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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/326676558 Motion Graphics e o design para audiovisual: perspectiva histórica, dimensão plástica e abordagem visual Article · July 2018 CITATIONS 0 READS 109 1 author: Some of the authors of this publication are also working on these related projects: TV Móvel Levantamento Histórico e Caracterização Técnica na Europa Mobile TV History Survey and Europe Technique Characterization View project Tatiana Santos Gonçalves Universidade da Beira Interior 5 PUBLICATIONS 0 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Tatiana Santos Gonçalves on 29 July 2018. The user has requested enhancement of the downloaded file. 28 AVANCA | CINEMA 2018 Motion Graphics e o design para audiovisual: perspectiva histórica, dimensão plástica e abordagem visual Tatiana Santos Gonçalves Universidade da Beira Interior | Centro de Estudos em Educação, Tecnologias e Saúde Escola Superior de Educação, Instituto Politécnico de Viseu, Portugal Abstract The production of motion graphics as an own language in audiovisual are studied. We focus on common aspects of the products for audiovisual in motion graphics considering the diversity of formats available in broadcast design, cinema, videoclip, video art, among others. This paper presents an approach to motion graphics as an audiovisual language in cinema and television, with emphasis on the work of the designer Kyle Cooper. Keywords: motion graphics, Kyle Cooper, language, audiovisual, cinema. Introdução Este artigo aborda uma área de criação audiovisual particular, que surgiu em processos e linguagens do design, do cinema e da animação, sendo conhecida como motion graphics. Com raízes na história do cinema e da televisão, veio a desenvolver-se como uma linguagem autônoma, a partir do uso de recursos de computação gráfica e video digital. Numa demonstração do rápido amadurecimento, este tipo de linguagem foi plenamente assimilada pelo público, e hoje, apresenta desdobramentos, estilos e tendências. A investigação do motion graphics como uma linguagem audiovisual, dando ênfase ao desenvolvimento artístico e histórico, será o foco principal deste estudo. Para chegar a este objetivo, temos como objeto de estudo o motion designer Kyle Cooper. Reconhecido como um dos melhores profissionais nesta área, Cooper se especializou na produção de genéricos de filmes, utilizando técnicas em motion graphics. Motion Graphics: conceito Até meados dos anos 1970, as mais significativas incursões de design gráfico no cinema e na TV eram realizadas em película, utilizando técnicas de animação convencional. De acordo com Velho (2008) a “imagem visual” típica dos projetos era marcada pela combinação de elementos gráficos bidimensionais animados, incluindo tipografia, e imagem real em movimento. Como resultado, tínhamos a colagem e a fotomontagem, técnicas bem exploradas nas artes gráficas durante o século XX. Com os investimentos em tecnologia, por consequente, em computação gráfica, ferramentas de modelagem e animação 3D, novas tendências surgiram durante os anos 1980. As redes de broadcast foram as primeiras a adoptar este estilo, utilizando animações de logótipos, marcas e objetos tridimensionais. Durante esta época, surgiram os primeiros sistemas de composição e manipulação de imagens em movimento por computador. Este tipo de sistema “permitia combinar e animar livremente camadas de imagem de todo o tipo como vídeo, fotografias, elementos gráficos diversos, tipografia e animações” (Woolman, 2004, 41). Estas ferramentas estimularam, no universo digital, uma retomada, em termos visuais, da colagem dinâmica de imagens bidimensionais. Para conceitualizar o conjunto de produtos nascidos destas técnicas, surgiu o termo motion graphics. Na tentativa de uma definição deste termo, Velho (2008) divide motion graphics em dois aspectos, sendo eles técnicos e conceptuais: Do ponto de vista técnico, “motion graphics poderia ser descrito, portanto, como uma aplicação mista de tecnologias de computação gráfica e vídeo digital; e no plano conceptual, como um ambiente privilegiado de exercício de projeto gráfico através de imagens em movimento” (Velho, 2008, 87). Outro autor que faz referência ao uso das técnicas inseridas nesse novo universo trazido pelo motion graphics é Winfried Nöth. Tomando por base a afirmação de Nöth (1998, 38), ao qual diz que “esta área de criação permite manipular no espaço-tempo, imagens, temporalizadas ou não, juntamente com música, ruídos e efeitos sonoros”, podemos concluir que os principais aspectos que referenciam e conceitualizam as criações em motion graphics estão vinculados a imagem e movimento, com elementos sígnicos estruturados de maneira própria, em uma linguagem particular nascida através do conjunto de formas e expressões surgidas do cinema e da televisão. Referenciais históricos As raízes do motion graphics encontram-se nas aplicações de design gráfico do cinema e na TV e nas experiências plásticas de alguns tipos de cinema de animação menos preocupados com a mimetização do real e a narrativa ficcional-linear. O neo-zelandês Len Lye é um expoente do cinema de animação experimental importante como referência para o motion graphics. Seu primeiro filme, “Tusalava” (1929), foi inspirado na arte indígena da Austrália. Mais tarde, na Inglaterra, entre outros filmes consagrados, produziu as animações “Colour Box” (1935), “Rainbow Dance” (1936), “Trade Tatoo” (1937), “Colour Flight” (1938), e “Swinging the Lambeth Walk” (1939) (Krasner, 2008). 29 Capítulo II – Cinema – Cinema Norman MacLaren, nascido no Canadá, é descrito como o poeta da animação. Foi influenciado por Oskar Fischinger, e experimentou soluções muito parecidas com as de Len Lye, com diversos trabalhos baseados em interferências na película de cinema, e muitas outras técnicas. Produziu inúmeros filmes a partir de elementos abstratos que utilizam abordagens análogas às usadas em motion graphics (Krasner, 2008). Destaque para os filmes “Mosaic” (1952), e “Lines Vertical” (1960) e “Lines Horizontal” (1962). Numa outra vertente dos filmes de animação como referências históricas do motion graphics, situam- se os pioneiros da animação por computador. Um dos mais importantes foi o americano John Whitney, considerado um dos pais da computação gráfica. Utilizou suas técnicas iniciais de animação mecânica na abertura do filme “Vertigo” (1958), de Alfred Hitchcock, em parceria com o designer Saul Bass. Tudo indica que foi o primeiro a utilizar o termo “motion graphics” ao fundar sua empresa Motion Graphics Inc., em 1960 (KRASNER, 2008). Em 1961, fez o filme “Catalog”, usando um computador analógico mecânico inventado por ele para produzir aberturas de cinema e TV e comerciais. Nos anos 70, Whitney adoptou processos digitais e produziu um outro importante filme, “Arabesque” (1975) (Krasner, 2008). Stan Vanderbeek, cineasta underground americano muito atuante nos anos 60-70, possui uma obra especialmente significativa para o motion graphics. Seus primeiros filmes, foram produzidos entre 1955 e 1965, como em “A La Mode” (1958), “Science Friction” (1959), e “Achooo Mr. Kerrooschev” (1960). Em seguida, passou a incorporar elementos de computação gráfica em seus filmes, a exemplo da série “Poem Field” (1966-67) e “Symmetricks” (1972) (Krasner, 2008). Mas os anos 50 estabeleceram um marco para a genealogia do motion graphics com as cultuadas aberturas de cinema do designer norte-americano Saul Bass. E nesta época que a relação entre texto e imagem se sofistica. Com Saul Bass, a abertura de cinemapassou a ter a atenção e o cuidado adequados ao que se entende por projeto gráfico, e transcender a função de informar o título do filme e a equipe técnica. Bass entendia que os filmes realmente começam com o primeiro frame, e que o público devia se envolver com eles desde esse momento inicial. Os créditos ofereciam uma oportunidade de fazer essa função, por exemplo, adiantando o clima da história. De sólida formação artística, Bass começou sua carreira em Hollywood fazendo material impresso de divulgação de filmes. Em 1954 criou o cartaz do filme “Carmen Jones” (1954), de Otto Preminger, e acabou sendo convidado por ele para fazer a abertura do filme. Daí em diante, praticamente não parou mais de ser chamado para essa tarefa em outras produções. Foi colaborador assíduo de Alfred Hitchcock, e também trabalhou para Martin Scorcese e Stanley Kubrick, entre outros. Alguns créditos de abertura mais conhecidos estão nos filmes “The Man with the Golden Arm” (1955) e “Anatomy of a Murder” (1959), ambos de Otto Preminger, além de “Vertigo” (1958), “North by Northwest” (1959), e Psycho (1960), todos de Hitchcock, “West Side Story” (1961)(Krasner, 2008). Figura 1. Imagem do genérico do filme “Vertigo ”, de Alfred Hitchcock, feito por Saul Bass. Seus primeiros trabalhos traziam uma ênfase maior em elementos gráficos e símbolos, e tinham vínculo direto com a concepção dos projetos gráficos do material de divulgação e sua experiência anterior de designer gráfico. Suas criações também foram revolucionárias no aspecto da tipografia, que ganharam em importância visual, com design original inserido no contexto da história, movimento e transformações. Depois de Saul Bass, outros designers ampliaram ainda mais o espaço de criação de projetos visuais nas aberturas de cinema, tais como: Maurice Binder, responsável pelos créditos de vários filmes da série “007”; Terry Gilliam, notabilizado por créditos e interferências de animação de colagens nos filmes e séries de TV produzidos para o seu grupo de comediantes “Monty Python”; e Pablo Ferro, com as aberturas de “Dr. Strangelove” (1964), “The Thomas Crown Affair” (1968), e “A Clockwork Orange” (1971) (Krasner, 2008). Figura 2. Imagem do genérico feito por Maurice Binder para o filme “007 James Bond – Dr. No”. Com os anos 80, inovações tecnológicas da computação gráfica e do vídeo digital permitiram o surgimento dos sistemas digitais de composição de imagem, substituindo os equipamentos usados até esse momento para aplicações de design gráfico mais 30 AVANCA | CINEMA 2018 sofisticadas tanto no cinema como na televisão. Só a partir daí que podemos efetivamente falar em motion graphics, tal como ele é entendido. Mas a explosão de produção do motion graphics começa nos anos 1990, e hoje o encontramos disseminado em vários tipos de mídia audiovisual. O vemos nas aberturas de cinema e televisão, em vinhetas e nos comerciais de TV, nos videoclipes, em vídeos espalhados nos portais de partilha na web, nas exposições de videoarte etc. Dentre desse novo cenário onde o motion graphics está estabelecido plenamente, tanto mais do ponto de vista tecnológico, destaca-se o designer Kyle Cooper, que tem sido mencionado como o mais talentoso criador de genéricos para cinema desde Saul Bass. Seu primeiro trabalho foi para o filme “True Lies” (1994), mas impressionou a todos com os créditos do filme “Se7en” (1995), e em seguida do filme “Twister” (1996). Tornou-se um dos designers mais requisitados em Hollywood, e já dirigiu mais de 150 genéricos de filmes com sua empresa Imaginary Forces (Krasner, 2008). Entre outros designers contemporâneos de destaque que trabalham dentro do paradigma pleno do motion graphics como tecnologia e linguagem, estão Deborah Ross e Randy Balsmeyer. Motion Graphics: áreas de aplicação O autor João Velho (2008), na obra “Motion Graphics: Linguagem e Tecnologia”, divide as áreas de aplicação do motion graphics em: 1. Cinema e TV (características comuns): Créditos de abertura e encerramento dos genéricos: Material associado a filmes e programas de televisão, que têm como função principal, na maior parte das vezes, apresentar a equipe de produção e contextualizar o produto audiovisual ao qual se destina; Interferências de apoio: Material eventualmente necessário para dar suporte a certos tipos de filmes de narrativos e programas de TV. 2.Televisão: Vinhetas de identidade visual: Material produzido para emissoras de televisão para exibição, em geral, nos intervalos da programação, como reforço de identidade visual; Suporte de infografia para programas jornalísticos e esportivos: Elementos informativos de suporte para matérias jornalísticas e coberturas esportivas; Spots comerciais: Publicidade especialmente produzida para o intervalo da programação de emissoras de TV comercial destinado a vender produtos de terceiros; Chamadas de programação: Material de divulgação dos programas de emissoras de TV veiculado nos intervalos da programação; Interprogramas Peças de curta duração, em geral entre 30” e 1 minuto, de cunho cultural ou informativo, que ajudam a preencher o intervalo da programação das emissoras de TV. 3. Vídeo: Videoclipes: Material associado à divulgação de artistas musicais e seus trabalhos; Videoarte e vídeo experimental: Experiências artísticas com objetivo de experimentação da linguagem audiovisual, desvinculadas de canais de distribuição comercial convencionais. Em alguns casos, são voltados para exibição em exposições e instalações; em outros buscam espaço em canais como festivais, mostras de vídeo, e mais recentemente na difusão pela Internet; Poesia visual: Experiências utilizando texto poético em movimento, com ênfase na visualidade das tipografia escrita como fonte de novas camadas semânticas com ou seu a adição de outros elementos gráficos; Vídeos narrativos de curta duração: Material produzido, em geral, para sítios de Internet voltados para distribuição, exibição e partilha de vídeo digital, sem maiores compromissos com os formatos convencionais de conteúdo para cinema e TV; Suporte de infografia para vídeos institucionais e educativos: Material de informação iconográfica e textual que servem de apoio a programas de carácter didático ou institucional. Motion Graphics: Motion Designer - Kyle Cooper Dentro desta abordagem sobre o motion graphics, principalmente, do ponto de vista tecnológico, destaca- se o designer Kyle Cooper, que tem sido mencionado como o mais talentoso criador de genéricos para cinema desde Saul Bass. Com formação em design gráfico pela Universidade Yale (EUA), Cooper dedicou-se a pesquisa cinematográfica no Sergei Eisenstein Kabinet (antiga União Soviética). Influenciado por Saul Bass, Stephen Frankfurt e Robert Brownjohn, decidiu dedicar-se a produção de genéricos a partir de 1988. Como motion design, realizou trabalhos como “Predator 2” (1990), “Spider Man” (2002), “Twister” (1996), “True Lies” (1994) e “Free Willy” (1993). Em 1995, realizou o genérico do filme “Se7en” , de David Fincher, considerado um marco para o novo design de genéricos. 31 Capítulo II – Cinema – Cinema Figura 3. Imagem do genérico do filme Se7en feito por Kyle Cooper em 1995. Figura 4. Ilustração dos elementos tipográficos inseridos no genérico do filme “Se7 en ”. Em seguida, fez os créditos de “The Island of Dr. Moreu”, do realizador John Frankenheimer, trabalho este, que o consagrou na área de motion design. Neste período, junto a outros designers, Cooper cria a Imaginary Forces e desde então, esta empresa foi responsável pela produção de vários genéricos de filmes para Hollywood. Entre os principais trabalhos, destaque para “The Munny”(1999), “Wild Wild West”(1997) e Blade (1998). E inegável que a Imaginary Forces, foi a grande responsável pelo novo valor que se tem dado ao design de genéricos de filmes. O trabalho de Cooper, tem estabelecido uma identidade própria nas suas criações, que influencia outros motions designers do mundo inteiro. Além de créditos, a Imaginary Forces produz traillers, anúncios publicitários, genéricos para broadcast, logótipos, animações multimedia, entre outros. Cooper criou a sua própria empresa de motion design, a Prolog Films. Kyle Cooper: Dimensão plástica e abordagem visual A diferença mais marcante nas criações de Kyle Cooper e a forma como ele trabalha a tipografia. Tendo como elemento de investigação o genérico feito por Cooper para o filme “Se7en”, notamos um destaque particular aos elementos tipográficos. O designer italiano Bruno Munari faz referência ao trabalho gráfico feito neste genérico “ao considerar os elementos tipográficos como sendo os próprios atores, destacando o uso da tipografia não só como um representativo fonético, mas também uma mancha gráfica ou uma imagem” (Munari, 1998, p.24).Ao analisarmos outros genéricos feitos por Cooper, notamos o processo de experimentação na tipografia, como afirma Munari (1998, p.27) “tendo-a como mais importante que a forma estética”. Seguindo esta nova tendência na produção de genéricos, os créditos filmes com ênfase na tipografia estão se tornando cada vez mais comuns. Neles o “uso destes elementos ultrapassam o significado linguístico, abordando principalmente elementos imagéticos e animados, apostando na transmissão de mais informações ao receptor do que a tipografia estética” (Krasner, 2008 p. 24). Atualmente, os genéricos são criados para cativar o espectador desde a primeira cena, podendo os créditos ajudar na contextualização e até na compreensão do filme. Considerações finais Através da analise do processo artístico e histórico do motion graphics, enquanto linguagem audiovisual para o cinema e a televisão, podemos perceber que esta área de criação possui uma série de elementos com características específicas e que, como ressalta Woolman (2004, p.34) “deve ser entendido como uma produção de linguagem”. Como linguagem, como observamos através da abordagem realizada sobre o trabalho desenvolvido pelo motion designer Kyle Cooper, o motion graphics oferece um campo repleto de elementos e questões para serem explorados. Assim, consideramos que o motion graphics apresenta um sistema de significação particular estruturado de maneira própria, com aspectos comuns observados em seus produtos, mesmo considerando a diversidade de formatos existentes, tais como peças de broadcast design, aberturas de cinema, publicidade, videoclipe ou videoarte. Bibliografia Munari, Bruno. 1998. Das Coisas Nascem Coisas. São Paulo: Martins Fontes. Nöth, Winfried . 1998. Imagem: Cognição, Semiótica, Mídia. São Paulo: Iluminuras. Velho, João. 2008. Motion Graphics: Linguagem e Tecnologia. São Paulo: Martins Fontes. Krasner, Jon. 2008. Motion Graphics Design: Applied History and Aestethics: Elsevier Inc. Woolman, Matt. 2004. Motion Design: Moving Graphics for Television, Music Video, Cinema, and Digital Interfaces. Brighton: Rotovision. View publication statsView publication stats
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