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ELETROMAGNETISMO I 1 0 ANÁLISE VETORIAL Este capítulo oferece uma recapitulação aos conhecimentos de álgebra vetorial, já vistos em outros cursos. Estando por isto numerado com o zero, não faz parte de fato dos nossos estudos de eletromagnetismo. Sem ele o tratamento dos fenômenos de campos elétricos e magnéticos torna-se mais complicado, uma vez que estes são obtidos matematicamente através de operações vetoriais. SISTEMA DE COORDENADAS Um exemplo prático de um sistema de coordenadas encontra-se numa carta geográfica onde um ponto é localizado em função da latitude e da longitude, isto é, medidas angulares que são tomadas em função de um referencial neste sistema plano. No espaço, um ponto também pode ser perfeitamente determinado quando conhecemos a sua posição em vista de um sistema de coordenadas. Particularmente no espaço tridimensional, um ponto é determinado em função de 3 coordenadas. Os sistemas de coordenadas definem um ponto no espaço como fruto da intersecção de 3 superfícies que podem ser planas ou não. Vamos nos ater aqui a três tipos de sistemas de coordenadas: cartesianas, cilíndricas e esféricas. Sistema de coordenadas cartesianas, também conhecido por coordenadas retangulares, define um ponto pela intersecção de 3 planos. Neste sistema um ponto P (x, y, z) é definido pela intersecção dos planos x, y e z constantes paralelos respectivamente ao plano y0z, ao plano x0z e ao plano x0y, conforme a figura 0.1. É o sistema (x, y, z). Figura 0.1 O sistema de coordenadas cartesianas ou retangulares (x, y, z). UNESP – Naasson P. de Alcântara Jr. – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 2 Sistema de coordenadas cilíndricas. Neste sistema de coordenadas o ponto P (r, φ, z) é determinado pela intersecção de uma superfície lateral cilíndrica de raio r constante e altura infinita, pelo semiplano φ constante (que contem o eixo z) e finalmente pelo plano z constante, como pode ser mostrado na figura 0.2. É o sistema (r, φ, z). Figura 0.2 O sistema de coordenadas cilíndricas (r, φ, z) Sistema de coordenadas esféricas que define um ponto P (r, θ, φ) na superfície de uma esfera de raio r constante centrada na origem, vinculando-o pela intersecção desta superfície com uma outra cônica θ (ângulo formado com o eixo y) constante e um semiplano φ (contendo o eixo z) constante, melhor esclarecido pela figura 0.3. É o sistema (r, θ, φ). Figura 0.3 O sistema de coordenadas esféricas (r, θ, φ) UNESP – Naasson P. de Alcântara Jr. – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 3 VETOR Muitas grandezas necessitam de uma direção e de um sentido além do valor e da unidade, ou seja, de sua intensidade para uma definição perfeita. Assim, definiremos os vetores como representantes de classes ou conjuntos de segmentos de retas orientadas com mesma intensidade ou módulo, direção e sentido no espaço. A figura 0.4 mostra um mesmo vetor representado por segmentos de retas de mesmo tamanho, mesma orientação e paralelas no espaço. vr Figura 0.4 A classe de vetores vr no espaço VERSOR OU VETOR UNITÁRIO Trata-se de um vetor de módulo 1, com a direção de um dado vetor vr Um vetor vvaˆ . r é definido como múltiplo o submúltiplo de m vezes este versor aˆ e possui o mesmo sentido quando m for positivo ou o sentido oposto, caso m seja negativo. Assim, um vetor pode ser expresso como o produto de um versor por um escalar de modo que: v vaˆmv =r (0.1) Outra forma de se indicar um versor é aquela que exprime a relação entre um vetor e o seu próprio módulo, isto é, v v v vaˆv r r r == (0.2) Se conhecermos o sistema de coordenadas, um ponto P pode ser localizado no espaço pelas componentes de um vetor posição que vai da origem deste sistema de coordenadas ao referido ponto. Trata-se de uma soma vetorial das componentes orientadas por seus versores. Um vetor V r cuja origem coincide com a origem de um sistema de coordenadas cartesianas e com extremidade no ponto P pode ser dado por: zzyyxx aˆVaˆVaˆV)OP(V ++=−= r (0.3) Do mesmo modo o ponto P pode ser determinado nos sistemas cilíndrico e esférico sendo a soma vetorial das componentes dadas respectivamente por zzφφrr aˆVaˆVaˆV)OP(V ++=−= r (0.4) UNESP – Naasson P. de Alcântara Jr. – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 4 φφθθrr aˆVaˆVaˆV)OP(V ++=−= r (0.5) A figura 0.5 mostra os três versores aplicados em P. Os vetores unitários do sistema retangular apresentam direções fixas, independentemente do ponto P, o que não ocorre nos outros dois sistemas de coordenadas (exceto para o versor ), onde cada versor é normal à sua superfície coordenada, coerente com o sentido de crescimento de cada coordenada associada ao ponto P. zaˆ Figura 0.5 Versores das componentes coordenadas. PRODUTO ESCALAR É uma operação vetorial cujo resultado é um valor escalar, ou seja, uma grandeza algébrica; um valor numérico precedido de um sinal. O produto escalar entre dois vetores A r e B r cujas direções formam um ângulo α entre eles é denotado por BA rr ⋅ cujo resultado é dado por: αcosABBA =⋅ rr (0.6) Pela relação (0.6) observamos que o produto escalar entre dois vetores multiplica o módulo de um vetor pelo módulo da projeção do outro sobre ele. De acordo com a figura 0.6, em uma linguagem matemática podemos escrever: Aproj.BBproj.ABA BA ==⋅ rr (0.7) O produto escalar entre dois vetores resulta positivo quando o menor ângulo entre eles é agudo. Resulta nulo quando os vetores forem perpendiculares e será negativo quando o ângulo α entre os vetores estiver entre 90º e 180º inclusive. UNESP – Naasson P. de Alcântara Jr. – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 5 Figura 0.6 O produto escalar entre A r e B r . Sendo o resultado de um produto escalar um valor algébrico, a propriedade comutativa pode ser assim verificada: ABαcosBAαcosABBA rrrr ⋅===⋅ (0.8) Sejam dois vetores em um sistema de coordenadas onde zzyyxx aˆAaˆAaˆAA ++= r e zzyyxx aˆBaˆBaˆBB ++= r . Considerando que o produto escalar entre dois versores paralelos possui módulo igual a 1 e que entre versores perpendiculares o resultado é nulo, o produto escalar será dado por zzyyxx BABABABA ++=⋅ rr (0.9) O quadrado do módulo de um vetor pode ser obtido a partir do produto escalar de um vetor por ele próprio. Assim, 2 z 2 y 2 x 2 AAAAAA ++==⋅ rrr (0.10) PRODUTO VETORIAL O produto vetorial entre dois vetores A r e B r , onde suas direções formam um ângulo agudo α entre eles, denotado por BA rr × , fornece como resultado outro vetor com as características abaixo: 1. Intensidade: αsenABαsenB.ABA ==× rrrr ; 2. Direção: perpendicular aos dois vetores A r e B r ; 3. Sentido: o do avanço de um parafuso de rosca direita, fornecido pela regra da mão direita, na ordem em que se tomam os dois vetores. Em linhas gerais o produto vetorial de dois vetores A r e B r pode ser expresso na direção e sentido de um versor naˆ perpendicu ar al A r e B r , cujo sentido é dado pela regra da mão direita e ilustrado na figura 0.7. Assim, naˆ)αsenAB(BA =× rr (0.11) UNESP – Naasson P. de Alcântara Jr. – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 6 Figura 0.7 O produto vetorial entre A r e B r Podemos também verificar sem nenhuma dificuldade que este produto não é comutativo e podemos escrever que se o versor estiver definido naˆ naˆ)αsen(ABBAAB −=×−=× rrrr (0.12) Podemos observar na figura 0.5 que os versores das coordenadas são perpendicularesentre si em qualquer um sistema. Assim, cada versor pode ser estabelecido em função dos outros dois como o resultado de um produto vetorial. Para um sistema de coordenadas cartesianas ou retangulares teremos: yxz xzy zyx aˆaˆaˆ aˆaˆaˆ aˆaˆaˆ =× =× =× (0.13) Da mesma forma para um sistema de coordenadas cilíndricas: φrz rzφ zφr aˆaˆaˆ aˆaˆaˆ aˆaˆaˆ =× =× =× (0.14) E para um sistema de coordenadas esféricas: θrφ rφθ φθr aˆaˆaˆ aˆaˆaˆ aˆaˆaˆ =× =× =× (0.15) UNESP – Naasson P. de Alcântara Jr. – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 7 Estas expressões mostram que cada versor pode ser determinado em função dos outros dois. Pela relação (0.12) verificamos que se invertermos a ordem dos versores no produto vetorial, teremos um versor negativo àqueles obtidos pelas relações (0.13), (0.14) e (0.15). Quaisquer dois vetores ou versores paralelos possuem o produto vetorial nulo, visto que sen 0 = sen π = 0. ELEMENTOS DIFERENCIAIS DE VOLUMES, LINHAS E SUPERFÍCIES Sistema cartesiano Tomemos um paralelepípedo elementar de arestas dx, dy e dz conforme a figura 0.8 (a), onde o seu volume dv é dado por dz.dy.dxdv = (0.16) O elemento vetorial de linha Ld é dado pela soma vetorial de suas arestas dx, dy e dz orientadas pelos versores , e resultando na diagonal do paralelepípedo, de maneira que xaˆ yaˆ zaˆ zyx aˆdzaˆdyaˆdxLd ++= r (0.17) Figura 0.8 Comprimentos, áreas e volumes elementares. Sistema cilíndrico Tomaremos agora um paralelepípedo curvilíneo cujas arestas serão dadas por dr, r.dφ e dz mostradas na figura 0.8 (b). Da mesma forma como procedemos no sistema retangular, o elemento de volume será dzφrdrddz.φrd.drdv == (0.18) UNESP – Naasson P. de Alcântara Jr. – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 8 E o comprimento elementar Ld será dado então pela soma de suas componentes dr, rdφ e dz orientadas pelos versores , e onde raˆ φaˆ zaˆ zφr aˆdzaˆφrdaˆdrLd ++= r (0.19) Sistema esférico Considerando ainda um paralelepípedo curvilíneo de arestas dr, r.dθ e r.senθ.dφ mostradas na figura 0.8 (c), o elemento de volume será dado por φdθdrdθsenrφdθsenr.θrd.drdv 2== (0.20) Logo, o comprimento elementar Ld será dado por φθr aˆφdθsenraˆθrdaˆdrLd ++= r (0.21) Os elementos de área, em qualquer dos três sistemas de coordenadas, podem ser determinados sem maiores dificuldades em qualquer sistema de coordenadas, uma vez que bastará multiplicar as arestas elementares que definem a superfície da face em questão. UNESP – Naasson P. de Alcântara Jr. – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 9 IDENTIDADES VETORIAIS As identidades vetoriais relacionadas abaixo podem ser provadas, embora algumas exijam do estudante um pouco de trabalho “braçal”. Simplificando a notação vetorial para as identidades que seguem, os vetores são indicados apenas por letras maiúsculas, sem as setas, enquanto que os escalares estão representados por letras minúsculas. Assim: ( ) ( ) ( ) BACACBCBA ⋅×≡⋅×≡⋅× (a) ( ) ( ) ( )CBABCACBA ⋅−⋅≡×× (b) ( ) BABA ⋅∇+⋅∇≡+⋅∇ (c) ( ) vuvu ∇+∇≡+∇ (d) ( ) BABA ×∇+×∇≡+×∇ (e) ( ) ( AuuAuA ⋅∇ )+∇⋅≡⋅∇ (f) ( ) ( ) ( uvvuuv ∇+∇≡∇ ) ) (g) ( ) ( ) ( AuAuuA ×∇+×∇≡×∇ (h) ( ) ( ) ( BAABBA )×∇⋅−×∇⋅≡×⋅∇ (i) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )ABBAABBABA ×∇×+×∇×+∇⋅+∇⋅≡⋅∇ (j) ( ) ( ) ( )BAABABBABA ∇⋅−∇⋅+⋅∇−⋅∇≡××∇ (k) vv 2∇≡∇⋅∇ (l) 0A ≡×∇⋅∇ (m) 0v ≡∇×∇ (n) ( ) AAA 2∇−⋅∇∇≡×∇×∇ (o) UNESP – Naasson P. de Alcântara Jr. – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 10 EXERCÍCIOS DE APLICAÇÃO 1) Encontre o vetor que liga o ponto P (5, 7, -1) ao ponto Q (-3, 4, 1). Calcule também o vetor unitário ou versor associado ao vetor determinado por A r A r . 2) Determine a distância entre os pontos A (5 mm; π; 2 mm) e B ( 3 mm; -π/6; -2 mm), dados em coordenadas cilíndricas. 3) Dados e , calcule a projeção do vetor zy aˆ10aˆ4A += r yaˆ3B = r A r sobre a direção do vetor . B r 4) Dados os vetores zyx aaaA ˆ3ˆ4ˆ2 −+= r e yx aˆaˆB +−= r , calcule os produtos escalar e vetorial entre eles. 5) Dados e , calcule o menor ângulo formado entre eles usando o produto vetorial e o produto escalar entre eles. yx aˆ4aˆ2A += r zy aˆ4aˆ6B −= r 6) Determine a expressão para o produto vetorial entre dois vetores genéricos e A r B r num sistema cartesiano e mostre que ele pode ser calculado a partir do determinante de uma matriz 3 x 3. 7) Estabeleça uma condição de paralelismo entre dois vetores a partir do produto vetorial entre eles. 8) Obtenha a condição de ortogonalidade entre dois vetores. 9) Use um sistema de coordenadas esféricas para calcular a área sobre uma casca esférica de raio r com α ≤ θ ≤ β. Qual o resultado quando α = 0 e β = π? 10) Dado o plano A x + B y + C z = K, onde K é uma constante, obtenha um vetor nV r normal a este plano. Pode existir mais de uma solução? 11) Encontre os versores em um sistema de coordenadas esféricas em função de correspondentes coordenadas retangulares (cartesianas). UNESP – Naasson P. de Alcântara Jr. – Claudio Vara de Aquino 1 2 3 4 ELETROMAGNETISMO I 1 Os primeiros fenômenos de origem eletrostática foram observados pelos gregos, 5 séculos antes de Cristo. Eles observaram que pedaços de âmbar (elektra), quando atritados com tecidos adquiriam a capacidade de atraírem pequenas partículas de outros materiais. Como a ciência experimental e dedutiva ainda estava longe de ser desenvolvida, o interesse nesse fenômeno permaneceu no campo da lógica e da filosofia. A interação entre objetos eletricamente carregados (força eletrostática) só foi quantificada e equacionada no século 18 (1746), por um cientista francês chamado Charles Augustin de Coulomb (1736 – 1806). 1 FORÇA ENTRE CARGAS ELÉTRICAS E O CAMPO ELETROSTÁTICO 1.1 - FORÇA ENTRE CARGAS ELÉTRICAS - LEI DE COULOMB O trabalho de Coulomb consistiu em, usando uma balança de torção muito sensível, medir a força de atração (ou repulsão) entre dois corpos carregados, em função da distância que os separava. Conceito A intensidade da força de interação elétrica entre dois objetos pequenos carregados, separados pelo vácuo ou pelo espaço livre, sendo a distância entre eles muito maior que os seus raios, é diretamente proporcional ao produto entre suas cargas, e inversamente proporcional ao quadrado da distância entre eles. F = k Q .Q R (N)1 22 (1.1) F (N) Força de origem eletrostática, de repulsão (cargas de mesmo sinal) ou atração (cargas de sinais opostos) Q1, Q2 (C) Cargas elétricas, positivas ou negativas R (m) Distância entre os centros das cargas k Constante de proporcionalidade A constante k vale: ⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛=πε= 2 2 9 0 C Nm10.9 4 1k A constante ε0 é a permissividade elétrica do espaço livre. No S. I. (Sistema Internacional) seu valor é: )m/F( 36 1010x854,8 9 12 0 π==ε −− A força eletrostática é uma grandeza vetorial possuindo intensidade, direção e sentido. Ela age ao longo da linha que une as duas cargas. Também é uma força mútua. Cada uma das cargas sofre a ação de uma força de mesma magnitude, porém, de sentido contrário. A força será repulsiva, se as duas cargas forem de mesma natureza (mesmo sinal), ou atrativa, se de sinais contrários. Reescrevendo a equação (1.1) vetorialmente: UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 2 (N)aˆ R .QQ 4 1F =F 12r2 12 21 0 12 πε=− rr (1.2) $aR Rr12 12 12 = r (1.3) 1F v (N) Força exercida sobre a carga Q1 pela carga Q2. 2F v (N) Força exercida sobre a carga Q2 pela carga Q1. r R12 (m) Vetor que vai da carga Q1 à carga Q2 âr12 Vetor unitário, ou versor, indicando a direção do vetor r R12 Figura 1.1 Força entre duas cargas: (a) -de mesmo sinal - (b) - de sinais contrários Exemplo 1.1 Uma carga Q1 = 3x10-4 C está colocada no ponto P1(1,2,3) m. Uma outra carga Q2 = -10-4 C está colocada no ponto P2(2,0,5) m. Encontrar a força r F sobre cada carga. Solução Vetor que vai da carga 1 à carga 2 1212 PPR rrr −= r R a ax y12 2 1 0 2 3= − + − + −( ). $ ( ). $ (5 ). $az r R a a ax y z12 2 2= − +$ . $ . $ R12 2 2 21 2 2= + − + =( ) 3 Vetor unitário com a direção de rR12 $ ( $ . $ . $ )a a ar x y12 1 3 2 2= − + az Força sobre a carga 2: r F Q Q R ar2 0 1 2 12 2 12 1 4 = πε . . $ r F x a a ax y z2 0 4 41 4 3 10 10 9 1 3 2 2= − − − − − πε .( ) ( $ . $ . $ ) ( )N r F a a a Nx y z2 10 2 2= − − +($ . $ . $ ) ( ) Força sobre a carga 1: r F a a ax y z1 10 2 2= − +($ . $ . $ ) (N) Exemplo 1.2 Uma carga positiva Q1 de 2 µC encontra-se na posição P1(1,2,1) m, uma carga negativa Q2 de 4 µC encontra-se na posição P2(-1,0,2) m e uma carga negativa Q3 de 3 µC encontra-se na posição P3(2,1,3) m. Encontre a força que atua sobre a carga Q3. ar12 Q1 r F1 Q2 r F2 r R12 x y (b) ar12 y r F1 Q1 Q2 r F2 r R12 (a) x UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 3 Solução: Pede-se 2,31,33 FFF rrr += O vetor que vai do ponto 1 ao ponto 3: 1313 PPR rrr −= ou r R a ax y13 2 1 1 2 3 1= − + − + −( )$ ( )$ ( )$az r R a a ax y13 2= − +$ $ $ z Vetor unitário de r R13 : 6 ˆ2ˆˆ ˆ 13 13 13 zyx r aaa R R a +−== r r Força sobre a carga 3, devido à carga 1: r F a a ax y z 3 1 0 6 61 4 2 10 3 10 6 2 6 , ( )( ) $ $ $= × − × − + − − πε r F a a ax y z3 1 33 67 2 10, , ($ $ $ ) (= − − + × − N) Vetor que vai do ponto 2 ao ponto 3: r R P23 3 2= − P ou r R a ax y23 2 1 1 0 3 2= − − + − + −( ( ))$ ( )$ ( )$az r R a ax y23 3= + +$ $ $a z Vetor unitário de : r R 23 11 ˆˆˆ3 ˆ 23 23 23 zyx r aaa R R a ++== r r Força sobre a carga 3, devido à carga 2: r F a a ax y z 3 2 0 6 61 4 4 10 3 10 11 3 11, ( )( ) $ $ $= − × − × + + − − πε r F a a ax y z3 2 32 96 3 10, , ( $ $ $ ) (= + + × − N) Força total sobre a carga 3: )N(10)aˆ4,4aˆ63,6a2,5(FFF 3zyx2,31,33 −×−+=+= rrrr Neste exemplo pode ser observado que, em um sistema discreto de cargas pontuais, a força sobre uma carga deste sistema é a soma (vetorial) das forças entre esta carga e as demais cargas do sistema, isoladamente. A título de exercício, calcule a força sobre as outras duas cargas. As respostas deverão ser: ( ) )N(10aˆ10aˆ99,8a65,1F 3zyx1 −×+−−= )r e ( )rF a a ax y z2 33 56 2 36 5 62 10= − + − × −, $ , $ , $ ( )N 1.2 – A CARGA ELEMENTAR Tomando o modelo planetário para a representação dos átomos, sabemos que as cargas ditas positivas encontram-se presas ao núcleo enquanto que as cargas de natureza oposta, ditas negativas gravitam em torno do núcleo, vinculadas por uma força de atração elétrica expressa pela lei de Coulomb, cuja intensidade é dada pela equação (1.1). Vimos também que esta força ocorre aos pares, obedecendo à 3ª. Lei de Newton ou da Ação e Reação. Desta forma, podemos definir uma carga elementar como aquela de menor valor. Assim, uma carga elementar de um próton difere da carga de um elétron apenas pelo sinal e vale no Sistema Internacional de Unidades: )coulombs(C10.6,1e 19−= (1.4) 1.3 - O CAMPO ELÉTRICO Considere duas cargas, uma carga Q em uma posição fixa, e uma carga de teste Qt. Movendo-se a carga de teste Qt lentamente em torno da carga fixa Q, ela sofrerá a ação de uma força r F . Como essa força sempre será ao longo da linha que une as duas cargas, ela será sempre radial, UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 4 considerando a posição da carga Q como origem. Além do mais, essa força aumentará de intensidade se aproximarmos a carga de teste da carga Q, e diminuirá se a afastarmos A partir dessas considerações pode-se perceber a existência de um campo de força em torno da carga Q, que pode ser visualizado pela figura 1.2: Qt Expressando a força sobre Qt pela lei de Coulomb: )N(aˆ. R Q.Q πε4 1F r2 t t 0 =r (1.5) Dividindo a equação (1.4) por Qt : )C/N(aˆ. R Q πε4 1 Q F r2 t0t = r (1.6) Percebe-se facilmente que a quantidade à direita na equação acima é função apenas de Q, e está dirigida ao longo do segmento de reta que vai de Q até à posição da carga de teste. Definindo a relação r F Qt como sendo r , vetor intensidade de campo elétrico, e dispensando o uso de índices, pode-se escrever: E r E Q R a N Cr= 14 0 2πε . $ ( / ) (1.7) Vimos pela expressão (1.4) que a menor carga elétrica conhecida é a do próton ou a do elétron, com 1,6. 10-19 C. Portanto, é fácil concluir que um campo elétrico não pode ser medido com precisão absoluta, pois a carga de teste sempre afetaria o campo da carga em estudo. Em escala atômica isso poderia representar algum problema, mas na totalidade dos casos que serão aqui estudados isso não representará nenhum problema. Exemplo 1.3 Uma carga Q = – 10-8 C está situada na origem de um sistema de coordenadas retangulares. Escreva uma expressão para o campo elétrico em função das coordenadas x, y e z, considerando-se que a carga Q estaria na origem desse sistema de coordenadas. Qual é o valor do campo elétrico no ponto P(1,1,2) m ? Q r F Figura 1.2 Campo de força produzido por uma carga pontual Q positiva. UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 5 Solução r E Q R a N Cr= 14 0 2πε . $ ( / ) r R x a y a z ax y= + +. $ . $ . $ z r R x y z= + +2 2 2 $a R Rr = r r E Q x y z x a y a z a x y z N Cx y z= + + + + + + 1 4 0 2 2 2 2 2 2πε . $ . $ . $ ( / ) ( ) r E x a y a z a x y z N Cx y z= − + + + + −10 4 8 0 2 2 2 3 2 πε . $ . $ . $ ( / ) Para o ponto (1,1,2): r E a a ax y z= −× × + + 10 4 8 85 6 6 2 4 π , ( $ $ . $ ) ( / )N C )C/N()aˆ.2aˆaˆ(12,6E zyx ++−= r O campo elétrico produzido por uma carga puntiforme é sempre orientado radialmente à carga que o gera. Portanto, a solução deste exemplo pode ser bastante simplificada se, ao invés de se utilizar um sistema de coordenadas cartesianas, utilizar-se um sistema de coordenadas esféricas. A expressão vetorial para o campo elétrico em coordenadas esféricas será: r E Q R a N Cr= 14 0 2πε . $ ( / ) O vetor unitário âr será simplesmente o vetor unitário na direção do raio R. Para o ponto (1,1,2), o módulo de R é: R = + + =1 1 2 62 2 2 portanto: r E ar= −× × 10 4 8 85 6 4 π , $ ( / )N C O campo elétrico assim obtido se mostra com uma simetria esférica, dependente apenas da distância radial da carga ao ponto. O exemplo que acabamos de resolver mostra que muitas vezes, ao tentarmos resolver um problema de uma maneira que julgamos ser a "mais fácil" (no caso,o uso de um sistema de coordenadas mais "conhecido"), estamos fazendo-o da maneira mais complicada. A exploração de simetrias, e o uso de sistemas de coordenadas adequados a cada caso são fortemente incentivados em eletromagnetismo. Exemplo 1.4 Uma carga Q1 = 4x10-9 C está localizada no ponto P1(1,1,3) m. e outra carga Q2 = 2x10 -9 C no ponto P2(1,1,5) m. Calcule o valor da intensidade de campo elétrico criado no ponto P(4,-1,2) m por estas duas cargas pontuais. Solução Vetor que vai de P1 a P: zyx aaa ˆˆ2ˆ.3 −− Vetor unitário ar1: 14 ˆˆ2ˆ.3 1 zyx r aaa a −−= Vetor que vai de P2 a P: zyx aaa ˆ.3ˆ2ˆ.3 −− UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 6 Vetor unitário ar2: 22 ˆ.3ˆ2ˆ.3 ˆ 2 zyx r aaa a −−= Campo elétrico em P: r E x a a a x a a a N C x y z x y z = − − + − − − − 4 10 4 1 14 3 2 14 2 10 4 1 22 3 2 3 22 9 0 9 0 πε πε . $ $ $ . $ $ . $ ( / ) )C/N()aˆ.134,0aˆ191,0aˆ.286,0(9E zyx −−= r A exemplo do que foi feito para se calcular forças em um sistema discreto de cargas, o campo elétrico devido a uma distribuição de cargas puntiformes é calculado somando-se a contribuição de cada carga individualmente, no ponto onde se deseja conhecer o valor do campo elétrico. 1.3 - Distribuição Especial de Cargas Além de cargas pontuais, podem existir outras configurações (distribuições) de carga, a saber: distribuição linear de cargas, distribuição superficial de cargas e distribuição volumétrica de cargas. 1.3.1 - Distribuição linear de cargas - Uma distribuição linear e uniforme de cargas possui uma densidade linear ρl C/m (fig. 1.3). ρl C/m Figura 1 .3 Distribuição uniforme e linear de cargas Vamos agora analisar o comportamento do campo elétrico produzido por uma distribuição linear infinita de cargas (sem ainda equacioná-lo). Vamos tomar duas cargas incrementais (ρldl), em uma distribuição linear de cargas, como mostrado na figura 1.4. dEz Figura 1.4 Arranjo para analisar o comportamento do campo elétrico produzido por uma distribuição linear infinita de cargas dE r P dEr dE dEz O campo elétrico em um ponto P situado a uma distância r, perpendicular à linha infinita de cargas provocado por cada carga incremental é dE, orientado na direção da linha que une o incremento de carga ao ponto P. Cada um desses campos pode ser decomposto em duas componentes: uma paralela à linha, dEz, e outra perpendicular a ela, dEr. Como as cargas incrementais são simétricas em relação à linha, as componentes dEz vão se anular e o campo elétrico resultante será a soma das componentes dEr. Como se trata de uma linha infinita de cargas, para qualquer ponto z (considerando um sistema de coordenadas cilíndricas), será sempre possível escolher conjuntos de incrementos de cargas simétricos a ele, e o campo elétrico será sempre perpendicular à linha de cargas. Adicionalmente movendo-se o ponto P em um círculo em torno da linha de cargas, o campo elétrico se manterá perpendicular à linha com intensidade inalterada. Movendo-se o ponto P para cima e para baixo, mantendo-se a distância r inalterada, a intensidade do campo elétrico não UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 7 apresentará alterações. Finalmente, se a distância r variar, o campo elétrico deverá variar também. Resumindo, o campo elétrico produzido por uma distribuição linear infinita de cargas: • Possui simetria cilíndrica ou radial e deve ser equacionado utilizando-se um sistema de coordenadas cilíndricas. • Só varia com a componente radial. Como exemplo de distribuição de uma linha de cargas, podemos citar os elétrons em um condutor elétrico, que para efeitos de campo elétrico podem ser considerados como estáticos. A expressão para a intensidade de campo elétrico produzido por uma linha de cargas será obtida no próximo capítulo, que trata da lei de Gauss. 1.3.2 - Distribuição superficial plana de cargas - Uma distribuição plana infinita e uniforme de cargas possui uma densidade superficial ρs C/m2 , conforme ilustrado na figura 1.5. ρs Figura 1.5 Distribuição superficial infinita de cargas Para analisar o comportamento do campo elétrico produzido por esta distribuição superficial infinita de cargas, vamos utilizar o arranjo mostrado na figura 1.6. Vamos considerar duas tiras infinitas de espessura dx, simetricamente escolhidas em relação a uma linha de referência (linha pontilhada). dEz dE r dExz x Figura 1.6 Campo elétrico produzido por um elemento de cargas em uma distribuição superficial Uma “fita” de carga pode ser considerada com sendo uma distribuição linear de cargas. Portanto, o campo elétrico produzido por ela terá o mesmo comportamento do campo elétrico produzido por uma distribuição linear e infinita de cargas. Assim, o campo elétrico incremental dE, em um ponto qualquer z acima da linha pontilhada, produzido por uma das fitas será orientado radialmente em relação à fita. Esse campo pode ser decomposto em duas componentes: dEx, paralelo à superfície de cargas, e dEz, perpendicular à mesma. Como as duas fitas estão simetricamente colocadas em relação ao ponto P, as componentes dEx deverão se anular, e o campo resultante será a soma das componentes dEz. Assim, podemos por enquanto concluir que o campo elétrico produzido por uma distribuição superficial e infinita de cargas será orientado perpendicularmente pelos dois lados desta superfície. Neste caso dizemos então que as linhas de campo elétrico apresentam uma simetria especular. Embora distribuições superficiais infinitas de cargas não existam de fato, podemos UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 8 considerar como um exemplo prático o campo elétrico uniforme estabelecido por um capacitor de placas planas e paralelas. Embora as expressões para o campo elétrico produzido por distribuições infinitas lineares e superficiais de cargas possam ser obtidas por integração direta, partindo de raciocínios como os mostrados acima, não o faremos aqui, por existir um modo mais simples e fácil, através da lei de Gauss, que será vista no próximo capítulo. UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 9 EXERCÍCIOS 1) Três cargas pontuais, Q1 = 300µC, e ,Q2 = 400 µC e Q3 = 500 µC acham-se localizadas em (6,0,0) m , (0,0,6) m e (0,6,0) m respectivamente. Encontre a força que age sobre Q2,. 2) Calcule a força que atua sobre uma carga de 100 µC localizada no eixo z a 3 m acima da origem quando na presença de quatro cargas de 20 µC nos eixos x e y nos pontos ± 4 m. 3) Há quatro cargas pontuais iguais, de 20 µC, localizadas sobre os eixos x e y, em ± 3 m. Calcule a força que age sobre uma carga de 120 µC, localizada em (0,0,4) m. 4) Uma película plana infinita com uma distribuição uniforme de carga de densidade ρS encontra-se no plano definido pelos eixos x e y. Determine o campo elétrico que ela gera no eixo z acima da origem. 5) Sobre o eixo z encontra-se uma distribuição linear de cargas ρL = 20 nC/m entre z = 5 m e z = -5 m. Calcule o campo elétrico E no ponto (2, 0, 0)m. Estendendo o raciocínio, calcule agora o campo elétrico criado por uma reta infinita e carregada num ponto genérico do espaço. 6) O eixo z contém uma distribuição uniforme de cargas com descontinuidade entre z = – 5m e z = 5 m. Com a mesma distribuição do problema anterior, isto é, 20 nC/m determine o campo E naquele mesmo ponto (2, 0, 0)m. Em seguida, faça a superposição dos resultados.7) Calcule a força que atua sobre uma carga pontual de 30 µC, localizada a uma altura de 5 m do centro de um quadrado com 2 m de lado, com uma carga linear de 500 µC uniformemente distribuída. 8) Sobre os vértices de um cubo de lado l (m) há oito cargas pontuais idênticas de Q (C). Mostre que a força agente sobre cada carga tem intensidade de 3,29 Q2 / (4πε0 l2) N. 9) O plano 3x + y - 6z = 6 m contém uma distribuição uniforme de cargas com densidade ρs = 0,6 C/m2. Calcule o campo elétrico relativo ao semi-espaço que contém a origem. r E 10) Um anel circular eletricamente carregado, com raio 4 m, está no plano z = 0, com centro localizado na origem. Se a sua densidade uniforme for ρl = 16 nC/m, calcular o valor de uma carga pontual Q , localizada na origem, capaz de produzir o mesmo campo elétrico em (0,0,5) m. 11) Calcule a carga contida no volume definido por 2 ≤ r ≤ 3 m, 0 ≤ φ ≤ π/3, 0 ≤ z ≤ 4 m, dada a densidade de cargas ρ = 3zsen2φ C/m3. 12) Duas esferas plásticas identicamente carregadas e com massa de 80 mg podem se deslocar sobre uma fibra isolante inclinada de 45º. Na situação de equilíbrio uma das esferas fica apoiada sobre um nó na fibra, enquanto que a outra permanece a uma distância de 5 m dela. Pede-se a carga das esferas. UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 10 13) Três cargas pontuais localizam-se no vácuo, do seguinte modo: Q1 = ─ 6 µC em P1 (1, 0, 0), Q2 = 10 µC em P2 (2, 0, 0), e Q3 = 4 µC em P3 (4, 0, 0). Em qual das cargas age a força de maior intensidade e qual é esse valor? 14) Duas cargas pontuais idênticas de Q C estão separadas por uma distância d m. Calcule o campo elétrico r para pontos pertencentes ao segmento que une as duas cargas. E 15) A lei da gravidade de Newton pode ser escrita , onde m1 e m2 são massas, pontuais, separadas por uma distância R e G é a constante gravitacional; 6,664´10-11 m3/kg.s2. Duas partículas, cada uma tendo uma massa de 15 mg estão separadas de 1,5 cm. Quantos elétrons são necessários adicionar a cada partícula de modo a equilibrar a força gravitacional ? F Gm m R= 1 2 2/ 16) Prove que a força de repulsão entre duas cargas pontuais e positivas separadas por uma distância fixa é máxima quando as suas cargas possuem mesmo valor. 17) Duas pequenas esferas plásticas estão arranjadas ao longo de uma fibra isolante que forma um ângulo de 45º, com a horizontal. Se cada esfera contiver uma carga de 2×10-8 C, e tiver uma massa de 0,2 g, determine a condição de equilíbrio para as duas esferas sobre a rampa, bem como a posição relativa entre elas. 18) Imagine que a terra e a lua possam receber cargas elétricas, de modo a equilibrar a força de atração gravitacional entre elas. (a) Encontre a carga requerida para a terra, se as cargas estão numa razão direta entre as superfícies da terra e da lua. (b) Qual é o valor de E na superfície da lua, devido às suas cargas? Note que, uma vez que as forças de origem gravitacional e eletrostática estão relacionadas com o inverso do quadrado da distância, não é necessário conhecer a distância terra-lua para resolver este problema. UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino 1 1 2 2 3 3 4 4 5 5 6 6 7 7 ELETROMAGNETISMO I 11 2.1 - A LEI DE GAUSS FLUXO ELÉTRICO E LEI DE GAUSS 2 Esta lei é regida por princípios muito simples e de fácil entendimento. O conceito geral de fluxo como sendo o escoamento de um campo vetorial que atravessa uma secção qualquer, pode ser estendido para explicar o campo elétrico. Conceito O fluxo elétrico que atravessa qualquer superfície fechada é igual à carga total envolvida por essa superfície (Lei de Gauss) O trabalho de Gauss consistiu na formulação matemática do enunciado acima, que já era conhecido e entendido como óbvio. Em outras palavras, o fluxo total de qualquer escoamento é emanado por uma fonte envolvida por uma superfície fechada, não importando sua forma geométrica. Gostaríamos apenas de frisar aqui que a superfície tem que ser fechada para que possa envolver toda a fonte e se deixe atravessar pelo fluxo total resultante. Eletricamente, imagine uma distribuição de cargas envolvida por uma superfície fechada S (figura 2.1). y ∆S θ D Q Figura 2.1 Distribuição de cargas no interior de uma superfície gaussiana. x Vamos agora tomar um incremento vetorial de superfície ∆rS admitido como plana. Este vetor terá uma orientação no espaço, perpendicular ao plano que tangencia a superfície S neste ponto (centro de ∆rS ) apontando para fora da superfície fechada. A densidade de fluxo que atravessará a superfície elementar ∆rS é dada pelo vetor r genericamente formando um ângulo θ com Ds ∆ r S em cada ponto da superfície fechada em questão. O fluxo elementar que atravessa ∆rS será então: ∆φ ∆ ∆= =r rD S D S Cs s. cosθ ( ) (2.1) ∆φ é uma grandeza (escalar), resultante do produto escalar entre os vetores rDs e ∆ r S . Nestas condições, o fluxo total que atravessa a superfície fechada S será então: φ φ= =∫ ∫d D dS Css r r. ( ) (2.2) A integral resultante é realizada sobre uma superfície fechada (daí o símbolo ∫S ), fruto de uma integral dupla. Esta superfície é freqüentemente chamada de superfície gaussiana. Assim, a Lei de Gauss é então matematicamente formulada como: UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 12 r rD dS Q Cs s . (∫ = ) (2.3) A carga envolvida pode ser de qualquer tipo: cargas pontuais discretas, linhas de cargas, distribuição superficial de cargas ou uma distribuição volumétrica de cargas. Desta forma, a Lei de Gauss pode ser generalizada em termos de cargas em distribuições uniformes respectivamente volumétricas, superficiais ou lineares, conforme abaixo: )C(dLSd.D )C(dSSd.D )C(dvSd.D L Ls s S Ss s v vs s ∫∫ ∫∫ ∫∫ ρ= ρ= ρ= rr rr rr (2.4) A integral realizada sobre o lado esquerdo da equação pode ter um domínio diferente daquela realizada sobre o lado direito. Daí ressaltarmos na expressão intermediária o domínio S da superfície fechada daquele S contendo a carga superficial. Exemplo 2.1 Calcular o fluxo que atravessa a superfície de uma esfera de raio a metros, produzido por uma carga elétrica Q coulombs, concentrada no centro dessa esfera. Solução: Sabemos que na superfície de uma esfera de raio a, a densidade de fluxo elétrico é: r D Q a a C ms r= 4 2 2 π . $ ( / ) O elemento diferencial de área, conforme Fig. 2.2., em coordenadas esféricas é: θdφdθsenaθdφdθsenrdS 22 == Figura 2.2 Elemento diferencial de área O produto escalar SDs rr ∆⋅ é então dado por: ( ) θφθπ=θφθ⋅⎟⎠⎞⎜⎝⎛ π ddsen4Qaˆ.ddsenaaˆ.a4 Q r2r2 Os limites de integração foram escolhidos de modo que a integração seja realizada sobre a superfície uma única vez. A integral de superfície será: ∫ ∫π π φθθπ0 20 ddsen4Q Integrando primeiro em relação a φ e em seguida em relação a θ )C(Q)cos( 2 Qdsen 2 Q 00 =θ−=θθ π ∫π Ficando pois comprovado que: r r D dS Q Cs s . (∫ = ) Exemplo 2.2 Calcular o fluxo elétrico total que atravessa uma superfície esférica, de centro na origem, possuindo raio r = 10 m, sendo que a distribuição de carga é composta por uma linha de cargas ao longo do eixo z, definida por ρl = 2e2|z| C/m na região –2 ≤ z ≤ 2 m e ρl = 0 no restante. Solução: UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMOI 13 Existem duas maneiras de se resolver este queles que adoram resolver integrais queles um pouco mais espertos podem ntão: problema: A complicadas podem encontrar uma expressão para o campo elétrico em um ponto qualquer da superfície de raio r, e integrá-la em toda a superfície. A simplesmente integrar a função de distribuição de cargas ao longo de z, de -2 a 2 m. A lei de Gauss garante que os resultados serão os mesmos, para qualquer dos dois casos. E Q e dzz= −∫ 2 222 ( ) C omo a função módulo não é contínua, vamos C C dividir a integral acima em duas integrais: Q e dz e dzz z= +− −∫ ∫2 2220 202 ( ) Q e ez z= − +− − 2 2 2 0 0 2 107 194 4 , ( ) φ 2.2 - A RELAÇÃO CONSTITUTIVA ENTRE O FLUXO E O CAMPO ELÉTRICO Q e e C= − + + − = =1 1 Sabe-se que uma carga pontual cria um campo elétrico no vácuo expresso em coordenadas esféricas pela equação vetorial (1.6). Por outro lado, o exemplo 2.1 define o fluxo que este mesmo campo elétrico cria ao atravessar uma superfície esférica, portanto fechada. Uma análise imediata mostra que existe uma relação entre a densidade de fluxo D e o campo elétrico correspondente E definida pela permissividade ε0 do meio, no caso, o espaço livre ou o vácuo. Vetorialmente esta relação constitutiva pode ser dada por: ED 0 rr ε= (2.5) xemplo 2.3 a linha infinita de cargas. Utilizando a Lei de Gauss encontre a expressão para o E Considere um campo elétrico em um ponto do espaço, criado por esta distribuição linear. Solução: e discussões anteriores sobre o campo Portanto: D elétrico de uma linha infinita de cargas, vimos que o campo elétrico é radial e só varia com o raio r. r D D a C mr r= . $ ( / )2 A superfície gaussiana selecionada é um plicando a Lei de Gauss: cilindro de raio r e comprimento L, com eixo coincidente coma própria linha de cargas. A r r Q D dS D dS dS d lado topo base = = + +∫ ∫ ∫∫ S. 0 0 = ∫ ∫ π L2DrdzrdDQ L 0 2 0 π=φ D Q rL r C ml= = 2 2 2 π ρ π ( / ) r r E D a r a N Cr l ρ r= =ε πε0 02 . $ . $ ( / ) D ∆S D D∆S r L ∆S Figura 2.3 Superfície gaussiana em torno de uma linha infinita de cargas UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 14 Exemplo 2.4 ncontrar a expressão para o campo elétrico produz o por uma distribuição superficial infinita de E id cargas. Solução: Da di o létric (curva) estará acima da superfície carregada e a outra metade abaixo dela. scussão do capítulo anterior, o camp o produzido por uma distribuição e superficial e plana de cargas terá a direção da normal à superfície, no ponto onde se deseja calcular o campo elétrico. A superfície gaussiana utilizada será um pequeno cilindro, de altura h e área de base ∆S. Uma das metades da superfície cilíndrica Aplicando então a Lei de Gauss: r r Por este exemplo chegamos à conclusão (em ponto, provocado por uma distribuição superfic Q D dS dS D dS lado topo = = +∫ ∫∫ . 0 D dSbase+ ∫ ρs S D S D S∆ ∆ ∆= + D s= ρ 2 n S aˆ 2 ρD =r ; n 0 S aˆ ε2 ρE =r princípio absurda) de que o campo elétrico em um ial de cargas, não depende da distância entre o ois condutores cilíndricos coaxiais, para efeitos práticos são considerados como sendo infinitos. O ponto e a superfície. Não se esqueça de que este raciocínio foi feito para uma distribuição infinita de cargas, que não existe na prática. Uma distribuição superficial finita de cargas pode ser considerada como infinita se a distância do ponto de interesse à distribuição superficial de cargas for muito pequena, comparada com as dimensões da mesma. Para pontos mais distantes, a distribuição não exibe simetria especular e não pode ser considerada infinita, o que invalida a expressão acima. Exemplo 2.5 D interno é maciço, de raio a. O cilindro externo, oco, possui raio interno b e raio externo c. Uma carga 2de densidade superficial ρs (C/m ) é colocada na superfície do condutor interno. Avaliar o campo elétrico em todo o espaço, a partir do centro dos cilindros (r = 0) até o exterior onde r > c. Solução: Quatro superfícies gaussianas (fechadas) concêntricas de comprimento L são a n s S1 possui um raio r < a. cilíndricas tr çadas e as fronteiras entre elas serão por quanto ignoradas. primeira dela e A Portanto: 0SdDQ 1S =⋅= ∫ rr Como a carga está dr istribuída na superfície onde r = a, E = 0 no interior do cilindro interno. r D ∆rS ∆rS rD Figura 2.4 Superfície gaussiana para uma distribuição superficial de cargas. S2 S3 S1 a c b E Figura 2.5 Superfícies gaussianas em um cabo coaxial S4 ELETROMAGNETISMO I 15 A segunda superfície gaussiana S2 possui um raio a < r < b. r ∫∫ ρ=⋅ )a(S )a(S 2S dSSdD r tegral é calculada sobre a superfície gaussiana de raio r e a segunda sobre a superfície do condutor interno com raio a. Seguindo os exemplos anteriores, A carga total envolvida por S2 e a de fluxo nesta superfície fechada são respectivamente: A primeira in observamos que a densidade de fluxo possui o seu módulo constante em função da distância radial r. Portanto para ρS(a) = ρS vem: D rd dz ad dzs LL φ ρ φπ π 0 2 0 2 00 ∫ ∫∫∫ = D rL aLs2 2π ρ π= densidade SaL2Q ρπ= =D a r C msρ )2 Se a carga for expressa por unidade de comprimento, sua densidade linear ficará: ( / sl a2L ρπ=ρ Q correspondente densidade de fluxo será = A )m/C( r2r a a2 D 2ll π ρ=π ρ= E o campo elétrico será expresso por r r E D r a N Cl r= =ε ρ πε0 02 . $ ( / ) expressão idêntica à obtida para uma linha infinita eletricamente carregada. A terceira superfície gaussiana S3 é um posta de igual magnitude na superfície cilindro com raio r, tal que b < r < c. A carga interna com densidade ρs induz uma carga o interna do condutor externo de raio b, e a carga total envolvida por esta superfície é nula. Portanto: 0SdD =⋅∫ r 3S r no interior do cilindro externo mbém é nulo. A quarta superfície gaussiana S4 é um cilindro maior de raio r > c. A carga induzida na arga oposta a ela de mesma agnitude na superfície externa do condutor O ta campo elétrico superfície interna do condutor externo por sua vez induz uma c m externo, com raio c. Portanto: QSdD 4S =⋅∫ rr rr ∫∫ ρ=⋅ )c(S )c(S 4S dSSdD cL2rL2D )c(S πρ=π )m/C( r cD 2)c(Sρ= Como as cargas induzidas são iguais: bL2aL2 )b(S)a(S πρ=πρ bL2cL2 )b(S)c(S πρ=πρ onde abc )a(S)b(S)c(S ρ=ρ=ρ Embor tens a as cargas sejam iguais em idade, as densidades superficiais não o ão. Desta forma in s )m/C(aD 2lρ=ρ= r2r)a(Sext π relação constitutiva teremos o campo elétrico externo dado por Aplicando a r r E D r a N Cext ext l r= =ε ρ πε0 02 Esta é a mesma exp essão pa . $ ( / ) ra o campo produzido pelo condutor interno. O condutor externo não exerce influência sobre o campo elétrico produzido pela distribuição de cargas do condutor interno. r UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 16 Em outras palavras, externamente tudo se passa como se o campo fosse criado por umaistribuição linear de cargas ao longo do eixo .3 - COMENTÁRIOS d do cabo coaxial. Graficamente: r (m)a b c E (N/C) Figura 2.6 Comportamento do campo elétrico em função de r. 2 A lei de Gauss fornece o fluxo elétrico total que atravessa uma superfície envolvendo uma istribuição de cargas, ou seja, determina o fluxo criado por um dado campo elétrico resultante. A mos concluir que somente o conhecimento da imetria do problema nos permite escolher superfícies gaussianas adequadas. O não conhecimento diferente, omo será visto no próximo capítulo. d intensidade ou módulo deste campo elétrico pode ser obtida pela aplicação direta da lei de Gauss e o emprego da relação constitutiva entre a densidade de fluxo e o correspondente campo elétrico. Neste caso, para que o vetor do campo elétrico seja conhecido, torna-se necessário o conhecimento da disposição geométrica das suas linhas de força. Pelos exemplos que acabamos de resolver, pode s dessa simetria torna a solução do problema pela Lei de Gauss extremamente complicada. Problemas que não possuem simetria conhecida são resolvidos de uma forma um pouco c UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 17 EXERCÍCIOS 1) Determine o fluxo que passa através de uma superfície fechada S envolvendo as cargas pontuais Q1 = 30 nC, Q2 = 140 nC e Q3 = ─ 70 nC. 2) Uma superfície gaussiana qualquer envolve duas cargas iguais em módulo e polaridades opostas. Há fluxo atravessando-a? Determine este fluxo em caso afirmativo. 3) O eixo x contém uma distribuição linear uniforme de carga ρL = 50 nC/m. Qual o fluxo elétrico por unidade de comprimento que passa através de uma fita definida pelo plano z = 3 m limitado por y = ± 2 m? 4) Generalize para o problema anterior o caso de uma fita plana, paralela à linha carregada, mas que não possui simetria em relação a ela. 5) Dado o vetor densidade de fluxo ou deslocamento elétrico yx aˆ3aˆx2D += r (C/m2), calcule o fluxo total que atravessa um cubo de arestas com 2 m, centrado na origem de um sistema cartesiano tri-ortogonal e com as arestas paralelas aos eixos das coordenadas. 6) O eixo z de um sistema coordenado contém uma distribuição uniforme de cargas, com densidade ρl = 50 nC/m. Calcule o campo Elétrico r E em (10,10,25) m, expressando-o em coordenadas cartesianas e cilíndricas. 7) Existem duas configurações lineares de carga, com densidades iguais, ρl = 6 nC/m, paralelas ao eixo z, localizadas em x = 0 m , y = ±6 m. Determine o campo elétrico r em (–4,0,z) m. E 8) Uma superfície fechada S envolve uma distribuição linear finita de cargas definida pelo intervalo 0 ≤ L ≤ π m, com densidade de cargas ρl = –ρ0 sen (L/2) C/m. Qual é o fluxo total que atravessa a superfície S ? 9) Na origem de um sistema de coordenadas esféricas existe uma carga pontual Q C. Sobre uma casca esférica de raio a uma carga (Q'- Q) C está uniformemente distribuída. Qual é o fluxo elétrico que atravessa a superfície esférica de raio k m, para k < a e k > a ? 10) Uma área de 40,2 m2 sobre a superfície esférica de raio 4 m é atravessada por um fluxo de 15 µC de dentro para fora. Quanto vale a carga pontual localizada na origem do sistema relacionado a tal configuração esférica? 11) Uma carga pontual Q = 6 nC está localizada na origem de um sistema de coordenadas cartesianas. Quanto vale o fluxo Ψ que atravessa a porção do plano z = 6 m limitada pelo intervalo –6 ≤ y ≤ 6 m; –6 ≤ x ≤ 6 m ? 12) Dado que r D e a z b a C m r b r z= − − 30 2 2( / ) em coordenadas cilíndricas, calcule o fluxo total que sai da superfície de um cilindro circular reto descrito por r = 2b m, z = 0, z = 5b m. 13) Na origem de um sistema de coordenadas esféricas existe uma carga pontual Q = 1500 pC. Uma distribuição esférica concêntrica de cargas elétricas de raio r = 2 m tem uma densidade ρs = 50π pC/m2. Qual a densidade de cargas de outra superfície esférica, com r = 3 m, concêntrica com o sistema, para resultar D = 0 em r > 3 m? UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 18 14) Um capacitor de placas paralelas, tendo o ar como dielétrico e permissividade ε0, contém uma distribuição superficial de carga ρS C/m2 na armadura positiva. Por indução, existe uma carga de mesma distribuição e polaridade oposta na armadura negativa. Desprezando o efeito de borda (espraiamento do campo elétrico), use a lei de Gauss para calcular o campo E para a região entre as placas e fora delas. 15) Uma película infinita com densidade uniforme ρs = (10-9/6π) C/m2 está localizada no plano definido por z = – 5 m. Outra película com densidade ρs = (–10-9/6π) C/m2 está localizada em outro plano z = 5 m . Calcule a densidade linear uniforme, ρl , necessária para produzir o mesmo valor de r E em (5,3,3) m, supondo que esta última se localize em z = 0, y = 3? 16) Certa configuração engloba as seguintes duas distribuições uniformes. Uma película carregada com ρs = -60 nC/m2, uniforme, em y = 3 m, e uma reta uniformemente carregada com ρl = 0,5 µC/m, situada em z = –3 m, y = 2 m. Aonde o campo r E será nulo ? 17) Tem-se a seguinte distribuição volumétrica de cargas: – 2 µC/m3 onde –2 < y < –1 m, 2 µC/m3 para 1 < y < 2 m e ρ = 0 para todo o restante. Use a lei de Gauss para determinar D em todo o espaço. Esboce o gráfico Dy vs. y. UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino 1 2 3 4 5 6 ELETROMAGNETISMO I 18 DIVERGÊNCIA DO FLUXO ELÉTRICO E TEOREMA DA DIVERGÊNCIA 3 3.1 - A LEI DE GAUSS APLICADA A UM ELEMENTO DIFERENCIAL DE VOLUME Vimos que a Lei de Gauss permite estudar o comportamento do campo elétrico devido a certas distribuições especiais de carga. Entretanto, para ser utilizada, a Lei de Gauss exige que a simetria do problema seja conhecida, de forma a resultar que a componente normal do vetor densidade de fluxo elétrico em qualquer ponto da superfície gaussiana seja ou constante ou nula. Neste capítulo pretendemos considerar a aplicação da Lei de Gauss a problemas que não possuem simetria. Suponhamos um volume incremental ∆v extremamente pequeno, porém finito e envolto por uma superfície fechada S. Se assumirmos uma densidade de carga uniforme neste incremento de volume, a carga ∆Q será o produto da densidade volumétrica de carga ρ pelo volume ∆v. Pela Lei de Gauss, podemos escrever: vSdD S ∆ρ=⋅∫ rr (3.1) Dx + (∂Dx/∂x)∆x ∆y ∆x ∆z z P Dz + (∂Dz/∂z)∆z Dz Dy Dy + (∂Dy/∂y)∆y x y Dx Figura. 3.1 Volume incremental em torno do ponto P. Vamos agora desenvolver a integral de superfície da equação acima, sobre uma superfície gaussiana elementar que engloba o volume ∆v. Este volume está representado na figura 3.1, e é formado pelas superfícies incrementais ∆x.∆y, ∆y.∆z, e ∆z.∆x. Considere um ponto P(x, y, z) envolvido pela superfície gaussiana formada pelas superfícies incrementais. A expressão para a densidade de fluxo elétrico r D no ponto P‚ em coordenadas cartesianas será dada por: z0zy0yx0x aˆ.Daˆ.Daˆ.DD ++= r (3.2) A integral sobre a superfície fechada é dividida em seis integrais, uma sobre cada lado do volume ∆v. ∫∫∫∫∫∫∫ +++++=⋅ basetopo.dir.esqatrásfrente S SdD rr (3.3) Para a primeira delas, na parte da frente, temos: UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 19 z.y.Daˆz.y.DSD xxfrentefrentefrentefrente ∆∆=∆∆=∆⋅≅∫ rrr (3.4)(Dx é a componente de r D normal ao plano yz). Aproximando o resultado Dx.∆y.∆z pelos dois primeiros termos da expansão em série de Taylor em torno de Dx0 no ponto P vem: )zyD( x2 xzyDzyD x0xx ∆∆∂ ∂∆+∆∆=∆∆ (3.5) Neste caso, como ∆y e ∆z são independentes em relação a x: z.y. x∂ D∂. 2 xD x0xfrente ∆∆⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ ∆+=∫ (3.6) Consideremos agora a integral na superfície da parte de trás, : ∫atrás ( ) ⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ ∆∆∂ ∂∆−∆∆−=−∆∆=∆⋅=∫ )zyD(x2xzyDaˆzyDSD x0xxatrásatrásatrásatrás rrr (3.7) Nesta face o vetor unitário âx em ∆s tem direção negativa. Da mesma forma, considerando a independência de ∆y e ∆z em relação a x, temos: z.y x D . 2 xD x0xatrás ∆∆⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ ∂ ∂∆+−=∫ (3.8) Combinando as duas integrais ao longo do eixo x: z.y.x. x∂ D∂ x atrásfrente ∆∆∆≅+∫∫ (3.9) Utilizando o mesmo raciocínio para as outras faces, as integrais restantes ficam: z.y.x. y∂ D∂ y .esq.dir ∆∆∆≅+∫∫ (3.10) z.y.x. z∂ D∂ z basetopo ∆∆∆≅+∫∫ (3.11) Assim a equação (3.3) fica: v z D y D x DSdD zyx S ∆⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ ∂ ∂+∂ ∂+∂ ∂≅⋅∫ rr (3.12) A expressão acima diz que o fluxo elétrico que atravessa uma superfície fechada muito pequena é igual ao produto entre o volume compreendido por essa superfície e a soma das derivadas parciais das componentes do vetor D r em relação às suas próprias direções. Igualando-se as equações 3.1 e 3.12, e em seguida dividindo todos os termos por ∆v, tem-se: UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 20 ρ=∂ ∂+∂ ∂+∂ ∂=∆ ⋅∫ z D y D x D v SdD zyxS rr (3.13) Tratando-se de uma região pontual, podemos passar ao limite, com ∆v tendendo a zero, obtendo: ρ=∂ ∂+∂ ∂+∂ ∂=∆ ⋅ →∆ ∫ z D y D x D v SdD 0v lim zyxS rr (3.14) 3.2 - DIVERGÊNCIA A operação indicada pela equação 3.14 não é pertinente apenas ao fenômeno elétrico ora em estudo. Surge tantas vezes no estudo de outras grandezas físicas descritas por campos vetoriais, que os cientistas e os matemáticos do século passado resolveram designá-la com um nome especial e genérico: Divergência. Matematicamente, a divergência de um campo vetorial A r pode ser assim definida: v SdA 0v lim AdivAdeaDivergênci S ∆ ⋅ →∆== ∫ rrrr (3.15) Conceito A divergência do vetor densidade de fluxo A r (que representa um fenômeno físico qualquer) é a variação do fluxo através da superfície fechada de um pequeno volume que tende a zero A divergência é uma operação matemática sobre um vetor, cujo resultado é um escalar. É definida como sendo a soma das derivadas parciais das componentes do vetor, cada uma em relação à sua própria direção. A partir da definição da divergência e da equação 3.14, apresentamos a 1ª equação de Maxwell. Em termos pontuais: ρD.div =r (3.16) A equação 3.14 estabelece que o fluxo elétrico por unidade de volume deixando um volume infinitesimal é igual à densidade volumétrica de carga neste ponto. Esta equação também é conhecida como a forma diferencial da Lei de Gauss, expressa como uma soma de derivadas parciais espaciais ou direcionais. 3.3 - O OPERADOR ∇ (nabla) E O TEOREMA DA DIVERGÊNCIA O operador ∇ é definido como sendo o operador vetorial diferencial: zyx aˆ.z aˆ. y aˆ. x ∂ ∂+∂ ∂+∂ ∂=∇ (3.17) Realizando o produto escalar , tem-se: D r⋅∇ ( zzyyxxzyx aˆ.Daˆ.Daˆ.Daˆ.z∂∂aˆ.y∂∂aˆ.x∂∂D ++⋅⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ ++=⋅∇ r ) (3.18) Lembrando que o produto escalar entre vetores ortogonais é nulo, o resultado será: UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 21 z∂ D∂ y∂ D∂ x∂ D∂D zyx ++=⋅∇ r (3.19) ou ainda por (3.16): ρ=⋅∇ Dr (3.20) O operador ∇ não é utilizado somente em operações de divergência, mas também em outras operações vetoriais. Ele é definido somente em coordenadas cartesianas. A princípio, a expressão serviria apenas para se calcular as derivadas parciais do divergente do vetor D r⋅∇ rD em coordenadas cartesianas. Entretanto, num abuso de linguagem, a expressão como sendo a divergência do vetor densidade de fluxo elétrico é consagrada e pode ser utilizada mesmo quando o vetor é definido em outros sistemas de referência (ou coordenadas). D r⋅∇ Em coordenadas cilíndricas: ( ) z DD r 1 r rD r 1D zr ∂ ∂+∂φ ∂+∂ ∂=⋅∇ φr (3.21) Em coordenadas esféricas: ( ) ( ) φθ+θθθ+=⋅∇ φθ ∂D∂rsen1senD∂∂rsen1Drr∂∂r1D r22r (3.22) Entretanto, deve-se lembrar, porém, que ∇ não possui uma forma especifica para estes tipos de sistemas de coordenadas. Finalmente, vamos associar a divergência à Lei de Gauss, para obter o teorema da divergência. Lembrando que: ∫∫ ρ=⋅ volS dv.SdD rr e ρ=⋅∇ Dr podemos escrever: ( )∫∫ ⋅∇=⋅ volS dvDSdD rrr (3.23) A equação 3.23 é o Teorema da Divergência ou teorema de Gauss (para diferenciar da Lei de Gauss). Estabelece que a integral da componente normal de qualquer campo vetorial sobre uma superfície fechada é igual à integral da divergência deste campo através do volume envolvido por essa superfície fechada. Uma maneira simples de se entender fisicamente o teorema da divergência é através da figura 3.2. Um volume v, delimitado por uma superfície fechada S é subdividido em pequenos volumes incrementais, ou células. O fluxo que diverge de cada célula converge para as células vizinhas, a não ser que a célula possua um de seus lados sobre a superfície fechada S. Então a soma da divergência da densidade de fluxo de todas as células será igual à soma do fluxo liquido sobre a superfície fechada que envolve o volume em questão. UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 22 Figura 3.2 Volume v subdividido em volumes incrementais. Exemplo 3.1 Calcular os dois lados do teorema da divergência, para uma densidade de fluxo elétrico y 2 x 2 aˆ.yxaˆ.xyD +=r , em um cubo de arestas igual a 2 unidades. Solução: Vamos colocar a origem do sistema de coordenadas cartesianas em um dos vértices. O vetor D r possui componentes nas direções x e y. Portanto, a princípio, a integral de superfície deve ser calculada sobre 4 lados do cubo: ∫ ∫∫∫∫ +++= dir.esqatrásfrenteSd.D rr ∫ ∫∫ == 20 20 xx2frente 3 32a.dz.dya.y.2 ∫ ∫∫ =−= 20 20 xx2atrás 0)a.(dz.dy.a.y.0 ∫ ∫∫ =−= 20 20 yy2.esq 0)a.(dz.dx.a.x.0 ∫ ∫∫ == 20 20 yy2.dir 3 32a.dz.dx.a.x.2 3 64Sd.D =∫ rr Para o outro lado, a divergência do campo fica: z D y D x DD zyx ∂ ∂+∂ ∂+∂ ∂=⋅∇ r 22 yxD. +=∇ r O outro lado da equação, numa integração de volume passa a ser escrito: ( ) ( )∫ ∫ ∫∫ +=⋅∇ 20 20 20 22vol dz.dy.dxyxdvDr ( ) ( )∫ ∫∫ +=⋅∇ 20 20 22vol dx.dyyx2dvDr ( ) ⎟⎠⎞⎜⎝⎛ +=⋅∇ ∫ ∫∫ 20 20 22vol dyydxx4dvDr ( )∫ =⋅∇vol 364dvDr Este capítulo apresenta uma generalização da lei de Gauss, aplicada pontualmente a volumes elementares com o recurso de um operador vetorial sobre a densidade de fluxo originado pelo campo elétrico proveniente de uma distribuição volumétrica de cargas. A equação (3.16),ou a (3.20) escrita de outra forma, nos mostra um fluxo divergente do vetor densidade de fluxo elétrico originado de uma carga elementar, de natureza positiva, indicada pela sua densidade volumétrica. Genericamente, se o divergente de um campo vetorial for positivo, este indica a presença de uma fonte de fluxos divergentes do ponto dado. O divergente negativo, por sua vez, indica a presença de um sorvedouroou de uma fonte de fluxos convergentes ao ponto. Não havendo fonte geradora de fluxos o divergente do campo no ponto correspondente será nulo. UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 23 EXERCÍCIOS 1) Dado r A x y a x y ax y= + + −( ). $ ( ). $3 2 2 calcule ∇. r A . 2) Deduza a expressão do divergente de um campo vetorial D r para os sistemas de coordenadas cilíndricas e esféricas. 3) Dado z0 aˆzD ρ= r para a região definida por –1 ≤ z ≤ 1 e z0 aˆ)|z|/zρ(D = r para os demais pontos do espaço, encontre a densidade de cargas elétricas. 4) Para a região 0 < r ≤ 2 m (coordenadas cilíndricas), rr5,01r5,01 aˆ)er4e2r4(D −−−− ++= r , e para r > 2m, r1 aˆ).r057,2(D −= r . Obter a densidade volumétrica de cargas ρ para ambas as regiões. 5) Uma linha uniforme de cargas de densidade ρ l pertence ao eixo z. (a) Mostre que 0D. =∇ r em qualquer lugar, exceto na linha de cargas. (b) substitua a linha de cargas por uma densidade volumétrica de cargas ρ0 em 0 ≤ r ≤ r0 m. Relacione ρl com ρ0 modo que a carga por unidade de comprimento seja a mesma. Determine então D. r∇ em toda parte. 6) A região r ≤ 2 m (coordenadas esféricas) possui um campo elétrico r0 5 aˆ)/10xr5(E ε= −r (V/m). Determine a carga envolvida pela casca definida por r = 2 m. 7) Mostre e justifique porque o divergente do campo elétrico gerado por uma distribuição uniforme e superficial de cargas é nulo. 8) Mostre que E. r∇ é zero para o campo de uma linha uniformemente carregada. Mostre também que o campo D r devido a uma carga pontual tem uma divergência nula. Discuta o problema fisicamente, explicando o motivo de tais comportamentos. 9) Dado r 3 aˆ).4 r10(D=r em coordenadas cilíndricas, calcule cada um dos lados do teorema da divergência, para o volume limitado por r = 3 m, z = 2 m e z = 12 m 10) Dado o campo zr r aˆz2aˆe30A −= −r , calcule ambos os lados do teorema da divergência para o volume definido por r = 2, z =0 e z = 5. 11) Dado θr aˆ.θcos2aˆ.θsen10D += r , pede-se calcular ambos os lados do teorema da divergência, para o volume limitado pela casca r = 3 m. 12) Dado r 3 aˆ)4/r10(D =r (C/m2), calcule ambos os lados do teorema da divergência para o volume limitado por r = 1m, r = 2m, z = 0 e z = 10m. UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 24 13) Dipolo Elétrico, ou simplesmente dipolo, é o nome dado ao conjunto de duas cargas pontuais de igual magnitude e sinais opostos, separadas por uma distância pequena comparada com a distância ao ponto P onde se deseja conhecer o campo elétrico. O ponto P descrito em coordenadas esféricas (figura abaixo), por r, θ e φ = 90 graus é visto em simetria azimutal. As cargas positivas e negativas estão separadas por d, e localizadas em (0,0,d/2) m e (0,0,-d/2). Se o campo no ponto P é )aˆ.θsenaˆ.θcos2( rπε4 QdE θr3 0 +=r , mostre que a divergência deste campo é nula. y x P r R1 R2 - Q Q θ d Figura para o problema 13. UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino 1 2 3 4 5 6 7 ELETROMAGNETISMO I 25 TRABALHO E POTENCIAL ELETROSTÁTICO 4 Nos capítulos anteriores nós investigamos o campo elétrico devido a diversas configurações de cargas (pontuais, distribuição linear, superfície de cargas e distribuição volumétrica de cargas), a partir da Lei de Coulomb, da Lei de Gauss e seu conseqüente Teorema da Divergência. No primeiro caso, as expressões para o vetor intensidade de campo elétrico eram obtidas à custa de integrações que, conforme a complexidade do problema, poderiam se tornar bastante complicadas. Já a Lei de Gauss, mais simples de ser utilizada, requer o conhecimento da simetria do problema. Nos casos em que isso não acontecia, a solução pela Lei de Coulomb ainda seria a mais recomendável. Ainda quando a simetria não podia ser atendida, o Teorema da Divergência era aplicado pontualmente, numa extensão da Lei de Gauss aplicada a todo um volume envolto por uma superfície fechada. Vamos agora procurar outra maneira de se resolver problemas de eletrostática, dessa vez a partir de uma função escalar, conhecida como potencial eletrostático, ou campo potencial. 4.1 - TRABALHO ENVOLVIDO NO MOVIMENTO DE UMA CARGA PONTUAL EM UM CAMPO ELÉTRICO Imagine um campo elétrico devido à presença de uma configuração de cargas qualquer (desde a mais singela carga pontual até as mais complexas distribuições de cargas lineares, superficiais ou volumétricas). Desta forma, uma carga pontual de prova Q é colocada nesta região e sobre ela estará agindo uma força de origem eletrostática, dada por: )N(EQFe rr = (4.1) Se esta carga for deixada em um ponto desta região de campo elétrico ela será acelerada e se deslocará até uma distância infinita, onde a ação da força agente sobre ela não se faça mais sentir. Se quisermos mover essa carga contra a ação do campo elétrico, temos de exercer uma força mínima de intensidade igual àquela exercida pelo campo elétrico, mas com direção oposta, isto é, na direção do movimento. Isso exige o dispêndio de energia, ou seja, a realização de um trabalho (resistente) pela força externa aplicada na carga. Se o movimento desta carga se dá no sentido do campo elétrico, o dispêndio de energia é negativo, ou seja, a fonte externa não realiza trabalho; este é realizado pelo campo elétrico. Vamos supor agora o movimento da carga Q de uma distância elementar dL r no campo elétrico r uniforme, conforme pode ser mostrado pela figura 4.1. O gasto desta energia incremental dW será expresso pelo produto escalar da força aplicada E eFF rr −= pela distância: Assim, LdEQdW rr ⋅−= (4.2) FeF Q E Figura. 4.1 Carga Q em um campo elétrico E. UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 26 Como uma conseqüência e pela equação acima, podemos perceber facilmente que se desejarmos mover a carga perpendicularmente ao campo elétrico, o trabalho realizado será nulo. Considerando uma trajetória finita, o trabalho realizado pela força externa para mover uma carga pontual Q imersa num campo elétrico é dado pela integral: E r )J(Ld.EQW final.inic∫−= rr (4.3) Exemplo 4.1 Dado o campo elétrico zyx 2 aˆ.y2aˆ.z2aˆ.x3E ++=r (N/C), determine o trabalho realizado para se mover uma carga de 20 µC ao longo de um percurso incremental 10-4 m de comprimento, na direção de localizado no ponto (2, –2, –5) m. zyx aˆ.64,0aˆ.48,0aˆ.6,0 −+− Solução: No ponto (2, –2, –5) )C/N(aˆ.4aˆ.10aˆ.12E aˆ).2.(2aˆ).5.(2aˆ).2.(3E zyx zyx 2 −−= −+−+= r r Para LdEqdW rv ⋅−= vem: Como 1aˆ.64,0aˆ.48,0aˆ.6,0 zyx =−+− )aˆ.64,0aˆ.48.0aˆ.6,0(10 )aˆ.4aˆ.10aˆ.12.(10.20dW zyx 4 zyx 6 −+− ⋅−−−= − − nJ88,18)56,28,42,7.(10x2dW 9 =+−−−= − 4.2 - INTEGRAL DE LINHA Na análise vetorial, uma integral de linha é definida como sendo a integral do produto escalar de um campo vetorial por um vetor deslocamento diferencial Ld r ao longo de um caminho determinado, como é o caso da equação 4.3 expresso na seção anterior. Para entender melhor esse conceito, imagine que queiramos calcular o trabalho para mover uma carga Q em um campo elétrico E v ‚ partindo do ponto B e se dirigindo ao ponto A, percorrendo uma trajetória determinada na figura 4.2. A∆L4 EL4 E∆L3 EL3∆L2 E EL2∆L1 E EL1 EB Figura4.2 Carga pontual Q movendo-se de B até A por um caminho estabelecido. O caminho é então segmentado por inúmeros comprimentos elementares retilíneos L r∆ . A componente do campo elétrico ao longo de cada segmento incremental é multiplicada pelo tamanho deste segmento, e os resultados para todos os segmentos são somados. Obviamente isso é um somatório. A integral é obtida quando o comprimento de cada segmento tender a zero. UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 27 Matematicamente para n segmentos retilíneos: )L.E.....L.EL.E(QW nLn22L11L ∆++∆+∆−= (4.4) ou, em notação vetorial: )LE...LELE(QW nn2211 rrrrrr ∆⋅++∆⋅+∆⋅−= (4.5) Se o campo for uniforme: EE...EE n21 rrrr ==== (4.6) )L...LL(E.QW n21 rrrr ∆++∆++∆⋅−= (4.7) A soma dos segmentos vetoriais entre parêntesis corresponde ao vetor deslocamento, dirigido do ponto B ao ponto A, r L . Portanto: BA BAL.EQW rr ⋅−= (4.8) Devemos notar que neste caso, onde o campo elétrico é uniforme, o trabalho realizado para movimentar a carga Q do ponto B ao ponto A independe do caminho tomado, dependendo apenas de Q, BALeE rr , o vetor que vai de B até A. Veremos mais tarde que isso é verdade para qualquer campo elétrico estático, invariante no tempo. Exemplo 4.2 Calcular o trabalho realizado para mover uma carga Q = - 10-5 C, imersa em um campo elétrico zy aˆ.z2aˆ.yE +−= r , ao longo do caminho definido pela reta y z+ = 2 , e ao longo do caminho definido pelas retas z = 0 me y = 0 m . Solução z Figura 4.3 Carga movendo-se por dois caminhos. (0,0,2) trajeto 1 trajeto 2 y (0,2,0) Para o trajeto 1 temos: Ld.EQdW rr−= )aˆ.dzaˆ.dy).(aˆ.z2aˆ.y(QdW zyzy ++−−= )zdz2ydy(QdW +−−= z2y2zy −=⇒=+ dzyd −= dz)z2(Q)zdz2)dz)(z2((QdW +−=+−−−−= )J(10x6) 2 zz2(10dz)z2(10W 5 2 52 0 5 2 0 −−− =+=+= ∫ Para o trajeto 2: W = W1 + W2 ydy10Qydy)aˆdy.aˆy(QdW 5yy1 −−==−−= UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 28 )J(10x2 2 y10ydy10W 5 2 50 2 5 1 2 0 −−− ==−= ∫ zdz210zdz2Q)aˆ.dz.aˆ.z2(QdW 5zz2 −=−=−= ∫ −−− === 20 5 2 55 2 10x42 z10x2zdz210W 2 0 )J(10x6WWW 521 −=+= Exemplo 4.3 Calcular o trabalho realizado para mover uma carga pontual positiva Q C, imersa no campo elétrico de uma linha de carga de densidade ρ l C/m do ponto r1 m ao ponto r2 m, conforme a figura abaixo. Solução: Figura 4.4 Carga imersa no campo de uma linha de cargas. ρl Sabemos que o campo elétrico devido a uma linha de cargas possui apenas a componente na direção radial. Em coordenadas cilíndricas: )C/N(aˆ. r2 aˆ.EE r 0 l rr πε ρ==r O comprimento diferencial do caminho em coordenadas cilíndricas é dado genericamente por: zr aˆ.dzaˆ.rdaˆ.drLd +φ+= φ r O trabalho diferencial será então: dr. r2 .QLdE.QdW 0 l πε ρ−=⋅−= rr Logo: ∫περ−= 21rr0l r dr 2 QW )J( r rln 2 QW 1 2 0 l πε ρ−= Como r2 é maior que r1, ln (r2/r1) é positivo e o trabalho realizado é negativo. Ou seja, a fonte externa que move a carga recebe energia. 4.3 - DIFERENÇA DE POTENCIAL E POTENCIAL ELETROSTÁTICO Se tomarmos a equação para o trabalho realizado para se mover uma carga Q em um campo elétrico, e a dividirmos pelo valor da carga Q, Teremos uma nova grandeza que denominaremos de diferença de potencial. Matematicamente: ∫ ⋅−== final.inic LdEQWPotencialdeDiferença rr (4.9) Em outras palavras, a diferença de potencial (ddp) pode ser definida como sendo o trabalho realizado para se mover uma carga unitária de um ponto a outro em um campo elétrico. Fisicamente indica a diferença entre dois níveis de energia passíveis de uma realização de trabalho numa região de campo elétrico, sobre uma carga quando aí colocada. A sua unidade é Joule por Coulomb, ou Volt (V). Se A é o ponto final e B o ponto inicial, a diferença de potencial VAB é dada por: dL = drar r2r1 UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 29 V(LdEVVV )final(A )inicial(BBAAB ∫ ⋅−=−= rr (4.10) No exemplo da linha de carga da última seção, o trabalho para se deslocar a carga de r 2 para r 1 é: )J( r rln 2 QW 1 2 0 l πε ρ= (4.11) O campo elétrico desta linha de carga cria uma diferença de potencial entre r 1 e r 2 dada por: )V( r rln 2Q WV 1 2 0 l 12 πε ρ== (4.12) Exemplo 4.4 Calcular a diferença de potencial entre os pontos r 1 e r 2 , r 2 > r 1 , devido a uma carga pontual de Q Coulombs positivos. Mostrar que ela independe das posições θ e φ. Solução: )V(LdEV 1 2 r r12 ∫ ⋅−= rr Em coordenadas esféricas φθ φθ+θ+= aˆdrsenaˆrdaˆdrLd r r rr2 0 aˆ.drLd;aˆ. r Q. 4 1E =πε= rr 2 0 r dr. 4 QLdE πε=⋅ rr ∫ πε−= 12rr 2012 r dr 4 QV 1r 2r 1 2 r 1 4 Q r dr 4 QV 0 r r 2 0 12 ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ πε=πε−= ∫ )V( r 1 r 1 4 QV 210 12 ⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ −πε= O potencial absoluto pode ser definido tomando um potencial de referência especificado que é considerado como tendo potencial zero. Usualmente esse potencial é tomado na superfície da terra ou no infinito. No exemplo anterior, se um dos pontos (ponto r2, por exemplo) estiver no infinito, o potencial (absoluto) no ponto r1 será: )V( r Q πε4 1V 10 1= (4.13) Se o potencial absoluto de A é VA, e o potencial absoluto de B é VB, a diferença de potencial VAB será então a diferença entre estes potenciais, ou seja: )V(VVV BAAB −= (4.14) 4.4 - O POTENCIAL DE UM SISTEMA DE CARGAS Para duas cargas pontuais, tomando-se o referencial dos potenciais no infinito, o potencial absoluto será: UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 30 )V( R Q R Q 4 1V 2 2 1 1 0 ⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ +πε= (4.15) Estendendo o raciocínio para n cargas vem: )V( R Q 4 1V n 1i i i 0 ∑ =πε = (4.16) Substituindo cada carga por ρ∆ : v )V( R v 4 1V n 1i i0 ∑ = ∆ρ πε= (4.17) Fazendo n → ∝ : )V( R dv 4 1V vol0 ∫ ρπε= (4.18) Para uma distribuição superficial de cargas: ∫ ρπε= s s0 )V(R dS 4 1V (4.19) Para uma distribuição linear de cargas: )V( R dL 4 1V L l 0 ∫ ρπε= (4.20) Exemplo 4.5 Calcular o potencial em um ponto no eixo de um anel de raio a m, conforme mostrado na figura 4.5, com uma distribuição linear de carga ρl C/m. Solução: V dL R Vl= ∫14 0πε ρ ( ) ∫∫ +πε ρ=+ρπε= dLza4za dL.4 1V 220 l22l0 )V( za2 a. za a2. 4 V 22 0 l 220 l +ε ρ= + π πε ρ= UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 31 P Figura 4.5 Anel de cargas. Exemplo 4.6 Resolver o exemplo anterior, considerando uma coroa circular de raio interno a m, raio externo b m e densidade superficial ρ s C/m2. Solução: )V( R dS. 4 1V S s 0 ∫ ρπε= dS r d dr R r z= =. . ;φ 2 2+ V rd dr r z s= +∫∫14 0 2 2πε ρ φ. . V d rdr r z s a b= +∫∫ρπε φ π 4 0 2 20 2 V rdr r z s a b= +∫ρε2 02 2 V r zs a b = +ρε2 0 2 2 V b z a zs= + − +⎡⎣⎢ ⎤ ⎦⎥ V ρ ε2 0 2 2 2 2 ( ) Figura. 4.6 Anel com distribuição superficial de cargas. ρs P ρl z a UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 32 EXERCÍCIOS 1) Calcule o trabalho necessário para movimentar uma carga pontual Q = -20 mC no campo da origem ao ponto (6,4,1) m, ao longo do percurso . )m/V(aˆ.x8aˆ).y4x(2E yx ++= r y9x 2 = 2) Calcule o trabalho necessário para movimentar uma carga pontual Q = 5 mC de (5 m, π, 0) a (3 m, π/2. 3 m), coordenadas cilíndricas, no campo )m/V(aˆ.z10aˆ).r10(E z5r5 += r . 3) Uma carga pontual de 0,6 nC está localizada no ponto (3,6,6) m. Calcule a diferença VAB, entre os pontos A(3,3,6) m e B(-3,3,6) m. 4) Se a referência de potencial nulo está em r = 12 m, e uma carga pontual Q = 0.6 nC ocupa a origem, encontre os potenciais em r = 8 m e r = 24 m. 5) Suponha que em um dia sujeito a instabilidades atmosféricas, a diferença de potencial entre a superfície da terra e a eletrosfera (digamos 25 km acima da superfície terrestre) seja de 600 kV. Um avião com 12 m de envergadura em suas asas está voando a 2600 m de altitude, com uma inclinação de 45° de suas asas. Calcule a diferença de potencial entre as extremidades das suas asas. 6) Três cargas pontuais de 2 nC ocupam os vértices de um triângulo eqüilátero de 2 m de lado. Calcule o potencial em um ponto 2 m acima do plano do triângulo e no eixo de seu centro geométrico. 7) Uma distribuição linear de cargas com densidade ρ l = 1 nC/m ocupa o perímetro de um quadrado de 5 m de lado. Calcule o potencial no ponto situado 6 m acima do quadrado, no eixo de seu centro. 8) Desenvolva uma expressão para o potencial num ponto distante radialmente d m do ponto médio de uma distribuição linear de cargas finita, de comprimento L m e de densidade uniforme ρl (C/m). Comprove a dedução da expressão, pelo desenvolvimento empregado no exercício anterior. 9) Um disco 0 ≤ r ≤ a m, z = 0, 0 ≤ φ ≤ 2π·, possui uma densidade superficial de cargas )m/C(ar 2220s ρ=ρ . Encontre V(0,0,z) no espaço livre. 10) Uma película plana uniformemente carregada com ρs = π5 1 nC/m2 está localizada em x = 0, e uma segunda película plana, com ρs = π− 5 1 nC/m2 está localizada em x = 10 m. Calcule VAB , VBC e VAC para A (12, 0, 0) m, B (4, 0, 0) m e C (-2, 0, 0) m. 11) Calcule o trabalho necessário para movimentar uma carga pontual e positiva de 5 µC entre a origem de um sistema de coordenadas esféricas e o ponto (2 m; π/4; π/2), onde o campo elétrico é dado por )m/V(aˆ rsen 10aˆe5E r 4r φ − θ+= r . UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 33 12) Três cargas pontuais de 4 µC cada uma, localizam-se nos vértices de um triângulo eqüilátero de lado 0,5 mm situado no vácuo. Que trabalho deve ser realizado para deslocar uma das cargas até o ponto médio do segmento determinado pelas outras duas? 13) Dado o campo elétrico raˆ)r/k(E = r em coordenadas cilíndricas, mostre que o trabalho necessário para movimentar uma carga pontual Q de qualquer distância radial r para um ponto cuja distância radial seja o dobro da inicial, independe da coordenada r. 14) Calcule o potencial de um ponto A (2 m; φ; z), em relação a um ponto B (3 m; φ’; z’), usando coordenadas cilíndricas, onde o campo elétrico devido a uma distribuição linear de cargas ao longo do eixo z vale ( ) raˆr30E =v (V/m). 15) Encontre VAB entre A = (2 m; π/2; 0) e B = (4 m; π; 5 m), dado pela carga distribuída numa superfície cilíndrica com raio a = 5 cm e uma densidade de (1/π) nC/m2. Determine também a diferença de potencial VBC, onde rC = 10m. Obtenha em seguida VAC e compare o resultado com a soma de VAB e VBC. 16) Dado o campo ( ) r2 aˆr/16E −=r (V/m) em coordenadas esféricas, calcule o potencial no ponto (2 m; π; π/2) em relação ao ponto (4 m; 0; π). 17) Calcule o potencial de rA = 5 m em relação ao de rB = 15 m devido à existência de uma carga pontual Q = 500 pC, localizada na origem e com referência zero no infinito. 18) Um disco circular de raio 2 m contém uma carga total de (40/3) nC distribuída uniformemente sobre a sua superfície. Calcule o potencial gerado por esta carga em um ponto a 2 m de altura do disco e no eixo do seu centro. Em seguida, compare esse potencial com o aquele que resultaria se todas as cargas estivessem concentradas no centro do disco. 19) Uma linha reta de comprimento finito 2L contém uma distribuição uniforme de cargas. Mostre que para dois pontos externos bem próximos do ponto médio desta linha, tal que r1 < r2 e bem menores se comparadas ao comprimento 2L, a diferença de potencial V12 é igual àquela que se obteria se a distribuição fosse linear e infinita. UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino 1 2 3 4 5 6 7 8 ELETROMAGNETISMO I 34 O GRADIENTE DO POTENCIAL E A ENERGIA NO CAMPO ELETROSTÁTICO 5 5.1 - O GRADIENTE DO POTENCIAL Vimos no capítulo 4 que a expressão obtida para o cálculo da diferença de potencial entre dois pontos, um final a e outro inicial b é dada por uma integral de linha do tipo: )V(LdEVVV a b baab ∫ ⋅−=−= rr (5.1) Se o caminho incremental escolhido for dado pelo vetor ∆rL em que o campo elétrico rE é admitido constante, podemos escrever que ao longo deste caminho retilíneo teremos: )V(LEV rr ∆⋅−=∆ (5.2) Se os vetores do campo elétrico E r e do incremento L r∆ do caminho formam entre si um ângulo genérico θ, então o produto escalar fica assim expresso: )V(cosLELE θ∆=∆⋅ rr (5.3) Desta forma, a diferença de potencial ∆V é dada por: )V(cosLEV θ∆−=∆ (5.4) Assim, uma variação do potencial em relação ao caminho ∆rL pode ser escrita como )m/V(cosE L V θ−=∆ ∆ (5.5) Passando ao limite do mínimo ∆rL obtemos a expressão da derivada direcional dos potenciais onde: )m/V(cosE dL dV θ−= (5.6) Uma análise na expressão acima nos mostra que esta derivada direcional é máxima quando o cos θ = – 1. Daí )m/V(E dL dV max = (5.7) Tendo o ângulo máximo θ = π e lo indicado na equação (5.7), podemos então concluir que: • A magnitude do campo elétrico é dada pela máxima taxa de variação do potencial com a distância. • Este valor máximo é obtido quando a direção do caminho incremental for oposta à direção dada pelo campo elétrico r E . UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 35 Pelo ilustrado na figura 5.1, vamos partir do ponto P localizado na superfície equipotencial V(x, y, z) = c1 com destino à superfície equipotencial V(x,y,z) = c2, maior do que c1. A maior taxa de variação do campo escalar V ocorrerá então na direção crescente dos potenciais, numa direção orientada da esquerda para a direita e debaixo para cima. De acordo com o exposto na equação (5.6), a direção do vetor será então para a esquerda e para baixo, oposto assim à maior variação do campo potencial V. r E P x V(x,y,z) = c1 V(x,y,z) = c2>c1 ∇V dr y z Figura 5.1 Gradiente dos potenciais em V (x, y, z). Definindo um vetor unitário como o versor normal a cada superfície equipotencial e orientado na direção crescente dos potenciais escalares, o vetor campo elétrico fica então definido: naˆ )m/V(aˆ dL dVE n max −=r (5.8) Assim sendo, a derivada direcional máximapode ser escrita como: dN dV dL dV max = (5.9) Com isto, o vetor do campo elétrico pode então ser descrito como: )m/V(aˆ dN dVE n−= r (5.10) A operação ( ) aˆ.dNdV odemos screver que: n é conhecida como gradiente dos potenciais V. Esta operação vetorial não aparece apenas no caso dos potenciais elétricos, mas também na hidráulica, na termodinâmica, no magnetismo, na topografia, etc. Empregando este novo conceito, p e VgradE −=r (5.11) de campo elétrico está endo agora expresso em volts/metro no Sistema Internacional de Unidades. Observemos aqui que o gradiente é uma operação vetorial realizada sobre um escalar cujo resultado é um vetor. Você também já deve ter notado que o vetor intensidade s UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 36 A expressão 5.11, da forma como está colocada ainda nos parece sem muita utilidade. Vamos agora encontrar uma maneira de escrever o vetor do campo elétrico em termos de derivadas parciais do potencial elétrico. Em coordenadas cartesianas podemos escrever o diferencial de potencial dV como sendo: dz. z∂ V∂dy. y∂ V∂dx. x∂ V∂dV ++= (5.12) Por outro lado, a equação (5.2) passada ao limite fornece: dzEdyEdxELdEdV zyx −−−=⋅−= rr (5.13) Igualando as equações (5.12) e (5.13) vemos que cada componente do vetor será dada por: E r z∂ V∂E y∂ V∂E x∂ V∂E z y x −= −= −= (5.14) onde: m Vaˆ z Vaˆ y Vaˆ x VE zyx ⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ ∂ ∂+∂ ∂+∂ ∂−=r (5.15) Relembrando a definição do operador vetorial ∇ (nabla) no sistema cartesiano: zyx aˆz aˆ y aˆ x ∂ ∂+∂ ∂+∂ ∂=∇ e aplicando-o sobre o potencial elétrico escalar V, teremos: zyx aˆz∂ V∂aˆ y∂ V∂aˆ x∂ V∂V ++=∇ (5.16) De acordo com a equação (5.15) e a definição do operador nabla aplicado aos potenciais escalares temos que )m/V(VE ∇−=r (5.17) Em um sistema de coordenadas esféricas, o gradiente dos potenciais é dado por: φθ φθ+θ+=∇ aˆ.∂ V∂ rsen aˆ.∂ V∂ r aˆ. r∂ V∂V r 11 (5.18) De forma análoga, em coordenadas cilíndricas, zr aˆ.z Vaˆ.V r aˆ. r VV ∂ ∂+∂φ ∂+∂ ∂=∇ φ1 (5.19) UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 37 Como pode ser visto, o gradiente indica a direção onde uma função escalar possui a maior variação possível. A título de exemplo, consideremos a subida em um morro onde podemos ter várias alternativas para chegarmos ao seu cume. Como casos extremos, podemos optar por um caminho tortuoso em baixa declividade ou pela escalada direta por um caminho o mais inclinado possível. É fácil ver que esta última opção indica a direção do gradiente dos potenciais gravitacionais, onde suas variações são as maiores possíveis de um nível a outro. Exemplo 5.1 Encontrar o campo elétrico devido a uma carga pontual, utilizando o potencial eletrostático. Solução O campo elétrico de uma carga pontual possui apenas a componente radial, em coordenadas esféricas. Pela eq. (5.18): )m/V(aˆ. r VVE r∂ ∂−=∇−=r Sabe-se que o potencial eletrostático em um ponto distante r m da carga pontual é: )V( r Q. 4 1V 0πε = Logo: )m/V( r Q. 4 1 r V 2 0πε −=∂ ∂ )m/V(aˆ. .r Q. 4 1E r2 0πε =r Exemplo 5.2 Dado V encontre na origem: ( ) ( ) ( ) V1z.2y.2x 322 −+−= a) – O campo elétrico r E , b) – A derivada direcional dV dN , c) – O versor . naˆ Solução a) - r E V V= − ∇ ( / )m ( )( ) ( ) ( ) ( )( ) ( ) ( ) ( ) z222 y 32 x 32 a1z.2y.2x.3 a1z.2y.2x.2 a.1z.2y.2x.2E ) ) )r −+− −−+− −−+−−= r E a a ax y z( , , ) . $ . $ . $ ( / )0 0 0 16 16 48= − + − V m r E a a ax y z( , , ) ($ $ $ ) ( / )0 0 0 16 3= − − + V m b) - dV dN é a magnitude do campo elétrico. Portanto na origem: dV dN V m= + + =16 1 1 9 53 1, ( / ) c) - r E dV dN a V mn= − . $ ( / ) ( ) nzyx aˆ.1,53aˆ3aˆaˆ16 −=+−− )aˆ3aˆaˆ(301,0a zyxn +−= () UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 38 5.2 - DENSIDADE DE ENERGIA NO CAMPO ELETROSTÁTICO Suponhamos a existência de n cargas, Q1, Q2,..., Qn, em princípio positivas e localizadas no infinito conforme pode ser visto na figura 5.2. Imaginemos agora uma região qualquer totalmente desprovida de campo elétrico ( r = 0). Nestas condições, se desejarmos trazer a carga Q1 de um ponto 1 para essa região, o trabalho contra o campo será nulo, pois E r E = 0. infinito Q1 Q2 1 Q1 2 Q2Q3 3 Q3 Q4 4 Q4 Qnn Qn Região com E = 0 Figura 5.2 Sistema de cargas. Em seguida, vamos trazer a carga Q 2 do infinito para um ponto próximo à carga Q 1 . A fonte externa deverá então realizar um trabalho, devido agora à presença da carga Q 1 , dado por: W Q V J2 2 2 1= . (, ) (5.20) A notação para expressa o potencial existente na nova posição da carga QV2 1, 2, devido ao campo criado pela presença da carga Q1 nas suas proximidades. Se a carga for mantida nessa posição a energia dispendida, pelo princípio da conservação de energia, se transforma em energia potencial. Uma vez retirada a força que mantem a carga nessa posição, ela será acelerada para longe de sua posição, adquirindo energia cinética, portanto realizando trabalho. Voltando à nossa tarefa de mover cargas do infinito à região em questão, ao trazer a carga Q 3 da posição 3, o trabalho realizado será agora contra a ação do campo elétrico resultante criado pelas cargas Q1 e Q2, já dispostas na vizinhança. Logo: )J(V.QV.QW 2,331,333 += (5.21) onde: V3 1, = potencial em Q3 devido à carga Q1. V3 2, = potencial em Q3 devido à carga Q2. Expandindo o nosso raciocínio, o trabalho para mover as n cargas será então aquele realizado contra a presença das (n – 1) cargas já presentes. Daí: )J(V.Q...V.Q...V.QV.QV.QW 1n,nn1,nn2,331,331,22E −++++++= (5.22) WE representa a energia potencial total armazenada no campo elétrico. Tomemos agora um termo qualquer da equação acima, por exemplo: 3,11 310 3 1 130 1 31,33 V.QR4 Q.Q R4 Q.QV.Q =πε=πε= (5.23) Pela notação apresentada, V1,3 é então o potencial na carga Q1 devido à carga Q3. UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 39 Assim, a equação (5.22) pode ser reescrita reciprocamente como: n,1n1nn,224,223,22n,113,112,11E V.Q...V.Q..V.QV.QV.Q..V.QV.QW −−+++++++++= (5.24) Adicionando esta expressão à equação (5.22) temos o dobro da energia armazenada onde: )V...VV(Q... )V...VV(Q)V...VV(QW2 1n,n2,n1,nn n,23,21,22n,13,12,11E −++++ ++++++++= (5.25) Cada soma entre parêntesis representa o potencial resultante em cada ponto, devido a todas as cargas exceto aquela que está no próprio ponto. Em uma notação mais simplificada, o potencial no local da carga Q1 será dado por: V V V Vn1 2 1 3 1 1, , ,. . .+ + + = (5.26) Assim, estendendo o raciocínio para todas as cargas do sistema teremos por (5.25) que: ( ) )J(VQ...VQVQ 2 1W nn2211E +++= (5.27) ou ainda: )J(VQ 2 1W n 1i iiE ∑ = = (5.28) em que cada )V(VV n ij,j j,ii ∑ ≠= = 1 (5.29) Substituindo cada carga pontual pela densidade volumétrica de carga ρ multiplicada pelo volume infinitesimal ocupado dv, temos que: )J(VdvW volE ∫ ρ=21 (5.30) Aplicando o teoremada divergência e substituindo ρ por Dr⋅∇ , podemos escrever: ( )∫ ⋅∇= volE )J(VdvDW r21 (5.31) Entretanto, a seguinte identidade (vetorial) é válida para qualquer função vetorial r D : ( ) ( ) ( )VDDVDV ∇⋅+⋅∇=⋅∇ rrr (5.32) Portanto: ( ) ( )[ ] )J(dvVDdvDVW vvE ∫∫ ∇⋅−⋅∇= rr21 (5.33) UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 40 Esta expressão merece algumas considerações. A primeira integral de volume da equação acima pode ser substituída pela integral de uma superfície fechada recorrendo-se ao teorema da divergência. Assim, ( ) ( ) )J(dvVDSdDVW volsE ∫∫ ∇⋅−⋅= rrr 2121 (5.34) A equação (5.33) é uma integral de volume. A única restrição imposta é que este volume contenha toda a carga considerada, conforme nossa hipótese inicial. Desta forma, nada nos impede de considerar este volume como sendo aquele preenchido por todo o universo, onde a soma das cargas resulta obviamente nula. Portanto, o potencial V na superfície que envolve este volume será nulo e a primeira integral torna-se igual a zero. Por outro lado, sabemos que EV r−=∇ . Portanto: ( ) )J(dvEdvEDW volvolE ∫∫ ε=⋅= 202121 rr (5.35) Derivando a equação acima em relação ao volume teremos: )m/J(DE dv dWE 32 0 2 0 2 1 2 1 ε=ε= (5.36) que representa a densidade de energia armazenada no campo elétrico. Exemplo 5. 3 Calcular a energia armazenada em uma seção de um capacitor co-axial de L m de comprimento, raio interno a m e externo b m. Solução A expressão para o campo elétrico no interior do capacitor é: )m/V(aˆ r. .aE r 0 s ε ρ=r )J(dzdrdr r. .a 2 1W L 0 b a 2 0 22 0 2 s 2 0E ∫ ∫ ∫ π φε ρε= ∫ ∫ ∫ π φε ρ= L0 ba 20 0 2 s 2 E dzdrdr. aW )J( a blna.L. r dr.a2L. 2 1W 0 2 s 2b a 0 2 s 2 E ε ρπ=ε ρπ= ∫ UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 41 EXERCÍCIOS 1) O potencial elétrico em uma região do espaço é dado por V (x,y,z) = A (x2 – 3 y2 + z2) volts, onde A é uma constante. Sabe-se que o trabalho realizado pelo campo elétrico quando uma carga de 1,50 µC é deslocada do ponto (0; 0; 0,25 m) até a origem é igual a 6,00 x 10-5 joules. Deduza uma expressão para o campo elétrico nesta região. 2) Uma descarga atmosférica provoca sobretensões no solo, determinadas por superfícies equipotenciais decrescentes a partir do ponto de queda da descarga para a terra. A aplicação do método das imagens apresenta estas equipotenciais na forma de elipsóides de revolução, sendo uma delas definida com 500 V na superfície 9 x2 + 9 y2 + 2 z2 = 72. Determine o campo elétrico no ponto P (2; 2; 0) metros, dado que sua magnitude é de 100 V/m. Até que nível abaixo do solo, este potencial de 500 V se faz presente? 3) A intersecção de uma superfície equipotencial com o plano x = 3 m forma uma linha que no ponto (3, 2, 3) m tem a direção do vetor ( zy aˆ3aˆ4 − ) m. Se a máxima taxa de variação do potencial é de 500 V/m, com Ex = 0, determine o vetor do campo elétrico neste ponto. 4) Calcule a energia armazenada por cargas pontuais idênticas de 4 nC situadas nos vértices de um cubo com 1 m de aresta imerso no vácuo. 5) Dois semiplanos condutores, pouco espessos, em φ = 0 e φ = π/6, acham-se isolados entre si ao longo do eixo z. A função potencial elétrica é V = (– 60 φ / π) volts para φ entre 0 e π/6. Determine a energia armazenada entre estes semiplanos delimitando uma região dentro de uma distância radial r entre 0,1 m e 0,6 m, no eixo z entre 0 e 1 m, no espaço livre. 6) Um capacitor de placas paralelas com área A separadas por uma distância d tendo um meio dielétrico de permissividade ε0, com capacitância C = ε0 A / d, apresenta uma diferença de potencial constante V aplicada entre as placas. Pede-se a energia armazenada no campo elétrico, desprezando o efeito das bordas. 7) Um capacitor plano de placas paralelas quadradas com 1 m de lado apresenta uma distância de 2 cm entre os condutores e uma diferença de potencial de 200V. Calcule a energia armazenada pelo campo elétrico estabelecido quando o meio dielétrico entre as armaduras é o vácuo, isto é, quando ε = ε0. 8) Determine a energia armazenada por um capacitor plano com placas quadradas de 1 m de lado. Uma das placas encontra-se no plano horizontal e está separada da outra por uma distância de 2 cm numa extremidade e 2,2 cm na outra, ambas imersas no vácuo, sob uma tensão aplicada de 200V. Despreze o efeito das bordas nas linhas do campo elétrico. 9) Uma casca esférica condutora, de raio a, com centro na origem, apresenta um potencial elétrico ⎩⎨ ⎧ > ≤= arr/aV arV V 0 0 com a referência zero no infinito. Calcule a energia armazenada que este potencial representa. 10) A direção da linha formada pela intercessão de uma superfície equipotencial e o plano z = 1 m no ponto (2, -6,1) m é a do vetor 6âx + 2ây. Se a máxima taxa de variação de V é 500 V/m, com Ez = 0 e com Ex > 0, encontre E r 11) Determine a distribuição volumétrica de cargas que geram um campo potencial V = 5r2 volts. 12) A porção de um potencial bidimensional (Ez = 0) é mostrada na figura 1 no final deste capítulo. O espaçamento entre as linhas (horizontais e verticais) é de 1 mm. Determine E r em coordenadas cartesianas em a e b. 13) Quatro cargas idênticas Q = 3 nC são colocadas no vértice de um quadrado de 0.6 m de lado, uma de cada vez. Calcule a energia do sistema, logo após cada carga ser colocada. UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 42 14) Dado o campo elétrico r E e r a r= − − 5 . $a em coordenadas cilíndricas, calcule a energia armazenada no volume descrito por r ≤ 2a m, 0 ≤ z 5a m. 15) Dado um potencial definido por , calcule a energia armazenada no volume definido por um cubo de 1 m de aresta, com um dos vértices na origem. V x y V= +3 42 2 ( ) y x b a 140 V 130 V 120 V 110 V 100 V Figura 1 para o problema 12 UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino 1 2 3 4 5 6 7 ELETROMAGNETISMO I 44 6 CORRENTE ELÉTRICA Nos capítulos anteriores estudamos os campos elétricos quando gerados a partir de distribuições de cargas elétricas estáticas. Neste capítulo faremos o estudo da corrente elétrica, que nada mais é do que o movimento, dentro de uma certa ordem, de cargas elétricas. Estudaremos os fenômenos devido à circulação de corrente elétrica estacionária, ou seja, aquela que não varia com o tempo. É fácil ver que campos elétricos gerados por correntes estacionárias serão também estáticos. 6.1 - CORRENTE ELÉTRICA E DENSIDADE DE CORRENTE Referindo-se à figura 6.1, suponha que uma carga de teste q esteja imersa em um campo elétrico uniforme r . Assim, a carga de prova deve sofrer a ação de uma força E r F que é dada por: )N(EqF rr= (6.1) Se a carga é livre para se mover, ela sofrerá uma aceleração que, de acordo com a segunda lei de Newton, é dada por: )s/m( m Fa 2 r r= (6.2) onde m é a massa da partícula eletricamente carregada (expressa em quilogramas). F q E Figura 6.1 Força sobre uma partícula em um campo elétrico. Na ausência de restrições, a velocidade da partícula aumentará indefinidamente com o tempo, uma vez que o campo elétrico r é admitido constante. Entretanto, em meios gasosos,líquidos ou sólidos, a partícula irá colidir repetidamente com outras partículas, transferindo parte de sua energia e sofrendo desvios aleatórios na direção de seu movimento. Para o campo r constante, e o meio homogêneo, o resultado macroscópico dessas colisões será simplesmente o de restringir o movimento da carga a uma velocidade média constante, denominada de velocidade de arraste (drift), deriva ou deslocamento designada pelo vetor E E r vd . Essa velocidade média de deslocamento possui a mesma direção do campo elétrico e se relaciona com ele através de uma constante µ de mobilidade, de modo que: )s/m(Evd rr µ= (6.3) Suponha agora um meio com seção reta uniforme S, conforme mostra a figura 6.2. Esse meio possui inúmeras cargas livres, distribuídas segundo uma densidade volumétrica ρ. Considerando que esta carga volumétrica ρ S ∆L atravesse a secção transversal S em um intervalo de tempo ∆t, podemos então escrever que a corrente elétrica será definida de modo clássico como: UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 45 t LS t qI ∆ ∆ρ=∆ ∆= Em outras palavras, fixando-se uma referência em um ponto qualquer do meio em questão, o número de cargas que atravessa a seção uniforme S em um segundo constituirá uma corrente elétrica de intensidade I em ampères. Considerando a relação ∆L / ∆t como a velocidade média de deriva vd, teremos então que: )A(SvI dρ= (6.4) onde: I (A) Corrente elétrica r vd (m/s) Velocidade de deriva ou deslocamento ρ (C/m3) Densidade volumétrica de cargas S (m2) Área da secção reta atravessada S Figura 6.2 Cargas cruzando uma seção reta em um condutor. Dividindo-se a equação (6.4), que define uma corrente constante I, pela área da seção reta S, admitida regular, obtemos uma densidade de corrente J, expressa no Sistema Internacional de Unidades em ampères por metro quadrado. Logo: )m/A( S IJ 2= (6.5) Quando a corrente não apresenta um comportamento uniforme, recorremos a uma definição incremental em que consideramos então um vetor r J normal a cada secção elementar ∆S. O módulo deste vetor é definido como sendo o quociente da parcela de corrente ∆I pela área incremental ∆S . Assim, em cada ponto da secção que é atravessado por uma linha de corrente, fazemos a secção tender a zero e podemos escrever que: ∆S )m/A(va S I 0S lim J 2dn ρ=∆ ∆ →∆= r)r (6.6) A densidade de corrente r J é um vetor que possui magnitude igual ao produto da densidade de cargas pela velocidade de deriva no ponto em que se deseja conhecê-la, com a direção da corrente neste ponto. 6.2 - CORRENTE DE CONVECÇÃO E CORRENTE DE CONDUÇÃO A expressão na equação (6.6) representa uma densidade de corrente de convecção, que de modo geral mostra a translação de elétrons livres ou íons, tomando como exemplo o ocorrido no interior de um tubo de raios catódicos ou de uma lâmpada fluorescente. A corrente de convecção que se estabelece depende da quantidade de cargas e da velocidade delas no meio em que se propaga. UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 46 A corrente elétrica pode ser definida em função da mobilidade dos portadores na presença de um campo elétrico (gradiente de potenciais). Pela definição da velocidade de deriva em (6.3) aplicada em (6.6) teremos o vetor da densidade de corrente expresso de outra forma: dv r )m/A(EJ 2 rr ρµ= (6.7) O produto ρµ é definido como sendo a condutividade σ do material em que o fluxo da corrente é estabelecido. Assim, a expressão acima se torna: r rJ E A m= σ ( / )2 (6.8) A equação (6.8) representa então uma densidade de corrente de condução, definida como o movimento de cargas que se alinham mediante a atuação de um campo elétrico externo. Assim, a densidade de corrente de condução num dado meio à temperatura constante é linearmente proporcional a r . A relação acima é valida para os meios eletricamente lineares, ou ditos ôhmicos. São meios eletricamente lineares, por exemplo, todos os metais. E É fácil ver que a equação (6.8) mostra a própria lei de Ohm em termos pontuais. Passando a equação (6.6.) ao limite obtemos para a magnitude da intensidade da densidade de corrente dS dIJ = (6.9) Considerando agora o vetor já definido e uma superfície elementar representada por um vetor J r Sd r normal a ela, temos um fluxo de linhas de corrente onde ∫ ⋅= S SdJI rr (6.10) A corrente elétrica fica então perfeitamente determinada pela integração de cada elemento de corrente que atravessa a superfície de uma secção S qualquer. Estabelecendo uma analogia hidráulica, a corrente elétrica é um fluxo de cargas em que o escoamento se dá pelas linhas de corrente através de uma secção reta. Exemplo 6.1 Calcular a intensidade da velocidade média dos elétrons na secção circular de um condutor circular de cobre de 1,5 mm2, percorrido por uma corrente contínua de intensidade 15 A, numa temperatura ambiente de 20 ºC. Dados: σcobre = 5,8x107 S/m, µp,cobre = 0.0032 m2/Vs. Solução: Da definição de velocidade de deriva: Evd rr µ= A corrente elétrica que flui no metal é de condução. Portanto: EJc rr σ= Sendo a secção do condutor constante e a corrente contínua, podemos admitir que a densidade de corrente possui módulo J I S x A mc = = =− 15 15 10 106 7 2 , / Por outro lado, o campo elétrico pode ser determinado por: UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 47 m/V1724.0 10x8,5 10EEJ 7 7 c ==⇒σ= rr Onde s/m00055.01724.0x0032.0vEv dd ==⇒µ= rr Exemplo 6.2 Determine a corrente total que atravessa uma superfície cilíndrica lateral com 1 cm de altura e 2 mm de raio, se as expressões válidas para pontos próximos desse raio forem definidas em função de: a) - π<φ<π−⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ φ= ,m/A 2 cos r 1J 2r b) - s/mr10x3v,m/C r 10 210 )r(d 3 7 ==ρ − Solução: Pela condição a) Empregando a definição genérica de corrente elétrica com a informação fornecida temos ∫ ⋅= S SdJI rr )A(dzrd 2 cos r 1I 01,0 0 φ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ φ=∫ ∫ππ− I d x d= ⎛⎝⎜ ⎞ ⎠⎟ = ⎛ ⎝⎜ ⎞ ⎠⎟−− ∫∫0 01 2 0 01 2 2 12, cos , cos ( )φ φ φ φππππ A )A(040.0))1(1(x2x01,0 2 xsen2x01,0I =−−=⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ φ= π π− Por outro lado, pela condição b) )m/A(r10x3 r 10vJ 2210 7 d − =ρ= rr r J x x x A m= =−10 3 10 0 002 67 10 , ( / 2 ) Da definição de corrente )A(dzrd6SdJI 01,0 0s ∫ ∫∫ ππ− φ=⋅= rr )A(2x10x2,1d01,0x10x2x6I 43 π=φ= −ππ− − ∫ I mA= 0 754, ( ) 6.3 - EQUAÇÃO DA CONTINUIDADE O princípio da conservação de cargas estabelece que cargas elétricas não podem ser criadas ou destruídas. No entanto um processo de separação ou reunião de cargas numa dada região faz com que um valor final no balanço destas cargas resulte nulo ou em favor predominante (sinal) da natureza da carga em excesso. A equação da continuidade decorre deste princípio, quando consideramos uma região confinada por uma superfície fechada. Imagine uma superfície fechada S, atravessada por uma densidade de corrente r J . A corrente elétrica total que atravessará essa superfície será então: )A(SdJI S∫ ⋅= rr (6.11) Trata-se de um fluxo de cargas positivas orientado para fora. Isso é uma mera arbitrariedade, visto que na verdade as cargas que se movimentam são os elétrons, portadores de carga elétrica negativa, balanceado por um decréscimo de cargas positivas(ou acréscimo de cargas negativas) no interior da superfície fechada S. UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 48 Dentro da superfície fechada, a carga positiva Q decresce então, numa razão – dQ/dt e o princípio da conservação das cargas estabelece que: dt dQSdJI S −=⋅=∫ rr (6.12) Em outras palavras, a equação (6.12) demonstra o escape de cargas positivas ou o afluxo de cargas através de uma superfície fechada S. Aplicando o teorema da divergência à integral acima e representando a carga envolvida pela integral de volume da densidade de carga, vem que: ( ) ∫∫ ρ−=⋅∇ volvol dvdtddvJr (6.13) Se a superfície for mantida constante, a derivada total equivale à própria derivada parcial dentro do mesmo domínio de integração, podendo ser colocada no integrando do lado direito. Desta forma: ( ) ∫∫ ∂∂ρ−=⋅∇ volvol dvtdv.Jr (6.14) Uma vez que a expressão acima é válida para qualquer volume, ela é verdadeira para um volume incremental ∆v. Portanto: ( ) v t vJ ∆∂ ∂ρ−=∆⋅∇ r (615) de onde a forma pontual da equação da continuidade pode ser escrita como: t J ∂ ∂ρ−=⋅∇ r (6.16) Exemplo 6.3 A densidade volumétrica de cargas numa certa região do espaço está decrescendo a uma taxa de 2x108 C/m3.s. Nestas condições pede-se: a) Qual é a corrente total que atravessa uma superfície esférica incremental de raio 10-5 m? b) Qual é o valor médio da componente da densidade de corrente dirigida para fora, atravessando a superfície esférica? Solução: a) - Da equação da continuidade 810x2J. t J. =∇⇒∂ ∂ρ−=∇ rr ( ) )A(dvxdvJSdJI volvolS ∫∫∫ =⋅∇=⋅= 8102rrr )A(r 3 4x10x2dv10x2I 38 vol 8 π== ∫ )A(838,0I)10(x10x 3 8I 358 µ=⇒π= − b) - Da definição de corrente elétrica )A(SdJI S∫ ⋅= rr ∫ ⋅=− S6 SdJ10x838,0 rr )m/A( )10(4 10x838,0Jr4Jx10x838,0 225 6 26 − −− π=⇒π= )m/kA( 3 2J10x9,666J 23 =⇒= UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino 49 6.4 - TEMPO DE RELAXAÇÃO Suponhamos que uma região condutora se encontre inicialmente isolada e em equilíbrio e que uma carga inicial de densidade ρ 0 seja ali injetada. Sofrendo repulsão, ela deverá "escoar" pelo meio condutor até que a região retorne à situação de equilíbrio. Podemos chegar a essa conclusão a partir da última equação da seção anterior onde. t J. ∂ ∂ρ−=∇ r (6.17) Por (6.8) vimos que: )m/A(EJ 2 rr σ= (6.18) e que, )m/V(DE ε= rr (6.19) Portanto: r rJ D A m= σε ( / ) 2 (6.20) Assim tomando o divergente dos dois lados: σ ε ∂ρ ∂∇ + =. r D t 0 (6.21) A equação acima é uma equação diferencial cuja solução é: t 0e ε σ−ρ=ρ (6.22) A razão ε/σ é chamada de constante de tempo de relaxação. É o tempo que a carga injetada leva para ser reduzida praticamente à terça parte do valor inicial, ou seja, quando ρ = 0,37 ρ0. Exemplo 6.4 Uma carga com densidade inicial ρ0 C/m3 é colocada em um material condutor (cobre) isolado e em equilíbrio. Determine o tempo necessário para que a densidade de carga caia a 1/3 de seu valor inicial, sabendo que σ Cu = 5,8x107 S/m. Solução: ρ ρ= 1 3 0 1 3 0 0 0ρ ρ σ ε= −e t ln ln( )1 3 0 ⎛ ⎝⎜ ⎞ ⎠⎟ = − σ ε t e − = − ⇒ − = −− σ ε0 7 1211 5 8 10 8 85 10 11t x x t s, , , , ( ) t x= −1 57 10 19, ( s) UNESP – Apostila de Eletromagnetismo – Prof. Dr. Naasson Pereira de Alcantara Junior ELETROMAGNETISMO I 50 Pelo exemplo que acabamos de resolver, podemos perceber que, exceto por um período transitório extremamente curto, ρ = 0 no interior de regiões condutoras. Portanto: ∇ =.rJ 0 (6.23) Esta expressão demonstra que as cargas elétricas não ficam acumuladas no interior de materiais condutores. Ela justifica também em termos pontuais a 1ª. Lei de Kirchhoff, mais conhecida por lei dos nós em um circuito elétrico. UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 51 EXERCÍCIOS 1) Um fio condutor de cobre AWG #12 (AWG = American Wire Gauge) com um diâmetro de 80,5 mil (1 mil = 1/1000 de polegada) e 100 pés de comprimento conduz uma intensidade de corrente de 20 A. Calcule a intensidade do campo elétrico E, a velocidade de deslocamento (deriva ou arraste) vd, a queda de tensão V e a resistência elétrica R ao longo do condutor. Utilize como dados para o cobre: condutividade σ = 5,8 x 107 S/m, mobilidade dos elétrons livres µ = 0,0032 m2/(Vs). 2) Determine o número de elétrons de condução em um centímetro cúbico de tungstênio, admitindo que haja dois elétrons de condução por átomo de tungstênio. Dados N (Número de Avogadro) = 6,02 x 1026 átomos/kmol, densidade 18,8 x 103 kg/m3 e peso atômico 184,0 3) Qual é a densidade de elétrons livres em um metal para uma mobilidade de 0,0046 m2/(Vs) e uma condutividade de 29,1 MS/m? Carga de um elétron e = 1,6 x 10-19 C. 4) Qual é a densidade de corrente e a intensidade de campo elétrico que correspondem a uma velocidade de araste de 5,3 x 10-4 m/s no alumínio, com condutividade 3,82 x 107 S/m e mobilidade 0,0014 m2/(Vs)? 5) Determine a condutividade do semicondutor intrínseco de germânio na temperatura ambiente de 300 K, sabendo-se que existem 2,5 x 1019 pares elétron-lacuna por metro cúbico, que a mobilidade dos elétrons µe = 0,38 m2/(Vs) e a mobilidade das lacunas µh = 0,18 m2/(Vs). 6) Calcule a condutividade do germânio extrínseco tipo n, na temperatura ambiente, supondo um átomo doador a cada 108 átomos. A densidade do germânio é 5,32 x 103 kg/m3 e seu peso atômico é 72,6. Compare o resultado com o problema anterior. 7) Em um condutor cilíndrico de 2 mm de raio, a densidade de corrente varia radialmente com a distância ao eixo segundo J = 103 e-400r A/m2. Calcule a corrente total que passa pela secção transversal do condutor. 8) Encontre a corrente que atravessa uma porção do plano x = 0 delimitada por –π/4 ≤ y ≤ π/4 m e –0,01 ≤ z ≤ 0,01 m onde a densidade de corrente xaˆy2cos100J = r A/m2. 9) Próximo ao ponto P (5, 7, -5) m, a densidade de corrente pode ser representada pelo vetor z 2 y 22 x 3 aˆyzx4aˆzx5aˆyx2J +−=r (A/m2). Qual é a corrente deixando um cubo de 1 m de lado, centrado em P com as arestas paralelas aos eixos coordenados? Qual é a taxa de crescimento da densidade volumétrica de carga no ponto P? 10) Um pedaço de material de condutividade 5 MS/m tem a forma de uma cunha truncada, definida por 4 < r < 10 cm, 0 < φ < 0,2 π e 0 < z < 6 cm. No interior do material o campo elétrico é dado por r/aˆ2E φ= r mV/m. Qual a corrente total que atravessa o objeto? Qual a sua resistência? 11) Um condutor de cobre tem seção reta circular de 5,00 mm de diâmetro, e suporta uma corrente de 30 A. Qual é a porcentagem de elétrons de condução que deixa o condutor em cada segundo (sendo substituídos por outros), em 200 mm de cabo? Dados: N (Número de Avogadro) = 6,02 x 1026 átomos/kmol, densidade do cobre = 8,96 g/cm3 e peso atômico 63,54. Suponha um elétron de condução por átomo. 12) Que corrente elétrica irá resultar se todos os elétrons livres em um centímetro cúbico de alumínio passar por uma dada secção reta em 3 s? Suponha um elétron de condução por átomo cujo peso atômico é 27 e densidade 2,7 x 103 kg/m3. 13) Qual é a densidade de elétrons livres em um metal para uma mobilidade de 0,0046 m2/V.s e uma condutividade de 30 MS/m? 14) Calcule a mobilidade dos elétrons de condução no alumínio, dada uma condutividade de 38,2 MS/m e densidade de elétrons de condução de 1,70 x 1029 m-3? UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior– Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 52 15) Uma barra de cobre de seção reta retangular de 0,03 mm×0,12 mm e 3,0 m de comprimento tem um queda de tensão de 100 mV. Calcule a resistência, corrente, densidade de corrente, módulo do campo elétrico e velocidade de deslocamento dos elétrons de condução. 16) Encontre a corrente que atravessa um condutor esférico de raio 3 mm, se a densidade de corrente varia com o raio, de acordo com J = 103/r (A/m2). 17) Em coordenadas cilíndricas, para a região 0.02 ≤ r ≤ 0.03 mm, 0 ≤ z ≤ 1 m, rJ e ar= −10 100 $ φ (A/m2), Encontre a corrente total que atravessa a interseção desta região com o plano φ = constante. 18) Calcule a corrente total que sai de um cubo de 1 m3 com um vértice na origem, e lados paralelos ao eixos coordenados, se r J x a xy a xya A mx y z= + +2 2 22 3$ $ $ ( / )2 . UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino 1 2 3 4 5 6 ELETROMAGNETISMO I 53 MATERIAIS DIELÉTRICOS E RELAÇÕES DE FRONTEIRA NO CAMPO ELÉTRICO 7 De acordo com a teoria atômica clássica, os átomos são constituídos de um núcleo central formado basicamente por prótons e nêutrons, orbitados por elétrons carregados negativamente, exprimindo a idéia de um modelo planetário. À medida que se fornece energia a um elétron, este passa para uma órbita mais afastada. Em alguns materiais, o elétron ou elétrons localizados na órbita externa encontram-se fracamente ligados ao átomo, podendo migrar com facilidade de um átomo para outro, mediante a aplicação de um campo elétrico, mesmo de pequena intensidade. Estes elétrons recebem o nome de cargas verdadeiras. Materiais constituídos por estes átomos, que possuem este tipo de comportamento, recebem o nome de condutores. Em outro extremo, outros materiais possuem seus átomos com os elétrons vinculados ao núcleo de tal maneira que não podem ser libertados pela aplicação de campos elétricos de pequena intensidade. Estes materiais recebem o nome de dielétricos ou isolantes. Entretanto, quando um dielétrico é submetido a um campo elétrico, ocorre uma polarização, ou seja, um deslocamento do elétron em relação à sua posição de equilíbrio. Ocorre então a formação de cargas ligadas ao material isolante que recebem o nome de cargas de polarização. Na classificação dos materiais quanto ao comportamento elétrico, outro grupo apresenta um comportamento intermediário entre os condutores e os isolantes. São os chamados semicondutores. Sob certas condições podem agir como isolantes, mas com a aplicação de luz, de calor ou de um gradiente de potenciais (campo elétrico), eles podem vir a se comportar também como condutores. As três ilustrações na figura 7.1 nos dão uma idéia qualitativa dos níveis de energia existentes nos átomos ou moléculas em cada tipo de material. Na figura 7.1a existe um pequeno espaço vazio (barreira de energia) entre as bandas de condução e de valência. Esse é o caso dos materiais condutores, onde o elétron de uma banda de valência passa facilmente para a banda de condução vazia, mesmo que receba uma pequena quantidade de energia. Na figura 7.1b o espaço vazio já é grande e dificilmente o elétron passará de uma banda para outra. Na figura 7.1c, o espaço vazio é intermediário entre os dois casos, e o material pode se comportar ou como um condutor, ou como um isolante, dependendo das circunstâncias, sendo classificado por isso com um semicondutor. Banda de Valência Preenchida Banda Condutora Vazia Espaço de Energia Proibida Banda de Valência Preenchida Banda Condutora Vazia Banda de Valência Preenchida Banda Condutora Vazia a b c Figura 7.1 Níveis de energia em condutores, isolantes e semicondutores. A mobilidade das cargas é uma função da temperatura e o seu aumento apresenta conseqüências diferentes, no comportamento dos materiais condutores, isolantes e semicondutores. UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 54 Em um condutor metálico, por exemplo, o movimento vibratório aumenta com o aumento da temperatura. Conseqüentemente, há uma diminuição na velocidade (média) de deriva ou de arraste, devido ao aumento das colisões desordenadas entre as cargas no interior do material. Nos materiais isolantes e semicondutores, o aumento da temperatura com o aumento do movimento vibratório contribui com o aumento da mobilidade interna das partículas, em função do campo elétrico aplicado. 7.1- A NATUREZA DOS MATERIAIS DIELÉTRICOS Ao contrário dos materiais condutores, os dielétricos podem armazenar energia em seu interior. Isso é possível porque ao se aplicar um campo elétrico externo em um dielétrico não ocorre a movimentação de cargas livres, mas um deslocamento relativo nas posições das cargas negativas (elétrons) e positivas, dando origem às cargas polarizadas. Esse armazenamento de energia potencial ocorre contra as forças moleculares e atômicas. O mecanismo real de deslocamento varia conforme o tipo de dielétrico. Alguns tipos de dielétricos são constituídos por moléculas ditas polarizadas (por exemplo, a água), que possuem naturalmente um deslocamento permanente entre os centros geométricos das cargas positiva e negativa. Cada par de cargas opostas age como um dipolo; Uma carga positiva e outra negativa, separadas por uma distância d. Normalmente esses dipolos encontram-se dispostos aleatoriamente no interior do material e se alinham na direção de um campo elétrico externamente aplicado (figura. 7.2). Em outros tipos de materiais, constituídos por moléculas não polares, este arranjo em dipolos não existe em condições naturais, não sendo possível identificar os centros de cargas nas suas moléculas. Somente com a aplicação de um campo elétrico é que as cargas positivas e negativas se deslocam buscando um alinhamento na direção das linhas de força do campo (figura. 7.3), em uma formação dipolar orientada. + - - + - + - + E = 0 - + - + - + - + E Figura 7.2 Moléculas polarizadas (dipolos). +- +- + +- - - + - + E = 0 - + - + E Figura 7.3 Moléculas não polarizadas. É interessante observar que as moléculas polares já constituem dipolos mesmo sem a aplicação de um campo elétrico, só que desorientadas. Já as moléculas não polares só constituem dipolos orientados enquanto durar a ação do campo elétrico aplicado. No entanto, qualquer tipo de dipolo é descrito pelo seu momento de dipolo p r , dado por: )m.C(dQp rr= (7.1) UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 55 onde Q é a carga positiva, e a distância vetorial orientada da carga negativa –Q para a carga positiva +Q. d r Se existem n dipolos por unidade de volume e consideramos um volume incremental ∆v, nele existem n∆v dipolos. O momento total de dipolo totalp r é dado então pela soma vetorial: )m.C(pp vn 1i itotal ∑∆ = = rr (7.2) Definindo agora o vetor polarização P r como sendo o momento de dipolo total dividido por um volume que tende a zero, podemos escrever que: )m/C(p v 1limP 2 vn i i0v ∑∆→∆ ∆= r r (7.3) A grandeza , expressa em coulombs por metro quadrado no Sistema Internacional de Medidas, é tratada como um campo contínuo, embora pareça evidente não estar definida dentro de átomos ou moléculas. A equação (7.3) nos mostra que a polarização deve ser encarada como um valor médio em qualquer ponto sobre a amostra de volume ∆v – grande o suficiente para conter as n ∆v moléculas, mas aindasuficientemente pequena para que seja um volume incremental. P r Generalizando, vamos supor agora um dielétrico contendo moléculas inicialmente não polarizadas. Portanto, a polarização P r = 0 em todo o volume do material. Selecionemos então um elemento de superfície ∆S no interior do dielétrico. Aplicando um campo elétrico sobre o dielétrico as moléculas terão os seus centros de cargas positivas e negativas separadas e se polarizarão. Haverá, portanto um movimento de cargas de polarização através de ∆S. O campo elétrico produzirá um momento de dipolo em cada molécula onde: )m.C(dQp rr= (7.4) de modo que e formarão um ângulo θ com o vetor pr dr S r∆ , normal ao elemento de superfície considerado (figura 7.4). d cosθ + - + - + - ∆S + - + - - + d θ + - - + Figura 7.4 Movimento de cargas através da superfície elementar ∆S. Admitindo a direção do campo elétrico definida por d r , cada molécula cujo centro está no interior do volume ( ) Scosd21 ∆θ abaixo da superfície incremental contribui para o movimento de uma carga Q através de ∆S para cima. De modo análogo, cada molécula cujo centro está no interior do volume ( ) Scosd21 ∆θ acima desta superfície incremental contribui para o movimento de uma carga – Q através de ∆S para baixo. Como há n moléculas/m3, a carga líquida total que atravessa a superfície ∆S é , ou: ScosdQn ∆θ UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 56 )C(SdQnQp rr ∆⋅=∆ (7.5) ou ainda pela formação dos n dipolos: )C(SPQp rr ∆⋅=∆ (7.6) Considere agora uma superfície fechada elementar ∆rS , com o seu sentido positivo sempre dirigido para fora da superfície. O acréscimo líquido nas cargas de polarização no interior da superfície fechada é expresso algebricamente por: )C(SdPQ Sp ∫ ⋅−= rr (7.7) sinal negativo antes da integral é devido ao fato de que a natureza das cargas que entram ou onsiderando então esta carga total como resultado de uma distribuição volumétrica com densidade (7.8) ssim, igualando esta expressão com a da equação (7.7) vem: O permanecem no interior da superfície é de sinal contrário ao das cargas que saem. Em outras palavras, este sinal negativo indica um acréscimo de cargas positivas ou um decréscimo de cargas negativas no interior da superfície fechada. C ρP, podemos escrever que: )C(dvQ vol pp ∫ ρ= A rr∫∫ ⋅−=ρ svol p SdPdv (7.9) plicando o teorema da divergência no lado direito da expressão acima, ela ficará: A r∫∫ ⋅∇−=ρ volvol p dv)P(dv (7.10) u ainda, no mesmo domínio de integração: O r )m/C(P 3pρ−=⋅∇ (7.11) Salientamos que essa equação também é válida para dielétricos polares. amos agora encontrar uma relação entre o vetor densidade de fluxo elétrico e o vetor V D r polarização P r . Primeiramente vamos escrever a Lei de Gauss na forma pontual, mesmo na presença de dielétricos, como: )m/C(E 3t0 ρ=ε⋅∇ r (7.12) nde ρ é a densidade volumétrica total de cargas. O vetor o t D r foi substituído por E0 rε porque uma ud (7.13) ntão por (7.12) e (7.13): vez consideradas todas as cargas (livres e de polarização), t o se passa como se o dielétrico não existisse. de polarização. Assim, em termos de densidade volumétrica temos: )m/C( 3pt ρ+ρ=ρ E )m/C(E 3p0 ρ+ρ=ε⋅∇ r (7.14) UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 57 que por (7.11) fornece: PE0 rr ⋅∇−ρ=ε⋅∇ (7.15) ou: )m/C()PE( 30 ρ=+ε⋅∇ rr es. (7.16) acima exprime a densidade volumétrica ρ das cargas livr Como era de se esperar, a expressão P s odemos agora redefinir o vetor densidade de fluxo elétrico r D em qualquer meio material como endo: )m/C(PED 20 rrr +ε= (7.17) A presença de dielétricos é, portanto, levada em conta através do vetor polarização P r . omo já foi mostrado, o vetor polarização r P resultou da aplicação de um campo elét coC g ri r E erou o deslocamento e a separação das cargas positivas das negativas. Podemos perceber também que a relação existente entre r P e r E dependerá do tipo de material. Vamos limitar nossos estudos a materiais isotrópicos, permitindo uma relação linear entre r P e r E . Nesse caso, r P e r E são paralelos, embora não necessariamente no mesmo sentido. dmitindo a linearidade entre r P e r E , podemos esc que rever: 0e A m/C(EP 2 rr εχ= ) (7.18) onde χe é a susceptibilidade elétrica do material. i ubst tuindo o valor de P r na relação fundamental de (7.17) temos: S E)χ1(εD rr += (7.19) 2 e0 Assim, para qualquer meio, podemos estabelecer que: (EED r0 rrr εε=ε= )m/C De um modo geral, definimos aqui a permissividade elétrica (7.20) ε do meio. Logo εr será a permissividade relativa, ou a constante dielétrica do material (em relação ao vácuo), em que: er 1 χ+=ε (7.21) ara que uma coerência seja mantida, no espaço livre (vácuo) a permissividade relativa será unitária P e como conseqüência a susceptibilidade elétrica será nula. O valor de eχ em (7.21) substituído em (7.18) estabelece a seguinte relação entre r P e r E empregada em aplicações de engenharia: )m/C(E1(P 20r rr ε−= )ε (7.22) Finalmente, a Lei de Gauss continua válida, seja na forma pontual, seja na forma integral, mesmo na resença de dielétricos. Logo: p UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 58 )m/C(D 2ρ=⋅∇ r (7.23) e )C(QSdD∫ =⋅ rr (7.24) A inclusão do vetor Polarização facilita por demais as coisas. Sem ele, teríamos que admitir o campo elétrico resultante devido aos inúmeros vazios microscópicos presentes em um meio material. hamamos apenas a atenção que na consideração do campo no interior do meio material, suposto COS C sem vazios, levamos em conta apenas a presença das cargas livres 7.2 - CONDIÇÕES DE FRONTEIRA PARA OS MATERIAIS DIELÉTRI Passemos agora ao estudo das relações entre os campos elétricos e as correspondentes densidades azões didáticas, vamos nalisar separadamente cada componente tangencial e normal destes vetores. Considere então a Figura 7.5 Campo elétrico tangencial na fronteira entre dois meios dielétricos 1 e 2. A integral de linha do vetor intensidade de campo elétrico ao longo desse caminho fornece a diferença derando inda os trechos bc e da muito próximos (da interface entre os meios 1 e 2) e tendendo a zero, de fluxo na interface que delimita dois meios dielétricos distintos. Por r a princípio, uma fronteira entre dois meios dielétricos, e um caminho fechado e orientado abcda, conforme mostra a figura 7.5 a seguir. a b ∆w cd Meio 1 ∆h E Etan1 tan2 Meio 2 de potencial, que obviamente resulta nula num caminho (malha) fechado. Consi a teremos então que: ∫ =∆−∆=⋅ 0w.Ew.ELdE 2t1trr (7.25) nos A separação desta integral por caminho fechado resulta nula trechos bc e da em virtude da hipótese assumida na fronteira. Nos demais trechos, ou seja, em ab e cd de mesmo comprimento, os rodutos escalares fornecem os valores E ∆w e – E ∆w . Daí: p t1 t2 2t1t EE = (7.26) Ou seja, a componente tangencial do vetor campo elétrico r E Podemos co se mantém contínua nos dois meios dielétricos. ncluir que a diferença de potencial entre dois pontos na fronteira, separados por uma distância ∆w é a mesmatanto num dielétrico como no outro. Logo para as componentes tangenciais do vetor r D , admitindo a relação constitutiva mostrada na equação (7.20), teremos: 2t1tD = 21 D εε (7.27) UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 59 ou ainda : 2 1 2t 1t D D ε ε= (7.28) Portanto, as componentes tangenciais do vetor densidade de fluxo elétrico D r Vamos agora determinar as relações entre as componentes normais dos vetores r E e r D nesta mesma interface. Considere uma superfície gaussiana elementar, constituída de um cilindro de base S e altura m não são contínuas na fronteira entre dois dielétricos. Encontram-se na relação direta entre as permissividades elétricas dos eus meios. s ∆ uito pequena ∆h, disposto na fronteira entre os dois meios 1 e 2, conforme a figura 7.6. Figura 7.6 Densidade de fluxo normal na fronteira entre dois meio dielétricos 1 e 2. A aplicação da Lei de Gauss faz com que: ∆S Dn1 Dn2 Meio 2 Meio 1∆h ∫ =⋅ QSdD rr o (7.29) embrando que vetor elementar tem sempre a orientação da normal externa em cada ponto da superfície fechada, obtemos como resultado: Sd SSDSD s2n1n ∆ρ=∆−∆ (7.30) onforme já foi visto, ρ representa a densidade superficial das ca r L C s rgas livres, presentes na interface entre os dielétricos. Nestes materiais isolantes, as cargas livres só poderão existir se forem propositadamente ali colocadas. Assim sendo, podemos considerar ρs = 0 e: 2n1n DD = (7.31) r O a ausência de cargas livres na superfície de interface. u seja, a componente normal do vetor mpregando, da mesma forma, a equaçã (7.20), para a componente normal do vetor E teremos: EE ε=ε D permanece imutável nos dois meios dielétricos, admitindo o E r u: (7.32)2n21n1 o 1 2 2n 1n E E ε ε= (7.33) tensidade de campo elétrico são descontínuas e encontram-se numa relação inversa entre as permissividades elétricas dos seus meios. Portanto, as componentes normais dos vetores in UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 60 Exemplo 7.1 Seja uma placa de teflon na região do espaço definida por 0 ≤ x ≤ a m presente no espaço livre, onde x > a e x < 0 m. A constante dielétrica do teflon é εr = 2,1 e a sua susceptibilidade elétrica é =χ 1,1. r e x0ext aˆ.EE = P r = 0. Estabeleça a relação entre intD r , intE r e intP r . Solução Teflon x εr = 2,1 0 a Fora do teflon, no espaço livre, existe um campo elétrico e como não há material a região,dielétrico ness A relação entre o vetor r D e o vetor no interior do teflon é: r E )m/C(ED 2 rr ε= onde int0rint ED rr εε= int0int E1,2D rr ε= O vetor polarização é dado por: P 20e r P )m/C(E r o int0int E1, rr ε= continuidade da componente normal deA r D na eira nos permite escrever: front )m/C(aˆ.EDD 2x00extint ε== r r Eint : r r E Dint int= ε )m/aˆ.E1E ε= V(x00 0r int εε r )m/V(aˆ.E4, r P : )m/C(aˆ.E476,0.1,1P 2x00int ε= r 524,0P 2x00ε= )m/C(aˆ.Eint ainda que os vetores E v e D r não sofrem desvio a eles se dá normalmente na inte o am atravessarem dois meios, quando a incidência rface, embora o c po elétrico apresente intensidades distintas em ada meio. Trata-se de um fenômeno explicado pela refração ondulatória. No entanto, se qualquer destes vetores d c r Então, para o campo elétrico 760a.E1E x0x0 r int =ε= r Para o vetor r εχ= u: 1P r Pelos resultados obtidos, podemos notar que a densidade de fluxo, independe do meio e corresponde ao efeito do campo elétrico no isolante adicionado à polarização do mesmo. Este exemplo nos mostra E v ou D r , provenientes de um dado meio, vir a incidir obliquamente na interface com outro meio, observaremos então um desvio nas linhas de campo, Fig. 7.7 - Placa de teflon E0 D0 P = 0 E0 D0 P = 0 UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 61 verificado pelas resultantes dos vetores intensidade de campo elétrico e densidade de fluxo elétrico. Vamos então, encontrar as relações entre as direções de r E e r D em dois materiais dielétricos. Sejam α1 e α2 os ângulos que os respectivos vetores 1D r e 2D r formam com a superfície tangente à nterface no ponto de contato ou de incidência. De (7.31) sabemos que asi componentes normais do vetor D são contínuas. Assim, de acordo co o il rado na figura 7.8, podemos escrever que: 1122 senDsenD m ust α=α (7.34) egundo a expressão (7.28), a razão entre as component s ta genciais encontra-se na razão e n r as permissiv dades dos seus meios. Logo: 2 1 22 11 cosD cosD ε ε=α α S d direta i Figura 7.8 Mudança na direção do campo, na fronteira entre 2 dielétricos. Dn1 Dtan1 Dtan2 Dtan2 Dn2 α1 α2 D2 D1 Rearranjando vem: 11 1 2ε 2 =2 cosDcosD ε αα (7.35) Dividindo (7.34) por (7.35) teremos a relação entre os ângulos definidos α e α onde: 1 2 1 2 1 2 tgtg αε ε=α (7.36) Como a magnitude da densidade de fluxo na região 2 é 2 2t 2 2n2 DDD += esta pode ser expressa em função da magnitude de r D E1 pela expressão: na região 1. Desta forma: 1 2 2 1 2 1 2 12 senDD ⎟⎟⎠⎜ ⎜ ⎝ ε +α= cos α⎞⎛ ε (7.37) or um raciocínio análogo, fica fácil verificar agora que a magnitude de r E2P será dada em função de UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 62 (7.38)1 2 2 2 1 1 2 12 sencosEE α⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ ε ε+α= Por essas expressões, podemos perceber que r D é maior na região de maior permissividade, (a não ser quando α1 = 90 r graus e o vetor é normal terface, não variando), e à in E r1 r2r E a a a V mx y z2 20 30 40= + −. $ . $ . $ / , encontre: (a) r D2 , (b) r D1 , (c) r E1 , (d) r P1 . é maior na região de enor permissividade (a não ser quando α1 = 0 e o vetor é tangencial à interface, com sua magnitude invariante). Exemplo 7.2 região x > 0 m contém um dielétrico para o qual ε = 3, e na região x < 0 m ε = 5. Se m A olução Fig. 7.9- figura do exemplo 8.2 elas condições do problema vemos que a interface entre os dois meios se dá no plano x = 0, isto é, o plano yz. Fica fácil ver então que as componentes normais dos vetores da densidade de fluxo e do ampo elétrico estarão alinhadas na direção x. ) ED 222r S z x y E2 x > 0 x < 0 P n c a aˆ.40aˆ.30aˆ.20(5E zyx0202r −+ε=ε rrr )m/C() )m/C()aˆ.200aˆ.150aˆ.100(D 2 t zy n x02 44 344 21321 −+ε= ε=ε= componente normal e a tangencial ficam perfeitamente identificadas, segundo as condições ostas pelo problema. A prop UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 63 b) r Das condições de contorno em x = 0: )m/C(aˆε100DD 2x02n1n == rr 2 2t 1 1t 2t1t DDEE ε=ε⇒= rrrr 2t1t D5 3D rr = ( ) )m/C(aˆ.200aˆ.150εD2zy02t −=r )m/C()aˆ.200aˆ.150( 5 3D 2zy01t −ε= r )m/C()aˆ.120aˆ.90aˆ.100(εD 2zyx01 −+= r r r E D D V m r 1 1 1 1 1 0 = =ε ε ε ( / ) r E a a a Vx y z1 1 3 100 90 120= + −( . $ . $ . $ ) ( / m) d) PEEPED 00r0 rrrrrr +ε=εε⇒+ε= r r P Er1 1 0 1 21= −( ) ( /ε ε C m ) r P a a a Cx y z1 0 22 100 3 30 40= + −ε ( . $ . $ . $ ) ( / ) c) m Este exemplo nos mostra que em módulo D1 = 180,28 ε0 C/m2, E1 = 60,09 V/m, D2 = 269,26 ε0 C/m2 e E2 = 53,85 V/m. Neste caso podemos então observar que como εr1 < εr2 então D1 < D2 e E1 > E2. 7.3 - RELAÇÕES DE FRONTEIRA ENTRE UM DIELÉTRICO E UM CONDUTOR Conforme vimos no capítulo 6, As cargas elétricas não ficam acumuladas no interior de materiais condutores, que pela repulsão natural entre elas, migram todas para a superfície do material. Portanto, o campo elétrico no interior de condutores é nulo. Desta forma, o campo elétrico em uma interface entre um condutor e um dielétrico só existirá na região do dielétrico e deverá ser normal à interface. Isto é verdade, pois caso existissem componentes tangenciais para o campo elétrico, nestas condições, elas deveriam ser continuas e teríamos uma diferença de potencial que se faria presente na superfície condutora. Portanto: 0EE 2t1t == (7.39) e: 0DD 2t1t == (7.40) Para as componentes normais, a lei de Gauss mostra que o fluxo total por uma superfície elementar e fechada, resulta na carga disposta pela superfície da interface condutora. Assim, SSDSdD sn ∆ρ=∆=⋅∫ rr (7.41) o que resulta: (7.42) O campo elétrico no dielétrico e próximo à interface de separação pode ser obtido pela aplicação da relação constitutiva básica (7.20). Daí: )m/C(D 2sn ρ= )m/V( ε ρE sn = (7.43) UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 64 EXERCÍCIOS 1) O campo elétrico em um certo ponto no interior de um vidro temperado Pyrex® é dado por . Localize os valores de εR e χe e em seguida determine a ) = E r ε um m/V(aˆ85aˆ220aˆ50E zyx −+−= r polarização P r e o deslocamento D r em questão. 2) Encontre a polarização num material dielétrico com constante dielétrica εR = 1,8 dado o deslocamento P r aˆ10x0,4D 7− r (C/m2). 3) Determine o valor de num material que tem suscetibilidade elétrica χe = 3,5 e polarização aˆ10x3,2P 7−=v (C/m2) suposta linear e isotrópica. 4) Se o campo elétrico (V/m) pertence a uma interface plana e perpendicular ao eixo z, onde ε1 = 2, encontre o campo elétrico no outro meio com 2 = 5 e os ângulos θ1 e θ2 que eles formam com o plano da interface. 5) Uma região 1, definida por y < 0 é o espaço livre, enquanto que a região 2, em y > 0 é material dielétrico para o qual εr = 2,4. Dado zyx1 aˆ5aˆ3aˆ2E +−= r zyx2 aˆ6aˆ4aˆ3D +−= r (C/m2), pede-se 1E r e os stá a origem tem εr1 = 3,0 e E ângulos θ1 e θ2 que eles formam respectivamente com o plano y = 0 da interface. 6) Uma interface espaço livre-dielétrico tem a equação 3x + 2y + z = 12 m. O lado em que er r zx1 aˆ5aˆ2 += 2E(V/m). Dentro destas condições, pede-se o vetor . gem e o vetor lhe é perpendicular neste ponto, apontando da região 1 (ε = 1) para a 7) A superfície de separação de dois dielétricos passa pela orir zyx r1 região 2 (εr2 = 2). Sendo zyx1 aˆ45aˆ15aˆ30E +−= r (V/m), determine o ângulo (agudo) entre A r e o campo elétrico em cada dielétrico. 8) Em um ponto da superfície condutora, zyx aˆ00,1aˆ35,0aˆ70,0E −−= r (V/m). Qual é a densidade superficial de cargas no referido ponto? aˆ14aˆ5aˆ2A ++−= 9) Um condutor cilíndrico de raio 5 cm com eixo ao longo de z possui uma densidade superficial de cargas ρS = ρ0/z (C/m2). Escreva uma expressão para o vetor do campo elétrico sobre a superfície. 10) Dois condutores cilíndricos concêntricos de raios ra = 1 cm e rb = 8 cm possuem densidades de cargas ρSa = 40 pC/m2 e ρSb, tal que o campo létrico existe apenas entre os dois cil sendo nulo para as demais regiões. Calcule a distribuição de cargas sobre o cilindro de raio r 11) Um condutor sólido tem uma superfície descrita por x + y = 3 m, estendendo-se até a origem. Na superfície a intensidade de campo elétrico é 0.35 /m. Expresse na superfície e encontre a densidade superficial de cargas. que se estende pela região z < 0 tem um lado no plano z = 0, sobre o qual existe uma densidade superficial de cargas =ρ −− em coordenadas cilíndricas. Calcule a intensidade do campo elétrico em (0.15 m, π/3, 0). 2 2s ( / ) . Encontre o vetor intensidade de campo elétrico na superfície. e indros, b e obtenha as expressões vetoriais do deslocamento e do campo elétrico entre os dois cilindros. r r E e DV 12) Um condutor )m/C(sene105 22r1010s φ× 13) Um condutor esférico centrado na origem e com raio igual a 3 m apresenta uma densidade superficial de cargas ρ ρ= 0 co θs C m UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 65 14) A intensidade do campo elétrico em um ponto sobre a superfície de um condutor é dada por r E a ax y= − −0 2 0 3 0 2, $ , $ , $a z . Quanto vale a densidade superficial de cargas nesse ponto? 15) Calcule os módulos do vetor densidade de fluxo elétrico, polarização, e a permissividade 16) Dado relativa para um material dielétrico no qual E = 0,15 MV/m, com χe = 4,25. intensidade d campo elétrico na egião z > 0, pa r E a a a Vx y z= − + −3 4 2$ $ $ / m na região z < 0, onde εr = 3,0, encontre o vetor e r ra qual εr = 6.0. o mx z 24 5 3 2 17) A interface plana entre d is dielétricos é dada por 3x + z = 5 m. No lado que engloba a origem, r D C1 710= + ×) /a a r r r −( , $ , $ ) e εr1 = 4,3, enquanto que, no outro lado, εr2 = 2 1,8. Encontre E E D e1 2 2, , θ . UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino 1 2 3 4 5 6 7 ELETROMAGNETISMO I 66 8 RESISTÊNCIA E CAPACITÂNCIA 8.1 - RESISTÊNCIA E LEI DE OHM A expressão para a densidade de corrente de condução r r J = σE , vista no capítulo 6, descreve também a lei de Ohm na sua forma pontual. Consideremos a condução de uma corrente I em um meio de condutividade σ por uma seção transversal e regular S. Tomando então a equação pontual da lei de Ohm e multiplicando ambos os lados pela área S, teremos: )A(ESSJ rr σ= (8.1) Em termos de intensidade de corrente, podemos escrever que: )A(SEI σ= (8.2) Vimos no capítulo 5 que o campo elétrico é o gradiente negativo da distribuição dos potenciais. Se admitirmos o campo elétrico como uniforme, seu módulo será o quociente da diferença entre dois potenciais V distantes de um comprimento L. Então: I SV L A= σ ( ) (8.3) O termo σS / L é apenas dependente da geometria e do meio por onde a corrente passa. Independente da tensão e da corrente, é ainda o inverso da resistência elétrica R deste meio com condutividade σ. A corrente I e a resistência R são então: )( I VR;)A( R VI Ω== (8.4) Mesmo que os campos elétricos não sejam uniformes, a resistência ainda é definida como a relação entre V e I, em que V é a diferença de potencial entre duas superfícies equipotenciais no meio condutivo e I a intensidade de corrente que atravessa estas superfícies: Podemos então, de modo genérico, escrever que: )( SdE LdE I V R S a bab Ω⋅σ ⋅−== ∫ ∫ rr rr (8.5) A resistência elétrica assim definida implica em admitir a corrente percorrendo o meio no sentido decrescente dos potenciais. Enquanto queo numerador exprime o trabalho realizado contra o campo por unidade de carga, o denominador desta fração indica o fluxo das linhas de corrente que cruzam uma determinada secção em um meio de condutividade σ. É importante ressaltar que a resistência se opõe à passagem da corrente com uma conseqüente transformação de energia elétrica em térmica, sem armazenamento de energia no campo elétrico que distribui os potenciais. Repetindo, depende apenas da geometria e do meio ou do material em que ela é constituída. UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 67 Exemplo 8.1 Considere um cabo coaxial com dois cilindros condutores concêntricos de raios a m e b m, conforme a figura 8.1. Uma diferença de potencial aplicada entre eles é responsável por uma corrente de fuga entre os condutores interno e externo que constituem o cabo. Se a corrente de fuga por unidade de comprimento for I A/m, e a condutividade do material entre os condutores for igual a σ S/m, calcule o valor da resistência de fuga da isolação entre os condutores. Solução Figura 8.1 Cabo coaxial e corrente radial. A tensão aplicada define superfícies equipotenciais cilíndricas em que a corrente de fuga entre os dois condutores se distribui radialmente. Vamos inicialmente calcular a densidade de corrente r J em um ponto genérico, distante r m do eixo do cabo entre os dois condutores. Para um metro de cabo, a corrente de fuga total será então: )A(SdJI )r(S ∫ ⋅= rr Para uma determinada distância radial r, observamos que a densidade de corrente tem seu módulo constante e está alinhada a cada elemento de área da secção S(r). Daí para um comprimento unitário vem que: )A(1.r2JI π= Logo o vetor densidade de corrente é radial e vale para cada r r J I r a A mr= 2 2 π . $ ( / ) O campo elétrico em um ponto r será, portanto: r E r r E J V m= σ ( / ) r E I r a V mr= 2π σ . $ ( / ) Se a diferença de potencial aplicada entre os dois cilindros condutores for Vab, teremos: )V(ldEVVV a bbaab ∫ ⋅−=−= rr Pelas condições do problema a diferença de potencial e a corrente consideram apenas a componente radial do deslocamento, onde raˆdrld = r . Então V I r dr Vab b a= − ∫ 2π σ . ( ) Ou seja: V I b a Vab = 2πσ ln ( ) Portanto, a resistência de fuga por metro será: R V I b a ab= = 1 2πσ ln ( )Ω Na realidade a corrente é determinada em função de uma dada posição radial r por r 1 0 2 0 r aˆdzrdaˆJI ∫ ∫ π φ⋅= , onde r é admitida constante. a b a b I UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 68 Exemplo 8.2 Considere agora que o dielétrico entre os dois condutores seja formado por dois meios distintos, conforme mostra a figura 8.2. Calcule a resistência de fuga por metro deste cabo coaxial. Solução Figura 8.2 Cabo co-axial com 2 dielétricos em paralelo. Como no exemplo anterior, a corrente se distribui radialmente e há dois meios diferentes sob a mesma tensão elétrica. Podemos então considerar que a corrente total é a soma de duas correntes I1 e I2. I I I A= +1 2 ( ) A diferença de potencial entre os dois condutores é constante. Portanto: R V I R V I1 1 2 2 = =( ) ; ( )Ω Ω )( II V I VR 21 Ω+== )( R V R V VR 21 Ω+= Como poderíamos esperar a resistência total é: )( RR R.RR 21 21 Ω+= Por analogia com o exemplo anterior podemos escrever as expressões para R1 e R2: R b a R b a1 1 2 2 1 1= =πσ πσln ( ) ; ln ( )Ω Ω A resistência (equivalente) será então dada por: )( a bln )σσ(π 1R 21 Ω+= Observe que agora para r constante temos e . r 1 0 0 r11 aˆdzrdaˆJI ∫ ∫ π φ⋅= r 1 0 0 r22 aˆdzrdaˆJI ∫ ∫ π φ⋅= Exemplo 8.3 Considere agora a configuração mostrada na figura 8.3. Calcular a resistência de fuga. a σ2σ1 b Solução Figura 8.3 Cabo co-axial com 2 dielétricos em série. Todas as linhas de corrente são radiais e passam tanto pelo condutor 1 como pelo condutor 2. Podemos então assumir que as correntes nos meios 1 e 2 são iguais e: σ2b c I I I A= =1 2 ( ) a Porém a diferença de potencial aplicada entre os condutores é: σ1 V V V V= +1 2 ( ) V R I V V R I V1 1 2 2= =. ( ) ; . ( ) )V(I.RI.RI.R 21 =+ UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 69 )(RRR 21 Ω+= )V(rd.EV 1 a c1 rr∫−= )V( a cln 2 IV 1 1 πσ= )V(rd.EV cb 22 ∫−= r r V I b c V2 22 = πσ ln ( ) R c a R b c1 1 2 2 1 2 1 2 = =πσ πσln ( ) ; ln ( )Ω Ω )( c bln σ 1 a cln σ 1 π2 1R 21 Ω⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ += 8.2 - CAPACITÂNCIA Sejam dois condutores imersos em um meio dielétrico homogêneo, conforme ilustra a figura 8.4. O condutor M1 possui uma carga positiva de Q coulombs e o condutor M2 uma carga de mesma magnitude, porém de sinal contrário. Podemos dizer então que existe, pois, uma diferença de potencial V (V1 em M1 maior do que V2 em M2) entre esses dois condutores, exprimindo a idéia de capacitância. A capacitância C deste sistema é definida como: )F( V QC= (8.6) Considerando uma carga elétrica livre Q em valor absoluto presente em cada condutor, podemos, empregando ∫ ⋅= S SdDQ rr , escrever que: )F( Ld.E Sd.E C 1 2 M M S ∫ ∫ − ε= rr rr (8.7) E M1 M2 Figura 8.4 Dois condutores carregados, imersos em um meio dielétrico. Podemos notar que tanto a carga Q com a diferença de potencial V entre os condutores, são obtidas em função do campo que se estabelece no dielétrico. Lembre que cargas positivas determinam potenciais positivos e cargas negativas determinam potenciais negativos ao estabelecer os extremos de integração na equação (8.7). UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 70 Exemplo 8.4 Considere o capacitor da figura 8.5 com duas placas paralelas iguais de área S, separadas por uma distância d. O dielétrico entre elas tem permissividade ε. Calcular a capacitância C deste arranjo. Solução Figura 8.5 Capacitor de placas paralelas. Pela definição de capacitância: C Q V F)= ( Como a carga se distribui na superfície plana e condutora de cada placa Q Ss= ρ . (C) Vemos que esta distribuição de cargas superficiais gera um campo no dielétrico e conseqüentemente uma tensão elétrica dada por: V E dL dzs d = − = − ∫∫ r r. .infsup ρε0 V( ) Os extremos de integração foram determinados segundo a orientação do eixo z. No caso, foi desprezado o efeito das bordas para o campo elétrico. Assim: V d Vs= ρε ( ) Daí: ( )C S d S d F)s s = =ρρ ε ε ( Independente de Q e V. Conhecendo a configuração do campo no dielétrico, podemos determinar tanto a carga como a diferença de potencial, exigidas para o cálculo da capacitância. Exemplo 8.5 Suponha agora que o dielétrico tenha a configuração mostrada na figura 8.6. Calcular a capacitância C. Solução Figura 8.6 Capacitor com 2 dielétricos em paralelo. d V E z + σ d s σs E UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino71 O campo elétrico neste caso possui somente a componente tangencial na interface entre os dielétricos. Pelas condições de fronteira entre os dielétricos: E Et t1 2= r r E E E1 2= = r r r r D E E C m1 1 1 1 2= =ε ε ( / ) r r r D E E C m2 2 2 2 2= =ε ε ( / ) Pela lei de Gauss: r r D dS Q C s . (∫ = ) r r D dS Q C s 1 1 1 . (∫ = ) r r D dS Q C s 2 2 2 . (∫ = ) Q Q Q C= +1 2 ( ) r r r r D dS D dS Q C s s 1 2 1 2 . .∫ ∫+ = ( ) D S D S Q C1 1 2 2+ = ( ) ε ε1 1 2 2E.S E.S Q C+ = ( ) ( )ε ε1 1 2 2S S Vd Q C+ = ( ) ε ε1 1 2 2S d S d Q V F)+ = ( C C C F1 2+ = ( ) Exemplo 8.6 Tendo o dielétrico entre as placas a configuração da figura 8.7, calcular a capacitância C. Solução Fig. 8.7 - Capacitor com 2 dielétricos em série O campo elétrico neste caso possui somente a componente normal na interface entre os dielétricos. Pelas condições de fronteira entre os dielétricos: D Dn n1 2= = D ε ε1 1 2 2 2E E C m= ( / ) V E d V V E d V1 1 1 2 2 2= =( ) ; ( ) V V V V= +1 2 ( ) V D d D d V= +ε ε1 1 2 2 ( ) Pela lei de Gauss: r r D dS Q C. (=∫ ) D S Q C D Q S C m. ( ) ( /= ⇒ = 2 ) V Q d S Q d S V= +1 1 2 2ε ε ( ) V Q d S d S = +1 1 2 2ε ε 1 1 1 1 1 2C C C F)= + ( / V2 D V d V1 ELETROMAGNETISMO I 72 EXERCÍCIOS 1) Mostre que a resistência elétrica de qualquer material com condutividade σ vale R = L / (σA), admitindo-se que uma distribuição uniforme de corrente atravessa uma secção reta de área constante A ao longo do seu comprimento L. 2) Determine a resistência que existe entre as superfícies curvas, interna e externa de um bloco de prata, definido por raios de curvatura com 0,2 m e 3,0 m respectivamente, uma abertura angular de 5º e espessura de 0,05 m. Dado: condutividade da prata σ = 6,17 x 107 S/m. 3) Uma dada chapa de alumínio possui 1,0 mil de espessura, 5,0 cm de lado e condutividade 38,2 MS/m. Calcule a resistência elétrica desta chapa (a) entre os lados que se opõem às faces quadradas e (b) entre as duas faces quadradas. 4) Calcule a resistência de isolação de um cabo coaxial de comprimento l e raios interno e externo ra e rb respectivamente. 5) Determine a resistência oferecida por um condutor de cobre ao longo de 2 m de comprimento por uma secção reta circular de raio de 1 mm em uma extremidade e que vai aumentando linearmente até um raio de 5 mm na outra. A condutividade do cobre é 58 MS/m. 6) Mostre que a energia armazenada entre as armaduras de um capacitor é maior quando existe um dielétrico, comparativamente ao espaço-livre. Demonstre também que a energia armazenada por um capacitor quando este se encontra carregado com uma carga Q e submetido a uma tensão V é dada por CV2/2. 7) Calcule a capacitância que existe entre duas placas paralelas, uma superior com carga + Q e uma inferior com carga – Q, existindo entre elas um dielétrico de permissividade ε. Despreze o espraiamento do campo elétrico nas bordas das placas condutoras. 8) Determine a capacitância de um cabo coaxial de comprimento finito L, onde o condutor interno tem raio a e o externo raio b, tendo entre eles um dielétrico de permissividade ε. 9) Calcule a capacitância que existe entre duas placas planas que formam um ângulo de 5º definidas por raios de curvatura com 1 mm e 30 mm respectivamente e uma altura de 5 mm, cuja região entre elas encontra-se preenchida por um dielétrico de permissividade relativa 4,5. 10) Retomando o problema anterior, qual a separação d que leva à mesma capacitância quando as placas encontram-se paralelas? 11) Calcule a resistência por unidade de comprimento entre duas superfícies curvas concêntricas, uma de raio r = 0.2 m, outra de raio 0.4 m, limitadas por um ângulo de 30º. O material entre elas possui uma condutividade σ = 6,17×107 S/m. 12) Calcule a resistência de um condutor de alumínio com condutividade 35 MS/m, de 2 m de comprimento, seção reta quadrada de 1 mm2 em uma extremidade, aumentando linearmente para 4 mm2 na outra extremidade. 13) Por um defeito de fabricação, um cabo coaxial possui um deslocamento entre os centros dos condutores interno e externo conforme mostrado na figura a seguir. Tendo o dielétrico uma condutividade de 20 µS/m, determine a resistência de isolação por metro desse cabo. UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 73 Figura para o problema 13 14) Resolver o problema anterior, considerando agora os cabos concêntricos. Compare os resultados. 15) Encontre a capacitância entre as superfícies condutoras do capacitor mostrado na figura abaixo, preenchido por um dielétrico de permissividade relativa 5,5. Figura para o problema15 16) Calcule a capacitância por unidade de comprimento entre um condutor cilíndrico de 6 cm de diâmetro e um plano condutor, paralelo ao eixo desse cilindro, distante 10 m do mesmo. 17) Um capacitor de placas paralelas com área de 0,30 m2 e separação 6 mm contém três dielétricos assim distribuídos : εr1 = 3.0, com espessura de 1 mm. εr2 = 4.5 com espessura de 2 mm e εr3 = 6,0 com espessura de 3 mm. Aplicando-se uma ddp de 1200 V sobre o capacitor, encontre a diferença de potencial e o gradiente do potencial (intensidade do campo elétrico) em cada dielétrico. 18) A figura a seguir mostra um cabo coaxial cujo condutor interno possui raio de 0,6 mm e o condutor externo raio de 6 mm. Calcule a capacitância por unidade de comprimento incluindo os espaçadores como indicado com constante dielétrica 6,0. 4 cm 0.8 cm 2 cm εr = 5,5 30º 60 mm 5 mm 4 mm UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 74 12.5mm 50 mm Figura para o problema 18 19) Um cabo de potência blindado opera com uma tensão de 12,5 kV no condutor interno em relação à capa cilíndrica. Existem duas isolações: a primeira tem permissividade relativa igual a 6,0, e é do condutor interno em r = 0,8 cm a r = 1,0 cm, enquanto que a segunda tem permissividade relativa igual a 3,0 e vai de r = 1,0 cm a r = 3,0 cm, que corresponde à superfície interna da capa externa. Encontre o máximo gradiente de tensão em cada isolação empregada. 20) Um certo cabo de potência blindado tem isolação de polietileno para o qual εr = 3,26 e rigidez dielétrica 18,1 MV/m. Qual é o limite superior de tensão sobre o condutor interno em relação à blindagem quando o condutor interno possui raio de 1 cm e o lado interno da blindagem concêntrica apresenta raio de 8,0 cm ? UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino 1 2 3 4 5 6 7 8 9 ELETROMAGNETISMO I 75 9 CAMPOS MAGNETOSTÁTICOS PRODUZIDOS POR CORRENTE ELÉTRICA Nos capítulos anteriores estudamos diversos fenômenos envolvendo cargas elétricas, (forças de origem eletrostática, campo elétrico, potencial escalar elétrico, corrente elétrica etc.). A partir deste capítulo estudaremos fenômenos envolvendo correntes elétricas e campos magnéticos. A relação entre a eletricidade e o magnetismo foi uma das primeiras descobertas do século XIX, no ano de 1820, quando, durante uma aula sobre eletro termia, o cientista dinamarquês Hans Cristian Oersted acidentalmente percebeu que a agulha de uma bússola sofria deflexões, quando colocada na presença de um condutor percorrido por correnteelétrica. Como já se conhecia o fato de que campos magnéticos produziam deflexões em bússolas, Oersted descobriu, portanto, que correntes elétricas também produziam campos magnéticos. Oersted descobriu também que os campos magnéticos produzidos por correntes elétricas em um fio retilíneo possuíam suas linhas de força fechadas, na forma de círculos concêntricos, conforme mostra a figura 9.1. Campo magnético I Figura 9.1 Linhas de campo magnético em torno de um condutor retilíneo percorrido por corrente elétrica. 9.1 – O CAMPO MAGNÉTICO E A LEI DE BIOT-SAVART Em nossos estudos da eletrostática, vimos que a lei de Coulomb, descrevendo o campo elétrico de cargas puntiformes, foi o modo pelo qual as observações relativas a forças eletrostáticas em corpos carregados poderiam ser expressas. A situação é a mesma em relação a campos magnéticos produzidos por correntes elétricas. Não há meios para se deduzir analiticamente uma expressão para esses campos. Tudo o que pode ser feito é observar experimentalmente as forças de origem magnética criadas por correntes elétricas e a partir daí tentar encontrar uma expressão matemática que esteja em acordo com os resultados obtidos. Esse foi justamente o trabalho desenvolvido por Jean Baptiste Biot e Felix Savart. A partir de medidas de torque em uma agulha magnética, descobriram em 1820 que a intensidade de um campo magnético incremental ∆H devido a um pequeno elemento condutor com comprimento ∆L m, percorrido por uma corrente I A, conforme mostrado na figura 9.2, poderia ser expressa por: )m/A(2R senLI 4 1H θ∆π=∆ (9.1) UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 76 L∆ I R r θ I H r∆ Figura 9.2 Campo magnético produzido por um elemento de condutor. Em termos diferenciais, substituindo ∆H por dH e ∆L por dL, chegamos à Lei de Biot-Savart: )m/A( 2R sendLI 4 1dH θπ= (9.2) Em notação vetorial, a equação 9.2 pode ser escrita como: )m/A( 3R )RLd(I 4 1 2R )raˆLd(I 4 1Hd rrrr × π= × π= (9.3) onde temos então que: I (A) Corrente elétrica. Ld r (m) Elemento vetorial de condutor, com a direção da corrente. R r (m) Vetor orientado para o ponto P, com magnitude da distância entre o elemento de condutor e o referido ponto P. d H r (A/m) Elemento vetorial da intensidade de campo magnético, ortogonal a e a . Ld r R r Subscritos podem ser utilizados para indicar o ponto ao qual cada grandeza em (9.3) se refere. Se posicionarmos o elemento de corrente no ponto 1 e descrevermos o ponto P no qual o campo deve ser determinado como ponto 2, então: )m/A( 2 12R )12raˆ1Ld(I 4 1 2Hd × π= rr (9.4) Observemos aqui a semelhança entre a lei de Biot-Savart e a lei de Coulomb, quando esta é escrita para um elemento diferencial de carga: )m/C( 2 12R 12raˆ1dQ 04 1 2Ed πε= r Em ambos os casos a intensidade de campo (elétrico, no caso da lei de Coulomb, e magnético, no caso da lei de Biot-Savart) apresentam uma relação com o inverso do quadrado da distancia. A principal diferença aparece na direção do campo e suas linhas de força. As equações (9.3) e (9.4) representam a formulação clássica da lei de Biot-Savart, ou seja, a forma como ela é mais conhecida. Entretanto, é impossível verificá-la experimentalmente dessa forma, uma UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 77 vez que o elemento diferencial de corrente não pode ser isolado. Portanto, necessitamos da forma integral da lei de Biot-Savart que pode ser escrita como: ∫ π×= 2R4 râLIdH rr (9.5) A lei de Biot-Savart pode também ser expressa em termos da densidade superficial de corrente J r , ou em termos de uma densidade laminar de corrente, K r . A densidade de corrente que tem como unidade no Sistema Internacional A/m J r 2 dispensa maiores comentários e já foi vista diversas vezes em capítulos anteriores. A densidade laminar de corrente K r é ilustrada na figura 9.3 abaixo. Ela aparece em uma lâmina de corrente extremamente fina, medida no Sistema Internacional em A/m. No caso da figura 9.3, se a largura da lâmina for b e a densidade de corrente laminar K for uniforme e normal a b, a corrente total na lâmina é: KbI = (9.6) b K dSKLId rr = Figura 9.3 Corrente laminar com densidade linear K (A/m). Assim, podemos assumir o termo LId r substituído por termos como dSK r ou , conforme a distribuição de correntes apresentada. Assim sendo, formas alternativas para a lei de Biot-Savart são obtidas. Para uma corrente laminar temos: dvJ r ( )∫ π×= s 2R4 dSrâKH rr (9.7) Analogamente para uma corrente superficial: ( )∫ π×= v 2R4 dvrâJH rr (9.8) 9.1.1 - Relação de Pyati - Uma Simplificação da Lei de Biot- Savart Podemos notar pela figura 9.2, que o produto vetorial RLd rr × da equação 9.3 produz um vetor na direção de , perpendicular ao plano que contém RHd r r e Ld r . Desta forma, um caso particular pode ser ilustrado na figura 9.4 em que os vetores R r e Ld r são co-planares, pertencentes ao mesmo plano yz. Com isto, o elemento vetorial de campo magnético dH r resultará na direção x. Considerando que o elemento de condutor dL = R dθ em que R é a distância do elemento de corrente ao ponto P em que o campo é analisado sob um ângulo dθ, temos que: UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 78 R daˆaˆ R dR aˆ R R R dL dL Ld R RLd xr2i23 θ=×θ=×=× rrrr (9.9) onde: iaˆ Vetor unitário na direção da corrente I raˆ Vetor unitário na direção de R r xaˆ Vetor unitário, no caso na direção x, resultado de ri aˆaˆ × dθ Ângulo com vértice em P, definido por dL (em radianos). Hd r z dL R θ1 θ2 P I dθ y x Figura 9.4 - Elemento condutor de corrente e ponto P situados no mesmo plano. Assim, para os casos onde o condutor e o ponto P, onde se deseja conhecer o campo magnético, estejam no mesmo plano, a lei de Biot-Savart se simplifica a: )m/A(aˆ R d 4 IHd n θ π= r (9.10) Para um condutor longo, compreendido entre os ângulos θ1 e θ2 (linha tracejada na figura 9.4), nós temos um campo resultante em P no eixo normal ao plano (no caso o eixo x) de modo que: )m/A( R dIHn ∫ θ θ θ π= 2 1 4 (9.11) Esta é uma simplificação da lei de Biot-Savart proposta por V. Pyati na revista IEEE-Transactions on Education, vol E-29, fev. de 1986. Exemplo 9.1 Encontrar a intensidade do campo magnético H em A/m a uma distância a m de um fio retilíneo e infinitamente longo, conforme pode ser mostrado pela figura 9.5, percorrido por uma corrente de intensidade I A. Solução A lei de Biot-Savart garante que o campo magnético é perpendicular ao condutor e à linha da distância entre ele e o ponto de interesse. De outra forma, vemos que o campo magnético possui linhas fechadas circulares e concêntricas ao condutor retilíneo e infinito, concordando com a experiência de Oersted, ilustrada na figura 9.1. UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 79 Figura 9.5 Campo magnético em um pont , devido a um condutor retilíneo. oi Considerando que o condutor e a distância dele ao ponto de cálculo encontram-se no mesmo plano,podemos lançar mão da relação de Pyati. Assim teremos: ∫ π π− θ π= 2 2 R d 4 IH θ= cosRa θ= cos aR a cos R 1 θ= ∫ π π− θθ π= 2 2 a dcos 4 IH )m/A( a2 IH π= Você pode verificar que a determinação deste campo pelo emprego direto da lei de Biot-Savart requer cálculos muito mais trabalhosos do que estes simplificados pela relação de Pyati, que a condição particular assim o permite. Exemplo 9.2 Um anel circular de raio R centrado na origem encontra-se no plano xy, conforme mostra a figura 9.6, sendo percorrido por uma corrente de intensidade I no sentido anti-horário. Desta forma (a) Encontrar o campo magnético no centro do anel. (b) Encontre também o campo H em um ponto z ao longo do eixo deste anel. Solução a) A situação planar permite que a relação de Pyati seja empregada. Assim, R2 I R d 4 IH 2 0 =θπ= ∫ π b) Este caso implica num problema não planar e a lei de Biot-Savart é indicada. Daí: γθπ= cosr senIdL 4 1dH 2z o90=θ (ângulo entre e lidr rr ) r Rcos =γ dL r4 IRdH 3z π= φ=RddL ( ) ∫∫ +== π2 0 2322 2π2 0 3 2 z φd zRπ4 IR rπ4 φdIRH )m/A( )zR(2 IRH 322 2 z + = No centro do anel, z = 0 e )m/A( R2 IHz = θ a H R dL UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino z dHz γ dH r Figura 9.6 Campo magnético no eixo de um anel. Podemos observar que a expressão geral para z = 0 inclui aquele onde o campo magnético no ponto central localizado no plano do anel é aquele determinado também pela relação de Pyati. 9.2 - FLUXO MAGNÉTICO φm E DENSIDADE DE FLUXO MAGNÉTICO B O campo magnético que é produzido pela passagem de uma corrente elétrica i em um condutor existirá em toda a região em volta do condutor. Assim, podemos dizer que uma superfície de área S próxima ao condutor é atravessada por um fluxo do campo magnético criado pela corrente i, como pode ser visto pela figura 9.7 abaixo. Este fluxo é determinado pelo escoamento das linhas de campo que atravessam a superfície S. Em outras palavras, determina a quantidade de linhas de campo que cruzam a secção de área A. mφ Figura 9.7 Fluxo magnético atravessando uma superfície S. Portanto, podemos definir a densidade de fluxo magnético (ou indução magnética) B como sendo: ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛φ= 2m m Wb S B (9.12) No Sistema Internacional de Unidades o fluxo magnético é definido em webbers (Wb) e a correspondente unidade de densidade de fluxo pode também receber o nome de tesla (T), equivalente a Wb/m2. Na equação (9.12) assume-se que as linhas de campo magnético são perpendiculares à área S. R dL θ = 90º γ y x i S φm ELETROMAGNETISMO I 81 Caso as linhas de fluxo não atravessem a superfície perpendicularmente a ela (ver figura 9.8), o fluxo que a atravessa pode ser expresso de modo geral por: )Wb(cosSBm α=φ (9.13) onde: φm (Wb) fluxo magnético através de S B (Wb/m2 ou T) magnitude da densidade de fluxo magnético B. α rad ângulo entre a normal à área A e a direção de B. Se B não é uniforme sobre a área considerada, o produto da equação 9.8 deve ser substituído por uma integral de superfície de modo que:: )Wb(dScosB S m ∫∫ α=φ (9.14) dS B α S Fig. 9.8 - Fluxo magnético atravessando uma área S segundo um ângulo α. Finalmente, a equação (9.14) pode ser escrita na forma de um produto escalar. Assim: )Wb(SdB S m rr∫∫ ⋅=φ (9.15) 9.4.1 - Fluxo Magnético Sobre uma Superfície Fechada - Lei de Gauss para o Magnetismo As linhas de fluxo criadas por campos elétricos estáticos ou iniciam ou terminam em cargas elétricas, indicando a existência de uma fonte, conforme pode ser visto na figura 9.9. (a). Por outro lado, as linhas de fluxo provenientes de campos magnéticos são fechadas sobre si mesmas, isto é, são contínuas, conforme podemos ver na figura 9.9 (b). Figura 9.9 Linhas de campo, (a) campo elétrico, (b) campo magnético A figura 9.9 (a) mostra que se uma carga elétrica é envolvida por uma superfície fechada S, vemos que as linhas de fluxo, ou saem divergindo da fonte, ou entram convergindo para a fonte, sendo esta a (a) (b) S – + S UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 82 própria carga envolvida por S e o campo criado por ela dito conservativo. Por outro lado, a figura 9.9 (b) ilustra que as linhas de fluxo magnético que entram em uma superfície fechada S são as mesmas que saem desta superfície. Fisicamente, isso significa que embora existam cargas elétricas isoladas, não podemos definir o conceito de cargas magnéticas como fontes para estes campos. Esta é uma diferença fundamental entre campos elétricos e campos magnéticos. Uma vez que o fluxo magnético é contínuo, a mesma quantidade de fluxo que entra em uma superfície fechada deve deixá-lo. Em outras palavras, o fluxo líquido que atravessa uma superfície fechada é nulo. Matematicamente isso pode ser expresso como: 0SdB s =⋅∫ rr (9.16) Aplicando o teorema da divergência à equação (9.16) teremos: 0B=⋅∇ (9.17) A equação (9.16) na forma integral ou a equação (9.17) descrevem a natureza contínua do fluxo magnético, característica principal de um campo solenoidal. Ela também faz parte do grupo fundamental das equações de Maxwell. Finalmente, por analogia com o campo elétrico, a relação constitutiva entre o vetor intensidade de campo magnético, r H , e o vetor densidade de fluxo magnético (ou vetor indução magnética) r B , é dada por: r rB H Wb m= µ ( / 2 ) (9.18) onde µ é a permeabilidade magnética do meio, dado no Sistema Internacional de Unidades em H/m (henry / m) ou Wb/(A.m). No vácuo ou espaço livre a permeabilidade magnética vale µ0 = 4 π.10-7 H/m, valor este bastante próximo no ar e nos meios não magnéticos em geral, como veremos mais adiante. As linhas de fluxo de um campo magnético são fechadas, o que é indicado matematicamente pelo divergente nulo deste campo vetorial, indicativo da ausência de cargas magnéticas. O campo magnético pode ser criado também por uma corrente elétrica em um condutor, que por sua vez origina um campo no espaço independente do meio. Já o número de linhas de campo ou o fluxo de suas linhas de campo depende do meio, sendo o número de linhas de campo maior ou menor segundo sua permeabilidade magnética. Por outro lado, o campo elétrico, proveniente de cargas elétricas, possui suas linhas de força abertas, ou seja, com origem ou término numa fonte, cuja densidade de fluxo depende da carga e não do meio. O campo elétrico por sua vez, responsável pela ação da força elétrica depende da permissividade elétrica do meio. Em outras palavras, o campo elétrico e o fluxo magnético são dependentes do meio, enquanto que o fluxo elétrico e o campo magnético não o são. UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 83 EXERCÍCIOS 1) Aplicando a lei de Biot-Savart, determine a expressão do campo magnético H r criado por um filamento retilíneo e infinito, percorrido por uma corrente I ao longo do eixo z, fornecendo o resultado em coordenadas cilíndricas. Compare este resultado com o do exemplo 9.1. 2) Determine o campo elementar Hd r criado por um elemento diferencial de corrente Lid r na origem de um sistema de coordenadas esféricas(r,θ,φ) em um ponto genérico do espaço. 3) Mostre que o campo magnético devido a um elemento de corrente finito mostrado na figura abaixo é dado por: φα−απ= aˆ)sen(senr4 IH 21 r P r I α2 α1 Figura do problema 3. 4) Mostre a expressão para um campo magnético H r no centro de uma espira na forma de um triângulo eqüilátero com lados L, empregando a lei de Biot-Savart e a sua simplificação dada pela relação de Piaty. 5) Três enrolamentos simples com 1 m de raio estão colocados a 1 m um do outro, com os seus eixos coincidindo com o eixo z. Se todas estas espiras são percorridas pela mesma corrente e no mesmo sentido, faça um gráfico normalizado da variação de B (fazendo Bmax = 1), ao longo do eixo z, com o ponto inicial a 1 m abaixo do primeiro enrolamento, e o ponto final a 1 m acima do terceiro enrolamento. 6) Um fio flexível de comprimento L m é dobrado na forma de em um (a) círculo, (b) triângulo eqüilátero e (c) um quadrado. Encontre o valor da indução magnética B no centro de cada configuração, quando percorrido pela mesma corrente e compare suas intensidades em cada caso. UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 84 7) Duas bobinas circulares com 500 mm de raio e 60 espiras cada uma são montadas ortogonalmente entre si, com o objetivo de neutralizar o campo magnético gerado pela Terra no centro comum estabelecido entre elas. Uma bobina está na horizontal e a outra na vertical. Encontre a corrente em cada bobina, onde o campo magnético da Terra é de 1 gauss ( 10-4 T), a um ângulo de 60º formado com o plano horizontal na terra, e um ângulo na horizontal de 15º para o oeste com referência à direção norte. 8) Determine o fluxo magnético que atravessa a porção do plano situado em φ = π/3, definida por 0,05 < r < 0,10 m e 0 < z < 1 m, originado por um filamento de corrente ao longo do eixo z com intensidade de 10 A no sentido positivo. 9) Calcule o fluxo magnético total que cruza o plano z = 0 em coordenadas cilíndricas para r ≤ 5 x 10-2 m, se ( ) z2 aˆsenr2,0B φ=r T. 10) Dado que z y2 aˆe 2 xsen50,2B −⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ π=r T, calcule o fluxo magnético que cruza a faixa determinada por z = 0, y ≥ 0 e 0 ≤ x ≤ 2 m. 11) Se , encontre o fluxo magnético que atravessa as superfícies de um volume limitado pelos planos x = 1 m, x = 6 m, y = 0, y = 4 m, z = 1 m e z = 7 m. zyx aˆaˆy3aˆx3B +−= r UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino 1 2 3 4 5 6 APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 85 10 LEI DE AMPÉRE E ROTACIONAL DO CAMPO MAGNÉTICO Pudemos verificar em capítulos anteriores que a distribuição de campos elétricos também é obtida pelo emprego da lei de Gauss, desde que o problema ofereça condições de simetria. Nestes casos, em função da superfície fechada escolhida, o produto escalar entre a densidade de fluxo e a secção atravessada pelas linhas de campo ou é nulo ou é simplesmente o produto algébrico das grandezas envolvidas neste fluxo. Desta forma, frente a simetrias oferecidas, o módulo do campo elétrico é obtido muito mais facilmente do que pela forma clássica, através da lei de Coulomb. No capítulo anterior, pudemos notar que a determinação de campos magnéticos pela clássica aplicação da lei de Biot-Savart, impunha a resolução de integrações, algumas vezes complicadas. Neste capítulo, em função de condições de simetria oferecidas pelo problema, determinaremos as distribuições de campo magnético pela aplicação da Lei Circuital de Ampère. Iremos notar que o enunciado desta lei possui uma analogia muito forte com o proposto pela lei de Gauss para o campo elétrico. 10.1 - A LEI DE AMPÈRE De acordo com um exemplo e um exercício proposto no capítulo anterior, vimos que a intensidade de campo magnético H a uma distância r de um fio condutor reto e longo com uma corrente de intensidade I é dada por: )m/A( r2 IH π= (10.1) O denominador desta expressão mostra claramente o perímetro de uma circunferência de raio r que fornece o campo magnético H inversamente proporcional à distância do fio condutor, cuja corrente cria este campo. Desta forma, o módulo deste campo assume valores constantes para cada distância radial admitida. Ainda se este campo for integrado ao longo de um caminho circular L de raio r, circundando o condutor, teremos: Ir.HdLHLdH LL =π==⋅ ∫∫ 2rr (10.2) De uma forma geral esta integral de linha compreende uma corrente Ii envolvida ou enlaçada pelo caminho fechado L onde: iL ILd.H∫ =rr (10.3) De modo geral podemos então enunciar a lei de Ampère: Conceito A integral de linha do vetor intensidade de campo magnético r H ao longo de um caminho fechado L, é igual a corrente total enlaçada por esse caminho A corrente elétrica pode ser escrita de uma forma generalizada, como sendo a integral do vetor densidade de corrente, calculada em uma superfície delimitada pelo caminho fechado sobre o qual o vetor intensidade de campo magnético é integrado. Assim: ∫∫ = SL Sd.JLd.H rrrr (10.4) UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino 85 APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 86 As equações (10.3) e (10.4) são válidas para qualquer caminho fechado L e a correspondente parte de corrente envolvida ou enlaçada por ele. Exemplo 10.1 Um condutor sólido e cilíndrico é percorrido por uma corrente I A, que se distribui uniformemente sobre a seção circular de raio R do condutor. Encontre expressões para o campo H r dentro e fora do condutor. Esboce graficamente a variação do módulo de H r , em função de r, medido a partir do centro ou eixo do condutor. Solução . Figura 10.1 - Condutor cilíndrico conduzindo uma corrente uniforme Fora do condutor onde r > R, H r será integrado ao longo de um caminho circular que contém toda a corrente do condutor: Assim, ILdH )r(L =⋅∫ rr Em coordenadas cilíndricas e para H constante: )m/A(aˆ r2 IH φπ= r Para o interior do condutor onde r < R a corrente envolvida pelo caminho L será: ∫ ⋅= )r(S SdJ'I rr A densidade de corrente é constante em função da distribuição regular. Daí: z2 aˆR IJ π= r Logo ∫ ∫ π φπ= 2 0 r 0 2 rdrdR I'I 2 2 2 R rI R rI'I ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛=π π= A intensidade de campo magnético H r definida :para 0 ≤ r ≤ R (interior do condutor) será )m/A(aˆr R2 I R rI r2 1H 22 2 φπ=π= r raficamente teremos: Figura 10. 2 - Var ã de H dentro e fora do odemos notar que para r = R esta última eixo da distribuição de corrente, fonte geradora do campo magnético que orienta as partículas de ferro. H H G iaç o condutor. P expressão é consistente conciliando com a expressão obtida para o campo fora do condutor. Podemos observar que a função que define este campo magnético é contínua em todo o espaço. Além disso, este arranjo reforça o conceito de um campo de característica solenoidal e demonstra a ausência dele no eixo do condutor, onde r = 0. Tal comportamento é verificado na prática quando pequenas partículas de limalha de ferro, inicialmente dispersas, são arranjadas em circunferências concêntricas a um trecho retilíneo de condutor quando uma corrente contínua circula por ele, perpendicularmente ao plano que contem a limalha. As linhas de fluxo possuem um vórtice no R r r r(m)R I/2πR H(A/m) UNESP– Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino 86 APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 87 Exemplo 10.2 Considere um condutor cilíndrico de raio R m, transportando uma corrente cuja densidade na seção transversal é Jc = Kc.r (A/m2), onde K é uma constante e r é a distância radial partindo-se do centro do condutor. Determine: a) - O valor de B no interior do condutor. b) - O valor de B exterior ao condutor c) – O gráfico de B = f(r) Solução a) ∫∫ =µ SL 0 Sd.JLd. B rrr r A indução magnética é constante ao longo do círculo de raio r. Portanto: ∫ ∫∫ π φ=µ 2 0 r 0 cL 0 ddrrrKdLB ∫π=πµ r 0 2 c 0 drrK2r2B )T( 3 rKB 2 c0µ= b) Fora do condutor, a corrente será a corrente total: ∫ ∫∫ π φ=µ 2 0 R 0 2 cL 0 ddrrKdLB 3 R2Kr2B 3 c 0 π=πµ r3 RKB 3 c0µ= Portanto, dentro do condutor o campo magnético varia com o quadrado da distância r, e fora do condutor a variação é com o inverso da distância. 3/RK 2c0µ R H(A/m) r(m) Figura 10.3 Variação de H dentro e fora do condutor. 10.3 - O ROTACIONAL E O TEOREMA DE STOKES Da mesma forma que empregamos uma definição pontual para a lei de Gauss, o faremos agora para a lei de Ampère. A equação: UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino 87 APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 88 )A(ILdH L∫ =⋅ rr (10.5) relaciona a integral de linha do vetor intensidade de campo magnético H r ao longo de um caminho fechado L com a corrente total envolvida por esse caminho. Embora relações envolvendo caminhos finitos sejam úteis em teoria de circuitos, é freqüentemente desejável, na teoria de campos, relações que envolvam grandezas em um ponto no espaço. Assim como o divergente aplica a lei de Gauss, o rotacional aplica a lei de Ampère de uma forma pontual. Consideremos uma área incremental ∆S, em um meio condutor, atravessada perpendicularmente por uma corrente elementar ∆I (figura 10.4). ∆S H ∆I Figura 10.4 Superfície incremental atravessada por corrente elementar. Aplicando a lei de Ampère, e dividindo sua equação por ∆S, teremos: )m/A( S I S LdH 2L ∆ ∆=∆ ⋅∫ rr (10.6) Passando ao limite, com ∆S tendendo a zero teremos: )m/A( S I 0S lim S LdH 0S lim 2L ∆ ∆ →∆=∆ ⋅ →∆ ∫ rr (10.7) O segundo membro da equação 10.13 é o módulo da densidade de corrente e o primeiro membro representa o módulo de uma operação vetorial sobre um campo também vetorial, denominada rotacional. Abreviando inicialmente o rotacional por rot, podemos escrever então que: J r ( ) )m/A(JaˆHrot 2n rr = (10.8) O versor ân indica que Hrot r é um vetor perpendicular a ∆S na direção de rJ . Vamos agora encontrar a expressão para Hrot r em coordenadas cartesianas x, y e z. Considere inicialmente um caminho fechado abcda mostrado na figura 10.5, com lados ∆y e ∆z que definem uma área incremental ∆S paralela ao plano yz e a componente em x do vetor rJ , Jx, no centro deste caminho fechado e perpendicular a ∆S. A lei de Ampère aplicada ao caminho L que delimita a superfície ∆S fornece: ILdH L ∆=⋅∫ rr (10.9) Vamos tomar a orientação do caminho abcda e o campo magnético H r com suas componentes Hy e Hz orientadas de acordo com o sentido definido pela Regra da Mão Direita, de modo que este campo crie uma componente Jx do vetor , conforme a figura 10.5 a seguir. J r UNESP –Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 89 Figura 10.5 - Circulação de H r em uma superfície ∆S. Considerando cada trecho da integral de linha ao longo de L separadamente e expandindo cada uma em torno da vizinhança do ponto central no caminho abcd, tem-se: ( )[ ] ( )[ ] ( )[ ] ( )[ ] ( ) ( ) ( ) ( ) ⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ ∆∆∂ ∂−∆−⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ ∆∆∂ ∂+∆− ⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ ∆∆∂ ∂+∆+⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ ∆∆∂ ∂−∆ =∆−∆−∆+∆=⋅∫ yzH y2 1zHzyH z2 1yH yzH y2 1zHzyH z2 1yH zHyHzHyHLdH zz0yy0 zz0yy0 dazcdybczabyL rr (10.10) Reduzindo a expressão acima, dividindo-a por ∆S = ∆y ∆z e passando ao limite tendendo a zero, podemos escrever: ( ) xxxyzx aˆJaˆzHyHaˆHrot =⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ ∂ ∂−∂ ∂=r (10.11) Do mesmo modo, teremos para nas direções positivas de y e z: J r ( ) yyyzxy aˆJaˆxHzHaˆHrot =⎟⎠⎞⎜⎝⎛ ∂∂−∂∂= r (10.12) ( ) zzzxyz aˆJaˆyHxHaˆHrot =⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ ∂ ∂−∂ ∂=r (10.13) Assim: zzyyxx z xy y zx x yz aˆJaˆJaˆJ aˆ y H x H aˆ x H z Haˆ z H y HHrot ++ =⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ ∂ ∂−∂ ∂+⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ ∂ ∂−∂ ∂+⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ ∂ ∂−∂ ∂=r (10.14) ou: )m/A(JHrot 2 rr = (10.15) Lembrando do operador nabla assim definido, temos que: d c b z Hy Hz Hz Jx x Hy y a UNESP –Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 90 ( ) ( ) ( ) zyx aˆzaˆyaˆx ∂ ∂+∂ ∂+∂ ∂=∇ (10.16) para: zzyyxx aˆHaˆHaˆHH ++= r (10.17) vamos fazer a operação ∇ × . Assim, teremos: rH zyx zyx HHH zyx aˆaˆaˆ H ∂ ∂ ∂ ∂ ∂ ∂=×∇ r (10.18) z xy y zx x yz aˆ y H x H aˆ x H z Haˆ z H y HH ⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ ∂ ∂−∂ ∂+⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ ∂ ∂−∂ ∂+⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ ∂ ∂−∂ ∂=×∇ r (10.19) ou: JH rr =×∇ (10.20) Portanto, o rotacional do vetor intensidade de campo magnético pode ser escrito em termos do produto vetorial do operador nabla pelo vetor intensidade de campo magnético, expressando a lei de Ampère na forma pontual, quando os vetores tiverem suas componentes expressas em coordenadas cartesianas. Conceito A circulação do vetor intensidade de campo magnético r H em uma superfície ∆S que tende a zero (caracterizando um ponto no espaço), dividida pela área dessa superfície, é o vetor densidade de corrente r J neste ponto . Em coordenadas cilíndricas ( ) o rot Hz,,r φ r , ou Hr×∇ em abuso de notação, é expresso por: ( ) z rzr r z aˆH r rH r 1aˆ r H z Haˆ z HH r 1H ⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ φ∂ ∂−∂ ∂+⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ ∂ ∂−∂ ∂+⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ ∂ ∂−φ∂ ∂=×∇ φφφ r (10.21) Em coordenadas esféricas ( ) por: φθ,,r ( ) ( ) ( ) ( ) φ θ θ φθφ ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ θ∂ ∂−∂ ∂+ ⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ ∂ ∂−φ∂ ∂ θ+⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ φ∂ ∂−φ∂ θ∂ θ=×∇ aˆH r rH r 1 aˆ r rHH sen 1 r 1aˆH senH senr 1H r r r r (10.22) UNESP –Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 91 Exemplo 10.3 Considere um condutor cilíndrico com raio R m, percorrido por uma corrente I A, uniformemente distribuída. Encontre dentro e fora do condutor. ∇ × rH Solução I Figura 10.6 - condutor percorrido por corrente I O vetor intensidade de campo magnético será expresso em coordenadas cilíndricas por: φφ= aˆHH r Pela lei de Ampère, dentro do condutor, Hφ vale: r R2 IH 2π=φ e fora dele: r2 IH π=φ Hφ Hφ Portanto, dentro do condutor, o rotacional em coordenadas cilíndricas, conforme a equação (10.21), fornece: )m/A(aˆ R2 Ir rr 1H 2z2 2 ⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ π∂ ∂=×∇ r )m/A(aˆ R IH 2z2π=×∇ r Ou ainda, como esperado: )m/a(JH 2 rr =×∇ Fora do condutor:∇ × = ⎛⎝⎜ ⎞ ⎠⎟ r H r r rI r a A mz 1 2 2∂ ∂ π $ ( / ) 0H=×∇ r 10.3.1 - O TEOREMA DE STOKES Considere a superfície S, dividida em superfícies incrementais ∆S, mostrado na figura 10.7. (A figura será feita em sala de aula) Fig. 10.7 - Superfície dividida em superfícies incrementais. Sabemos pela definição de rotacional que: ( ) )m/A(aˆH S LdH 2 n L ⋅×∇=∆ ⋅∫ r rr (10.23) r R r UNESP –Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 92 ou ( ) ( ) SHSaˆHLdH n L rrrrr ∆⋅×∇=∆⋅×∇=⋅∫ (10.24) Realizando uma circulação para todas as áreas incrementais, e somando os resultados, a maioria dos termos se cancela, com exceção dos que estão no contorno da superfície S. Portanto: ( ) )A(SdHLdH SL rrrr ⋅×∇=⋅ ∫∫ (10.25) A equação acima é chamada de Teorema de Stokes, válida para qualquer campo vetorial. Utilizando-a na lei circuital de Ampère, podemos escrever: ( ) )A(LdHSdJSdH LSS ∫∫∫ ⋅=⋅=⋅×∇ rrrrrr (10.26) Pelas identidades acima percebemos que podemos facilmente partir da lei de Ampère na forma integral e chegar na sua forma pontual e vice-versa, utilizando o teorema de Stokes. O conceito do rotacional pode também ser aplicado ao campo eletrostático. Se tomarmos a circuitação do vetor intensidade de campo elétrico em um caminho fechado, teremos: 0ld.E L =∫ rr (10.27) E aplicando à equação 10.27 o teorema de Stokes, teremos: ∇ × =rE 0 (10.28) A equação (10.27) expressa clara e nitidamente a lei de Kirchhoff aplicada às tensões elétricas que fecham um laço ou uma malha num circuito elétrico. Por outro lado, sabemos que o campo elétrico possui suas linhas de força com origem ou término na carga elétrica, fonte geradora deste campo. A equação (10.28) mostra então que os campos conservativos possuem rotacional nulo e suas linhas de campo não são fechadas. UNESP –Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 93 EXERCÍCIOS 1) Nas configurações abaixo, cada condutor conduz uma corrente I (A). Qual é o valor da integral de linha do vetor intensidade de campo magnético r H em cada caso? (a) (b) (c) Figura para o problema 1. 2) Um condutor cilíndrico não maciço, bastante fino e com raio a e extensão infinita conduz uma corrente I. Calcule para os pontos internos e externos a este condutor usando a lei de Ampère. H r 3) Um condutor cilíndrico de raio 0,02 m possui um campo magnético interno dado por: m/Aarr),(H φ− ⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ ×−×= 2 2 5 1032 10774 r Qual é a corrente total no condutor? 4) Um cabo coaxial com condutor interno de raio a (m), condutor externo com raio interno b (m) e raio externo c (m), é percorrido por uma corrente I (A) uniformemente distribuída (as direções em cada condutor são opostas entre si). Mostre que para b ≤ r ≤ c m : φ⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ − − π= aˆbc rc r IH 22 22 2 r 5) Determine uma expressão para H r devido a uma película plana (infinita) de correntes com densidade laminar K r uniforme. 6) Por um fio condutor ao longo do eixo y passa uma corrente de 10 A no seu sentido positivo. Em uma película de correntes superficiais localizada em z = 4 m, existe uma distribuição superficial de densidade xaˆ,K 02= r A/m. Encontre o campo H r no ponto (2, 2, 2) m deste espaço. UNESP –Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 94 7) Em coordenadas cartesianas a região -b ≤ z ≤ b m. suporta uma densidade de corrente (volumétrica), constante J = J0 ây (A/m2), conforme figura abaixo. Use a lei de Ampère para obter r H em todo o espaço. x z -b b Figura para o problema 7. 8) Dado o vetor genérico φ − ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ φ= aˆseneA z 2 12r em coordenadas cilíndricas, calcule o rotacional de r A em ( 0,8; π/3; 0,5). 9) Dado o vetor genérico θ θ+θ= aˆ r senaˆ r cosA r 33 2r , mostre que o rotacional de A r é nulo para todo o espaço. 10) Um condutor circular de raio r0 = 1 cm possui um campo interno variando em função da distância radial r (r ≥ 0) segundo φ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ −= aˆ)arcos( a r)arsen( a 1 r 10H 2 4r A/m, onde a = π / (2 r0). Encontre a corrente (total) no condutor a partir do cálculo do rotacional do campo H r e também pelo emprego da lei circuital de Ampère. 11) Calcule o rotacional de em coordenadas cartesianas em decorrência de uma corrente I que percorre um filamento ao longo do eixo z no seu sentido positivo. H r 12) Em coordenadas cartesianas a região − a ≤ z ≤ a suporta uma densidade constante de corrente volumétrica . Use a Lei de Ampère para obter y0aˆJJ = r H r em todo o espaço. Obtenha o seu rotacional e compare com a densidade J r . 13) Encontre a densidade de corrente J r se: (a) yx .x2aˆ.y7aˆ.H ++= z zaˆ.5+ aˆ.θcos φr φθr aˆ3 r , (b) aˆ.r2aˆ.r6H +=r e (c) aˆ.3aˆ.r2H ++=r . UNESP –Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino 1 2 3 4 5 6 7 ELETROMAGNETISMO I 95 11 FORÇA MAGNÉTICA SOBRE CONDUTORES Até então, nossos estudos sobre campos magnéticos o enfatizaram como sendo originado pela circulação de uma corrente elétrica em um meio condutor. No entanto, sabemos que estes campos existem também nos chamados ímãs permanentes ou magnetos, com suas linhas de força fechadas sobre si mesmo. Neste capítulo estudaremos a força exercida sobre um condutor conduzindo uma corrente elétrica, quando colocado na presença de campos magnéticos. Enfatizaremos, no entanto, que a força magnética exercida sobre um condutor com corrente é devida à presença de um campo magnético externo a ele. 11.1 - EFEITO DE UM CAMPO MAGNÉTICO EM UM FIO CONDUZINDO CORRENTE Consideremos o campo magnético uniforme gerado entre os pólos de um imã permanente, como pode ser visto na figura 11.1. B S N Figura 11.1 Campo magnético de um imã permanente. A seguir, um condutor conduzindo uma corrente I (A) será imerso no interior deste campo magnético, conforme mostra a figura 11.2. O condutor tem sua direção perpendicular ao plano do papel na figura, com a corrente saindo. Já vimos anteriormente que as linhas de campo magnético criado por esta corrente são formadas por circunferências concêntricas ao condutor. O campo magnético gerado pela corrente reforça o campo do imã permanente na parte de baixo do campo e o enfraquece na parte de cima. Assim, uma força, de natureza magnética, aparecerá no condutor, levando-o na direção do campo mais fraco, buscando um novo equilíbrio no número de linhas do campo resultante, acima e abaixo do condutor. S N B I Figura 11.2 Condutor conduzindo corrente imerso em um campo magnético. UNESP – Naasson Pereira de Alcântara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 96 A magnitude da força que atua sobre o condutor é expressa por: (N)IBLF= (11.1) onde: L (m) Comprimento (efetivo) do condutor imerso no campo B (Wb/m2) Magnitude da indução magnética do campo externo I (A) Intensidade de corrente no condutor Se o condutor não cortar o campo perpendicularmente (figura 11.3), a força F será expressa em função da inclinação formada pelo ângulo θ entre a direção do condutor e o campo externo onde:)(NIBLsenF θ= (11.2) comprimento efetivo θ I B Figura. 11.3 Condutor cortando campo magnético. Generalizando, para um elemento de corrente, a intensidade da força incremental dF fica então: )(NIBdLsendF θ= (11.3) Não é difícil observar que as equações (11.2) e (11.3) são fundamentais para explicar o princípio de funcionamento dos motores elétricos. Resumindo, podemos utilizar uma notação vetorial para a força incremental exercida sobre um elemento de corrente, de modo que: )N()BLd(IFd rrr ×= (11.4) onde: Fd r (N) Vetor indicando a magnitude e direção da força em um elemento de condutor I (A) Corrente no condutor B r (T) Vetor indicando a magnitude e direção da densidade de fluxo Ld r (m) Vetor com direção do elemento de condutor, orientando a direção da corrente 11.2 - FORÇA ENTRE DOIS CONDUTORES LINEARES E PARALELOS Consideremos agora dois condutores filamentares, retilíneos e paralelos de comprimento L (m) cada, separados de uma distancia R (m) no ar, como ilustra a figura 11.4 abaixo. O condutor 1 é percorrido por uma corrente de intensidade I1 (A), e o condutor 2 por uma corrente de intensidade I2 (A) em direção oposta ao primeiro. O condutor 1 fica sujeito a uma força devido ao campo magnético criado pela UNESP – Naasson Pereira de Alcântara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 97 corrente elétrica do condutor 2. Por outro lado, o condutor 2 fica sujeito a uma força de mesma magnitude e direção oposta, devido ao campo magnético criado pela corrente do condutor 1. F1 R L F2 I1 I2 Figura 11.4 Forças de repulsão em condutores percorridos por correntes opostas O campo magnético resultante é mais forte entre os dois condutores do que fora deles, conforme é sugerido na figura 11.5. Assim, intuitivamente podemos perceber que a força entre eles será de repulsão, no sentido de buscar uma nova posição de equilíbrio. Isso pode ser confirmado pela regra da mão esquerda: a força magnética F no polegar estendido é o resultado do produto vetorial entre a corrente I no dedo médio e o campo B no indicador, formando um ângulo, no máximo reto, entre o campo e a corrente. Neste caso particular, o campo B e a corrente I são ortogonais. Pelo mesmo raciocínio, se as correntes estiverem na mesma direção, observamos que a força de interação entre os condutores será agora de atração. I1 I2 Figura 11.5 Campo magnético entre dois condutores paralelos A magnitude da força sobre o condutor 2 é: )N(LBIdLBIF 12 L 012 == ∫ (11.5) Recordando o exemplo 9.1, a indução magnética provocada pela corrente do condutor 1, na posição do condutor 2, isto é, a uma distância R, será: )m/Wb( R2 IB 2101 π µ= (11.6) Assim, para a magnitude da força teremos: F r )N(L R2 IIF 210π µ= (11.7) Como os condutores tem o mesmo comprimento L, a equação (11.7) se aplica também à magnitude da força agente sobre o condutor 1. Temos aí um par ação-reação, justificado pela 3ª. Lei de Newton. Dividindo a equação 11.7 por L, teremos a expressão do módulo da força expresso por unidade de comprimento: Ou seja: )m/N( R2 II L F 210 π µ= (11.8) UNESP – Naasson Pereira de Alcântara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 98 Se I1= I2, e considerando o valor de µ0 = 4 π x 10-7 H/m para o ar, F I L R N= × −2 10 7 2 ( ) (11.9) Se L = R = 1m, F = , então teremos I = 1 A. Essa medida da força é utilizada para definir o ampère (A) como unidade de corrente elétrica no Sistema Internacional de Unidades. 2 10 7× − N Exemplo 11.1 Um fio transportando uma corrente 2 I (A) é colocado entre 2 outros fios que transportam uma corrente de intensidade I (A) cada um, conforme mostra a figura 11.6. Os três fios são paralelos e mantém entre si a mesma distância d (m). As três correntes estão no mesmo sentido. Determine a força magnética por unidade de comprimento sobre cada um destes condutores aéreos. Solução: Seja F F I d N1 2 2 1 0 22 2, , ( )= = µ π com: F1 2, = Força sobre o condutor 1, devido à interação entre a corrente no condutor 1 e o campo produzido pela corrente do condutor 2. F2 1, = Força sobre o condutor 2, devido à interação entre a corrente no condutor 2 e o campo produzido pela corrente do condutor 1. Do mesmo modo F F I d N2 3 3 2 0 22 2, , ( )= = µ π onde: F2 3, = Força sobre o condutor 2, devido à interação entre a corrente no condutor 2 e o campo produzido pela corrente do condutor 3. F3 2, = Força sobre o condutor 3, devido à interação entre a corrente no condutor 3 e o campo produzido pela corrente do condutor 2. E ainda F F I d N1 3 3 1 0 2 4, , ( )= = µ π onde: F1 3, = Força sobre o condutor 1, devido à interação entre a corrente no condutor 1 e o campo produzido pela corrente do condutor 3. F3 1, = Força sobre o condutor 3, devido à interação entre a corrente no condutor 1 e o campo produzido pela corrente do condutor 1. Figura 11.6 Três condutores conduzindo corrente. As forças sobre o condutor 2, e possuem a mesma magnitude, porém estão em direções opostas. Portanto: F2 1, F2 3, r r r F F F2 2 1 2 3 0= + =, , A força sobre o condutor 1 será: I F3,1 F1,3 F1,2F3,2 F2,1F2,3 2I I 1 3 2 UNESP – Naasson Pereira de Alcântara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 99 F F F I d N1 1 2 1 3 0 25 4 = + =, , ( )µπ F F F I d N3 3 1 3 2 0 25 4 = + =, , ( )µπ A força sobre o condutor 3 será: 11.3 - TORQUE SOBRE UMA ESPIRA PERCORRIDA POR CORRENTE - MOMENTO MAGNÉTICO As forças que atuam sobre uma espira colocada na região de um campo magnético, tendem a fazê-la girar em relação a um eixo. Tomemos inicialmente uma espira retangular de lados L e d, com o lado L perpendicular ao plano do papel, como mostra a figura 11.7, representando o comprimento do elemento finito e efetivo de corrente responsável pela metade do conjugado na espira. Vamos repetir aqui a expressão da força agente em qualquer elemento Ld r de um condutor conduzindo uma corrente I: )N()BLd(IFd rrr ×= (11.10) Se a normal ao plano da espira forma um ângulo θ com o campo magnético presente nr Br , então a componente da força magnética responsável pelo torque sobre cada condutor ativo é: )N(ILBsenFt θ= (11.11) A componente Ft da força magnética F multiplicada pela distancia d/2 ao eixo de rotação da espira é conhecida por torque, aqui representado pela letra T e dado em N.m no Sistema Internacional de Unidades. Neste caso, o torque resultante ou conjugado sobre a espira será dado por: )m.N(ILBdsen 2 dF2T t θ== (11.12) No caso desta espira retangular, L d = A onde A é a área da espira. Assim: (N.m)θsenBAIT= (11.13) θ Ft θ F n d Ft B F Figura 11.7 Torque sobre uma espira imersa num campo magnético, conduzindo corrente. UNESP – Naasson Pereira de Alcântara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 100 O produto I x A, de dimensão corrente x área, é conhecido como momento magnético da espira. Ele é expresso em ampères x metro quadrado. Designando o momento magnético pela letra m a equação (11.13) fica: (N.m)mBsenθT= (11.14) Se uma bobina é composta de N espiras, o momento magnético total sobre a bobina será então: m = N.I.A (A.m2) (11.15) Finalmente, o momentomagnético poderá ser representado vetorialmente como: )m.A(aˆmm 2n=r (11.16) O versor tem a sua orientação fornecida pela regra da mão direita, com o polegar da mão direita estendido, quando os demais dedos se fecham acompanhando o sentido de percurso da corrente no circuito. De modo geral, o torque será expresso então pelo seguinte produto vetorial: naˆ ).(B mNmT rrr ×= (11.17) Exemplo 11.2 Uma bobina retangular com 200 espiras de 0,3 x 0,15 m2 com uma corrente de 5,0 A, está em um campo uniforme de 0,2 T. Encontre o momento magnético e o torque máximo na bobina. Solução 2m045.015.03.0A =×= 2m.A45045.05200nIAm =××== m.N92.045mBTmax =×== Exemplo 11.3 Um medidor de corrente d´Arsonval é constituído por uma bobina capaz de girar em torno de um eixo numa região onde existe um campo radial com intensidade uniforme de 0.1 Wb/m2. Uma mola (espiral) de torção oferece um torque resistente Tm = 5,87x10-5 θ N.m, com θ em radianos, contra o movimento de rotação da bobina. Sabe-se que o enrolamento da bobina é formado por 35 espiras retangulares de dimensões 23 mm x17 mm. Qual é o ângulo de rotação que resulta pela passagem de uma corrente de 15 mA na bobina? Solução Fig. 11.8 - Medidor de D'Arsonval N S B θ Instrumento de bobina móvel UNESP – Naasson Pereira de Alcântara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 101 Pela figura 11.8 vemos que o campo magnético ao qual a bobina móvel é exposta, tem suas linhas de campo distribuídas radialmente. Pela expressão geral do torque temos: )m.N(BmT rrr ×= cuja magnitude é dada por )( o90senBmT =θθ= O ângulo q = 90o indica uma configuração radial do campo magnético presente no núcleo da bobina, conforme explicado no final deste exemplo Assim sendo, o momento magnético na bobina fica: AINm = Daí, 2363 m.A10205,0101723101535m −−− ×=×××××= O campo magnético exercerá sobre as espiras um torque elétrico mN1005210102050T 53 .,,, −− ×=××= No equilíbrio, este torque encontra reação no torque mecânico Tm de resistência da mola do medidor. Desta forma mTT= θ1087,51005,2 55 −− ×=× o20θrad35,0θ ≅⇒= Este medidor de corrente é um instrumento de bobina móvel e que deve apresentar o mesmo torque independente da posição angular. Para tal, o enrolamento com as espiras é montado ao redor de um núcleo de ferro doce de formato cilíndrico. Desta forma, ele conduz o fluxo magnético no sentido radial de modo que a força magnética sempre produza o mesmo torque em qualquer posição angular. UNESP – Naasson Pereira de Alcântara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 102 EXERCÍCIOS 1) Uma película de correntes com densidade laminar K r = 30 ây A/m está localizada no plano z = 6 m. Um condutor filamentar está sobre o eixo y, conduzindo 6,0 A na direção ây. Calcule a força nele exercida por unidade de comprimento. 2) Uma espira circular de raio a m, conduzindo uma corrente I A está no plano z = h m, paralela a uma película uniforme de corrente K = K0ay A/m localizada em z = 0. Expresse a força sobre um comprimento infinitesimal da espira. Integre este resultado e mostre que a força total é nula. 3) Uma barra de 3 Kg, condutora, horizontal, com 800 mm de comprimento, faz um ângulo de 60º em relação a um campo magnético horizontal de 0.5 T. Que corrente é necessária na barra para fazê-la flutuar? Adote a aceleração da gravidade local como sendo 10 m/s2. 4) Dois condutores de comprimento L m percorridos por correntes I A em direções opostas são normais a um campo magnético cuja indução tem uma magnitude B Wb/m2. A separação entre os condutores é fixa de w m. Mostre que o torque relativo a qualquer eixo paralelo aos condutores é dado por BILw cosθ N.m, sendo θ o ângulo formado entre a direção do campo e a distância entre os condutores. 5) Uma espira circular de corrente de raio r m e corrente I A está localizada sobre o plano z = 0. Calcule o torque que resulta se a corrente está na direção e existe um campo uniforme φaˆ )T(2/)aˆaˆ(BB zx0 += r . 6) Duas espiras circulares de raio R e centro comum estão orientadas de forma tal que seus planos são perpendiculares entre si. Deduza a expressão que mostra o torque de uma espira sobre a outra. 7) Um elemento retilíneo de corrente com 3 m de comprimento acha-se ao longo do eixo y, centrado na origem. A corrente que o percorre vale 6 A na direção ây. Calcule a indução magnética B r quando este elemento de corrente experimenta uma força de N2/)aˆaˆ(5,1 zx + . 8) Calcule o trabalho e a potência necessários para mover o condutor mostrado na figura abaixo de uma volta completa, na direção mostrada, em 20 ms se r 3aˆ10x50,2B −=r T e a corrente é de 45 A. 9) Utilizando-se o mesmo condutor e as condições do problema anterior, determine o trabalho necessário para movê-lo descrevendo o mesmo cilindro em sentido horário. 10) Um condutor de comprimento 2,5 m localizado em z = 0, x = 4 m, conduz uma corrente de 12,0 A na direção . Encontre yaˆ− B r uniforme na região, se a força sobre o condutor é de 1,20 x 10-2 N, na direção 2aa zx /)ˆˆ( +− . z I I I 0,03 m z 0,10 m UNESP – Naasson Pereira de Alcântara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 103 11) Um condutor retilíneo no plano y0z conduz uma corrente I no sentido positivo do eixo y a uma distância h de uma fita de corrente simétrica em relação ao plano y0z, de largura w e densidade K0, no mesmo sentido da corrente do condutor. Encontre uma expressão para a força por unidade de comprimento sobre o condutor. Qual será o resultado quando a largura da fita tornar- se infinita? 12) Um condutor com corrente I fura ortogonalmente uma película plana de corrente K r . Calcule a intensidade da força por unidade de comprimento sobre o condutor, acima e abaixo da película. 13) A espira retangular da figura abaixo encontra-se em um campo magnético onde 2/)aˆaˆ(05,0B yx += r T. Determine o torque em relação ao eixo z quando a espira na posição indicada, conduzir uma corrente de 5,0 A. 14) Uma espira circular de raio 0,35 m está no plano x = 0, centrada no eixo x. Na posição coordenada (0; 0; 0,35) m a corrente tem módulo 5,0 A e está dirigida segundo . Determine o torque sobre esta espira quando imersa num campo magnético uniforme onde yaˆ− )aˆaˆ(4,88B zx += r µT. 15) Um condutor retilíneo de comprimento L conduz uma corrente I no sentido indicado na figura. Calcule o trabalho e a potência necessária para fazer o condutor dar uma volta inteira numa freqüência de n rotações por minuto, se r0 aˆBB = r , com B0 uma constante positiva. z z I ─ 0,04 m 0,08 m I r 16) Para a mesma configuração do problema anterior, um condutor com 100 mm de comprimento conduz uma corrente constante de intensidade 5,0 A, descrevendo um cilindro com 25 mm de raio. Calcule o trabalho necessário para movimentar o condutor, sob velocidade constante, de φ = 0 a φ = π no sentido anti-horário. Quanto vale o trabalho total para uma volta completa se o sentido da corrente for invertido no semi-ciclo seguinte na presença de um campo alternado onde raˆsen5,3B φ−= r mT ? 17) Obtenha a expressão para a potência necessária para girar um cilindro de raio r com N condutores de comprimento L contra o campo a n revoluções por minuto, se r0 aˆ)2sen(BB φ= r e as correntes I trocam de sentido em cada quadrante, quando muda o sinal de . B r UNESP – Naasson Pereira de Alcântara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 104 18) Um condutor com 4m de comprimento conduz 10 A na direção , ao longo do eixo y entre as posições y = 2 m e y = – 2 m. Se o campo yaˆ xaˆ05,0B = r T, calcule o trabalho necessário para mover o condutor paralelamente a si mesmo com velocidade constante até a posição dada por x = z = 2 m. 19) Um condutor está localizado ao longo do eixo z em – 1,5 ≤ z m–1 ≤1,5 e conduz uma corrente fixa de 10,0 A no sentido de . Para um campo zaˆ− yx2,04 aˆe10x0,3B −−= r T, encontre o trabalho e a potência necessários para mover o condutor paralelamente ao longo do eixo x com velocidade constante para x = 2 m e y = 0 durante 5 ms. UNESP – Naasson Pereira de Alcântara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 105 SOLENÓIDE E INDUTÂNCIA 12 12.1 - O SOLENÓIDE Campos magnéticos produzidos por simples condutores ou por uma única espira são bastante fracos para efeitos práticos. Assim, uma forma de se conseguir campos magnéticos com intensidades maiores é através de um solenóide. Um solenóide é um enrolamento helicoidal, conforme é mostrado na figura 12.1 abaixo. Consideremos que o enrolamento ilustrado possua N voltas igualmente distribuídas ao longo do comprimento L do solenóide. A corrente que flui pelo enrolamento é I A. Se o espaçamento dado entre espiras for muito pequeno em relação ao raio de cada espira, podemos substituir o enrolamento por uma lâmina de corrente superficial de densidade laminar K onde: )m/A( L INK = (12.1) B IN L Figura 12.1 - Um solenóide com N espiras enroladas. Para encontrarmos a densidade de fluxo magnético B no centro do solenóide, consideremos uma seção da lâmina com espessura elementar dx, como se fosse uma única espira, cuja corrente é: )A(dx L INKdxIe == (12.2) O exemplo 9.2 mostrou como se calcular o campo magnético gerado por um anel circular de corrente ao longo do seu eixo. Tomando a relação constitutiva B =- µ H, a densidade de fluxo devido a cada anel de corrente de raio R em uma posição genérica x ao longo do eixo deste anel é dada por: )m/Wb( xR2 RI B 23 22 2 e + µ= (12.3) Ou, para o elemento de espessura dx considerando (12.2), a densidade elementar de fluxo em cada espira percorrida pela mesma corrente I é: )m/Wb(dx xRL2 NIRdB 23 22 2 + µ= (12.4) UNESP –Naasson Pereira de Alcântara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 106 Desta forma, a densidade total B no centro do solenóide é obtida pela integração ao longo da lâmina de corrente, considerando seus extremos em relação a este centro. Logo: )m/Wb( xR dx L2 NIRB 2 2/L 2/L 3 22 2 ∫ − + µ= (12.5) Realizando a integração obtemos: )m/Wb( LR4 NIµB 2 22+ = (12.6) Se o comprimento do solenóide for muito maior do que o seu raio, a expressão (12.6) se reduz a: )m/Wb(K L NIB 2µ=µ= (12.7) onde K é a densidade laminar de corrente em A.m-1. As equações (12.6) e (12.7) fornecem o valor da indução magnética no centro do solenóide. Mudando os limites de integração para 0 e L, teremos a indução magnética nos extremos do solenóide. Assim, )m/Wb( 2 K L2 NI LR2 NIB 2 22 µ=µ≅ + µ= (12.8) que é a metade do valor no centro da bobina. Exemplo 12.1 Um solenóide uniforme possui 400 mm de comprimento, 100 mm de diâmetro, 100 espiras e uma corrente de 3 A. Encontre a indução magnética B no eixo do solenóide: a) - no seu centro, b) - em uma extremidade e c) - a meio caminho entre o centro e a extremidade. Solução a) – no centro )T( LR4 NIµB 22 0 + = )mT(915,0 4,005,04 310010π4B 22 7 = +× ×××= − b) – em uma das extremidades )T( LR2 NIµB 22+ = )mT(468,0 4,005,02 310π4B 22 7 = + ××= − c) - entre o centro e uma das extremidades. Faça-o como exercício, considerando como origem da integração um ponto a 1/4 e 3/4 de cada extremidade respectivamente. Vamos agora encontrar o torque que impõe um conjugado e tende a girar o solenóide, se este for imerso em um campo magnético B. É fácil ver que o torque será máximo quando o eixo do solenóide se encontrar na direção perpendicular à do campo magnético externo, conforme é mostrado na figura 12.2, onde o eixo de rotação estará no centro do solenóide. Supondo que este seja de seção quadrada de lado d, a componente da força tangencial de torque Ft num único segmento d de espira sob interação magnética é: )N(cos.BIdFt β= (12.9) UNESP –Naasson Pereira de Alcântara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 107 r r d L/2 β F Ft B L /2 Fig. 11.2 - Torque no solenóide Mas: r2 dcos =β (12.10) Se considerarmos as duas espiras extremas, conforme a figura acima, teremos um torque produzido por quatro forças de mesma intensidade Ft. definida em (12.9) Portanto: )m.N(IAB2IBd2r.F4T 2t === (12.11) onde A = d2 é a área da seção reta do solenóide. Observe que este torque é independente da distância das espiras ao centro do solenóide. Estendendo o raciocínio, o torque total estará distribuído entre as duas metades ao longo do comprimento do solenóide de modo que: )m.N(B.mNIABIAB2 2 NTm ′=== (12.12) onde m' = NIA é o momento magnético do solenóide. 12.2 - INDUTORES E INDUTÂNCIA Um indutor é um dispositivo capaz de armazenar energia no campo magnético. Ele deve ser visto como uma contraparte no magnetismo ao capacitor, que armazena energia no campo elétrico. Exemplos típicos de indutores são formados por espiras simples, enroladas em solenóides, em toróides, etc. As linhas de fluxo magnético produzidas pela corrente que percorre o enrolamento de um solenóide formam caminhos fechados, uma característica de um campo solenoidal. Cada linha de fluxo que passa por todo o solenóide concatena a corrente I um número N de vezes. Se todas as linhas de campo se concatenam com todas as espiras, o fluxo magnético concatenado resultante Λ (lambda maiúsculo) é igual a: )esp.Wb(N mψ=Λ (12.13) Por definição, a indutância L é a razão entre o fluxo concatenado total e a correspondente corrente I. Assim, )H( II N L m Λ=ψ= (12.14) UNESP –Naasson Pereira de Alcântara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 108 A definição acima é satisfatória para meios com permeabilidade magnética constante, como no ar. Como será visto mais tarde, a permeabilidade de materiais ferromagnéticos não é constante e nestes casos a indutância é definida como sendo a razão entre a mudança infinitesimal no fluxo concatenado, pela mudança infinitesimal na corrente. Daí: )H( dI dL Λ= (12.15) A indutância tem dimensão de fluxo por corrente, e a sua unidade no Sistema Internacional de Unidades é o henry (H). Assim como a resistência e a capacitância, a indutância depende apenas da geometria e do meio onde o indutor se encontra, referenciado por sua permeabilidade magnética µ. É importante ressaltar aqui que a capacidade de armazenar energia no campo magnético estende-se até a um simples condutor retilíneo conduzindo corrente, como veremos adiante. 12.2.1 - Indutores de Geometria Simples A indutância de diversos tipos de indutores pode ser calculada a partir de sua geometria. Como exemplos, as indutâncias de um solenóide longo, um toróide, um cabo coaxial e uma linha formada por dois condutores paralelos serão aqui calculadas. 12.2.1.1 - Indutância de um Solenóide Na seção 12.1 deduzimos uma expressão para o campo magnético no centro de um solenóide.Como visto, a indução era menor nos extremos do solenóide, o que é devido à dispersão do fluxo magnético. Se o solenóide for suficientemente longo, podemos considerar que o valor da indução magnética é constante em todo o interior do solenóide, e igual ao valor calculado em seu centro. A expressão para a indução magnética no centro de um solenóide muito longo é: )m/Wb( d NIB 2µ= (12.16) Utilizamos a letra d ao invés da letra L, para representar o comprimento d no solenóide, para evitar ambigüidades com relação à simbologia de indutância (L). O fluxo concatenado pelo solenóide será então: )Wb( d IAN2µ=Λ (12.17) A indutância será então por (12.14): )H( d ANL 2µ= (12.18) onde: L (H) Indutância do solenóide I (A) Corrente no solenóide µ (H.m-1) Permeabilidade magnética do meio A (m2) Seção reta do solenóide d (m) Comprimento do solenóide N Número de espiras do solenóide UNESP –Naasson Pereira de Alcântara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 109 Exemplo 12.2 Calcule a indutância de um solenóide de 2000 espiras, enrolado uniformemente sobre um tubo de papelão de 500 mm de comprimento e 40 mm de diâmetro. O meio é o ar. Resolva-o como exercício. 12.2.1.2 - Indutância de um toróide Se um solenóide longo é curvado em forma de círculo e é fechado sobre si mesmo, um toróide é obtido. Quando esse toróide possui um enrolamento uniforme, o campo magnético é praticamente todo confinado em seu interior, e B é substancialmente zero fora dele. Se a relação R/r for muito grande (figura 12.3), podemos utilizar a expressão para o campo magnético em um solenóide para determinar o fluxo total concatenado Λ . Assim, )Wb(NBA=Λ (12.19) )Wb( R2 rINA d NIN 22 π πµ=µ=Λ (12.20) )Wb( R2 IrN 22µ=Λ (12.21) R r i i B Figura 12.3 – Um enrolamento toroidal. A indutância do toróide será: )H( R2 rNL 22µ= (12.22) 12.2.1.3 - Indutância de um cabo coaxial Considere agora uma linha de transmissão co-axial, muito utilizada em sistemas de telecomunicações, conforme pode ser mostrado na figura 12.4. A corrente no condutor interno é I, e o retorno dela se dá pelo condutor externo. Consideraremos então que o fluxo magnético esteja confinado à região entre os condutores (Bext = 0). Portanto: r2 IB π µ= (12.23) O fluxo total concatenado para um comprimento c da linha de transmissão é: UNESP –Naasson Pereira de Alcântara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 110 )Wb( a bln 2 Ic r dr 2 IcBdrc b a b a π µ=π µ==Λ ∫∫ (12.24) A indutância para o comprimento c desse cabo fica: )H( a bln 2 c I L π µ=Λ= (12.25) B a b I -I -I I B c b a c Figura 12.4 Cabo co-axial. 11.2.1.4 - Indutância de um cabo bi-filar Outro tipo de linha de transmissão utilizada é o cabo bi-filar, formado por dois fios paralelos (figura 12.5).O raio de cada um é a, e a distância entre seus centros é D. Sabemos que para qualquer um dos cabos, a uma distância radial r dele, a indução magnética B é dada por: )m/Wb( r2 IB 2π µ= (12.26) O fluxo concatenado para um comprimento c deste cabo será igual à 2 vezes a integral expressa em (12.24). Portanto, a indutância para um comprimento c desse cabo é: )H( a Dlnc I L π µ=Λ= (12.27) raio do condutor = a B D - I I Fig. 12.5 Cabo bi-filar 12.2.2 - Energia armazenada em um Indutor Como já mencionado, um indutor armazena energia no campo magnético, analogamente ao capacitor, que armazena energia em um campo elétrico. A armazenagem da energia se dá com a variação do campo magnético. Quando a corrente elétrica é alternada, existe uma permanente troca de energia entre o indutor e a fonte a medida que o tempo passa. Quando a corrente elétrica é contínua, a energia UNESP –Naasson Pereira de Alcântara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 111 é armazenada durante o período transitório que ocorre até que o seu valor em regime permanente se estabeleça. Uma vez retirada a corrente, a energia armazenada no campo magnético flui do indutor para a fonte externa, durante o transitório que ocorre até a corrente atingir o valor nulo. A potência instantânea entregue pela fonte de alimentação ao indutor é dada por: )A.V(i.Vp = (12.28) onde : V (V) Tensão sobre o indutor, igual a L di dt. . i (A) Valor instantâneo da corrente p (W) Potência instantânea no indutor A energia entregue pela fonte ao indutor, Wm, é dada por: )J(LI 2 1dt dt diLipdtW 2 I 0 m === ∫∫ (12.29) UNESP –Naasson Pereira de Alcântara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 112 EXERCÍCIOS 1) Calcule a indutância por unidade de comprimento de um cabo coaxial cujo condutor interno possui raio a = 3 mm envolvido por outro de raio interno b = 9 mm. Para efeitos magnéticos suponha µr = 1. 2) Um solenóide uniforme de 120 mm de diâmetro, 600 mm de comprimento e 300 espiras é percorrido por uma corrente de 5 A. Uma bobina de 400 mm de diâmetro e 10 espiras é colocada com o seu eixo coincidindo com o eixo do solenóide. Qual deve ser a corrente na bobina de modo a anular o campo magnético em seu centro se esta estiver (a) no centro do solenóide, (b) na extremidade do solenóide e (c) a meio caminho entre o centro e a extremidade do solenóide? 3) Determine a indutância de um solenóide montado em um núcleo de ar, ao longo de um comprimento de 1,5 m formando 2500 espiras circulares de espaçamento uniforme e raio de 2 cm. 4) Calcule a indutância por unidade de comprimento de dois condutores aéreos e paralelos com raio de 2,5 cm separados por uma distância de 7,5 m. 5) Um condutor circular com 6 cm de raio encontra-se a 8 m de altura do solo. Determine a indutância em cada metro de comprimento. 6) Encontre a indutância de um toróide com núcleo de ar apresentando uma secção reta circular de raio 4 mm, 2500 espiras e raio médio 20 mm. 7) Dado um toróide com núcleo de ar formado por 700 espiras, com raio interno de 1 cm, raio externo de 2 cm e altura 1,5 cm, determine a sua indutância empregando (a) a expressão correta em função da sua geometria; (b) a expressão para um toróide genérico que supõe o campo H uniforme num raio médio. 8) Um certo toróide com núcleo de permeabilidade magnética igual à do ar com secção reta retangular apresenta um raio interno ri = 80 cm, raio externo re = 82 cm, altura h = 1,5 cm e encontra-se envolvido por 700 espiras. Calcule a sua indutância usando as duas fórmulas do problema anterior e compare os resultados. 9) Um toróide com seção transversal quadrada é limitado pelas superfícies r = 10 cm e r = 12 cm, z = – 1,0 cm e z = 1,0 cm. Obviamente, o raio médio do toróide é 11 cm e este é enrolado com uma única camada de 700 espiras e excitado com uma corrente de 2,5 A na direção em r = 10 cm. (a) Encontre a indutância do toróide e o campo magnético zaˆ H r no seu centro. (b) Como mudará esta resposta se a seção transversal do toróide for reduzida à metade, mantendo-se os mesmos raios interno e externo? (c) Com esta área reduzida, qual é a densidade laminar de corrente fluindo na superfície do cilindro interno necessária para produzir o mesmo resultado do item (a)? UNESP –Naasson Pereira de Alcântara Junior – Claudio Vara de Aquino 1 2 3 ELETROMAGNETISMO I 113 Vimos anteriormente que a passagem de uma corrente elétricapor um condutor, dá origem a um campo magnético em torno deste. Sabemos também que existem campos magnéticos provenientes de certos materiais, comumente chamados de imãs permanentes. Estes materiais são capazes de manter certo magnetismo residual, quando postos na presença de um campo magnético externo. Entretanto, quer seja este campo provocado por uma corrente elétrica ou devido a um imã permanente devemos saber que a origem de ambos é a mesma. Resumindo podemos dizer que todo campo magnético é provocado pela circulação de uma corrente elétrica. 13.1 – EFEITO DO FERRO EM CAMPOS MAGNÉTICOS ESTÁTICOS O ferro aumenta o efeito magnético provocado por uma corrente elétrica em torno dele. Por exemplo, o campo magnético no centro de um solenóide quando enrolado em torno de uma pequena barra de ferro é muito maior do que aquele com o mesmo solenóide envolto em um núcleo de ar. Podemos definir o ferro como um “bom condutor de fluxo magnético", em analogia ao cobre como bom condutor de corrente elétrica. Esta propriedade que o ferro e outros materiais magnéticos possuem é utilizada para criar intensos campos magnéticos, manipulá-los e guiá-los por onde desejarmos. 13.1.1 – Magnetismo natural Utilizaremos o modelo atômico para representar a estrutura dos materiais, cujo elemento básico é o átomo, com um núcleo, positivamente carregado e orbitado por cargas negativas (elétrons) em torno dele. Podemos observar sem maiores dificuldades que um elétron girando em grande velocidade em torno do núcleo, forma um laço de corrente, conforme sugerido pelo modelo descrito na figura 13.1. Este laço de corrente tem um momento magnético (dipolo) m r , perpendicular ao plano deste laço ou espira, cuja intensidade é igual ao produto da corrente equivalente I de um elétron pela área A limitada pela espira. A direção é dada pela regra da mão direita, orientada pelo percurso da corrente (cargas positivas), ou seja, o percurso oposto ao do elétron em órbita. Quando essa espira de corrente é colocada na presença de um campo magnético externo r B , um torque é produzido e tende a alinhar o momento do laço de corrente com o campo externo, dado por: BmT rrr ×= (13.1) O módulo do torque resultante é: θ= mBsenT (13.2) Figura 13.1 Elétron girando em torno de um núcleo. 13 TEORIA ELETRÔNICA DA MAGNETIZAÇÃO I B θ m Área A I m UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 114 Assim que o alinhamento é obtido o torque torna-se nulo (θ = 0). Considere a situação na figura 13.2a, com uma infinidade de laços atômicos de corrente, orientados aleatoriamente no interior de um meio material. Quando um campo magnético externo é aplicado os momentos magnéticos atômicos tendem a se alinhar na direção deste campo, segundo o ilustrado na figura 13.2b.. Este conjunto formado por milhares de laços atômicos alinhados na mesma direção pode ser considerado como uma única espira delimitada pelo contorno do material em uma secção transversal, mostrado na figura 13.2c. Estendendo esta análise, tomando milhares dessas espiras empilhadas, como na figura 13.2d, obtemos uma capa de corrente cilíndrica, semelhante a um solenóide. (a) (b) (c) (d) N espiras I Momento Magnético Resultante B = 0 B B B B B m m m m m m m m m m m m m m m m m m m m m m Figura 13.2 (a) - Momentos atômicos aleatoriamente direcionados, (b) - alinhados com um campo externo, (c) - vista frontal mostrando grande laço externo, (d) - laços de corrente empilhados, como em um solenóide. UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 115 Para esta análise o átomo foi considerado como tendo um único elétron orbitando o seu núcleo e foram desprezados os movimentos de rotação do elétron (spin) e do núcleo em torno de seus próprios eixos, bem como os efeitos da agitação térmica das moléculas, que podem vir a interferir no processo de alinhamento. A grande maioria dos fenômenos que estudaremos será em escala macroscópica, não requerendo uma visão rigorosa dos fenômenos microscópicos envolvidos. Esta discussão, ainda que simplista, serve para que se tenha uma idéia do fenômeno da magnetização possível de ocorrer nos meios materiais. 13.2 – O VETOR MAGNETIZAÇÃO M r Inicialmente vamos considerar N0 espiras enroladas em uma geometria toroidal de raio médio R e secção transversal de área A, envolvendo um núcleo de ar ou de outro material de natureza não magnética, conforme mostrado na figura 13.3a. Se este solenóide for percorrido por uma corrente I, a densidade de fluxo magnético no interior do toróide será dada por: R2 IN B 000 πμ= (13.3) Sabemos que ( )R2IN0 π pode ser considerado como uma densidade de corrente laminar K. Então: HKB 000 μ=μ= (13.4) I B0 R I Seção de Área A N0 espiras B0 B0 R I I N0+Nm espiras Bm (a) (b) Fig. 13.3 (a) Toróide com N0 espiras produzindo um campo B0 e (b) Toróide com Nm espiras produzindo um Bm. Se o mesmo enrolamento envolver um anel de ferro com a mesma área de secção transversal A e raio médio R, o fluxo confinado no ferro será maior e conseqüentemente o valor de B aumentará. Para que esta mesma densidade de fluxo B, estabelecida no anel de ferro, circule pelo toróide de ar, um número adicional Nm de espiras deve ser enrolado em torno deste toróide não magnético. Desta forma, o campo produzido será equivalente àquele obtido com N0 espiras em torno do toróide de ferro, segundo pode ser mostrado pela figura 13.3b. Esta variação poderá ser dada por: M'K R2 IN B 00 m om μ=μ=πμ= (13.5) onde ( )R2IN m π = K' é a densidade laminar de corrente fictícia, responsável pelo aumento (variação) do campo quando o núcleo é o de ferro. Nestas condições o campo magnético total B será dado por: UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 116 )'KK(BBB 0m0 +μ=+= (13.6) ou ainda: )MH(B 0 rrr +μ= (13.7) onde: r B = vetor indução magnética (T) H = vetor intensidade de campo magnético (A/m) r M = vetor magnetização (A/m) Embora esta análise tenha sido desenvolvida para o caso de um toróide, esta é uma relação vetorial de aplicação geral. Podemos considerar que o núcleo de ferro possui a capacidade de confinar um fluxo magnético maior em relação ao núcleo de ar. O aumento da densidade de fluxo é atribuído ao meio material, justificado matematicamente por uma permeabilidade magnética maior do que aquela m0 do ar. Assim, HB rr μ= (13.8) Em uma analogia à eletrostática, onde o vetor polarização P r está relacionado ao vetor intensidade de campo elétrico E r , na magnetostática o vetor magnetização M r está relacionado ao vetor intensidade de campo magnético H . Em meios isotrópicos, M r e H estão na mesma direção, de modo que o quociente entre eles pode ser obtido de forma escalar. Igualando as equações (13.7) e (13.8) podemos dividir algebricamente os dois lados por H obtendo então: ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ +μ=μ H M10 (13.9) Para os materiais ferromagnéticos, de maior interesse, esta relação em geral não é linear, ou seja, o quociente entreM e H não pode ser obtido através de uma relação matemática exata. Entretanto vamos, para o momento, escrever essa relação como sendo uma constante dada por: H M χ= (13.10) onde χ é a susceptibilidade magnética do meio material em questão. Podemos agora escrever )1(0 χ+μ=μ (13.11) ou: r0μμ=μ (13.12) em que é definida como sendo a permeabilidade relativa do meio material em relação ao vácuo (espaço livre). χ1μ r += UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 117 13.3 - FERROMAGNETISMO, PARAMAGNETISMO E DIAMAGNETISMO Todos os meios materiais apresentam algum efeito sob o ponto de vista magnético. Em alguns esses efeitos são tão fracos, que tais materiais são classificados como não-magnéticos. Na realidade, o único meio não magnético é aquele desprovido de matéria, ou seja, o vácuo ou espaço livre (tomado com permeabilidade relativa igual a 1). De uma forma geral, os materiais são classificados de acordo com o seu comportamento magnético em diamagnéticos, paramagnéticos e ferromagnéticos, como veremos a seguir. 13.3.1. MATERIAIS DIAMAGNÉTICOS Os materiais classificados como diamagnéticos possuem uma permeabilidade relativa ligeiramente inferior a 1 (por exemplo o cobre, com μr = 0.999991) e apresentam a característica de, na presença de um campo magnético, se opor a ele (figura 13.4). Em outras palavras, quando um material diamagnético é colocado na presença de um campo magnético, suas linhas de campo são repelidas por ele. Figura 13.4 Comportamento de um material diamagnético. 13.3.2 MATERIAIS PARAMAGNÉTICOS Por outro lado, os materiais ditos paramagnéticos possuem uma permeabilidade relativa ligeiramente superior a 1 (por exemplo o alumínio, com μr = 1.00000036) de modo que seus momentos magnéticos fiquem alinhados com as linhas de um campo magnético externo. O fluxo magnético deste campo atravessa este tipo de material, de modo tal que as suas linhas de indução permanecem praticamente inalteradas, como mostra a figura 13.5. Quando um material paramagnético é colocado na presença de um campo magnético ele sofre atração por ele. Quando o campo magnético externo é retirado, os dipolos magnéticos do material paramagnético voltam à sua configuração original, desalinhados de modo a tornar nulo o momento dipolar resultante. Figura 13.5 Comportamento de um material paramagnético. 13.3.3 MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS Finalmente, outros materiais são magneticamente classificados como ferromagnéticos, como por exemplo, o ferro, o níquel, o cobalto, dentre outros. Apresentam a propriedade de fazer com que seus momentos magnéticos se alinhem fortemente na direção de um campo magnético aplicado, oferecendo um caminho preferencial para as linhas de indução, como pode ser ilustrado na figura 13.6. Como exemplo, uma liga de ferro com 3 % de silício possui uma permeabilidade relativa μr máxima de 55000. Salientemos que a permeabilidade desses materiais não é constante, sendo, pois função da intensidade do campo magnético aplicado, e do estado magnético anterior apresentado pelo material. UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 118 Figura 13.6 Comportamento dos materiais ferromagnéticos. 13.4 - A TEORIA DOS DOMÍNIOS MAGNÉTICOS Para compreendermos melhor o fenômeno da magnetização em materiais ferromagnéticos vamos explicar rapidamente a teoria de domínios dos materiais magnéticos. Um domínio é definido como uma região de material dentro da qual todos os átomos têm o mesmo alinhamento magnético, comportando-se como um pequeno imã permanente. Deverá haver um número muito grande destes dentro de uma amostra de material. O número de domínios num material magnético é determinado por um complexo balanço de energia dentro do volume de material, cujos detalhes estão fora do escopo deste curso. Obteremos os esclarecimentos necessários considerando o caso simplificado e ilustrado a seguir. Na figura 13.7(a) temos uma amostra de material ferromagnético com os seus domínios aleatoriamente direcionados, de forma que o magnetismo resultante é nulo. Neste caso, o material não apresenta quaisquer características magnéticas macroscópicas. Quando o campo magnético externo é aplicado gradativamente sobre o material, seus momentos magnéticos começam a se alinhar com ele, segundo as figuras 13.7(b) e (c). No início, esse alinhamento é obtido de maneira relativamente fácil, isto é, muitos domínios se alinham rapidamente para um campo magnético ainda com pequena intensidade. Observamos no início que um mesmo incremento no campo magnético irá resultar na resposta de um incremento na densidade de fluxo de forma linear. Porém, à medida que o campo magnético vai sendo aumentado, notamos uma maior dificuldade em se obter novos alinhamentos, dando origem a um processo de saturação magnética, visto pela figura 13.7(d). Figura 13.7 - (a) - Domínios magnéticos desalinhados, (b), (c) e (d) - se alinhando com o campo externo (a) (b) (c) (d) A densidade de fluxo conseguida pode ser descrita em função da intensidade do campo magnético aplicado. Teremos assim uma curva de magnetização bastante familiar, mostrada na figura 13.8. À medida que o campo magnético H vai sendo aumentado, podemos notar, em sua parte final, que um grande aumento na sua intensidade irá produzir um pequeno aumento na densidade de fluxo B, como seria de se esperar. UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 119 Nesta curva de magnetização mostrada na figura 13.8, devemos destacar alguns pontos importantes: Região L - μ é constante e a relação entre B e H pode ser admitida como linear. Ponto J - "joelho" da curva ou o maior valor de r B anterior à saturação, bastante utilizado em projetos de máquinas elétricas. Região S - região de saturação onde um grande aumento de H praticamente não causa variação em B. H (A/m) B (Wb/m2) L J S Figura 13.8 Curva de magnetização de um material magnético. Se depois que o campo for aplicado ao material ferromagnético, reduzirmos a sua intensidade até zero, haverá ainda um magnetismo residual na amostra, contrariando o esperado que a densidade de fluxo magnético também voltasse ao seu valor original, zero. Quando o campo magnético externo é retirado, parte dos momentos magnéticos dos domínios volta a se desalinhar, porém outra parte deles mantem o alinhamento obtido quando da aplicação do campo magnético externo. Na verdade, quando o campo externo foi aplicado, uma energia foi introduzida no material, e o mesmo sofreu uma reestruturação. Para mudar isto necessitamos de mais energia. Uma parte dessa energia foi restituída pelo próprio material quando alguns de seus domínios voltaram á sua posição original. Portanto, para voltar à situação de magnetismo resultante zero, um campo magnético reverso deverá ser aplicado sobre o material. Se a intensidade de campo magnético H aumentar gradativamente do zero até um valor positivo, decrescendo em seguida até um valor negativo simétrico, passando por zero, e deste valor voltar a zero novamente, obteremos um ciclo de histerese, mostrado na figura 13.9. O fenômeno da histerese magnética é definido como o atraso causado na variação de B devido a uma variação em H. Analisando o ciclo de histerese de um material magnético mostrado na figura a seguir, dois pontos e uma região desta curva merecem destaque: Densidade de fluxo residual (remanente) -Br- É a densidade de fluxo que permanece, mesmo após o campo H ter sido retirado. Tambémé chamada de retentividade. Força Coercitiva - Hc - Representa a intensidade de campo magnético reverso necessária para que se obtenha uma densidade de fluxo nula , eliminando o campo remanente. Também é chamada de coercitividade. Curva de desmagnetização - é o segundo quadrante do ciclo de histerese, devido à aplicação do campo reverso. É uma característica importante no material, utilizada para a obtenção dos parâmetros de imãs permanentes. UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 120 Br Hc Curva de desmagnetização Figura 13.9 - Ciclo de Histerese. Observando a área no ciclo de histerese, podemos notar que esta pode indicar se o material possui facilidade ou opõe dificuldade a ser magnetizado. Quando o ciclo possui uma área ampla, entendemos que tanto a retentividade como a coercitividade são grandes, isto é, precisamos de um campo reverso maior para que a densidade de fluxo remanente no material se anule. Por outro lado, quando o ciclo de histerese é mais estreito, o material oferece uma oposição menor à sua magnetização. Sob o ponto de vista de magnetização, os materiais ferromagnéticos podem ser ainda classificados conforme o ilustrado na figura 13.10 e descritos como: Macios - apresentam um ciclo de histerese estreito (fácil magnetização) Duros - apresentam ciclos de histerese largos (difícil magnetização). Para finalizar esta seção, a relação entre B e H deveria ser uma linha reta, e não um laço se a relação χ entre M e H fosse linear. A curva de magnetização de um determinado material é obtida tomando- se os valores máximos positivos de B e H dentro de vários ciclos de histerese de modo que o primeiro ciclo vá até um valor de H, o segundo até um valor um pouco maior, sempre iniciando do zero e aumentando gradativamente o valor do campo magnético e assim por diante. Completando, salientamos que a permeabilidade μ é definida como a relação entre B e H em cada ponto nessa curva de magnetização. Assunto este que voltaremos mais tarde. Duro Macio Figura 13.10 Materiais magneticamente duros e macios. UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 121 13.5 - RELAÇÕES DE FRONTEIRA NO CAMPO MANÉTICO Na fronteira entre dois meios, o campo magnético pode sofrer variações, tanto em direção como em intensidade, da mesma forma já estudada, que ocorre com o campo elétrico. Analogamente, vamos analisar o comportamento do campo magnético na fronteira entre dois meios de permeabilidades diferentes, segundo duas componentes: uma normal e outra tangencial à fronteira entre estes meios. Consideremos um volume incremental imerso em um campo magnético na interface entre dois meios distintos como mostrado na figura 13.11 abaixo: Bn2 Bn1 Figura 13.11 Elemento incremental de volume na fronteira entre dois meios. Aplicando a ele a lei de Gauss para o magnetismo, posto que não existem cargas magnéticas teremos: 0SdB =⋅∫ rr (13.13) O desmembramento desta integral fechada mostra que o produto escalar acima é zero na superfície lateral do cilindro, não se anulando nas superfícies paralelas à fronteira entre os meios orientados pelo vetor Sd r sempre normal e externo em cada ponto da superfície fechada. Desta forma 0dSBdSB 2n1n =− (13.14) onde 2n1n BB vv = (13.15) Observamos então que existe uma continuidade na componente normal do vetor indução magnética (ou densidade de fluxo) na interface entre dois meios. Ou seja: As componentes normais do vetor indução magnética na fronteira entre os dois meios são iguais. Lembrando que: HB rr μ= (13.16) teremos que 2n21n1 HH vr μ=μ (13.17) ou ainda em termos de suas magnitudes: UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 122 1n 2n 2 1 H H μ μ = (13.18) Ou seja, as componentes normais do vetor intensidade de campo magnético se relacionam pelo inverso entre as permeabilidades dos meios. Consideremos agora o caminho fechado abcda imerso em um campo magnético, na interface entre os dois meios, como mostrado na figura 13.12 abaixo. b c a d Ht1 Ht2 Δy Δx μ2 μ1 Figura 13.12 Caminho fechado abcda entre dois meios. Pela aplicação da lei de Ampère ao caminho fechado abcda, teremos a seguinte integral de linha: ∫ =⋅ ILdH rr (13.19) Fazendo Δy tender a zero (interface entre os meios), a integração é feita apenas em Δx. Portanto: I)HH(x 1t2t =−Δ (13.20) Ou ainda: x IHH 1t2t Δ=− (13.21) O termo x IΔ representa uma densidade de corrente na superfície da fronteira (densidade laminar de corrente), representada em nossos estudos pela letra k. Normalmente pode-se considerar que as correntes estão confinadas nos enrolamentos, de forma que, na grande maioria dos casos, k = 0. Assim: 1t2t HH rv = (13.22) Observamos então, neste caso, a continuidade da componente tangencial do vetor campo magnético. Em termos de suas magnitudes podemos escrever também que: 1 2 1t 2t B B μ μ= (13.23) Ou seja: As componentes tangenciais do vetor intensidade de campo magnético são iguais, e as componentes tangenciais do vetor indução magnética se relacionam pela razão direta entre as permeabilidades magnéticas dos meios. UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 123 Exemplo 13.1 Considere uma fronteira plana e desprovida de correntes, entre dois meios , conforme a figura. 21 μeμ 13.13 abaixo. Encontrar a relação entre os ângulos α1 e α2 que os campos magnéticos fazem com a normal à interface entre os meios. Os meios são isotrópicos, isto é, com B r e H na mesma direção. α1 Figura 13.13 Fronteira plana entre dois meios. Solução: Pela continuidade das componentes normais 2n1n BB = Pela continuidade das componentes tangenciais 2t1t HH = Logo 111n cosBB α= E 222n cosBB α= Daí: 2211 cosBcosB α=α Da mesma forma 111t senHH α= e 222t senHH α= 222t senHH α= onde 2211 senHsenH α=α Pela relação entre as igualdades vem que: 22 22 11 11 cosB senH cosB senH α α=α α Da relação HB vv μ= Teremos então 2 2 1 1 tg1tg1 αμ=αμ ou ainda: 2r 1r 2 1 2 1 tg tg μ μ=μ μ=α α α2 B1, H1 B2, H2 μ1 μ2 UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 124 Exemplo 13.2 Considere uma interface entre um meio 1, de ferro doce com μr = 7000 e um meio 2, o ar (μr=1)., ambos isotrópicos, mostrada na figura 13.14 a seguir. a) se a indução B no ferro doce tem incidência normal à fronteira, encontre o ângulo α2; b) se a indução B no ferro doce é quase tangente à superfície, com um ângulo α1 de 85 graus, encontre o correspondente α2. α2 (1) (2) (1) (2) α1 (a) (b) Figura 13.14 – Campo Magnético na fronteira Ferro-Ar. (a) incidência normal, (b) incidência quase tangente (rasante). Solução: (a) Para uma incidência normal, não há desvio, nem modificação do valor de B, pois: B = Bn1 = Bn2 Logo α2 = α1 = 0.(b) Considerando a incidência oblíqua, quase tangente 00163,0 7000 43,11 7000 85tgtg o 2 ===α o 2 09,0=α Conforme pode ser observado, o campo magnético que sai para o ar é praticamente normal à interface entre o ferro e o ar, qualquer que seja o ângulo de incidência do campo no ferro. 2r 1r 2 1 2 1 tg tg μ μ=μ μ=α α 7000 85tgtg 1 7000 tg 85tg o 2 2 o =α⇒=α UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 125 Exemplo 13.3 A região 1, com está no lado da interface plana 6x + 4y + 3z = 12 que inclui a origem. Na 51r =μ região 2 . Dado que 3μ 2r = )aˆ5,0aˆ3(μ 1H yx 0 1 += r (A/m), encontre os ângulos e que os campos formam com a normal à interface entre os meios.. 1θ 2θ Como 1B r possui componentes positivas em e , escolhemos a solução positiva. Logo: xaˆ yaˆ Solução: Figura 13.15 - Plano 6x + 4y + 6z = 12 Admitindo meios isotrópicos 0 yx 01011 aˆ5,0aˆ3 5HrB μ +μ=μμ= rr )m/Wb(aˆ5,2aˆ15B 2yx1 += r A intensidade da componente normal do vetor indução magnética no meio 1 pode ser obtida pelo seguinte produto escalar: 11n11n cos.1.BaˆBB θ=⋅= r onde é o vetor unitário (versor) que dá a direção normal ao plano. naˆ Da geometria analítica, sabe-se que o versor normal ao plano dado na figura 14.15, definido pela equação do tipo Ax + By + Cz = D, pode ser escrito da forma: 61 aˆ3aˆ4aˆ6 aˆ zyxn ++= Daí: ( ) ⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ ++⋅+= 61 aˆ3aˆ4aˆ6 aˆ5,2aˆ15B zyxyx1n 61 100B 1n = r Então de 11n11n cos.1.BaˆBB θ=⋅= rr 1 22 cos.1.5,215 61 100 θ+= o 1 65,32=θ Das relações de fronteira, pela continuidade de nB r : n1n1n2n aˆBBB == rr (não é produto escalar) ⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ ++= 61 aˆ3aˆ4aˆ6 61 100B zyx2n r 61 aˆ300aˆ400aˆ600 B zyx2n ++=r 222 zyx n CBA aˆCaˆBaˆA aˆ ++ ++±= Pela continuidade das componentes tangenciais temos para o campo magnético: 2t 02r 1t 01r 2t1t Bμμ 1B μμ 1HH rrrr =⇒= Portanto, neste caso: 61 aˆ3aˆ4aˆ6 aˆ zyxn ++±= Logo: 1t 1r 2r 2t Bμ μ B rr = UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 126 Como temos ( ) ⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ ++−+ =−= 61 aˆ300aˆ400aˆ600 aˆ5,2aˆ15 BBB zyx yx 1n11t rrr )m/Wb( 61 aˆ120aˆ5,251aˆ789 B 2zyx2 ++=r 93,0 1205,251789 300400600 B B cos 222 222 2 2n 2 =++ ++==θ v r Então, 61 aˆ180aˆ5,148aˆ189 B 5 3B zyx1t2t −−== rr onde o 2 03,21=θ Como 2t2n2 BBB rrr += EXERCÍCIOS 1) - A interface entre 2 meios diferentes é normal a um dos 3 eixos cartesianos. Se )ˆ.ˆ.( zx01 a024a543B rr +μ= e )ˆ.ˆ.( zx02 a024a022B +μ= r qual é a relação 2 1 tg tg θ θ ? 2) - A região 1, com permeabilidade relativa μr1 = 6 está no lado do plano 2x + 4y + 4 z = 16 que inclui a origem. Por outro lado, na região 2, adjacente μr2 = 3. Dado que ( ) )/(ˆˆ mAa2a4H 0yx1 μ+=r , encontre 2122 e,B,H θθ rr . 3) - Um meio ferromagnético de grande extensão possui um campo magnético uniforme de 2 T. Se a permeabilidade relativa do meio é 200, encontre o valor de H dentro de (a) - Uma cavidade em forma de um disco muito fino, com os seus lados planos paralelos a B. (b) - Idem, com os seus lados planos perpendiculares a B. UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino 1 2 APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 127 Os circuitos magnéticos são empregados com o intuito de concentrar o efeito magnético em uma dada região do espaço. Em outras palavras, este circuito direciona o fluxo magnético para onde for desejado, sendo dotado de materiais com certas propriedades magnéticas e dimensões, a partir de uma variedade de seções e diferentes comprimentos. Cumpre salientar aqui que as características magnetizantes dos materiais são de natureza não linear, o que deve ser levado em conta nos projetos de dispositivos eletromagnéticos. A título de exemplos poderíamos citar a determinação da corrente elétrica requerida em um enrolamento para produzir uma dada densidade de fluxo no entreferro de um pequeno atuador, de um relé ou de um eletromagneto. 14 CIRCUITOS MAGNÉTICOS LINEARES E NÃO LINEARES 14.1 - CIRCUITOS MAGNÉTICOS LINEARES São considerados magneticamente lineares os circuitos magnéticos onde a permeabilidade relativa é baixa. Circuitos magneticamente lineares podem ser obtidos quando o núcleo é de ar, ou constituído por um material não ferromagnético. Analogia com Circuitos Elétricos Consideremos o dispositivo da fig. 14.1, onde o núcleo é formado por um material de permeabilidade magnética μ. V i N φ Figura 14.1 - Um circuito magnético simples Pela aplicação da lei de Ampère a este circuito teremos: INLdHL =⋅∫ rr (14.1) Considerando que H r possui módulo constante ao longo do caminho médio L percorrido pelo fluxo magnético φ, mostrado na figura teremos: LHIN = (14.2) )m/esp.A( L INH= (14.3) O produto N I é o responsável pela condução do fluxo no circuito magnético, desempenhando o papel de uma fonte. Daí ele ser conhecido por força magneto motriz (Fmm). APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 128 De HμB rr = , vem que: L NIμB= (14.4) O fluxo magnético φ que passa através da secção reta ao longo do circuito será: SBφ= (14.5) Onde pela eq. (14.4) S L FmmμS L INμ φ == (14.6) ou ainda: ℜ= Fmm φ (14.7) O termo do denominador Sμ L=ℜ (14.8) é chamado de relutância do circuito magnético. Ele representa a dificuldade imposta à circulação do fluxo magnético, tendo como unidade A.esp/Wb no Sistema Internacional. Considere agora o circuito elétrico da fig. 14.2 formado por um único laço ou malha de corrente. V i R Figura 14.2 - Circuito elétrico análogo Para esse circuito elétrico temos a resistência oposta à corrente elétrica dada por: Sσ LR= (14.9) onde R VI= (14.10) Portanto, para a corrente elétrica, sendo V a Fem (força eletro motriz) responsável pela corrente I: )Sσ( L Fem R FemI == (14.11) Podemos então montar um circuito elétrico análogo ao circuito magnético, conforme as correspondências entre as grandezas magnéticas e elétricas a seguir: APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 129 Circuito Magnético Circuito Elétrico Fmm = N.I Fem = V Fluxo Magnético = mϕ Corrente elétrica = I Relutância = ℜ Resistência Elétrica = R Permeabilidade = μ Condutividade = σ Permeância = ℜ1 Condutância = R1G= Exemplo 14.1 Para o dispositivo da fig. 14.1, tem-se uma corrente I = 5 A, através de N = 100 espiras, fazendo circular um fluxo magnético por um retângulo cujos comprimentos médios da base e da altura são respectivamente 10 cm e 8 cm e secção reta 2 cm2, feito de um material de permeabilidade relativa = 1000. Calcular: rμ a) - A relutância do circuito magnético b) - A permeância do circuito magnético c) - A intensidade de campo magnético no núcleo d) - A densidade de fluxo magnético no núcleo e) - O fluxo magnético no núcleo Solução: Wb/esp.A10x43,1 10.2.10.π4.1000 10).810.(2 Sμμ l 6 47 2 0r m =ℜ⇒+==ℜ −− − )esp.A/(Wb10x7/1P7−=ℜ= m/esp.A10x4,1H 10).810.(2 5x100 l NIH 32 m =⇒+== − 237 0r m/Wb76,1B10.4,1.10.π4.1000HμμB =⇒== − Wb10.5,310.2.76,1BSφ 44 −− === Exemplo 14.2 Calcular o valor do fluxo magnético em cada braço da estrutura magnética da fig. 14.3, dados: N = 500 espiras, I = 1,0 A, material 1 com μr1 = 200 e material 2 com μr2 = 100. 5 5 5 2 2 2 2 2 N medidas em cm espessura: 2 cm material 1 material 2 Figura 14.3 - Estrutura ferromagnética do exemplo 14.2 APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 130 Solução: Pelo circuito elétrico análogo abaixo φ2 φ1 H1l1 H2l2 NI Figura 14.4 - circuito elétrico análogo do exemplo 14.2 Para o lado do material 1: Indução magnética no braço esquerdo: 11lHNI= T45,057,17810π4200HμμB 7101r1 =××××== − Para o lado do material 2: Fluxo magnético no braço esquerdo: 22lHNI= Wb108,110445,0SBφ 44111 −− ×=××== No caso l1 = l2 = lm Indução magnética no braço direito: cm28cm)111111115555(lm =+++++++++++= T23,057,17810π4100HμμB 7202r2 =××××== − m/esp.A71,1785 28,0 1500 l NIH 1 1 =×== Fluxo magnético no braço direito: Wb1092,010423,0SBφ 44222 −− ×=××== m/esp.A71,1785 28,0 1500NIH 2 2 =×== l Fluxo magnético (total) no braço central: Wb1072,2φφφ 421c −×=+= 14.2 - CIRCUITOS MAGNÉTICOS NÃO-LINEARES São considerados não lineares todos os circuitos magnéticos que utilizem materiais ferromagnéticos, dotados de permeabilidade magnética alta, tais como o ferro fundido, o aço silício, o aço fundido, a ferrite etc. A maioria dos circuitos magnéticos de aplicação prática são não lineares e a permeabilidade dos materiais ferromagnéticos torna-se variável em função da indução ou densidade de fluxo magnético no núcleo. B r Exemplo 14.3 As dimensões da estrutura magnética na fig. 14.5 estão indicadas na tabela em seguida. O enrolamento de excitação possui 100 espiras. Determine a corrente neste enrolamento para estabelecer um fluxo de 1.5x10-4 (Wb). Despreze a dispersão do fluxo magnético, considerando-o todo confinado ao núcleo. Utilize as curvas de magnetização mostradas no final deste capítulo. 2 1 H1l1 H2l2 NI Figura 14.5 - Estrutura ferromagnética Figura 14.6 - Circuito elétrico análogo APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 131 Mat. 1 - Ferro Fundido Mat. 2 - Aço-Silício lm 0.2 m 0.4 m S 15x10-4 m2 15x10-4 m2 Solução: 2211 l.Hl.HI.NFmm +== A estrutura mostra um circuito com os dois materiais em série. Assim: Para o ferro fundido: )m/esp.A(225H)m/Wb(1.0B 1 2 1 ≅⇒= )Wb(10x5,1φφφ 421 −=== Para o aço-silício: )m/esp.A(35H)m/Wb(1.0B 2 2 2 ≅⇒= S.Bφ= Portanto: 2211 S.BS.Bφ == N l.Hl.H I 2211 += )m/Wb(1,0 10x15 10x5.1 S φBB 24 4 21 ==== − − A59,0 100 4,0x352.0x225I =+= Das curvas de magnetização temos: Imagine que tivéssemos que escolher apenas um tipo de material, entre os materiais 1 e 2, para manter o mesmo fluxo magnético. Qual seria o escolhido? Se o material escolhido fosse o 2 teríamos: )A(21,0 100 4,0x352,0x35 N l.Hl.H 'I 2211 =+=+= Se o material 1 fosse o escolhido teríamos: )A(35,1 100 4,0x2252,0x225''I =+= Neste caso, o escolhido seria o material 2, por requerer uma corrente de 210 mA (conseqüentemente uma força magnetomotriz) menor do que a exigida no caso de se utilizar o material 1. Exemplo 14.4 Considere a estrutura magnética em aço fundido mostrada na fig. 14.7. Para um fluxo magnético de 1,5 x 10-4 Wb, qual é o valor de B nos pontos 1 e 2, dados que S1 = 16 cm2, S2 = 20 cm2, l1 = 15 cm, l2 = 30 cm. Determine também a corrente na bobina sabendo-se que ela possui 200 espiras. N 1 2 Figura 14.7 – estrutura ferromagnética do exemplo 14.4 APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 132 Solução: O fluxo magnético é o mesmo em qualquer seção. Logo Da curva para o aço fundido: m/Ae85HT094,0B 11 =⇒= 21 φφφ == m/Ae65HT075,0B 22 =⇒= A indução magnética na seção 1 é: Aplicando a lei de Ampère: 2211 lHlHNI += A16,0 200 3,06515,085I =×+×= T094,0 1016 105,1 S φB 4 4 1 1 =× ×== − − A indução magnética na seção 2 é: T075,0 1020 105,1 S φB 4 4 2 2 =× ×== − − 14.3 - FATOR DE EMPACOTAMENTO (OU FATOR DE LAMINAÇÃO) Quando um material ferromagnético é colocado na presença de um campo magnético variável no tempo, correntes parasitas (ou correntes de Foucault) serão induzidas em seu interior, provocando perdas de energia com o aquecimento do material. A redução deste fenômeno é obtida com o núcleo de dispositivos eletromagnéticos construído com chapas ou lâminas de material ferromagnético, isoladas entre si (por exemplo, com verniz), conforme pode ser ilustrado na fig. 14.8. Assim, devido ao processo de empilhamento das chapas para montagem do núcleo, a área efetiva do material ferromagnético, Smag atravessada pelo fluxo torna-se menor que a área geométrica, Sgeom ocupada pelo núcleo. Pode-se então definir um fator de empacotamento ke como sendo a relação: geom mag e S S k = (14.12) Outra razão de natureza prática para a laminação do circuito magnético é a de facilitar a colocação das bobinas no dispositivo visando à construção e a manutenção. Fig. 14.8 – Núcleo Laminado A tabela a seguir fornece alguns valores para o fator de empacotamento em função da espessura da chapa ou lâmina utilizada. APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 133 Espessura da chapa (mm) ke 0.0127 0,50 0.0258 0,75 0.0508 0,85 0.10 a 0.25 0,90 0.27 a 0.36 0,95 Exemplo 14.5 Uma estrutura magnética é feita de um pacote em aço-silício com chapas de 0,15 mm, como pode ser mostrada na fig. 14.9. Determine a corrente que deve circular no enrolamento com 500 espiras para estabelecer um fluxo de 9x10-4 Wb no braço direito da estrutura. Dados: l1 = l3 = 50 cm, l2 = 15 cm, espessura comum S = 25 cm2. N = 500 l1 l3 l2 Figura 14.9 - Estrutura magnética do exemplo 14.5 Solução: Da curva de magnetização para o aço silício: malha 1: )I(.lHl.HFmm 2211 += m/esp.A60H4,0B 33 =⇒= malha 2: )II(l.Hl.H0 2233 −= A partir da equação (II) na malha 2: nó 1: )III(φφφ 321 += m/esp.A200 10x15 10x50x60 l l.HH 2 2 2 33 2 − − == 1 Da curva de magnetização: 2 22 m/Wb07,1B200H ⇒= Figura 14.10 - Circuito análogo do exemplo 13.5 Wb10x08,24)9,0x10x25(x07,1S.Bφ 44222 −− === Dado: Wb10x9φ 43 −= Da equação (III): 333 S.Bφ = Wb10x08,3310x910x08,24φ 4441 −−− =+= Considerando um fator de empacotamento ke = 0,90 2 4 4 1 1 1 m/Wb47,1 10x5,22 10x08,33 S φB == − − 2 4 4 3 m/Wb4,0 90,0x10x25 10x9B == − − APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 134 Da curva de magnetização: esp.A105510x15x20010x50x2050Fmm 22 =+= −− A11,2 500 1055 I == m/esp.A2050H47,1B 11 =⇒= Da equação (I): 14.4 – CIRCUITOS MAGNÉTICOS COM ENTREFERROS Alguns dispositivos eletromagnéticos, tais como instrumentos de medidas, motores, relés etc, por serem constituídos de uma parte fixa e outra móvel, possuem um espaço de ar lg na sua estrutura magnética. Este espaçamento ou interstício promove o acoplamento entre as partes sob o ponto de vista magnético para que o fluxo se estabeleça por um caminho fechado. A este espaço é dado onome de “entreferro" (ou "air gap" em inglês). lg Figura 14.11 - Estrutura magnética com entreferro Ao cruzar o entreferro, o fluxo magnético sofre um fenômeno chamado de espraiamento (frangeamento, espalhamento, efeito de bordas), conforme pode ser visto da fig. 14.12. Isto faz com que a área efetiva por onde passa o fluxo se torne maior que a área S geométrica do entreferro. Fig. 14.12 - Campo magnético em um entreferro Seja uma área de secção reta S = a x b retangular e o entreferro de comprimento lg. Então, de uma forma prática, podemos calcular a área aparente ou efetiva do entreferro Sg através da relação: )m()lb).(la(S 2ggg ++= (14.13) Observe-se aqui que quando o entreferro for muito reduzido, o efeito do espraiamento pode ser desprezado. Exemplo 14.6 Vamos investigar a influência de um entreferro sobre um circuito magnético. Imagine uma estrutura retangular em aço silício, com secção reta de 5 cm x 2 cm, comprimento médio de 50 cm, excitada por uma bobina de 100 espiras. Determinar os valores de corrente necessários para que sejam estabelecidos fluxos magnéticos de 3x10-4 Wb, 6x10-4 Wb e 9x10-4 Wb. Em seguida, admita um entreferro de 1 mm na estrutura e refaça os cálculos para encontrar os mesmos valores de fluxo. Analise os resultados. APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 135 Solução: Sem entreferro: Área efetiva do entreferro: Para Wb10x3S.Bφ 4−== 2g cm71,10)1,02).(1,05(S =++= T3,0 10x10 10x3 S φB 4 4 === − − Para Wb10x3φ 4−= T28,0 10x71,10 10x3 S φ B 4 4 g g g === − − Da curva de magnetização do aço-silício: m/esp.A55HT3,0B =⇒= m/esp.A222817 10xπ4 28,0 μ B H 7 0 g g === − o valor da corrente será: A275,0 100 5,0x55 N l.HI === A50,2 100 001.0x222817)001,05,0(x55I =+−= Para Wb10x6φ 4−= Para Wb10x6φ 4−= T6,0 10x10 10x6B 4 4 == − − T56,0 10x71,10 10x6B 4 4 g =− − m/esp.A75T6,0 ⇒ m/esp.A445812 10xπ4 56,0H 7g == − A375,0 100 5.0x75I == A83,4 100 001,0x445812499,0x75I =+= Para Wb10x9φ 4−= Para Wb10x9φ 4−= T9,0 10x10 10x9B 4 4 == − − T84,0 10x71,10 10x9B 4 4 g == − − m/esp.A668718 10xπ4 84,0H 7g == − A36,7 100 001,0x668718499,0x135I =+= m/esp.A135T9.0 ⇒ A675,0 100 5,0x135I == Com o entreferro: A partir dos resultados podemos observar que: - Para se obter os mesmos valores de fluxo, com a introdução do entreferro, é necessário um aumento muito grande nos valores da corrente. - Praticamente toda a Fmm é utilizada para vencer o entreferro (torna-se mais acentuado quanto maior o entreferro) - A introdução do entreferro tornou o circuito magnético (material magnético + entreferro) praticamente linear. APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 136 Exemplo 14.7 Considere uma estrutura magnética construída com chapas de aço silício, com fator de empacotamento 0,9. As dimensões da seção transversal do núcleo são 5 cm e 6 cm. O comprimento médio do caminho do fluxo é 1 m. Determine a Fmm para estabelecer um fluxo de 25x10-4 Wb no entreferro, cujo comprimento tem 5 mm. Solução: ( )( ) T7,0005,006,0005,005,0 1025 S φ B 4 g g g =++ ×== − Da curva de magnetização para o aço silício m/Ae130HT93,0B nn =⇒= m/Ae3,557042 μ B H 0 g g == nngg lHlHFmm += Ae6,2914)005,01(130005,03,557042Fmm =−×+×= T93,0 9,006,005,0 1025 S φB 4 n n n =×× ×== − Exemplo 14.8 Considere a mesma estrutura, porém com uma bobina de 50 espiras, e uma corrente de 6 A. Qual é o valor do fluxo no entreferro? Solução: ggnn l.Hl.Hi.N += (I) φφφ gn == nngg S.BS.Bφ == g0 g n ng HμS SBB == g n 0 n g S S μ BH = (II) Substituindo (II) em (I): )III(l. S.μ SBlHi.N g g0 n nnn += A equação acima recebe o nome de reta negativa de entreferro (veja fig. 13.13) Fazendo-se 0Bn = em (III): )m/esp.A(4500 1 6x750 l i.NH n n === Fazendo-se em (III): 0Hn = )m/Wb( l.S S.μ .i.NB 2 gn g0 n = 224 47 n m Wm5,1 10.5,0x10x6x5x9,0 10)5,06)(5,05(10.π46x750B ≅++= −− −− Figura 14.13 - A curva de magnetização e a reta negativa de entreferro De acordo com a fig. 13.13 e dispondo da curva de magnetização do aço silício, determinamos graficamente os valores da intersecção. m/esp.A550Hem/Wb33,1B 'n 2' n == Portanto: Wb10x3610x6x5(x9,0x33,1S.Bφ 44n ' n −− === B H Curva de magnetização Reta negativa de entreferro APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 137 Exemplo 14.9 Um núcleo toroidal de aço fundido apresenta uma seção transversal circular de 10 cm2. O comprimento médio do circuito magnético é 35 cm, com um gap de 1 mm. Uma bobina enrolada com 200 espiras em torno do núcleo alimenta o circuito magnético com uma corrente de 3 A. Determine o uxo no entreferro. fl Solução: Figura 14.14 - Circuito Magnético e circuito análogo do exemplo aio do núcleo toroidal de aço fundido: V i R R Fazendo Bn= 0 : m0178,010x10rm10x10rπS 4 242 n ==⇒== −− )m/esp.A(17203x200 l I.NH 2n === − π aio efetivo do entreferro: rea efetiva do gap (entreferro): g circuito magnético é descrito por: ggn gφφφ == Como o circuito é de aço f ndido, ke = 1, e 10x9,34n do material agnético do núcleo obtemos: 67.0B 2n = (350Hn Do cruzamento da reta negativa de entreferro com a curva de magnetização R m0188,0001,00178,0r =+= m Á Wb( )m/ )m/esp. 242 m10x1,110188,0.πS −== A= O fluxo no entreferro é: O 67,0x10x10SB S S S.Bφ 4gn n ggg −=== n l.Hl.HI.N += g g e H na equação do circuito magnético teremos: Wb10x7,6φ 4−= Substituindo os valores encontrados para Bn n u n n gnngg BS S BSBSB =⇒= n )esp.A(65501.0x g 1xπ4 67.0349.0x350I.N 7 =+= − a obtenção de soluções com certa precisão. g nn nn l.S S . μ B l.HI.N += 0 Observamos que este resultado se aproxima do valor correto de N.I que é 600 A.esp. Portanto, este método gráfico permite g0 azendo Hn = 0 : F )m/Wb(84.0 10.10x10 10xπ4x10x1.11x3x200 l.S μ.S.I.N B 2 34 74 gn 0g n = == −− −− APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 138 EXERCÍCIOS 1) - Um circuito magnético compõe-se de duas partes de mesmo material ferromagnético com permeabilidade magnética relativa formando um caminho único para o fluxo. A parte 1 tem 50 mm de comprimento médio e 104 mm2 de seção reta. A parte 2, conectada à parte 1, possui 30 mm de comprimento médio e 120 mm2 de área de secção. O material magnético encontra-se na parte da curva onde a permeabilidade relativa é proporcional à densidade de fluxo. Encontre o fluxo ϕ, para uma Fmm de 40 A.esp. 4000μ r = 2) - A figura abaixo mostra um circuito magnético em aço fundido. A parte 1 tem um comprimento médio l1 = 34 cm, e secção S1 = 6 cm2. A parte 2 tem l2 = 16 cm e S2 = 4 cm2. Calcule a corrente do enrolamento com N1 espiras, supondo I2 = 0.5 A., N1 = 200 espiras, N2 = 100 espiras e o fluxo magnético no circuito, ϕ = 120 μWb. 2 1 N2 N1 F2 F1 Figura do problema 2 3) - A figura abaixo mostra um circuito magnético com uma Fmm de 500 Ae. A parte 1 é de aço fundido, com l1 = 340 mm, e S1 =400 mm2. A parte 2 é de ferro fundido, com l2 = 138 mm e S2 = 360 mm2. Calcule o fluxo magnético. 1 2 Figura do problema 3 4) - Para o circuito magnético mostrado na figura abaixo, a permeabiliade relativa é 1000. A seção transversal é de 2 cm2, com exceção da perna central, que é de 4 cm2. Os caminhos l1 e l2 medem 24 cm, e l3 mede 8 cm. Calcular o fluxo magnético nos caminhos L1 e L2. 1000 Ae 500 Ae L1 L2 L3 Figura do problema 4 APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 139 5) - Um núcleo em aço-silício, seção retangular de 10 mm x 8 mm, comprimento médio de 150 mm. Possui um entreferro de 0.8 mm. O fluxo é 80 x 10-6 Wb. Calcule a Fmm. 6) - O circuito magnético mostrado na figura abaixo é de aço fundido. A bobina tem 500 espiras. As dimensões são : le = 1mm, S2 = S3 = 150 mm2 , S1 = 300 mm2 , l1 = 40 mm, l2 = 110 mm e l3 = 109 mm. Calcule a corrente na bobina para gerar um fluxo de 125 μWb no entreferro. Suponha que Se é 17 % maior que S3. 2 cm Espessura 2 cm Entreferro = 1 mm Fmm = 500 Fmm = 500 5 cm 2 cm 6 cm 6 cm 4 cm 2 cm 2 cm N = 500 L2 L3 L1 Figura do problema 6 7) - Encontre o fluxo magnético em cada um dos três braços do circuito magnético mostrado na figura abaixo. Considere H = 200B no aço. Figura do problema 7 APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 140 CURVAS DE MAGNETIZAÇÃO DOS PRINCIPAIS MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS I A, a2 X V ~ ~ Q e 6 2 P 0, 6 4 %e E,, 0 , 6 3 / ~ ~ ~ APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 141 15 FORÇA DE ORIGEM MAGNÉTICA NO ENTREFERRO Em um circuito magnético o fluxo produzido pelo seu campo deve percorrer um caminho fechado. Se este circuito tiver entreferros, neles aparecerão dipolos magnéticos, fazendo com que cada lado de um entreferro fique sujeito a uma força de atração. Verificamos então que a presença do campo magnético neste circuito com entreferros irá desenvolver uma tendência de fechar esses entreferros, justificando então o efeito da ação destas forças de atração mútua. Forças originadas a partir de campos magnéticos são de grande aplicação em numerosos dispositivos eletromagnéticos, tais como, relés, eletroímãs, instrumentos de medida, motores e geradores elétricos, etc. A densidade de energia armazenada num campo magnético é dada por: )/( 3 2 2 m mJ B 2 1H 2 1HB 2 1w μ=μ=•= rr (15.1) Esta expressão é análoga àquela da energia armazenada no campo elétrico, dada pela metade do produto escalar entre os vetores da densidade de fluxo e a correspondente intensidade de campo. Já vimos em aplicações anteriores que a relutância do circuito magnético é em geral muito menor que a relutância do entreferro. Podemos considerar então que quase toda a Fmm produzida é utilizada para vencer o entreferro armazenando nele praticamente toda a energia magnética. Em vista da distância do entreferro ser muito pequena em relação ao comprimento (médio) do circuito magnético, podemos admitir o campo magnético no entreferro como sendo uniforme. Com isto, a energia magnética armazenada no entreferro vale: )(l... JS B 2 1VwW gg 0 2 g gmm μ== (15.2) onde: gV = Volume do entreferro gS = Seção transversal do entreferro gl = comprimento do entreferro. Suponhamos agora que este entreferro seja mantido aberto mediante a aplicação de uma força externa de módulo F. Se esta força varia e aumenta a distância lg entre os lados do entreferro de um incremento d lg, então um ligeiro acréscimo na corrente será observado para que B se mantenha constante e um acréscimo de energia armazenada dWm será dado por: gg 0 2 g m dS2 B dW lμ= (15.3) Este acréscimo de energia armazenada implicará num incremento de trabalho externo realizado que, desenvolvido no entreferro, pode assim ser escrito: )(l JdFdW g= (15.4) UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 142 O trabalho incremental realizado pela força externa F corresponde ao acréscimo de energia armazenada no campo magnético. Pela igualdade entre as expressões (15.4) e (15.3) teremos a intensidade da força exercida no entreferro dada por: g 0 2 g S 2 B F μ= (15.5) Exemplo 15.1 Um eletromagneto em forma de U, segundo a figura 15.1 abaixo, sustenta uma barra de ferro. O comprimento médio do eletromagneto adicionado ao da barra perfaz 1 m e o contato ferro-ferro entre eles é estabelecido por lâminas de cobre de 1 mm de espessura. A área de contato é a de um círculo com 0,1 m2. Se a permeabilidade relativa do material utilizado é 1800 e o número de ampères-espiras é 1 kA, qual é o peso da barra sustentada? Solução: Fig. 15.1 – estrutura magnética do eletro-ímã. Forças que atuam na barra em equilíbrio: mF2P= Área efetiva no entreferro de cobre (material não magnético), considerando o espraiamento das linhas de campo 22 n Rm10S π== , m1780R ,= ( ) 22g m1006000101780S ,,, =+π= Pela análise do circuito magnético temos: nngg HH2IN ll += ou 1 kA Espaçador de cobre P n 0r n g 0 g BB2IN ll μμ+μ= Pela condição de fluxo comum estabelecido no circuito g n g nnngg BS S BSBSB =⇒==φ Daí ⇒μμ+μ= nn g 0r g g 0 g S SBB 2IN ll P Fm Fm ( ) 10060x110x0010x1800x2 1000x10x10x4x1800B SS2BINS 7 g gnngrgn0r ,,, , ll + π= ⇒+μ=μμ − T4910Bg ,= A força que equilibra a barra e compensa o seu peso realiza um trabalho no campo magnético, sendo dada por: N9650 10x4x2 10060x4910 2 SB F 7 2 0 g 2 g m =π=μ= − ,, E o peso da barra é então ouN3001965092P .. =×= tf931P ,= UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 143 Exemplo 15.2 Determinar o número de ampères-espiras necessários para gerar uma força magneto motriz de modo a manter um entreferro de 1 mm na estrutura ferromagnética da figura 15.2, contra a ação de uma mola cuja constante elástica K = 5 × 102 N/m. Nesta situação, sabe-se que a distensão da mola é de 2 cm. Desprezar o espraiamento e a relutância do ferro. Solução: 1 mm 1 cm 2 cm espessura = 2 cm Fig. 15.2 - estrutura ferromagnética do exemplo 16.2 Forças agentes na parte móvel: A condição de equilíbrio impõe que 2 F F molamag = onde xKFmola = N10102105F 22mola =×××= − N5SH 2 1F 2g0mag =μ= Fmola Fmag Fmag S F2 H 0 mag g μ ×= ( ) mespA199471020010 52H 0 g /.,, =×μ ×= Considerando apenas a presença dos dois entreferros ggmm H2F l= =2 x 199471 x 0,001 espirasampères399Fmm −= UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 144 EXERCÍCIOS 1) - O eletromagneto mostrado na figura abaixo é projetado para suportar uma força que tende a fechar o entreferro, equivalente ao peso de uma massa de 10 toneladas. Qual é a máxima corrente permitida para a qual a força não exceda esse valor? O enrolamento possui 10000 espiras, e a permeabilidade relativa do material do núcleo magnético é 400. seção transversal = 0,4×0,25 m diâmetro = 0,4 m entreferro = 0,01 m 2 m 2 mFig. 1 - Fig. do problema 1 2)- O Objetivo deste problema é demonstrar a importância de um bom projeto do circuito magnético em um dispositivo eletromagnético. Um eletroímã é construído com chapas de aço silício. O número de espiras no enrolamento é 1000. Dois circuitos magnéticos são propostos (figuras 2 e 3). Em cada proposta, calcular a corrente que deve circular no enrolamento para se levantar os seguintes pesos: P = 1 tf, P = 2 tf, P = 5 tf. Desprezar o espraiamento. Preencha os valores da tabela I, e calcule o volume de material magnético gasto em cada caso. Tire as suas conclusões. Fig. 2 - circuito 1 p/ p problema 2 Fig. 3 - circuito 2 p/ o problema 2 Tabela I - preencha com os valores obtidos de corrente Peso corrente (A) (T) circuito 1 circuito 2 1 2 5 20 20 20 15 30 15 40 10 10 15 40 1 mm 10 1 mm P P UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 145 3) Calcular a corrente que deve circular na bobina de 100 espiras da suspensão magnética da figura abaixo, de forma a levantar um peso de 800 N. O ímã permanente possui 2 cm de comprimento, área S = 30 cm2, e característica de magnetização mostrada na outra figura. A orientação do ímã é tal que seu fluxo se adiciona ao da bobina. O entreferro é de 2 mm, e a área s dos dentes é 10 cm2. Desprezar o espraiamento e a relutância do ferro. ímã bobina Área s Parte móvel Suspensão magnética do problema 3 B Bi = μ0Hi + Br Br = 0,8 Característica de desmagnetização do ímã do problema 3. UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 146 Inicialmente vamos considerar um material ferromagnético ilustrado na figura 16.1, enrolado com N espiras condutoras em que circula uma corrente elétrica de intensidade i, suficiente para levar o núcleo interno à saturação. Sabemos que, de acordo com a teoria dos domínios magnéticos, o núcleo manterá um magnetismo residual depois a corrente é extinta, conforme pode ser mostrado pelo ciclo de histerese na figura 16.2. Pode-se assim dizer que o material ferromagnético imantou-se, ou tornou-se um ímã permanente. 16 CIRCUITOS MAGNÉTICOS COM ÍMÃS PERMANENTES i B Fig. 16.1 - Núcleo com enrolamento de N espiras B Br Hc Curva de desmagnetização H Fig. 16.2 - Ciclo de Histerese A nossa região de interesse no ciclo de histerese é aquela que pertence ao segundo quadrante. Este trecho é chamado de curva de desmagnetização e representa as características de um dado ímã. O ideal é que os ímãs permanentes apresentem uma alta retentividade ou remanência (ponto Br de interseção da curva de histerese com o eixo B) e uma alta coercitividade (ponto HC de interseção da mesma curva com o eixo horizontal H), expressando assim, a medida da dificuldade de desmagnetização apresentada pelo material. Uma característica muito importante em um ímã permanente é o máximo valor para o produto B H. Observemos aí que não se trata do produto dos valores máximos de B e de H, ou seja, de BBmax por Hmax. Um análise da figura 16.3, com algumas curvas de desmagnetização, mostra que a curva 2 é aquela que oferece o máximo produto B H. UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 147 1 2 3 Alta retentividade, baixa coercitividade Retentividade intermediária, coercitividade intermediária baixa retentividade, alta coercitividade Fig. 15.3 - Curvas de desmagnetização O máximo produto BH para um determinado material indica a máxima densidade de energia (J/m3) que pode ser armazenada no imã composto de certa substância. Quanto maior o valor do máximo produto B H, menor será a quantidade de material necessária para que se obtenha um dado valor de fluxo magnético. A figura 16.4 apresenta a curva de desmagnetização de uma liga alnico 5. A tabela 16.1 apresenta valores de retentividade, coercitividade e (B H) máximo para os diversos tipos de ímãs permanentes mais empregados. -10000- Fig. 16.4 - curva de desmagnetização do alnico 5 Tabela 16.1 Material (composição percentual) Retentividade (T) Coercitividade (A/m) (BH)max (J/m3) Aço Cromo (98 Fe, 0,9 Cr, 0,6 Co, 0,4 Mn) 1,0 4.000 1.600 Oxide (57 Fe, 28 O, 15 Co ) 0,2 72.000 4.800 Alnico 12 ( 33 Fe, 35 Co, 18 Ni, 8 Ti, 6 Al) 0,6 76.000 12.000 Alnico 2 (55 Fe, 12 Co, 17 Ni, 10 AL, 6 Cu) 0,7 44.800 13.600 Alnico 5 (Alcomax)(51 Fe, 24 Co, 14 Ni, 8 Al, 3 Cu) 1,25 44.000 36.000 Platina-Cobalto (77 Pt, 23 Co) 0,6 290.000 52.000 16.1 - Imãs Permanentes com Entreferro. Imãs permanentes são normalmente utilizados em estruturas que apresentem entreferros. As maiores aplicações são medidores, microfones, alto falantes, geradores de pequeno porte. Atualmente máquinas de grande porte também estão sendo construídas utilizando-se imãs 20000-30000-40000-50000 0 0,2 1,4 0,6 0,8 1,0 1,2 0,4 D E N S I D A D E D E F L U X O (T) INTENSIDADE DE CAMPO (A/m) UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 148 permanentes, com o desenvolvimento de ligas especiais (Samário-Cobalto, por exemplo), que dão origem aos chamados super-imãs. Consideremos um circuito magnetizado permanentemente, com um entreferro (figura 16.5). Him Hg Fig. 16.5 - Circuito magnético formado com material permanentemente magnetizado Devido ao entreferro, a densidade de fluxo residual deverá possuir um valor menor do que Br, situando-se em um ponto P qualquer da curva de desmagnetização (figura 16.6). Para localizarmos o ponto P na curva de desmagnetização necessitamos da equação da reta OP', indicando assim o ponto de operação do ímã. O P P’ -H B Fig. 16.6 - Ponto de Operação do ímã A lei de Ampère aplicada a este circuito fornece: 0NIldHl ==⋅∫ rr (16.1) Como não existe corrente, conseqüentemente não existirá também a Fmm no circuito magnético. Assim, a equação (16.1) resulta: 0.H.H ggimim =+ ll (16.2) Sabemos que no entreferro a permeabilidade é baixa e linear. Assim g0g HμB = (16.3) Esta expressão com o uso da (16.2) permite escrever que: UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 149 g imim 0g .H μB l l−= (16.4) Pela configuração do circuito magnético, o fluxo das linhas de campo é o mesmo no entreferro e no ímã. Considerando o efeito de espraiamento do fluxo no entreferro, temos que: g im imgimimgg S S BBSBSB =⇒= (16.5) A igualdade das expressões (16.4) e (16.5) fornece: g imim0 g imim Hμ S SB l l−= (16.6) Portanto: im gim img0 im HS Sμ B l l−= (16.7) Esta é a equação da reta OP' mostrada na figura 15.6, com declividade negativa. Sua intersecção com a curva de desmagnetização fornece o ponto de operação do ímã com o entreferro. Exemplo 16.1 Calcular o fluxo magnético no entreferro do ímã permanente de secção transversal 30 cm2 conforme o esquema na figura 16.7. A curva de desmagnetização desteímã é dada na figura 16.8, podendo ser considerada como um quadrante de círculo. Solução: Fig. 16.7 - Ímã permanente c/ entreferro Fig. 16.8 - Curva de desmagnetização cm5,59)5,015(151515im =−+++=l S x cim = =5 6 30 2m g ) S a l b lg g= + +( ).( 2 g cm75,35)5.06).(5.05(S =++= Pela (16.7) 24 im 247 im 10x5,0x10x30 xH10x5,59x10x75,35x10xπ4 B −− −−−−= im 4 im H10x78,1B −−= Observamos que a curva B x H não plota as grandezas na mesma unidade, impedindo uma solução imediata. Estabelecendo as seguintes relações: Em B: 1 unidade = 0,1 T Em H: 1 unidade = – 1000 A/m P P’ H (Ae/m) B(T) 0,5 5000 20 cm 20 cm 5 0,5 5 5 espessura = 6 cm UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 150 Podemos escrever, com todas as grandezas na mesma unidade, em que: y)1000(.10.78,1x1,0 4 −−= − y78,1x = Esta é a equação da reta OP' (linha de cisalhamento). Como a curva do ímã é aproximada por um quadrante de círculo, temos: 222 5yx =+ O ponto de operação será obtido pela solução do sistema acima. Daí unidades98,2x x 578,1x x 5y =⇒=⇒±= Fazendo a conversão para B (1 unidade = 0,1 T) T30.0Bop ≅ Da mesma forma, para m/esp.A1678)1000( x 5Hop −≅−= E o fluxo no entreferro será: 4 imimimg 10x30x30.0φ.Sφφ −=== Wb10x0,9φ 4g −= Exemplo 16.2 Calcular o raio R do comprimento médio da estrutura abaixo, formada por um ímã permanente cuja curva de desmagnetização é igual a do exemplo anterior, para que seja estabelecido um fluxo de 0,236×10-4 Wb no entreferro. Desprezar o espraiamento do campo no entreferro. Solução Fig. 16.9 - ímã permanente do exemplo 16.2 Pelo circuito magnético, sem Fmm, temos: H l H li i g g+ = 0 001,0Rπ2gRπ2i −=−= ll ( ) T3,0005,0π 10236,0 S φB 2 4 g g =×== − m/A732238 μ B H 0 g g == Determinação de Hi: Pelo gráfico da figura 16.10: Fig. 16.10 - curva de desmagnetização para o exemplo 15.2 1 un. ≡ 0,1 T 1 un. ≡ -1000 A/m .un4xx35 22 =⇒+= ( )H Ai 4 1000 4000× − = − / m Pela equação do circuito magnético ( ) 0001,0732238001,0Rπ24000 =×+−×− R cm≅ 1 R lg = 1 mm Raio da seção transversal = 0,005 m 0,5 0,3 -5000 Hi UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 151 Exemplo 16.3 A estrutura da figura abaixo é construída de forma tal que o campo magnético tem um comportamento praticamente radial no entreferro. Calcule o comprimento d que deve ter um ímã permanente construído com alnico aglutinado comercial, de forma que a indução magnética B no entreferro seja de 0,2 T. Dados: entreferro lg = 1 mm, raio médio R = 2 cm. Desprezar a relutância do ferro e o espraiamento das linhas de campo magnético. Estrutura magnética do exemplo 16.3 Solução Como o fluxo magnético é o mesmo em toda a estrutura: imimgg SBSB = O percurso pelo circuito magnético permite estabelecer que: 0H2dH ggim =+ l Pela geometria do entreferro eRπ2 4 1S mg = Tπ1,0B 10x4x4 10x210x2x10x2xπ2x2,0 S S BB im 4 222 im g gim = == − −−− Como 1 T = 10 000 gauss (G) G3140Bim = Pela curva de desmagnetização do alnico, no sistema CGS )oersted(Oe400Him −= Como 1 A/m corresponde a 4π x 10-3 Oe (oersted) m/A π4 10x4H 5 im −= E o comprimento do ímã será, pela análise do circuito magnético: m004,0 10x4 10xπ4 10xπ4 2,0x2 Hμ B2 H H2 d 5 3 7 im g 0 g im gg =−− =−=−= − − ll ou d = 4 cm Rm lg ímã 2 cm Espessura da estrutura e = 2 cm d UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 152 ÍMÃS PERMANENTES – CURVAS DE DESMAGNETIZAÇÃO E (BH)max Os valores do campo magnético H e da indução magnética B estão no sistema CGS Utilize as seguintes correspondências para conversão no sistema internacional de unidades 1 tesla (T) = 10 000 gauss (G) 1 ampère/metro (A/m) = 4 π x 10-3 oersted (Oe) UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 153 A formulação completa das equações de Maxwell só será possível quando estudarmos os campos eletromagnéticos variáveis no tempo. Por enquanto, vamos fazer uma abordagem inicial destas equações, apenas para campos invariantes no tempo. Este capítulo tem por objetivo resgatar os conceitos apresentados até o momento e formulá-los de uma forma mais concisa, de modo que permita uma melhor compreensão dos fenômenos já estudados. Em seguida formularemos as equações de Poisson e de Laplace, deduzidas a partir da dedução das equações de Maxwell. 17 EQUAÇÕES DE MAXWELL, POTENCIAL MAGNÉTICO E EQUAÇÕES DE CAMPO 13.1 – AS QUATRO EQUAÇÕES DE MAXWELL PARA CAMPOS ELÉTRICOS E MAGNÉTICOS ESTACIONÁRIOS Como pudemos observar em todo o desenvolvimento deste curso, as leis básicas do eletromagnetismo foram formuladas por cientistas do século XIX, a partir da observação de fenômenos elétricos e magnéticos, complementadas por pesquisas experimentais. Com o auxílio das técnicas empregadas em cálculo diferencial e integral, essas equações receberam uma apresentação formal, mais elegante e sofisticada. Esse trabalho é devido a James Clerk Maxwell, cientista inglês que deu origem a um famoso grupo de equações conhecido por Equações de Maxwell. As equações de Maxwell podem ser escritas tanto na forma integral, como na forma diferencial. Na verdade, o grupo de equações de Maxwell, na sua forma integral, nada mais é do que a expressão de conceitos conhecidos de campos elétricos e magnéticos criados por situações estáticas, isto é, invariantes no tempo. Na forma integral já vimos que: )(. CdvSdD vs ∫∫ ρ=⋅ rr (13.1) 0LdE l =⋅∫ rr (13.2) )(ASdJLdH Sl ∫∫ ⋅=⋅ rrrr (13.3) 0SdB s =⋅∫ rr (13.4) A equação (13.1) é a lei de Gauss, mostrando que o fluxo total que atravessa uma superfície fechada corresponde à carga elétrica por ela envolvida. Em seguida, a equação (13.2) mostra que a integral de linha do campo elétrico estático sobre um caminho fechado é nula, numa clara expressão da lei de Kirchhoff para as malhas em circuitos elétricos. A equação seguinte (13.3) é a lei circuital de Ampère em que a integral de linha do campo magnético estático sobre um caminho fechado corresponde à corrente elétrica enlaçada por ele. Finalmente, a equação (13.4) mostra que o fluxo total do campo magnético sobre uma superfície fechada é nulo e demonstra, em um paralelo com a lei de Gauss na equação (13.1), a inexistência de cargas magnéticas. A pura aplicação dos teoremas de Stokes e da Divergência permite que as equações de Maxwell sejam expressas na sua forma diferencial e pontual. Assim, pela ordem: )/( 3mCD ρ=⋅∇ r (13.5) 0E=×∇ r (13.6) UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 154 )/( 2mAJH rr =×∇ (13.7) 0B=⋅∇ r (13.8) Utilizando as identidades e relações vetoriais já vistas (gradiente, divergente, rotacional, teorema da divergência, teorema de Stokes), qualquer dos conjuntos de equações pode ser obtido, a partir do outro. A interpretaçãofísica dada para as equações (13.1) e (13.5) é que podem existir cargas elétricas isoladas e que o fluxo elétrico total que atravessa uma superfície fechada é igual à carga total por ela envolvida. A segunda dupla, ou seja, as equações (13.2) e (13.6), nos diz que o campo elétrico estacionário é conservativo. As equações (13.3) e (13.7) da terceira dupla informam que a corrente total que atravessa uma superfície aberta é igual à integração do vetor intensidade de campo magnético ao longo do contorno (caminho fechado) que envolve essa superfície. Quando essa superfície aberta tende a zero, a circulação do vetor intensidade de campo magnético nos fornece a densidade e a direção da corrente elétrica naquele ponto. Por fim, a quarta dupla, formada pelas equações (13.4) e (13.8), de uma forma elegante mostra que não é possível a existência de pólos magnéticos isolados. A estas equações adicionamos as expressões relacionando r D com r E e r B com r H (chamadas de relações constitutivas) presentes em qualquer meio onde: )/( 2mCED rr ε= (13.9) )/( 2mWbHB rr μ= (13.10) O conjunto formado pelas equações de Maxwell, mais essas duas últimas relações, constituem o cerne da teoria eletromagnética. Deve-se salientar que as equações aqui apresentadas referem-se a campos eletrostáticos e magnetostáticos (não variantes com o tempo). Veremos mais tarde as equações de Maxwell também são formuladas matematicamente para englobar campos elétricos e magnéticos variantes no tempo. 13.2 – POTENCIAL ESCALAR MAGNÉTICO E VETOR POTENCIAL MAGNÉTICO Uma das maneiras encontradas para resolver problemas de campo eletrostático é pela utilização do potencial escalar eletrostático V. Dada uma configuração de cargas, a intensidade de campo elétrico pode ser obtida pelo gradiente dos potenciais eletrostáticos uma dada região. Devido à grande semelhança nas formulações da eletrostática, somos levados a perguntar se esta forma de solução não pode ser utilizada na magnetostática, ou seja, definir uma função potencial escalar magnético, a partir de uma distribuição de correntes, e a partir dela determinar a intensidade de campo magnético. Esta questão pode ter uma resposta afirmativa, sob certas circunstancias. Vamos então designar uma função potencial escalar magnético Vm, numa analogia com a eletrostática e definir que: )m/A(VH m∇−= r (13.11) O sinal negativo para o lado direito da equação 13.11 deve-se estritamente à analogia com a eletrostática. UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 155 Escrevendo a Lei de Ampère na forma pontual e substituindo o vetor intensidade de campo magnético pelo gradiente negativo da função escalar potencial magnético teremos; ( ) JVH m rr =∇−×∇=×∇ (13.12) As identidades vetoriais mostram que o rotacional do gradiente de qualquer função escalar é identicamente nulo. Portanto, a função potencial escalar magnético só pode ser definida quando a densidade de corrente no ponto em que r H está sendo calculado for igual a zero. Ou seja: 0H=×∇ r (13.13) Como muitos problemas magnéticos envolvem geometrias em que os condutores ocupam uma fração muito pequena do domínio, o potencial escalar magnético pode ser útil. O potencial escalar magnético também é aplicável a problemas envolvendo ímãs permanentes. Uma diferença fundamental entre a função potencial escalar eletrostático e a função potencial escalar magnético é que a primeira é um campo conservativo, ao passo que a segunda não o é. O potencial elétrico V é uma função unívoca, ou seja, uma vez que a referência zero seja fixada, existe um, e somente um valor de V associado a cada ponto do espaço. Este não é o caso de Vm. Para que Vm seja uma função unívoca, é necessário que não somente a densidade de corrente seja nula no ponto considerado, mas também que a corrente envolvida pela circuitação do vetor intensidade de campo magnético na região de interesse também seja nula. Por exemplo, um condutor conduzindo uma corrente elétrica apresenta uma densidade de corrente somente no seu interior, o que implica na inexistência de linhas de corrente fora dele. No entanto, fora do condutor, a circuitação do campo magnético enlaça toda a corrente existente no condutor, mostrando que neste caso, o potencial escalar magnético não pode ser determinado de forma única. Frente às limitações da função potencial escalar magnético, no eletromagnetismo moderno, onde a determinação de campos eletromagnéticos é feita por recursos numéricos associados a métodos computacionais, outra função, esta denominada vetor potencial magnético, é mais utilizada, podendo ser estendida a regiões com densidades de corrente diferentes de zero, e campos magnéticos variáveis no tempo. Sabemos que as linhas de força do campo magnético são fechadas, numa clara mostra da inexistência de cargas magnéticas. Desta forma, o fluxo magnético total que atravessa uma superfície fechada resulta sempre nulo, ou seja, numero de linhas de campo que entram na superfície é igual ao numero de linhas que dela saem. A aplicação do teorema da divergência faz então com que a indução magnética resulte nula. Daí: 0B=⋅∇ r (13.14) O vetor potencial magnético (bem como a função potencial escalar magnético) não possui nenhum significado físico (pois, ao contrário da eletrostática, não existem cargas magnéticas isoladas). A sua definição provém de uma lei do cálculo vetorial, que afirma que o divergente do rotacional de qualquer função vetorial é nulo. Desta forma, deve existir uma função r A tal que sua circuitação produza a densidade de fluxo magnético B r . Assim, AB rr ×∇= (13.15) Fica assegurado então que: 0)A( =×∇⋅∇ r (13.16) A função r A é conhecida como o vetor potencial magnético e sua dimensão é Wb/m no Sistema Internacional de Unidades. UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 156 Embora seja possível encontrar expressões matemáticas para o vetor potencial magnético, análogas àquelas para o potencial eletrostático, em termos de uma integral envolvendo corrente (ou densidade de corrente), elementos diferenciais de comprimento (ou de superfície, ou de volume) e as distâncias dessas distribuições a pontos onde se deseja calcular o valor de r A , não o faremos aqui. Essas expressões são de uso bastante limitado em casos voltados à prática, com soluções analíticas bastante complexas e até mesmo impossíveis. Ao invés disso, partindo da definição do vetor potencial magnético e das leis já conhecidas do eletromagnetismo, vamos formular as equações de campo que servem como ponto de partida para o cálculo de campos elétricos e magnéticos por métodos numérico- computacionais. 13.3 – EQUAÇÕES DE POISSON E DE LAPLACE 13.3.1 – Para a Magnetostática A lei de Ampère para campos eletromagnéticos estáticos na sua forma pontual informa que: JH rr =×∇ (13.17) ou ainda pela relação constitutiva da equação (13.10): JB rr =⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ μ×∇ (13.18) A definição do vetor potencial magnético em (13.15) faz com que a expressão acima fique: J)A1( rr =×∇μ×∇ (13.19) Consideremos que o nosso problema tenha um comportamento bidimensional, ou seja, o potencial magnético só possui a componente na direção z e só varia nas direções x e y, ou: Ax = Ay = 0 e 0zAz =∂∂ . Isso pode ser ilustrado pela figura 13.1. Az Bx By x y B Figura 13.1 Campo magnético com comportamento bidimensional. Consideremos ainda que o vetor densidade de corrente J r , neste caso, só possui a componente em relação ao eixo z deste sistema cartesianode coordenadas. Desenvolvendo os rotacionais da equação (13.19) com essas simplificações em mente chegaremos à expressão: UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 157 J y A yx A x −=⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ ∂ ν∂ ∂ ∂+⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ ∂ ν∂ ∂ ∂ (13.20) em que ν é a relutividade, definida como o inverso da permeabilidade magnética do meio. Se o meio não for linear, ν terá dependência sobre a indução magnética B e vice-versa. A equação (13.20) é uma equação diferencial não linear, mais conhecida como função Quase-Poisson (ou equação de Poisson não linear). Se a relação entre B e H for linear, ν pode ser isolado na equação (13.20), recaindo na equação de Poisson, dada abaixo. JJ y A yx A x μ−=ν−=⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ ∂ ∂ ∂ ∂+⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ ∂ ∂ ∂ ∂ (13.21) Se o meio for desprovido de correntes, a equação (13.21) se reduzirá à equação de Laplace: ∂ ∂ ∂ ∂ 2 2 2 2 0 A x A y + = (13.22) A solução da equação (13.20), que naturalmente engloba as equações (13.21) e (13.22), permite o conhecimento do campo magnético em qualquer ponto de um circuito magnético. Entretanto esta equação não possui uma solução analítica conhecida. Por essa razão, a única maneira de fazê-lo é através de métodos numéricos. 13.3.2 – Para a Eletrostática A obtenção da Equação de Poisson para a eletrostática é extremamente simples. A partir da forma pontual da lei de Gauss: ρ=⋅∇ Dr (13.23) Da definição de r D : ED rr ε= (13.24 Sabendo também que o campo elétrico E r é determinado pelo gradiente negativo dos potenciais elétricos, tem-se que: rE V= − ∇ (13.25 Substituindo (13.25) e (13.24) em (13.23) vem: ρ=∇ε⋅∇− )V( (13.26) ou: ε ρ−=∇ V2 (13.27) Essa é a equação de Poisson para a eletrostática, válida para uma região onde a permissividade elétrica ε do meio é constante. Expandindo-a em coordenadas cartesianas temos: ∇ = + + = −2 2 2 2 2 2 2V V x V y V z ∂ ∂ ∂ ∂ ∂ ∂ ρ ε (13.28) Se o meio não possuir cargas livres, ou seja, se ρ for igual a zero, a equação (13.28) recairá na equação de Laplace abaixo: UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 158 0 z V y V x VV 2 2 2 2 2 2 2 =∂ ∂+∂ ∂+∂ ∂=∇ (13.29) Onde a operação é chamada de Laplaciano de V. Em coordenadas cilíndricas a expressão para a equação de Laplace é: 2∇ 0 z VV r 1 r Vr rr 1V 2 2 2 2 2 2 =∂ ∂+∂φ ∂+⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ ∂ ∂ ∂ ∂=∇ (13.30) e em coordenadas esféricas temos: 0V senr 1Vsen senr 1 r Vr rr 1V 2 2 222 2 2 2 =∂φ ∂ θ+⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ ∂θ ∂θθ∂ ∂ θ+⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ ∂ ∂ ∂ ∂=∇ (13.31) Tendo em vista que a equação de Poisson considera as características condutivas e dielétricas do meio, a equação de Laplace é um caso particular para um meio desprovido de cargas elétricas livres. 13.4 – EXEMPLOS DE SOLUÇÃO ANALÍTICA DA EQUAÇÃO DE LAPLACE As equações de campo obtidas na seção anterior são equações diferenciais onde as soluções analíticas só são possíveis para problemas muito simples. Os meios devem ser homogêneos e lineares, bem como a geometria de tratamento bastante simples. Nesta seção apresentaremos uma maneira para se obter a solução analítica da equação de Laplace em duas dimensões. Em coordenadas retangulares, teremos para o caso bidimensional: 0 y V x V 2 2 2 2 =∂ ∂+∂ ∂ (13.32) Esta é uma equação diferencial a derivadas parciais de segunda ordem (possui derivadas de segunda ordem) e primeiro grau (não possui potências além da primeira). A equação (13.27) é a maneira mais geral de se expressar a variação do potencial eletrostático V em relação à posição (x,y,z), não sendo específica a nenhum problema em particular. Em outras palavras, para se resolver um problema em eletrostática utilizando esta equação de um modo particular para cada caso, deve- se conhecer as condições de contorno do problema. Vamos resolver a equação (13.32), caso particular da equação (13.27), utilizando o método da separação de variáveis, onde assumimos que V pode ser expresso como o produto de duas funções F e G tal que: )y(G)x(FV= (13.33) onde: F é função apenas de x e G função apenas de y. Tomando esta expressão do potencial e aplicando-a na equação (13.32), temos: 0 dy YdF dx XdG 2 2 2 2 =+ (13.34) Dividindo esta equação por FG, UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 159 0 dy Gd G 1 dx Fd F 1 2 2 2 2 =+ (13.35) Tendo em vista que a soma destes dois termos resulta numa constante e que o primeiro termo é independente de y e o segundo de x, cada qual será uma constante. Então, podemos escrever: 2 2 2 a dx Fd F 1 = (13.36) ou: Fa dx Fd 2 2 2 = (13.37) e, similarmente: Ga dy Gd 2 2 2 −= (13.38) O problema agora consiste em achar a solução para cada variável separadamente (daí o nome “separação de variáveis”). A expressão dada em (13.37) mostra uma equação diferencial ordinária de 2ª ordem e homogênea cuja solução geral é obtida pelas raízes do correspondente polinômio característico. Desta forma, a solução geral para a equação (13.37) é: ax 2 ax 1 eAeAF −+= (13.39) ou, de maneira equivalente: ( ) ( )axsenhCaxcoshCF 21 += (13.40) onde C1 e C2 são constantes arbitrárias, obtidas a partir das condições de contorno do problema específico. De maneira semelhante, a solução geral apresentada para a equação (13.38) é: jay 4 jay 3 eAeAG −+= (13.41) ou, ( ) ( )aysenCaycosCG 43 += (13.42) Qualquer termo em (13.39) é uma solução e a soma deles também é uma solução. Para verificar isso, basta substituir o valor de F da equação (13.40) na equação (13.37). Desta forma, a solução geral da equação (13.32) fica: )eAeA)(eAeA(V jay4 jay 3 ax 2 ax 1 −− ++= (13.43) ou ( ) ( )[ ] ( ) ( )[ ]aysenCaycosCaxsenhCaxcoshCV 4321 ++= (13.44) UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 160 Assim como as constantes A1, A2, A3 e A4, ou C1, C2, C3 e C4 serão determinadas em função das condições de contorno do problema em estudo. Exemplo 13.1 Considere um capacitor de placas paralelas, de área 100 cm2 e distância entre as placas 0.01 m. Sabe-se que a placa inferior está no potencial zero e a placa superior no potencial 100 V. Utilizando a equação de Laplace, determine a distribuição de potencial entre as placas, desprezando o espraiamento das linhas de força do campo elétrico estabelecido. Solução: O problema pede na verdade o campo elétrico estabelecido entre as placas. Neste caso, podemos desconsiderar o efeito das bordas ou o espraiamento das linhas de campo visto que a distância entre as placas planas é muito menor do que a área delas. Assim o nosso problema recai no clássico capacitor de placas planas paralelas e infinitas, representado pela figura 13.2 abaixo. z1 z y V = 0 V = 100 V Figura 13.2 - Capacitor de placas paralelas. Não há variação do potencial nas direções y e x, mas apenas na direção z. Portanto a equação de Laplace se reduz a: 0 dz Vd 2 2 = Pelo fato da segunda derivada de V em relação a z ser zero, a primeira derivada deve ser igual a uma constante. Desta forma: 1Cdz dV = ou: dzCdV 1= integrando: ∫ ∫= dzCdV1 ou: 21 CzCV += Utilizando agora as condições de contorno, vamos determinar as constantes C1 e C2. Em z = 0, temos V = 0. Portanto: 0CC00 22 =⇒+= UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 161 Em z = 0.01 m, temos V = 100 V. Portanto: 10000C01.0C100 11 =⇒= Introduzindo os valores de C1 e C2 na equação da solução: )V(z10V 4= O campo elétrico entre as placas será então determinado pelo gradiente dos potenciais onde r . Assim, E = − ∇V z 4 aˆ10E −=r Portanto, constante e de módulo igual a V/d, como era de se esperar. Exemplo 13.2 Calcule a distribuição da função potencial eletrostático na região interna entre dois planos radiais, isolados por um gap infinitesimal, conforme ilustrado na figura 13.3. Figura 13.3 – Dois planos radiais infinitos com ângulo α interior Solução Para essa configuração, as superfícies equipotenciais também são planos radiais, e a equação de Laplace em coordenadas cilíndricas se reduz a: 0V r 1V 2 2 2 2 =∂φ ∂=∇ Excluindo r = 0, teremos: 0V2 2 =∂φ ∂ O que dá como solução BAV +φ= As condições de contorno permitem obter A e B: UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 162 Para = 0, V = 0 → B = 0. φ Para = α, V = Vφ 0 → A = V0/α. Portanto: α φ= 0VV (V) Exemplo 13.3 Calcule a distribuição da função potencial eletrostático na região interna da calha retangular mostrada na figura 13.4. Solução: d c V = 0 V = 0V = 0 V =V0 z x Figura 13.4 Calha retangular (topo isolado). Este problema recai no caso onde os potenciais são como um produto de funções independentes, cuja solução geral já discutimos anteriormente. O potencial é uma função de x e de z sob a forma: ( ) ( )[ ] ( ) ( )[ ]axsenCaxcosCazsenhCazcoshCV 4321 ++= As condições de contorno para este problema específico implicam em: V = 0 em x = 0 e V = 0 em z = 0 Estas condições fazem nulos os termos com C2 e C4, sendo requerido então que as constantes C1 e C3 sejam nulas para que V seja igual a zero. Por outro lado, a condição V = 0 em x = c, leva-nos a concluir que a = nπ/c, onde n é um número inteiro. Tendo C1 e C3 nulos a expressão geral contém apenas o produto C2C4 que substituído por C faz com que a expressão para o potencial torne-se: ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ π⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ π= c xnsen c znsenhCV Como n pode ser qualquer número inteiro, a expressão para V deve ser escrita como sendo uma série infinita em que: ∑∞ = ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ π⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ π= 1n n c xnsen c znsenhCV A condição V = V0 em z = d, permite escrever: UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 163 ∑∞ = ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ π⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ π= 1n n0 c xnsen c dnsenhCV O produto formado pelos dois primeiros termos resulta numa constante e a expressão acima pode ser escrita ∑∞ = ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ π= 1n n0 c xnsenbV Cada constante bn pode ser determinada como um coeficiente de uma série de Fourier em seno (função ímpar) para f(x) = V0 constante onde 0 < x < c. Desta forma, dx c xnsen c V2dx c xnsen)x(f c 2b c 0 0c 0n ∫∫ π=π= ⎩⎨ ⎧ π= ímparnn/V4 parn0 b 0 n Daí : imparn/p )c/dn(senh 1 n V4C 0n ππ= A função potencial será então: ∑ ππππ= imparn 0 c xnsen )c/dn(senh )c/zn(senh n V4V 13.5 – SOLUÇÃO DA EQUAÇÃO DE LAPLACE POR ITERAÇÕES NUMÉRICAS Na seção anterior apresentamos uma solução exata para a equação de Laplace em um problema extremamente simples, para efeitos práticos. Apesar da simplicidade da configuração analisada, a solução analítica já se mostrou bastante complexa. Configurações mais complexas tornam a solução analítica extremamente difícil, e, na maioria dos casos, impossível. É por essa razão que a solução de problemas envolvendo as equações de Poisson e Laplace, na maioria dos casos práticos, só é possível com o uso de métodos numéricos. Métodos numéricos permitem uma solução aproximada para o problema, de acordo com uma tolerância pré-estabelecida. Para ilustrar a utilização dos métodos numéricos, nesta seção vamos apresentar um método bastante primitivo para a solução numérica da equação de Laplace. Este método serviu como ponto de partida para a formulação do método das diferenças finitas, que em sua formulação no domínio do tempo, FDTD, é largamente utilizado na solução de problemas envolvendo campos eletromagnéticos variáveis no tempo. Para simplificar a variação na direção z não existe. Isso reduz o nosso problema a um problema de campo bidimensional: ∂ ∂ ∂ ∂ 2 2 2 2 0 V x V y + = (13.45) O primeiro termo na equação 13.45 é a derivada parcial segunda de V em relação a x, isto é, a taxa de variação em relação a x da taxa de variação de V em relação a x. Idem para o 2º termo, em relação a y. Vamos reescrever a equação 13.45 da seguinte maneira: UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 164 ( )∂ ∂ ∂ ∂ ∂ ∂ ∂ ∂ V x x V y y = ⎛⎝⎜ ⎞⎠⎟ (13.46) Considere agora uma distribuição bidimensional de potenciais em torno de um ponto P, como é mostrado na figura 13.5. Seja o potencial no ponto P igual a V0, e os potenciais nos quatro pontos em torno dele iguais a V1, V2 V3 e V4, conforme é mostrado. Vamos agora substituir as derivadas na equação 13.46 por diferenças do tipo (V0 - V1)/Δx (neste caso específico, esta é a inclinação da curva de V entre os pontos P e 1). A diferença das inclinações, dividida pela distância incremental Δx é aproximadamente igual a ∂2V/∂x2. A equação de Laplace pode agora ser reescrita como: ( )[ ] ( )[ ] ( )[ ] ( )[ ]V V x V V x x V V y V V y y 2 0 0 1 3 0 0 4− − − ≅ − − − −/ / /Δ ΔΔ Δ Δ Δ / (13.47) P V0 4 2 1 3 V1 V2 V4 V3 Δx Δx Δy Δy figura 13.5 - Construção para encontrar o potencial em P. Fazendo Δx = Δy, teremos: V V V V V1 2 3 4 04 0+ + + − ≈ (13.48) ou: )VVVV( 4 1V 43210 +++≈ (13.49) Se conhecermos o potencial nos pontos 1, 2, 3 e 4, podemos calcular o potencial no ponto P de acordo com a equação 13.49. Em outras palavras, o significado físico da equação de Laplace é que o potencial em um ponto é simplesmente a média dos potenciais dos quatro pontos que o circundam, a uma mesma distância. Exemplo 13.4 Considere a configuração Mostrada na figura 13.6. A placa superior está a um potencial de 40 V, e isolada. O perfil em forma de U está no potencial zero. Calcular a distribuição de potenciais para esta configuração, utilizando o método de solução repetitiva da equação de Laplace. Solução: UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 165 0 40 V Gap Gap Fig 13.6 - Configuração do exemplo 13.4 0 0 O valor de V no centro do quadrado será )V(10 4 00040 =+++ O potencial no gap será a média aritmética entre o potencial na placa superior e o potencial nulo: V20 2 040 =+ 40 V 0 0 10 V 20 V 20 V 0 Fig 13.7 - 1º cálculo do potencial O valor do potencial no centro dos novos quadrados será: )V(5.17 4 0012040 =+++ )V(5..2 4 00100 =+++ Calculando novamente os potenciais nos quadrados internos teremos: V5.7 4 05.25.1710=+++ , V25.21 4 105.175.1740 =+++ UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 166 V75.3 4 1005.25.2 =+++ 20 Fig. 13.8 - 2º cálculo do potencial Fig. 13.9 - 3º cálculo do potencial Os cálculos de potenciais podem prosseguir indefinidamente. quanto maior for o número de potenciais calculados por esse processo, maior será a precisão. Finalmente, a figura 13.10 apresenta um gráfico com o mapeamento dos potenciais eletrostáticos. Cada linha representa um valor de potencial (30, 20, 15, 10, 5 e 2.5 V) Fig. 13.10 - Mapeamento dos potenciais eletrostáticos Apresentamos neste capítulo dois exemplos, um com a solução analítica da equação de Laplace, outro com uma solução numérica. A solução analítica das equações de Laplace e Poisson se restringem a casos onde a geometria é bastante simples, e por isso ela não é muito utilizada. A solução numérica dessas equações é bastante comum, e métodos bastantes avançados já foram desenvolvidos. Apesar de termos realizados exemplos de eletrostática, o mesmo procedimento é realizado no caso de campos magnéticos, onde as complexidades de geometria e meios magnéticos não lineares são ainda maior. 20 0 40 V 0 0 10 V 2.5 17.5 17.5 2.5 20 V 20 V 17.5 17.5 2.5 40 0 0 21.3 0 10 V 2.5 7.5 7.5 3.8 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 40 40 0 0 0 0 3.8 17.5 17.5 2.5 0 0 20 40 40 7.5 0 0 40 20 7.5 21.3 2.5 10 V 0 0 0 0 0 UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 167 EXERCÍCIOS 1) - Quatro placas de 20 cm de largura formam um quadrado, conforme indicado na figura 3. se as placas são isoladas entre si, e estão submetidas aos potenciais indicados, encontre o valor do potencial nos pontos a e b, indicados na figura. 5 cm 40 V 20 V 30 V 10 V a 15 cm 10 cm 5 cm b gap = 1 mm figura 1 - figura do problema 1 2) - Encontre o valor do potencial V nos pontos P1 e P2 da configuração abaixo. P2 9 cm 3 cm 9 cm 3 cm P1 V = 100 V = 0 3) - Um potencial em coordenadas cilíndricas é função apenas de r e φ, não o sendo de z. obtenha as equações diferenciais separadas para R e Φ, onde V = R(r)Φ(φ), e resolva-as. A região é sem cargas. 4) – Encontre uma expressão para V0 na figura abaixo, em função de V1, V2, V3 e V4, sabendo queh1, h2, h3 e h4 são diferentes entre si. UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 168 P V0 4 2 1 3 V1 V2 V4 V3 h2 h1 h4 h3 5) Dado o campo potencial φ=φ cos d rV),r(V 0 : a) mostre que satisfaz a equação de Laplace. b) Descreva as superfícies de potencial constante. c) Descreva especificamente as superfícies onde V = V0 e V = 0. d) Escreva a expressão para o potencial em coordenadas cartesianas. UNESP – Naasson Pereira de Alcantara Junior – Claudio Vara de Aquino Este capítulo oferece uma recapitulação aos conhecimentos de SISTEMA DE COORDENADAS VETOR VERSOR OU VETOR UNITÁRIO Figura 0.5 Versores das componentes coordenadas. PRODUTO ESCALAR Sejam dois vetores em um sistema de coordenadas onde e . Co PRODUTO VETORIAL Figura 0.7 O produto vetorial entre e ELEMENTOS DIFERENCIAIS DE VOLUMES, LINHAS E SUPERFÍCIES Sistema cartesiano Sistema cilíndrico Sistema esférico IDENTIDADES VETORIAIS I Exemplo 14.7 CURVAS DE MAGNETIZAÇÃO DOS PRINCIPAIS MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS Exemplo 16.3 ÍMÃS PERMANENTES – CURVAS DE DESMAGNETIZAÇÃO E (BH)max Solução: