, mas raramente notamos as folhas individuais e suas lâminas; vemos a areia, mas não os seus grãos individuais. Tuan conceitua “O campo visual é muito maior do que o campo dos outros sentidos. Os objetos somente podem ser vistos; por isso, temos a tendência de considerar os objetos vistos como “distantes”, não provocando nenhuma resposta emocional forte, embora possam estar bem próximos de nós (TUAN,1980).” Mandel, citado por Bontempo (2006), afirma que o conhecimento de um problema ambiental é condição necessária, mas não o suficiente, para CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOS CAMPOS GERAIS - CESCAGE http://www.cescage.edu.br/publicacoes/technoeng ISSN: 2178-3586 / 6ª Edição / Jul – Dez de 2012 mudanças de valores que leve ao surgimento de atitudes positivas, desencadeando a criação de uma consciência ecológica. A partir das percepções internalizadas em cada indivíduo é que pode-se buscar a mudança de atitudes, a qual é um dos objetivos principais da educação ambiental para sociedades sustentáveis. Segundo Tuan (1980), essa mudança é uma conseqüência possível de ser observada. Tal fato reforça que, para que a educação ambiental seja planejada, realizada e avaliada, é necessário que se faça um levantamento prévio da percepção ambiental que um determinado grupo ou ator social possa ter (SCHWARZ et al 2007; MARIN et al, 2003). O conjunto de percepções desse grupo é que permitirá verificar quais deficiências devem ser sanadas, facilitando assim seleção de estratégias adequadas para a inserção da educação ambiental no contexto escolhido. Nesse contexto, o estudo da percepção ambiental é de fundamental importância. Por meio dele é possível conhecer a cada um dos grupos envolvidos, facilitando a realização de um trabalho com bases locais, partindo da realidade do público alvo, para conhecer como os indivíduos percebem o ambiente em que vivem. Através destes estudos é possível identificar as formas precisas em que a educação ambiental poderá sensibilizar, conscientizar e trabalhar conjuntamente as dificuldades ou dúvidas que os alunos possam vir a ter quando discutidas e apresentadas às questões ambientais. 2.2.1 O desenho como forma de expressão do conhecimento O desenho é uma das formas de expressão que o ser humano possui desde os princípios da Antiguidade, sendo considerando como a primeira forma de manifestação da escrita do homem. Caracteriza-se por uma representação gráfica de um objeto real ou de uma idéia abstrata e tem sido reconhecido por muitos pesquisadores como uma importante fonte de informação e uma maneira especial de se obter CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOS CAMPOS GERAIS - CESCAGE http://www.cescage.edu.br/publicacoes/technoeng ISSN: 2178-3586 / 6ª Edição / Jul – Dez de 2012 revelações sobre o inconsciente humano, além de ser reconhecido como um meio de comunicação, de expressão e de conhecimento (MÈREDIEU, 2006). Analisar um desenho não é o mesmo que interpretá-lo, pois existe uma diferença real e concreta entre ambos os conceitos. A análise responde a um enfoquetécnico e racional e se fundamenta em bases solidamente comprovadas. É o mesmo delineamento que se encontra na psicologia e na psiquiatria. A interpretação dos desenhos é o resultado ou a síntese da análise (BÉDARD, 1998). O desenho é interpretado por Vygotsky (1989) como um estágio preliminar do desenvolvimento da escrita, tendo como a linguagem falada sua origem de construção. Enquanto a escrita não oferece segurança para refletir o pensamento desejado, a criança emprega o desenho como meio mais eficiente para exprimir seu pensamento. Então, em cada período do desenvolvimento infantil, a imaginação atuará de uma maneira tal que respeite a escala de seu desenvolvimento (Vygotsky, 1997). Afirma ainda o autor citado que as crianças não desenham aquilo que veem, mas sim o que sabem a respeito dos objetos. Então, pode-se afirmar que representam seus pensamentos, seus conhecimentos e/ou suas interpretações sobre uma dada situação vivida ou imaginada. Também Ferreira (1998), apoiada na psicologia histórico-cultural, afirma que a criança desenha para significar seu pensamento, sua imaginação, seu conhecimento, criando um modo simbólico de objetivação de seu pensamento. Ferreira & Silva (2001) afirmam: “As impressões que as crianças têm da realidade experenciada não se amontoam, imóveis, em seu cérebro. Elas constituem processos móveis e transformadores, que possibilitam à criança agrupar os elementos que ela mesma selecionou e modificou e combiná-los pela imaginação. O desenho que a criança desenvolve no contexto da escola é um produto de sua atividade mental e reflete sua cultura e seu desenvolvimento intelectual”. 2.2.2 O desenho infantil e suas representações Segundo a pedagoga Nicole Bérdad, os desenhos são uma importante forma de expressão utilizada pelas crianças para comunicar naturalmente os CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOS CAMPOS GERAIS - CESCAGE http://www.cescage.edu.br/publicacoes/technoeng ISSN: 2178-3586 / 6ª Edição / Jul – Dez de 2012 seus pensamentos, suas emoções e a maneira de ver o mundo ao seu redor. Quando livre de censura, os desenhos revelam percepções e visões particulares, tanto do mundo interior quanto exterior (BÉRDAD, 1998). Ou seja, ao desenhar a criança expressa seus conhecimentos e suas experiências, mostrando sua percepção de mundo de modo singular, podendo também expressar de modo simbólico suas fantasias, seus desejos, medos, sentimentos e os conhecimentos que vai construindo a partir das experiências que vivem. O desenho tem sido compreendido como um meio que permite a criança organizar informações, processar experiências vividas e pensadas, estimulando-a a desenvolver um estilo de representação singular do mundo. Portanto, as experiências gráficas fazem parte do crescimento psicológico e são indispensáveis para o desenvolvimento e para a formação de indivíduos sensíveis e criativos, capazes de transpor e transformar a realidade (GOLDBERG et al, 2005). Assim, o desenho infantil pode emergir como um elo de representação das diferentes relações estabelecidas entre pessoas e entre pessoas e seus ambientes e de outras vivências significativas para o desenvolvimento social, afetivo e cognitivo dos indivíduos. Segundo Piaget (2003), o desenho é visto pela criança como uma forma de brincar, ou seja, o desenho constitui para a criança uma atividade lúdica, o qual engloba as suas possibilidades e necessidades, propiciando a integração entre a cognição, criatividade e imaginação, percepção e sensibilidade. O autor ainda cita que a criança quando desenha “escreve” o mundo à sua maneira e esta “escrita” revela o conhecimento e as experiências que vivência concretamente. Assim, a prática do desenho permite à criança desenvolver sua linguagem, sua imaginação e criatividade, além de estimular o desenvolvimento de seus conhecimentos e de sua auto-estima, preparando-a para ser um cidadão capaz de enfrentar desafios e participar na construção de um mundo melhor. CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOS CAMPOS GERAIS - CESCAGE http://www.cescage.edu.br/publicacoes/technoeng ISSN: 2178-3586 / 6ª Edição / Jul – Dez de 2012 2.3 Material e métodos O trabalho foi realizado entre os meses de abril e maio do ano de 2010, em duas instituições de ensino público, sendo o Colégio Estadual Paulo VI e a Escola Municipal Eliete Araújo de Sousa, sendo esta localizada na cidade de Petrolina/PE e aquela na cidade de Juazeiro/BA, considerando assim as duas margens da Ponte Presidente Dutra. Fizeram parte da análise de investigação deste estudo duas turmas de alunos, sendo uma de cada uma das instituições anteriormente citadas, com idades que variavam de 07 (sete) a 10 (dez) anos, os quais estavam cursando o ensino Infantil I e II, totalizando um número de 55 crianças participantes. A abordagem metodológica adotada neste trabalho enquadra-se na perspectiva da pesquisa qualitativa, a qual considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números, ou seja, não requer o uso de métodos e técnicas estatísticas (GIL, 1999). As pesquisas qualitativas são exploratórias, ou seja, estimulam os entrevistados a pensarem livremente sobre algum tema, objeto ou conceito. Elas fazem emergir aspectos subjetivos e atingem motivações não explícitas, ou mesmo conscientes, de maneira espontânea. São usadas quando se busca percepções e entendimento sobre a natureza geral de uma questão, abrindo espaço para a interpretação, sendo a interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados, processos básicos neste tipo de pesquisa (DEMO, 1991). Dado o seu caráter exploratório as pesquisas qualitativas não pretendem generalizar as suas informações, não havendo, portanto, preocupação em projetar os seus resultados para população. Em geral, são abordados pequenos grupos de entrevistados, sendo o pesquisador o instrumento chave para a coleta e análise de dados. CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOS CAMPOS GERAIS - CESCAGE http://www.cescage.edu.br/publicacoes/technoeng ISSN: 2178-3586 / 6ª Edição / Jul – Dez de 2012 Considerando o procedimento técnico das pesquisas, neste trabalho foi utilizada a técnica da pesquisa-ação, a qual estimula a participação do público alvo envolvido na pesquisa, ou seja, o participante é conduzido à produção do próprio conhecimento e se torna o sujeito dessa produção. Segundo Minayo (1992), a pesquisa-ação é um tipo de investigação social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo. Ou seja, trata-se de uma metodologia constituída de uma ação educativa e que, segundo Oliveira, citado por Melo (2003), promove o conhecimento da consciência e também a capacidade de iniciativa transformadora dos grupos com quem se trabalha. 2.3.1 Coleta de dados Como visto anteriormente, a técnica aplicada no presente trabalho foi a pesquisa-ação, a qual foi realizada concomitantemente com as oficinas desenvolvidas nas instituições de ensino já citadas. Os dados selecionados como instrumentos para análise neste trabalho foram os desenhos infantis, os quais foram coletados durante a realização das oficinas, através de uma dinâmica chamada “Tela de Pintura”, a qual será descrita a seguir. Cabe ressaltar, que esta dinâmica foi criada pela própria autora deste trabalho. 2.3.2 Dinâmica“Tela de Pintura” Esta dinâmica caracteriza-se por ser uma atividade lúdica e pelo desenho livre, onde cada criança é convidada a retratar o que é o meio ambiente para si. Para a realização da atividade, cada aluno recebeu uma folha de papel A4 e uma caixa de lápis de cor. Considerando que as crianças possuem um universo imaginativo imenso e que na maioria das vezes suas ações e sua criatividade são movidas por esta imaginação, faz-se necessário que se crie uma atmosfera instigante no CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOS CAMPOS GERAIS - CESCAGE http://www.cescage.edu.br/publicacoes/technoeng ISSN: 2178-3586 / 6ª Edição / Jul – Dez de 2012 desenvolvimento desta atividade, ou seja, ao iniciar a dinâmica, a pesquisadora mostra a folha de papel A4 aos alunos e pergunta: “Pessoal, vocês sabem o que é isto?” e logicamente, todos respondem: “É uma folha de papel”. Nesta ocasião a pesquisadora procura estimular a imaginação das crianças, quando concorda com os alunos que sim, é uma folha de papel, mas que naquele momento todos vão imaginar que aquela folha é uma “Tela de Pintura”. Daí o nome da dinâmica. Neste momento também, as crianças são convidadas a se imaginar, cada uma, como um grande pintor ou uma grande pintora. Feito o primeiro acordo imaginativo com as crianças, a pesquisadora questiona: “Mas, o que falta para um pintor, além da sua tela de pintura?” E logo vem a resposta, por parte dos alunos: “O pincel e as tintas!”. Então, mais uma vez eles são convidados a usar a sua imaginação, quando recebem uma caixa de lápis de cor, imaginando ser suas tintas e seus pincéis. Criada a atmosfera imaginativa, as crianças foram convidadas a retratar em suas telas de pintura o que é o meio ambiente para si (figuras 4 a 7), sendo disponibilizado um tempo de 30 a 45 minutos para confecção do desenho, ou melhor, da “obra de arte”. Com o término dos desenhos, cada aluno foi convidado pela pesquisadora a verbalizar o que desenhou em seu meio ambiente, a qual, na seqüência, anotou no quadro da sala de aula o que cada um desenhou. Ao final a pesquisadora, junto com os alunos, fez um levantamento dos elementos que mais apareceram nos desenhos e em seguida iniciou uma reflexão com as turmas, sobre o que é o meio ambiente. 2.3.3 Análise de Conteúdo Para a realização da análise e interpretação dos dados coletados a abordagem metodológica utilizada foi a técnica de análise de conteúdo. Trata- se de um método que busca avaliar o conteúdo manifesto nas comunicações, sejam elas verbais ou não. Sendo o desenho uma das formas de expressão e de comunicação humana, optou-se então por aplicar esta abordagem no presente trabalho. CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOS CAMPOS GERAIS - CESCAGE http://www.cescage.edu.br/publicacoes/technoeng ISSN: 2178-3586 / 6ª Edição / Jul – Dez de 2012 Bardin (1979) conceitua a análise de conteúdo como um conjunto de técnicas de análise das comunicações que visa obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos, a descrição do conteúdo das mensagens, sejam estes quantitativos ou não, que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção e/ou recepção destas mensagens. Aplicada principalmente no campo das pesquisas sociais, este tipo de análise surgiu já antes da Idade Média, onde existiam pessoas interessadas em interpretar as mensagens contidas nos escritos sagrados. A princípio foi uma técnica criada para a descrição objetiva, sistemática e quantitativa, entretanto, por influência de diversos pesquisadores, o campo de aplicação deste método tem se ampliado e se diversificado, sendo este tipo de análise utilizada cada vez mais nas pesquisas qualitativas, como é o caso do presente trabalho. A análise de conteúdo trabalha tradicionalmente com materiais textuais escritos, entretanto, Ferreira (2003), a partir da abordagem de Bardin, relaciona as múltiplas possibilidades de uso da análise de conteúdo: “A análise de conteúdo é usada quando se quer ir além dos significados, da leitura simples do real. Aplica-se a tudo que é dito em entrevistas ou depoimentos ou escrito em jornais, livros, textos ou panfletos, como também a imagens de filmes, desenhos, pinturas, cartazes, televisão e toda comunicação não verbal: gestos, posturas, comportamentos e outras expressões culturais.” Ou seja, a análise de conteúdo é um instrumento de pesquisa científica com múltiplas aplicações, podendo ser utilizada tanto como técnica quantitativa quanto qualitativa, além de ser uma técnica que não tem modelo pronto,constrói-se através de um vai e vem contínuo e tem que ser reinventada a cada momento (BARDIN, 1979). 2.3.4 Fases da Análise de Conteúdo De acordo com Bardin (1979) a análise de conteúdo se organiza em 3 fases: a pré-análise, a análise do material e o tratamento dos resultados, que compreende a inferência e a interpretação. CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOS CAMPOS GERAIS - CESCAGE http://www.cescage.edu.br/publicacoes/technoeng ISSN: 2178-3586 / 6ª Edição / Jul – Dez de 2012 A pré-análise é a fase de organização propriamente dita, onde o pesquisador operacionaliza e sistematiza as idéias, elaborando um esquema preciso de desenvolvimento do trabalho. É o momento que permite ao pesquisador o contato inicial com o material de trabalho, no caso do presente trabalho, os desenhos infantis. Bardin (1979) chama este primeiro momento de “leitura flutuante”, através da qual o pesquisador tem as primeiras orientações e impressões em relação às mensagens contidas no material de análise. Esta fase foi caracterizada pela escolha do material a ser analisado, pela formulação das questões norteadoras do trabalho e seus objetivos e pela elaboração de indicadores para a interpretação dos dados. A fase de análise do material é a etapa mais longa do processo metodológico. Consiste na codificação, categorização e quantificação das informações obtidas na pré-análise. Ou seja, os dados brutos são transformados de forma organizada e agregados em unidades, as quais permitem uma descrição das características pertinentes dos conteúdos encontrados no material de análise (BARDIN, 1979) A organização da codificação compreende a escolha de unidades de registro, a seleção de regras de contagem e a definição das categorias de análise. Unidade de registro é a unidade de significação a codificar, neste caso, as unidades de registro do presente trabalho são os tipos de elementos encontrados nos desenhos infantis. A seleção de regras de contagem caracteriza-se pela quantificação das unidades de registros. Neste processo, a presença ou ausência de determinados elementos pode ser significativa, ou seja, a freqüência com que aparece uma unidade de registro denota-lhe importância. No presente trabalho foi utilizada a contagem dos elementos encontrados nos desenhos, sendo apresentada a freqüência destes elementos nas tabelas que estarão representadas no item 4.3 Interpretação de dados. Por fim, a definição das categorias de análise representa a passagem dos dados brutos a dados organizados. Para a escolha as categorias de análise foram consideradas as freqüências das unidades de registro CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOS CAMPOS GERAIS - CESCAGE http://www.cescage.edu.br/publicacoes/technoeng ISSN: 2178-3586 / 6ª Edição / Jul – Dez de 2012 quantificadas na análise. Assim, de acordo com os elementos encontrados nos desenhos das crianças foram definidas 3 categorias de análise, as quais apresenta-se abaixo, juntamente com os os elementos que fizeram parte de sua classificação: Categoria 1 – Elementos naturais: desenhos que apresentavam elementosnaturais do ambiente biótico e abiótico. Categoria 2 – Elementos construídos: desenhos que apresentavam elementos construídos pelo homem. Categoria 3 – Outros: desenhos que apresentavam elementos humanos (pessoas) e/ou ações humanas e elementos que expressavam sentimentos. Cabe ressaltar que, as categorias não foram impostas preliminarmente pela pesquisadora, mas sim criadas a partir da realização da pré-análise dos elementos contidos nos desenhos, e que neste procedimento foram considerados os requisitos de homogeneidade, não misturando os critérios de classificação; exaustividade, classificando a totalidade dos conteúdos; exclusão, onde um mesmo elemento do conteúdo não pode ser classificado em mais de categoria e adequação, onde os documentos selecionados para análise devem proporcionar a informação adequada para cumprir os objetivos da pesquisa, conforme orienta Bardin (1979). 2.3.5 Tratamento dos resultados e interpretação Na maioria das vezes a análise de conteúdo visa a um tratamento quantitativo que não exclui a interpretação qualitativa. Atualmente, os procedimentos para este tipo de tratamento são numerosos. O mais simples consiste no cálculo das freqüências e percentagens que permitem estabelecer a importância dos elementos analisados. Como citado anteriormente, este foi o procedimento adotado no presente trabalho onde, depois de realizada a codificação e categorização dos elementos encontrados nos desenhos infantis foram elaborados quadros de freqüências, os quais serão apresentados no item a seguir. CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOS CAMPOS GERAIS - CESCAGE http://www.cescage.edu.br/publicacoes/technoeng ISSN: 2178-3586 / 6ª Edição / Jul – Dez de 2012 2.4 Resultados e discussão Abaixo seguem os quadros com os dados brutos já sistematicamente transformados e agrupados em unidades, ou seja, categorizados, de acordo com os elementos observados nos desenhos e a freqüência com que estes foram encontrados. ELEMENTOS FREQUENCIA ELEMENTOS NATURAIS Sol 94% Nuvem 93% Chuva 7% Céu 7% Estrelas 11% Arco-íris 31% Pássaros e outros animais 89% Árvores 96% Frutos 58% Flores 78% Grama / vegetação rasteira 71% Montanha / montes 14% Rio / lago / mar 20% Cachoeira 4% Quadro 1. Relação dos elementos naturais encontrados nos desenhos infantis. ELEMENTOS FREQUENCIA ELEMENTOS CONSTRUÍDOS Casa 31% Portão / cerca 4% Igreja 4% Automóveis 2% Balão 2% Navio 2% CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOS CAMPOS GERAIS - CESCAGE http://www.cescage.edu.br/publicacoes/technoeng ISSN: 2178-3586 / 6ª Edição / Jul – Dez de 2012 Semáforo 2% Bola 2% Lata de lixo 16% Quadro 2. Relação dos elementos construídos encontrados nos desenhos infantis. ELEMENTOS FREQUENCIA OUTROS Lixo / poluição 9% Pessoas 16% Coração 20% Quadro 3. Relação de outros elementos encontrados nos desenhos infantis. A partir da observação do quadro 1, pode-se perceber que a maioria dos alunos considerou como fazendo parte de seu meio ambiente elementos naturais que constituem o firmamento (sol e nuvem) e elementos que constituem as florestas propriamente ditas, como árvores, flores, frutos, grama, pássaros e outros animais. Vale ressaltar a presença de mais um elemento que apareceu de forma significativa nos desenhos das crianças, o arco-íris. Segundo a educadora Nicole Bérdad, a presença deste elemento nos desenhos das crianças representa segurança e proteção, ou seja, a criança que representa o arco-íris em seus desenhos exterioriza a necessidade de ser protegida e mostra-se como uma criança psicologicamente frágil (BÉRDAD, 1998). Já no quadro 2, pode-se observar uma menor quantidade de elementos construídos quando comparado ao número de elementos naturais encontrados nos desenhos. Na categoria elementos construídos, os elementos apareceram com baixa freqüência, sendo a casa (31%) e a lata de lixo (16%) os mais representativos. O quadro 3 traz apenas três elementos diferentes que foram observados nos desenhos, que foram o lixo, pessoas e coração, mas que também apareceram com baixa freqüência, sendo o coração (figuras 8 e 9) o mais significativo (20%). CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOS CAMPOS GERAIS - CESCAGE http://www.cescage.edu.br/publicacoes/technoeng ISSN: 2178-3586 / 6ª Edição / Jul – Dez de 2012 Verificou-se, ainda, a existência de alguns desenhos que traziam elementos representando pessoas, as quais demonstravam atitudes em relação ao meio ambiente, sendo observado em 9% dos desenhos atitudes boas, como uma pessoa regando flores (figura 10) e jogando o lixo no lugar adequado (figura 11) e 4% atitudes ruins, como uma pessoa jogando lixo nos rios (figura 11). A partir desta análise pode-se qualificar a percepção ambiental das crianças como naturalista, por apresentar, de maneira significativa, em seus desenhos elementos relativos aos aspectos naturais, bióticos e abióticos, do meio ambiente. Considerando a categoria 2 – Elementos construídos, nota-se a pequena quantidade de elementos representados, como já citado anteriormente, sendo que apenas o elemento casa apareceu de forma significativa. Isto mostra que aspectos sociais, culturais e históricos do ambiente não foram levados em consideração pelas crianças e que de certa forma, estas não possuem uma visão antropocêntrica do meio ambiente. A presença do elemento coração, na categoria 3 – Outros, tem grande significância. Sabe-se que desde a antiguidade e que em todas as culturas o coração é o símbolo do amor. Os egípcios, por exemplo, acreditavam que o coração estava ligado intimamente à alma e que dele partiam todas as emoções humanas. Sempre que se fala de sentimentos, principalmente no amor, o ser humano utiliza o coração como referência. Quando queremos expressar o nosso amor por algo ou alguém, na maioria das vezes, nos remetemos ao simples desenho de um coração, além de muitas vezes, nossas ações partirem de nossos sentimentos e de sermos motivados e impulsionados pelo o que sentimos e por nossas emoções. Assim, considerando a observação e análise dos desenhos infantis, pode-se afirmar que as crianças investigadas possuem uma percepção ambiental voltada a uma visão naturalista do meio ambiente, não considerando o homem, e si próprias, como parte do mesmo. CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOS CAMPOS GERAIS - CESCAGE http://www.cescage.edu.br/publicacoes/technoeng ISSN: 2178-3586 / 6ª Edição / Jul – Dez de 2012 Além disto, pode-se dizer também que para algumas crianças há o vínculo afetivo com o meio ambiente, considerando a freqüência e a importância do aspecto simbólico do elemento coração. 3 CONCLUSÃO Como visto, a maior parte das crianças participantes do presente estudo possui uma visão naturalista do que vem a ser o meio ambiente. A presença do ser humano nos desenhos não foi significativa, quando comparada à freqüência de outros elementos, tanto os elementos naturais, quanto os construídos. Isso mostra a importância da introdução da Educação Ambiental nos processos educativos, especialmente na Educação Infantil, em que se inicia o processo de formação da consciência humana e de seus valores. Se as crianças forem ensinadas desde pequenas sobre a importância do meio ambiente, sobre o que ele é e representa e sobre as interligações existentes entre cada um de nós e a natureza, teremos cidadãos conscientes do seu meio ambiente, com conhecimentos, valores e habilidades que os tornem aptos a agir e resolver problemas ambientais presentes e futuros.Sabemos que os estudantes de hoje serão os construtores da sociedade de amanhã, daí a importância de cuidar e de investir em sua formação. Se as instituições de ensino continuarem formando pessoas inaptas a compreender o meio ambiente como um todo, sem uma consciência social e planetária, a crise ambiental permanecerá, ou até mesmo, chegaremos ao possível extermínio do planeta Terra, e conseqüentemente, do homem, sem mais futuro, nem para as próximas nem para as presentes gerações. Mas se queremos uma sociedade marcada por cidadãos responsáveis, que considerem valores éticos, como democracia, justiça e solidariedade e que lutem por uma vida sustentável para si e para todos, é necessário que se pense e invista na educação. É necessária uma educação baseada em projetos que integrem cognição, emoção e ação, já que o ser humano quando CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOS CAMPOS GERAIS - CESCAGE http://www.cescage.edu.br/publicacoes/technoeng ISSN: 2178-3586 / 6ª Edição / Jul – Dez de 2012 pensa, sente ou decide, o faz como um todo. Uma educação não apenas voltada à transmissão do conhecimento, mas sim uma educação que estimule os estudantes a pensar e a pensar na realidade a que eles pertencem e da qual fazem parte. Assim, a Educação Ambiental e a Educação Infantil juntas, podem investir no desenvolvimento de uma educação voltada para a cultura da paz, para a formação de valores e para a proteção do meio ambiente, visando a formação de cidadãos conscientes, aptos para decidirem e atuarem na realidade socioambiental de um modo comprometido com a vida, como o bem- estar de cada um e da sociedade, local e globalmente. Para tanto, é necessário um conjunto de políticas governamentais para a concretização dessas idéias e para a construção de uma nova fase da educação, em que haja a promoção de capacitação para os professores, disponibilidade de instrumentos e materiais pedagógicos específicos para esta área e incentivos para as escolas, para a implantação de projetos e programas voltados à Educação Ambiental. Cabe também aos professores e educadores, traçar metas e objetivos para suas ações de Educação Ambiental, além de buscar outros tipos de recursos didáticos, como as atividades lúdicas, para que a aprendizagem seja significativa. Porém, e tão importante quanto, faz-se necessário que, envolvido com esta prática, o professor e/ou o educador encontre nela, significado. Este fato só acontecerá se ele próprio considerar importante desenvolver o compromisso responsável com as questões ambientais, pois, é como o educador Joseph Cornell diz “Para transmitir encantamento, é preciso estar encantado”. (CORNELL, 1995) Ou seja, enquanto os orientadores do saber não estiverem sensibilizados com a causa não haverá prática pedagógica que gere mudança de atitudes. Portanto, se as mudanças de atitudes são desencadeadas por sentimentos e conhecimento, é necessário o desenvolvimento de um trabalho CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOS CAMPOS GERAIS - CESCAGE http://www.cescage.edu.br/publicacoes/technoeng ISSN: 2178-3586 / 6ª Edição / Jul – Dez de 2012 que estimule a participação dos alunos, com atividades que permitam aos educandos experimentarem experiências profundas junto da natureza, não necessariamente fora da sala da aula. Atividades que mostrem ao aluno o meio em que ele está inserido, considerando aspectos sociais, culturais, econômicos e ecológicos. Junto a isso, é necessário que a escola invista na reforma pedagógica, introduzindo aos currículos e a todas as disciplinas a formação de valores e a formação da consciência ambiental crítica e reflexiva, para que tenhamos cidadãos aptos a pensar sobre e a resolver os problemas socioambientais. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1979. BÉRDAD, N. 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