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ELETROMAGNETISMO I 1 0 ANÁLISE VETORIAL Este capítulo oferece uma recapitulação aos conhecimentos de álgebra vetorial, já vistos em outros cursos. Estando por isto numerado com o zero, não faz parte de fato dos nossos estudos de eletromagnetismo. Sem ele o tratamento dos fenômenos de campos elétricos e magnéticos torna-se mais complicado, uma vez que estes são obtidos matematicamente através de operações vetoriais. SISTEMA DE COORDENADAS Um exemplo prático de um sistema de coordenadas encontra-se numa carta geográfica onde um ponto é localizado em função da latitude e da longitude, isto é, medidas angulares que são tomadas em função de um referencial neste sistema plano. No espaço, um ponto também pode ser perfeitamente determinado quando conhecemos a sua posição em vista de um sistema de coordenadas. Particularmente no espaço tridimensional, um ponto é determinado em função de 3 coordenadas. Os sistemas de coordenadas definem um ponto no espaço como fruto da intersecção de 3 superfícies que podem ser planas ou não. Vamos nos ater aqui a três tipos de sistemas de coordenadas: cartesianas, cilíndricas e esféricas. Sistema de coordenadas cartesianas, também conhecido por coordenadas retangulares, define um ponto pela intersecção de 3 planos. Neste sistema um ponto P (x, y, z) é definido pela intersecção dos planos x, y e z constantes paralelos respectivamente ao plano y0z, ao plano x0z e ao plano x0y, conforme a figura 0.1. É o sistema (x, y, z). Figura 0.1 O sistema de coordenadas cartesianas ou retangulares (x, y, z). UNESP – Naasson P. de Alcântara Jr. – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 2 Sistema de coordenadas cilíndricas. Neste sistema de coordenadas o ponto P (r, φ, z) é determinado pela intersecção de uma superfície lateral cilíndrica de raio r constante e altura infinita, pelo semiplano φ constante (que contem o eixo z) e finalmente pelo plano z constante, como pode ser mostrado na figura 0.2. É o sistema (r, φ, z). Figura 0.2 O sistema de coordenadas cilíndricas (r, φ, z) Sistema de coordenadas esféricas que define um ponto P (r, θ, φ) na superfície de uma esfera de raio r constante centrada na origem, vinculando-o pela intersecção desta superfície com uma outra cônica θ (ângulo formado com o eixo y) constante e um semiplano φ (contendo o eixo z) constante, melhor esclarecido pela figura 0.3. É o sistema (r, θ, φ). Figura 0.3 O sistema de coordenadas esféricas (r, θ, φ) UNESP – Naasson P. de Alcântara Jr. – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 3 VETOR Muitas grandezas necessitam de uma direção e de um sentido além do valor e da unidade, ou seja, de sua intensidade para uma definição perfeita. Assim, definiremos os vetores como representantes de classes ou conjuntos de segmentos de retas orientadas com mesma intensidade ou módulo, direção e sentido no espaço. A figura 0.4 mostra um mesmo vetor representado por segmentos de retas de mesmo tamanho, mesma orientação e paralelas no espaço. vr Figura 0.4 A classe de vetores vr no espaço VERSOR OU VETOR UNITÁRIO Trata-se de um vetor de módulo 1, com a direção de um dado vetor vr Um vetor vvaˆ . r é definido como múltiplo o submúltiplo de m vezes este versor aˆ e possui o mesmo sentido quando m for positivo ou o sentido oposto, caso m seja negativo. Assim, um vetor pode ser expresso como o produto de um versor por um escalar de modo que: v vaˆmv =r (0.1) Outra forma de se indicar um versor é aquela que exprime a relação entre um vetor e o seu próprio módulo, isto é, v v v vaˆv r r r == (0.2) Se conhecermos o sistema de coordenadas, um ponto P pode ser localizado no espaço pelas componentes de um vetor posição que vai da origem deste sistema de coordenadas ao referido ponto. Trata-se de uma soma vetorial das componentes orientadas por seus versores. Um vetor V r cuja origem coincide com a origem de um sistema de coordenadas cartesianas e com extremidade no ponto P pode ser dado por: zzyyxx aˆVaˆVaˆV)OP(V ++=−= r (0.3) Do mesmo modo o ponto P pode ser determinado nos sistemas cilíndrico e esférico sendo a soma vetorial das componentes dadas respectivamente por zzφφrr aˆVaˆVaˆV)OP(V ++=−= r (0.4) UNESP – Naasson P. de Alcântara Jr. – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 4 φφθθrr aˆVaˆVaˆV)OP(V ++=−= r (0.5) A figura 0.5 mostra os três versores aplicados em P. Os vetores unitários do sistema retangular apresentam direções fixas, independentemente do ponto P, o que não ocorre nos outros dois sistemas de coordenadas (exceto para o versor ), onde cada versor é normal à sua superfície coordenada, coerente com o sentido de crescimento de cada coordenada associada ao ponto P. zaˆ Figura 0.5 Versores das componentes coordenadas. PRODUTO ESCALAR É uma operação vetorial cujo resultado é um valor escalar, ou seja, uma grandeza algébrica; um valor numérico precedido de um sinal. O produto escalar entre dois vetores A r e B r cujas direções formam um ângulo α entre eles é denotado por BA rr ⋅ cujo resultado é dado por: αcosABBA =⋅ rr (0.6) Pela relação (0.6) observamos que o produto escalar entre dois vetores multiplica o módulo de um vetor pelo módulo da projeção do outro sobre ele. De acordo com a figura 0.6, em uma linguagem matemática podemos escrever: Aproj.BBproj.ABA BA ==⋅ rr (0.7) O produto escalar entre dois vetores resulta positivo quando o menor ângulo entre eles é agudo. Resulta nulo quando os vetores forem perpendiculares e será negativo quando o ângulo α entre os vetores estiver entre 90º e 180º inclusive. UNESP – Naasson P. de Alcântara Jr. – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 5 Figura 0.6 O produto escalar entre A r e B r . Sendo o resultado de um produto escalar um valor algébrico, a propriedade comutativa pode ser assim verificada: ABαcosBAαcosABBA rrrr ⋅===⋅ (0.8) Sejam dois vetores em um sistema de coordenadas onde zzyyxx aˆAaˆAaˆAA ++= r e zzyyxx aˆBaˆBaˆBB ++= r . Considerando que o produto escalar entre dois versores paralelos possui módulo igual a 1 e que entre versores perpendiculares o resultado é nulo, o produto escalar será dado por zzyyxx BABABABA ++=⋅ rr (0.9) O quadrado do módulo de um vetor pode ser obtido a partir do produto escalar de um vetor por ele próprio. Assim, 2 z 2 y 2 x 2 AAAAAA ++==⋅ rrr (0.10) PRODUTO VETORIAL O produto vetorial entre dois vetores A r e B r , onde suas direções formam um ângulo agudo α entre eles, denotado por BA rr × , fornece como resultado outro vetor com as características abaixo: 1. Intensidade: αsenABαsenB.ABA ==× rrrr ; 2. Direção: perpendicular aos dois vetores A r e B r ; 3. Sentido: o do avanço de um parafuso de rosca direita, fornecido pela regra da mão direita, na ordem em que se tomam os dois vetores. Em linhas gerais o produto vetorial de dois vetores A r e B r pode ser expresso na direção e sentido de um versor naˆ perpendicu ar al A r e B r , cujo sentido é dado pela regra da mão direita e ilustrado na figura 0.7. Assim, naˆ)αsenAB(BA =× rr (0.11) UNESP – Naasson P. de Alcântara Jr. – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 6 Figura 0.7 O produto vetorial entre A r e B r Podemos também verificar sem nenhuma dificuldade que este produto não é comutativo e podemos escrever que se o versor estiver definido naˆ naˆ)αsen(ABBAAB −=×−=× rrrr (0.12) Podemos observar na figura 0.5 que os versores das coordenadas são perpendicularesentre si em qualquer um sistema. Assim, cada versor pode ser estabelecido em função dos outros dois como o resultado de um produto vetorial. Para um sistema de coordenadas cartesianas ou retangulares teremos: yxz xzy zyx aˆaˆaˆ aˆaˆaˆ aˆaˆaˆ =× =× =× (0.13) Da mesma forma para um sistema de coordenadas cilíndricas: φrz rzφ zφr aˆaˆaˆ aˆaˆaˆ aˆaˆaˆ =× =× =× (0.14) E para um sistema de coordenadas esféricas: θrφ rφθ φθr aˆaˆaˆ aˆaˆaˆ aˆaˆaˆ =× =× =× (0.15) UNESP – Naasson P. de Alcântara Jr. – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 7 Estas expressões mostram que cada versor pode ser determinado em função dos outros dois. Pela relação (0.12) verificamos que se invertermos a ordem dos versores no produto vetorial, teremos um versor negativo àqueles obtidos pelas relações (0.13), (0.14) e (0.15). Quaisquer dois vetores ou versores paralelos possuem o produto vetorial nulo, visto que sen 0 = sen π = 0. ELEMENTOS DIFERENCIAIS DE VOLUMES, LINHAS E SUPERFÍCIES Sistema cartesiano Tomemos um paralelepípedo elementar de arestas dx, dy e dz conforme a figura 0.8 (a), onde o seu volume dv é dado por dz.dy.dxdv = (0.16) O elemento vetorial de linha Ld é dado pela soma vetorial de suas arestas dx, dy e dz orientadas pelos versores , e resultando na diagonal do paralelepípedo, de maneira que xaˆ yaˆ zaˆ zyx aˆdzaˆdyaˆdxLd ++= r (0.17) Figura 0.8 Comprimentos, áreas e volumes elementares. Sistema cilíndrico Tomaremos agora um paralelepípedo curvilíneo cujas arestas serão dadas por dr, r.dφ e dz mostradas na figura 0.8 (b). Da mesma forma como procedemos no sistema retangular, o elemento de volume será dzφrdrddz.φrd.drdv == (0.18) UNESP – Naasson P. de Alcântara Jr. – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 8 E o comprimento elementar Ld será dado então pela soma de suas componentes dr, rdφ e dz orientadas pelos versores , e onde raˆ φaˆ zaˆ zφr aˆdzaˆφrdaˆdrLd ++= r (0.19) Sistema esférico Considerando ainda um paralelepípedo curvilíneo de arestas dr, r.dθ e r.senθ.dφ mostradas na figura 0.8 (c), o elemento de volume será dado por φdθdrdθsenrφdθsenr.θrd.drdv 2== (0.20) Logo, o comprimento elementar Ld será dado por φθr aˆφdθsenraˆθrdaˆdrLd ++= r (0.21) Os elementos de área, em qualquer dos três sistemas de coordenadas, podem ser determinados sem maiores dificuldades em qualquer sistema de coordenadas, uma vez que bastará multiplicar as arestas elementares que definem a superfície da face em questão. UNESP – Naasson P. de Alcântara Jr. – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 9 IDENTIDADES VETORIAIS As identidades vetoriais relacionadas abaixo podem ser provadas, embora algumas exijam do estudante um pouco de trabalho “braçal”. Simplificando a notação vetorial para as identidades que seguem, os vetores são indicados apenas por letras maiúsculas, sem as setas, enquanto que os escalares estão representados por letras minúsculas. Assim: ( ) ( ) ( ) BACACBCBA ⋅×≡⋅×≡⋅× (a) ( ) ( ) ( )CBABCACBA ⋅−⋅≡×× (b) ( ) BABA ⋅∇+⋅∇≡+⋅∇ (c) ( ) vuvu ∇+∇≡+∇ (d) ( ) BABA ×∇+×∇≡+×∇ (e) ( ) ( AuuAuA ⋅∇ )+∇⋅≡⋅∇ (f) ( ) ( ) ( uvvuuv ∇+∇≡∇ ) ) (g) ( ) ( ) ( AuAuuA ×∇+×∇≡×∇ (h) ( ) ( ) ( BAABBA )×∇⋅−×∇⋅≡×⋅∇ (i) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )ABBAABBABA ×∇×+×∇×+∇⋅+∇⋅≡⋅∇ (j) ( ) ( ) ( )BAABABBABA ∇⋅−∇⋅+⋅∇−⋅∇≡××∇ (k) vv 2∇≡∇⋅∇ (l) 0A ≡×∇⋅∇ (m) 0v ≡∇×∇ (n) ( ) AAA 2∇−⋅∇∇≡×∇×∇ (o) UNESP – Naasson P. de Alcântara Jr. – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 10 EXERCÍCIOS DE APLICAÇÃO 1) Encontre o vetor que liga o ponto P (5, 7, -1) ao ponto Q (-3, 4, 1). Calcule também o vetor unitário ou versor associado ao vetor determinado por A r A r . 2) Determine a distância entre os pontos A (5 mm; π; 2 mm) e B ( 3 mm; -π/6; -2 mm), dados em coordenadas cilíndricas. 3) Dados e , calcule a projeção do vetor zy aˆ10aˆ4A += r yaˆ3B = r A r sobre a direção do vetor . B r 4) Dados os vetores zyx aaaA ˆ3ˆ4ˆ2 −+= r e yx aˆaˆB +−= r , calcule os produtos escalar e vetorial entre eles. 5) Dados e , calcule o menor ângulo formado entre eles usando o produto vetorial e o produto escalar entre eles. yx aˆ4aˆ2A += r zy aˆ4aˆ6B −= r 6) Determine a expressão para o produto vetorial entre dois vetores genéricos e A r B r num sistema cartesiano e mostre que ele pode ser calculado a partir do determinante de uma matriz 3 x 3. 7) Estabeleça uma condição de paralelismo entre dois vetores a partir do produto vetorial entre eles. 8) Obtenha a condição de ortogonalidade entre dois vetores. 9) Use um sistema de coordenadas esféricas para calcular a área sobre uma casca esférica de raio r com α ≤ θ ≤ β. Qual o resultado quando α = 0 e β = π? 10) Dado o plano A x + B y + C z = K, onde K é uma constante, obtenha um vetor nV r normal a este plano. Pode existir mais de uma solução? 11) Encontre os versores em um sistema de coordenadas esféricas em função de correspondentes coordenadas retangulares (cartesianas). UNESP – Naasson P. de Alcântara Jr. – Claudio Vara de Aquino 1 2 3 4 ELETROMAGNETISMO I 1 Os primeiros fenômenos de origem eletrostática foram observados pelos gregos, 5 séculos antes de Cristo. Eles observaram que pedaços de âmbar (elektra), quando atritados com tecidos adquiriam a capacidade de atraírem pequenas partículas de outros materiais. Como a ciência experimental e dedutiva ainda estava longe de ser desenvolvida, o interesse nesse fenômeno permaneceu no campo da lógica e da filosofia. A interação entre objetos eletricamente carregados (força eletrostática) só foi quantificada e equacionada no século 18 (1746), por um cientista francês chamado Charles Augustin de Coulomb (1736 – 1806). 1 FORÇA ENTRE CARGAS ELÉTRICAS E O CAMPO ELETROSTÁTICO 1.1 - FORÇA ENTRE CARGAS ELÉTRICAS - LEI DE COULOMB O trabalho de Coulomb consistiu em, usando uma balança de torção muito sensível, medir a força de atração (ou repulsão) entre dois corpos carregados, em função da distância que os separava. Conceito A intensidade da força de interação elétrica entre dois objetos pequenos carregados, separados pelo vácuo ou pelo espaço livre, sendo a distância entre eles muito maior que os seus raios, é diretamente proporcional ao produto entre suas cargas, e inversamente proporcional ao quadrado da distância entre eles. F = k Q .Q R (N)1 22 (1.1) F (N) Força de origem eletrostática, de repulsão (cargas de mesmo sinal) ou atração (cargas de sinais opostos) Q1, Q2 (C) Cargas elétricas, positivas ou negativas R (m) Distância entre os centros das cargas k Constante de proporcionalidade A constante k vale: ⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛=πε= 2 2 9 0 C Nm10.9 4 1k A constante ε0 é a permissividade elétrica do espaço livre. No S. I. (Sistema Internacional) seu valor é: )m/F( 36 1010x854,8 9 12 0 π==ε −− A força eletrostática é uma grandeza vetorial possuindo intensidade, direção e sentido. Ela age ao longo da linha que une as duas cargas. Também é uma força mútua. Cada uma das cargas sofre a ação de uma força de mesma magnitude, porém, de sentido contrário. A força será repulsiva, se as duas cargas forem de mesma natureza (mesmo sinal), ou atrativa, se de sinais contrários. Reescrevendo a equação (1.1) vetorialmente: UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 2 (N)aˆ R .QQ 4 1F =F 12r2 12 21 0 12 πε=− rr (1.2) $aR Rr12 12 12 = r (1.3) 1F v (N) Força exercida sobre a carga Q1 pela carga Q2. 2F v (N) Força exercida sobre a carga Q2 pela carga Q1. r R12 (m) Vetor que vai da carga Q1 à carga Q2 âr12 Vetor unitário, ou versor, indicando a direção do vetor r R12 Figura 1.1 Força entre duas cargas: (a) -de mesmo sinal - (b) - de sinais contrários Exemplo 1.1 Uma carga Q1 = 3x10-4 C está colocada no ponto P1(1,2,3) m. Uma outra carga Q2 = -10-4 C está colocada no ponto P2(2,0,5) m. Encontrar a força r F sobre cada carga. Solução Vetor que vai da carga 1 à carga 2 1212 PPR rrr −= r R a ax y12 2 1 0 2 3= − + − + −( ). $ ( ). $ (5 ). $az r R a a ax y z12 2 2= − +$ . $ . $ R12 2 2 21 2 2= + − + =( ) 3 Vetor unitário com a direção de rR12 $ ( $ . $ . $ )a a ar x y12 1 3 2 2= − + az Força sobre a carga 2: r F Q Q R ar2 0 1 2 12 2 12 1 4 = πε . . $ r F x a a ax y z2 0 4 41 4 3 10 10 9 1 3 2 2= − − − − − πε .( ) ( $ . $ . $ ) ( )N r F a a a Nx y z2 10 2 2= − − +($ . $ . $ ) ( ) Força sobre a carga 1: r F a a ax y z1 10 2 2= − +($ . $ . $ ) (N) Exemplo 1.2 Uma carga positiva Q1 de 2 µC encontra-se na posição P1(1,2,1) m, uma carga negativa Q2 de 4 µC encontra-se na posição P2(-1,0,2) m e uma carga negativa Q3 de 3 µC encontra-se na posição P3(2,1,3) m. Encontre a força que atua sobre a carga Q3. ar12 Q1 r F1 Q2 r F2 r R12 x y (b) ar12 y r F1 Q1 Q2 r F2 r R12 (a) x UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 3 Solução: Pede-se 2,31,33 FFF rrr += O vetor que vai do ponto 1 ao ponto 3: 1313 PPR rrr −= ou r R a ax y13 2 1 1 2 3 1= − + − + −( )$ ( )$ ( )$az r R a a ax y13 2= − +$ $ $ z Vetor unitário de r R13 : 6 ˆ2ˆˆ ˆ 13 13 13 zyx r aaa R R a +−== r r Força sobre a carga 3, devido à carga 1: r F a a ax y z 3 1 0 6 61 4 2 10 3 10 6 2 6 , ( )( ) $ $ $= × − × − + − − πε r F a a ax y z3 1 33 67 2 10, , ($ $ $ ) (= − − + × − N) Vetor que vai do ponto 2 ao ponto 3: r R P23 3 2= − P ou r R a ax y23 2 1 1 0 3 2= − − + − + −( ( ))$ ( )$ ( )$az r R a ax y23 3= + +$ $ $a z Vetor unitário de : r R 23 11 ˆˆˆ3 ˆ 23 23 23 zyx r aaa R R a ++== r r Força sobre a carga 3, devido à carga 2: r F a a ax y z 3 2 0 6 61 4 4 10 3 10 11 3 11, ( )( ) $ $ $= − × − × + + − − πε r F a a ax y z3 2 32 96 3 10, , ( $ $ $ ) (= + + × − N) Força total sobre a carga 3: )N(10)aˆ4,4aˆ63,6a2,5(FFF 3zyx2,31,33 −×−+=+= rrrr Neste exemplo pode ser observado que, em um sistema discreto de cargas pontuais, a força sobre uma carga deste sistema é a soma (vetorial) das forças entre esta carga e as demais cargas do sistema, isoladamente. A título de exercício, calcule a força sobre as outras duas cargas. As respostas deverão ser: ( ) )N(10aˆ10aˆ99,8a65,1F 3zyx1 −×+−−= )r e ( )rF a a ax y z2 33 56 2 36 5 62 10= − + − × −, $ , $ , $ ( )N 1.2 – A CARGA ELEMENTAR Tomando o modelo planetário para a representação dos átomos, sabemos que as cargas ditas positivas encontram-se presas ao núcleo enquanto que as cargas de natureza oposta, ditas negativas gravitam em torno do núcleo, vinculadas por uma força de atração elétrica expressa pela lei de Coulomb, cuja intensidade é dada pela equação (1.1). Vimos também que esta força ocorre aos pares, obedecendo à 3ª. Lei de Newton ou da Ação e Reação. Desta forma, podemos definir uma carga elementar como aquela de menor valor. Assim, uma carga elementar de um próton difere da carga de um elétron apenas pelo sinal e vale no Sistema Internacional de Unidades: )coulombs(C10.6,1e 19−= (1.4) 1.3 - O CAMPO ELÉTRICO Considere duas cargas, uma carga Q em uma posição fixa, e uma carga de teste Qt. Movendo-se a carga de teste Qt lentamente em torno da carga fixa Q, ela sofrerá a ação de uma força r F . Como essa força sempre será ao longo da linha que une as duas cargas, ela será sempre radial, UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 4 considerando a posição da carga Q como origem. Além do mais, essa força aumentará de intensidade se aproximarmos a carga de teste da carga Q, e diminuirá se a afastarmos A partir dessas considerações pode-se perceber a existência de um campo de força em torno da carga Q, que pode ser visualizado pela figura 1.2: Qt Expressando a força sobre Qt pela lei de Coulomb: )N(aˆ. R Q.Q πε4 1F r2 t t 0 =r (1.5) Dividindo a equação (1.4) por Qt : )C/N(aˆ. R Q πε4 1 Q F r2 t0t = r (1.6) Percebe-se facilmente que a quantidade à direita na equação acima é função apenas de Q, e está dirigida ao longo do segmento de reta que vai de Q até à posição da carga de teste. Definindo a relação r F Qt como sendo r , vetor intensidade de campo elétrico, e dispensando o uso de índices, pode-se escrever: E r E Q R a N Cr= 14 0 2πε . $ ( / ) (1.7) Vimos pela expressão (1.4) que a menor carga elétrica conhecida é a do próton ou a do elétron, com 1,6. 10-19 C. Portanto, é fácil concluir que um campo elétrico não pode ser medido com precisão absoluta, pois a carga de teste sempre afetaria o campo da carga em estudo. Em escala atômica isso poderia representar algum problema, mas na totalidade dos casos que serão aqui estudados isso não representará nenhum problema. Exemplo 1.3 Uma carga Q = – 10-8 C está situada na origem de um sistema de coordenadas retangulares. Escreva uma expressão para o campo elétrico em função das coordenadas x, y e z, considerando-se que a carga Q estaria na origem desse sistema de coordenadas. Qual é o valor do campo elétrico no ponto P(1,1,2) m ? Q r F Figura 1.2 Campo de força produzido por uma carga pontual Q positiva. UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 5 Solução r E Q R a N Cr= 14 0 2πε . $ ( / ) r R x a y a z ax y= + +. $ . $ . $ z r R x y z= + +2 2 2 $a R Rr = r r E Q x y z x a y a z a x y z N Cx y z= + + + + + + 1 4 0 2 2 2 2 2 2πε . $ . $ . $ ( / ) ( ) r E x a y a z a x y z N Cx y z= − + + + + −10 4 8 0 2 2 2 3 2 πε . $ . $ . $ ( / ) Para o ponto (1,1,2): r E a a ax y z= −× × + + 10 4 8 85 6 6 2 4 π , ( $ $ . $ ) ( / )N C )C/N()aˆ.2aˆaˆ(12,6E zyx ++−= r O campo elétrico produzido por uma carga puntiforme é sempre orientado radialmente à carga que o gera. Portanto, a solução deste exemplo pode ser bastante simplificada se, ao invés de se utilizar um sistema de coordenadas cartesianas, utilizar-se um sistema de coordenadas esféricas. A expressão vetorial para o campo elétrico em coordenadas esféricas será: r E Q R a N Cr= 14 0 2πε . $ ( / ) O vetor unitário âr será simplesmente o vetor unitário na direção do raio R. Para o ponto (1,1,2), o módulo de R é: R = + + =1 1 2 62 2 2 portanto: r E ar= −× × 10 4 8 85 6 4 π , $ ( / )N C O campo elétrico assim obtido se mostra com uma simetria esférica, dependente apenas da distância radial da carga ao ponto. O exemplo que acabamos de resolver mostra que muitas vezes, ao tentarmos resolver um problema de uma maneira que julgamos ser a "mais fácil" (no caso,o uso de um sistema de coordenadas mais "conhecido"), estamos fazendo-o da maneira mais complicada. A exploração de simetrias, e o uso de sistemas de coordenadas adequados a cada caso são fortemente incentivados em eletromagnetismo. Exemplo 1.4 Uma carga Q1 = 4x10-9 C está localizada no ponto P1(1,1,3) m. e outra carga Q2 = 2x10 -9 C no ponto P2(1,1,5) m. Calcule o valor da intensidade de campo elétrico criado no ponto P(4,-1,2) m por estas duas cargas pontuais. Solução Vetor que vai de P1 a P: zyx aaa ˆˆ2ˆ.3 −− Vetor unitário ar1: 14 ˆˆ2ˆ.3 1 zyx r aaa a −−= Vetor que vai de P2 a P: zyx aaa ˆ.3ˆ2ˆ.3 −− UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 6 Vetor unitário ar2: 22 ˆ.3ˆ2ˆ.3 ˆ 2 zyx r aaa a −−= Campo elétrico em P: r E x a a a x a a a N C x y z x y z = − − + − − − − 4 10 4 1 14 3 2 14 2 10 4 1 22 3 2 3 22 9 0 9 0 πε πε . $ $ $ . $ $ . $ ( / ) )C/N()aˆ.134,0aˆ191,0aˆ.286,0(9E zyx −−= r A exemplo do que foi feito para se calcular forças em um sistema discreto de cargas, o campo elétrico devido a uma distribuição de cargas puntiformes é calculado somando-se a contribuição de cada carga individualmente, no ponto onde se deseja conhecer o valor do campo elétrico. 1.3 - Distribuição Especial de Cargas Além de cargas pontuais, podem existir outras configurações (distribuições) de carga, a saber: distribuição linear de cargas, distribuição superficial de cargas e distribuição volumétrica de cargas. 1.3.1 - Distribuição linear de cargas - Uma distribuição linear e uniforme de cargas possui uma densidade linear ρl C/m (fig. 1.3). ρl C/m Figura 1 .3 Distribuição uniforme e linear de cargas Vamos agora analisar o comportamento do campo elétrico produzido por uma distribuição linear infinita de cargas (sem ainda equacioná-lo). Vamos tomar duas cargas incrementais (ρldl), em uma distribuição linear de cargas, como mostrado na figura 1.4. dEz Figura 1.4 Arranjo para analisar o comportamento do campo elétrico produzido por uma distribuição linear infinita de cargas dE r P dEr dE dEz O campo elétrico em um ponto P situado a uma distância r, perpendicular à linha infinita de cargas provocado por cada carga incremental é dE, orientado na direção da linha que une o incremento de carga ao ponto P. Cada um desses campos pode ser decomposto em duas componentes: uma paralela à linha, dEz, e outra perpendicular a ela, dEr. Como as cargas incrementais são simétricas em relação à linha, as componentes dEz vão se anular e o campo elétrico resultante será a soma das componentes dEr. Como se trata de uma linha infinita de cargas, para qualquer ponto z (considerando um sistema de coordenadas cilíndricas), será sempre possível escolher conjuntos de incrementos de cargas simétricos a ele, e o campo elétrico será sempre perpendicular à linha de cargas. Adicionalmente movendo-se o ponto P em um círculo em torno da linha de cargas, o campo elétrico se manterá perpendicular à linha com intensidade inalterada. Movendo-se o ponto P para cima e para baixo, mantendo-se a distância r inalterada, a intensidade do campo elétrico não UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 7 apresentará alterações. Finalmente, se a distância r variar, o campo elétrico deverá variar também. Resumindo, o campo elétrico produzido por uma distribuição linear infinita de cargas: • Possui simetria cilíndrica ou radial e deve ser equacionado utilizando-se um sistema de coordenadas cilíndricas. • Só varia com a componente radial. Como exemplo de distribuição de uma linha de cargas, podemos citar os elétrons em um condutor elétrico, que para efeitos de campo elétrico podem ser considerados como estáticos. A expressão para a intensidade de campo elétrico produzido por uma linha de cargas será obtida no próximo capítulo, que trata da lei de Gauss. 1.3.2 - Distribuição superficial plana de cargas - Uma distribuição plana infinita e uniforme de cargas possui uma densidade superficial ρs C/m2 , conforme ilustrado na figura 1.5. ρs Figura 1.5 Distribuição superficial infinita de cargas Para analisar o comportamento do campo elétrico produzido por esta distribuição superficial infinita de cargas, vamos utilizar o arranjo mostrado na figura 1.6. Vamos considerar duas tiras infinitas de espessura dx, simetricamente escolhidas em relação a uma linha de referência (linha pontilhada). dEz dE r dExz x Figura 1.6 Campo elétrico produzido por um elemento de cargas em uma distribuição superficial Uma “fita” de carga pode ser considerada com sendo uma distribuição linear de cargas. Portanto, o campo elétrico produzido por ela terá o mesmo comportamento do campo elétrico produzido por uma distribuição linear e infinita de cargas. Assim, o campo elétrico incremental dE, em um ponto qualquer z acima da linha pontilhada, produzido por uma das fitas será orientado radialmente em relação à fita. Esse campo pode ser decomposto em duas componentes: dEx, paralelo à superfície de cargas, e dEz, perpendicular à mesma. Como as duas fitas estão simetricamente colocadas em relação ao ponto P, as componentes dEx deverão se anular, e o campo resultante será a soma das componentes dEz. Assim, podemos por enquanto concluir que o campo elétrico produzido por uma distribuição superficial e infinita de cargas será orientado perpendicularmente pelos dois lados desta superfície. Neste caso dizemos então que as linhas de campo elétrico apresentam uma simetria especular. Embora distribuições superficiais infinitas de cargas não existam de fato, podemos UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 8 considerar como um exemplo prático o campo elétrico uniforme estabelecido por um capacitor de placas planas e paralelas. Embora as expressões para o campo elétrico produzido por distribuições infinitas lineares e superficiais de cargas possam ser obtidas por integração direta, partindo de raciocínios como os mostrados acima, não o faremos aqui, por existir um modo mais simples e fácil, através da lei de Gauss, que será vista no próximo capítulo. UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 9 EXERCÍCIOS 1) Três cargas pontuais, Q1 = 300µC, e ,Q2 = 400 µC e Q3 = 500 µC acham-se localizadas em (6,0,0) m , (0,0,6) m e (0,6,0) m respectivamente. Encontre a força que age sobre Q2,. 2) Calcule a força que atua sobre uma carga de 100 µC localizada no eixo z a 3 m acima da origem quando na presença de quatro cargas de 20 µC nos eixos x e y nos pontos ± 4 m. 3) Há quatro cargas pontuais iguais, de 20 µC, localizadas sobre os eixos x e y, em ± 3 m. Calcule a força que age sobre uma carga de 120 µC, localizada em (0,0,4) m. 4) Uma película plana infinita com uma distribuição uniforme de carga de densidade ρS encontra-se no plano definido pelos eixos x e y. Determine o campo elétrico que ela gera no eixo z acima da origem. 5) Sobre o eixo z encontra-se uma distribuição linear de cargas ρL = 20 nC/m entre z = 5 m e z = -5 m. Calcule o campo elétrico E no ponto (2, 0, 0)m. Estendendo o raciocínio, calcule agora o campo elétrico criado por uma reta infinita e carregada num ponto genérico do espaço. 6) O eixo z contém uma distribuição uniforme de cargas com descontinuidade entre z = – 5m e z = 5 m. Com a mesma distribuição do problema anterior, isto é, 20 nC/m determine o campo E naquele mesmo ponto (2, 0, 0)m. Em seguida, faça a superposição dos resultados.7) Calcule a força que atua sobre uma carga pontual de 30 µC, localizada a uma altura de 5 m do centro de um quadrado com 2 m de lado, com uma carga linear de 500 µC uniformemente distribuída. 8) Sobre os vértices de um cubo de lado l (m) há oito cargas pontuais idênticas de Q (C). Mostre que a força agente sobre cada carga tem intensidade de 3,29 Q2 / (4πε0 l2) N. 9) O plano 3x + y - 6z = 6 m contém uma distribuição uniforme de cargas com densidade ρs = 0,6 C/m2. Calcule o campo elétrico relativo ao semi-espaço que contém a origem. r E 10) Um anel circular eletricamente carregado, com raio 4 m, está no plano z = 0, com centro localizado na origem. Se a sua densidade uniforme for ρl = 16 nC/m, calcular o valor de uma carga pontual Q , localizada na origem, capaz de produzir o mesmo campo elétrico em (0,0,5) m. 11) Calcule a carga contida no volume definido por 2 ≤ r ≤ 3 m, 0 ≤ φ ≤ π/3, 0 ≤ z ≤ 4 m, dada a densidade de cargas ρ = 3zsen2φ C/m3. 12) Duas esferas plásticas identicamente carregadas e com massa de 80 mg podem se deslocar sobre uma fibra isolante inclinada de 45º. Na situação de equilíbrio uma das esferas fica apoiada sobre um nó na fibra, enquanto que a outra permanece a uma distância de 5 m dela. Pede-se a carga das esferas. UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 10 13) Três cargas pontuais localizam-se no vácuo, do seguinte modo: Q1 = ─ 6 µC em P1 (1, 0, 0), Q2 = 10 µC em P2 (2, 0, 0), e Q3 = 4 µC em P3 (4, 0, 0). Em qual das cargas age a força de maior intensidade e qual é esse valor? 14) Duas cargas pontuais idênticas de Q C estão separadas por uma distância d m. Calcule o campo elétrico r para pontos pertencentes ao segmento que une as duas cargas. E 15) A lei da gravidade de Newton pode ser escrita , onde m1 e m2 são massas, pontuais, separadas por uma distância R e G é a constante gravitacional; 6,664´10-11 m3/kg.s2. Duas partículas, cada uma tendo uma massa de 15 mg estão separadas de 1,5 cm. Quantos elétrons são necessários adicionar a cada partícula de modo a equilibrar a força gravitacional ? F Gm m R= 1 2 2/ 16) Prove que a força de repulsão entre duas cargas pontuais e positivas separadas por uma distância fixa é máxima quando as suas cargas possuem mesmo valor. 17) Duas pequenas esferas plásticas estão arranjadas ao longo de uma fibra isolante que forma um ângulo de 45º, com a horizontal. Se cada esfera contiver uma carga de 2×10-8 C, e tiver uma massa de 0,2 g, determine a condição de equilíbrio para as duas esferas sobre a rampa, bem como a posição relativa entre elas. 18) Imagine que a terra e a lua possam receber cargas elétricas, de modo a equilibrar a força de atração gravitacional entre elas. (a) Encontre a carga requerida para a terra, se as cargas estão numa razão direta entre as superfícies da terra e da lua. (b) Qual é o valor de E na superfície da lua, devido às suas cargas? Note que, uma vez que as forças de origem gravitacional e eletrostática estão relacionadas com o inverso do quadrado da distância, não é necessário conhecer a distância terra-lua para resolver este problema. UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino 1 1 2 2 3 3 4 4 5 5 6 6 7 7 ELETROMAGNETISMO I 11 2.1 - A LEI DE GAUSS FLUXO ELÉTRICO E LEI DE GAUSS 2 Esta lei é regida por princípios muito simples e de fácil entendimento. O conceito geral de fluxo como sendo o escoamento de um campo vetorial que atravessa uma secção qualquer, pode ser estendido para explicar o campo elétrico. Conceito O fluxo elétrico que atravessa qualquer superfície fechada é igual à carga total envolvida por essa superfície (Lei de Gauss) O trabalho de Gauss consistiu na formulação matemática do enunciado acima, que já era conhecido e entendido como óbvio. Em outras palavras, o fluxo total de qualquer escoamento é emanado por uma fonte envolvida por uma superfície fechada, não importando sua forma geométrica. Gostaríamos apenas de frisar aqui que a superfície tem que ser fechada para que possa envolver toda a fonte e se deixe atravessar pelo fluxo total resultante. Eletricamente, imagine uma distribuição de cargas envolvida por uma superfície fechada S (figura 2.1). y ∆S θ D Q Figura 2.1 Distribuição de cargas no interior de uma superfície gaussiana. x Vamos agora tomar um incremento vetorial de superfície ∆rS admitido como plana. Este vetor terá uma orientação no espaço, perpendicular ao plano que tangencia a superfície S neste ponto (centro de ∆rS ) apontando para fora da superfície fechada. A densidade de fluxo que atravessará a superfície elementar ∆rS é dada pelo vetor r genericamente formando um ângulo θ com Ds ∆ r S em cada ponto da superfície fechada em questão. O fluxo elementar que atravessa ∆rS será então: ∆φ ∆ ∆= =r rD S D S Cs s. cosθ ( ) (2.1) ∆φ é uma grandeza (escalar), resultante do produto escalar entre os vetores rDs e ∆ r S . Nestas condições, o fluxo total que atravessa a superfície fechada S será então: φ φ= =∫ ∫d D dS Css r r. ( ) (2.2) A integral resultante é realizada sobre uma superfície fechada (daí o símbolo ∫S ), fruto de uma integral dupla. Esta superfície é freqüentemente chamada de superfície gaussiana. Assim, a Lei de Gauss é então matematicamente formulada como: UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 12 r rD dS Q Cs s . (∫ = ) (2.3) A carga envolvida pode ser de qualquer tipo: cargas pontuais discretas, linhas de cargas, distribuição superficial de cargas ou uma distribuição volumétrica de cargas. Desta forma, a Lei de Gauss pode ser generalizada em termos de cargas em distribuições uniformes respectivamente volumétricas, superficiais ou lineares, conforme abaixo: )C(dLSd.D )C(dSSd.D )C(dvSd.D L Ls s S Ss s v vs s ∫∫ ∫∫ ∫∫ ρ= ρ= ρ= rr rr rr (2.4) A integral realizada sobre o lado esquerdo da equação pode ter um domínio diferente daquela realizada sobre o lado direito. Daí ressaltarmos na expressão intermediária o domínio S da superfície fechada daquele S contendo a carga superficial. Exemplo 2.1 Calcular o fluxo que atravessa a superfície de uma esfera de raio a metros, produzido por uma carga elétrica Q coulombs, concentrada no centro dessa esfera. Solução: Sabemos que na superfície de uma esfera de raio a, a densidade de fluxo elétrico é: r D Q a a C ms r= 4 2 2 π . $ ( / ) O elemento diferencial de área, conforme Fig. 2.2., em coordenadas esféricas é: θdφdθsenaθdφdθsenrdS 22 == Figura 2.2 Elemento diferencial de área O produto escalar SDs rr ∆⋅ é então dado por: ( ) θφθπ=θφθ⋅⎟⎠⎞⎜⎝⎛ π ddsen4Qaˆ.ddsenaaˆ.a4 Q r2r2 Os limites de integração foram escolhidos de modo que a integração seja realizada sobre a superfície uma única vez. A integral de superfície será: ∫ ∫π π φθθπ0 20 ddsen4Q Integrando primeiro em relação a φ e em seguida em relação a θ )C(Q)cos( 2 Qdsen 2 Q 00 =θ−=θθ π ∫π Ficando pois comprovado que: r r D dS Q Cs s . (∫ = ) Exemplo 2.2 Calcular o fluxo elétrico total que atravessa uma superfície esférica, de centro na origem, possuindo raio r = 10 m, sendo que a distribuição de carga é composta por uma linha de cargas ao longo do eixo z, definida por ρl = 2e2|z| C/m na região –2 ≤ z ≤ 2 m e ρl = 0 no restante. Solução: UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMOI 13 Existem duas maneiras de se resolver este queles que adoram resolver integrais queles um pouco mais espertos podem ntão: problema: A complicadas podem encontrar uma expressão para o campo elétrico em um ponto qualquer da superfície de raio r, e integrá-la em toda a superfície. A simplesmente integrar a função de distribuição de cargas ao longo de z, de -2 a 2 m. A lei de Gauss garante que os resultados serão os mesmos, para qualquer dos dois casos. E Q e dzz= −∫ 2 222 ( ) C omo a função módulo não é contínua, vamos C C dividir a integral acima em duas integrais: Q e dz e dzz z= +− −∫ ∫2 2220 202 ( ) Q e ez z= − +− − 2 2 2 0 0 2 107 194 4 , ( ) φ 2.2 - A RELAÇÃO CONSTITUTIVA ENTRE O FLUXO E O CAMPO ELÉTRICO Q e e C= − + + − = =1 1 Sabe-se que uma carga pontual cria um campo elétrico no vácuo expresso em coordenadas esféricas pela equação vetorial (1.6). Por outro lado, o exemplo 2.1 define o fluxo que este mesmo campo elétrico cria ao atravessar uma superfície esférica, portanto fechada. Uma análise imediata mostra que existe uma relação entre a densidade de fluxo D e o campo elétrico correspondente E definida pela permissividade ε0 do meio, no caso, o espaço livre ou o vácuo. Vetorialmente esta relação constitutiva pode ser dada por: ED 0 rr ε= (2.5) xemplo 2.3 a linha infinita de cargas. Utilizando a Lei de Gauss encontre a expressão para o E Considere um campo elétrico em um ponto do espaço, criado por esta distribuição linear. Solução: e discussões anteriores sobre o campo Portanto: D elétrico de uma linha infinita de cargas, vimos que o campo elétrico é radial e só varia com o raio r. r D D a C mr r= . $ ( / )2 A superfície gaussiana selecionada é um plicando a Lei de Gauss: cilindro de raio r e comprimento L, com eixo coincidente coma própria linha de cargas. A r r Q D dS D dS dS d lado topo base = = + +∫ ∫ ∫∫ S. 0 0 = ∫ ∫ π L2DrdzrdDQ L 0 2 0 π=φ D Q rL r C ml= = 2 2 2 π ρ π ( / ) r r E D a r a N Cr l ρ r= =ε πε0 02 . $ . $ ( / ) D ∆S D D∆S r L ∆S Figura 2.3 Superfície gaussiana em torno de uma linha infinita de cargas UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 14 Exemplo 2.4 ncontrar a expressão para o campo elétrico produz o por uma distribuição superficial infinita de E id cargas. Solução: Da di o létric (curva) estará acima da superfície carregada e a outra metade abaixo dela. scussão do capítulo anterior, o camp o produzido por uma distribuição e superficial e plana de cargas terá a direção da normal à superfície, no ponto onde se deseja calcular o campo elétrico. A superfície gaussiana utilizada será um pequeno cilindro, de altura h e área de base ∆S. Uma das metades da superfície cilíndrica Aplicando então a Lei de Gauss: r r Por este exemplo chegamos à conclusão (em ponto, provocado por uma distribuição superfic Q D dS dS D dS lado topo = = +∫ ∫∫ . 0 D dSbase+ ∫ ρs S D S D S∆ ∆ ∆= + D s= ρ 2 n S aˆ 2 ρD =r ; n 0 S aˆ ε2 ρE =r princípio absurda) de que o campo elétrico em um ial de cargas, não depende da distância entre o ois condutores cilíndricos coaxiais, para efeitos práticos são considerados como sendo infinitos. O ponto e a superfície. Não se esqueça de que este raciocínio foi feito para uma distribuição infinita de cargas, que não existe na prática. Uma distribuição superficial finita de cargas pode ser considerada como infinita se a distância do ponto de interesse à distribuição superficial de cargas for muito pequena, comparada com as dimensões da mesma. Para pontos mais distantes, a distribuição não exibe simetria especular e não pode ser considerada infinita, o que invalida a expressão acima. Exemplo 2.5 D interno é maciço, de raio a. O cilindro externo, oco, possui raio interno b e raio externo c. Uma carga 2de densidade superficial ρs (C/m ) é colocada na superfície do condutor interno. Avaliar o campo elétrico em todo o espaço, a partir do centro dos cilindros (r = 0) até o exterior onde r > c. Solução: Quatro superfícies gaussianas (fechadas) concêntricas de comprimento L são a n s S1 possui um raio r < a. cilíndricas tr çadas e as fronteiras entre elas serão por quanto ignoradas. primeira dela e A Portanto: 0SdDQ 1S =⋅= ∫ rr Como a carga está dr istribuída na superfície onde r = a, E = 0 no interior do cilindro interno. r D ∆rS ∆rS rD Figura 2.4 Superfície gaussiana para uma distribuição superficial de cargas. S2 S3 S1 a c b E Figura 2.5 Superfícies gaussianas em um cabo coaxial S4 ELETROMAGNETISMO I 15 A segunda superfície gaussiana S2 possui um raio a < r < b. r ∫∫ ρ=⋅ )a(S )a(S 2S dSSdD r tegral é calculada sobre a superfície gaussiana de raio r e a segunda sobre a superfície do condutor interno com raio a. Seguindo os exemplos anteriores, A carga total envolvida por S2 e a de fluxo nesta superfície fechada são respectivamente: A primeira in observamos que a densidade de fluxo possui o seu módulo constante em função da distância radial r. Portanto para ρS(a) = ρS vem: D rd dz ad dzs LL φ ρ φπ π 0 2 0 2 00 ∫ ∫∫∫ = D rL aLs2 2π ρ π= densidade SaL2Q ρπ= =D a r C msρ )2 Se a carga for expressa por unidade de comprimento, sua densidade linear ficará: ( / sl a2L ρπ=ρ Q correspondente densidade de fluxo será = A )m/C( r2r a a2 D 2ll π ρ=π ρ= E o campo elétrico será expresso por r r E D r a N Cl r= =ε ρ πε0 02 . $ ( / ) expressão idêntica à obtida para uma linha infinita eletricamente carregada. A terceira superfície gaussiana S3 é um posta de igual magnitude na superfície cilindro com raio r, tal que b < r < c. A carga interna com densidade ρs induz uma carga o interna do condutor externo de raio b, e a carga total envolvida por esta superfície é nula. Portanto: 0SdD =⋅∫ r 3S r no interior do cilindro externo mbém é nulo. A quarta superfície gaussiana S4 é um cilindro maior de raio r > c. A carga induzida na arga oposta a ela de mesma agnitude na superfície externa do condutor O ta campo elétrico superfície interna do condutor externo por sua vez induz uma c m externo, com raio c. Portanto: QSdD 4S =⋅∫ rr rr ∫∫ ρ=⋅ )c(S )c(S 4S dSSdD cL2rL2D )c(S πρ=π )m/C( r cD 2)c(Sρ= Como as cargas induzidas são iguais: bL2aL2 )b(S)a(S πρ=πρ bL2cL2 )b(S)c(S πρ=πρ onde abc )a(S)b(S)c(S ρ=ρ=ρ Embor tens a as cargas sejam iguais em idade, as densidades superficiais não o ão. Desta forma in s )m/C(aD 2lρ=ρ= r2r)a(Sext π relação constitutiva teremos o campo elétrico externo dado por Aplicando a r r E D r a N Cext ext l r= =ε ρ πε0 02 Esta é a mesma exp essão pa . $ ( / ) ra o campo produzido pelo condutor interno. O condutor externo não exerce influência sobre o campo elétrico produzido pela distribuição de cargas do condutor interno. r UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 16 Em outras palavras, externamente tudo se passa como se o campo fosse criado por umaistribuição linear de cargas ao longo do eixo .3 - COMENTÁRIOS d do cabo coaxial. Graficamente: r (m)a b c E (N/C) Figura 2.6 Comportamento do campo elétrico em função de r. 2 A lei de Gauss fornece o fluxo elétrico total que atravessa uma superfície envolvendo uma istribuição de cargas, ou seja, determina o fluxo criado por um dado campo elétrico resultante. A mos concluir que somente o conhecimento da imetria do problema nos permite escolher superfícies gaussianas adequadas. O não conhecimento diferente, omo será visto no próximo capítulo. d intensidade ou módulo deste campo elétrico pode ser obtida pela aplicação direta da lei de Gauss e o emprego da relação constitutiva entre a densidade de fluxo e o correspondente campo elétrico. Neste caso, para que o vetor do campo elétrico seja conhecido, torna-se necessário o conhecimento da disposição geométrica das suas linhas de força. Pelos exemplos que acabamos de resolver, pode s dessa simetria torna a solução do problema pela Lei de Gauss extremamente complicada. Problemas que não possuem simetria conhecida são resolvidos de uma forma um pouco c UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 17 EXERCÍCIOS 1) Determine o fluxo que passa através de uma superfície fechada S envolvendo as cargas pontuais Q1 = 30 nC, Q2 = 140 nC e Q3 = ─ 70 nC. 2) Uma superfície gaussiana qualquer envolve duas cargas iguais em módulo e polaridades opostas. Há fluxo atravessando-a? Determine este fluxo em caso afirmativo. 3) O eixo x contém uma distribuição linear uniforme de carga ρL = 50 nC/m. Qual o fluxo elétrico por unidade de comprimento que passa através de uma fita definida pelo plano z = 3 m limitado por y = ± 2 m? 4) Generalize para o problema anterior o caso de uma fita plana, paralela à linha carregada, mas que não possui simetria em relação a ela. 5) Dado o vetor densidade de fluxo ou deslocamento elétrico yx aˆ3aˆx2D += r (C/m2), calcule o fluxo total que atravessa um cubo de arestas com 2 m, centrado na origem de um sistema cartesiano tri-ortogonal e com as arestas paralelas aos eixos das coordenadas. 6) O eixo z de um sistema coordenado contém uma distribuição uniforme de cargas, com densidade ρl = 50 nC/m. Calcule o campo Elétrico r E em (10,10,25) m, expressando-o em coordenadas cartesianas e cilíndricas. 7) Existem duas configurações lineares de carga, com densidades iguais, ρl = 6 nC/m, paralelas ao eixo z, localizadas em x = 0 m , y = ±6 m. Determine o campo elétrico r em (–4,0,z) m. E 8) Uma superfície fechada S envolve uma distribuição linear finita de cargas definida pelo intervalo 0 ≤ L ≤ π m, com densidade de cargas ρl = –ρ0 sen (L/2) C/m. Qual é o fluxo total que atravessa a superfície S ? 9) Na origem de um sistema de coordenadas esféricas existe uma carga pontual Q C. Sobre uma casca esférica de raio a uma carga (Q'- Q) C está uniformemente distribuída. Qual é o fluxo elétrico que atravessa a superfície esférica de raio k m, para k < a e k > a ? 10) Uma área de 40,2 m2 sobre a superfície esférica de raio 4 m é atravessada por um fluxo de 15 µC de dentro para fora. Quanto vale a carga pontual localizada na origem do sistema relacionado a tal configuração esférica? 11) Uma carga pontual Q = 6 nC está localizada na origem de um sistema de coordenadas cartesianas. Quanto vale o fluxo Ψ que atravessa a porção do plano z = 6 m limitada pelo intervalo –6 ≤ y ≤ 6 m; –6 ≤ x ≤ 6 m ? 12) Dado que r D e a z b a C m r b r z= − − 30 2 2( / ) em coordenadas cilíndricas, calcule o fluxo total que sai da superfície de um cilindro circular reto descrito por r = 2b m, z = 0, z = 5b m. 13) Na origem de um sistema de coordenadas esféricas existe uma carga pontual Q = 1500 pC. Uma distribuição esférica concêntrica de cargas elétricas de raio r = 2 m tem uma densidade ρs = 50π pC/m2. Qual a densidade de cargas de outra superfície esférica, com r = 3 m, concêntrica com o sistema, para resultar D = 0 em r > 3 m? UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 18 14) Um capacitor de placas paralelas, tendo o ar como dielétrico e permissividade ε0, contém uma distribuição superficial de carga ρS C/m2 na armadura positiva. Por indução, existe uma carga de mesma distribuição e polaridade oposta na armadura negativa. Desprezando o efeito de borda (espraiamento do campo elétrico), use a lei de Gauss para calcular o campo E para a região entre as placas e fora delas. 15) Uma película infinita com densidade uniforme ρs = (10-9/6π) C/m2 está localizada no plano definido por z = – 5 m. Outra película com densidade ρs = (–10-9/6π) C/m2 está localizada em outro plano z = 5 m . Calcule a densidade linear uniforme, ρl , necessária para produzir o mesmo valor de r E em (5,3,3) m, supondo que esta última se localize em z = 0, y = 3? 16) Certa configuração engloba as seguintes duas distribuições uniformes. Uma película carregada com ρs = -60 nC/m2, uniforme, em y = 3 m, e uma reta uniformemente carregada com ρl = 0,5 µC/m, situada em z = –3 m, y = 2 m. Aonde o campo r E será nulo ? 17) Tem-se a seguinte distribuição volumétrica de cargas: – 2 µC/m3 onde –2 < y < –1 m, 2 µC/m3 para 1 < y < 2 m e ρ = 0 para todo o restante. Use a lei de Gauss para determinar D em todo o espaço. Esboce o gráfico Dy vs. y. UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino 1 2 3 4 5 6 ELETROMAGNETISMO I 18 DIVERGÊNCIA DO FLUXO ELÉTRICO E TEOREMA DA DIVERGÊNCIA 3 3.1 - A LEI DE GAUSS APLICADA A UM ELEMENTO DIFERENCIAL DE VOLUME Vimos que a Lei de Gauss permite estudar o comportamento do campo elétrico devido a certas distribuições especiais de carga. Entretanto, para ser utilizada, a Lei de Gauss exige que a simetria do problema seja conhecida, de forma a resultar que a componente normal do vetor densidade de fluxo elétrico em qualquer ponto da superfície gaussiana seja ou constante ou nula. Neste capítulo pretendemos considerar a aplicação da Lei de Gauss a problemas que não possuem simetria. Suponhamos um volume incremental ∆v extremamente pequeno, porém finito e envolto por uma superfície fechada S. Se assumirmos uma densidade de carga uniforme neste incremento de volume, a carga ∆Q será o produto da densidade volumétrica de carga ρ pelo volume ∆v. Pela Lei de Gauss, podemos escrever: vSdD S ∆ρ=⋅∫ rr (3.1) Dx + (∂Dx/∂x)∆x ∆y ∆x ∆z z P Dz + (∂Dz/∂z)∆z Dz Dy Dy + (∂Dy/∂y)∆y x y Dx Figura. 3.1 Volume incremental em torno do ponto P. Vamos agora desenvolver a integral de superfície da equação acima, sobre uma superfície gaussiana elementar que engloba o volume ∆v. Este volume está representado na figura 3.1, e é formado pelas superfícies incrementais ∆x.∆y, ∆y.∆z, e ∆z.∆x. Considere um ponto P(x, y, z) envolvido pela superfície gaussiana formada pelas superfícies incrementais. A expressão para a densidade de fluxo elétrico r D no ponto P‚ em coordenadas cartesianas será dada por: z0zy0yx0x aˆ.Daˆ.Daˆ.DD ++= r (3.2) A integral sobre a superfície fechada é dividida em seis integrais, uma sobre cada lado do volume ∆v. ∫∫∫∫∫∫∫ +++++=⋅ basetopo.dir.esqatrásfrente S SdD rr (3.3) Para a primeira delas, na parte da frente, temos: UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 19 z.y.Daˆz.y.DSD xxfrentefrentefrentefrente ∆∆=∆∆=∆⋅≅∫ rrr (3.4)(Dx é a componente de r D normal ao plano yz). Aproximando o resultado Dx.∆y.∆z pelos dois primeiros termos da expansão em série de Taylor em torno de Dx0 no ponto P vem: )zyD( x2 xzyDzyD x0xx ∆∆∂ ∂∆+∆∆=∆∆ (3.5) Neste caso, como ∆y e ∆z são independentes em relação a x: z.y. x∂ D∂. 2 xD x0xfrente ∆∆⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ ∆+=∫ (3.6) Consideremos agora a integral na superfície da parte de trás, : ∫atrás ( ) ⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ ∆∆∂ ∂∆−∆∆−=−∆∆=∆⋅=∫ )zyD(x2xzyDaˆzyDSD x0xxatrásatrásatrásatrás rrr (3.7) Nesta face o vetor unitário âx em ∆s tem direção negativa. Da mesma forma, considerando a independência de ∆y e ∆z em relação a x, temos: z.y x D . 2 xD x0xatrás ∆∆⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ ∂ ∂∆+−=∫ (3.8) Combinando as duas integrais ao longo do eixo x: z.y.x. x∂ D∂ x atrásfrente ∆∆∆≅+∫∫ (3.9) Utilizando o mesmo raciocínio para as outras faces, as integrais restantes ficam: z.y.x. y∂ D∂ y .esq.dir ∆∆∆≅+∫∫ (3.10) z.y.x. z∂ D∂ z basetopo ∆∆∆≅+∫∫ (3.11) Assim a equação (3.3) fica: v z D y D x DSdD zyx S ∆⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ ∂ ∂+∂ ∂+∂ ∂≅⋅∫ rr (3.12) A expressão acima diz que o fluxo elétrico que atravessa uma superfície fechada muito pequena é igual ao produto entre o volume compreendido por essa superfície e a soma das derivadas parciais das componentes do vetor D r em relação às suas próprias direções. Igualando-se as equações 3.1 e 3.12, e em seguida dividindo todos os termos por ∆v, tem-se: UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 20 ρ=∂ ∂+∂ ∂+∂ ∂=∆ ⋅∫ z D y D x D v SdD zyxS rr (3.13) Tratando-se de uma região pontual, podemos passar ao limite, com ∆v tendendo a zero, obtendo: ρ=∂ ∂+∂ ∂+∂ ∂=∆ ⋅ →∆ ∫ z D y D x D v SdD 0v lim zyxS rr (3.14) 3.2 - DIVERGÊNCIA A operação indicada pela equação 3.14 não é pertinente apenas ao fenômeno elétrico ora em estudo. Surge tantas vezes no estudo de outras grandezas físicas descritas por campos vetoriais, que os cientistas e os matemáticos do século passado resolveram designá-la com um nome especial e genérico: Divergência. Matematicamente, a divergência de um campo vetorial A r pode ser assim definida: v SdA 0v lim AdivAdeaDivergênci S ∆ ⋅ →∆== ∫ rrrr (3.15) Conceito A divergência do vetor densidade de fluxo A r (que representa um fenômeno físico qualquer) é a variação do fluxo através da superfície fechada de um pequeno volume que tende a zero A divergência é uma operação matemática sobre um vetor, cujo resultado é um escalar. É definida como sendo a soma das derivadas parciais das componentes do vetor, cada uma em relação à sua própria direção. A partir da definição da divergência e da equação 3.14, apresentamos a 1ª equação de Maxwell. Em termos pontuais: ρD.div =r (3.16) A equação 3.14 estabelece que o fluxo elétrico por unidade de volume deixando um volume infinitesimal é igual à densidade volumétrica de carga neste ponto. Esta equação também é conhecida como a forma diferencial da Lei de Gauss, expressa como uma soma de derivadas parciais espaciais ou direcionais. 3.3 - O OPERADOR ∇ (nabla) E O TEOREMA DA DIVERGÊNCIA O operador ∇ é definido como sendo o operador vetorial diferencial: zyx aˆ.z aˆ. y aˆ. x ∂ ∂+∂ ∂+∂ ∂=∇ (3.17) Realizando o produto escalar , tem-se: D r⋅∇ ( zzyyxxzyx aˆ.Daˆ.Daˆ.Daˆ.z∂∂aˆ.y∂∂aˆ.x∂∂D ++⋅⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ ++=⋅∇ r ) (3.18) Lembrando que o produto escalar entre vetores ortogonais é nulo, o resultado será: UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 21 z∂ D∂ y∂ D∂ x∂ D∂D zyx ++=⋅∇ r (3.19) ou ainda por (3.16): ρ=⋅∇ Dr (3.20) O operador ∇ não é utilizado somente em operações de divergência, mas também em outras operações vetoriais. Ele é definido somente em coordenadas cartesianas. A princípio, a expressão serviria apenas para se calcular as derivadas parciais do divergente do vetor D r⋅∇ rD em coordenadas cartesianas. Entretanto, num abuso de linguagem, a expressão como sendo a divergência do vetor densidade de fluxo elétrico é consagrada e pode ser utilizada mesmo quando o vetor é definido em outros sistemas de referência (ou coordenadas). D r⋅∇ Em coordenadas cilíndricas: ( ) z DD r 1 r rD r 1D zr ∂ ∂+∂φ ∂+∂ ∂=⋅∇ φr (3.21) Em coordenadas esféricas: ( ) ( ) φθ+θθθ+=⋅∇ φθ ∂D∂rsen1senD∂∂rsen1Drr∂∂r1D r22r (3.22) Entretanto, deve-se lembrar, porém, que ∇ não possui uma forma especifica para estes tipos de sistemas de coordenadas. Finalmente, vamos associar a divergência à Lei de Gauss, para obter o teorema da divergência. Lembrando que: ∫∫ ρ=⋅ volS dv.SdD rr e ρ=⋅∇ Dr podemos escrever: ( )∫∫ ⋅∇=⋅ volS dvDSdD rrr (3.23) A equação 3.23 é o Teorema da Divergência ou teorema de Gauss (para diferenciar da Lei de Gauss). Estabelece que a integral da componente normal de qualquer campo vetorial sobre uma superfície fechada é igual à integral da divergência deste campo através do volume envolvido por essa superfície fechada. Uma maneira simples de se entender fisicamente o teorema da divergência é através da figura 3.2. Um volume v, delimitado por uma superfície fechada S é subdividido em pequenos volumes incrementais, ou células. O fluxo que diverge de cada célula converge para as células vizinhas, a não ser que a célula possua um de seus lados sobre a superfície fechada S. Então a soma da divergência da densidade de fluxo de todas as células será igual à soma do fluxo liquido sobre a superfície fechada que envolve o volume em questão. UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 22 Figura 3.2 Volume v subdividido em volumes incrementais. Exemplo 3.1 Calcular os dois lados do teorema da divergência, para uma densidade de fluxo elétrico y 2 x 2 aˆ.yxaˆ.xyD +=r , em um cubo de arestas igual a 2 unidades. Solução: Vamos colocar a origem do sistema de coordenadas cartesianas em um dos vértices. O vetor D r possui componentes nas direções x e y. Portanto, a princípio, a integral de superfície deve ser calculada sobre 4 lados do cubo: ∫ ∫∫∫∫ +++= dir.esqatrásfrenteSd.D rr ∫ ∫∫ == 20 20 xx2frente 3 32a.dz.dya.y.2 ∫ ∫∫ =−= 20 20 xx2atrás 0)a.(dz.dy.a.y.0 ∫ ∫∫ =−= 20 20 yy2.esq 0)a.(dz.dx.a.x.0 ∫ ∫∫ == 20 20 yy2.dir 3 32a.dz.dx.a.x.2 3 64Sd.D =∫ rr Para o outro lado, a divergência do campo fica: z D y D x DD zyx ∂ ∂+∂ ∂+∂ ∂=⋅∇ r 22 yxD. +=∇ r O outro lado da equação, numa integração de volume passa a ser escrito: ( ) ( )∫ ∫ ∫∫ +=⋅∇ 20 20 20 22vol dz.dy.dxyxdvDr ( ) ( )∫ ∫∫ +=⋅∇ 20 20 22vol dx.dyyx2dvDr ( ) ⎟⎠⎞⎜⎝⎛ +=⋅∇ ∫ ∫∫ 20 20 22vol dyydxx4dvDr ( )∫ =⋅∇vol 364dvDr Este capítulo apresenta uma generalização da lei de Gauss, aplicada pontualmente a volumes elementares com o recurso de um operador vetorial sobre a densidade de fluxo originado pelo campo elétrico proveniente de uma distribuição volumétrica de cargas. A equação (3.16),ou a (3.20) escrita de outra forma, nos mostra um fluxo divergente do vetor densidade de fluxo elétrico originado de uma carga elementar, de natureza positiva, indicada pela sua densidade volumétrica. Genericamente, se o divergente de um campo vetorial for positivo, este indica a presença de uma fonte de fluxos divergentes do ponto dado. O divergente negativo, por sua vez, indica a presença de um sorvedouroou de uma fonte de fluxos convergentes ao ponto. Não havendo fonte geradora de fluxos o divergente do campo no ponto correspondente será nulo. UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 23 EXERCÍCIOS 1) Dado r A x y a x y ax y= + + −( ). $ ( ). $3 2 2 calcule ∇. r A . 2) Deduza a expressão do divergente de um campo vetorial D r para os sistemas de coordenadas cilíndricas e esféricas. 3) Dado z0 aˆzD ρ= r para a região definida por –1 ≤ z ≤ 1 e z0 aˆ)|z|/zρ(D = r para os demais pontos do espaço, encontre a densidade de cargas elétricas. 4) Para a região 0 < r ≤ 2 m (coordenadas cilíndricas), rr5,01r5,01 aˆ)er4e2r4(D −−−− ++= r , e para r > 2m, r1 aˆ).r057,2(D −= r . Obter a densidade volumétrica de cargas ρ para ambas as regiões. 5) Uma linha uniforme de cargas de densidade ρ l pertence ao eixo z. (a) Mostre que 0D. =∇ r em qualquer lugar, exceto na linha de cargas. (b) substitua a linha de cargas por uma densidade volumétrica de cargas ρ0 em 0 ≤ r ≤ r0 m. Relacione ρl com ρ0 modo que a carga por unidade de comprimento seja a mesma. Determine então D. r∇ em toda parte. 6) A região r ≤ 2 m (coordenadas esféricas) possui um campo elétrico r0 5 aˆ)/10xr5(E ε= −r (V/m). Determine a carga envolvida pela casca definida por r = 2 m. 7) Mostre e justifique porque o divergente do campo elétrico gerado por uma distribuição uniforme e superficial de cargas é nulo. 8) Mostre que E. r∇ é zero para o campo de uma linha uniformemente carregada. Mostre também que o campo D r devido a uma carga pontual tem uma divergência nula. Discuta o problema fisicamente, explicando o motivo de tais comportamentos. 9) Dado r 3 aˆ).4 r10(D=r em coordenadas cilíndricas, calcule cada um dos lados do teorema da divergência, para o volume limitado por r = 3 m, z = 2 m e z = 12 m 10) Dado o campo zr r aˆz2aˆe30A −= −r , calcule ambos os lados do teorema da divergência para o volume definido por r = 2, z =0 e z = 5. 11) Dado θr aˆ.θcos2aˆ.θsen10D += r , pede-se calcular ambos os lados do teorema da divergência, para o volume limitado pela casca r = 3 m. 12) Dado r 3 aˆ)4/r10(D =r (C/m2), calcule ambos os lados do teorema da divergência para o volume limitado por r = 1m, r = 2m, z = 0 e z = 10m. UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 24 13) Dipolo Elétrico, ou simplesmente dipolo, é o nome dado ao conjunto de duas cargas pontuais de igual magnitude e sinais opostos, separadas por uma distância pequena comparada com a distância ao ponto P onde se deseja conhecer o campo elétrico. O ponto P descrito em coordenadas esféricas (figura abaixo), por r, θ e φ = 90 graus é visto em simetria azimutal. As cargas positivas e negativas estão separadas por d, e localizadas em (0,0,d/2) m e (0,0,-d/2). Se o campo no ponto P é )aˆ.θsenaˆ.θcos2( rπε4 QdE θr3 0 +=r , mostre que a divergência deste campo é nula. y x P r R1 R2 - Q Q θ d Figura para o problema 13. UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino 1 2 3 4 5 6 7 ELETROMAGNETISMO I 25 TRABALHO E POTENCIAL ELETROSTÁTICO 4 Nos capítulos anteriores nós investigamos o campo elétrico devido a diversas configurações de cargas (pontuais, distribuição linear, superfície de cargas e distribuição volumétrica de cargas), a partir da Lei de Coulomb, da Lei de Gauss e seu conseqüente Teorema da Divergência. No primeiro caso, as expressões para o vetor intensidade de campo elétrico eram obtidas à custa de integrações que, conforme a complexidade do problema, poderiam se tornar bastante complicadas. Já a Lei de Gauss, mais simples de ser utilizada, requer o conhecimento da simetria do problema. Nos casos em que isso não acontecia, a solução pela Lei de Coulomb ainda seria a mais recomendável. Ainda quando a simetria não podia ser atendida, o Teorema da Divergência era aplicado pontualmente, numa extensão da Lei de Gauss aplicada a todo um volume envolto por uma superfície fechada. Vamos agora procurar outra maneira de se resolver problemas de eletrostática, dessa vez a partir de uma função escalar, conhecida como potencial eletrostático, ou campo potencial. 4.1 - TRABALHO ENVOLVIDO NO MOVIMENTO DE UMA CARGA PONTUAL EM UM CAMPO ELÉTRICO Imagine um campo elétrico devido à presença de uma configuração de cargas qualquer (desde a mais singela carga pontual até as mais complexas distribuições de cargas lineares, superficiais ou volumétricas). Desta forma, uma carga pontual de prova Q é colocada nesta região e sobre ela estará agindo uma força de origem eletrostática, dada por: )N(EQFe rr = (4.1) Se esta carga for deixada em um ponto desta região de campo elétrico ela será acelerada e se deslocará até uma distância infinita, onde a ação da força agente sobre ela não se faça mais sentir. Se quisermos mover essa carga contra a ação do campo elétrico, temos de exercer uma força mínima de intensidade igual àquela exercida pelo campo elétrico, mas com direção oposta, isto é, na direção do movimento. Isso exige o dispêndio de energia, ou seja, a realização de um trabalho (resistente) pela força externa aplicada na carga. Se o movimento desta carga se dá no sentido do campo elétrico, o dispêndio de energia é negativo, ou seja, a fonte externa não realiza trabalho; este é realizado pelo campo elétrico. Vamos supor agora o movimento da carga Q de uma distância elementar dL r no campo elétrico r uniforme, conforme pode ser mostrado pela figura 4.1. O gasto desta energia incremental dW será expresso pelo produto escalar da força aplicada E eFF rr −= pela distância: Assim, LdEQdW rr ⋅−= (4.2) FeF Q E Figura. 4.1 Carga Q em um campo elétrico E. UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 26 Como uma conseqüência e pela equação acima, podemos perceber facilmente que se desejarmos mover a carga perpendicularmente ao campo elétrico, o trabalho realizado será nulo. Considerando uma trajetória finita, o trabalho realizado pela força externa para mover uma carga pontual Q imersa num campo elétrico é dado pela integral: E r )J(Ld.EQW final.inic∫−= rr (4.3) Exemplo 4.1 Dado o campo elétrico zyx 2 aˆ.y2aˆ.z2aˆ.x3E ++=r (N/C), determine o trabalho realizado para se mover uma carga de 20 µC ao longo de um percurso incremental 10-4 m de comprimento, na direção de localizado no ponto (2, –2, –5) m. zyx aˆ.64,0aˆ.48,0aˆ.6,0 −+− Solução: No ponto (2, –2, –5) )C/N(aˆ.4aˆ.10aˆ.12E aˆ).2.(2aˆ).5.(2aˆ).2.(3E zyx zyx 2 −−= −+−+= r r Para LdEqdW rv ⋅−= vem: Como 1aˆ.64,0aˆ.48,0aˆ.6,0 zyx =−+− )aˆ.64,0aˆ.48.0aˆ.6,0(10 )aˆ.4aˆ.10aˆ.12.(10.20dW zyx 4 zyx 6 −+− ⋅−−−= − − nJ88,18)56,28,42,7.(10x2dW 9 =+−−−= − 4.2 - INTEGRAL DE LINHA Na análise vetorial, uma integral de linha é definida como sendo a integral do produto escalar de um campo vetorial por um vetor deslocamento diferencial Ld r ao longo de um caminho determinado, como é o caso da equação 4.3 expresso na seção anterior. Para entender melhor esse conceito, imagine que queiramos calcular o trabalho para mover uma carga Q em um campo elétrico E v ‚ partindo do ponto B e se dirigindo ao ponto A, percorrendo uma trajetória determinada na figura 4.2. A∆L4 EL4 E∆L3 EL3∆L2 E EL2∆L1 E EL1 EB Figura4.2 Carga pontual Q movendo-se de B até A por um caminho estabelecido. O caminho é então segmentado por inúmeros comprimentos elementares retilíneos L r∆ . A componente do campo elétrico ao longo de cada segmento incremental é multiplicada pelo tamanho deste segmento, e os resultados para todos os segmentos são somados. Obviamente isso é um somatório. A integral é obtida quando o comprimento de cada segmento tender a zero. UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 27 Matematicamente para n segmentos retilíneos: )L.E.....L.EL.E(QW nLn22L11L ∆++∆+∆−= (4.4) ou, em notação vetorial: )LE...LELE(QW nn2211 rrrrrr ∆⋅++∆⋅+∆⋅−= (4.5) Se o campo for uniforme: EE...EE n21 rrrr ==== (4.6) )L...LL(E.QW n21 rrrr ∆++∆++∆⋅−= (4.7) A soma dos segmentos vetoriais entre parêntesis corresponde ao vetor deslocamento, dirigido do ponto B ao ponto A, r L . Portanto: BA BAL.EQW rr ⋅−= (4.8) Devemos notar que neste caso, onde o campo elétrico é uniforme, o trabalho realizado para movimentar a carga Q do ponto B ao ponto A independe do caminho tomado, dependendo apenas de Q, BALeE rr , o vetor que vai de B até A. Veremos mais tarde que isso é verdade para qualquer campo elétrico estático, invariante no tempo. Exemplo 4.2 Calcular o trabalho realizado para mover uma carga Q = - 10-5 C, imersa em um campo elétrico zy aˆ.z2aˆ.yE +−= r , ao longo do caminho definido pela reta y z+ = 2 , e ao longo do caminho definido pelas retas z = 0 me y = 0 m . Solução z Figura 4.3 Carga movendo-se por dois caminhos. (0,0,2) trajeto 1 trajeto 2 y (0,2,0) Para o trajeto 1 temos: Ld.EQdW rr−= )aˆ.dzaˆ.dy).(aˆ.z2aˆ.y(QdW zyzy ++−−= )zdz2ydy(QdW +−−= z2y2zy −=⇒=+ dzyd −= dz)z2(Q)zdz2)dz)(z2((QdW +−=+−−−−= )J(10x6) 2 zz2(10dz)z2(10W 5 2 52 0 5 2 0 −−− =+=+= ∫ Para o trajeto 2: W = W1 + W2 ydy10Qydy)aˆdy.aˆy(QdW 5yy1 −−==−−= UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 28 )J(10x2 2 y10ydy10W 5 2 50 2 5 1 2 0 −−− ==−= ∫ zdz210zdz2Q)aˆ.dz.aˆ.z2(QdW 5zz2 −=−=−= ∫ −−− === 20 5 2 55 2 10x42 z10x2zdz210W 2 0 )J(10x6WWW 521 −=+= Exemplo 4.3 Calcular o trabalho realizado para mover uma carga pontual positiva Q C, imersa no campo elétrico de uma linha de carga de densidade ρ l C/m do ponto r1 m ao ponto r2 m, conforme a figura abaixo. Solução: Figura 4.4 Carga imersa no campo de uma linha de cargas. ρl Sabemos que o campo elétrico devido a uma linha de cargas possui apenas a componente na direção radial. Em coordenadas cilíndricas: )C/N(aˆ. r2 aˆ.EE r 0 l rr πε ρ==r O comprimento diferencial do caminho em coordenadas cilíndricas é dado genericamente por: zr aˆ.dzaˆ.rdaˆ.drLd +φ+= φ r O trabalho diferencial será então: dr. r2 .QLdE.QdW 0 l πε ρ−=⋅−= rr Logo: ∫περ−= 21rr0l r dr 2 QW )J( r rln 2 QW 1 2 0 l πε ρ−= Como r2 é maior que r1, ln (r2/r1) é positivo e o trabalho realizado é negativo. Ou seja, a fonte externa que move a carga recebe energia. 4.3 - DIFERENÇA DE POTENCIAL E POTENCIAL ELETROSTÁTICO Se tomarmos a equação para o trabalho realizado para se mover uma carga Q em um campo elétrico, e a dividirmos pelo valor da carga Q, Teremos uma nova grandeza que denominaremos de diferença de potencial. Matematicamente: ∫ ⋅−== final.inic LdEQWPotencialdeDiferença rr (4.9) Em outras palavras, a diferença de potencial (ddp) pode ser definida como sendo o trabalho realizado para se mover uma carga unitária de um ponto a outro em um campo elétrico. Fisicamente indica a diferença entre dois níveis de energia passíveis de uma realização de trabalho numa região de campo elétrico, sobre uma carga quando aí colocada. A sua unidade é Joule por Coulomb, ou Volt (V). Se A é o ponto final e B o ponto inicial, a diferença de potencial VAB é dada por: dL = drar r2r1 UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 29 V(LdEVVV )final(A )inicial(BBAAB ∫ ⋅−=−= rr (4.10) No exemplo da linha de carga da última seção, o trabalho para se deslocar a carga de r 2 para r 1 é: )J( r rln 2 QW 1 2 0 l πε ρ= (4.11) O campo elétrico desta linha de carga cria uma diferença de potencial entre r 1 e r 2 dada por: )V( r rln 2Q WV 1 2 0 l 12 πε ρ== (4.12) Exemplo 4.4 Calcular a diferença de potencial entre os pontos r 1 e r 2 , r 2 > r 1 , devido a uma carga pontual de Q Coulombs positivos. Mostrar que ela independe das posições θ e φ. Solução: )V(LdEV 1 2 r r12 ∫ ⋅−= rr Em coordenadas esféricas φθ φθ+θ+= aˆdrsenaˆrdaˆdrLd r r rr2 0 aˆ.drLd;aˆ. r Q. 4 1E =πε= rr 2 0 r dr. 4 QLdE πε=⋅ rr ∫ πε−= 12rr 2012 r dr 4 QV 1r 2r 1 2 r 1 4 Q r dr 4 QV 0 r r 2 0 12 ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ πε=πε−= ∫ )V( r 1 r 1 4 QV 210 12 ⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ −πε= O potencial absoluto pode ser definido tomando um potencial de referência especificado que é considerado como tendo potencial zero. Usualmente esse potencial é tomado na superfície da terra ou no infinito. No exemplo anterior, se um dos pontos (ponto r2, por exemplo) estiver no infinito, o potencial (absoluto) no ponto r1 será: )V( r Q πε4 1V 10 1= (4.13) Se o potencial absoluto de A é VA, e o potencial absoluto de B é VB, a diferença de potencial VAB será então a diferença entre estes potenciais, ou seja: )V(VVV BAAB −= (4.14) 4.4 - O POTENCIAL DE UM SISTEMA DE CARGAS Para duas cargas pontuais, tomando-se o referencial dos potenciais no infinito, o potencial absoluto será: UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 30 )V( R Q R Q 4 1V 2 2 1 1 0 ⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ +πε= (4.15) Estendendo o raciocínio para n cargas vem: )V( R Q 4 1V n 1i i i 0 ∑ =πε = (4.16) Substituindo cada carga por ρ∆ : v )V( R v 4 1V n 1i i0 ∑ = ∆ρ πε= (4.17) Fazendo n → ∝ : )V( R dv 4 1V vol0 ∫ ρπε= (4.18) Para uma distribuição superficial de cargas: ∫ ρπε= s s0 )V(R dS 4 1V (4.19) Para uma distribuição linear de cargas: )V( R dL 4 1V L l 0 ∫ ρπε= (4.20) Exemplo 4.5 Calcular o potencial em um ponto no eixo de um anel de raio a m, conforme mostrado na figura 4.5, com uma distribuição linear de carga ρl C/m. Solução: V dL R Vl= ∫14 0πε ρ ( ) ∫∫ +πε ρ=+ρπε= dLza4za dL.4 1V 220 l22l0 )V( za2 a. za a2. 4 V 22 0 l 220 l +ε ρ= + π πε ρ= UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 31 P Figura 4.5 Anel de cargas. Exemplo 4.6 Resolver o exemplo anterior, considerando uma coroa circular de raio interno a m, raio externo b m e densidade superficial ρ s C/m2. Solução: )V( R dS. 4 1V S s 0 ∫ ρπε= dS r d dr R r z= =. . ;φ 2 2+ V rd dr r z s= +∫∫14 0 2 2πε ρ φ. . V d rdr r z s a b= +∫∫ρπε φ π 4 0 2 20 2 V rdr r z s a b= +∫ρε2 0
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