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Ebook Discursiva Depen

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1 
 
Este ebook é uma coletânea de textos e artigos que                   
abordam o conteúdo programático da prova de             
Atualidades para o concurso para o Depen 2020, que                 
será cobrada na prova discursiva. 
ATUALIDADES: 1 Sistema de justiça criminal. 2 Sistema prisional                 
brasileiro e sistema penitenciário federal. 3 Políticas públicas de                 
segurança pública e cidadania. 4 O papel do sistema                 
penitenciário nas Políticas nacionais de segurança pública.             
(extraído do edital nº 1/2020, Depen) 
Os textos mesclam os assuntos acima, sendo             
recomendada, portanto, a leitura de todo o ebook.  
Acreditamos que a leitura deste ebook vai municiá-lo com                 
informações suficientes para elaboração de uma boa             
prova discursiva. Portanto, leia com atenção e anote               
informações e argumentos que acredite possam ser             
utilizados na sua discursiva. 
Caso tenha interesse em leitura complementar, ao final               
do ebook indicamos alguns textos.  
Embora tenhamos selecionados os textos         
cuidadosamente, é importante dizer que não somos             
responsáveis pelo conteúdo escrito. 
Desejamos a você bons estudos e boa prova! 
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ÍNDICE 
ARTIGO 1 4 
Penitenciária Federal é instrumento para desarticular o crime 
organizado 4 
Penitenciária Federal em Brasília 6 
Estrutura 6 
ARTIGO 2 7 
O papel do sistema penitenciário federal 7 
Introdução 8 
1. A crise no sistema penitenciário brasileiro 9 
2. O sistema penitenciário federal 10 
Considerações Finais 14 
ARTIGO 3 16 
A crise da segurança pública e sua relação direta com o sistema 
carcerário brasileiro 16 
I​ntrodução 16 
1. C ​enário atual 17 
2. Síntese histórica da evolução do direito penal e das penas no Brasil 
e no mundo 18 
3. Segurança pública no Brasil: Breve histórico e contextualiza​ção 21 
4. Criminalidade no Brasil 24 
5. A importância da aplicação das penas alternativas 26 
6. O sistema carcerário e o estado de coisas inconstitucionais  27 
7. Justiça restaurativa como possível solução para o caos 28 
C​onsiderações finais 29 
R ​eferências 30 
ARTIGO 4 33 
Sistema de justiça criminal no Brasil: quadro institucional e um 
diagnóstico de sua atuação 33 
Estrutura do sistema de execução penal brasileiro 33 
Material complementar 44 
3 
 
ARTIGO 1 
 
Penitenciária Federal é instrumento para         
desarticular o crime organizado 
Rígidos procedimentos de segurança evitam entrada de celulares               
ou materiais ilícitos 
 
Brasília, 25/03/2019​ - "As penitenciárias federais ajudam a diminuir               
rebeliões em presídios estaduais. São instrumentos para desarticular o                 
crime organizado", relata o diretor-geral do Departamento             
Penitenciário Nacional (Depen), Fabiano Bordignon. Desde a             
inauguração, em 2006, da primeira unidade federal em Catanduvas, no                   
Paraná, o índice de rebeliões nas unidades estaduais caiu 70%,                   
conforme estimativa do Ministério da Justiça e Segurança Pública. 
De acordo com o diretor-geral do Depen, o que contribui para a                       
diminuição no número de rebeliões nas prisões estaduais é a                   
transferência de seus líderes para presídios federais. "Esses presídios                 
são importantes instrumentos do poder público no enfrentamento ao                 
crime organizado”, explica Bordignon. 
O Sistema Penitenciário Federal tem como principal característica               
cumprir a lei de execução penal com o rigor necessário, observando os                       
direitos e garantias previstos na legislação, tratando isonomicamente               
todos os internos. 
“É vocacionado para ser uma medida excepcional, temporária e para                   
custodiar líderes de facções criminosas”, afirma o diretor-geral. 
As Penitenciárias Federais possuem rígidos procedimentos de             
segurança, sobretudo, no rigor executado no acesso às vivências e                   
com a revista aos visitantes e funcionários que segue o mesmo padrão,                       
como a passagem pelo ​body scanner​, aparelho que detecta a tentativa                   
de entrar no complexo prisional com objetos ou materiais ilícitos. Além                     
disso, a unidade prisional tem parlatórios para conversa com                 
advogados e familiares, com monitoramento presencial. Todo o               
espaço da Penitenciária é controlado 24 horas por dia por agentes                     
penitenciários e por circuito de câmeras em tempo real. 
4 
 
O Ministério da Justiça e Segurança Pública estabeleceu, em fevereiro                   
deste ano, por meio de portaria, regras para a visitas sociais no âmbito                         
do Sistema Penitenciário Federal. 
A Portaria nº 157, de 12 de fevereiro de 2019, determina que as visitas                           
sociais a presos em unidades federais sejam feitas exclusivamente por                   
parlatório ou videoconferência, sendo destinadas exclusivamente à             
manutenção dos laços familiares e sociais. 
Atualmente, o Sistema Penitenciário Federal (SPF) é composto pelas                 
unidades prisionais em Campo Grande (MS), Catanduvas (PR), Mossoró                 
(RN), Brasília (DF) e Porto Velho (RO). 
O perfil dos presos que ingressam no SPF é definido na Lei                       
11.671/2008 e no Decreto 6.877/2009. São pessoas que podem                 
comprometer a ordem nos seus estados de origem, líderes de                   
organizações criminosas e réus colaboradores, em síntese. 
Em 13 anos de existência, o Sistema Penitenciário Federal nunca sofreu                     
fugas de presos, rebeliões ou superlotação. Além disso, nenhum                 
aparelho celular entrou nas unidades federais do país, graças aos                   
quatro níveis de revista. 
PENITENCIÁRIA FEDERAL EM BRASÍLIA 
A Penitenciária Federal em Brasília - a quinta unidade federal do país -                         
foi inaugurada em 16 de outubro de 2018. A unidade de segurança                       
máxima tem por objetivo isolar presos condenados e provisórios                 
sujeitos ao Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), líderes de               
organizações criminosas e réus colaboradores presos ou delatores               
premiados que correm risco de vida no sistema estadual. 
Conforme Fabiano Bordignon, desde 2006, quando foi fundado, o                 
Sistema Penitenciário Federal se orgulha de apresentar resultados               
significativos. “0% de fugas, 0% de rebeliões, 0% de motins, 0% de                       
entrada de celulares, intolerância com atos de corrupção,               
procedimentos e protocolos de segurança rigorosíssimos, câmeras e               
equipamentos de monitoramento de ponta, serviços de inteligência,               
treinamentos periódicos de servidores, armamentos de última             
geração”, ressaltou. 
ESTRUTURA 
Assim como as outras quatro penitenciárias federais ativas, a unidade                   
de Brasília conta com 12.300 m² de área construída. São 208vagas                       
individuais, com 6 m² divididas em quatro blocos. Cada bloco é                     
5 
 
subdividido em outras quatro alas com 13 celas. O espaço é                     
controlado 24 horas por dia por agentes e por circuito de câmeras em                         
tempo real. Foram investidos cerca de R$ 45 milhões para construção e                       
aparelhamento da unidade. 
As celas contam com dormitório, sanitário, pia, chuveiro, mesa e                   
assento. As paredes são feitas de concreto armado para evitar                   
explosões e possíveis tentativas de fugas. 
Fonte: 
https://www.justica.gov.br/news/collective-nitf-content-1553543577.54 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
https://www.justica.gov.br/news/collective-nitf-content-1553543577.54
 
ARTIGO 2 
 
O papel do sistema penitenciário federal 
Carlos Bruno Araújo da Silva 
01/05/2014 
 
INTRODUÇÃO 
O homem é um ser que vive em sociedade, mas para manter essa                         
convivência, fez-se necessário estabelecer um controle para evitar e                 
coibir os desvios de conduta. 
Esse controle é feito através da aplicação de um sistema de normas,                       
que resultam em penas aos infratores. Segundo o art. 32 do Código                       
Penal existem três tipos de pena, quais sejam: “Art. 32 – As penas são:                           
I – privativas de liberdade; II – restritivas de direitos; III – de multa.”                           
(BRASIL, 1940). 
As penas privativas de liberdade privam o condenado do seu direito                     
de locomoção, recolhendo-o à prisão, tendo como propósito, fazer                 
com que o sujeito se reintegre novamente à sociedade. Porém, a                     
reclusão não apresentou os resultados esperados. 
Dessa forma, o Sistema Penitenciário tornou-se um campo onde há                   
corrupção, tráfico de drogas, desrespeito aos direitos humanos e a                   
integridade física dos apenados. Suas unidades, na realidade,               
transformaram-se em verdadeiros “depósitos de gente”. 
A situação é bem definida na exposição de motivos da Lei de                       
Execução Penal (LEP), no item nº 100: “Item nº 100: é do                       
conhecimento que grande parte da população carcerária está               
confinada em cadeias públicas, presídios, casas de detenção e                 
estabelecimentos análogos (…)” (LEAL, 1998, p. 56) 
7 
 
O presente artigo tem como objetivo apresentar os problemas do                   
sistema penitenciário estadual, fazendo um paralelo com a efetividade                 
do sistema penitenciário federal.   
A metodologia utilizada para a construção deste artigo foi baseada em                     
fontes doutrinárias, jurisprudenciais e legais. Utilizou-se também de               
revistas periódicas e sítios de notícias, além da experiência laboral do                     
autor, sendo este, servidor do Sistema Penitenciário Federal. 
1. A CRISE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO 
Os presídios brasileiros convivem com o grave problema da                 
superlotação. Em sua maioria, abrigam um número de detentos                 
superior a sua capacidade. 
Há um enorme déficit de vagas no sistema prisional, levando em                     
consideração não apenas a superlotação, mas os mandados de prisão                   
em aberto. 
São muitos os mandados de prisão que foram expedidos, mas não                     
foram cumpridos. Em 1998 eram cerca de 280 mil em todo o Brasil,                         
tornando a execução da lei penal e da sentença condenatória um jogo                       
de roleta russa que somente atinge uma pequena parcela de                   
condenados. (LEITE, 1998) 
Com a superlotação, ramificam-se outros problemas, como a formação                 
de facções criminosas e a violência entre os detentos, trazendo                   
desordem e insegurança aos estabelecimentos penais. 
Há frequentes casos de violência sexual, ocasionando inúmeros               
contágios por doenças sexualmente transmissíveis, trazendo risco de               
disseminação à população em geral, por intermédio das visitas dos                   
detentos. 
A violência e as péssimas condições dos ambientes carcerários exigem                   
do preso uma total readequação de seus valores para garantir sua                     
sobrevivência, o que animaliza o homem, tornando mais difícil a sua                     
reinserção social. 
8 
 
As instalações de muitos presídios são precárias pela falta de                   
fiscalização ou mesmo de interesse do Estado. São exemplos desse                   
abandono, a falta de higiene e limpeza, e a degradação da estrutura                       
física, transformando as penitenciárias em locais extremamente             
insalubres. 
Com a estrutura degradada e acima da capacidade, há a redução da                       
vigilância e o aumento da corrupção, o que facilita as fugas e a entrada                           
de drogas, armas e telefones celulares nos presídios. 
O clima de desordem e as práticas delituosas conduzem as cotidianas                     
rebeliões. 
“A concorrer para essa realidade estão: a incúria do governo, a                     
indiferença da sociedade, a lentidão da justiça, a apatia do Ministério                     
Público e de todos os demais órgãos da execução penal incumbidos                     
legalmente de exercer uma função fiscalizadora, mas que, no entanto,                   
em decorrência de sua omissão, tornam-se cúmplices do caos”. (LEAL,                   
1998, p. 69) 
Neste cenário caótico, o Estado está perdendo o controle para as                     
facções criminosas, como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o                     
Comando Vermelho (CV), que atuam em São Paulo e no Rio de Janeiro                         
respectivamente, despertando o medo e a insegurança, mesmo com a                   
maioria dos seus líderes estando presos. 
2. O SISTEMA PENITENCIÁRIO FEDERAL 
O Sistema Penitenciário Federal (SPF) tem o encargo de isolar os                     
líderes das facções criminosas, diminuindo seu poder e raio de                   
atuação. 
Segundo o então Ministro de Justiça Márcio Thomaz Bastos: 
“O Sistema Penitenciário Federal possui ainda uma importante               
finalidade que ao ser citada pode ajudar na diferenciação com os                     
outros antigos sistemas, trata-se do isolamento dos presos               
considerados de alta periculosidade, que de fato representem perigo                 
para a sociedade, e, também para o bom funcionamento das                   
penitenciárias estaduais que isolando tais presos estarão evitando               
9 
 
possíveis rebeliões e brigas internas dentro das penitenciárias entre                 
grupos e facções que buscam o controle e comando dos demais                     
detentos. É preciso deixar claro que o novo sistema tem funções                     
diferentes das de presídios já existentes. Trata-se de uma contribuição                   
muito maior para o problema da segurança pública do que para o                       
problema específico dos presídios estaduais. Desde 84, a lei prevê que                     
o Governo Federal deve construir presídios de segurança máxima para                   
os presos mais perigosos. Desde então o Brasil teve seis presidentes,                     
vinte Ministros da Justiça e o projeto não saiu do papel. Foi justamente                         
nesse período que o País assistiu a uma explosão do número de                       
presos, com os criminosos mais perigosos convivendo com o resto da                     
população carcerária o que resultou na estruturação de grandes grupos                   
organizados que controlam o crime de dentro das penitenciárias.’(BASTOS, 2006) 
O funcionamento dos seus presídios está em absoluta consonância                 
com o espírito de parceria entre a União e os Estados. Os Estados                         
selecionam os presos de alta periculosidade e os responsáveis por                   
instabilidades, que, após a análise do Judiciário, são enviados aos                   
Presídios Federais. 
Composto até o momento por quatro das cinco unidades previstas no                     
projeto inicial, as Penitenciárias Federais foram o destino dos principais                   
chefes do tráfico presos em operações realizadas no combate ao crime                     
organizado. 
O juiz Ávio Novaes, ao tentar dimensionar a importância dessas                   
unidades para a segurança pública nacional, destaca: “Esses               
estabelecimentos de segurança máxima são a residência de alguns                 
arqui inimigos do Estado, muitos deles com condenação acima de 500                     
anos.” (NOVAES, 2010. p. 24) 
Assim, confirma-se a importância das unidades penais federais na                 
manutenção da segurança pública. 
Segundo a Revista Via Legal: 
“A segurança é absoluta. Ninguém entra ou sai de um presídio federal                       
sem passar por vários detectores de metais e aparelhos de Raio-X. O                       
rigor é tanto que nem os agentes penitenciários e os funcionários                     
10 
 
terceirizados escapam dos procedimentos. Em todo o País são quatro                   
unidades em operação. Elas ficam nas cidades de Catanduvas (PR),                   
Campo Grande (MS), Porto Velho (RO) e Mossoró (RN) e, juntas,                     
abrigam hoje cerca de 500 homens. A inclusão de um preso neste                       
sistema é decidida por pelo menos dois juízes, mas em regra, as                       
transferências são definidas por um colegiado que também determina                 
para onde a pessoa deve ser levada.” (NOVAES, 2010. p. 24) 
Os complexos arquitetônicos que abrigam os presídios federais               
brasileiros são uma reprodução do modelo de unidades de segurança                   
máxima norte-americanas, as “SUPERMAX”. Estão sempre localizados             
em zonas afastadas das cidades, em geral desabitadas. Duas cercas                   
aramadas circundam a área dos complexos, enfeixadas por um tipo de                     
arame farpado conhecido como “concertina”, repleto de lâminas               
afiadas que se agarram a qualquer pessoa, animal ou objeto que delas                       
se aproxime. 
Quatro torres elevadas de vigilância, dispostas nas extremidades do                 
limite da penitenciária, são permanentemente vigiadas por agentes               
penitenciários fortemente armados, facilitando o monitoramento ao             
redor do presídio. Dentro do presídio há quatro pavilhões com 208                     
celas individuais e outras 12 destinadas ao cumprimento do Regime                   
Disciplinar Diferenciado (RDD), além de um pátio para banho de sol,                     
dependências para visitas, posto médico e salas de monitoramento                 
com mais de 240 câmeras espalhadas por todo o complexo. 
Todos os agentes penitenciários que atuam nessas unidades são                 
servidores públicos concursados do Ministério da Justiça, recebem               
treinamento especializado e ganham um salário bem acima da média                   
estadual. Além disso, são em geral designados para trabalhar em                   
unidades distantes de sua residência. O rigor no treinamento, a alta                     
remuneração e a distância de sua zona de influência pretendem ser                     
uma garantia a mais contra possíveis tentativas de corrupção. (Revista                   
Via Legal, 2010.p. 26) 
Para o juiz Ávio Novaes, toda a rigidez nos procedimentos é justificada                       
pela segurança da sociedade e do próprio Estado. 
11 
 
“A sociedade brasileira ainda não se conscientizou de que no Brasil                     
existem organizações criminosas com alto potencial lesivo e de                 
intimidação, que possuem planejamento empresarial e utilizam             
equipamentos tecnológicos avançados, com poder de armamento             
pesado e conexão com o poder público. Agem em todos os níveis,                       
aliciando agentes políticos e autoridades dos três poderes, com todas                   
as formas de corrupção possíveis. Atentar o Estado para esses fatos e                       
procurar coibi-los é um direito da cidadania”. (Portal da Justiça                   
Federal, 2010, p. 31) 
A estratégia do Sistema Penitenciário Federal é manter o preso o mais                       
longe possível de suas origens, com intenção de isolar homens que                     
ameaçam a segurança pública. 
O Sistema Penitenciário Federal foi criado para servir de apoio aos                     
estados que têm problemas com presos que são lideranças negativas                   
nas penitenciárias de origem, líderes de organizações criminosas e                 
também os que, eventualmente, são colaboradores da Justiça e não                   
podem ficar nas penitenciárias estaduais por questão de segurança.[                 
(BORDIGNON, 2010, p. 26) 
Além de todas as restrições e procedimentos de segurança, câmeras                   
espalhadas por todos os lados garantem que nada escape da                   
vigilância. São mais de 240 aparelhos em cada unidade. As imagens                     
são transmitidas em tempo real para o DEPEN, em Brasília, que                     
mantém uma central de monitoramento 24 horas por dia. Apenas o                     
interior das celas e os parlatórios, onde presos e advogados se                     
encontram, não são filmados, por determinação legal. 
Afirma o então diretor do SPF, Sandro Torres Avelar: “Ao sinal de                       
qualquer ação suspeita, nós contatamos o diretor do presídio e, se for                       
o caso, a Polícia Federal.” (Revista Via Legal, 2010. p. 26) 
Segundo o Departamento Penitenciário Federal (DEPEN), em seis anos                 
de funcionamento do Sistema Federal, não houve nenhuma fuga ou                   
corrupção de agentes, além disso, a retirada desses presos do sistema                     
comum trouxe benefícios indiretos como: o número de rebeliões nas                   
penitenciárias estaduais caiu 70% (Revista Via Legal, 2010. p. 27) 
12 
 
Afirma, o Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo: 
"Os presídios Federais são motivos de orgulho para o Ministério da                     
Justiça, pois cumprem a legislação de execução penal e respeitam os                     
direitos da pessoa presa. (…) O Sistema Penitenciário Estadual                 
brasileiro ainda é muito deficiente, todavia, o Sistema Penitenciário                 
Federal é um modelo a ser seguido. Temos quatro presídios federais                     
no Brasil, e sem dúvidas são modelos de segurança e ressocialização." 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
O declínio do nosso sistema penitenciário fundamenta-se,             
basicamente, nos custos crescentes do encarceramento e na falta de                   
investimentos no setor por parte da administração pública gerando                 
uma consequente superlotação das prisões. A partir dessas questões,                 
decorrem problemas como a falta de condições necessárias à                 
sobrevivência (falta de higiene, regime alimentar deficiente, falta de                 
leitos); deficiências no serviço médico; elevado índice de consumo de                   
drogas; corrupção; reiterados abusos sexuais; ambiente propício à               
violência; a quase ausência de perspectivas de reintegração social; a                   
inexistência de uma política ampla e inteligente para o setor. 
      Mesmo neste caos em quese encontram os sistemas penitenciários                     
estaduais, o Sistema Penitenciário Federal cumpre o seu propósito com                   
eficiência, dirimindo os problemas básicos elencados, tudo em prol da                   
segurança pública, da tranquilidade da população e da paz social. 
Parte de nossa sociedade, acha que as más condições em que se                       
encontram os presídios estaduais são as ideais para quem transgrediu                   
o pacto social. Mas, trata-se de um grande equívoco, pois em tais                       
condições falta o básico para que qualquer ser humano possa viver:                     
dignidade. E sem dignidade o homem deixa de ser homem e passa a                         
agir como um animal irracional, gerando as consequências por nós já                     
conhecidas. 
A transmissão do bom exemplo do sistema federal, surge como umas                     
das soluções para diminuir a reincidência e a criminalidade que vitima a                       
sociedade brasileira. 
13 
 
  
Referências 
BASTOS, Márcio Thomaz. ​Sistema Penitenciário Federal​. Folha de São               
Paulo, 12 outubro de 2006. Disponível em:             
<http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2306200608.htm>. 
Acessado em 02 de abr. 2014 
BORDIGNON, Fabiano. In. ​Revista Via Legal,​ edição 09. Ano III,               
set/dez 2010, 
BRASIL. Código Penal. ​Decreto-Lei n. 2.848​, de 7 de dezembro de                   
1940. Brasília, DF: Senado Federal, 1940. 
LEAL, César Barros. ​Prisão​: crepúsculo de uma era. Belo Horizonte: Del                   
Rey, 1998, 
_______. César Barros. ​Prisão​: crepúsculo de uma era. Belo Horizonte:                 
Del Rey, 1998. 
LEITE, George Lopes. ​O perfil do preso no Distrito Federal​. 1º                   
Encontro Nacional de Execução Penal, agosto 98, Brasília (DF). Anais.                   
Brasília: FAPDF, 1998. 
NOVAES, A. M., ​Revista VIA LEGAL​, Set. Dez. 2010. 
PORTAL DA JUSTIÇA FEDERAL. ​Revista Via Legal,​ set, dez, 2010, p 31. 
REVISTA VIA LEGAL, ​Edição 0​9. Ano III, set/dez 2010. 
_______. ​Edição 09.​ Ano III, set/dez 2010. 
Sites Consultados: 
<http://www.mj.gov.br/depen>. Acesso em: 21 jan. 2012.  
<http://www.sinapf.org.br/portal/noticias/noticia.php?Id=3606#.UwE0
62JdXRc>. Acesso em: 11 fev. 2014 
 
 
Fonte: 
https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-penal/o-papel-do-siste
ma-penitenciario-federal/ 
 
 
 
 
14 
https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-penal/o-papel-do-sistema-penitenciario-federal/
https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-penal/o-papel-do-sistema-penitenciario-federal/
 
ARTIGO 3 
 
A crise da segurança pública e sua relação               
direta com o sistema carcerário brasileiro 
Ana Luiza Fontoura Reis 
Igor de Andrade Barbosa 
Abril de 2019 
 
INTRODUÇÃO 
No Brasil, muito tem se falado em segurança pública nos últimos                     
tempos. O assunto tem sido tema de debates, palestras, discursos                   
políticos, eventos jurídicos e acadêmicos. Isso porque o direito de ir e                     
vir parece ser cada vez mais utópico diante de tamanha violência que                       
acomete os municípios e estados brasileiros. As pessoas vivem com                   
uma sensação constante de insegurança, medo e opressão. 
A segurança é direito social, fundamental e inviolável de todo cidadão                     
brasileiro. Nossa Carta Magna equipara esse direito ao direito à vida, à                       
liberdade e à igualdade, sendo assim, condição basilar para o exercício                     
da cidadania. O Estado, através dos órgãos elencados no artigo 144 da                       
Constituição Federal, é o principal responsável em buscar medidas                 
para que seja concretizado o direito à segurança. 
Contudo, é importante ressaltar que o papel de promover o equilíbrio,                     
de modo a evitar atitudes ameaçadoras e violentas, não compete                   
somente ao Estado, visto que cada um deve ter consciência de suas                       
escolhas e consequências. Daí depreende-se a relevância da               
aplicabilidade de políticas públicas de segurança duradouras e               
eficazes. 
A Segurança Pública no Brasil apresenta falhas e estas se relacionam                     
diretamente com o caos no sistema carcerário. É importante buscar                   
compreender a ineficácia do sistema prisional brasileiro. Há uma                 
quantidade altíssima de apreensões todos os dias, mas contra a lógica,                     
esse fator não tem diminuído em nada a criminalidade no país. 
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Em oposição à segurança, a violência urbana tem tomado proporções                   
drásticas nos estados e municípios brasileiros, com enfoque nas                 
regiões Norte e Nordeste. O Estado do Tocantins, por exemplo,                   
apresentou um aumento superior a 150% no número de homicídios                   
entre 2006 e 2016, de acordo com o Atlas da Violência. 
Nesse contexto, este artigo objetiva fazer uma análise geral acerca da                     
crise da Segurança Pública e relacioná-la à realidade do sistema                   
carcerário brasileiro.  Tanto a Segurança Pública como o sistema                 
carcerário devem ser analisados de forma conjunta, a fim de se buscar                       
alternativas para que se resolva os problemas encontrados. 
1. CENÁRIO ATUAL 
Ao observar que os presídios são “escolas do crime”, percebe-se que                     
ao invés de contribuírem para a paz social, influenciam negativamente                   
na segurança de todos. As facções criminosas em lugar de acabarem,                     
têm se fortalecido; rebeliões nos presídios não são mais incomuns; não                     
há estrutura presidiária adequada para acomodação dos presos; há um                   
atraso por parte do judiciário no julgamento dos processos; e o índice                       
de reincidência criminal não decai, o que prova, juntamente com                   
demais fatores, que o sistema prisional está praticamente falido. 
O próprio Supremo Tribunal Federal declarou o sistema carcerário                 
como “Estado de Coisas Inconstitucional” e violação a direitos                 
fundamentais. Cunha Júnior (2015) disserta que o ECI é um instituto                     
com origem nas decisões da Corte Constitucional Colombiana (CCC) e                   
tem seu respaldo diante da constatação de violações generalizadas,               
contínuas e sistemáticas de direitos fundamentais. Possui a finalidade               
de construir soluções estruturais voltadas à superação desse             
lamentável quadro de violação massiva de direitos das populações                 
vulneráveis em face das omissões do poder público. 
O fato de o STF ter reconhecido expressamente, frente ao pedido de                       
medidas cautelares formulado pela ADPF nº 347/DF, a existência do                   
Estado de Coisas Inconstitucional no sistema penitenciário brasileiro,               
constata a relevância do tema. A crise de segurança que o Brasil                       
enfrenta, bem como seus reflexos, são obstáculos graves no caminho                   
para se alcançar a qualidade de vida em sociedade. 
Nota-se um descaso com o tema da segurança pública, ao passo em                       
que a criminalidade tem crescido em números alarmantes. A violência,                   
lamentavelmente, se tornou comum e banal. A sociedade acabou por                   
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se acostumar a viver com medo e aceitar que mora em um país                         
violento. Há indignação nas pessoas, mas não ao ponto de se tomar                       
providências. 
De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2017), nas                     
nossas políticas de segurança pública não há uma perspectiva queintegre ações de repreensão qualificada (com inteligência e               
investigação) com ações (de curto, médio e longo prazos) de                   
prevenção, construídas com a oferta de serviços públicos de                 
qualidade. 
Um reflexo dessa realidade está no sistema carcerário brasileiro, que, a                     
propósito possui uma das maiores populações de presos do mundo.                   
Aqui, preocupa- se muito em punir, mas é deixado de lado o caráter                         
ressocializador da pena ao colocar o infrator em um estabelecimento                   
superlotado, sem condição alguma de dignidade humana, fato este                 
que contribui ainda mais para o índice exorbitante de reincidência                   
criminal. 
Presos provisórios, na falta de estabelecimento adequado, ficam juntos                 
aos presos sentenciados, e não há, na maioria das vezes, uma                     
separação de celas entre criminosos de menor e maior potencial                   
ofensivo. Ocorre também de o indivíduo não ter outra alternativa de                     
preservar sua vida caso não se alie a facções criminosas diante de                       
constantes ameaças que recebe por parte dos integrantes. Como                 
consequência, o indivíduo sai das casas de prisão muito pior do que                       
entrou, sendo este um perigo eminente para a própria sociedade. 
2. SÍNTESE HISTÓRICA DA EVOLUÇÃO DO DIREITO           
PENAL E DAS PENAS NO BRASIL E NO MUNDO 
Para que se compreenda o estado atual da segurança pública no Brasil                       
e do sistema carcerário é preciso conhecer as fontes responsáveis por                     
desencadearem os conflitos existentes. Não são recentes os conflitos                 
que abarcam a segurança pública no país. Metaforicamente, pode se                   
dizer que os frutos podres que colhemos hoje são oriundos de uma                       
plantação malfeita há centenas de anos atrás. 
Estudar a evolução histórica do Direito Penal, bem como das penas é                       
um ponto essencial para se chegar ao contexto em que vivemos. O                       
Direito Penal pode ser dividido em cinco fases. São elas: vingança                     
privada, vingança pública, período humanitário e período científico ou                 
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criminológico. Cabe perceber as principais peculiaridades de cada fase                 
e os vestígios que se carrega no período atual. 
Na fase da vingança privada, nos primórdios da civilização, não havia                     
intervenções justas. Quando alguém ofendia outrem, a resposta era                 
brutal, totalmente instintiva, atingindo inclusive os familiares ou tribos,                 
de forma a gerar uma verdadeira sangria, que dizimava tribos inteiras.                     
“Reinava a responsabilidade objetiva, e desconheciam-se princípios             
como o da proporcionalidade, humanidade e personalidade da pena”                 
(CAPEZ; BONFIM. 2004, p. 43). 
A noção de proporcionalidade surgiu com o Código de Hamurábi, em                     
1790 a.C. no reino da Babilônia. Apesar de não ter sido afastada a                         
violência da repulsa, a Lei de Talião que tinha como princípio o “olho                         
por olho, dente por dente”, representou um avanço na sociedade                   
daquela época. 
No período da vingança divina, como o próprio nome sugere, o foco                       
principal era os deuses. Acreditava-se que eles eram os guardiões da                     
paz e todo crime cometido era considerado afronta às divindades.                   
“Para que a tranquilidade fosse restaurada, sacrifícios humanos               
deveriam ser realizados. Desse modo, três providências eram               
adotadas: agradava-se o Deus maculado, castigava-se o ofensor e                 
amedrontava-se a população” (FADEL, 2009, p. 62). 
As penas na segunda fase variavam de acordo com o prestígio da                       
divindade afrontada: quanto maior o valor do deus afrontado, mais                   
cruel seria a pena. “Os sacerdotes eram os responsáveis pela                   
administração da justiça, e pela aplicação das sanções. O Direito Penal                     
vigorante foi denominado Direito Penal Teocrático. ” (FADEL. 2009, p.                   
62). No período da vingança pública, a punição imposta ao                   
transgressor da lei passou a ter no Estado a resposta oficial, com                       
objetivo de que fosse protegida a coletividade. Mas, na verdade, todo                     
o poder que estava nas mãos dos soberanos era abusivo e o                       
tratamento dado aos cidadãos, desigual. 
No Brasil a realidade era bem semelhante. Durante a fase imperial, o                       
Direito Penal foi utilizado para favorecer o Soberano e amigos e punir                       
os menos favorecidos, ou os que se revoltavam contra a Coroa. No                       
século XVIII com o iluminismo, surge o período humanitário. Nessa                   
época, denominada como “século das luzes”, emergiram grandes e                 
profundas mudanças que permitiram reconhecido avanço intelectual e               
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social. Um dos filósofos marcantes desse século, Marquês de Beccaria,                   
lançou a obra “Dos Delitos e da Penas”, a qual contribuiu                     
significantemente para o Direito Penal. 
Segundo Fadel (2009), Beccaria não concordava com o sistema penal                   
vigente da época. Ele criticava a complexidade da linguagem usada                   
pela lei, visto que a maioria dos réus eram analfabetos e                     
desconhecedores da lei. O autor repudiava a desproporção entre os                   
crimes cometidos e as penas aplicadas, bem como a aplicação                   
desordenada da pena de morte. Além disso, repreendeu a utilização                   
da tortura como meio legal de obtenção de prova e condenou o                       
estado das prisões. 
Segundo (BITENCOURT, 2001, p. 56), Beccaria tinha uma visão                 
utilitarista da pena. Ele acreditava que a pena não tinha outra                     
finalidade senão a de impedir que o infrator cometesse novamente o                     
crime e que os demais cidadãos tomassem o ocorrido como exemplo.                     
“As penas que ultrapassam a necessidade de conservar o depósito da                     
salvação pública são injustas por sua natureza; e tanto mais justas serão                       
quanto mais sagrada e inviolável for a segurança [...] ”. (BECCARIA,                     
2015, p.28). 
A obra em questão foi escrita em 1764 e é impressionante como                       
aborda temas tão atuais. Beccaria ainda em tempos remotos, há mais                     
de 250 anos, já defendia o caráter ressocializador da pena. Com a                       
máxima “é melhor prevenir delitos que castigá-los”, ele trabalhava sob                   
a ótica da prevenção e da reinserção do réu para a sociedade. Isso nos                           
leva à conclusão de que, a evolução das penas e do direito penal                         
como um todo, se dá de maneira extremamente lenta no Brasil, pois                       
mesmo tendo passado tantos anos, ainda vivemos os problemas de                   
séculos passados. 
Marquês, sem dúvidas, pensava a frente de seu tempo. Além de tudo,                       
ele conseguia visualizar as dificuldades que a demora no julgamento                   
de um processo, acarretariam. No Brasil, este é um dos maiores                     
impedimentos para que se atinja o objetivo reabilitador da pena                   
privativa de liberdade. 
Outro pensador do século XVIII, que vale o destaque no presente                     
estudo, é John Howard. Ele dedicou a vida à problemáticapenitenciária e, com essa dedicação, publicou a famosa obra The state                     
of prisons in england and wales. Cezar Roberto Bitencourt e outros                     
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doutrinadores, o consideram o iniciador de uma corrente preocupada                 
com a reforma carcerária. 
O tema central da obra de Howard é a humanização das prisões. O                         
autor arguia contra as condições desumanas em que se encontravam                   
as prisões da Inglaterra e País de Gales. No entanto, como bem                       
lembrado por Bitencourt (2001) em sua obra “Falência da Pena de                     
Prisão – Causas e Alternativas”, a reforma da prisão naquela época não                       
era tema de interesse dos governantes, assim como nos dias atuais. 
Após o avanço ocasionado pelos pensadores iluministas, o Direito                 
Penal passou a ser estudado de modo mais científico e metodológico.                     
Esse é o período denominado como científico ou criminológico. 
“A partir de então, os estudiosos não mais se limitaram ao exame da                         
legislação, passando a desenvolver conceitos e teorias jurídicas, sociais                 
e antropológicas, divisando de forma abrangente o fenômeno criminal,                 
bem como a verdadeira função de alguns institutos penais. ” (FADEL,                     
2009, p. 65). 
Pode-se dizer que a raiz dos problemas do sistema carcerário é                     
profunda e antiga, e que desde o início, havia quem lutava e clamava                         
por mudanças. Ocorre que a desigualdade social, o poderio nas mãos                     
de poucos, a falta de aplicação de políticas públicas voltadas para                     
segurança e tantas outras questões sociais, sempre existentes, fizeram                 
e fazem com que se encontre estagnado o sistema prisional brasileiro. 
A teoria de finalidade da pena adotada pelo Brasil é a mista. Sintetiza                         
Magalhães Noronha: “As teorias mistas conciliam as precedentes. A                 
pena tem índole retributiva, porém objetiva os fins de reeducação do                     
criminoso e de intimidação geral. Arma, pois, o caráter de retribuição                     
da pena, mas aceita sua função utilitária”. (NORONHA, 2009, p. 223).                     
Contudo, a finalidade não é alcançada em sua plenitude, visto que o                       
Brasil é um dos países com maior índice de criminalidade do mundo. 
 
3. SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: BREVE           
HISTÓRICO E CONTEXTUALIZAÇÃO 
Desde a criação da Intendência Geral da Polícia da Corte e do Estado                         
do Brasil até as Polícias Militares comandadas por oficiais do Exército                     
com a consolidação da Constituição da República de 1967 ocorreram                   
diversos momentos de conflitos políticos e sociais. Na década de 1960,                     
20 
 
quando começou o regime ditatorial no país, a centralização da                   
segurança estava com as Forças Armadas, que tomavam ações                 
repressivas num período marcado pela censura, falta de liberdade e                   
democracia. 
“Nesse período, as Polícias Militares passaram a ser comandadas por                   
oficiais do Exército, que imprimiram à corporação valores das Forças                   
Armadas. Portanto, o Brasil adquiriu, nesse momento, um colaborador                 
do período ditatorial, ou seja, uma polícia repressora que priorizava a                     
segurança nacional, desfavorecendo a segurança pública e se inserindo                 
num contexto negativo diante da sociedade brasileira. ” (CRUZ, 2013,                   
p. 3). 
Até a promulgação da Constituição Federal de 1988 não se tinha uma                       
noção de segurança pública e menos ainda uma aplicabilidade desta.                   
Entretanto, a atual Constituição trouxe em seu artigo 144 algo                   
inovador, porém sucinto: o conceito de segurança pública. 
“A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de                   
todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da                     
incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes                 
órgãos: 
I -  polícia federal; 
II -  polícia rodoviária federal; 
III -  polícia ferroviária federal; 
IV -  polícias civis; 
V -  polícias militares e corpos de bombeiros militares”. (BRASIL, 1988). 
“O texto destaca uma autonomia para os estados em conduzir a                     
política de segurança gerando uma descentralização. O resguardo à                 
ordem pública e a prevenção da violência se tornaram atribuições das                     
instituições policiais”. (CRUZ, 2013, p. 4). Após 1988, as polícias que                     
antes atuavam apenas de modo reativo ao problema da violência,                   
passariam a atuar de modo preventivo. Outra inovação trazida pela                   
Carta Magna foi o desfazimento do mito de que o assunto em pauta                         
era competência apenas da Justiça Criminal. 
Ao mencionar “ordem pública”, a Constituição abrange as políticas de                   
segurança, educação, saúde, moradia, entre outras. Ou seja, é                 
responsabilidade do Estado, por meio da Segurança Pública, assegurar                 
e garantir efetivamente o bem-estar social. A segurança pública precisa                   
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ser articulada junto aos demais serviços públicos. Caso contrário,                 
dificilmente será possível alcançar a ordem social. 
“E a segurança, por sua vez, é proporcionada pelo Estado por meio                       
de: a) um conjunto de normas que determinam o que é permitido e o                           
que é proibido (as leis); b) políticas públicas que buscam promover os                       
direitos dos cidadãos com equidade, igualdade e oportunidades além                 
de prevenir atos violentos e manter a convivência harmoniosa na                   
sociedade (programas, projetos e ações dos governos federal,               
estaduais e municipais); c) procedimentos que asseguram o direito a                   
um julgamento justo (juízes imparciais, defesa ampla e processo                 
juridicamente correto); d) um conjunto de instituições responsáveis por                 
aplicar as medidas preventivas e as sanções determinadas pelos juízes                   
(instituições policiais, prisionais, fiscais etc.)”. (SCABÓ, I.; RISSO, M.,                 
2018, p. 11). 
Na prática, a desordem social se visualiza nos jovens moradores de                     
uma área com forte tráfico de drogas, na periferia do Rio de Janeiro,                         
por exemplo. Se esses jovens não tiverem acesso à segurança,                   
habitação, saúde e educação de qualidade, como terão uma vida                   
digna e protegida do crime? A segurança não consiste apenas em uma                       
ronda policial na periferia, mas em uma proteção policial aliada a todas                       
as outras garantias sociais. 
O perfil de quem mata e morre, segundo o Atlas da Violência de 2018                           
é de homens negros, moradores de periferia, com idade de até 29                       
anos, que possuem baixa escolaridade e baixa renda. Esse perfil                   
comprova que o crime cresce na medida da desigualdade social e                     
racial e na desproporção da aplicabilidade de políticas de segurança                   
pública. 
Segundo o Ministro do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto                 
Barroso (2018), “Segurança Pública inclui prevenção, inteligência e               
investigação”. O ministro reconhece que uma “polícia bem-equipada,               
bem-treinada e bem-remunerada faz a diferença”, porém deixa claro o                   
entendimento de quea Segurança Pública não se restringe apenas à                     
ideia de polícia. 
“Os caminhos para uma política anti violência devem abranger atenção                   
à primeira infância; prevenção e redução do abuso infantil; diminuição                   
da evasão escolar; criação de condições de trabalho mais favoráveis                   
para mãe e pais de crianças pequenas; proteção da integridade física                     
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das mulheres; combate à violência doméstica; revisão da fracassada                 
política de guerra às drogas; e regulamentação do porte e da posse de                         
armas”.  Barroso (2018). 
Os Governos municipais devem trabalhar coordenadamente com os               
estados a fim de buscar a efetivação de ações preventivas contra a                       
violência. Da mesma maneira o setor privado e a sociedade têm papel                       
fundamental nessas ações, de modo que, com a contribuição de todos                     
é possível deixar de ser utópica a ideia de paz social. 
4. CRIMINALIDADE NO BRASIL 
Jovens brasileiros, sem expectativa de emprego e de futuro,                 
acabam por se envolver no “mundo do crime”, ao acreditarem ser a                       
única alternativa válida para fugir dos problemas e conseguir seu                   
sustento. Por conseguinte, se aliam a facções do crime organizado, que                     
a propósito, têm ganhado cada vez mais força. Muitos desses jovens,                     
com faixa etária de 15 a 29 anos, tem perdido suas vidas, sendo este                           
um fenômeno recorrente, denunciado ao longo das últimas décadas,                 
mas que não se vê ações consistentes o suficiente para combater esse                       
mal (Atlas da Violência. 2018). 
Os crimes de homicídio doloso, latrocínio, mortes em               
decorrência de intervenção policial e mortes violentas intencionais de                 
policiais em serviço e fora de serviço são classificados pela Secretária                     
Nacional de Segurança Pública como Crimes Violentos Letais               
Intencionais (CVLI). Esses crimes têm maior relevância social e,                 
portanto, impactam sobremaneira na sociedade. Pode-se dizer, até,               
que as mortes violentas, especialmente o crime de homicídio doloso, é                     
problema “número um” no cenário da Segurança Pública. 
O Atlas da Violência, produzido pelo Instituto de Pesquisa                 
Econômica Aplicada (Ipea) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública                   
(FBSP), registrou um número de 62.517 mil homicídios no Brasil em                     
2016. Como principal indicador de violência, esse dado demonstra                 
quão preocupante é a situação da criminalidade no país tropical. 
O número de assassinatos só de mulheres no ano de 2016 foi                       
de 4.645, “o que representa uma taxa de 4,5% homicídios para cada                       
100 mil brasileiras”. (Atlas da Violência. 2018, p. 44). Diante de dados                       
que mostram que a violência de gênero, assim como, a violência                     
motivada pela cor, raça e classe social, ainda estão bem presentes                     
neste século, podemos concluir que vivemos um retrocesso, presos a                   
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questões arcaicas que, como visto no histórico do direito penal,                   
existem desde as primeiras civilizações. 
“A taxa de homicídios de mulheres negras é 71% maior que a                       
de não negras, e com um lapso de tempo de 10 anos (2006 a 2016), a                               
taxa de homicídios para cada 100 mil mulheres negras aumentou                   
15,4%, enquanto que entre as não negras houve queda de 8%”                     
(ATLAS da Violência. 2018, p. 44).  Ora, em 10 anos, em vez de                         
diminuir o número de mortes, o que identificamos foi o aumento. Tais                       
dados parecem ilógicos diante da premissa de que a sociedade evolui                     
com o passar do tempo. 
Outrossim, nossas polícias estão com elevados índices de               
autoria de crimes de homicídio. O Anuário Brasileiro de Segurança                   
Pública (2017) registrou o número de 4.222 mortes no ano de 2016 em                         
decorrência de intervenções de policiais Civis e Militares. Por outro                   
lado, nesse mesmo ano, 453 policiais Civis e Militares foram vítimas de                       
homicídio. 
Os crimes contra o patrimônio que nos aflige diariamente é                   
outra demonstração de tamanha insegurança que vivemos. Segundo o                 
Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2017), mais de 1 milhão de                     
carros foram roubados ou furtados entre 2015 e 2016, no Brasil, o que                         
corresponde a 1 carro roubado ou furtado por minuto. 
Tendo em vista esses dados que apontam a criminalidade no                   
Brasil, um fator assustador é que “boa parte da violência que temos na                         
nossa sociedade é comandada de dentro do presídio”, disse o Ministro                     
da Justiça, José Eduardo Cardozo (2015). Ainda segundo o Ministro,                   
dentro das penitenciárias atuam organizações criminosas que lideram a                 
violência aqui fora. 
Nesta ocasião, presos de menor potencial ofensivo, quando               
saem são muito mais perigosos e habilidosos para o crime. Em muitos                       
casos, saem aliados a facções que os “obriga” a continuar a praticar o                         
ilícito nas ruas. Nosso sistema carcerário nem de longe tem cumprido                     
sua função de diminuir a criminalidade e reintegrar o infrator à                     
sociedade. Pelo contrário, os presídios no Brasil têm fomentado o                   
crime. 
Nesse sentido, Jungmann, Ministro da Segurança Pública,             
afirmou: 
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"Temos que rever a cultura que vige na sociedade de prender,                     
prender, prender, sem entender que a prisão em larga escala ou em                       
massa não é sustentável. Nós prendemos muito e prendemos mal. Boa                     
parte desse pessoal faz um juramento para sobreviver e se incorpora às                       
grandes gangues. Então o sistema penitenciário hoje é um sistema que                     
recruta soldados para o crime organizado". (JUNGMANN, 2018). 
O Ministro afirmou ainda, logo após a criação do Ministério da                     
Segurança Pública, que técnicos do ministério estudariam propostas             
para separar os presos pelo grau de periculosidade e pelo tipo de                       
crime que cometeram; ampliariam as unidades do regime semiaberto;                 
adotariam medidas punitivas alternativas, como o uso de tornozeleiras                 
e prestação de serviços à comunidade. 
5. A IMPORTÂNCIA DA APLICAÇÃO DAS PENAS ALTERNATIVAS 
Perante a falência da pena privativa de liberdade em ordenar a                     
questão da criminalidade no Brasil, mostra-se a importância do                 
fortalecimento das penas alternativas como um caminho mais               
humanizado e facilitador da integração do apenado à sociedade.                 
Deve-se ater ao fato de que o objetivo da sanção penal deve ser o de                             
reabilitar o indivíduo e não de vingar o mal cometido. 
As penas alternativas, legalmente conhecidas como penas             
restritivas de direito, estão previstas no art. 43 do Código Penal                     
Brasileiro. São elas: prestação pecuniária; perda de bens e valores;                   
limitação de fim de semana; prestação de serviço à comunidade ou a                       
entidades públicas; interdição temporária de direitos; e limitação de                 
fim de semana. Ampliar a aplicação dessas penasreduzirá a                   
superlotação nas unidades prisionais, o que, consequentemente,             
evitará que o indivíduo de menor potencial ofensivo, tenha contato                   
com o sistema prisional e acabe por se tornar um reincidente no crime. 
É urgente a necessidade de oxigenação total do sistema                 
carcerário, sobretudo buscando medidas para pôr fim ao seu                 
crescimento acelerado. Constata-se que o país carece de investimento                 
na recuperação e ressocialização da massa e no fortalecimento de                   
penas alternativas. 
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6. O SISTEMA CARCERÁRIO E O ESTADO DE COISAS               
INCONSTITUCIONAL 
Desde que o “mundo é mundo” há conflitos nas relações                   
sociais e com eles a indispensabilidade de se existir normas e regras.                       
De acordo com (CAMARA, 2009, p. 65), “o crescimento desenfreado                   
das cidades nas últimas décadas aumentou a carga de conflito entre as                       
pessoas, grupos e entre estes com o Estado, que, por sua vez, não foi                           
competente para preveni-los e menos ainda para administrá-los”. 
O ritmo das mudanças nas cidades, principalmente nas grandes                 
metrópoles, acontece de forma muito rápida, e, infelizmente, as                 
polícias, o sistema judiciário e penal não têm conseguido acompanhar                   
as transformações e evitar a expansão do crime. Em decorrência disso,                     
acarreta-se um verdadeiro caos no sistema penitenciário. 
De acordo com Fiódor Dostoiévski em sua obra “Crime e                   
Castigo” do ano de 1866, “é possível julgar o grau de civilização de                         
uma sociedade visitando suas prisões”. Visto isso, depreende-se a                 
situação crítica em que se encontra a civilização brasileira. O relatório                     
levantado pelo Departamento Penitenciário Nacional (2017), trouxe o               
dado de 726.712 mil presos no Brasil e um déficit de 358.663 vagas.                         
Em outras palavras, nos nossos presídios a quantidade de vagas                   
existentes, suportaria apenas metade dos presidiários. 
As rebeliões sanguinárias nos presídios causaram pânico na               
população em 2017. Logo no primeiro dia do ano ocorreu um                     
massacre no Complexo Penitenciário Anísio Jobim, em Manaus,               
deixando um saldo de 56 mortos, segundo Henriques (2017). O G1                     
Amazonas informou que os mortos eram integrantes da facção                 
criminosa Primeiro Comando da Capital e presos por estupro. 
Com base na reportagem do G1 (2017), em janeiro de 2017, se                       
continuou as matanças nos presídios, por meio das rebeliões, com 33                     
mortes na rebelião de Boa Vista – RO, duas mortes em Patos na                         
Paraíba, quatro mortes na cadeia pública de Manaus, e no meio do                       
mês, 26 mortes na rebelião no Rio Grande do Norte. Além dessas,                       
tiveram outras ocorrências, que somadas às citadas, “ultrapassaram as                 
111 mortes do Massacre do Carandiru, no Estado de São Paulo, em                       
1992”. 
Nesse segmento, o STF reconheceu o quadro do sistema                 
penitenciário no Brasil como “Estado de Coisas Inconstitucional”, fato                 
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que comprova que já se passou muito dos limites as irregularidades                     
nesse sistema. 
“Em julgamento dos pedidos de medida cautelar formulados na                 
inicial, ocorrido em 9.9.2015, o Pleno do STF, por maioria, deferiu a                       
cautelar em relação à alínea b, para determinar aos juízes e tribunais                       
que, observados os artigos 9.3 do Pacto dos Direitos Civis e Políticos e                         
7.5 da Convenção Interamericana sobre Direitos Humanos,             
realizassem, em até noventa dias, audiências de custódia, viabilizando                 
o comparecimento do preso perante a autoridade judiciária no prazo                   
máximo de 24 horas, contados do momento da prisão. E, em relação à                         
alínea h, por maioria, deferiu a cautelar para determinar à União que                       
liberasse o saldo acumulado do Fundo Penitenciário Nacional para                 
utilização com a finalidade para a qual foi criado, abstendo-se de                     
realizar novos contingenciamentos. E, ainda, o Tribunal, por maioria,                 
deferiu a proposta do ministro Roberto Barroso de concessão de                   
cautelar de ofício para que se determinasse à União e aos estados,                       
especificamente ao Estado São Paulo, que encaminhassem ao               
Supremo Tribunal Federal informações sobre a situação prisional”.               
(GUIMARÃES, M, 2017, p. 95-96). 
Ao tomar essa decisão, o Supremo voltou seus olhares à                   
problemática deveras grande em que se vive no Brasil há tempos com                       
relação à Segurança Pública e ao sistema prisional. No entanto,                   
segundo Porpino (2017), paira uma polêmica acerca da autonomia da                   
Suprema Corte quanto a formulação de políticas públicas. O Plenário                   
entendeu que a decisão do STF violava o Princípio da Separação e                       
Harmonia dos Poderes, bem como a cláusula do financeiramente                 
possível. 
Por outro lado, se defendeu a importância do ativismo judicial,                   
já que os órgãos estatais são inertes e a violação aos direitos humanos,                         
desenfreada. Ora, é certo pensar que não existe coerência no fato de                       
se ignorar a não concretização dos direitos fundamentais da                 
população. A atuação do Supremo ao reconhecer a existência do ECI                     
foi uma medida extrema para uma situação igualmente séria e                   
relevante. 
7. JUSTIÇA RESTAURATIVA COMO POSSÍVEL SOLUÇÃO PARA O               
CAOS 
A sede por vingança é um sentimento comum entre os                   
brasileiros. Neste país é intrínseca a ideia de que o mal instaurado                       
deve ser, acima de tudo, punido por quem o praticou. Com isso,                       
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percebe-se a prática de uma cultura punitiva, em que a sociedade                     
sente a necessidade de castigar o possível transgressor, para que gere,                     
então, a sensação de justiça. Isso acontece, porque, com base nessa                     
cultura, a concepção de justiça está intimamente ligada ao ato de                     
punir. 
No entanto, frente a realidade da segurança pública e do                   
sistema carcerário brasileiro, se faz conveniente a reflexão acerca da                   
cultura punitiva.  É sabido que as prisões estão superlotadas e que as                       
penas aplicadas não têm cumprido seu papel restaurador. Falta, pois,                   
primeiramente, a conscientização de que ao punir deliberadamente o                 
infrator, a punição também recai sobre a sociedade, que vai                   
reencontrar esse infrator potencialmente mais perigoso. 
A Justiça Restaurativa não é uma prática recente no Brasil e tem                       
se expandido com o passar dos anos. Segundo o CNJ (Conselho                     
Nacional de Justiça), a Justiça Restaurativa “se trata de um processo                     
colaborativo voltado para resolução de um conflito caracterizado como                 
crime, que envolve a participação maior do infrator e da vítima. ” 
“Na prática existem algumas metodologias voltadas para esse               
processo. A mediação vítima-ofensor consiste basicamente em             
colocá-los em um mesmo ambiente guardado de segurança jurídica e                   
física,com o objetivo de que se busque ali acordo que implique a                         
resolução de outras dimensões do problema que não apenas a                   
punição, como, por exemplo, a reparação de danos emocionais. ”                   
(CARVALHO, 2014). 
Esse instituto, como o próprio nome diz, busca restaurar os                   
danos sofridos pela vítima. O cerne está na reparação, ou seja, em                       
atuar na consequência do crime. O viés restaurativo possui um foco na                       
cura da ferida do que na reclusão. É uma ideia que tem sido discutida                           
e que pode ser um importante instrumento de pacificação social, de                     
política de desencarceramento e evolução do próprio Direito Penal. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
A segurança pública, como fator determinante para a promoção                 
e manutenção da paz social, garante os direitos individuais e assegura                     
o exercício da cidadania. Nessa perspectiva, é possível afirmar que a                     
qualidade de vida de um cidadão está intimamente ligada à qualidade                     
do exercício da segurança pública. A situação atual do sistema                   
carcerário brasileiro, conforme demonstrado, funciona como um             
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termômetro social, em que quanto mais caótico for o sistema                   
penitenciário, maior será a complexidade da segurança pública. 
O direito penal tem vivido um processo longo e antigo de                     
ineficiência no que tange ao combate à criminalidade. Não se vê                     
evolução, mas sim retrocesso. O encarceramento em massa,               
visivelmente, não tem resolvido os problemas sociais, longe disso, tem                   
aumentado. Todavia, para que se aplique substitutos penais é preciso,                   
primordialmente, haver um reconhecimento geral da falência do               
modelo punitivo atual. A justiça meramente retributiva,             
comprovadamente, não tem gerado bons efeitos. 
O sistema prisional é o maior problema da segurança pública, e                     
o sucesso desta perpassa pelo enfrentamento e solução do caos                 
carcerário. Com o presente artigo, pôde-se constatar que é crucial                   
buscar e aplicar medidas que visem o desencarceramento. Ademais,                 
precisa-se voltar a atenção à primeira infância, ao acesso à educação,                   
saúde e moradia de qualidade, a fim de se evitar o mal pela raiz. 
 
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Disponível em:   
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848compilado.
htm>. Acesso em: 13 de abril de 2019. 
 
Fonte: 
https://jus.com.br/artigos/73359/a-crise-da-seguranca-publica-e-sua-rel
acao-direta-com-o-sistema-carcerario-brasileiro/3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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https://jus.com.br/artigos/73359/a-crise-da-seguranca-publica-e-sua-relacao-direta-com-o-sistema-carcerario-brasileiro/3
https://jus.com.br/artigos/73359/a-crise-da-seguranca-publica-e-sua-relacao-direta-com-o-sistema-carcerario-brasileiro/3
 
ARTIGO 4 
 
excerto do TEXTO PARA DISCUSSÃO Nº 1330, do IPEA:  
SISTEMA DE JUSTIÇA CRIMINAL NO BRASIL:           
QUADRO INSTITUCIONAL E UM       
DIAGNÓSTICO DE SUA ATUAÇÃO 
Helder Ferreira 
Natália de Oliveira Fontoura 
 
  
ESTRUTURA DO SISTEMA DE EXECUÇÃO PENAL           
BRASILEIRO 
A Constituição prevê diretrizes relativas à pena para o transgressor das                     
leis: a pena é individual e pode ser de privação ou restrição de                         
liberdade, de perda de bens, de multa, de prestação social alternativa                     
ou de suspensão ou interdição de direitos, entre outras. 
A Carta Magna veta a pena de morte, a de caráter perpétuo, a de                           
trabalhos forçados, a de banimento e as penas cruéis, e prevê os                       
direitos básicos do apenado. 
O Código Penal (Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940)                       
divide-se em: parte geral, alterada pela Lei nº 7.209, de 11 de julho de                           
1984, que prevê as normas não-incriminadoras, referentes à aplicação                 
da lei penal, crime, imputabilidade penal, penas e medidas de                   
segurança, tipos de ação penal e extinção da punibilidade; e parte                     
especial, que prevê as normas incriminadoras, quedescrevem uma                 
conduta e impõem as respectivas penas. 
A legislação brasileira prevê dois tipos de infrações penais: crimes (ou                     
delitos) e contravenções. Estas últimas são infrações penais de menor                   
impacto e estão tipificadas na Lei de Contravenções Penais                 
(Decreto-Lei nº 3.688, de 3 de outubro de 1941). 
O Código Penal define, portanto, somente os crimes ou delitos, que                     
podem ser cometidos por ação ou por omissão, podem ser dolosos ou                       
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culposos e, ainda, terem sido consumados ou caracterizar-se como                 
tentativa. 
Os tipos de pena são: privativas de liberdade, restritivas de direitos, e                       
multa. 
As penas privativas de liberdade podem ser de reclusão – cumprida                     
em regime fechado, semiaberto ou aberto – ou de detenção –                     
cumprida em regime semiaberto ou aberto. 
Os regimes para cumprimento das penas privativas de liberdade são,                   
portanto: 
1) Fechado, que por lei deveria ser cumprido em cela individual, de no                         
mínimo seis metros quadrados, com trabalho durante o dia e                   
isolamento à noite; 
2) Semi-aberto, cumprido em colônia agrícola, industrial ou similar, em                   
alojamento coletivo, com possibilidade de atividades externas sem               
vigilância, caso permitidas pelo juiz da execução; e 
3) Aberto, no qual o preso trabalha sem vigilância e se recolhe à casa                           
de albergado para dormir e passar os dias de folga. 
Se a pena definida é superior a oito anos, inicia-se seu cumprimento                       
em regime fechado; para penas maiores de quatro anos e inferiores a                       
oito, em regime semiaberto; e para as penas menores de quatro anos,                       
no caso de réus primários, inicia-se em regime aberto. Por regra, o                       
cumprimento da pena deve ser progressivo. O juiz da execução define                     
o regime inicial e sua progressão ocorre com o tempo e de acordo                         
com o comportamento do preso. Para passar de um regime para outro                       
mais brando, o condenado deve cumprir pelo menos um sexto da                     
pena no regime anterior, sendo que a progressão depende de                   
pareceres internos que avaliam o comportamento e a recuperação do                   
preso. Além disso, para passar para o regime aberto, é preciso                     
comprovar trabalho ou promessa de emprego. No caso de o                   
condenado sofrer nova condenação ou desobedecer às exigências da                 
execução, o regime penitenciário pode regredir. 
A Lei nº 8.072/90 previa, em seu art. 2º, § 1º, que a pena por crimes                               
hediondos, tráfico de drogas e terrorismo deveria ser cumprida                 
integralmente em regime fechado.  
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Contudo, no dia 23 de fevereiro de 2006, o Supremo Tribunal Federal                       
julgou tal determinação inconstitucional, por violar o princípio               
constitucional da individualização da pena.  1
O livramento condicional, por sua vez, se dá somente após                   
cumprimento de um terço da pena, se o condenado tem bons                     
antecedentes e não é reincidente em crime doloso. Se é reincidente,                     
deve ter cumprido metade da pena. Para ter o livramento condicional,                     
deve comprovar bom comportamento, aptidão para prover a               
subsistência e ter reparado o dano, se possível. Durante o livramento                     
condicional, é preciso cumprir diferentes condições impostas pelo juiz,                 
como ter ocupação, voltar para casa em hora fixada e não frequentar                       
determinados lugares. 
No caso de crimes hediondos, tráfico de drogas, tortura e terrorismo,                     
se o condenado é primário, tem direito ao livramento condicional                   
somente após cumprir dois terços da pena em regime fechado. 
A graça ou indulto individual, outro benefício concedido a presos que                     
atendam a determinados critérios, é também vetada a praticantes de                   
crimes hediondos e assemelhados. A graça e o indulto são concedidos                     
pelo presidente da República, por meio de decreto que especifica                   
todos os apenados sujeitos a ter suas penas perdoadas ou aliviadas –                       
individual, no caso da graça, e coletivo, no caso do indulto. 
A suspensão condicional da pena, ou sursis, é outro instituto previsto                     
no Código de Processo Penal e na Lei de Execução Penal (LEP, Lei nº                           
7.210, de 11 de julho de 1984), por meio do qual se suspende uma                           
pena de reclusão ou de detenção, desde que atendidos os critérios                     
especificados na lei. A suspensão é condicional porque o condenado                   
deve cumprir as condições estabelecidas pelo juiz para continuar tendo                   
direito ao benefício. 
A Lei nº 10.792, de 1​o de dezembro de 2003, alterou a Lei de                           
Execução Penal, ao prever o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD),                 
que deve ser aplicado ao preso que cometer crime doloso, ao preso                       
que apresente “alto risco para a segurança do estabelecimento penal                   
ou da sociedade”, e ao preso suspeito de ligação com o crime                       
1 ​A Lei nº 11.464, de 28 de março de 2007, alterou as regras para a progressão de 
regime no caso desses crimes, prevendo que o apenado deve cumprir dois quintos 
da pena se for primário, e três quintos se for reincidente, para que possa progredir 
para outro tipo de regime. 
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organizado. O RDD tem duração máxima de trezentos e sessenta dias                     
e se caracteriza pelo recolhimento em cela individual, visitas semanais                   
de duas pessoas por no máximo duas horas, e banho de sol de duas                           
horas diárias, quando o preso sai da cela. 
Dessa forma, no RDD estende-se o prazo limite para as sanções de                       
isolamento, suspensão e restrição de direitos, previstas originalmente               
na Lei de Execução Penal. 
A nova lei prevê, inclusive, a construção de estabelecimentos penais                   
destinados exclusivamente aos presos sujeitos ao regime disciplinar               
diferenciado. 
A mesma norma que criou o RDD aboliu a necessidade de exame                       
criminológico, previsto no Código de Processo Penal e na Lei de                     
Execução Penal, para a avaliação da progressão de regime, o que vem                       
sendo objeto de grande controvérsia entre especialistas da área.                 
Alguns criminalistas acreditam que a ausência do exame dá mais                   
dinamismo à execução penal e se justifica na medida em que o preso                         
não é permanentemente acompanhado pelo Estado, lacuna que não                 
poderia ser preenchida por um exame realizado em condições pouco                   
transparentes e em circunstâncias pontuais. Muitos estudiosos,             
contudo, defendem que o exame criminológico embasa em grande                 
medida a decisão do juiz e é fundamental por contemplar aspectos                     
referentes à personalidade do apenado, vida pregressa,             
comportamento na prisão, percepção sobre o crime e sobre a pena, e                       
possibilidade de reinserção social, entre outros . Após a mudança, com                   2
vistas a determinar a progressão de regime, a lei se atém tão-somente                       
ao bom comportamento carcerário, que

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