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1 2 Sumário 1. CONCEITOS BÁSICOS .......................................................................................................... 4 1.1. Evolução no desenvolvimento e aplicação de biomateriais ........................................... 4 1.2. PROPRIEDADES E DEFINIÇÕES DOS BIOMATERIAIS ................................................... 7 2. CIÊNCIA E ENGENHARIA DOS MATERIAIS ......................................................................... 9 2.1 Estrutura ............................................................................................................................. 9 Estrutura atômica ......................................................................................................................... 9 Ligações químicas ........................................................................................................................ 9 2.1.1 - Sólidos Cristalinos e Não Cristalinos ............................................................................. 10 2.1.2 - Definição de Rede, Base e Célula Unitária ..................................................................... 11 2.1.3 - Sistemas Cristalinos e Redes de Bravais ...................................................................... 12 Sistemas cristalinos ................................................................................................................................. 12 Redes Bravais .......................................................................................................................................... 12 2.2 Propriedades Mecânicas ................................................................................................. 13 Curva Tensão versus Deformação .......................................................................................................... 13 Ductilidade .............................................................................................................................................. 15 Resiliência................................................................................................................................................ 15 Tenacidade .............................................................................................................................................. 15 Dureza ..................................................................................................................................................... 16 Fadiga ...................................................................................................................................................... 16 Comportamento elástico ........................................................................................................................ 17 Comportamento plástico ........................................................................................................................ 17 As principais propriedades mecânicas para os biomateriais ................................................................ 17 2.3 Processamento................................................................................................................. 18 2.4 Seleção e aplicação ......................................................................................................... 19 3. CLASSIFICAÇÃO ................................................................................................................. 21 3.1. Polímeros .......................................................................................................................... 21 3.2. Metais ................................................................................................................................ 22 3.3. Cerâmicas ......................................................................................................................... 23 3.4 Compósitos ...................................................................................................................... 25 Compósito................................................................................................................................................ 25 Tipos de Compósitos ............................................................................................................................... 26 3.5. Biomateriais ...................................................................................................................... 27 UHMWPE ................................................................................................................................................. 27 Hidroxiapatita ......................................................................................................................................... 27 Alumina ................................................................................................................................................... 28 Bio Vidros ................................................................................................................................................ 29 3 Zircônia .................................................................................................................................................... 29 Ligas de titânio ........................................................................................................................................ 30 Materiais semicondutores ...................................................................................................................... 30 Nanomateriais ......................................................................................................................................... 32 4. CONTEXTO ATUAL .............................................................................................................. 34 4.1 PESQUISA (PROJETOS DE NOVOS MATERIAIS) .......................................................................... 34 4.1.1 Ossos .............................................................................................................................................. 34 4.1.2 Vasos Sanguíneos........................................................................................................................... 36 4.1.3 Materiais dentários ............................................................................................................ 37 4.1.4 Olhos ................................................................................................................................... 38 4.1.5 Crânio ................................................................................................................................. 38 4.1.6 Pele ..................................................................................................................................... 39 4.2 MERCADO ......................................................................................................................... 40 Referências bibliográficas ......................................................................................................... 42 4 1. CONCEITOS BÁSICOS “Materiais inertes utilizados em um dispositivo médico, destinados a interagir com sistemas biológicos” 1ª Conferência de Consenso sobre Definições de Biomateriais (Chester, Reino Unido, 1986). (1) “Materiais destinados a interagir com sistemas biológicos para avaliar, tratar, aumentar ou substituir um tecido ou órgão ou alguma função no corpo” 2ª Conferência de Consenso sobre Definições de Biomateriais (Chester, Reino Unido, 1991). (1) “Um biomaterial é uma substância projetada para tomar uma determinada forma tal que, sozinha ou como parte de um sistema complexo, é utilizadapara direcionar, pelo controle das interações com componentes de sistemas vivos, qualquer procedimento terapêutico ou diagnóstico, na medicina humana ou veterinária. ” (Williams, 2009). (1) 1.1. Evolução no desenvolvimento e aplicação de biomateriais Os primeiros dispositivos para tratamento de tecidos humanos danificados foram utilizados a mais de 4000 anos, onde se tem registros de uso de suturas de linho e ouro no Antigo Egito, também foram encontrados o uso de dentes artificiais feitos de conchas pelos maias em 600 a.C., de ferro pelos franceses e de ouro e madeira pelos romanos, chineses e astecas em 200 a.C. (1) Durante a 2ª Guerra Mundial, foi observado que os ferimentos dos soldados não geraram reações a alguns corpos estranhos pelos quais eram atingidos, assim materiais de alto desempenho criados para uso militar começaram a ser aplicados no uso médico. E após esse período, emergiu o campo de pesquisa e desenvolvimento para aprimorar os materiais para utilização em implantes e outros dispositivos médicos. (1) 5 O crescimento constante do mercado de biomateriais é uma consequência ligada ao envelhecimento da população, que ao longo do tempo vem representando uma grande parte dos pacientes que necessitam de cuidados médicos. O tratamento de feridos e de pacientes com má formação de tecidos também são uma parcela significativa dos usuários de implantes e enxertos. (1) A evolução dos biomateriais pode ser dividida por gerações, como representado da Figura 1, os materiais foram evoluindo com o tempo e com sua evolução houve o aumento do potencial regenerativo do biomaterial implantado. A primeira geração foi marcada pelo uso de materiais que gerassem a mínima interação com o hospedeiro e fossem biocompatíveis, onde o principal objetivo era atender à necessidade e não obter um design funcional. Nesta geração os principais materiais foram o ouro, aço, marfim, madeira e vidro, entre outros. (2) A segunda geração foi marcada pela união dos materiais biocompatíveis da primeira geração e inclusão de propriedades bioativas, onde também houve o aproveitamento de materiais desenvolvidos para outras aplicações, como na indústria automobilística e aeronáutica. Nesta geração os principais materiais foram os metais e ligas de titânio, os polietilenos de alto peso molecular, lentes acrílicas, entre outros. (2) A terceira geração foi marcada pelo aprimoramento de propriedades, desenvolvendo materiais com características específicas de acordo com a aplicação desejada, restaurando a funcionalidade da região implantada. Nesta geração os principais materiais foram os com potencial de biodegradação, bioreabsorção e com propriedades regenerativas. (3) A quarta geração pode estar surgindo pouco a pouco, onde as principais propriedades desenvolvidas têm objetivo de tornar os novos biomateriais em: Biointerativos e/ou Biomiméticos. Onde os materiais possuem características que promovem uma participação ativa na recuperação dos tecidos estimulando-os em nível celular. (1) As pesquisas e desenvolvimento na área de Engenharia Tecidual também vem crescendo e são biomateriais com mercado muito promissor, devido ser uma área de pesquisa atual também se enquadra na quarta geração. (1) 6 Figura 1: Evolução da funcionalidade e da capacidade regenerativa dos biomateriais ao longo de seu desenvolvimento (1) Os desenvolvimentos de novos materiais dependem do trabalho conjunto de várias áreas, como representado na Figura 2, pode-se observar que áreas de especialidades diferentes podem estar unidas para a realização da pesquisa e desenvolvimento de produtos. (1) Figura 2: Fluxograma das relações entre especialidades relacionadas à pesquisa e desenvolvimento de biomateriais. (Adaptado de: SOUZA et al., 2015) 7 1.2. PROPRIEDADES E DEFINIÇÕES DOS BIOMATERIAIS Com o avanço de técnicas médicas nas últimas décadas obteve-se um aumento na expectativa de vida da população mundial, onde o envelhecimento da população é acompanhado pela perda da atividade natural de tecidos e órgãos. (4) As alternativas disponíveis para a realização de procedimentos cirúrgicos de reconstrução de tecidos e órgãos estão descritas na Figura 3: Figura 3: Descrição dos tipos de produtos disponíveis para a realização de procedimentos cirúrgicos (Adaptado de: ÓREFICE et al., 2012)(4) Entre as alternativas citadas a que vem obtendo o maior destaque é o uso de biomaterial, devido sua versatilidade de manipulação de estrutura, propriedades e interações com sistemas vivos. (4) Existem muitas propriedades que podem estar presentes nos biomateriais, dentre elas as imprescindíveis são: a Biocompatibilidade, ser Esterilizável e a Biofuncionalidade. ● Biocompatível: para ser considerado biocompatível o biomaterial não deverá ser tóxico, carcinogênico, antigênico e nem mutagênico, também não deverá interferir na regeneração de tecidos lesionados durante o procedimento cirúrgico e os tecidos adjacentes ao local que será aplicado devem tolerar bem as propriedades biomecânicas dos materiais. (5) ● Esterilizável: Para ser considerado esterilizável o biomaterial deverá tolerar um processo de esterilização, onde não poderá sofrer degradação e não perder propriedades. A esterilização é um processo que consiste em incidir uma temperatura 8 sobre o material, que seja elevada até que os micro-organismos presentes sejam afetados, eliminando-os de através do aumento de temperatura e período de exposição ao calor. (6) ● Biofuncionalidade: para ser considerado biofuncional o biomaterial deve apresentar as propriedades químicas, físicas, mecânicas e biológicas correspondentes à mesma função que o tecido o qual ele deverá substituir desempenha naturalmente. Poderá interagir com o hospedeiro e estimular a reparação e a regeneração de tecidos. (7) Além dessas, há outras propriedades muito importantes, e as definições dessas propriedades foram definidas durante a ʺConsensus Conferenceʺ organizada pela Sociedade Europeia de Biomateriais, que foi realizada em 1986. ● Bioatividade: quando o biomaterial promove a formação espontânea de uma ligação com o tecido adjacente. ● Biodegradação: quando o biomaterial sofre um processo de redução gradual da qualidade de suas propriedades ou características em ambiente biológico. ● Bioreabsorção: quando há perda de massa gradativa de um material promovida pela solubilização do material por fluídos corpóreos. ● Bioinerte ou Quase Inerte: quando o material não promove interação física, química ou biológica ao ambiente em que está inserido. ● Bioestabilidade: quando um material possui a capacidade de resistir a um ambiente biológico sem apresentar alterações em sua estrutura ou suas propriedades. ● Adsorção de Proteínas: é um fenômeno onde ocorre condensação de moléculas de proteína na superfície do material, causado devido às proteínas possuírem grupamentos polares e apolares, propiciando uma concentração de proteínas numa interface separando duas fases distintas (biomaterial e fluidos corpóreos). (4) ● Osteogênese: é o processo de formação de tecido ósseo. ● Osteointegração: é o processo onde o material e tecido ósseo integram-se, formando um único conjunto. ● Osteocondução: é o processo onde o tecido ósseo pode gerar um crescimento direcionado através do material, em consequência da presença de poros, fendas, canais, entre outros. ● Osteoindução: é o processo onde há a indução de células mesenquimais indiferenciadas a se tornarem osteoblastos. (3) ● Osteoblastos: são célulasresponsáveis pela formação de tecido ósseo. (3) 9 ● Hemocompatibilidade: é definida principalmente pela capacidade de homeostase. (4) ● Homeostase: é o processo de coagulação sanguínea seguida da redissolução do coágulo formado. (4) ● Trombogênico: é a propriedade de um material de induzir ou promover a formação de trombos, que são coágulos sanguíneos. (4) ● Angiogênese: é o processo de crescimento de novos vasos sanguíneos. 2. CIÊNCIA E ENGENHARIA DOS MATERIAIS 2.1 Estrutura Estrutura atômica O átomo consiste de partículas elementares denominadas de Nêutrons, Prótons e Elétrons. Cada uma destas partículas apresenta características particulares, de massa e carga elétrica. Os nêutrons e os prótons formam o núcleo do átomo, ao redor do qual circulam os elétrons em órbitas de translação formando uma espécie de “nuvem” eletrônica envoltória. Tanto os elétrons como os prótons possuem uma carga elétrica de 1,60x10-19 C (Coulomb) que é negativa para os primeiros e positiva para os segundos. Os nêutrons não possuem cargas elétricas, mas possuem uma massa de aproximadamente 1,67x10-27 kg, que é a mesma para os prótons e que é significantemente maior que a do elétron, 9,11x10-31 kg. Cada elemento químico é caracterizado por um número de prótons no seu núcleo ou Número Atômico (Z). Para um átomo completo (eletricamente neutro), o número atômico é também igual ao número de elétrons. A Massa Atômica (A) de um átomo específico pode ser expressa pela soma do número de prótons e de nêutrons dentro do núcleo. (8) Ligações químicas Ligações Químicas Primária: A ligação envolve os elétrons de valência e depende das estruturas eletrônicas dos átomos, se origina da tendência dos átomos 10 em adquirir estruturas eletrônicas estáveis. Como exemplo de ligações primárias podemos citar: ● Iônica; ● Covalente; ● Metálica. Ligações Secundária (Físicas): São mais fracas que as primárias, mas ainda influenciam nas propriedades físicas dos materiais. Como exemplo de ligações secundárias podemos citar: Van der Waals; Dipolo-dipolo; Dipolo-dipolo induzido. 2.1.1 - Sólidos Cristalinos e Não Cristalinos Os materiais sólidos podem ser classificados de acordo com a regularidade em que seus átomos ou íons estão arranjados aos outros. Podem ser classificados em: ● Sólidos Cristalinos: São os materiais em que os átomos encontram-se ordenados sobre longas distâncias atômicas posicionados sobre uma estrutura tridimensional de pontos chamada rede cristalina. Como exemplo podemos citar os metais, muitas cerâmicas e alguns polímeros. A figura 4 apresenta um exemplo de cerâmica cristalina.(8) Figura 4 - Representação de SiO2 cristalino. Adaptada de Fig. 3.23(a), Callister & Rethwisch 8e. ● Sólidos não cristalinos: Também denominados materiais amorfos, não apresentam ordem em longo alcance na disposição de seus átomos. 11 Figura 5 - Representação de SiO2 amorfo. Adaptada de Fig. 3.23(b), Callister & Rethwisch 8e. Existem inúmeras estruturas cristalinas, desde estruturas simples exibidas pelos metais até estruturas mais complexas exibidas pelos materiais cerâmicos e polímeros. (8) 2.1.2 - Definição de Rede, Base e Célula Unitária Rede: pode ser definido como um padrão de pontos que se repete, no qual todos os pontos apresentam a mesma vizinhança, na mesma orientação. Qualquer ponto da rede coincide com outro ponto pela aplicação de uma operação de simetria de translação. A rede é uma grade de pontos sobre a qual um padrão e, portanto, um cristal pode ser construído através da associação de uma base idêntica em cada ponto de rede.(8) Base: representa a unidade que se repete associada a cada ponto de rede. No caso mais simples é um átomo, e nos mais complexos a base pode ser composta por vários átomos ou íons ou molécula.(8) Célula Unitária: A célula unitária representa uma subunidade da rede. A rede pode ser reconstruída pela repetição da célula unitária (translação no espaço).(8) (a) (b) (c) Figura 6 - Representações de células unitárias. (a) Representação por esferas, (b) Representação de esferas rígidas e (c) Representação de uma célula unitária de um reticulado cristalino. Fonte: Callister & Rethwisch 8ª ed. 12 2.1.3 - Sistemas Cristalinos e Redes de Bravais Sistemas cristalinos Existem sete células unitárias podem ser reconhecidas para as redes tridimensionais, ou seja, células que podem ser empilhadas para preencher o espaço. Essas células são associadas com sete sistemas de eixos cristalográficos chamados “sistemas cristalinos”. Eixo cristalográfico é qualquer das linhas imaginárias que atravessam um cristal, encontrando-se em seu centro. Há um eixo frontal ao observador, chamado de a; um eixo vertical, chamado de c; e um eixo perpendicular a esses dois, chamado de b. Os eixos cristalográficos servem como referência na descrição da estrutura e simetria dos cristais. Medindo suas dimensões relativas e os valores dos ângulos pode-se determinar a qual sistema cristalino pertence o cristal. A Figura 7 apresenta os sete sistemas cristalinos.(8) Figura 7 - Representação dos sistemas cristalinos. Fonte: Callister & Rethwisch 8e. Redes Bravais Dos 7 sistemas cristalinos podemos identificar 14 tipos diferentes de células unitárias, conhecidas com redes de Bravais. Cada uma destas células unitárias tem certas características que ajudam a diferenciá-las das outras células unitárias. Além 13 do mais, estas características também auxiliam na definição das propriedades de um material particular.(8) Figura 8 - Representação das Redes Bravais. 2.2 Propriedades Mecânicas As propriedades mecânicas dos materiais definem seu comportamento quando sujeito a esforços. O comportamento do material mediante à uma solicitação mecânica é reflexo da correlação entre a sua resposta a uma carga ou força aplicada. Como as principais propriedades mecânicas podemos citar limite de resistência, dureza, ductilidade, resiliência, tenacidade à fratura entre outros.(8) Essas propriedades podem ser determinadas através de ensaios mecânicos específicos. Os procedimentos necessários para cada ensaio são determinados por normas técnicas estabelecidas por instituições regulamentadoras internacionais e nacionais, tais como: ● ISO – International Standard Organization; ● ABNT- Associação Brasileira de Normas Técnicas; ● DIN - Deutsche Industrie Normen; ● ASTM – American Society for Testing and Materials; ● MPIF- Metal Powder Industry Federation, etc. Curva Tensão versus Deformação Se uma carga é estática ou varia de maneira relativamente lenta com o tempo e está aplicada uniformemente sobre uma seção reta ou superfície de um elemento 14 estrutural, o comportamento diante essa solicitação mecânica é obtido através de uma curva de Tensão versus Deformação. Essa curva pode ser obtida através dos ensaios representados na Figura 9.(8) (a) (b) (c) Figura 9 - Representação esquemática de como uma carga produz deformação em (a) Tração, (b) Compressão e (c) Cisalhamento. Fonte: Callister & Rethwisch 8ª ed. (8) 15 Ductilidade É a medida do grau de deformação plástica que foi sustentada na fratura. Um material que experimenta muito pouca ou nenhuma deformação plástica antes da fratura é denominado frágil. Os comportamentos de tensão de tração-deformação para materiais tanto dúcteis quanto frágeis são esquematicamente ilustrados na Figura 10. (8) Figura 10 - Representação esquemáticado gráfico Tensão versus Deformação para materiais frágeis e dúcteis.(8) Resiliência Resiliência é a capacidade de um material tem em absorver energia quando ele é deformado elasticamente. No descarregamento toda essa energia é liberada.(8) Tenacidade Tenacidade é a capacidade de um material tem de absorver energia até a fratura. A geometria da peça bem como a maneira como é trabalhada são importantes nas determinações desta propriedade.(8) A tenacidade pode ser quantificada a partir dos resultados de um teste de tensão de tração deformação. É a área sob a curva até o ponto de fratura. Para um 16 material ser tenaz, ele deve exibir tanto resistência mecânica quanto ductilidade. Dessa forma pode-se afirmar que materiais dúcteis são mais tenazes do que outros materiais frágeis. Isto está demonstrado na Figura 10. Dureza A dureza é definida como a resistência do material à deformação plástica localizada. Medidas quantitativas de dureza são realizadas pela penetração de pequenos indentadores na superfície do material a ser ensaiado, sob condições controladas de carga e taxa de aplicação.(8) A profundidade ou tamanho da indentação resultante é medida e relacionada a um número de dureza. Para a medida de dureza existem várias escalas, conforme apresentado na Figura 11.(8) Figura 11 - Técnicas para ensaio de dureza. Fonte: Callister & Rethwisch 8e. Fadiga Denomina-se efeito de fadiga a ruptura de uma peça sob esforços repetidos, a uma tensão inferior à resistência obtida nos ensaios estáticos. Ela é, em geral, determinante no dimensionamento de peças de máquina e vigas sob efeito de cargas móveis. Existem vários exemplos documentados de rupturas de eixos rotativos de turbinas e de outros equipamentos mecânicos que permanecem em operação 17 durante muito tempo. A tensão que um material pode suportar ciclicamente é muito menor que a suportável em condições estáticas. O limite de escoamento, que é uma medida da tensão estática sob a qual o material resiste sem deformação permanente, pode ser usado como um guia apenas para estruturas que operam em condições de carregamento estático.(8) Comportamento elástico É aquele em que a deformação é reversível, ou seja, as ligações químicas dos átomos do material não sofrem recombinação, e a força externa aplicada não ultrapassa o limite do poço de potencial destas ligações. Ex. mola. Comportamento plástico É aquele em que a deformação é irreversível, ou seja, as ligações químicas dos átomos do material se moveram sofrendo algum tipo de recombinação com outros átomos da vizinhança, isto é, os planos cristalinos se deslocaram uns em relação aos outros e a força externa aplicada removeu os átomos para fora do poço de potencial, ou seja, para fora da posição de equilíbrio.(8) As principais propriedades mecânicas para os biomateriais As principais propriedades mecânicas que devem ser levadas em conta quando se seleciona um biomaterial são: ● Resistência: aplicações que requerem alta resistência incluem enxertos de veia aorta, válvulas cardíacas, balões de angioplastia e implantes odontológicos e ortopédicos. Alguns desses dispositivos requerem propriedades bastante específicas; ● Módulo (elasticidade, torção ou flexão: o módulo de torção e de flexão é de interesse para materiais como cateteres, que podem sofrer torque e fazer percursos tortuosos dentro dos vasos. Muitos elastômeros devem ter capacidade de se alongar com baixa carga, logo, devem ter baixo módulo de torção, flexão ou elasticidade. ● Fadiga: os dispositivos que devem suportar esforços cíclicos sem permitir propagação de trinca são em sua maioria feitos de poliuretano, poliéster e metais em geral. Esses dispositivos funcionam em sua maioria como implantes ortopédicos, odontológicos e cardiovasculares. 18 ● Rugosidade: em aplicações onde é desejado baixo atrito, como em implantes de juntas ortopédicas, utilizam-se materiais com acabamentos espelhados. Quando se deseja uma integração tecido-implante, como em implantes endoósseos, é desejada uma alta rugosidade. ● Taxa de permeação: dispositivos como lentes de contato requerem uma alta taxa de permeação de gases. Geralmente a permeação decresce com a cristalinidade do material. Os hidrogéis são permeáveis a água e são muito utilizados como liberadores de drogas. ● Absorção de água: alguns materiais sofrem mudanças dramáticas em sua resistência à tração, fadiga, fluência, em seu módulo de elasticidade, torção ou flexão quando ligeiramente umedecidos. A degradação também é afetada pela absorção de água: materiais hidrofílicos tendem a se degradar do interior para a superfície enquanto materiais hidrofóbicos tendem a ter primeiramente suas superfícies degradadas. 2.3 Processamento Os processos de fabricação de produtos podem variar de acordo com o material que será utilizado, na Figura 20 está representada, em formato de fluxograma, uma progressão ao longo da rota de fabricação (19). 19 Figura 12- As classes de processamento desde a matéria-prima até o produto final. Fonte: Ashby et al., 2012. A Figura 12 representa um fluxograma de processamento de materiais, porém deve se levar em consideração que a ordem das etapas pode variar de acordo com as necessidades do projeto, porém ilustra as principais divisões de processamento: conformação, união e acabamento (9). 2.4 Seleção e aplicação Para se selecionar qual é o tipo de biomaterial mais adequado, deve-se levar em consideração a região de aplicação deste e o material. A Figura 13 exibe o fluxograma do ciclo de vida de um biomaterial desde a sua necessidade até o uso clínico. 20 Figura 13- Fluxograma do ciclo de vida de um biomaterial. Adaptado de Pires et Al (2015) (10) 21 3. CLASSIFICAÇÃO 3.1. Polímeros Polímeros são longas cadeias moleculares que consistem de pequenas unidades de repetição denominadas meros. Geralmente, o aumento da massa molecular de um polímero influencia positivamente as suas propriedades físicas, entretanto reduz a sua processabilidade. Isso ocorre devido ao aumento das interações moleculares (como ligações de hidrogênio). (10) Atualmente há grande variedade de polímeros sintéticos disponíveis, cada qual com suas propriedades, o que possibilita o uso em inúmeras aplicações. As propriedades mecânicas como módulo de elasticidade, fadiga e tensão limite de ruptura variam muito de espécie para espécie. Por exemplo, polímeros amorfos e elásticos apresentam módulos de elasticidade muito pequenos e elevada extensibilidade, enquanto polímeros vítreos e semicristalinos possuem módulos maiores e baixa extensibilidade. Para o projeto de biomateriais é muito importante a tensão limite de ruptura, já que a falha em polímeros tende a ser a ruptura completa do material. A fadiga também é muito importante, principalmente em aplicações dinâmicas e cíclicas, como corações artificiais. (10) Da grande variedade de biomateriais poliméricos, os principais são: polimetil- metacrilato (PMMA), polietileno de alta densidade (HDPE), polipropileno (PP), politetrafluoretileno (PTFE, Teflon), polivinilcloreto (PVC) e poliamida (PA, Nylon). O PMMA é um polímero linear, hidrofóbico, vítreo em temperatura ambiente, com boa transmitância de luz, resistência e estabilidade química. É muito utilizado na produção de lentes intraoculares e lentes de contato rígidas. (10) O HDPE é um polímero de baixocusto, com boas propriedades mecânicas e químicas, resistente à gorduras e óleos e esterilizável. É utilizado em tubulações para drenagem e catéteres. O PP é análogo ao HDPE, contudo, possui maior resistência à fratura. O PTFE também é muito semelhante ao PE, porém se destaca pela excelente lubricidade, e sua forma microporosa é usada em enxertos vasculares. (10) 22 3.2. Metais A classe dos materiais metálicos se destaca por apresentar: excelentes propriedades mecânicas, boa durabilidade, possibilidade de visualização em imagens de raios-X, boa condutividade elétrica, superfície passível de polimento e abrasão e facilidade de esterilização. (10) As principais propriedades dos metais são explicadas como consequência sobretudo da estrutura em retículo cristalino e da força das ligações metálicas. A alta densidade é explicada pelo empacotamento dos átomos em um padrão cristalino tridimensional, de forma ordenada e repetida. A boa condutividade térmica e elétrica está associada à livre movimentação da nuvem eletrônica que envolve os núcleos positivos. A elevada resistência à tração é causada pela intensidade das ligações metálicas. E, finalmente, a deformação plástica é explicada pela ligação não- direcional, que garante o movimento de íons metálicos sem que a estrutura cristalina seja destruída. (9) Salvo os metais nobres, todos os metais são suscetíveis a processos corrosivos quando expostos a ambientes biológicos. A resistência à corrosão está associada à formação de uma fina camada de óxidos quando a superfície do metal entra em contato com o ar. Esta camada de óxidos, denominada camada de passivação, impede que trocas de íons aconteçam através da superfície do material. Os defeitos microestruturais e possíveis deformações superficiais favorecem o rompimento da camada de passivação, que se regenera e libera íons metálicos durante o processo. Por um lado, a liberação de íons metálicos durante a repassivação pode ser prejudicial à saúde, por outro permite que o implante metálico seja biodegradável e dispense a remoção posterior de implantes. (10) Devido ao grande desempenho mecânico, os metais são amplamente aplicados como componentes estruturais sujeitos a altas cargas de tração e compressão. Alguns exemplos de aplicação estrutural em biomateriais são: parafusos, placas para fixação de fratura, implantes dentários e próteses. Além disso, a facilidade de esterilização permite a utilização de metais em instrumentos cirúrgicos como tesouras, agulhas, fórceps, pinças e afastadores. (10) Alguns exemplos de metais utilizados em aplicações biológicas são: ligas de cobalto, ligas de titânio e aço inoxidável. Existem diversos tipos de aço inoxidável que podem ser utilizados em implantes. Dentre eles se destaca o aço 316L, cuja composição é majoritariamente ferro, cromo, níquel e pouquíssimo carbono (60-65% Fe, 17-19% Cr, 12-14% Ni, 23 0,030% C e o restante N, Mn, Mb, P, Si e S). A baixa concentração de carbono reduz a possibilidade de corrosão in vivo. Já a grande concentração de cromo confere ao material resistência à corrosão, que se dá através da formação de óxidos de cromo (Cr2O3) na camada de passivação]. (9) Semelhante aos aços inoxidáveis, as ligas de cobalto também possuem óxido de cromo (Cr2O3) na camada de passivação e, por conta disso, apresentam elevada resistência à corrosão inclusive em presença de cloretos (principal atributo da liga). (10) Dentre as ligas de titânio, as duas mais utilizadas no mercado de implantes são a F67 e F136. A primeira é composta majoritariamente de titânio (98,9~99,6% Ti, restante C, Fe, H, N e O), enquanto a segunda recebe elementos como alumínio e vanádio que contribuem duas vezes mais com o endurecimento da liga que a adição de oxigênio e carbono na liga F67. Além das boas propriedades mecânicas, as ligas de titânio possuem óxido de titânio (TiO2) na camada de passivação, que contribui com a osteointegração em implantes orais. (10) 3.3. Cerâmicas As cerâmicas são compostos inorgânicos, formados por elementos metálicos e não metálicos através de ligações iônicas e covalentes. O caráter das ligações garante às cerâmicas estabilidade dimensional, resistência ao desgaste, resistência à compressão e estabilidade química em meios ácidos. () Se comparadas com os metais, as cerâmicas são menos densas, contudo também apresentam elevado grau de compactação devido a organização dos átomos em estruturas cristalinas tridimensionais. A baixa condutividade elétrica e térmica é resultado da pequena liberdade dos elétrons em se movimentarem, o que se justifica pelo posicionamento dos elétrons entre íons e átomos da rede cristalina. Além disso, organização dos átomos e a força das ligações interatômicas garante às cerâmicas elevada dureza, baixa resistência ao impacto, pouca deformação plástica e suscetibilidade à fratura. Devido a suscetibilidade à fratura, as cerâmicas são pouco indicadas para aplicações onde serão submetidas a elevadas tensões e deverão agir como sustentação mecânica. (10) A classificação de biomateriais cerâmicos depende da interação com o tecido do hospedeiro e podem ser bioinertes, bioativas e bioreabsorvíveis. Neste trabalho, 24 as três propriedades são comentadas nas seções anteriores e serão aqui contextualizadas em cerâmicas. As cerâmicas bioinertes mantêm suas propriedades físicas e mecânicas enquanto implantadas, são aceitas pelo organismo não provocando resposta dos tecidos. As cerâmicas bioativas interagem com o tecido circundante, induzindo o tecido a responder ao material como se fosse um tecido natural. As cerâmicas bioreabsorvíveis se degradam lentamente em meio biológico através de reações químicas ou ações biológicas, podendo ser substituídas por células em crescimento. (10) Dentre os biomateriais cerâmicos se destacam a Alumina, Zircônia, os fosfatos de cálcio e os biovidros e vitrocerâmicas. A alumina de elevada pureza (maior que 99,5%) é utilizada em implantes ortopédicos como a cabeça de fêmur e próteses dentárias. Suas principais propriedades são: excelente resistência à corrosão; elevada resistência ao desgaste; elevada resistência mecânica; baixo coeficiente de fricção; boa biocompatibilidade; boa resistência à flexão; e boa adesão de células na superfície do material. (10) A zircônia é muito semelhante à alumina em termos de propriedades, contudo apresenta maior resistência mecânica e menor dureza. Com o objetivo de melhorar as propriedades mecânicas, utiliza-se alumina e a zircônia em conjunto em implantes ortopédicos. A zircônia também é muito utilizada em próteses dentárias pois apresenta melhor estética que as ligas de metais utilizados. (10) Os fosfatos de cálcio são muito utilizados em aplicações que envolvem o sistema esquelético devido a sua grande semelhança química e estrutural com a apatita biológica, que possibilita a osseointegração e osteocondução. Os biovidros e vitrocerâmicas também são utilizados em aplicações que envolvem o sistema esquelético. Em meio biológico o biovidro reage e forma na superfície do material hidroxiapatita carbonatada, responsável pela forte ligação interfacial do material com o tecido ósseo. A depender da formulação, a reatividade em meio biológico pode ser reduzida e, desta forma, a taxa de degradação pode ser controlada. (10) 25 3.4 Compósitos Compósito O material composto é constituído por dois ou mais componentes com características físicas e químicas divergentes. Quando misturados eles formam um compósito com um conjuntos de propriedades que individualmente não apresenta. Os materiais queconstituem um compósitos são classificados como: matriz e o material de reforço (carga). A componente da matriz tem a função de incorporação e proteção do aditivo de reforço, já a carga confere a resistência do compósito. (2) Figura 14 - Exemplificação de compósito: matriz e agente reforçante. (11) Figura 15 – Exemplificação de compósito: matriz e agente reforçante (12) 26 Tipos de Compósitos Os compósitos apresentam diversidade em relação a matriz e carga. Os mais comuns para a fabricação do material composto são de matriz polimérica, onde o polímero é termoendurecível e/ou termoplástico. No caso de o material da matriz ser constituído por uma liga leve de alumínio, ligas de magnésio ou ligas de titânio, a matriz é denominada metálica. E a matriz constituída por carbetos e nitretos é classificada com matriz cerâmica.(2) Já o material de reforço são materiais sólidos, não solúveis, podendo ser de origem orgânica ou inorgânica, natural ou sintética. As propriedades mecânicas do material composto dependem quando a geometria e as dimensões dos elementos de carga. As dimensões da carga relaciona-se com a razão de aspecto: maior e menor dimensão da partícula (L/D). Quando a razão de aspecto apresenta valor alto, significa que a distribuição de transferência de tensões é mais eficiente. Materiais de reforço que apresentam formato fibrilar apresentam alta razão de aspecto.(13) Figura 16- Tipos de elemento de carga para compósitos.(13) Fibrosa > Lamelares ou Flocos > Esféricas (razão de aspecto = 1) Para biomateriais, os compósitos de fibras de carbono-resina termofixa, fibra de carbono-termoplástico, carbono-carbono, fosfato de calcio-colágeno apresentam vantagens como: boa biocompatibilidade, resistência à corrosão, alta força de tensão, adaptar o compósito de acordo com a aplicação. Porém a desvantagem: material de fabricação incompatível, apresentando um alto custo.(14) 27 3.5. Biomateriais UHMWPE (Ultra High Molecular Weight Polyethylene) Uma molécula de polietileno consiste numa cadeia de hidrocarbonetos.O tipo de polietileno mais utilizado em biomateriais é o polietileno de alta densidade e elevado peso molecular (Ultra High Molecular Weight Polyethylen - UHMWPE), que apresentam melhores propriedades físicas e mecânicas e que quase não tem ramificações, possuindo uma cadeia extremamente longa e compactada, obtendo um alto teor de cristalinidade. Obtido através da polimerização, o UHMWPE têm-se um conjunto de características que o torna superior referente aos outros termoplásticos como resistência a abrasão, baixo coeficiente de atrito, estabilidade química e não absorção de água. Para uso de nível biomédico, o UHMWPE é biocompatível. O UHMWPE é altamente utilizado na produção de próteses de rótulas e quadris e na junção do osso a próteses de outros tipos de material pois, é um material que apresenta baixo coeficiente de atrito. (2) Figura 17 - Haste femoral com encaixe acetabular de UHMWPE (15) Hidroxiapatita A hidroxiapatita é formada por fosfato de cálcio cristalino, e sua estrutura é semelhante ao osso. É um material bioativo pois devido as suas características próximas ao do tecido ósseo, consegue se integrar as estruturas ósseas favorecendo a osteocondução. Estes implantes são cobertos por uma camada de cerâmica de 28 hidroxiapatita. Este fato deve-se à ligação química direta com os tecidos rígidos. Ao revestir as próteses com hidroxiapatita espera-se que quando inseridos no corpo humano, a interação entre este e o implante conduza à formação de um tecido ósseo vivo em torno do implante, osseointegração.(2) Figura 18 - A) Hidroxiapatita porosa e B) Cimento de hidroxiapatita utilizados para reconstrução da estrutura facial (16) Alumina A alumina (Al2O3) é um material altamente inerte e resistente à maioria dos ambientes corrosivos, incluindo o ambiente altamente dinâmico que é o corpo humano. Sob condições fisiológicas é praticamente inerte, causando pouca ou nenhuma resposta dos tecidos em volta e mantendo-se essencialmente inalterado. No entanto, o corpo humano a reconhece como material estranho e procura isolá-lo formando uma camada de tecidos fibroso não aderente em volta do implante onde necessário. Existem uma série de características que fazem da alumina um excelente biomaterial, entre elas, o seu elevado grau estabilidade química sob condições fisiológicas e uma dureza excelente. Devido à possibilidade de polimento com alto acabamento superficial e sua excelente resistência de uso, alumina é muito utilizada em próteses de substituição de articulações. Tais aplicações incluem articulações do fémur e substituições de ancas e rótulas. Cabeças femorais de alumina é utilizada sem conjunto com uma haste femoral metálica e um copo acetabular feito de polietileno de peso molecular muito alto (UHMWPE). Alumina porosa também pode ser utilizada como scaffold de osso, facilitando o crescimento do tecido e vascularização.(2) 29 Figura 19 - Haste femoral de alumina. (17) Bio Vidros O biovidro são sintetizados para ser um material constituintes de prótese ou para preenchimento de defeito ósseo. São produzidos para desempenhar comportamento fisiológico específico para as finalidades descritas acima. Devido à resposta da atividade superficial, eles foram classificados como biomateriais bioativos. Têm-se usado em clínicas como preenchedor ósseo de cavidades e como substituto de massa óssea perdida em determinados traumas. Os biovidros induz de formação de trabéculas no osso (pequenas porções de tecido ósseo denso e modelado) e de partes completas de osso em algumas regiões. As primeiras formam-se num período de 2 a 7 dias, enquanto as segundas se formam num maior período de tempo. A conexão osso/implante é possível devido a uma propriedade presente nos biovidros denominada osteoindutora, que facilita a regeneração óssea. (2) Zircônia Zircônio é um elemento químico de símbolo Zr de número atômico 40. A fórmula química do óxido de zircónio é ZrO. A Zircônia produzida industrialmente ela apresenta a estrutura cristalina cúbica, e são utilizadas como implantes ortopédicos, onde é mais aplicada para o crânio e o fêmur. Foram realizados testes e resultou-se que o UHWMPE se mostrou eficaz em corpos acetabulares em cabeças de ZrO do que em cabeças da liga de Co-Cr, onde o desgaste é menor ao polietileno. Na odontologia, a ZrO é utilizados como implante dentário. É classificado como material bioativo.(2) 30 Ligas de titânio As ligas de titânio são usadas por décadas na fixação de fraturas e reconstrução de articulações pois preenche os requisitos necessários às aplicações biomédicas, como: resistência à corrosão, biocompatibilidade, indução do crescimento dos tecido ósseo, módulo de elasticidade próximo ao do osso humano (entre 10 a 30 GPa) e de quebra, possui resistência à fadiga e boa processabilidade (18). O metal titânio apresenta estrutura hexagonal compacta (HC), correspondente à fase 𝛼 (alfa), podendo sofrer modificação de alotropia na temperatura de 881 °C para e estrutura cristalina cúbica de corpo centrado (CCC), fase 𝛽 (beta). Os elementos de liga que pode compor a fase 𝛼 são: alumínio, estanho e zircônio. E a fase 𝛽 pode ser estabilizada por vanádio, molibdênio, nióbio, cromo, ferro e manganês (19). O titânio apresenta resistência à corrosão devido a formação de de uma camada superficial de óxido de titânio, protegendo o metal, sendo responsável pela biocompatibilidadedo material. Biomateriais feitos de titânio são usados traumas severos que exigem grande número de placas e parafusos,implantes ortopédicos como hastes intramedulares para fratura exposta e fechada de tíbia e também em stents para cirurgias cardíacas.(20) Figura 20 - Representação do stents na artéria (21) Materiais semicondutores Os materiais semicondutores são materiais que possuem condutividade intermediária entre a dos materiais condutores e isolantes. Os principais materiais semicondutores utilizados no ramo da eletrônica são o Germânio (Ge) e o Silício (Si), 31 sendo este último o mais utilizado, sendo uma subclasse da cerâmica. Nos materiais semicondutores, a camada de valência possui 4 elétrons, como o material tende a possuir oito elétrons na camada de valência, e o elemento semicondutor só possui quatro, este acomoda os seus átomos, simetricamente entre si, constituindo uma estrutura cristalina, através de ligações covalentes. A fabricação de semicondutores emprega-se em componentes eletrônicos como diodos, transistores, microprocessadores, sendo primordial para indústria eletrônica (22). Os semicondutores para possuir características necessárias para aplicação, o gap entre as bandas de energia devem ser pequena, assim facilitando a condução de elétrons quando há um ganho de energia, quanto maior o espaçamento, menos condutor.(23) Figura 21 - Bandas eletrônicas de materiais isolantes e materiais semicondutores, indicando banda de condução, banda de valência e entre elas espaçamento de bandas energia (GAP). (22) Os semicondutores se dividem em intrínsecos e extrínsecos: Intrínseco: São encontrados na sua forma natural, onde os portadores de carga positivas são iguais a concentração de cargas negativas. Portanto, um material que apresenta poucos defeitos no retículo cristalino. Extrínseco: Semicondutores extrínsecos ou dopados são semicondutores intrínsecos onde introduz impureza para controle de características elétricas do semicondutor. As impurezas inseridas são elementos da coluna 3A (trivalentes) ou da coluna 5A (pentavalente) da tabela periódica. Este processo é chamado de dopagem tipo N e tipo P. (22) 32 Na dopagem tipo N, ocorre a inserção de um átomo trivalente (Boro ou Índio), onde faltam três elétrons para completar a camada de valência, logo é rompida as ligações entre silício-silício, gerando uma lacuna, deixando material com características isolantes. (15) No tipo P, é inserido um átomo pentavalente (Fósforo, Arsênio ou Antimônio), e na rede cristalina, ocorre as ligações covalentes, sendo que elétron excedente torna-se livre para conduzir. Figura 22 - Diagrama representando um conjunto de átomos de silício, apresentando um átomo central trivalente, gerando uma lacuna na rede. (23) Figura 23 - Diagrama representando um conjunto de átomos de silício, impureza pentavalente central, gerando um elétron livre. (23) Nanomateriais São uma classe de materiais onde possuem estruturas cristalinas na ordem de 10-9 m (1 nanômetro), onde se diferem das propriedades quando são estudadas em maior escala. Devido às suas dimensões, são empregados em projetos de nanotecnologia. (21) Os nanomateriais têm obtido grande interesse no ramo científico nos últimos tempos devidos às suas propriedades, tais como mecânicas, elétricas, ópticas e magnéticas, alguns exemplos como: ● Nanocerámicos : apresentam ductilidade a altas temperaturas do que os usuais e comuns cerâmicos. 33 ● Nanosemicondutores: têm diversas propriedades ópticas não lineares, um exemplo materiais usados em células solares. ● Pós metálicos nanométricos têm sido usados para produção de diversos materiais, partes densas e incluindo coberturas porosas. As propriedades da soldagem a frio combinadas com a sua maleabilidade, fazem destes nanomateriais perfeitos para soldagem entre metais especialmente na indústria eletrónica.(24) ● Os nanomateriais, por terem uma relação área-volume enorme, tornam-se muito mais eficientes e reativos em comparação a outros materiais de dimensões superiores, isto porque torna-os mais reativos e com outras propriedades que podem jogar a favor de uma evolução neste emergente campo da Ciência, e da Engenharia. (25,26) Outra classe de nanomateriais são os nanocompósitos, onde o elemento de reforço tem características nanométricas, tais como nanotubos de carbono, grafeno, nanoferritas dispersas numa matriz. (27) Figura 24 - Nanomateriais a base de carbono. (28) 34 4. CONTEXTO ATUAL 4.1 PESQUISA (PROJETOS DE NOVOS MATERIAIS) Os biomateriais tiveram uma grande evolução com o tempo devido ao desenvolvimento científico e tecnológico multidisciplinar de diversas áreas. Nas últimas décadas teve um aumento na utilização dos biomateriais, pois ocorreu o aumento da expectativa de vida da população e com isso aumentou o índice de traumas e doenças que demandam a necessidade de se realizar tratamentos cada vez mais eficazes (4). Os biomateriais possuem diversas aplicações, sendo as suas principais: olhos, boca, dentes, face, crânio, ossos e membros, rosto e corpo, coração, seios, panturrilhas e nádegas, pele, coluna vertebral, dedos, vasos sanguíneos e cartilagens (4). Abaixo será mostrado como são as atuais pesquisas para algumas dessas aplicações: 4.1.1 Ossos A maioria dos implantes são autoenxertos devido à aceitação pelo hospedeiro. No entanto, devido à baixa disponibilidade deste tipo de enxertos, os investigadores da área de Engenharia de Tecidos têm procurado desenvolver novos biomateriais para aplicação. As estruturas temporárias tridimensionais (3D) denominadas de scaffolds têm sido as estudadas para o tratamento do tecido ósseo, de forma a promover a reparação deste tecido, conferindo-lhe características físicas e biológicas essenciais ao seu correto funcionamento (29). Podem ser produzidos de diferentes formas de acordo com o defeito ósseo que se destina a ser tratado. Os scaffolds temporários são atualmente os mais estudados, uma vez que podem apresentar diferentes taxas de degradação, permitindo o desenvolvimento de um novo tecido. Para conseguir isso, a taxa de degradação de um scaffold deve corresponder à taxa de formação de novos tecidos. Além disso, a degradação também depende do local de implantação e da idade do paciente (29). Diferentes materiais podem ser utilizados para a produção dos scaffolds, desde polímeros naturais e sintéticos a cerâmicas, metais e compósitos. No entanto, 35 todos eles apresentam vantagens e limitações, como pode ser observado na tabela abaixo: Tabela 1: Vantagens e Desvantagens dos diferentes materiais utilizados na produção de scaffolds (Adaptado de [25]) Tipo de Material Exemplo Vantagens Desvantagens Polímeros Naturais Quitosana, Colágeno Biocompatibilidade, biodegradabilidade Difícil processamento, Propriedades Mecânicas baixa. Polímeros Sintéticos Polimetil-metacrilato, Policaprolactona, poliácido láctico Disponibilidade Biocompatibilidade Fácil de modificar e processar Baixo custo Fixação na célula reduzida Os subprodutos resultantes da sua degradação podem interferir com o processo de cura. Cerâmicas fosfato tricálcico (TCP) Biocompatibilidade Osteocondutibilidade Frágil e propenso a fratura Metais Ti, ligas de cobalto Resistência à fratura Força mecânica Não permite o crescimento de tecidos ImunogenicidadeProdutos de degradação tóxica Compósitos alginato / TCP scaffolds Gelatina / PCL scaffolds Composição específica Projeto estrutural específico Processo complexo Propensão à degradação Força mecânica fraca 36 Os scaffolds são estruturas biomiméticas e sua caracterização deve cumprir todos os requisitos exigidos pelas entidades reguladoras (25). 4.1.2 Vasos Sanguíneos Um auto-enxerto possui vários benefícios como disponibilidade, biocompatibilidade, diminuição da resposta do corpo e não requer certificado de aprovação de agências reguladoras. No entanto, os auto-enxertos não apresentam propriedades mecânicas adequadas quando são usados para substituir vasos arteriais de alta pressão. Isso pode causar dilatação excessiva (Aneurisma), hiperplasia intimal e aterosclerose acelerada. Consequentemente, vários procedimentos cirúrgicos são necessários para evitar essas lesões, onde o número de intervenções são limitadas pela quantidade de tecido disponível no hospedeiro para realizar o implante (25). Com isso, redes nanofibrosas ocas com parecidas com um vaso sanguíneo têm sido estudadas para o tratamento das doenças vasculares. Esses novos enxertos estão sendo desenvolvidos atualmente utilizando materiais sintéticos, como o polietileno Tereftalato (Dacron), politetrafluoroetileno expandido (Teflon) e poliuretano. Dacron e o Teflon foram relatados como enxertos viáveis para substituir vasos com diâmetros maiores (> 6mm diâmetro interno). No entanto, quando o diâmetro do vaso sanguíneo é inferior a 6mm, esses enxertos são rejeitados pelo sistema imunológico do corpo (25). Os scaffolds nanofibrosos de poliuretano (TPU) apresentaram propriedades adequadas para suportar a funcionalidade das células endoteliais, proporcionando propriedades mecânicas adequadas. No entanto, apenas alguns estudos relataram a caracterização de tais materiais em ensaios in vivo, o que nos mostra que o estágio de desenvolvimento desses enxertos está no início. Eles precisam de maior otimização e avaliação em ensaios clínicos (25). 37 4.1.3 Materiais dentários A ciência dos materiais dentários visa pesquisar e desenvolver biomateriais sintéticos a serem empregados na cavidade bucal. A maior parte dos biomateriais utilizados são os sintéticos, ao invés dos naturais, pois eles apresentam maiores vantagens, tais como: evitar a coleta de materiais autógenos ou o uso de materiais alógenos a partir de um banco de tecidos; redução de tempo clínico no tratamento; diminuição da extensão da ferida cirúrgica, evitando complicações como danos nos nervos e vasos sanguíneos, formação de hematoma ou desenvolvimento de um processo inflamatório, proporcionando maior conforto para o paciente; e o fato dos materiais sintéticos serem sintetizados sob condições controladas, sendo suas composições químicas e propriedades físicas e químicas conhecidas, além de estarem disponíveis em qualquer tempo e quantidade (30). Três tipos de biomateriais são comumente utilizados: metais, polímeros e cerâmicas (Tabela 2). Estes biomateriais são utilizados de acordo com suas propriedades físico-químicas e mecânicas. Tabela 2 : Biomateriais utilizados em materiais dentários e suas aplicações. Material Exemplo Aplicação Metal Titânio CP, ligas de titânio, ligas de cobalto-cromo, ligas de níquel-cromo, ligas à base de prata, ligas de ouro, aço inoxidável Próteses unitárias, próteses parciais removíveis, aparelhos ortodônticos, núcleos metálicos, implantes, fixação óssea em cirurgias bucomaxilofaciais Cerâmica Vidros bioativos, óxidos de alumínio e zircônia, fosfatos de cálcio Restaurações diretas e indiretas, próteses fixas, cimentos endodônticos obturadores e retro- obturadores, cirurgias periodontais 38 Polímero Silicone, monômeros resinosos, teflon, poliéster, polietileno, poliuretano, politetrafluoretileno Sistemas adesivos,resinas compostas, materiais de moldagem, fios de sutura, material de obturação radicular, próteses totais e parciais, dentes artificiais, próteses faciais Todos esses biomateriais devem passar por análises em todo seu percurso de avaliação científica englobando, desde os ensaios laboratoriais in vitro, até os estudos clínicos in vivo (31). 4.1.4 Olhos Os hidrogéis são os biomateriais mais utilizados na confecção de lentes intra- oculares (LIO), pois é um material acrílico hidrofílico com diferentes composições químicas e uma porcentagem de água que pode variar de 18% a 30% (32). Apesar de ser biocompatível e ter baixa adesividade, tem ocorrido de uma opacificação tardia destas lentes causadas por precipitados de cálcio. Essa opacificação tem causado piora da acuidade visual. Vários fatores têm sido avaliados com o objetivo de se determinar a causa deste fenômeno, são eles: a embalagem da LIO, soluções intra-oculares, viscoelásticos, técnica cirúrgica e patologias sistêmicas e oculares associadas (33). 4.1.5 Crânio O esqueleto craniofacial é um sistema complexo e tem partes que recebem elevada tensão, enquanto outras partes tem a função de definir a forma. Os elementos que suportam tensão podem ser idealizados como estruturas unidimensionais e serem restauradas por meios unidimensionais: placas. Os elementos que não suportam tensão são tipicamente bidimensionais ou maiores: superfícies planas ou curvas. Juntas elas criam os elementos de estrutura da face. 39 Os sistemas reabsorvíveis são aplicados quando a reconstrução de superfícies bidimensionais ou tridimensionais é de baixa solicitação de carga. O uso combinado de sistemas reabsorvíveis e não reabsorvíveis em pacientes de trauma facial promove boa estabilização e restauração do contorno sem enxertos de osso cranial e reduz a quantidade de materiais aloplásticos permanentes. A reconstrução facial possui uma ampla variedade de materiais classificados em três grupos: (32) 1. Cerâmica: onde os mais utilizados são a Hidroxiapatita e Cimentos, pois não impedem a reabsorção de longo prazo, mas possuem pouco crescimento interno ósseo. São recomendados para reconstrução sobre camadas (34). 2. Polímeros: onde os mais utilizados são o polietileno e os polímeros reabsorvíveis. O polietileno poroso não degrada, não reabsorve em extensão significativa e apresenta a vantagem de permitir o crescimento interno vascular e de tecido mole após uma semana e crescimento interno ósseo após três semanas. É utilizado geralmente na reconstrução ou preenchimento da região maxilofacial. Já os polímeros reabsorvíveis são utilizados na distração osteogênica craniofacial, principalmente na distração mandibular de neonatos e crianças com sequência de Pierre Robin (33). 3. Metais: O mais utilizado é o titânio. Geralmente são utilizados para fixação rígida são confiáveis para promover resistência e estabilidade do esqueleto (33). 4.1.6 Pele Na área de regeneração de pele, os biomateriais sintetizados geralmente possuem quatro diferentes formas: filmes, espumas, géis ou compósitos e devem apresentar como características fundamentais: leveza, ausência de odor, impermeabilidade a microrganismos, permeabilidade ao vapor d’água e ao oxigênio, biodegradabilidade, propriedades mecânicas e biológicas adequadas além de facilidade no processamento. Um dos exemplos desses biomateriais é o curativo Omiderm®, que consiste em um copolímero de poliuretano enxertado com acrilamida e metacrilato de hidroximetila, onde suas principais característicassão: transparência, o ajuste à região lesada (curativo aderente, porém sem ser adesivo), a flexibilidade, a resistência mecânica, a durabilidade, a permeabilidade ao vapor d’água, ao oxigênio e aos medicamentos, a impermeabilidade aos microrganismos além de sua pequena espessura (35). 40 Os curativos atuais são classificados em: convencionais, hidrogéis, hidrocolóides, polímeros, bioativos, enzimas proteolíticas, curativos antiodor e filmes adesivos (35). Onde os convencionais são aqueles que utilizam compressas de gazes, já os hidrogéis são utilizados em ferimentos com crostas secas, e são constituídos por polímeros hidrofílicos. Os hidrocolóides são curativos que contém gelatina, partículas de carboximetilcelulose suspensas em poli-isobutileno e pectina, sendo cobertos por uma espuma ou filme de poliuretano. São utilizados em conjunto com compressão elástica nas úlceras venosas (35). Os polímeros geralmente são poliuretano produzidos na forma de espumas, com isso possuem alto poder de absorção. São indicados para as lesões com muita secreção. Os curativos bioativos são curativos com substâncias que interagem diretamente com as fases da cicatrização para promover da aceleração da mesma. Devem ser indicados somente em situações especiais e têm seu alto custo como maior limitação para o uso. As enzimas proteolíticas mais utilizadas são: fibrinolisina, colagenase, desoxiribonuclease e papaína. Os curativos antiodor amenizam o odor que alguns ferimentos produzem, são constituídos por duas camadas absorvíveis: uma interna de carvão ativado, com inclusão ou não de prata (como agente bactericida) e uma externa semipermeável (nylon, curativo em filme ou espuma de polímeros). Os filmes adesivos foram desenvolvidos com a utilização de polímeros (poliuretano e polietileno), os quais formam uma membrana, conjuntamente com uma camada de adesivo acrílico. São usados comumente como curativos primários sobre cateteres de acesso venoso e queimaduras superficiais, mas também podem ser utilizados como curativos secundários sobre outros materiais (35). 4.2 MERCADO Os biomateriais estão inseridos numa das categorias de mercado que mais crescem atualmente, a medicina. Devido ao elevado número de feridos em guerras e acidentes em geral, e ao envelhecimento da população mundial, viu-se a necessidade de investimentos nessa área, visando a reconstrução e regeneração de tecidos danificados e também a melhoria da qualidade de vida. Em 2000, foi estimado o valor de US$ 23 bilhões com taxa de crescimento de 12% ao ano para o mercado de biomateriais. A participação dos EUA foi de 41 aproximadamente 40%, enquanto o mercado europeu investiu cerca de 25%. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), os maiores gastos estão concentrados nas áreas cardiovascular e ortopédica. (36). Em 2017, a previsão de gastos com biomateriais gira em torno de US$ 88,4 bilhões com taxa de crescimento de 15% ao ano. (31). Já em 2021, estima-se investimentos em torno de US$ 150 bilhões com crescimento de 16% ao ano. (32) Em 2010, houve um caso na França em que o silicone utilizado por uma empresa que fabricava próteses mamárias começou a apresentar problemas. Com isso parte dos investimentos mudou e priorizou a qualidade nos processos que envolviam biomateriais, garantindo assim, mais qualidade nos produtos comercializados. Com o conhecimento desse fato, a ANVISA intensificou a fiscalização dos produtos produzidos e comercializados no Brasil, garantindo assim, maior qualidade nos produtos comercializados. (37) No Brasil, os investimentos em pesquisa e desenvolvimento foram de US$ 550 milhões entre os anos de 2008 e 2010. E como esse mercado é muito promissor, estima-se que até o final de 2017 os investimentos ultrapassem US$ 1,7 bilhão. A maior área de investimentos é em materiais ortopédicos, que atingiu cerca de 36% do total investido entre 2010 e 2015. (37) A bioimpressão 3D, ou bioprinting 3D, é uma área que ainda está em estágio inicial no mundo todo, mas tem um dos maiores potenciais de crescimento na área de biomateriais, pois os pesquisadores da área estão recebendo cada vez mais investimentos, tanto público quanto privado. Foi estimado que em 2021 os investimentos em bioimpressão 3D atingissem cerca de US$ 1,3 bilhão com crescimento de 26,5% ao ano. (38) 42 Referências bibliográficas (1) SOUSA, Hermínio C. de; BRAGA, Mara E. M.; SOSNIK, Alejandro. Biomateriais aplicados ao desenvolvimento de sistemas terapêuticos avançados. 1ª Ed. Imprensa da Universidade de Coimbra, 2015. (2) SANTOS, João; ROSA, Miguel. Novos Materiais: Biomateriais e Compósitos. Disponível em <https://pt.scribd.com/document/58800330/Novos-Materiais-Biomateriais-e- Compositos>. Acesso em: 16/06/2017. (3) CALASANS-MAIA, Mônica D. “A hidroxiapatita contendo zinco a 0,5% como substituto ósseo. Caracterização físico-química e análise normatizada da biocompatibilidade”. Niterói, Universidade Federal Fluminense, 2009. (4) ORÉFICE, R.L. et al. Biomateriais – Fundamentos & Aplicações, Cultura Médica, 2012 (5) RATNER, B. D., HOFFMAN, A. S., SCHOEN, F. J., LEMONS, J. E., “Biomaterials Science. 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Biomateriais UHMWPE Hidroxiapatita Alumina Bio Vidros Zircônia Ligas de titânio Materiais semicondutores Nanomateriais 4. CONTEXTO ATUAL 4.1 PESQUISA (PROJETOS DE NOVOS MATERIAIS) 4.1.1 Ossos 4.1.2 Vasos Sanguíneos 4.1.3 Materiais dentários 4.1.4 Olhos 4.1.5 Crânio 4.1.6 Pele 4.2 MERCADO Referências bibliográficas