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SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO

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SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO E DIREITOS DO PRESO 
Paulo Roberto Perussolo1 
 
RESUMO 
O presente artigo visa abordar o histórico do sistema prisional brasileiro, buscando 
demonstrar sua evolução, intrinsecamente ligada ao fortalecimento da pena de 
prisão pelo mundo, bem como demonstrar sua atual estrutura e a forma como se dá 
seu financiamento. Pretende-se, ainda, abordar a Lei de Execução Penal, 
apresentando noções gerais sobre o funcionamento da execução penal no Brasil, 
seus órgãos, o trabalho do preso, a remição, o regime disciplinar, os regimes de 
prisão, a progressão e a regressão e outros tópicos relevantes da LEP, sem a 
pretensão de esgotar o tema. Além disso, demonstrar como a Constituição Federal 
procurou garantir direitos dos presos a partir da dignidade da pessoa humana, as 
tentativas do Governo Federal em atenuar os problemas enfrentados pelo Sistema 
Prisional e apresentar sistemas de ressocialização de referência. 
 
PALAVRAS-CHAVE - Sistema prisional brasileiro – Estrutura – Financiamento – Lei 
de Execução Penal – Regimes de prisão – Constituição Federal – Código Penal - 
Direitos e garantias do preso – Sistemas de Ressocialização. 
 
 
INTRODUÇÃO 
Na antiguidade, a prisão era utilizada não como pena, mas de forma 
provisória, enquanto se aguardava a delimitação da pena propriamente dita. Com o 
tempo, esta realidade mudou e a prisão virou meio de pena em todo o mundo, 
igualmente no Brasil. O país passou a substituir os castigos físicos e a pena de 
morte pelo encarceramento, quando começou a construção de unidades prisionais. 
Desde então, o sistema prisional brasileiro foi estruturado, até chegar na atual 
concepção, sendo financiado especialmente pelo Fundo Penitenciário Nacional, mas 
também pelos Governos estaduais, que tem autonomia para estruturar seus próprios 
fundos e outros meios alternativos de financiamento. 
A Lei de Execução Penal trouxe grandes avanços na organização da 
execução das penas no país, delimitando os procedimentos específicos, o regime 
 
1
 Especialista em Criminologia, Segurança Pública e Política Criminal. Especialista em Direito Penal e 
Processual Penal. Docente na pós-graduação. Servidor do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná. 
2 
 
disciplinar, entre outros. A Constituição Federal trouxe inúmeros avanços na garantia 
dos direitos dos presos, vedando o trabalho forçado e penas cruéis, ou outras que 
atentem contra a dignidade da pessoa humana. Serão abordados sistemas de 
ressocialização de referência, para que a análise deixe o campo da utopia e possa 
fomentar mudanças efetivas no sistema de execução da pena no Brasil. 
 
1.HISTÓRICO DO SISTEMA PRISIONAL, NO BRASIL. 
O enclausuramento nem sempre foi uma modalidade de pena prevista pela 
sociedade. As penas mais remotas de que se tem registros indicam os castigos 
físicos, mutilações e a morte como resposta a condutas consideradas inadequadas 
ante os costumes de cada povo. Um exemplo clássico é a Lei de Talião, inscrita no 
Código de Hamurabi – segundo historiadores, teria sido escrito pelo Rei Hamurabi 
em meados de 1.700 a.C., e foi localizado no ano de 1901 no Irã; hoje exposto no 
Museu do Louvre, em Paris - um dos mais preservados e talvez o mais antigo código 
de leis já descoberto. 
A Lei de Talião é popularmente conhecida pela expressão “olho por olho, 
dente por dente”, que consiste basicamente na reprodução exata do mal causado, 
por exemplo: pune-se o homicida com a morte. 
 BITTENCOURT2 afirma que durante a Antiguidade a privação de liberdade não 
tinha caráter sancionatório penal, ainda que o encarceramento de delinquentes 
tenha existido desde tempos imemoráveis: 
 
Até fins do século XVIII a prisão serviu somente aos objetivos de contenção 
e guarda de réus, para preservá-los fisicamente até o momento de serem 
julgados ou executados. Recorria-se, durante esse longo período histórico, 
fundamentalmente, à pena de morte, às penas corporais (mutilações e 
açoites) e às infamantes. Por isso, a prisão era uma espécie de antessala 
de suplícios. Usava-se a tortura, frequentemente, para descobrir a verdade. 
 
 No período conhecido como Idade Média, igualmente não nenhum indício de que 
a privação de liberdade, na modalidade de pena, tenha sido utilizada. Nesse liame, 
anota BITENCOURT3: 
 
2
 BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da pena de prisão: causas e alternativas. 4ª. Ed. São 
Paulo: Saraiva, 2011. 
3 
 
Durante todo o período da Idade Média, a ideia de pena privativa de 
liberdade não aparece. Há, nesse período, um claro predomínio do direito 
germânico. A privação da liberdade continua a ter uma finalidade custodias, 
aplicável àqueles que seriam “submetidos aos mais terríveis tormentos 
exigidos por um povo ávido de distrações bárbaras e sangrentas. A 
amputação de braços, pernas, olhos, língua, mutilações diversas, queima 
de carne a fogo, e a morte, em suas mais variadas formas, constituem o 
espetáculo favorito das multidões desse período histórico. 
 
 A prisão como pena propriamente dita começa a ganhar forma na nominada Idade 
Moderna. Tem sua gênesis na necessidade de o Estado reprimir a onda de crimes 
que assolava a Europa entre os séculos XVI e XVII, decorrente da pobreza extrema 
que atingia volume significativo da população. A pena de morte já não era uma 
alternativa viável, diante do elevado número de delinquentes, assim surgem as 
primeiras prisões, inicialmente improvisadas em prédios já existentes. Registra 
BITENCOURT4: “Na segunda metade do século XVI iniciou-se um movimento de 
grande transcendência no desenvolvimento das penas privativas de liberdade, na 
criação e construção de prisões organizadas para a correção dos 
apenados.” Logo são construídos os primeiros prédios com a finalidade de 
servirem como alojamento para os privados de liberdade, com referências à 
Inglaterra e à Holanda. 
Ressalta FOUCAULT5 que “a detenção se tornou a forma essencial de 
castigo. No Código Penal de 1810, entre a morte e as multas, ela ocupa, sob um 
certo número de formas, quase todo o campo das punições possíveis.” 
 Acrescenta FOUCAULT6: 
 
E esse encarceramento, pedido pela lei, o Império resolvera transcrevê-lo 
logo para a realidade, segundo uma hierarquia penal, administrativa, 
geográfica: no grau mais baixo, associada a cada justiça de paz, delegacia 
municipal; em cada distrito, prisões; em todos os departamentos, uma casa 
de correção; no cume, várias casas centrais para os condenados criminosos 
ou os correcionais que são condenados a mais de um ano; enfim, em 
alguns portos, prisão com trabalhos forçados. É programado um grande 
edifício carceral, cujos níveis diversos devem-se ajustar exatamente aos 
andares da centralização administrativa. O cadafalso onde o corpo do 
supliciado era exposto à força ritualmente manifesta do soberano, o teatro 
punitivo onde a representação do castigo teria sido permanentemente dada 
 
3
 Idem. 
4
 BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da pena de prisão: causas e alternativas. 4. ed. São Paulo: 
Saraiva, 2011. 
5
 FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão; tradução de Raquel Ramalhete. 
Petrópolis, Vozes, 1987. 
6
 Idem. 
4 
 
ao corpo social, são substituídos por uma grande arquitetura fechada, 
complexa e hierarquizada que se integra no próprio corpo do aparelho do 
Estado. 
 
 No Brasil, de igual forma, a política criminal voltava suas diretrizes à privação de 
liberdadecomo forma de punição. Documento histórico datado de 08 de julho de 
1769, a Carta Régia dirigida ao Marquês do Lavradio, determinando a criação de 
“Casa de Correção” destinada à segregação dos homens e mulheres “que pela sua 
ociosidade se acham existentes em uma vida licenciosa pervertendo com o seu mau 
exemplo aos bons”.7 
 Embora não seja possível confirmar tratar-se do primeiro estabelecimento 
prisional do país, provavelmente a Carta Régia que ordena a instalação da Casa de 
Correção configura o mais longínquo documento que faz menção explícita a uma 
prisão no Brasil. Segundo Marilene Antunes Sant’Anna8, as obras principais da 
penitenciária ocorreram de 1833 a 1850, sendo enfim concluídas em 1856, ficando a 
Casa de Correção equipada com duzentas celas individuais, e um segundo edifício 
destinado à Casa de Detenção. 
 Sobre a introdução da pena de prisão na sociedade brasileira, ensina 
SANT’ANNA9: 
 
Pensar a prisão foi uma questão importante no século XIX brasileiro. Desde 
as primeiras décadas deste século, quando ocorreram mudanças na 
legislação e na estrutura judiciária do país, a forma de punir os indivíduos 
criminosos foi discutida de modo cada vez mais intenso, alcançando 
repercussão entre grupos importantes de atuação política, jurídica e social 
do Brasil. Do ponto de vista jurídico, a Constituição de 1824 e o Código 
Criminal de 1830 introduziram a questão do aprisionamento moderno no 
país. 
 
 O Código Penal de 1830 (Lei de 16 de dezembro de 1830 do Império) estabelecia 
dois tipos de pena de prisão: a prisão “simples” e a prisão “com trabalho”. 
 
7
 Carta Régia ao Marquês do Lavradio. Disponível em: 
http://www.historiacolonial.arquivonacional.gov.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=2227&sid=166 
 
8
 SANT’ANNA, Marilene Antunes. Trabalho e Conflitos na Casa de Correção do Rio de Janeiro. in. 
História das Prisões no Brasil. Ebook. 
 
9
 Idem. 
5 
 
 O artigo 46 do Código de 1830 especificava que os réus deveriam dedicar-se 
diariamente ao trabalho dentro das prisões. Não havendo prisões com a estrutura 
adequada ao trabalho dos condenados, a pena de prisão com trabalho deveria ser 
substituída por prisão simples, acrescidas em 1/6 do período original de 
cumprimento (art. 49). Já a pena de prisão simples, nos termos dos artigos 47 e 
48 do citado Código, obrigava os réus a permanecerem reclusos nas prisões 
públicas mais próximas dos lugares do delito. 
O “Código Penal dos Estados Unidos do Brazil”, de 11 de outubro de 1890 
(Decreto nº 847) previa, em seu artigo 43, quatro espécies de penas privativas de 
liberdade: prisão “cellular”; reclusão; prisão com trabalho obrigatório; prisão 
disciplinar. 
 A pena de prisão “cellular” era definida como aquela a ser cumprida em 
estabelecimento especial com isolamento “cellular” e trabalho obrigatório; a pena de 
reclusão deveria ser executada em fortalezas, praças de guerra ou estabelecimentos 
militares; a prisão com trabalho obrigatório era cumprida em penitenciárias agrícolas 
ou em presídios militares; e a prisão disciplinar previa o cumprimento em 
estabelecimentos industriais especiais. 
 O Decreto-Lei nº 2.848, de 07 de dezembro de 1940, trazia a reclusão e a 
detenção entre as penas privativas de liberdade. As penas de reclusão e de 
detenção deveriam ser cumpridas em penitenciária ou, inexistindo, em seção 
especial de prisão comum, sujeitando-se o sentenciado ao trabalho remunerado e a 
isolamento durante o repouso noturno (art. 29). Prescrevia o artigo 31 do referido 
Decreto que o condenado a pena de detenção deveria permanecer separado do 
condenado a pena de reclusão, vedado o período inicial de isolamento diurno, 
aplicável ao recluso pelo prazo máximo de três meses (art. 30). 
 A estrutura atual do sistema prisional brasileiro começou a tomar forma na década 
de 80, com a reforma do Código Penal e a instituição da Lei de Execução Penal. 
O artigo 33, § 1º do Código Penal passou a prever, com o advento da Lei nº 
7.209/1984, três regimes para o cumprimento das penas de reclusão e de detenção: 
a) regime fechado a execução da pena em estabelecimento de segurança máxima 
ou média; 
b) regime semiaberto a execução da pena em colônia agrícola, industrial ou 
estabelecimento similar; 
6 
 
c) regime aberto a execução da pena em casa de albergado ou estabelecimento 
adequado. 
 
 
2. ESTRUTURA DO SISTEMA PRISIONAL E SEU FINANCIAMENTO 
O sistema prisional brasileiro está estruturado pela Lei de Execução Penal. Os 
artigos 82 a 86 da LEP estabelecem regras gerais sobre os estabelecimentos 
penais. Vejamos: 
Art. 82. Os estabelecimentos penais destinam-se ao 
condenado, ao submetido à medida de segurança, ao preso 
provisório e ao egresso. 
§ 1° A mulher e o maior de sessenta anos, separadamente, 
serão recolhidos a estabelecimento próprio e adequado à sua 
condição pessoal. 
§ 2º - O mesmo conjunto arquitetônico poderá abrigar 
estabelecimentos de destinação diversa desde que 
devidamente isolados. 
Art. 83. O estabelecimento penal, conforme a sua natureza, 
deverá contar em suas dependências com áreas e serviços 
destinados a dar assistência, educação, trabalho, recreação e 
prática esportiva. 
§ 1º Haverá instalação destinada a estágio de estudantes 
universitários. 
§ 2o Os estabelecimentos penais destinados a mulheres serão 
dotados de berçário, onde as condenadas possam cuidar de 
seus filhos, inclusive amamentá-los, no mínimo, até 6 (seis) 
meses de idade. 
§ 3o Os estabelecimentos de que trata o § 2o deste artigo 
deverão possuir, exclusivamente, agentes do sexo feminino na 
segurança de suas dependências internas. 
§ 4o Serão instaladas salas de aulas destinadas a cursos do 
ensino básico e profissionalizante. 
§ 5o Haverá instalação destinada à Defensoria Pública. 
Art. 84. O preso provisório ficará separado do condenado por 
sentença transitada em julgado. 
§ 1° O preso primário cumprirá pena em seção distinta daquela 
reservada para os reincidentes. 
§ 2° O preso que, ao tempo do fato, era funcionário da 
Administração da Justiça Criminal ficará em dependência 
separada. 
7 
 
Art. 85. O estabelecimento penal deverá ter lotação compatível 
com a sua estrutura e finalidade. 
Parágrafo único. O Conselho Nacional de Política Criminal e 
Penitenciária determinará o limite máximo de capacidade do 
estabelecimento, atendendo a sua natureza e peculiaridades. 
Art. 86. As penas privativas de liberdade aplicadas pela Justiça 
de uma Unidade Federativa podem ser executadas em 
outra unidade, em estabelecimento local ou da União. 
§ 1o A União Federal poderá construir estabelecimento penal 
em local distante da condenação para recolher os condenados, 
quando a medida se justifique no interesse da segurança 
pública ou do próprio condenado. 
§ 2° Conforme a natureza do estabelecimento, nele poderão 
trabalhar os liberados ou egressos que se dediquem a obras 
públicas ou ao aproveitamento de terras ociosas. 
§ 3o Caberá ao juiz competente, a requerimento da autoridade 
administrativa definir o estabelecimento prisional adequado 
para abrigar o preso provisório ou condenado, em atenção ao 
regime e aos requisitos estabelecidos. 
O TÍTULO IV da Lei nº 7.210/84 delimita a estrutura física do 
sistema prisional pátrio. 
 
A Penitenciária é a estrutura física destinada ao cumprimento da pena de 
reclusão, em regime fechado. As celas devem ser individuais para alojamento do 
condenado e deverão conter, obrigatoriamente, salubridade básica e área mínima de 
6,00m2 (seis metros quadrados). 
As penitenciárias femininas serão equipadas, ainda, de seção para gestantee 
parturiente e deverão ter creches para crianças entre seis meses e sete anos 
incompletos, para os menores cujas responsáveis estejam cumprindo pena. As 
creches deverão conter: atendimento por pessoal qualificado, de acordo com as 
diretrizes adotadas pela legislação educacional e em unidades autônomas e horário 
de expediente adequado à assistência da criança e sua responsável. 
Por força do artigo 90 da LEP, as penitenciárias masculinas serão construídas 
em local afastado do centro urbano, em distância que não inviabilize, porém, a 
visitação. 
A Colônia Agrícola, Industrial, Agroindustrial ou congênere é destinada ao 
cumprimento da pena em regime semiaberto. Diferentemente da penitenciária, na 
Colônia é possível o alojamento coletivo, observados os requisitos mínimos de 
8 
 
salubridade, a seleção adequada dos presos e o limite de capacidade que viabilize o 
atendimento dos objetivos de individualização da pena. 
Para o cumprimento da pena em regime aberto e de limitação de fim de 
semana, funcionam as Casas do Albergado, que devem ser localizadas em centros 
urbanos, separadas dos demais estabelecimentos e sem obstáculos físicos contra a 
fuga. Lá, além dos quartos destinados aos presos, deve existir local apropriado para 
a realização de cursos e palestras, além de instalações para orientação e 
fiscalização. 
Anexos aos estabelecimentos penais ou em prédios autônomos, funcionarão os 
Centros de Observação, destinados à realização de exames gerais e 
criminológicos para instruir os relatórios da Comissão Técnica de Classificação 
Os Hospitais de Custódia e Tratamento Psiquiátrico possuem como objetivo 
o atendimento aos inimputáveis e semi-imputáveis (artigo 26, Código Penal) e ainda 
o tratamento ambulatorial (artigo 97, segunda parte, Código Penal). 
Para o recolhimento de presos provisórios existem as denominadas Cadeias 
Públicas, que devem ser instaladas próxima do centro urbano, atendidas as 
exigências mínimas previstas no artigo 88 da LEP. Por força do artigo 103 da LEP, 
cada Comarca deverá ter ao menos uma cadeia pública “a fim de resguardar o 
interesse da Administração da Justiça Criminal e a permanência do preso em local 
próximo ao seu meio social e familiar”. 
A realidade dos estabelecimentos penais brasileiros, no entanto, é totalmente 
distinta do determinado em Lei. Há superlotação, não apenas nas cadeias públicas, 
que na maior parte das vezes funcionam de forma improvisada junto às Delegacias 
de Polícia Civil, como nos presídios e casas de semiliberdade. 
O professor Loic Wacquant10, em nota aos leitores brasileiros da obra 
“Prisões da Miséria”, enfatiza a condição deplorável em que se encontram os 
estabelecimentos penais do país: 
 
O sistema penitenciário brasileiro acumula com efeito as taras das piores 
jaulas do Terceiro Mundo, mas levadas a uma escala digna do Primeiro 
Mundo, por sua dimensão e pela indiferença estudada dos políticos e do 
público: entupimento estarrecedor dos estabelecimentos, o que se traduz 
por condições de vida e de higiene abomináveis, caracterizadas pela falta 
 
10
 WACQUANT, Loïc. As prisões da miséria. 2ª ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2011. 
9 
 
de espaço, ar, luz e alimentação (nos distritos policiais, os detentos, 
frequentemente inocentes, são empilhados, meses e até anos a fio em 
completa ilegalidade, até oito em celas concebidas para uma única pessoa, 
como na Casa de Detenção de São Paulo, onde são reconhecidos pelo 
aspecto raquítico e pela tez amarelada, o que lhes vale o apelido de 
“amarelos”); negação de acesso à assistência jurídica e aos cuidados 
elementares de saúde cujo resultado é a aceleração dramática da difusão 
da tuberculose e do vírus HIV entre as classes populares; violência 
pandêmica entre detentos, sob forma de maus-tratos, extorsões, sovas, 
estupros e assassinatos, em razão da superlotação acentuada, da ausência 
de separação entre as diversas categorias de criminosos, da inatividade 
forçada (embora a lei estipule que todos os prisioneiros devam participar de 
programas de educação ou de formação) e de carências da supervisão. 
 
Em diversas localidades do país não existem Casas do Albergado ou Hospitais 
de Custódia e Tratamento Psiquiátrico. Onde existem, também estão superlotados 
ou carecem de equipamentos adequados. Da mesma forma, os estabelecimentos 
penais do Brasil têm deficiência crônica de servidores, tanto pela má gestão pública, 
que deixa de realizar concursos públicos em razão da falta de recursos ou de 
capacidade em administrá-los, quanto pela alta rotatividade, ocasionada pelas 
péssimas condições de trabalho e ausência de elementos de segurança. 
O tema do financiamento do sistema prisional brasileiro será melhor abordado 
no item que segue. 
 
2.1. O FINANCIAMENTO DO SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO 
Inicialmente, cumpre destacar que a competência para legislar sobre o direito 
penitenciário é concorrente entre a União, os Estados, e o Distrito Federal, conforme 
artigo 24, inciso I da Constituição Federal. 
Aos estados e ao Distrito Federal é atribuída a construção e provimento dos 
estabelecimentos penais descritos na Lei de Execução Penal, com o apoio do 
governo federal. É assegurada a independência organizacional, podendo os Estados 
criarem seus próprios departamentos responsáveis pela gestão dos órgãos 
penitenciários estaduais e gestão dos recursos oriundos da União e do próprio 
estado destinados ao fomento do sistema penal. É possível, ainda, a criação de 
Fundos Estaduais para financiamento do sistema. 
10 
 
À União incumbe a estruturação do sistema penitenciário federal, com a 
construção e destinação de recursos para o adequado funcionamento dos 
estabelecimentos penais, a ser gerido pelo Ministério da Justiça, através do 
Departamento Penitenciário Nacional, especialmente buscando o isolamento das 
lideranças do crime organizado, dos presos condenados e provisórios submetidos 
ao RDD, daqueles responsáveis pela prática reiterada de crimes violentos, dos 
presos responsáveis por ato de fuga ou grave indisciplina no sistema prisional de 
origem, dos presos de alta periculosidade e que possam comprometer a ordem e a 
segurança público e ainda dos réus colaboradores presos ou delatores premiados. 
Há previsão expressa na LEP (artigo 87) prevendo a possibilidade de 
construção de penitenciárias formuladas exclusivamente ao recebimento de presos, 
provisórios ou condenados, que estejam em regime fechado, sujeitos ao regime 
disciplinar diferenciado. Tal prerrogativa é comum aos Estados, ao Distrito Federal, 
Territórios e à União. 
O Fundo Penitenciário Nacional (FUNPEN) foi criado em 1994, pela Lei 
Complementar nº 79, “com a finalidade de proporcionar recursos e meios para 
financiar e apoiar as atividades e programas de modernização e aprimoramento do 
Sistema Penitenciário Brasileiro”. 
Os recursos do FUNPEN são oriundos de dotações orçamentárias da União; 
de doações, contribuições em dinheiro, valores, bens móveis e imóveis, que venha 
a receber de organismos ou entidades nacionais, internacionais ou estrangeiras, 
bem como de pessoas físicas e jurídicas, nacionais ou estrangeiras; de recursos 
provenientes de convênios, contratos ou acordos firmados com entidades públicas 
ou privadas, nacionais, internacionais ou estrangeiras, recursos confiscados ou 
provenientes da alienação dos bens perdidos em favor da União Federal, nos termos 
da legislação penal ou processual penal, excluindo-se aqueles já destinados ao 
Fundo de que trata a Lei nº 7.560, de 19 de dezembro de 1986; multas decorrentes 
de sentenças penais condenatórias com trânsito em julgado; fianças quebradas ou 
perdidas,em conformidade com o disposto na lei processual penal; cinqüenta por 
cento do montante total das custas judiciais recolhidas em favor da União Federal, 
relativas aos seus serviços forenses; três por cento do montante arrecadado dos 
concursos de prognósticos, sorteios e loterias, no âmbito do Governo Federal; 
11 
 
rendimentos de qualquer natureza, auferidos como remuneração, decorrentes de 
aplicação do patrimônio do FUNPEN; outros recursos que lhe forem destinados por 
lei. Tais recursos visam a: 
1) construção, reforma, ampliação e aprimoramento de estabelecimentos penais; 
2) manutenção dos serviços penitenciários; 
3) formação, aperfeiçoamento e especialização do serviço penitenciário; 
4) aquisição de material permanente, equipamentos e veículos especializados, 
imprescindíveis ao funcionamento dos estabelecimentos penais; 
5) implantação de medidas pedagógicas relacionadas ao trabalho profissionalizante 
do preso e do internado; 
6) formação educacional e cultural do preso e do internado; 
7) elaboração e execução de projetos voltados à reinserção social de presos, 
internados e egressos; 
8) programas de assistência jurídica aos presos e internados carentes; 
9) programa de assistência às vítimas de crime; 
10) programa de assistência aos dependentes de presos e internados; 
11) participação de representantes oficiais em eventos científicos sobre matéria 
penal, penitenciária ou criminológica, realizados no Brasil ou no exterior; 
12) publicações e programas de pesquisa científica na área penal, penitenciária ou 
criminológica; 
13) custos de sua própria gestão, excetuando-se despesas de pessoal relativas a 
servidores públicos já remunerados pelos cofres públicos. 
14) manutenção de casas de abrigo destinadas a acolher vítimas de violência 
doméstica. 
O parágrafo 1º da Lei complementar prevê, ainda, a possibilidade de repasses 
de recursos obtidos através do Fundo Penitenciário Nacional, através de convênios, 
acordos ou ajustes, aos projetos que se enquadrem nos objetivos do FUNPEN. 
12 
 
Aos estados de origem é devido o repasse de metade dos recursos obtidos 
pelo FUNPEN através da arrecadação de 50% das custas judiciais recolhidas em 
favor da União, relativas aos seus serviços forenses. 
 
3. A LEI DE EXECUÇÃO PENAL - LEP 
 
A Lei nº 7.210 de 1984 regulamentou a Execução Penal no Brasil, revogando 
a Lei nº 3.274 de 1957, que dispunha sobre as “Normas Gerais do Regime 
Penitenciário”. Tal diploma legal veio a suprir enorme lacuna no campo da execução 
da pena, notadamente em relação ao cumprimento de suas finalidades, à efetivação 
da sentença e aos direitos do preso, do condenado e do internado. 
O sistema penal pátrio adotou a teoria mista da pena em seu ordenamento, 
ou seja, a imposição de penalidade pressupõe a necessidade de retribuir o mal 
causado e concomitantemente a prevenção da ocorrência de outros crimes, 
conforme disposto no artigo 59, caput, do Código Penal Brasileiro. 
A execução penal, por sua vez, destina-se à efetivação da sentença ou 
decisão criminal, propiciando elementos para a integração do condenado ou 
internado à sociedade (art. 1º, LEP). Aqui, observa-se também o caráter 
ressocializador da pena, que vai além da reação ao delito praticado (caráter 
punitivo/retributivo) e do tolhimento da prática de outros crimes (caráter preventivo). 
A Lei de Execução Penal aplica-se não somente aos condenados, mas 
também aos presos provisórios, proibida qualquer distinção de natureza racial, 
social, religiosa ou política. 
Os condenados serão classificados, segundo os seus antecedentes e 
personalidade, para orientar a individualização da execução penal (artigo 5º, LEP). 
Compete à Comissão Técnica de Classificação elaborar o programa individualizador 
da pena privativa de liberdade adequada ao condenado ou ao preso provisório. 
Serão submetidos a exame criminológico os condenados ao cumprimento de 
pena privativa de liberdade, em regime fechado, visando obter os elementos 
necessários a uma correta classificação, objetivando a individualização da pena. Tal 
13 
 
exame eventualmente poderá ser realizado com os condenados ao cumprimento de 
pena privativa de liberdade em regime semiaberto. 
No exame para a obtenção de dados reveladores da personalidade, poderá a 
Comissão Técnica de Classificação, observada a ética profissional e tendo sempre 
presentes peças ou informações do processo, entrevistar pessoas; requisitar, de 
repartições ou estabelecimentos privados, dados e informações a respeito do 
condenado e realizar outras diligências e exames complementares necessários. 
 
3.1 OS ÓRGÃOS DA EXECUÇÃO PENAL 
A Lei de Execuções Penais dispõe, em seu artigo 61, sobre os órgãos da 
execução penal, quais sejam: I - o Conselho Nacional de Política Criminal e 
Penitenciária; II - o Juízo da Execução; III - o Ministério Público; IV - o Conselho 
Penitenciário; V - os Departamentos Penitenciários; VI - o Patronato; VII - o 
Conselho da Comunidade. VIII - a Defensoria Pública. 
Criado pelo Decreto nº 76.387 de 02 de outubro de 1975, o Conselho 
Nacional de Política Criminal e Penitenciária, então denominado “Conselho 
Nacional de Política Penitenciária”, foi instalado em junho de 1980, busca, segundo 
descrição no endereço eletrônico oficial, “a implementação, em todo o território 
nacional, de uma nova política criminal e principalmente penitenciária a partir de 
periódicas avaliações do sistema criminal, criminológico e penitenciário, bem como a 
execução de planos nacionais de desenvolvimento quanto às metas e prioridades da 
política a ser executada”. Suas atribuições também estão previstas no artigo 64 da 
LEP. 
Ao Juízo da execução compete, nos termos do artigo 66 da Lei nº 
7.210/1984: 
1) aplicar aos casos julgados lei posterior que de qualquer modo favorecer o 
condenado; 
2) declarar extinta a punibilidade; 
3) decidir sobre: 
a) soma ou unificação de penas; 
b) progressão ou regressão nos regimes; 
14 
 
c) detração e remição da pena; 
d) suspensão condicional da pena; 
e) livramento condicional; 
f) incidentes da execução. 
4) autorizar saídas temporárias; 
5) determinar: 
a) a forma de cumprimento da pena restritiva de direitos e fiscalizar sua 
execução; 
b) a conversão da pena restritiva de direitos e de multa em privativa de 
liberdade; 
c) a conversão da pena privativa de liberdade em restritiva de direitos; 
d) a aplicação da medida de segurança, bem como a substituição da pena por 
medida de segurança; 
e) a revogação da medida de segurança; 
f) a desinternação e o restabelecimento da situação anterior; 
g) o cumprimento de pena ou medida de segurança em outra comarca; 
h) a remoção do condenado na hipótese prevista no § 1º, do artigo 86, desta 
Lei. 
6) zelar pelo correto cumprimento da pena e da medida de segurança; 
7) inspecionar, mensalmente, os estabelecimentos penais, tomando providências 
para o adequado funcionamento e promovendo, quando for o caso, a apuração de 
responsabilidade; 
8) interditar, no todo ou em parte, estabelecimento penal que estiver funcionando em 
condições inadequadas ou com infringência aos dispositivos desta Lei; 
9) compor e instalar o Conselho da Comunidade. 
10) emitir anualmente atestado de pena a cumprir. 
O Ministério Público, por sua vez, exerce a função de fiscal da execução da 
pena e da medida de segurança, oficiando no processo executivo e nos incidentes 
da execução. 
15 
 
O Conselho Penitenciário, órgão consultivo e fiscalizador da execução 
penal, é formado por membros nomeados pelo Governador do Estado, do Distrito 
Federal e dos Territórios e tem como atribuições: a emissão de parecer técnicosobre indulto e comutação de pena (exceto na hipótese de pedido com base no 
estado de saúde do preso); a apresentação ao Conselho Nacional de Política 
Criminal e Penitenciária de relatório dos trabalhos efetuados no exercício anterior, 
até o final do primeiro trimestre de cada ano e a supervisão dos patronatos e 
assistência aos egressos. 
O Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN) é órgão executivo da 
Política Penitenciária Nacional, que presta apoio administrativo e financeiro ao 
Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. Está subordinado ao 
Ministério da Justiça e tem como atribuições: 
1. acompanhar a fiel aplicação das normas de execução penal em todo o 
Território Nacional; 
2. inspecionar e fiscalizar periodicamente os estabelecimentos e serviços 
penais; 
3. assistir tecnicamente as Unidades Federativas na implementação dos 
princípios e regras estabelecidos nesta Lei; 
4. colaborar com as Unidades Federativas mediante convênios, na implantação 
de estabelecimentos e serviços penais; 
5. colaborar com as Unidades Federativas para a realização de cursos de 
formação de pessoal penitenciário e de ensino profissionalizante do 
condenado e do internado. 
6. estabelecer, mediante convênios com as unidades federativas, o cadastro 
nacional das vagas existentes em estabelecimentos locais destinadas ao 
cumprimento de penas privativas de liberdade aplicadas pela justiça de outra 
unidade federativa, em especial para presos sujeitos a regime disciplinar. 
7. coordenar e supervisionar os estabelecimentos penais e de internamento 
federais. 
O artigo 73 da Lei de Execução Penal possibilita, ainda, à legislação local, a 
criação de Departamento Penitenciário ou congênere, atribuindo-lhe as medidas que 
16 
 
julgar necessárias, além da supervisão e coordenação dos estabelecimentos penais 
da Unidade da Federação a que pertencer. 
O Patronato, que pode ser público ou particular, visa a assistência aos 
albergados e aos egressos, a orientação aos condenados à pena restritiva de 
direitos, a fiscalização do cumprimento das penas de prestação de serviços à 
comunidade e de limitação de fim de semana e a colaboração na fiscalização do 
cumprimento das condições da suspensão e do livramento condicional. 
O Conselho da Comunidade tem por finalidade: 
1. visitação dos estabelecimentos penais existentes na comarca com 
periodicidade no mínimo mensal; 
2. entrevistar os presos; 
3. apresentação, ao Juiz da execução e ao Conselho Penitenciário, de relatórios 
mensais; 
4. diligenciar a obtenção de recursos materiais e humanos para viabilizar melhor 
assistência ao preso ou internado, em harmonia com a direção do 
estabelecimento. 
A Defensoria Pública velará pela regular execução da pena e da medida de 
segurança, oficiando, no processo executivo e nos incidentes da execução, para a 
defesa dos necessitados em todos os graus e instâncias, de forma individual e 
coletiva (art. 81-A, LEP). 
 
3.2 COLETA DE PERFIL GENÉTICO COMO IDENTIFICAÇÃO CRIMINAL 
 
A Lei nº 12.654 de maio de 2012 acrescentou à Lei de Execuções Penais a 
possibilidade de coleta de perfil genético de condenados, como forma de 
identificação criminal. 
A coleta biológica é compulsória aos condenados por crimes dolosos, 
mediante violência grave, ou pelos considerados crimes hediondos (art. 1º, Lei nº 
8.072/1990) e é efetuada mediante extração de DNA - ácido desoxirribonucleico, 
através de técnica adequada e indolor (art. 9º-A, LEP). 
17 
 
A identificação do perfil genético deve ser armazenada em banco de dados 
sigiloso, permitido o acesso à autoridade policial, federal ou estadual, após a 
instauração de inquérito, mediante requerimento ao juiz competente. 
Embora a vacatio legis da Lei nº Lei nº 12.654 tenha sido fixada em 180 dias, 
a sua eficácia dependia da criação de um banco de dados genéticos, o que veio a 
ocorrer em março de 2013, com a publicação do Decreto nº 7.950, que instituiu o 
Banco Nacional de Perfis Genéticos e a Rede Integrada de Bancos de Perfis 
Genéticos. 
O objetivo do Banco Nacional de Perfis Genéticos ficou definido como o de 
“armazenar dados de perfis genéticos coletados para subsidiar ações destinadas à 
apuração de crimes” (§1º, art. 1º, Decreto nº 7.950), enquanto que a Rede Integrada 
de Bancos de Perfis Genéticos visa “permitir o compartilhamento e a comparação de 
perfis genéticos constantes dos bancos de perfis genéticos da União, dos Estados e 
do Distrito Federal” ((§1º, art. 1º, Decreto nº 7.950). 
Ainda assim, era preciso regulamentar a coleta de material genético, por isso 
o Ministério da Justiça editou a Resolução nº 3/2014, padronizando os 
procedimentos relativos à coleta compulsória de material biológico para fins de 
inclusão, armazenamento e manutenção dos perfis genéticos nos bancos de dados 
que compõem a Rede Integrada de Bancos de Perfis Genéticos. 
Dentre os procedimentos descritos na norma, está prevista a coleta de células 
da mucosa oral do condenado, vedadas as técnicas de coleta de sangue. A 
Resolução prevê, ainda, que previamente à coleta, o condenado deve ser informado 
sobre a sua fundamentação legal, na presença do responsável pela coleta e ao 
menos uma testemunha. Na hipótese de recusa, o procedimento de coleta não deve 
ser realizado, o que deve ser registrado e comunicado à autoridade judiciária 
competente. 
18 
 
Segundo dados divulgados pela Rede Integrada de Bancos de Perfis 
Genéticos em março de 2015, o Banco de perfis genéticos já reunia mais de 2.500 
amostras e havia auxiliado 71 investigações pelo país.11 
Embora ainda gere debates quanto a sua constitucionalidade, a coleta e 
armazenamento de informações genéticas está consolidada em boa parte dos 
países europeus, bem como nos Estados Unidos, que reúne a maior base de dados 
de DNA’s do mundo. 
 
3.3 INCLUSÃO DE ENSINO MÉDIO NOS PRESÍDIOS 
Foi publicada em 10 de setembro de 2015 a Lei nº 13.163, que modificou a 
LEP, acrescentando os artigos 18-A e 21-A. Aquele, determinando a inclusão de 
cursos de ensino médio regulares, supletivos ou técnicos, inclusive os supletivos de 
educação de jovens e adultos nos presídios brasileiros, a serem mantidos pelos 
estados e municípios, com recursos da União e do sistema estadual de justiça ou 
administração penitenciária. 
Ressalte-se, ainda, o contido no parágrafo 3º, artigo 2º da Lei nº 13.163, o 
qual indica que “A União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal incluirão em 
seus programas de educação à distância e de utilização de novas tecnologias de 
ensino, o atendimento aos presos e às presas.” 
Já o artigo 21-A incluiu no censo penitenciário a apuração do nível de 
escolaridade dos presos e presas; a existências de cursos nos níveis fundamental e 
médio e o número de presos e presas atendidos; a implementação de cursos 
profissionais em nível de iniciação ou aperfeiçoamento técnico e o número de presos 
e presas atendidos; a existência de bibliotecas e as condições de seu acervo; outros 
dados relevantes para o aprimoramento educacional de presos e presas. 
 
3.4 O TRABALHO NA EXECUÇÃO PENAL 
 
11 RELATÓRIO DA REDE INTEGRADA DE BANCOS DE PERFIS GENÉTICOS. Disponível em: 
http://www.justica.gov.br/noticias/banco-de-perfis-geneticos-reune-mais-de-2-500-amostras-e-ja-
auxiliou-71-investigacoes-no-brasil/relatorio_ribpg_nov_2014.pdf 
 
19 
 
 
 “O trabalho dignifica o homem”, diz o ditado. A previsão do trabalho para os 
condenados guarda grande relação com essa ideia; de um lado, é buscada a 
educação pelo ofício, de outro, almeja-se a produção. Jamais o trabalho como 
castigo, comumente vistoem pesquisas sobre as penas na antiguidade. 
 Pontue-se, aqui, não existir inconstitucionalidade do trabalho previsto pela 
legislação extravagante. O trabalho previsto na LEP não é forçado, como aquele 
vedado pelo inciso XLVII, c, do artigo 5º da Constituição de 1988. Trata-se, em 
verdade, de um dever do condenado à pena privativa de liberdade. 
 Sobre o tema, leciona Renato Marcão12: 
 
Atendendo às disposições contidas nas Regras Mínimas da ONU para o 
Tratamento de Reclusos, a remuneração obrigatória do trabalho prisional foi 
introduzida na Lei n. 6.416/77, que estabeleceu também a forma de sua 
aplicação. Consoante o item 51 da Exposição de Motivos da Lei de 
Execução Penal, a Lei de Execução Penal mantém o texto, ficando assim 
reproduzido o elenco das exigências pertinentes ao emprego da 
remuneração obtida pelo preso: na indenização dos danos causados pelo 
crime, desde que determinados judicialmente e não reparados por outros 
meios; na assistência à própria família, segundo a lei civil; em pequenas 
despesas pessoais; e na constituição de pecúlio, em caderneta de 
poupança, que lhe será entregue à saída do estabelecimento penal (item 50 
da Exposição de Motivos da Lei de Execução Penal). Acrescentou-se a 
essas obrigações a previsão de ressarcimento do Estado quanto às 
despesas de manutenção do condenado, em proporção a ser fixada. 
 
 Assim, tem-se que o trabalho, na concepção da Lei de Execução Penal, é um 
dever social e condição de dignidade humana, aplicando-se à organização e aos 
métodos de trabalho as precauções relativas à segurança e à higiene. O trabalho do 
preso, no entanto, não está sujeito ao regime da Consolidação das Leis do Trabalho. 
 Em relação à remuneração, esta deverá ser previamente elaborada e 
informada ao condenado, não podendo ser inferior a três quartos do salário mínimo. 
As tarefas executadas na forma de prestação de serviços à comunidade, porém, não 
serão remuneradas. 
 O condenado à pena privativa de liberdade está obrigado ao trabalho, na 
medida de suas aptidões e capacidade, enquanto que ao preso provisório o trabalho 
 
12
 MARCÃO, Renato. Curso de Execução Penal. 13ª. Ed. São Paulo: Saraiva, 2015. 
20 
 
é facultativo, podendo ser executado apenas no interior do estabelecimento penal. 
Na atribuição do trabalho deverão ser levadas em conta: 
1) a habilitação; 
2) a condição pessoal; 
3) as necessidades futuras do preso; 
4) as oportunidades oferecidas pelo mercado. 
O artesanato sem expressão econômica deverá ser limitado, tanto quanto 
possível, salvo nas regiões de turismo. Os maiores de sessenta anos poderão 
solicitar ocupação compatível à sua idade, enquanto que os doentes ou deficientes 
físicos exercerão apenas atividades adequadas ao seu estado. 
 A jornada de trabalho não será inferior a seis, nem superior a oito horas 
diárias, previsto o descanso aos domingos e feriados. Para os serviços de 
manutenção e conservação do estabelecimento, poderá ser atribuído horário 
especial de trabalho aos presos. 
 O gerenciamento do trabalho dos presos poderá ser feito por fundação ou 
empresa pública, com autonomia administrativa, tendo por objetivo a formação 
profissional do apenado. Nessas condições, caberá à entidade gerenciadora 
promover e supervisionar a produção, com critérios e métodos empresariais, 
encarregando-se de sua comercialização, inclusive quanto ao pagamento da 
remuneração. É permitido aos governos federal, estadual e municipal celebrar 
convênio com a iniciativa privada, para implantação de oficinas de trabalho. 
 Os bens ou produtos do trabalho prisional serão adquiridos, com dispensa de 
concorrência pública, por órgãos da administração direta ou indireta da União, 
Estados, Territórios, Distrito Federal e dos Municípios, sempre que não for possível 
ou recomendável a venda a particulares. As importâncias arrecadadas com as 
vendas reverterão em favor da fundação ou empresa pública responsável pelo 
gerenciamento ou, na sua falta, do estabelecimento penal. 
 No que se refere ao trabalho externo, ensinam Nestor Távora e Rosmar 
Rodrigues Alencar13: 
 
13
 TÁVORA, Nestor; ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de Direito Processual Penal. 8ª ed. 
JusPodium. 
21 
 
 
(...)o trabalho externo será admissível para os presos condenados em regime fechado, desde que se 
trate de serviço ou obras públicas realizadas por órgãos da Administração Direta ou Indireta, ou 
entidades privadas, sendo necessária a tomada das cautelas contra a fuga e em favor da disciplina. 
Para o trabalho externo prestado nessas condições, devem ser observadas as seguintes condições: 
(1) o limite máximo do número de presos será de 10% (dez por cento) do total de empregados na 
obra; (2) o órgão da administração, a entidade ou a empresa empreiteira tem o dever de remunerar 
esse trabalho; e (3) a prestação de trabalho à entidade privada depende do consentimento expresso 
do preso. 
 
 A prestação de trabalho externo depende da autorização da direção do 
estabelecimento e dependerá de aptidão, disciplina, responsabilidade e 
cumprimento mínimo de 1/6 da pena. A autorização para o trabalho externo será 
revogada em caso de cometimento de crime, punição por falta grave ou 
comportamento contrário aos requisitos legais. 
O condenado por preso político não está obrigado ao trabalho (artigo 200, 
LEP). 
3.5 DAS AUTORIZAÇÕES DE SAÍDA 
 Em caso de falecimento ou doença grave do cônjuge, companheira, 
ascendente, descendente ou irmão, ou necessidade de tratamento médico, será 
permitida pelo diretor do estabelecimento a saída, mediante escolta. O preso deverá 
permanecer fora do estabelecimento apenas pelo tempo necessário para atingir a 
finalidade da saída. 
Quanto aos condenados que cumprem pena em regime semiaberto poderão 
obter autorização do Juiz da execução para saída temporária do estabelecimento, 
sem vigilância direta, podendo o juiz determinar a monitoração eletrônica, nos casos 
de: 
1) visita à família; 
2) freqüência a curso supletivo profissionalizante, bem como de instrução do 
2º grau ou superior, na Comarca do Juízo da Execução; 
3) participação em atividades que concorram para o retorno ao convívio social. 
A autorização será concedida por ato motivado do Juiz da execução, ouvidos o 
Ministério Público e a administração penitenciária e dependerá da satisfação dos 
seguintes requisitos: 
22 
 
1) comportamento adequado; 
2) cumprimento mínimo de 1/6 (um sexto) da pena, se o condenado for 
primário, e 1/4 (um quarto), se reincidente; 
3) compatibilidade do benefício com os objetivos da pena. 
A autorização será concedida por prazo não superior a sete dias, podendo ser 
renovada por mais quatro vezes durante o ano. Quando se tratar de frequência a 
curso profissionalizante, de instrução de ensino médio ou superior, o tempo de saída 
será o necessário para o cumprimento das atividades discentes. O juiz imporá ao 
beneficiário as seguintes condições, entre outras que entender compatíveis com as 
circunstâncias do caso e a situação pessoal do condenado: 
1) fornecimento do endereço onde reside a família a ser visitada ou onde poderá 
ser encontrado durante o gozo do benefício 
2) recolhimento à residência visitada, no período noturno 
3) proibição de frequentar bares, casas noturnas e estabelecimentos 
congêneres. 
 
3.6 DAS PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS E SUA EXECUÇÃO 
 
 As penas restritivas de direitos estão previstas no artigo 43 do Código Penal: 
prestação pecuniária; perda de bens e valores; limitação de fim de semana; 
prestação de serviço à comunidade ou entidade públicas; interdiçãotemporária de 
direitos. Destas, entendeu o legislador por regulamentar a execução, na Lei de 
Execuções Penais, das penas de Prestação de Serviços à Comunidade, de 
Limitação de Fim de Semana e de Interdição Temporária de Direitos. 
 A pena de Prestação de Serviços à Comunidade nada mais é do que a 
designação de atividades a serem desenvolvidas de forma gratuita pelo condenado, 
observadas as suas aptidões, a ser cumprida em entidades assistenciais, hospitais, 
escolas, orfanatos e outros estabelecimentos congêneres, em programas 
comunitários ou estatais (art. 46, CP). 
23 
 
 Cabe ao juiz designar a entidade onde o condenado cumprirá a pena, fixando os 
horários de modo a não prejudicar a jornada normal de trabalho. Compete à 
entidade beneficiada a produção de relatório mensal das atividades do condenado, 
inclusive sobre a frequência (art. 149, LEP). 
 Já a limitação de fim de semana consiste “na obrigação de permanecer, aos 
sábados e domingos, por 5 (cinco) horas diárias, em casa de albergado ou outro 
estabelecimento adequado” (art. 48, CP). Cabe ao juiz da Execução determinar o 
local do cumprimento da pena. Durante a permanência do condenado, é facultado à 
entidade ministrar cursos ou palestras e ainda atribuir atividades educativas (art. 
152, LEP). 
 A Lei Maria da Penha (nº 11.340/2006) previu a inclusão do parágrafo único ao 
artigo 152 da LEP, permitindo ao magistrado determinar o comparecimento 
obrigatório do agressor a programas de recuperação e reeducação. 
 Por fim, dentre as penas restritivas de direitos mencionadas pela LEP, impende 
falar sobre a interdição temporária de direitos, delimitadas no artigo 47 do Código 
Penal: I - proibição do exercício de cargo, função ou atividade pública, bem como de 
mandato eletivo; II - proibição do exercício de profissão, atividade ou ofício que 
dependam de habilitação especial, de licença ou autorização do poder público; III - 
suspensão de autorização ou de habilitação para dirigir veículo. IV – proibição de 
frequentar determinados lugares. V - proibição de inscrever-se em concurso, 
avaliação ou exame públicos. 
 Compete ao Juiz da execução a comunicação à autoridade competente 
sobre a pena aplicada, devendo esta informar em caso de descumprimento, 
informação esta que pode ser prestada por qualquer prejudicado. No que concerne à 
pena de proibição do exercício de cargo, função ou atividade pública, bem como de 
mandato eletivo, a autoridade deverá, em 24 (vinte e quatro) horas, contadas do 
recebimento do ofício, baixar ato, a partir do qual a execução terá seu início, 
enquanto que aplicadas as penas de proibição do exercício de profissão, atividade 
ou ofício que dependam de habilitação especial, de licença ou autorização do poder 
público e de suspensão de autorização ou de habilitação para dirigir veículo, deverá 
o Juízo da execução determinar a apreensão dos documentos que autorizam o 
24 
 
exercício do direito interditado, nos termos dos artigos 154 e 155 da Lei de 
Execuções Penais. 
 
3.7 DIREITOS E DEVERES 
 
 São direitos dos presos, nos termos do artigo 41 da Lei n. 7.210/1984: 
I - alimentação suficiente e vestuário; 
II - atribuição de trabalho e sua remuneração; 
III - Previdência Social; 
IV - constituição de pecúlio; 
V - proporcionalidade na distribuição do tempo para o trabalho, o descanso e a 
recreação; 
VI - exercício das atividades profissionais, intelectuais, artísticas e desportivas 
anteriores, desde que compatíveis com a execução da pena; 
VII - assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa; 
VIII - proteção contra qualquer forma de sensacionalismo; 
IX - entrevista pessoal e reservada com o advogado; 
X - visita do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias 
determinados; 
XI - chamamento nominal; 
XII - igualdade de tratamento salvo quanto às exigências da individualização da 
pena; 
XIII - audiência especial com o diretor do estabelecimento; 
XIV - representação e petição a qualquer autoridade, em defesa de direito; 
XV - contato com o mundo exterior por meio de correspondência escrita, da 
leitura e de outros meios de informação que não comprometam a moral e os bons 
costumes. 
XVI – atestado de pena a cumprir, emitido anualmente, sob pena da 
responsabilidade da autoridade judiciária competente. 
25 
 
Por outro lado, constituem deveres do condenado, na forma do artigo 39 da 
LEP: 
I - comportamento disciplinado e cumprimento fiel da sentença; 
II - obediência ao servidor e respeito a qualquer pessoa com quem deva 
relacionar-se; 
III - urbanidade e respeito no trato com os demais condenados; 
IV - conduta oposta aos movimentos individuais ou coletivos de fuga ou de 
subversão à ordem ou à disciplina; 
V - execução do trabalho, das tarefas e das ordens recebidas; 
VI - submissão à sanção disciplinar imposta; 
VII - indenização à vitima ou aos seus sucessores; 
VIII - indenização ao Estado, quando possível, das despesas realizadas com a 
sua manutenção, mediante desconto proporcional da remuneração do trabalho; 
IX - higiene pessoal e asseio da cela ou alojamento; 
X - conservação dos objetos de uso pessoal. 
 Ainda, é direito do internado ou do submetido a tratamento ambulatorial, por 
seus familiares ou dependentes, a contratação de médico de confiança para orientar 
e acompanhar o tratamento, dirimidas eventuais divergências entre o médico oficial 
e o particular pelo Juiz da execução. 
 
3.8 DO REGIME DISCIPLINAR 
A disciplina consiste na colaboração com a ordem, na obediência às 
determinações das autoridades e seus agentes e no desempenho do trabalho, 
sujeitando-se o condenado à pena privativa de liberdade ou restritiva de direitos e o 
preso provisório. 
Em decorrência do contido no inciso XXXIX, artigo 5º da Constituição, não 
haverá falta nem sanção disciplinar sem expressa e anterior previsão legal ou 
regulamentar, devendo o condenado ou denunciado, no início da execução da pena 
ou da prisão, ser cientificado das normas disciplinares vigentes. As sanções 
26 
 
aplicadas não poderão pôr em risco a integridade física e moral do condenado, 
sendo vedadas as sanções coletivas e o emprego de cela escura. 
O poder disciplinar, na execução das penas, será exercido pela autoridade 
administrativa, que no caso de faltas graves tem o dever de representar ao Juiz da 
execução para a adoção das providências cabíveis. 
Nos termos do artigo 49 da Lei de Execução Penal, as faltas disciplinares 
classificam-se em leves, médias e graves. A legislação local especificará as leves e 
médias, bem assim as respectivas sanções, punindo-se a tentativa com a sanção 
correspondente à falta consumada. 
Comete falta grave o condenado à pena privativa de liberdade que: 
1) incitar ou participar de movimento para subverter a ordem ou a disciplina; 
2) fugir; 
3) possuir, indevidamente, instrumento capaz de ofender a integridade física de 
outrem; 
4) provocar acidente de trabalho; 
5) descumprir, no regime aberto, as condições impostas; 
6) inobservar os deveres previstos nos incisos II e V, do artigo 39, da LEP; 
7) tiver em sua posse, utilizar ou fornecer aparelho telefônico, de rádio ou 
similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente 
externo. 
Comete falta grave o condenado à pena restritiva de direitos que: 
1) descumprir, injustificadamente, a restrição imposta; 
2) retardar, injustificadamente, o cumprimento da obrigação imposta; 
3) inobservar os deveres previstos nos incisos II e V, do artigo 39, da LEP. 
Constituem sanções disciplinares: advertência verbal; repreensão; suspensão 
ou restrição de direitos; isolamentona própria cela, ou em local adequado, nos 
estabelecimentos que possuam alojamento coletivo, observado o disposto no artigo 
88 desta LEP; inclusão no regime disciplinar diferenciado. 
27 
 
 As sanções serão aplicadas por ato motivado do diretor do estabelecimento, 
exceto a inclusão no regime disciplinar diferenciado, que só poderá ser determinada 
pelo Juiz, em decisão fundamentada, no prazo de quinze dias, ouvidos previamente 
o Ministério Público e a defesa. Serão consideradas, para a aplicação das sanções, 
a natureza, os motivos, as circunstâncias e as consequências do fato, bem como a 
pessoa do faltoso e seu tempo de prisão. Em caso de faltas graves, as sanções 
aplicáveis são: suspensão ou restrição de direitos; isolamento na própria cela, ou em 
local adequado, nos estabelecimentos que possuam alojamento coletivo, observado 
o disposto no artigo 88 da LEP ou inclusão no regime disciplinar diferenciado. 
O isolamento, a suspensão e a restrição de direitos não poderão exceder a 
trinta dias, ressalvada a hipótese do regime disciplinar diferenciado. O isolamento 
deverá ser comunicado sem demora ao Juiz da execução. 
 Serão concedidos elogios e regalias como forma de reconhecimento ao bom 
comportamento, à colaboração com a disciplina e à dedicação ao trabalho. 
 
3.9 A REMIÇÃO DA PENA 
 O instituto da remição constitui elemento fundamental na ressocialização do 
condenado. Primeiro porque resgata valores morais, fortalecendo vínculos de justiça 
e recompensa por boas ações, segundo porque capacita o apenado para o ingresso 
no mercado de trabalho, seja através do estudo, da profissionalização ou do 
exercício de um labor, propriamente dito. 
 O artigo 126 da Lei de Execução Penal prevê que o condenado que cumpre a 
pena em regime fechado ou semiaberto poderá remir, por trabalho ou estudo, parte 
do tempo de execução da pena, à razão de: I - um dia de pena a cada doze horas 
de frequência escolar - atividade de ensino fundamental, médio, inclusive 
profissionalizante, ou superior, ou ainda de requalificação profissional - divididas, no 
mínimo, em 3 (três) dias; II - um dia de pena a cada três dias de trabalho. 
O condenado que cumpre pena em regime aberto ou semiaberto e o que 
usufrui liberdade condicional também poderão remir, pela frequência a curso de 
ensino regular ou de educação profissional, parte do tempo de execução da pena ou 
28 
 
do período de prova, à razão de um dia de pena a cada doze horas de frequência 
escolar. 
O Conselho Nacional de Justiça, por meio da Recomendação n. 44/2013, 
buscou, entre outros, estimular a leitura nas penitenciárias brasileiras (art. 1º, V), 
incentivando os gestores estaduais e federais do sistema penitenciário a 
implementar leitura como forma de remição, a ser homologada sempre pelo Juízo da 
execução. 
(...) estimular, no âmbito das unidades prisionais estaduais e 
federais, como forma de atividade complementar, a remição pela 
leitura, notadamente para apenados aos quais não sejam 
assegurados os direitos ao trabalho, educação e qualificação 
profissional, nos termos da Lei n. 7.210/84 (LEP - arts. 17, 28, 31, 36 
e 41, incisos II, VI e VII) (...). 
 
3.10 DO LIVRAMENTO CONDICIONAL, DA SUSPENSÃO CONDICIONAL E DA 
MONITORAÇÃO ELETRÔNICA 
 Presentes os requisitos do artigo 83, incisos e parágrafo único do Código 
Penal, ouvidos o Ministério Público e o Conselho Penitenciário, poderá o Juiz 
conceder o livramento condicional ao apenado, mediante condições, das quais 
constarão, obrigatoriamente, a obtenção de ocupação lícita, dentro de prazo 
razoável se for apto para o trabalho; a comunicação periódica de sua ocupação ao 
Juiz; e a previa autorização do Juiz, em caso de mudança de território da comarca 
do Juízo da execução. 
Poderão ainda ser impostas ao liberado condicional, entre outras obrigações, 
as seguintes: 
1) não mudar de residência sem comunicação ao Juiz e à autoridade 
incumbida da observação cautelar e de proteção; 
2) recolher-se à habitação em hora fixada; 
3) não frequentar determinados lugares. 
29 
 
O Juiz poderá suspender, pelo período de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, a 
execução da pena privativa de liberdade, não superior a 2 (dois) anos, na forma 
prevista nos artigos 77 a 82 do Código Penal. Na sentença que aplicar pena 
privativa de liberdade, o Juiz ou Tribunal deverá pronunciar-se, motivadamente, 
sobre a suspensão condicional, quer a conceda, quer a denegue. 
No caso de concessão da suspensão, o Juiz especificará as condições a que 
fica sujeito o condenado, pelo prazo fixado, começando este a correr da audiência 
prevista no artigo 160 da Lei de Execução Penal. As condições serão adequadas ao 
fato e à situação pessoal do condenado, devendo ser incluída entre as mesmas a de 
prestar serviços à comunidade, ou limitação de fim de semana, salvo hipótese do 
artigo 78, § 2º, do Código Penal. 
A monitoração eletrônica poderá ser utilizada como meio de fiscalização 
quando o juiz autorizar a saída temporária no regime semiaberto ou determinar a 
prisão domiciliar. Autorizada a sua utilização, o condenado deverá ser instruído 
sobre os cuidados com o equipamento e dos deveres, quais sejam: 
I - receber visitas do servidor responsável pela monitoração eletrônica, 
responder aos seus contatos e cumprir suas orientações; 
II - abster-se de remover, de violar, de modificar, de danificar de qualquer forma 
o dispositivo de monitoração eletrônica ou de permitir que outrem o faça; 
Comprovada a violação dos deveres, a critério do juiz da execução, ouvidos o 
Ministério Público e a defesa poderá ser aplicada: 
I - a regressão do regime; 
II - a revogação da autorização de saída temporária; 
VI - a revogação da prisão domiciliar; 
VII - advertência, por escrito, para todos os casos em que o juiz da execução 
decida não aplicar alguma das medidas previstas nos incisos de I a VI deste 
parágrafo. 
30 
 
A monitoração eletrônica poderá, ainda, ser revogada quando se tornar 
desnecessária ou inadequada e nos casos de o acusado ou condenado violar os 
deveres a que estiver sujeito durante a vigência ou cometer falta grave. 
3.11 DAS CONVERSÕES, DA ANISTIA, DO INDULTO 
A pena privativa de liberdade, não superior a dois anos, poderá ser convertida 
em restritiva de direitos, desde que cumpridos os requisitos elencados no artigo 180 
da LEP: 
I - o condenado a esteja cumprindo em regime aberto; 
II - tenha sido cumprido pelo menos 1/4 (um quarto) da pena; 
III - os antecedentes e a personalidade do condenado indiquem ser a 
conversão recomendável. 
É possível a conversão da pena restritiva de direitos em privativa de liberdade 
nas hipóteses e na forma previstas no artigo 45 e seus incisos do Código Penal. 
A pena de prestação de serviços à comunidade será convertida quando o 
condenado: 
1) não for encontrado por estar em lugar incerto e não sabido, ou desatender a 
intimação por edital; 
2) não comparecer, injustificadamente, à entidade ou programa em que deva 
prestar serviço; 
3) recusar-se, injustificadamente, a prestar o serviço que lhe foi imposto; 
4) praticar falta grave; 
5) sofrer condenação por outro crime à pena privativa de liberdade, cuja 
execução não tenha sido suspensa. 
A pena de limitação de fim de semana será convertida quando o condenado 
não comparecer ao estabelecimento designado para o cumprimento da pena, 
31 
 
recusar-se a exercer a atividade determinada pelo Juiz ou se ocorrer qualquer das 
hipóteses elencadas acima nos itens 1, 4 e 5. 
A pena de interdição temporária de direitos será convertida quando o 
condenado exercer, injustificadamente, o direito interditado ou se ocorrer qualquerdas hipóteses elencadas acima nos itens 1 e 5. 
Se no curso da execução da pena privativa de liberdade, sobrevier doença 
mental ou perturbação da saúde mental, o Juiz, de ofício, a requerimento do 
Ministério Público, da Defensoria Pública ou da autoridade administrativa, poderá 
determinar a substituição da pena por medida de segurança. 
O tratamento ambulatorial poderá ser convertido em internação se o agente 
revelar incompatibilidade com a medida, hipótese em que o prazo mínimo de 
internação será de um ano. 
A anistia é o benefício concedido pelo Congresso Nacional que acarreta a 
extinção de todas as consequências penais de determinado fato. Uma vez 
concedida a anistia, o Juiz, de ofício, a requerimento do interessado ou do Ministério 
Público, por proposta da autoridade administrativa ou do Conselho Penitenciário, 
declarará extinta a punibilidade. 
O indulto, por sua vez, é o benefício concedido pelo Presidente da República 
(pode ser delegado aos Ministros de Estado, ao Procurador Geral da República ou 
ao Advogado Geral da União), individual ou coletivo, que pode atingir todas as 
penalidades impostas ao condenado, ou parte delas. 
A teor do artigo 202 da Lei de Execuções Penais, cumprida ou extinta a pena, 
não constarão da folha corrida, atestados ou certidões fornecidas por autoridade 
policial ou por auxiliares da Justiça, qualquer notícia ou referência à condenação, 
salvo para instruir processo pela prática de nova infração penal ou outros casos 
expressos em lei. 
 
3.12. A EXECUÇÃO DAS MEDIDAS DE SEGURANÇA 
32 
 
As medidas de segurança estão delimitadas no artigo 96 do Código Penal 
brasileiro e consistem em: 
1) Internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, em outro 
estabelecimento adequado; 
 2) sujeição a tratamento ambulatorial. 
 Sendo o agente do fato delituoso comprovadamente inimputável, caberá a 
aplicação da Internação, exceto nos casos em que a pena prevista para o delito seja 
a de detenção, quando o magistrado poderá submetê-lo a tratamento ambulatorial 
(art. 97, CP). Configura direito do internado que o tratamento seja realizado em local 
dotado de características hospitalares. 
 Com o trânsito em julgado da sentença que aplicar a medida de segurança, 
deve ser expedida pela autoridade judiciária e encaminhada ao órgão executor a 
competente Guia para Execução, vedado o ingresso em Hospital de Custódia e 
Tratamento Psiquiátrico, ou início de tratamento ambulatorial sem apresentação da 
Guia, que deverá conter: 
1) a qualificação do agente e o número do registro geral do órgão oficial de 
identificação; 
2) o inteiro teor da denúncia e da sentença que tiver aplicado a medida de 
segurança, bem como a certidão do trânsito em julgado; 
3) a data em que terminará o prazo mínimo de internação, ou do tratamento 
ambulatorial; 
4) outras peças do processo reputadas indispensáveis ao adequado tratamento 
ou internamento. 
O Ministério Público deverá ser cientificado da Guia, e esta deverá ser retificada 
sempre que sobrevier modificações relativas ao prazo de execução. 
Durante o tratamento ambulatorial pode o juiz da execução, a qualquer 
tempo, determinar a internação do agente, caso verifique que tal providência é 
necessária à sua recuperação. 
33 
 
 A rigor, as medidas de segurança não comportam prazo determinado, 
observado apenas o prazo mínimo de um a três anos, perdurando enquanto não for 
verificada, por perícia médica, a cessação da periculosidade. Deve a perícia ser 
realizada ao término do prazo mínimo fixado em sentença e, não cessada a 
periculosidade, anualmente ou na periodicidade determinada pelo Juízo da 
execução. 
 A cessação da periculosidade será analisada pelo exame das condições 
pessoais do agente, a ser realizado pela autoridade administrativa, até um mês 
antes de expirar o prazo de duração mínima da medida, remetendo ao Juiz 
minucioso relatório que o habilite a resolver sobre a revogação ou permanência da 
medida. 
Ainda no decorrer do prazo mínimo de duração da medida de segurança, a 
requerimento fundamento do Ministério Público ou do interessado, seu procurador 
ou defensor, poderá o Juiz determinar a realização de exame para verificação da 
cessação da periculosidade. 
 O relatório deve ser instruído com laudo psiquiátrico e o Ministério Público e o 
curador ou defensor terão o prazo de três dias da juntada para pronunciamento, 
decidindo o Juiz no prazo de cinco dias. 
 A desinternação ou liberação será sempre condicional. Se, dentro do prazo de 
um ano, pratica ato que indica a persistência da periculosidade, a situação anterior 
deve ser restabelecida. 
 Dispõe o Código Penal, ainda, em seu artigo 98: “Na hipótese do parágrafo 
único do art. 26 deste Código e necessitando o condenado de especial tratamento 
curativo, a pena privativa de liberdade pode ser substituída pela internação, ou 
tratamento ambulatorial, pelo prazo mínimo de 1 (um) a 3 (três) anos, nos termos do 
artigo anterior e respectivos §§ 1º a 4º.” 
 
3.13 LIMITE MÁXIMO DAS MEDIDAS DE SEGURANÇA 
34 
 
 Muito embora o artigo 97, § 1º do Código Penal estabeleça que as medidas 
de segurança serão aplicadas em prazo indeterminado, a Jurisprudência e a 
Doutrina entendem que este dispositivo viola direitos humanos e fundamentais, já 
que admitiria, em tese, a punição perpétua. 
 Nesse sentido os ensinamentos de ZAFFARONI e PIERANGELI14: “Não é 
constitucionalmente aceitável que, a título de tratamento, se estabeleça a 
possibilidade de uma privação de liberdade perpétua, como coerção penal. Se a lei 
não estabelece limite máximo, é o intérprete quem tem a obrigação de fazê-lo.” 
 Os doutrinadores acrescentam15: 
 
Pelo menos, é mister reconhecer-se para as medidas de segurança o limite 
máximo da pena correspondente ao crime cometido, ou a que foi 
substituída, em razão da culpabilidade diminuída. Se, no primeiro caso, 
continuar a doença mental da pessoa submetida à medida, a solução é 
comunicar a situação ao juiz do cível ou ao Ministério Público, para que se 
proceda conforme o art. 1.769 do Código Civil em vigor e efetivar a 
internação nas condições do art. 1.777 desse mesmo Código. 
 
 O Superior Tribunal de Justiça sumulou seu entendimento acerca do tema 
recentemente: 
O tempo de duração da medida de segurança não deve ultrapassar o limite máximo 
da pena abstratamente cominada ao delito praticado. 
(Súmula 527, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 13/05/2015, DJe 18/05/2015) 
 O Supremo Tribunal Federal, embora também admita a necessidade de prazo 
determinado das medidas de segurança, entende que este prazo só não deve ser 
superior a 30 (trinta) anos, em aplicação isonômica com o artigo 75 do Código 
Penal. 
 Vejamos jurisprudência do STF: 
 
Ementa: HABEAS CORPUS. MEDIDA DE SEGURANÇA. EXTINÇÃO DA 
PUNIBILIDADE. PRESCRIÇÃO. NÃO-OCORRÊNCIA. DESINTERNAÇÃO 
PROGRESSIVA. ORDEM PARCIALMENTE CONCEDIDA. 1. As medidas 
de segurança se submetem ao regime ordinariamente normado da 
prescrição penal. Prescrição a ser calculada com base na pena máxima 
cominada ao tipo penal debitado ao agente (no caso da prescrição da 
 
14
 ZAFFARONI, Eugenio Raul; PIERANGELI, José Henrique. Manual de Direito Penal Brasileiro. 9ª. 
Ed. São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 2011. 
15
 Idem. 
35 
 
pretensão punitiva) ou com base na duração máxima da medida de 
segurança, trinta anos (no caso da prescrição da pretensão executória). 
Prazos prescricionais, esses, aos quais se aplicam, por lógico, os termos 
iniciais e marcos interruptivos e suspensivos dispostos no Código Penal. 2. 
Não se pode falar em transcurso do prazo prescricionaldurante o período 
de cumprimento da medida de segurança. Prazo, a toda evidência, 
interrompido com o início da submissão do paciente ao “tratamento” 
psiquiátrico forense (inciso V do art. 117 do Código Penal). 3. No julgamento 
do HC 97.621, da relatoria do ministro Cezar Peluso, a Segunda Turma do 
Supremo Tribunal Federal entendeu cabível a adoção da desinternação 
progressiva de que trata a Lei 10.261/2001. Mesmo equacionamento 
jurídico dado pela Primeira Turma, ao julgar o HC 98.360, da relatoria do 
ministro Ricardo Lewandowski, e, mais recentemente, o RHC 100.383, da 
relatoria do ministro Luiz Fux. 4. No caso, o paciente está submetido ao 
controle penal estatal desde 1984 (data da internação no Instituto 
Psiquiátrico Forense) e se acha no gozo da alta progressiva desde 1986. 
Pelo que não se pode desqualificar a ponderação do Juízo mais próximo à 
realidade da causa. 5. Ordem parcialmente concedida para assegurar ao 
paciente a desinternação progressiva, determinada pelo Juízo das 
Execuções Penais. (HC 107777, Relator(a): Min. AYRES BRITTO, 
Segunda Turma, julgado em 07/02/2012, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-
073 DIVULG 13-04-2012 PUBLIC 16-04-2012 RT v. 101, n. 922, 2012, p. 
726-730) (Grifo meu) 
 
Assim, embora exista divergência quanto ao cálculo do prazo máximo para 
cumprimento de medidas de segurança, é certo que na prática elas não são 
executadas de forma perpétua no país. 
 
4. REGIMES DE PRISÃO – FECHADO, SEMIABERTO E ABERTO 
 
Inicialmente, importante pontuar em que consiste o termo regime no contexto 
da execução da pena privativa de liberdade. Regime de prisão nada mais é do que a 
modalidade de restrição de liberdade a que será submetido o condenado no 
cumprimento da pena, ou seja, a forma como a pena estabelecida em sentença será 
efetivada. 
São três os regimes de prisão existentes no sistema penal brasileiro: fechado, 
semiaberto e aberto, assim definidos pelo artigo 33 do Código Penal Brasileiro. 
 
4.1. DO REGIME FECHADO 
 
36 
 
Como regime fechado entende-se aquele em que a pena é executada em 
estabelecimento de segurança máxima ou média, sujeitando-se o preso ao trabalho 
no período diurno e ao isolamento durante o repouso noturno. O trabalho aqui 
mencionado será em comum no interior do estabelecimento penitenciário, 
observadas as aptidões ou ocupações anteriores do condenado, desde que 
compatíveis com a execução da pena, permitindo-se o trabalho externo apenas em 
serviços ou obras públicas. 
 
4.2. DO REGIME SEMIABERTO 
 
 O regime semiaberto é o executado em colônia agrícola, industrial ou 
estabelecimento congênere, sujeitando-se o condenado a trabalho em comum 
durante o dia. Diferentemente do regime fechado, no regime semiaberto admite-se o 
trabalho externo, assim como a frequência a cursos supletivos profissionalizantes, 
de instrução de segundo grau ou superior. 
 
4.3. DO REGIME ABERTO 
 
 O regime aberto, pautado na autodisciplina e senso de responsabilidade do 
apenado, executa-se em casa de albergado ou estabelecimento similar adequado. 
Compete ao condenado, fora da instituição e sem vigilância, trabalhar, frequentar 
curso ou exercer outra atividade autorizada, recolhendo-se durante a noite e nos 
dias de folga. 
 A prática de fato definido como crime doloso, a frustração dos fins da 
execução ou o inadimplemento de multa cumulativamente aplicada acarretam a 
transferência do regime aberto. 
 
4.4 DO REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO – RDD 
 
37 
 
A Lei nº 10.792 de dezembro de 2003 instituiu o regime disciplinar 
diferenciado. Também conhecido como “RDD”, o regime diferenciado tem sua 
origem no estado de São Paulo, no ano de 2001. Buscando frear as rebeliões que 
assolavam o estado em 2001, a Secretaria de Administração Penitenciária editou a 
Resolução SAP – 026, de quatro de maio de 2001, regulamentando a inclusão, 
permanência e exclusão dos presos no Regime Disciplinar Diferenciado. 
Entre as justificativas para o RDD, a Resolução apontava a necessidade de 
“disciplinar, dentre os estabelecimentos penitenciários, o Regime Disciplinar 
Diferenciado, destinado a receber presos cuja conduta aconselhe tratamento 
específico, a fim de fixar claramente as obrigações e as faculdades desses 
reeducandos”, prevendo o tempo máximo de inclusão, na primeira oportunidade, em 
até 180 dias, sendo 360 dias o máximo nas demais. 
O artigo 52 da Lei nº 10.792/2003 prevê a inclusão do preso provisório ou do 
condenado em regime disciplinar diferenciado no caso da prática de ato previsto 
como crime doloso que ocasione subversão da ordem ou disciplina internas. Os 
parágrafos 1º e 2º do mesmo artigo estendem a aplicação do RDD aos presos “que 
apresentem alto risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal ou da 
sociedade” e aos sob os quais “recaiam fundadas suspeitas de envolvimento ou 
participação, a qualquer título, em organizações criminosas, quadrilha ou bando.” 
O RDD é caracterizado pela segregação em cela individual pelo prazo 
máximo de 360 dias, que pode ser repetido em caso de nova falta grave, limitado a 
um sexto da pena aplicada. Permite-se ao preso a saída por duas horas diárias para 
banho de sol, bem como visitas semanais de duas pessoas, não consideradas as 
crianças, com duração máxima de duas horas. 
O regime disciplinar diferenciado ainda recebe muitas críticas de parte da 
doutrina por não respeitar, em tese, a integridade física e moral do preso, ferindo 
assim a sua dignidade. O Conselho Federal da OAB entrou com Ação Direta de 
Inconstitucionalidade - autuada sob o nº 4162 – junto ao Supremo Tribunal Federal, 
em 2008, ainda sem previsão de julgamento. 
 
 
38 
 
5. PROGRESSÃO E REGRESSÃO DOS REGIMES 
 
A progressão de regime do condenado consiste, em síntese, na mudança de 
regime mais gravoso para regime mais brando, enquanto que a regressão 
representa a alteração de regime menos rigoroso para outro mais rigoroso, entre os 
previstos em lei. Compete ao Juiz da execução, nos termos do artigo 66, III, b, da 
Lei de Execução Penal, deliberar quanto à progressão ou regressão nos regimes. 
 
5.1 DA PROGRESSÃO DE REGIME 
 
 Para a progressão de regime deverão ser observados os requisitos objetivo 
(cumprimento de ao menos um sexto da pena no regime anterior) e subjetivo 
(ostentar bom comportamento carcerário, comprovado pelo diretor do 
estabelecimento). Em relação aos condenados por crimes hediondos, é necessário o 
cumprimento de ao menos dois quintos da pena, se o apenado for primário, e de três 
quintos, se reincidente. 
 Para ingressar no regime aberto, o condenado terá de comprovar que possui 
trabalho ou condição de fazê-lo imediatamente; apresentar, por seus antecedentes 
ou pelo resultado dos seus exames, fundados indícios de que irá ajustar-se, com 
autodisciplina e senso de responsabilidade, ao novo regime. 
 As condições obrigatórias para o deferimento de regime aberto são, nos 
termos do artigo 115 da Lei de Execução Penal: 
1) permanecer no local que for designado, durante o repouso e nos dias de 
folga; 
2) sair para o trabalho e retornar, nos horários fixados; 
3) não se ausentar da cidade onde reside, sem autorização judicial; 
4) comparecer a Juízo, para informar e justificar as suas atividades, quando for 
determinado. 
Sem prejuízo das condições obrigatórias, poderá o Juiz estabelecer outras 
condições que julgar convenientes, sendo que o ingresso no regime aberto 
pressupõe a sua aceitação, pelo condenado. As condições podem ser modificadas, 
39 
 
de ofício, a requerimento do Parquet, da autoridade administrativa ou do condenado, 
desde que as circunstâncias assim o recomendem. 
O recolhimento em regime aberto em residência

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