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1 Este ebook é uma coletânea de textos e artigos que abordam o conteúdo programático da prova de Atualidades para o concurso para o Depen 2020, que será cobrada na prova discursiva. ATUALIDADES: 1 Sistema de justiça criminal. 2 Sistema prisional brasileiro e sistema penitenciário federal. 3 Políticas públicas de segurança pública e cidadania. 4 O papel do sistema penitenciário nas Políticas nacionais de segurança pública. (extraído do edital nº 1/2020, Depen) Os textos mesclam os assuntos acima, sendo recomendada, portanto, a leitura de todo o ebook. Acreditamos que a leitura deste ebook vai municiá-lo com informações suficientes para elaboração de uma boa prova discursiva. Portanto, leia com atenção e anote informações e argumentos que acredite possam ser utilizados na sua discursiva. Caso tenha interesse em leitura complementar, ao final do ebook indicamos alguns textos. Embora tenhamos selecionados os textos cuidadosamente, é importante dizer que não somos responsáveis pelo conteúdo escrito. Desejamos a você bons estudos e boa prova! Acompanhe-nos nas redes sociais: Facebook https://www.facebook.com/mindsetconcursos/ Instagram https://www.instagram.com/mindsetconcursosoficial/ Youtube https://www.youtube.com/channel/UCZ2qK0iym5gPsDs7l55sIhQ?view _as=subscriber 2 https://www.facebook.com/mindsetconcursos/ https://www.instagram.com/mindsetconcursosoficial/ https://www.youtube.com/channel/UCZ2qK0iym5gPsDs7l55sIhQ?view_as=subscriber https://www.youtube.com/channel/UCZ2qK0iym5gPsDs7l55sIhQ?view_as=subscriber ÍNDICE ARTIGO 1 4 Penitenciária Federal é instrumento para desarticular o crime organizado 4 Penitenciária Federal em Brasília 6 Estrutura 6 ARTIGO 2 7 O papel do sistema penitenciário federal 7 Introdução 8 1. A crise no sistema penitenciário brasileiro 9 2. O sistema penitenciário federal 10 Considerações Finais 14 ARTIGO 3 16 A crise da segurança pública e sua relação direta com o sistema carcerário brasileiro 16 Introdução 16 1. C enário atual 17 2. Síntese histórica da evolução do direito penal e das penas no Brasil e no mundo 18 3. Segurança pública no Brasil: Breve histórico e contextualização 21 4. Criminalidade no Brasil 24 5. A importância da aplicação das penas alternativas 26 6. O sistema carcerário e o estado de coisas inconstitucionais 27 7. Justiça restaurativa como possível solução para o caos 28 Considerações finais 29 R eferências 30 ARTIGO 4 33 Sistema de justiça criminal no Brasil: quadro institucional e um diagnóstico de sua atuação 33 Estrutura do sistema de execução penal brasileiro 33 Material complementar 44 3 ARTIGO 1 Penitenciária Federal é instrumento para desarticular o crime organizado Rígidos procedimentos de segurança evitam entrada de celulares ou materiais ilícitos Brasília, 25/03/2019 - "As penitenciárias federais ajudam a diminuir rebeliões em presídios estaduais. São instrumentos para desarticular o crime organizado", relata o diretor-geral do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), Fabiano Bordignon. Desde a inauguração, em 2006, da primeira unidade federal em Catanduvas, no Paraná, o índice de rebeliões nas unidades estaduais caiu 70%, conforme estimativa do Ministério da Justiça e Segurança Pública. De acordo com o diretor-geral do Depen, o que contribui para a diminuição no número de rebeliões nas prisões estaduais é a transferência de seus líderes para presídios federais. "Esses presídios são importantes instrumentos do poder público no enfrentamento ao crime organizado”, explica Bordignon. O Sistema Penitenciário Federal tem como principal característica cumprir a lei de execução penal com o rigor necessário, observando os direitos e garantias previstos na legislação, tratando isonomicamente todos os internos. “É vocacionado para ser uma medida excepcional, temporária e para custodiar líderes de facções criminosas”, afirma o diretor-geral. As Penitenciárias Federais possuem rígidos procedimentos de segurança, sobretudo, no rigor executado no acesso às vivências e com a revista aos visitantes e funcionários que segue o mesmo padrão, como a passagem pelo body scanner, aparelho que detecta a tentativa de entrar no complexo prisional com objetos ou materiais ilícitos. Além disso, a unidade prisional tem parlatórios para conversa com advogados e familiares, com monitoramento presencial. Todo o espaço da Penitenciária é controlado 24 horas por dia por agentes penitenciários e por circuito de câmeras em tempo real. 4 O Ministério da Justiça e Segurança Pública estabeleceu, em fevereiro deste ano, por meio de portaria, regras para a visitas sociais no âmbito do Sistema Penitenciário Federal. A Portaria nº 157, de 12 de fevereiro de 2019, determina que as visitas sociais a presos em unidades federais sejam feitas exclusivamente por parlatório ou videoconferência, sendo destinadas exclusivamente à manutenção dos laços familiares e sociais. Atualmente, o Sistema Penitenciário Federal (SPF) é composto pelas unidades prisionais em Campo Grande (MS), Catanduvas (PR), Mossoró (RN), Brasília (DF) e Porto Velho (RO). O perfil dos presos que ingressam no SPF é definido na Lei 11.671/2008 e no Decreto 6.877/2009. São pessoas que podem comprometer a ordem nos seus estados de origem, líderes de organizações criminosas e réus colaboradores, em síntese. Em 13 anos de existência, o Sistema Penitenciário Federal nunca sofreu fugas de presos, rebeliões ou superlotação. Além disso, nenhum aparelho celular entrou nas unidades federais do país, graças aos quatro níveis de revista. PENITENCIÁRIA FEDERAL EM BRASÍLIA A Penitenciária Federal em Brasília - a quinta unidade federal do país - foi inaugurada em 16 de outubro de 2018. A unidade de segurança máxima tem por objetivo isolar presos condenados e provisórios sujeitos ao Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), líderes de organizações criminosas e réus colaboradores presos ou delatores premiados que correm risco de vida no sistema estadual. Conforme Fabiano Bordignon, desde 2006, quando foi fundado, o Sistema Penitenciário Federal se orgulha de apresentar resultados significativos. “0% de fugas, 0% de rebeliões, 0% de motins, 0% de entrada de celulares, intolerância com atos de corrupção, procedimentos e protocolos de segurança rigorosíssimos, câmeras e equipamentos de monitoramento de ponta, serviços de inteligência, treinamentos periódicos de servidores, armamentos de última geração”, ressaltou. ESTRUTURA Assim como as outras quatro penitenciárias federais ativas, a unidade de Brasília conta com 12.300 m² de área construída. São 208vagas individuais, com 6 m² divididas em quatro blocos. Cada bloco é 5 subdividido em outras quatro alas com 13 celas. O espaço é controlado 24 horas por dia por agentes e por circuito de câmeras em tempo real. Foram investidos cerca de R$ 45 milhões para construção e aparelhamento da unidade. As celas contam com dormitório, sanitário, pia, chuveiro, mesa e assento. As paredes são feitas de concreto armado para evitar explosões e possíveis tentativas de fugas. Fonte: https://www.justica.gov.br/news/collective-nitf-content-1553543577.54 6 https://www.justica.gov.br/news/collective-nitf-content-1553543577.54 ARTIGO 2 O papel do sistema penitenciário federal Carlos Bruno Araújo da Silva 01/05/2014 INTRODUÇÃO O homem é um ser que vive em sociedade, mas para manter essa convivência, fez-se necessário estabelecer um controle para evitar e coibir os desvios de conduta. Esse controle é feito através da aplicação de um sistema de normas, que resultam em penas aos infratores. Segundo o art. 32 do Código Penal existem três tipos de pena, quais sejam: “Art. 32 – As penas são: I – privativas de liberdade; II – restritivas de direitos; III – de multa.” (BRASIL, 1940). As penas privativas de liberdade privam o condenado do seu direito de locomoção, recolhendo-o à prisão, tendo como propósito, fazer com que o sujeito se reintegre novamente à sociedade. Porém, a reclusão não apresentou os resultados esperados. Dessa forma, o Sistema Penitenciário tornou-se um campo onde há corrupção, tráfico de drogas, desrespeito aos direitos humanos e a integridade física dos apenados. Suas unidades, na realidade, transformaram-se em verdadeiros “depósitos de gente”. A situação é bem definida na exposição de motivos da Lei de Execução Penal (LEP), no item nº 100: “Item nº 100: é do conhecimento que grande parte da população carcerária está confinada em cadeias públicas, presídios, casas de detenção e estabelecimentos análogos (…)” (LEAL, 1998, p. 56) 7 O presente artigo tem como objetivo apresentar os problemas do sistema penitenciário estadual, fazendo um paralelo com a efetividade do sistema penitenciário federal. A metodologia utilizada para a construção deste artigo foi baseada em fontes doutrinárias, jurisprudenciais e legais. Utilizou-se também de revistas periódicas e sítios de notícias, além da experiência laboral do autor, sendo este, servidor do Sistema Penitenciário Federal. 1. A CRISE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO Os presídios brasileiros convivem com o grave problema da superlotação. Em sua maioria, abrigam um número de detentos superior a sua capacidade. Há um enorme déficit de vagas no sistema prisional, levando em consideração não apenas a superlotação, mas os mandados de prisão em aberto. São muitos os mandados de prisão que foram expedidos, mas não foram cumpridos. Em 1998 eram cerca de 280 mil em todo o Brasil, tornando a execução da lei penal e da sentença condenatória um jogo de roleta russa que somente atinge uma pequena parcela de condenados. (LEITE, 1998) Com a superlotação, ramificam-se outros problemas, como a formação de facções criminosas e a violência entre os detentos, trazendo desordem e insegurança aos estabelecimentos penais. Há frequentes casos de violência sexual, ocasionando inúmeros contágios por doenças sexualmente transmissíveis, trazendo risco de disseminação à população em geral, por intermédio das visitas dos detentos. A violência e as péssimas condições dos ambientes carcerários exigem do preso uma total readequação de seus valores para garantir sua sobrevivência, o que animaliza o homem, tornando mais difícil a sua reinserção social. 8 As instalações de muitos presídios são precárias pela falta de fiscalização ou mesmo de interesse do Estado. São exemplos desse abandono, a falta de higiene e limpeza, e a degradação da estrutura física, transformando as penitenciárias em locais extremamente insalubres. Com a estrutura degradada e acima da capacidade, há a redução da vigilância e o aumento da corrupção, o que facilita as fugas e a entrada de drogas, armas e telefones celulares nos presídios. O clima de desordem e as práticas delituosas conduzem as cotidianas rebeliões. “A concorrer para essa realidade estão: a incúria do governo, a indiferença da sociedade, a lentidão da justiça, a apatia do Ministério Público e de todos os demais órgãos da execução penal incumbidos legalmente de exercer uma função fiscalizadora, mas que, no entanto, em decorrência de sua omissão, tornam-se cúmplices do caos”. (LEAL, 1998, p. 69) Neste cenário caótico, o Estado está perdendo o controle para as facções criminosas, como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), que atuam em São Paulo e no Rio de Janeiro respectivamente, despertando o medo e a insegurança, mesmo com a maioria dos seus líderes estando presos. 2. O SISTEMA PENITENCIÁRIO FEDERAL O Sistema Penitenciário Federal (SPF) tem o encargo de isolar os líderes das facções criminosas, diminuindo seu poder e raio de atuação. Segundo o então Ministro de Justiça Márcio Thomaz Bastos: “O Sistema Penitenciário Federal possui ainda uma importante finalidade que ao ser citada pode ajudar na diferenciação com os outros antigos sistemas, trata-se do isolamento dos presos considerados de alta periculosidade, que de fato representem perigo para a sociedade, e, também para o bom funcionamento das penitenciárias estaduais que isolando tais presos estarão evitando 9 possíveis rebeliões e brigas internas dentro das penitenciárias entre grupos e facções que buscam o controle e comando dos demais detentos. É preciso deixar claro que o novo sistema tem funções diferentes das de presídios já existentes. Trata-se de uma contribuição muito maior para o problema da segurança pública do que para o problema específico dos presídios estaduais. Desde 84, a lei prevê que o Governo Federal deve construir presídios de segurança máxima para os presos mais perigosos. Desde então o Brasil teve seis presidentes, vinte Ministros da Justiça e o projeto não saiu do papel. Foi justamente nesse período que o País assistiu a uma explosão do número de presos, com os criminosos mais perigosos convivendo com o resto da população carcerária o que resultou na estruturação de grandes grupos organizados que controlam o crime de dentro das penitenciárias.’(BASTOS, 2006) O funcionamento dos seus presídios está em absoluta consonância com o espírito de parceria entre a União e os Estados. Os Estados selecionam os presos de alta periculosidade e os responsáveis por instabilidades, que, após a análise do Judiciário, são enviados aos Presídios Federais. Composto até o momento por quatro das cinco unidades previstas no projeto inicial, as Penitenciárias Federais foram o destino dos principais chefes do tráfico presos em operações realizadas no combate ao crime organizado. O juiz Ávio Novaes, ao tentar dimensionar a importância dessas unidades para a segurança pública nacional, destaca: “Esses estabelecimentos de segurança máxima são a residência de alguns arqui inimigos do Estado, muitos deles com condenação acima de 500 anos.” (NOVAES, 2010. p. 24) Assim, confirma-se a importância das unidades penais federais na manutenção da segurança pública. Segundo a Revista Via Legal: “A segurança é absoluta. Ninguém entra ou sai de um presídio federal sem passar por vários detectores de metais e aparelhos de Raio-X. O rigor é tanto que nem os agentes penitenciários e os funcionários 10 terceirizados escapam dos procedimentos. Em todo o País são quatro unidades em operação. Elas ficam nas cidades de Catanduvas (PR), Campo Grande (MS), Porto Velho (RO) e Mossoró (RN) e, juntas, abrigam hoje cerca de 500 homens. A inclusão de um preso neste sistema é decidida por pelo menos dois juízes, mas em regra, as transferências são definidas por um colegiado que também determina para onde a pessoa deve ser levada.” (NOVAES, 2010. p. 24) Os complexos arquitetônicos que abrigam os presídios federais brasileiros são uma reprodução do modelo de unidades de segurança máxima norte-americanas, as “SUPERMAX”. Estão sempre localizados em zonas afastadas das cidades, em geral desabitadas. Duas cercas aramadas circundam a área dos complexos, enfeixadas por um tipo de arame farpado conhecido como “concertina”, repleto de lâminas afiadas que se agarram a qualquer pessoa, animal ou objeto que delas se aproxime. Quatro torres elevadas de vigilância, dispostas nas extremidades do limite da penitenciária, são permanentemente vigiadas por agentes penitenciários fortemente armados, facilitando o monitoramento ao redor do presídio. Dentro do presídio há quatro pavilhões com 208 celas individuais e outras 12 destinadas ao cumprimento do Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), além de um pátio para banho de sol, dependências para visitas, posto médico e salas de monitoramento com mais de 240 câmeras espalhadas por todo o complexo. Todos os agentes penitenciários que atuam nessas unidades são servidores públicos concursados do Ministério da Justiça, recebem treinamento especializado e ganham um salário bem acima da média estadual. Além disso, são em geral designados para trabalhar em unidades distantes de sua residência. O rigor no treinamento, a alta remuneração e a distância de sua zona de influência pretendem ser uma garantia a mais contra possíveis tentativas de corrupção. (Revista Via Legal, 2010.p. 26) Para o juiz Ávio Novaes, toda a rigidez nos procedimentos é justificada pela segurança da sociedade e do próprio Estado. 11 “A sociedade brasileira ainda não se conscientizou de que no Brasil existem organizações criminosas com alto potencial lesivo e de intimidação, que possuem planejamento empresarial e utilizam equipamentos tecnológicos avançados, com poder de armamento pesado e conexão com o poder público. Agem em todos os níveis, aliciando agentes políticos e autoridades dos três poderes, com todas as formas de corrupção possíveis. Atentar o Estado para esses fatos e procurar coibi-los é um direito da cidadania”. (Portal da Justiça Federal, 2010, p. 31) A estratégia do Sistema Penitenciário Federal é manter o preso o mais longe possível de suas origens, com intenção de isolar homens que ameaçam a segurança pública. O Sistema Penitenciário Federal foi criado para servir de apoio aos estados que têm problemas com presos que são lideranças negativas nas penitenciárias de origem, líderes de organizações criminosas e também os que, eventualmente, são colaboradores da Justiça e não podem ficar nas penitenciárias estaduais por questão de segurança.[ (BORDIGNON, 2010, p. 26) Além de todas as restrições e procedimentos de segurança, câmeras espalhadas por todos os lados garantem que nada escape da vigilância. São mais de 240 aparelhos em cada unidade. As imagens são transmitidas em tempo real para o DEPEN, em Brasília, que mantém uma central de monitoramento 24 horas por dia. Apenas o interior das celas e os parlatórios, onde presos e advogados se encontram, não são filmados, por determinação legal. Afirma o então diretor do SPF, Sandro Torres Avelar: “Ao sinal de qualquer ação suspeita, nós contatamos o diretor do presídio e, se for o caso, a Polícia Federal.” (Revista Via Legal, 2010. p. 26) Segundo o Departamento Penitenciário Federal (DEPEN), em seis anos de funcionamento do Sistema Federal, não houve nenhuma fuga ou corrupção de agentes, além disso, a retirada desses presos do sistema comum trouxe benefícios indiretos como: o número de rebeliões nas penitenciárias estaduais caiu 70% (Revista Via Legal, 2010. p. 27) 12 Afirma, o Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo: "Os presídios Federais são motivos de orgulho para o Ministério da Justiça, pois cumprem a legislação de execução penal e respeitam os direitos da pessoa presa. (…) O Sistema Penitenciário Estadual brasileiro ainda é muito deficiente, todavia, o Sistema Penitenciário Federal é um modelo a ser seguido. Temos quatro presídios federais no Brasil, e sem dúvidas são modelos de segurança e ressocialização." CONSIDERAÇÕES FINAIS O declínio do nosso sistema penitenciário fundamenta-se, basicamente, nos custos crescentes do encarceramento e na falta de investimentos no setor por parte da administração pública gerando uma consequente superlotação das prisões. A partir dessas questões, decorrem problemas como a falta de condições necessárias à sobrevivência (falta de higiene, regime alimentar deficiente, falta de leitos); deficiências no serviço médico; elevado índice de consumo de drogas; corrupção; reiterados abusos sexuais; ambiente propício à violência; a quase ausência de perspectivas de reintegração social; a inexistência de uma política ampla e inteligente para o setor. Mesmo neste caos em quese encontram os sistemas penitenciários estaduais, o Sistema Penitenciário Federal cumpre o seu propósito com eficiência, dirimindo os problemas básicos elencados, tudo em prol da segurança pública, da tranquilidade da população e da paz social. Parte de nossa sociedade, acha que as más condições em que se encontram os presídios estaduais são as ideais para quem transgrediu o pacto social. Mas, trata-se de um grande equívoco, pois em tais condições falta o básico para que qualquer ser humano possa viver: dignidade. E sem dignidade o homem deixa de ser homem e passa a agir como um animal irracional, gerando as consequências por nós já conhecidas. A transmissão do bom exemplo do sistema federal, surge como umas das soluções para diminuir a reincidência e a criminalidade que vitima a sociedade brasileira. 13 Referências BASTOS, Márcio Thomaz. Sistema Penitenciário Federal. Folha de São Paulo, 12 outubro de 2006. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2306200608.htm>. Acessado em 02 de abr. 2014 BORDIGNON, Fabiano. In. Revista Via Legal, edição 09. Ano III, set/dez 2010, BRASIL. Código Penal. Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Brasília, DF: Senado Federal, 1940. LEAL, César Barros. Prisão: crepúsculo de uma era. Belo Horizonte: Del Rey, 1998, _______. César Barros. Prisão: crepúsculo de uma era. Belo Horizonte: Del Rey, 1998. LEITE, George Lopes. O perfil do preso no Distrito Federal. 1º Encontro Nacional de Execução Penal, agosto 98, Brasília (DF). Anais. Brasília: FAPDF, 1998. NOVAES, A. M., Revista VIA LEGAL, Set. Dez. 2010. PORTAL DA JUSTIÇA FEDERAL. Revista Via Legal, set, dez, 2010, p 31. REVISTA VIA LEGAL, Edição 09. Ano III, set/dez 2010. _______. Edição 09. Ano III, set/dez 2010. Sites Consultados: <http://www.mj.gov.br/depen>. Acesso em: 21 jan. 2012. <http://www.sinapf.org.br/portal/noticias/noticia.php?Id=3606#.UwE0 62JdXRc>. Acesso em: 11 fev. 2014 Fonte: https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-penal/o-papel-do-siste ma-penitenciario-federal/ 14 https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-penal/o-papel-do-sistema-penitenciario-federal/ https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-penal/o-papel-do-sistema-penitenciario-federal/ ARTIGO 3 A crise da segurança pública e sua relação direta com o sistema carcerário brasileiro Ana Luiza Fontoura Reis Igor de Andrade Barbosa Abril de 2019 INTRODUÇÃO No Brasil, muito tem se falado em segurança pública nos últimos tempos. O assunto tem sido tema de debates, palestras, discursos políticos, eventos jurídicos e acadêmicos. Isso porque o direito de ir e vir parece ser cada vez mais utópico diante de tamanha violência que acomete os municípios e estados brasileiros. As pessoas vivem com uma sensação constante de insegurança, medo e opressão. A segurança é direito social, fundamental e inviolável de todo cidadão brasileiro. Nossa Carta Magna equipara esse direito ao direito à vida, à liberdade e à igualdade, sendo assim, condição basilar para o exercício da cidadania. O Estado, através dos órgãos elencados no artigo 144 da Constituição Federal, é o principal responsável em buscar medidas para que seja concretizado o direito à segurança. Contudo, é importante ressaltar que o papel de promover o equilíbrio, de modo a evitar atitudes ameaçadoras e violentas, não compete somente ao Estado, visto que cada um deve ter consciência de suas escolhas e consequências. Daí depreende-se a relevância da aplicabilidade de políticas públicas de segurança duradouras e eficazes. A Segurança Pública no Brasil apresenta falhas e estas se relacionam diretamente com o caos no sistema carcerário. É importante buscar compreender a ineficácia do sistema prisional brasileiro. Há uma quantidade altíssima de apreensões todos os dias, mas contra a lógica, esse fator não tem diminuído em nada a criminalidade no país. 15 Em oposição à segurança, a violência urbana tem tomado proporções drásticas nos estados e municípios brasileiros, com enfoque nas regiões Norte e Nordeste. O Estado do Tocantins, por exemplo, apresentou um aumento superior a 150% no número de homicídios entre 2006 e 2016, de acordo com o Atlas da Violência. Nesse contexto, este artigo objetiva fazer uma análise geral acerca da crise da Segurança Pública e relacioná-la à realidade do sistema carcerário brasileiro. Tanto a Segurança Pública como o sistema carcerário devem ser analisados de forma conjunta, a fim de se buscar alternativas para que se resolva os problemas encontrados. 1. CENÁRIO ATUAL Ao observar que os presídios são “escolas do crime”, percebe-se que ao invés de contribuírem para a paz social, influenciam negativamente na segurança de todos. As facções criminosas em lugar de acabarem, têm se fortalecido; rebeliões nos presídios não são mais incomuns; não há estrutura presidiária adequada para acomodação dos presos; há um atraso por parte do judiciário no julgamento dos processos; e o índice de reincidência criminal não decai, o que prova, juntamente com demais fatores, que o sistema prisional está praticamente falido. O próprio Supremo Tribunal Federal declarou o sistema carcerário como “Estado de Coisas Inconstitucional” e violação a direitos fundamentais. Cunha Júnior (2015) disserta que o ECI é um instituto com origem nas decisões da Corte Constitucional Colombiana (CCC) e tem seu respaldo diante da constatação de violações generalizadas, contínuas e sistemáticas de direitos fundamentais. Possui a finalidade de construir soluções estruturais voltadas à superação desse lamentável quadro de violação massiva de direitos das populações vulneráveis em face das omissões do poder público. O fato de o STF ter reconhecido expressamente, frente ao pedido de medidas cautelares formulado pela ADPF nº 347/DF, a existência do Estado de Coisas Inconstitucional no sistema penitenciário brasileiro, constata a relevância do tema. A crise de segurança que o Brasil enfrenta, bem como seus reflexos, são obstáculos graves no caminho para se alcançar a qualidade de vida em sociedade. Nota-se um descaso com o tema da segurança pública, ao passo em que a criminalidade tem crescido em números alarmantes. A violência, lamentavelmente, se tornou comum e banal. A sociedade acabou por 16 se acostumar a viver com medo e aceitar que mora em um país violento. Há indignação nas pessoas, mas não ao ponto de se tomar providências. De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2017), nas nossas políticas de segurança pública não há uma perspectiva queintegre ações de repreensão qualificada (com inteligência e investigação) com ações (de curto, médio e longo prazos) de prevenção, construídas com a oferta de serviços públicos de qualidade. Um reflexo dessa realidade está no sistema carcerário brasileiro, que, a propósito possui uma das maiores populações de presos do mundo. Aqui, preocupa- se muito em punir, mas é deixado de lado o caráter ressocializador da pena ao colocar o infrator em um estabelecimento superlotado, sem condição alguma de dignidade humana, fato este que contribui ainda mais para o índice exorbitante de reincidência criminal. Presos provisórios, na falta de estabelecimento adequado, ficam juntos aos presos sentenciados, e não há, na maioria das vezes, uma separação de celas entre criminosos de menor e maior potencial ofensivo. Ocorre também de o indivíduo não ter outra alternativa de preservar sua vida caso não se alie a facções criminosas diante de constantes ameaças que recebe por parte dos integrantes. Como consequência, o indivíduo sai das casas de prisão muito pior do que entrou, sendo este um perigo eminente para a própria sociedade. 2. SÍNTESE HISTÓRICA DA EVOLUÇÃO DO DIREITO PENAL E DAS PENAS NO BRASIL E NO MUNDO Para que se compreenda o estado atual da segurança pública no Brasil e do sistema carcerário é preciso conhecer as fontes responsáveis por desencadearem os conflitos existentes. Não são recentes os conflitos que abarcam a segurança pública no país. Metaforicamente, pode se dizer que os frutos podres que colhemos hoje são oriundos de uma plantação malfeita há centenas de anos atrás. Estudar a evolução histórica do Direito Penal, bem como das penas é um ponto essencial para se chegar ao contexto em que vivemos. O Direito Penal pode ser dividido em cinco fases. São elas: vingança privada, vingança pública, período humanitário e período científico ou 17 criminológico. Cabe perceber as principais peculiaridades de cada fase e os vestígios que se carrega no período atual. Na fase da vingança privada, nos primórdios da civilização, não havia intervenções justas. Quando alguém ofendia outrem, a resposta era brutal, totalmente instintiva, atingindo inclusive os familiares ou tribos, de forma a gerar uma verdadeira sangria, que dizimava tribos inteiras. “Reinava a responsabilidade objetiva, e desconheciam-se princípios como o da proporcionalidade, humanidade e personalidade da pena” (CAPEZ; BONFIM. 2004, p. 43). A noção de proporcionalidade surgiu com o Código de Hamurábi, em 1790 a.C. no reino da Babilônia. Apesar de não ter sido afastada a violência da repulsa, a Lei de Talião que tinha como princípio o “olho por olho, dente por dente”, representou um avanço na sociedade daquela época. No período da vingança divina, como o próprio nome sugere, o foco principal era os deuses. Acreditava-se que eles eram os guardiões da paz e todo crime cometido era considerado afronta às divindades. “Para que a tranquilidade fosse restaurada, sacrifícios humanos deveriam ser realizados. Desse modo, três providências eram adotadas: agradava-se o Deus maculado, castigava-se o ofensor e amedrontava-se a população” (FADEL, 2009, p. 62). As penas na segunda fase variavam de acordo com o prestígio da divindade afrontada: quanto maior o valor do deus afrontado, mais cruel seria a pena. “Os sacerdotes eram os responsáveis pela administração da justiça, e pela aplicação das sanções. O Direito Penal vigorante foi denominado Direito Penal Teocrático. ” (FADEL. 2009, p. 62). No período da vingança pública, a punição imposta ao transgressor da lei passou a ter no Estado a resposta oficial, com objetivo de que fosse protegida a coletividade. Mas, na verdade, todo o poder que estava nas mãos dos soberanos era abusivo e o tratamento dado aos cidadãos, desigual. No Brasil a realidade era bem semelhante. Durante a fase imperial, o Direito Penal foi utilizado para favorecer o Soberano e amigos e punir os menos favorecidos, ou os que se revoltavam contra a Coroa. No século XVIII com o iluminismo, surge o período humanitário. Nessa época, denominada como “século das luzes”, emergiram grandes e profundas mudanças que permitiram reconhecido avanço intelectual e 18 social. Um dos filósofos marcantes desse século, Marquês de Beccaria, lançou a obra “Dos Delitos e da Penas”, a qual contribuiu significantemente para o Direito Penal. Segundo Fadel (2009), Beccaria não concordava com o sistema penal vigente da época. Ele criticava a complexidade da linguagem usada pela lei, visto que a maioria dos réus eram analfabetos e desconhecedores da lei. O autor repudiava a desproporção entre os crimes cometidos e as penas aplicadas, bem como a aplicação desordenada da pena de morte. Além disso, repreendeu a utilização da tortura como meio legal de obtenção de prova e condenou o estado das prisões. Segundo (BITENCOURT, 2001, p. 56), Beccaria tinha uma visão utilitarista da pena. Ele acreditava que a pena não tinha outra finalidade senão a de impedir que o infrator cometesse novamente o crime e que os demais cidadãos tomassem o ocorrido como exemplo. “As penas que ultrapassam a necessidade de conservar o depósito da salvação pública são injustas por sua natureza; e tanto mais justas serão quanto mais sagrada e inviolável for a segurança [...] ”. (BECCARIA, 2015, p.28). A obra em questão foi escrita em 1764 e é impressionante como aborda temas tão atuais. Beccaria ainda em tempos remotos, há mais de 250 anos, já defendia o caráter ressocializador da pena. Com a máxima “é melhor prevenir delitos que castigá-los”, ele trabalhava sob a ótica da prevenção e da reinserção do réu para a sociedade. Isso nos leva à conclusão de que, a evolução das penas e do direito penal como um todo, se dá de maneira extremamente lenta no Brasil, pois mesmo tendo passado tantos anos, ainda vivemos os problemas de séculos passados. Marquês, sem dúvidas, pensava a frente de seu tempo. Além de tudo, ele conseguia visualizar as dificuldades que a demora no julgamento de um processo, acarretariam. No Brasil, este é um dos maiores impedimentos para que se atinja o objetivo reabilitador da pena privativa de liberdade. Outro pensador do século XVIII, que vale o destaque no presente estudo, é John Howard. Ele dedicou a vida à problemáticapenitenciária e, com essa dedicação, publicou a famosa obra The state of prisons in england and wales. Cezar Roberto Bitencourt e outros 19 doutrinadores, o consideram o iniciador de uma corrente preocupada com a reforma carcerária. O tema central da obra de Howard é a humanização das prisões. O autor arguia contra as condições desumanas em que se encontravam as prisões da Inglaterra e País de Gales. No entanto, como bem lembrado por Bitencourt (2001) em sua obra “Falência da Pena de Prisão – Causas e Alternativas”, a reforma da prisão naquela época não era tema de interesse dos governantes, assim como nos dias atuais. Após o avanço ocasionado pelos pensadores iluministas, o Direito Penal passou a ser estudado de modo mais científico e metodológico. Esse é o período denominado como científico ou criminológico. “A partir de então, os estudiosos não mais se limitaram ao exame da legislação, passando a desenvolver conceitos e teorias jurídicas, sociais e antropológicas, divisando de forma abrangente o fenômeno criminal, bem como a verdadeira função de alguns institutos penais. ” (FADEL, 2009, p. 65). Pode-se dizer que a raiz dos problemas do sistema carcerário é profunda e antiga, e que desde o início, havia quem lutava e clamava por mudanças. Ocorre que a desigualdade social, o poderio nas mãos de poucos, a falta de aplicação de políticas públicas voltadas para segurança e tantas outras questões sociais, sempre existentes, fizeram e fazem com que se encontre estagnado o sistema prisional brasileiro. A teoria de finalidade da pena adotada pelo Brasil é a mista. Sintetiza Magalhães Noronha: “As teorias mistas conciliam as precedentes. A pena tem índole retributiva, porém objetiva os fins de reeducação do criminoso e de intimidação geral. Arma, pois, o caráter de retribuição da pena, mas aceita sua função utilitária”. (NORONHA, 2009, p. 223). Contudo, a finalidade não é alcançada em sua plenitude, visto que o Brasil é um dos países com maior índice de criminalidade do mundo. 3. SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: BREVE HISTÓRICO E CONTEXTUALIZAÇÃO Desde a criação da Intendência Geral da Polícia da Corte e do Estado do Brasil até as Polícias Militares comandadas por oficiais do Exército com a consolidação da Constituição da República de 1967 ocorreram diversos momentos de conflitos políticos e sociais. Na década de 1960, 20 quando começou o regime ditatorial no país, a centralização da segurança estava com as Forças Armadas, que tomavam ações repressivas num período marcado pela censura, falta de liberdade e democracia. “Nesse período, as Polícias Militares passaram a ser comandadas por oficiais do Exército, que imprimiram à corporação valores das Forças Armadas. Portanto, o Brasil adquiriu, nesse momento, um colaborador do período ditatorial, ou seja, uma polícia repressora que priorizava a segurança nacional, desfavorecendo a segurança pública e se inserindo num contexto negativo diante da sociedade brasileira. ” (CRUZ, 2013, p. 3). Até a promulgação da Constituição Federal de 1988 não se tinha uma noção de segurança pública e menos ainda uma aplicabilidade desta. Entretanto, a atual Constituição trouxe em seu artigo 144 algo inovador, porém sucinto: o conceito de segurança pública. “A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: I - polícia federal; II - polícia rodoviária federal; III - polícia ferroviária federal; IV - polícias civis; V - polícias militares e corpos de bombeiros militares”. (BRASIL, 1988). “O texto destaca uma autonomia para os estados em conduzir a política de segurança gerando uma descentralização. O resguardo à ordem pública e a prevenção da violência se tornaram atribuições das instituições policiais”. (CRUZ, 2013, p. 4). Após 1988, as polícias que antes atuavam apenas de modo reativo ao problema da violência, passariam a atuar de modo preventivo. Outra inovação trazida pela Carta Magna foi o desfazimento do mito de que o assunto em pauta era competência apenas da Justiça Criminal. Ao mencionar “ordem pública”, a Constituição abrange as políticas de segurança, educação, saúde, moradia, entre outras. Ou seja, é responsabilidade do Estado, por meio da Segurança Pública, assegurar e garantir efetivamente o bem-estar social. A segurança pública precisa 21 ser articulada junto aos demais serviços públicos. Caso contrário, dificilmente será possível alcançar a ordem social. “E a segurança, por sua vez, é proporcionada pelo Estado por meio de: a) um conjunto de normas que determinam o que é permitido e o que é proibido (as leis); b) políticas públicas que buscam promover os direitos dos cidadãos com equidade, igualdade e oportunidades além de prevenir atos violentos e manter a convivência harmoniosa na sociedade (programas, projetos e ações dos governos federal, estaduais e municipais); c) procedimentos que asseguram o direito a um julgamento justo (juízes imparciais, defesa ampla e processo juridicamente correto); d) um conjunto de instituições responsáveis por aplicar as medidas preventivas e as sanções determinadas pelos juízes (instituições policiais, prisionais, fiscais etc.)”. (SCABÓ, I.; RISSO, M., 2018, p. 11). Na prática, a desordem social se visualiza nos jovens moradores de uma área com forte tráfico de drogas, na periferia do Rio de Janeiro, por exemplo. Se esses jovens não tiverem acesso à segurança, habitação, saúde e educação de qualidade, como terão uma vida digna e protegida do crime? A segurança não consiste apenas em uma ronda policial na periferia, mas em uma proteção policial aliada a todas as outras garantias sociais. O perfil de quem mata e morre, segundo o Atlas da Violência de 2018 é de homens negros, moradores de periferia, com idade de até 29 anos, que possuem baixa escolaridade e baixa renda. Esse perfil comprova que o crime cresce na medida da desigualdade social e racial e na desproporção da aplicabilidade de políticas de segurança pública. Segundo o Ministro do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso (2018), “Segurança Pública inclui prevenção, inteligência e investigação”. O ministro reconhece que uma “polícia bem-equipada, bem-treinada e bem-remunerada faz a diferença”, porém deixa claro o entendimento de quea Segurança Pública não se restringe apenas à ideia de polícia. “Os caminhos para uma política anti violência devem abranger atenção à primeira infância; prevenção e redução do abuso infantil; diminuição da evasão escolar; criação de condições de trabalho mais favoráveis para mãe e pais de crianças pequenas; proteção da integridade física 22 das mulheres; combate à violência doméstica; revisão da fracassada política de guerra às drogas; e regulamentação do porte e da posse de armas”. Barroso (2018). Os Governos municipais devem trabalhar coordenadamente com os estados a fim de buscar a efetivação de ações preventivas contra a violência. Da mesma maneira o setor privado e a sociedade têm papel fundamental nessas ações, de modo que, com a contribuição de todos é possível deixar de ser utópica a ideia de paz social. 4. CRIMINALIDADE NO BRASIL Jovens brasileiros, sem expectativa de emprego e de futuro, acabam por se envolver no “mundo do crime”, ao acreditarem ser a única alternativa válida para fugir dos problemas e conseguir seu sustento. Por conseguinte, se aliam a facções do crime organizado, que a propósito, têm ganhado cada vez mais força. Muitos desses jovens, com faixa etária de 15 a 29 anos, tem perdido suas vidas, sendo este um fenômeno recorrente, denunciado ao longo das últimas décadas, mas que não se vê ações consistentes o suficiente para combater esse mal (Atlas da Violência. 2018). Os crimes de homicídio doloso, latrocínio, mortes em decorrência de intervenção policial e mortes violentas intencionais de policiais em serviço e fora de serviço são classificados pela Secretária Nacional de Segurança Pública como Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI). Esses crimes têm maior relevância social e, portanto, impactam sobremaneira na sociedade. Pode-se dizer, até, que as mortes violentas, especialmente o crime de homicídio doloso, é problema “número um” no cenário da Segurança Pública. O Atlas da Violência, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), registrou um número de 62.517 mil homicídios no Brasil em 2016. Como principal indicador de violência, esse dado demonstra quão preocupante é a situação da criminalidade no país tropical. O número de assassinatos só de mulheres no ano de 2016 foi de 4.645, “o que representa uma taxa de 4,5% homicídios para cada 100 mil brasileiras”. (Atlas da Violência. 2018, p. 44). Diante de dados que mostram que a violência de gênero, assim como, a violência motivada pela cor, raça e classe social, ainda estão bem presentes neste século, podemos concluir que vivemos um retrocesso, presos a 23 questões arcaicas que, como visto no histórico do direito penal, existem desde as primeiras civilizações. “A taxa de homicídios de mulheres negras é 71% maior que a de não negras, e com um lapso de tempo de 10 anos (2006 a 2016), a taxa de homicídios para cada 100 mil mulheres negras aumentou 15,4%, enquanto que entre as não negras houve queda de 8%” (ATLAS da Violência. 2018, p. 44). Ora, em 10 anos, em vez de diminuir o número de mortes, o que identificamos foi o aumento. Tais dados parecem ilógicos diante da premissa de que a sociedade evolui com o passar do tempo. Outrossim, nossas polícias estão com elevados índices de autoria de crimes de homicídio. O Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2017) registrou o número de 4.222 mortes no ano de 2016 em decorrência de intervenções de policiais Civis e Militares. Por outro lado, nesse mesmo ano, 453 policiais Civis e Militares foram vítimas de homicídio. Os crimes contra o patrimônio que nos aflige diariamente é outra demonstração de tamanha insegurança que vivemos. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2017), mais de 1 milhão de carros foram roubados ou furtados entre 2015 e 2016, no Brasil, o que corresponde a 1 carro roubado ou furtado por minuto. Tendo em vista esses dados que apontam a criminalidade no Brasil, um fator assustador é que “boa parte da violência que temos na nossa sociedade é comandada de dentro do presídio”, disse o Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo (2015). Ainda segundo o Ministro, dentro das penitenciárias atuam organizações criminosas que lideram a violência aqui fora. Nesta ocasião, presos de menor potencial ofensivo, quando saem são muito mais perigosos e habilidosos para o crime. Em muitos casos, saem aliados a facções que os “obriga” a continuar a praticar o ilícito nas ruas. Nosso sistema carcerário nem de longe tem cumprido sua função de diminuir a criminalidade e reintegrar o infrator à sociedade. Pelo contrário, os presídios no Brasil têm fomentado o crime. Nesse sentido, Jungmann, Ministro da Segurança Pública, afirmou: 24 "Temos que rever a cultura que vige na sociedade de prender, prender, prender, sem entender que a prisão em larga escala ou em massa não é sustentável. Nós prendemos muito e prendemos mal. Boa parte desse pessoal faz um juramento para sobreviver e se incorpora às grandes gangues. Então o sistema penitenciário hoje é um sistema que recruta soldados para o crime organizado". (JUNGMANN, 2018). O Ministro afirmou ainda, logo após a criação do Ministério da Segurança Pública, que técnicos do ministério estudariam propostas para separar os presos pelo grau de periculosidade e pelo tipo de crime que cometeram; ampliariam as unidades do regime semiaberto; adotariam medidas punitivas alternativas, como o uso de tornozeleiras e prestação de serviços à comunidade. 5. A IMPORTÂNCIA DA APLICAÇÃO DAS PENAS ALTERNATIVAS Perante a falência da pena privativa de liberdade em ordenar a questão da criminalidade no Brasil, mostra-se a importância do fortalecimento das penas alternativas como um caminho mais humanizado e facilitador da integração do apenado à sociedade. Deve-se ater ao fato de que o objetivo da sanção penal deve ser o de reabilitar o indivíduo e não de vingar o mal cometido. As penas alternativas, legalmente conhecidas como penas restritivas de direito, estão previstas no art. 43 do Código Penal Brasileiro. São elas: prestação pecuniária; perda de bens e valores; limitação de fim de semana; prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas; interdição temporária de direitos; e limitação de fim de semana. Ampliar a aplicação dessas penasreduzirá a superlotação nas unidades prisionais, o que, consequentemente, evitará que o indivíduo de menor potencial ofensivo, tenha contato com o sistema prisional e acabe por se tornar um reincidente no crime. É urgente a necessidade de oxigenação total do sistema carcerário, sobretudo buscando medidas para pôr fim ao seu crescimento acelerado. Constata-se que o país carece de investimento na recuperação e ressocialização da massa e no fortalecimento de penas alternativas. 25 6. O SISTEMA CARCERÁRIO E O ESTADO DE COISAS INCONSTITUCIONAL Desde que o “mundo é mundo” há conflitos nas relações sociais e com eles a indispensabilidade de se existir normas e regras. De acordo com (CAMARA, 2009, p. 65), “o crescimento desenfreado das cidades nas últimas décadas aumentou a carga de conflito entre as pessoas, grupos e entre estes com o Estado, que, por sua vez, não foi competente para preveni-los e menos ainda para administrá-los”. O ritmo das mudanças nas cidades, principalmente nas grandes metrópoles, acontece de forma muito rápida, e, infelizmente, as polícias, o sistema judiciário e penal não têm conseguido acompanhar as transformações e evitar a expansão do crime. Em decorrência disso, acarreta-se um verdadeiro caos no sistema penitenciário. De acordo com Fiódor Dostoiévski em sua obra “Crime e Castigo” do ano de 1866, “é possível julgar o grau de civilização de uma sociedade visitando suas prisões”. Visto isso, depreende-se a situação crítica em que se encontra a civilização brasileira. O relatório levantado pelo Departamento Penitenciário Nacional (2017), trouxe o dado de 726.712 mil presos no Brasil e um déficit de 358.663 vagas. Em outras palavras, nos nossos presídios a quantidade de vagas existentes, suportaria apenas metade dos presidiários. As rebeliões sanguinárias nos presídios causaram pânico na população em 2017. Logo no primeiro dia do ano ocorreu um massacre no Complexo Penitenciário Anísio Jobim, em Manaus, deixando um saldo de 56 mortos, segundo Henriques (2017). O G1 Amazonas informou que os mortos eram integrantes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital e presos por estupro. Com base na reportagem do G1 (2017), em janeiro de 2017, se continuou as matanças nos presídios, por meio das rebeliões, com 33 mortes na rebelião de Boa Vista – RO, duas mortes em Patos na Paraíba, quatro mortes na cadeia pública de Manaus, e no meio do mês, 26 mortes na rebelião no Rio Grande do Norte. Além dessas, tiveram outras ocorrências, que somadas às citadas, “ultrapassaram as 111 mortes do Massacre do Carandiru, no Estado de São Paulo, em 1992”. Nesse segmento, o STF reconheceu o quadro do sistema penitenciário no Brasil como “Estado de Coisas Inconstitucional”, fato 26 que comprova que já se passou muito dos limites as irregularidades nesse sistema. “Em julgamento dos pedidos de medida cautelar formulados na inicial, ocorrido em 9.9.2015, o Pleno do STF, por maioria, deferiu a cautelar em relação à alínea b, para determinar aos juízes e tribunais que, observados os artigos 9.3 do Pacto dos Direitos Civis e Políticos e 7.5 da Convenção Interamericana sobre Direitos Humanos, realizassem, em até noventa dias, audiências de custódia, viabilizando o comparecimento do preso perante a autoridade judiciária no prazo máximo de 24 horas, contados do momento da prisão. E, em relação à alínea h, por maioria, deferiu a cautelar para determinar à União que liberasse o saldo acumulado do Fundo Penitenciário Nacional para utilização com a finalidade para a qual foi criado, abstendo-se de realizar novos contingenciamentos. E, ainda, o Tribunal, por maioria, deferiu a proposta do ministro Roberto Barroso de concessão de cautelar de ofício para que se determinasse à União e aos estados, especificamente ao Estado São Paulo, que encaminhassem ao Supremo Tribunal Federal informações sobre a situação prisional”. (GUIMARÃES, M, 2017, p. 95-96). Ao tomar essa decisão, o Supremo voltou seus olhares à problemática deveras grande em que se vive no Brasil há tempos com relação à Segurança Pública e ao sistema prisional. No entanto, segundo Porpino (2017), paira uma polêmica acerca da autonomia da Suprema Corte quanto a formulação de políticas públicas. O Plenário entendeu que a decisão do STF violava o Princípio da Separação e Harmonia dos Poderes, bem como a cláusula do financeiramente possível. Por outro lado, se defendeu a importância do ativismo judicial, já que os órgãos estatais são inertes e a violação aos direitos humanos, desenfreada. Ora, é certo pensar que não existe coerência no fato de se ignorar a não concretização dos direitos fundamentais da população. A atuação do Supremo ao reconhecer a existência do ECI foi uma medida extrema para uma situação igualmente séria e relevante. 7. JUSTIÇA RESTAURATIVA COMO POSSÍVEL SOLUÇÃO PARA O CAOS A sede por vingança é um sentimento comum entre os brasileiros. Neste país é intrínseca a ideia de que o mal instaurado deve ser, acima de tudo, punido por quem o praticou. Com isso, 27 percebe-se a prática de uma cultura punitiva, em que a sociedade sente a necessidade de castigar o possível transgressor, para que gere, então, a sensação de justiça. Isso acontece, porque, com base nessa cultura, a concepção de justiça está intimamente ligada ao ato de punir. No entanto, frente a realidade da segurança pública e do sistema carcerário brasileiro, se faz conveniente a reflexão acerca da cultura punitiva. É sabido que as prisões estão superlotadas e que as penas aplicadas não têm cumprido seu papel restaurador. Falta, pois, primeiramente, a conscientização de que ao punir deliberadamente o infrator, a punição também recai sobre a sociedade, que vai reencontrar esse infrator potencialmente mais perigoso. A Justiça Restaurativa não é uma prática recente no Brasil e tem se expandido com o passar dos anos. Segundo o CNJ (Conselho Nacional de Justiça), a Justiça Restaurativa “se trata de um processo colaborativo voltado para resolução de um conflito caracterizado como crime, que envolve a participação maior do infrator e da vítima. ” “Na prática existem algumas metodologias voltadas para esse processo. A mediação vítima-ofensor consiste basicamente em colocá-los em um mesmo ambiente guardado de segurança jurídica e física,com o objetivo de que se busque ali acordo que implique a resolução de outras dimensões do problema que não apenas a punição, como, por exemplo, a reparação de danos emocionais. ” (CARVALHO, 2014). Esse instituto, como o próprio nome diz, busca restaurar os danos sofridos pela vítima. O cerne está na reparação, ou seja, em atuar na consequência do crime. O viés restaurativo possui um foco na cura da ferida do que na reclusão. É uma ideia que tem sido discutida e que pode ser um importante instrumento de pacificação social, de política de desencarceramento e evolução do próprio Direito Penal. CONSIDERAÇÕES FINAIS A segurança pública, como fator determinante para a promoção e manutenção da paz social, garante os direitos individuais e assegura o exercício da cidadania. Nessa perspectiva, é possível afirmar que a qualidade de vida de um cidadão está intimamente ligada à qualidade do exercício da segurança pública. A situação atual do sistema carcerário brasileiro, conforme demonstrado, funciona como um 28 termômetro social, em que quanto mais caótico for o sistema penitenciário, maior será a complexidade da segurança pública. O direito penal tem vivido um processo longo e antigo de ineficiência no que tange ao combate à criminalidade. Não se vê evolução, mas sim retrocesso. O encarceramento em massa, visivelmente, não tem resolvido os problemas sociais, longe disso, tem aumentado. Todavia, para que se aplique substitutos penais é preciso, primordialmente, haver um reconhecimento geral da falência do modelo punitivo atual. A justiça meramente retributiva, comprovadamente, não tem gerado bons efeitos. O sistema prisional é o maior problema da segurança pública, e o sucesso desta perpassa pelo enfrentamento e solução do caos carcerário. Com o presente artigo, pôde-se constatar que é crucial buscar e aplicar medidas que visem o desencarceramento. Ademais, precisa-se voltar a atenção à primeira infância, ao acesso à educação, saúde e moradia de qualidade, a fim de se evitar o mal pela raiz. REFERÊNCIAS BECCARIA, C. Dos Delitos e das Penas. 2 ed. São Paulo: Edipro, 2015. BITENCOURT, C. Falência da Pena de Prisão: Causas e Alternativas. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2001. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, Senado, 1998. CÂMARA, P. A política carcerária e a segurança pública. Revista Brasileira de Segurança Pública. Pará, n. 1, p. 64-70, fev.2007. CNJ. Conselho Nacional de Justiça. Justiça Restaurativa: o que é e como funciona. Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/62272-justica-restaurativa-o-que-e-e -como-funciona>. Acesso em: 13 de abril de 2019. CRUZ, G. A historicidade da Segurança Pública no Brasil e os desafios da participação popular. 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A Carta Magna veta a pena de morte, a de caráter perpétuo, a de trabalhos forçados, a de banimento e as penas cruéis, e prevê os direitos básicos do apenado. O Código Penal (Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940) divide-se em: parte geral, alterada pela Lei nº 7.209, de 11 de julho de 1984, que prevê as normas não-incriminadoras, referentes à aplicação da lei penal, crime, imputabilidade penal, penas e medidas de segurança, tipos de ação penal e extinção da punibilidade; e parte especial, que prevê as normas incriminadoras, quedescrevem uma conduta e impõem as respectivas penas. A legislação brasileira prevê dois tipos de infrações penais: crimes (ou delitos) e contravenções. Estas últimas são infrações penais de menor impacto e estão tipificadas na Lei de Contravenções Penais (Decreto-Lei nº 3.688, de 3 de outubro de 1941). O Código Penal define, portanto, somente os crimes ou delitos, que podem ser cometidos por ação ou por omissão, podem ser dolosos ou 32 culposos e, ainda, terem sido consumados ou caracterizar-se como tentativa. Os tipos de pena são: privativas de liberdade, restritivas de direitos, e multa. As penas privativas de liberdade podem ser de reclusão – cumprida em regime fechado, semiaberto ou aberto – ou de detenção – cumprida em regime semiaberto ou aberto. Os regimes para cumprimento das penas privativas de liberdade são, portanto: 1) Fechado, que por lei deveria ser cumprido em cela individual, de no mínimo seis metros quadrados, com trabalho durante o dia e isolamento à noite; 2) Semi-aberto, cumprido em colônia agrícola, industrial ou similar, em alojamento coletivo, com possibilidade de atividades externas sem vigilância, caso permitidas pelo juiz da execução; e 3) Aberto, no qual o preso trabalha sem vigilância e se recolhe à casa de albergado para dormir e passar os dias de folga. Se a pena definida é superior a oito anos, inicia-se seu cumprimento em regime fechado; para penas maiores de quatro anos e inferiores a oito, em regime semiaberto; e para as penas menores de quatro anos, no caso de réus primários, inicia-se em regime aberto. Por regra, o cumprimento da pena deve ser progressivo. O juiz da execução define o regime inicial e sua progressão ocorre com o tempo e de acordo com o comportamento do preso. Para passar de um regime para outro mais brando, o condenado deve cumprir pelo menos um sexto da pena no regime anterior, sendo que a progressão depende de pareceres internos que avaliam o comportamento e a recuperação do preso. Além disso, para passar para o regime aberto, é preciso comprovar trabalho ou promessa de emprego. No caso de o condenado sofrer nova condenação ou desobedecer às exigências da execução, o regime penitenciário pode regredir. A Lei nº 8.072/90 previa, em seu art. 2º, § 1º, que a pena por crimes hediondos, tráfico de drogas e terrorismo deveria ser cumprida integralmente em regime fechado. 33 Contudo, no dia 23 de fevereiro de 2006, o Supremo Tribunal Federal julgou tal determinação inconstitucional, por violar o princípio constitucional da individualização da pena. 1 O livramento condicional, por sua vez, se dá somente após cumprimento de um terço da pena, se o condenado tem bons antecedentes e não é reincidente em crime doloso. Se é reincidente, deve ter cumprido metade da pena. Para ter o livramento condicional, deve comprovar bom comportamento, aptidão para prover a subsistência e ter reparado o dano, se possível. Durante o livramento condicional, é preciso cumprir diferentes condições impostas pelo juiz, como ter ocupação, voltar para casa em hora fixada e não frequentar determinados lugares. No caso de crimes hediondos, tráfico de drogas, tortura e terrorismo, se o condenado é primário, tem direito ao livramento condicional somente após cumprir dois terços da pena em regime fechado. A graça ou indulto individual, outro benefício concedido a presos que atendam a determinados critérios, é também vetada a praticantes de crimes hediondos e assemelhados. A graça e o indulto são concedidos pelo presidente da República, por meio de decreto que especifica todos os apenados sujeitos a ter suas penas perdoadas ou aliviadas – individual, no caso da graça, e coletivo, no caso do indulto. A suspensão condicional da pena, ou sursis, é outro instituto previsto no Código de Processo Penal e na Lei de Execução Penal (LEP, Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984), por meio do qual se suspende uma pena de reclusão ou de detenção, desde que atendidos os critérios especificados na lei. A suspensão é condicional porque o condenado deve cumprir as condições estabelecidas pelo juiz para continuar tendo direito ao benefício. A Lei nº 10.792, de 1o de dezembro de 2003, alterou a Lei de Execução Penal, ao prever o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), que deve ser aplicado ao preso que cometer crime doloso, ao preso que apresente “alto risco para a segurança do estabelecimento penal ou da sociedade”, e ao preso suspeito de ligação com o crime 1 A Lei nº 11.464, de 28 de março de 2007, alterou as regras para a progressão de regime no caso desses crimes, prevendo que o apenado deve cumprir dois quintos da pena se for primário, e três quintos se for reincidente, para que possa progredir para outro tipo de regime. 34 organizado. O RDD tem duração máxima de trezentos e sessenta dias e se caracteriza pelo recolhimento em cela individual, visitas semanais de duas pessoas por no máximo duas horas, e banho de sol de duas horas diárias, quando o preso sai da cela. Dessa forma, no RDD estende-se o prazo limite para as sanções de isolamento, suspensão e restrição de direitos, previstas originalmente na Lei de Execução Penal. A nova lei prevê, inclusive, a construção de estabelecimentos penais destinados exclusivamente aos presos sujeitos ao regime disciplinar diferenciado. A mesma norma que criou o RDD aboliu a necessidade de exame criminológico, previsto no Código de Processo Penal e na Lei de Execução Penal, para a avaliação da progressão de regime, o que vem sendo objeto de grande controvérsia entre especialistas da área. Alguns criminalistas acreditam que a ausência do exame dá mais dinamismo à execução penal e se justifica na medida em que o preso não é permanentemente acompanhado pelo Estado, lacuna que não poderia ser preenchida por um exame realizado em condições pouco transparentes e em circunstâncias pontuais. Muitos estudiosos, contudo, defendem que o exame criminológico embasa em grande medida a decisão do juiz e é fundamental por contemplar aspectos referentes à personalidade do apenado, vida pregressa, comportamento na prisão, percepção sobre o crime e sobre a pena, e possibilidade de reinserção social, entre outros . Após a mudança, com 2 vistas a determinar a progressão de regime, a lei se atém tão-somente ao bom comportamento carcerário, que
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