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CRIME CONTRA A HONRA

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® BuscaLegis.ccj.ufsc.br 
 
 
Considerações sobre os crimes contra a honra da pessoa humana 
 
 
Julio Pinheiro Faro Homem de Siqueira* 
 
 
 
 Assim como a dignidade da pessoa humana, a honra é um valor pessoal que 
corresponde à posição que o ser humano ocupa entre os seus iguais e, além, 
como escreve LISZT (2003: 79-80), a honra é, também, o interesse que o 
indivíduo tem de ser considerado de acordo com suas condutas, de modo 
que tal interesse é negativamente regulado pela ordem jurídica: proíbe-se 
todo o tratamento que expresse desconsideração com a dignidade da pessoa 
humana. 
 DUARTE PEREIRA, na nota 104 da tradução brasileira do Tratado 
de Direito Penal Alemão de LISZT (2003: 80), observa que honra e 
dignidade não têm o mesmo significado, de modo que podemos afirmar, 
com fundada certeza, que a dignidade é um princípio que permeia o conceito 
de honra. Desta feita, salutar é a divisão da honra em dois âmbitos: social (e 
econômico) e individual. 
 O aspecto social ou objetivo engloba o aspecto econômico de honra, 
o qual a doutrina costuma chamar honra especial ou profissional e que 
consiste na confiança dispensada ao profissional no exercício de sua 
respectiva profissão. O aspecto social, de um modo geral, é aquele que se 
refere à reputação que temos no meio social em que vivemos, isto é, é o 
juízo que a sociedade como um conjunto de pessoa faz do indivíduo. Por 
fim, a honra subjetiva ou individual, a qual consiste na auto-estima, no juízo 
que fazemos de nós mesmos. 
 A honra pode ser definida como o plexo de predicados e de 
condições da pessoa que lhe confere consideração social, estima própria e 
confiança no exercício da profissão. Portanto, podemos inferir que haverá 
crime contra a honra quando houver uma expressão de desconsideração em 
relação a uma pessoa. De acordo com a lição de LISZT (2003: 83), não só a 
referida desconsideração constitui crime contra a honra, mas também a 
periclitação da honra, a qual se constitui como a afirmação de fatos 
infamantes, não verdadeiros. 
 A proteção dada pelo Estatuto Penal à honra da pessoa insere-se no 
âmbito do princípio constitucional fundamental da dignidade da pessoa 
humana. Assim, a punição à prática do delito contra a honra da pessoa 
encontra-se de acordo com o sistema constitucional. 
 No sistema penal brasileiro, são três as espécies básicas de crimes 
contra a honra: calúnia, difamação e injúria – é essa a divisão que é operada 
pelo Código e pela doutrina tradicional. No entanto, há que considerar ainda 
duas outras espécies, de modo que temos: calúnia, difamação, injúria 
propriamente dita, injúria por violência ou por vias de fato e injúria 
preconceituosa. Cada um destes tipos apresenta uma cominação de pena 
própria. 
 Procederemos a seguir a uma gradação dos crimes contra a honra, 
partindo daquele considerado o menos grave pelo legislador até chegarmos 
ao mais grave, de forma a apresentarmos as definições e as penas em 
abstrato de cada um. 
 Comecemos pela injúria propriamente dita, a qual consiste na mera 
ofensa à dignidade ou ao decoro da pessoa humana. Trata-se de crime 
cometido contra a honra individual, cuja pena em abstrato pode variar de um 
mês a seis meses de detenção alternativamente a multa. 
 Segue-se a injúria real, a qual consiste na ofensa à dignidade ou ao 
decoro da pessoa humana provocada mediante violência (lesão corporal) ou 
mediante vias de fato (contravenção penal). A pena em abstrato é cumulativa 
de detenção de três meses a um ano com multa, de modo que existindo 
violência haverá cumulação com a pena correspondente à violência e em se 
tratando de vias de fato a pena desta será absorvida pela pena prevista para o 
tipo penal de injúria mediante vias de fato. 
 Terceiro crime na gradação é o de difamação: difamar alguém é 
imputar-lhe fato ofensivo à sua reputação, de modo que tal fato pode ser 
verdadeiro ou não. Se for falso e constituir crime, poderá ser calúnia, mas se 
for contravencional será difamação. A pena em abstrato é cumulativa de 
detenção de três meses a um ano e multa. 
 O próximo é a calúnia. Caluniar alguém, estabelece o legislador, é 
imputar-lhe falsamente fato definido como crime, isto é, quando alguém 
atribui a outrem crime que não ocorreu ou que não foi por ele praticado. A 
pena abstrata estabelecida pelo legislador é cumulativa de seis meses a dois 
anos com multa. 
 E, por fim, tem-se a injúria preconceituosa, a qual consiste em 
ofender a honra individual de alguém utilizando, para isso, de elementos 
referentes à raça, à cor, à etnia, à religião, à origem ou à condição de pessoa 
idosa ou portadora de deficiência. A pena em abstrato é maior dentre os 
crimes contra a honra: reclusão de um a três anos e multa. 
 Deve-se observar que, em caso de dúvida sobre qual dos tipos penais 
acima apresentados incide sobre o fato concreto, comungamos da opinião da 
aplicação do princípio constitucional do in dubio pro reo: na dúvida, deve-se 
reconhecer o crime de injúria, a qual é a menos severamente punida 
(CAPEZ, 2005: 250). 
 A diferença entre os três tipos básicos de crimes contra a honra da 
pessoa (calúnia, injúria e difamação) é a seguinte: 
 a) Quanto à imputação: na calúnia, o fato imputado é definido como 
crime; na injúria, não é atribuído fato, e sim qualidade negativa; na 
difamação, imputa-se fato determinado. 
 b) Quanto ao tipo de honra atingido: na calúnia e na difamação, 
atinge-se a honra objetiva e/ou profissional; na injúria, atinge-se a honra 
subjetiva. 
 c) Quanto ao momento da consumação: na calúnia e na difamação, a 
consumação se dá quando terceiros tomam conhecimento da imputação; na 
injúria, a consumação ocorre quando o ofendido toma conhecimento da 
imputação. 
 d) Quanto à falsidade do fato imputado: na calúnia o fato imputado 
deve ser falso; na injúria e na difamação não há essa necessidade, de modo 
que o fato pode ser falso ou verdadeiro; 
 e) Quanto à necessidade de o fato ser concreto: na difamação, o fato 
deve ser determinado, isto é, concreto; na injúria e na calúnia, o fato não 
precisa ser determinado. 
 f) Quanto à necessidade de o fato ser crime: na calúnia, o fato 
imputado tem de ser necessariamente crime; na difamação e na injúria, o 
fato imputado pode ser crime ou contravenção – atentando-se para se o fato 
que for falsamente imputado consistir em contravenção, haverá difamação, 
mas se consistir em crime, haverá calúnia. 
 g) Quanto à admissão de exceção da verdade: a injúria não admite a 
exceção da verdade; a difamação só a admite se o ofendido é funcionário 
público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções; a calúnia, via de 
regra, admite a exceção da verdade. 
 h) Quanto à existência de formas qualificadas: só a injúria apresenta 
formas qualificadas, quais sejam: injúria mediante violência ou mediante 
vias de fato e injúria preconceituosa. 
 De acordo não só com o legislador, mas também com os 
doutrinadores, os crimes contra a honra só existem sob a forma dolosa, de 
modo que "deve estar presente um especial fim de agir consubstanciado no 
animus injuriandi vel diffamandi, consistente no ânimo de denegrir, ofender 
a honra do indivíduo" (CAPEZ, 2005: 240). Portanto, não é suficiente que o 
agente profira palavras caluniosas: é necessário que tenha a vontade, o 
ânimo de causar dano à honra da vítima. 
 Por fim, há que se olhar para o artigo 145, o qual prescreve que nos 
crimes contra a honra da pessoa somente se procede mediante queixa-crime, 
com exceção da injúria real cometida mediante lesão corporal, em que 
haverá denúncia. 
 
CALÚNIAComo já afirmamos, comete o crime de calúnia aquele que imputa, 
falsamente, a outrem, fato definido como crime, ao que diz o artigo 138 do 
Código Penal: caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido 
como crime. Observe que deve ser imputado fato, o qual é evento delimitado 
no tempo e no espaço. Isto é: o agente tem de fazer, ao menos, referência ao 
lugar ou ao tempo, a fim de que a imputação não se configure como mero 
insulto, e sim como calúnia. Assim, para haver a incidência do artigo 138 na 
situação concreta, é preciso que o agente descreva o fato: "no dia tal, às 
tantas horas, na loja Z, o indivíduo emitiu um cheque sem provisão de 
fundos" (NUCCI, 2005: 562) – a emissão de cheque sem provisão de fundos 
constitui-se como estelionato. 
 O agente atribui, portanto, a uma pessoa a responsabilidade pela 
prática de um crime que não ocorreu ou que ocorreu, mas não foi por ela 
cometido, nem a título de co-autoria. A ação nuclear do tipo é o verbo 
caluniar. Trata-se de crime de ação livre, que pode ser praticado por 
qualquer meio, ressalvando-se a hipótese do emprego de meios de 
informação, o que constituirá crime previsto na Lei de Imprensa, ou no uso 
de propaganda eleitoral, em que o fato será enquadrado no Código Eleitoral. 
 É patente o fato de que a calúnia, como dito anteriormente, repousa 
sobre a honra objetiva do ofendido, de modo a bastar que terceiro tome 
conhecimento do fato determinado imputado à vítima para que o crime em 
tela seja consumado. Portanto, via de regra, a tentativa não é admitida neste 
tipo de crime, a não ser que a calúnia seja praticada por meio escrito, 
excluídas as hipóteses de incidência da Lei de Imprensa e do Código 
Eleitoral, além de outras leis específicas. 
 Diante da expressa disposição legal que exige que o fato seja 
definido como crime, a imputação de fato definido como contravenção 
poderá configurar o crime de difamação, mas, sob hipótese alguma, não 
configurará delito de calúnia. Também não constitui crime de calúnia a 
imputação de fato atípico e a imputação de fato verdadeiro [1]. 
 O elemento normativo do tipo está contido no termo falsamente. 
Assim, não basta a imputação de fato definido como crime, exige-se que este 
seja falso e que o caluniador tenha conhecimento de tal falsidade (CAPEZ, 
2005: 240). Logo, o crime de calúnia só é admitido na forma dolosa, mesmo 
porque o ofensor tem de saber ser falsa a imputação dirigida ao ofendido, ou 
seja, cometer o crime assumindo o risco de vir a ser processado por isso. 
Ademais, fica muito difícil, para não dizer impossível, que na prática alguém 
calunie por imprudência, imperícia ou negligência. Observe, pois, que deve 
existir a vontade de ofender, de denegrir a reputação do indivíduo – animus 
diffamandi. 
 Como se trata de crime comum, qualquer pessoa pode ser sujeito 
ativo do crime de calúnia. Caluniador não é apenas o autor original da 
imputação, mas também quem a propala ou a divulga (artigo 138, § 1º). 
Quanto ao sujeito passivo, em tese admite-se que pode ser qualquer pessoa 
que possa cometer crime. Disto, tem-se três situações importantes: a do 
menor, a do doente mental e a da pessoa jurídica. 
 Entendemos que menores de dezoito anos e doentes mentais podem 
ser sujeitos passivos do crime de calúnia [2], desde que o menor ou o doente 
mental tenha capacidade de entender o caráter ilícito do fato e determinar-se 
de acordo com esse entendimento. Assim, deve-se analisar se o menor e o 
doente mental têm condições físicas, psicológicas, morais e mentais de saber 
que está realizando um crime. Mas não é só. Além dessa capacidade plena 
de entendimento, deve ter totais condições de controle sobre sua vontade. 
 No caso de pessoas jurídicas, consideramos que, em regra, a pessoa 
jurídica não comete crimes e, portanto, não pode figurar como sujeito 
passivo em crime de calúnia. No entanto, excepcionalmente, a pessoa 
jurídica pode cometer crime em duas hipóteses: crime contra o meio 
ambiente (artigo 225, § 3º, da Constituição e artigo 3º, da Lei nº 9.605/98) e 
crime contra a ordem econômica e financeira e contra a economia popular 
(artigo 173, § 5º, da Constituição) [3]. 
 A calúnia contra os mortos é punível, de acordo com o artigo 138, § 
2º. Deve-se explicar que, apesar de os mortos não terem qualquer tipo de 
conduta, o legislador optou por punir o desrespeito à memória dos mortos e 
preservar o sentimento da família do de cuius. Assim, aquele que imputa 
falsamente fato definido como crime ao falecido, fazendo menção à pessoa 
deste quando vivo, comete o crime de calúnia (NUCCI, 2005: 563). 
 Há, ainda, que se considerar a propalação e a divulgação. ANÍBAL 
BRUNO (1979: 293) afirma que, amparando a reputação do ofendido, a lei 
penal faz com que a sanção penal abranja, não só o que gera a calúnia, mas 
também aquele que, dela toma conhecimento, a propala ou divulga. Assim é 
que estabelece o artigo 138, § 1º: na mesma pena incorre quem, sabendo 
falsa a imputação, a propala ou divulga. Trata-se de um subtipo do crime de 
calúnia previsto no caput. Se o crime for cometido na presença de várias 
pessoas ou por meio que facilite a divulgação da calúnia, haverá a incidência 
de uma causa especial de aumento de pena de um terço (artigo 141, III). 
 Por fim, releve-se a questão da exceção da verdade. A exceptio 
veritatis é um incidente processual, mediante o qual o réu no processo de 
crime de calúnia pretende provar a veracidade do crime atribuído ao 
ofendido, de modo que restando comprovada a veracidade da imputação, a 
ofensa passa a inexistir, uma vez que foi excluído o elemento normativo do 
delito, passando o fato a ser atípico (CAPEZ, 2005: 243). A exceção da 
verdade é, conforme a lei penal, a regra, de forma que é facultado ao agente 
provar que realmente o excepto é culpado em relação àquele crime que lhe é 
imputado. É inadmitida a exceptio veritatis nas seguintes hipóteses: 
 a) Se o fato imputado for crime de ação penal de iniciativa privada e 
o ofendido não foi condenado por sentença definitiva sobre o assunto, 
condenação irrecorrível portanto. Por exemplo: A imputa fato criminoso 
cometido por B contra C, A ao responder por crime de calúnia pretende 
provar que a imputação é verdadeira, no entanto como cabia a C propor a 
ação penal de iniciativa privada, A nada poderá fazer, porque C não propôs a 
ação; 
 b) Se o fato é imputado ao Presidente da República ou a chefe de 
governo estrangeiro [4]; 
 c) Se do crime imputado, embora de ação de iniciativa pública, o 
ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível. Em outras palavras: se A, 
em processo contra si, é absolvido e a sentença transitou em julgado, B, ao 
lhe imputar o mesmo fato definido como crime não poderá alegar a exceptio 
veritatis, uma vez que prevalece o princípio da imutabilidade da res 
iudicata. 
 
DIFAMAÇÃO 
 Difamar, conforme o artigo 139, é imputar a alguém fato ofensivo à 
sua reputação. NUCCI (2005: 564) nos esclarece que difamar é, em outros 
termos, "desacreditar publicamente uma pessoa, maculando-lhe a 
reputação". É preciso observar que a descrição feita pelo legislador trata de 
fato que ofenda a reputação, e não de qualquer fato inconveniente ou 
negativo. Algumas conseqüências devem ser apontadas: 
 a) Os fatos previstos como crime, configuram o tipo penal de 
calúnia, desde que presente a elementar falsamente; 
 b) Os fatos previstos como crime, configuram o tipo penal de 
difamação, desde que sejam verdadeiros; 
 c) Os fatos previstos como contravenções, verdadeiros ou falsos, 
configuram o tipo penal de difamação. 
 É preciso deitar os olhos sobre o artigo 139, de modo a notar que, 
assim como na calúnia,o fato imputado à pessoa deve ser um evento 
delimitado no tempo e no espaço. Ou seja, é necessário que o agente faça 
uso de dados descritivos de, pelo menos, lugar (espaço) ou tempo. Com isso 
se quer dizer que a imputação de fato não se pode apresentar como mero 
insulto, devendo ser determinada pelo menos quanto ao lugar ou quanto ao 
tempo. Chamar pessoa de caloteira constitui injúria, ao passo que espalhar o 
fato de que ela não cumpriu o contrato em relação aos seus credores quando 
do vencimento de sua dívida no dia tal, do mês tal constitui difamação 
(NUCCI, 2005: 565). 
 O agente atribui, portanto, a uma pessoa um fato ofensivo à sua 
reputação. Assim, vale observar que a ação nuclear do tipo penal é difamar. 
Trata-se de crime de ação livre, que pode ser praticado por qualquer meio, 
ressalvando-se a hipótese do emprego de meios de informação, o que 
constituirá crime previsto na Lei de Imprensa, ou no uso de propaganda 
eleitoral, em que o fato será enquadrado no Código Eleitoral, além de outros 
casos previstos nas leis extravagantes. 
 No que se refere ao elemento reputação, deve-se saber que a 
reputação de uma pessoa é aquilo que concerne à opinião de terceiros em 
relação aos atributos físicos, intelectuais e morais de alguém. É patente o 
fato de que a difamação repousa sobre a honra objetiva do ofendido, de 
modo a bastar que terceiro tome conhecimento do fato determinado 
imputado à vítima para que o crime sob comento seja consumado. Portanto, 
via de regra, a tentativa não é admitida neste tipo de crime, a não ser que a 
difamação seja praticada por meio escrito, excluídas as hipóteses de 
incidência de leis especiais. 
 O crime de difamação só é admitido na forma dolosa, mesmo porque 
o ofensor tem de cometer o crime assumindo o risco de vir a ser processado 
por isso. Ademais, fica muito difícil, para não dizer impossível, que na 
prática alguém difame por imprudência, imperícia ou negligência. Observe, 
pois, que deve existir a vontade de ofender, de denegrir a reputação do 
indivíduo – animus diffamandi. 
 Como se trata de crime comum, qualquer pessoa pode ser sujeito 
ativo do crime de difamação. Note bem que, o legislador não previu a 
propalação e a divulgação no crime de difamação. Contudo, a doutrina 
majoritária, de acordo com CAPEZ (2005: 250) firmou o entendimento de 
que o propalador/divulgador comete nova difamação. Por exemplo: caso seja 
de Caio a difamação original imputada a Tício e Mélvio resolve, conhecendo 
ou não Caio, propalar ou divulgar a difamação, Mélvio incorre em 
difamação. 
 Quanto ao sujeito passivo, em tese admite-se que pode ser qualquer 
pessoa que possa cometer crime. Disto, tem-se três situações importantes: a 
do menor, a do doente mental e a da pessoa jurídica. 
 Entendemos que menores de dezoito anos e doentes mentais podem 
ser sujeitos passivos do crime de difamação, desde que o menor ou o doente 
mental tenha capacidade de entender o caráter ilícito do fato e determinar-se 
de acordo com esse entendimento. Assim, deve-se analisar se o menor e o 
doente mental têm condições físicas, psicológicas, morais e mentais de saber 
que está realizando um crime. Mas não é só. Além dessa capacidade plena 
de entendimento, deve ter totais condições de controle sobre sua vontade. 
 No caso de pessoas jurídicas, consideramos que, é possível sim que 
elas sejam sujeitos passivos no crime de difamação, isto porque a pessoa 
jurídica goza de reputação no meio social. O Superior Tribunal de Justiça já 
se posicionou a respeito em sua Súmula 227: a pessoa jurídica pode sofrer 
dano moral. 
 A difamação contra os mortos não é punível, uma vez que o 
legislador não previu, de modo que é descabível a analogia ou a 
interpretação analógica. Mesmo porque, se houvesse analogia, configuraria 
analogia in malam partem, o que o sistema penal brasileiro, via de regra, 
não permite. 
 Por fim, releve-se a questão da exceção da verdade. Como já 
dissemos tanto faz se o fato imputado é verdadeiro ou falso, de modo que, 
em regra, não é admissível, no caso de delito de difamação, a exceptio 
veritatis. CAPEZ (2005: 249) lembra que não há interesse social algum em 
se averiguar a veracidade do fato, haja vista que a imputação não é pela 
prática de um crime. A exceção, isto é, é admitida a exceptio veritatis 
quando há a imputação de fato ofensivo à honra do funcionário público, 
relativo ao exercício de suas funções, isto porque há interesse social em 
fiscalizar a conduta moral do servidor público. Portanto, a exceptio veritatis 
não é admitida como regra na difamação porque é indiferente que o fato seja 
verdadeiro ou não. 
 
INJÚRIA 
 O delito de injúria encontra-se previsto no artigo 140, o qual 
prescreve que a injúria consiste na ofensa dirigida à dignidade ou ao decoro 
de outrem. A injúria, em seu aspecto básico, isto é, aquele previsto pelo 
caput do artigo supramencionado é, das modalidades de crime contra a 
honra da pessoa, o menos grave, como se pode observar da previsão de sua 
pena em abstrato: detenção de um a seis meses ou multa. 
 Há que se observar, contudo, que o Código Penal trabalha com três 
espécies de injúria: a injúria simples, a injúria real e a injúria preconceituosa. 
A injúria preconceituosa é, dos crimes contra a honra da pessoa, o mais 
grave de todos. Deve-se observar a proporcionalidade entre as penas, uma 
vez que a pena cominada em abstrato à injúria preconceituosa é mais grave 
que a de homicídio culposo; enquanto neste a pena em abstrato é de um a 
três anos de detenção, naquela a pena em abstrato é de um a três anos de 
reclusão e multa. NUCCI (2005: 571) bem afirma que, comparando-se 
singelamente a pena fixada em abstrato para a injúria preconceituosa e a 
pena fixada em abstrato para os outros crimes, há uma certa 
desproporcionalidade. Contudo, e é aí que concordamos com o autor, "há 
épocas em que o Estado vê-se levado a punir de forma mais grave certas 
condutas, que estão atormentando mais severamente e com maior freqüência 
a sociedade". 
 Observe-se que não há que se fazer confusão entre o delito de injúria 
preconceituosa com os crimes de racismo – tipificados na Lei nº 7.716/89. A 
referida lei trata de condutas obstativas, enquanto que o Estatuto Penal trata 
acerca de condutas ofensivas. Portanto, chamar um indivíduo de "macaco" é 
injúria preconceituosa caracterizada pelo elemento raça, e não crime de 
racismo – racismo seria proibir a entrada de negros em determinado 
estabelecimento de ensino. 
 De boa monta, para deixar tal assertiva mais clara, faz-se transcrever 
duas explicações: 
 "Esta figura típica foi introduzida pela Lei 9.459/97 
com a finalidade de evitar as constantes absolvições que 
ocorriam quanto às pessoas que ofendiam outras, através de 
insultos com forte conteúdo racial ou discriminatório, e 
escapavam da Lei 7.716/89 (discriminação racial) porque não 
estavam praticando atos de segregação. [...]. Assim, aquele 
que, atualmente dirige-se a uma pessoa de determinada raça, 
insultando-a com argumentos ou palavras de conteúdo 
pejorativo, responderá por injúria racial [...]" (NUCCI, 2006: 
567) 
 "[...] qualquer ofensa à dignidade ou decoro que 
envolva algum elemento discriminatório, como, por exemplo, 
‘preto’, ‘japa’, ‘turco’ ou ‘judeu’, configura crime de injúria 
qualificada. Se, porém, a hipótese envolver segregação racial, 
o crime será de racismo (Lei n. 7.716/89) [...]" (CAPEZ, 
2005: 265). 
 A diferença é essencial, uma vez que, de acordo com o artigo 145, a 
ação penal pública do delito de injúria preconceituosa é de iniciativa 
privada, enquanto a ação penal pública do crime de racismo é de iniciativa 
pública incondicionada. Quanto a isto não hácrítica a se fazer, porque as 
penas previstas na Lei nº 7.716/89 são, em abstrato, maiores que a de injúria 
qualificada pelo preconceito. A crítica da doutrina direciona-se para o fato 
de o legislador dar com uma mão e tirar com a outra; como afirma 
BITENCOURT (2003: 387): a conduta foi criminalizada, mas a ação penal 
continuou sendo de iniciativa da vítima, e não obrigatória, como deveria ser. 
 Há, também, a injúria real, cuja pena não se compara, integralmente, 
à pena abstrata do delito de difamação como dizem alguns doutrinadores. Se 
formos considerar que a injúria real foi cometida com vias de fato, as penas 
abstratas seriam as mesmas (a pena das vias de fato é absorvida pela pena de 
injúria); mas há, ainda, a injúria real cometida com lesão corporal, em que a 
pena em abstrato varia de três meses a um ano, cumulada com multa e com a 
pena correspondente à violência praticada contra outrem. 
 Costuma-se questionar se é possível a cumulação entre injúria real e 
injúria preconceituosa. A resposta é negativa, haja vista inexistir 
compatibilidade entre as espécies delituosas. O que pode haver é a 
cumulação material entre a injúria preconceituosa e a lesão corporal. 
 Tratando-se a respeito dos elementos gerais do delito de injúria, isto 
é, analisando o caput do artigo 140, teremos que a conduta típica e nuclear 
consiste em injuriar uma pessoa qualquer, de modo a ofender-lhe a 
dignidade ou o decoro. Note que não são imputados fatos precisos, e sim 
atribuídas qualidades negativas, de modo que a honra atingida aí é aquela 
denominada honra subjetiva – basta lembrar que fazem parte da honra 
subjetiva ou individual a dignidade e o decoro. O Código Penal faz uma 
distinção ociosa entre dignidade e decoro: a dignidade seria o sentimento 
que o próprio sujeito tem de seu valor social e moral, enquanto que o decoro 
tocaria a sua respeitabilidade (BRUNO, 1979: 301; PRADO, 2006: 272). 
 Por se tratar de crime que atinge a honra subjetiva do indivíduo, a 
consumação se dá quando o ofendido da ofensa toma conhecimento. A 
tentativa é admitida, assim como nos crimes de difamação e de calúnia, 
quando se tratar de injúria escrita. 
 Por ser um crime comum, o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa 
física, o mesmo ocorrendo para a questão do sujeito passivo. Note-se que, 
como a pessoa jurídica não possui honra subjetiva, ela não pode figurar 
como sujeito passivo do crime de injúria; em outras palavras: não se pode 
injuriar pessoa jurídica. Quanto aos menores e aos doentes mentais, há que 
se avaliar se eles possuem a capacidade de discernir a ofensa, ou seja, não há 
injúria caso o menor ou o doente mental não se sentir menosprezado, uma 
vez que não compreende a natureza da ofensa (PRADO, 2006: 273). 
 O Código Penal não prevê sanção para a injúria contra os mortos. 
Entretanto, afirma PRADO (2006: 273) que se a ofensa refletir sobre os 
parentes do de cuius, haverá injúria punível. A Lei de Imprensa (nº 
5.250/67) declara que são puníveis a calúnia, a difamação e a injúria contra a 
memória dos mortos. 
 O delito de injúria só é admitido na forma dolosa (consciência e 
vontade de ofender a dignidade ou o decoro de terceiro), mesmo porque é de 
difícil configuração a forma culposa: imagine cometer-se injúria mediante 
negligência, imperícia ou imprudência – a situação é difícil, para não se falar 
impossível. O dolo de injuriar pode ser direto (quando o agente assume a 
vontade de produzir o resultado) e pode ser eventual (quando o agente sabe 
que o resultado é possível, mas não assume o risco de o produzir). Vejamos 
um exemplo de dolo eventual de injuriar: Tício conversa com Mélvio que é 
muito seu amigo e atribui uma qualidade negativa a Caio, chamando-o de 
mau-caráter; Caio, contudo, vem a saber, por meio de Mélvio que Tício o 
chamou de mau-caráter – houve a injúria, mas Tício não assumiu o risco de 
a produzir, uma vez que não contava com a indiscrição de Mélvio. 
 Há que se verificar ainda que o delito de injúria não admite a 
exceptio veritatis, mesmo porque a falsidade da ofensa não é elementar do 
tipo penal em epígrafe. Desta feita, mesmo que a qualidade negativa 
atribuída a outrem seja verdadeira, haverá o crime de injúria. 
 Por fim, há que se tratar do perdão judicial presente no § 1º, do artigo 
140. Vejamos ipsis literis: o juiz pode deixar de aplicar a pena: I – quando o 
ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria; II – no caso 
de retorsão imediata, que consista em outra injúria. Há aquelas pessoas que 
têm o dom de irritar as outras com o seu comportamento e com as suas 
palavras, são o que a cultura popular chama de chatos profissionais. 
 Observe-se que em hipótese nenhuma nos referimos à inexistência 
do delito, e sim à possibilidade de o magistrado deixar de aplicar a pena, em 
um dos dois casos previstos pela lei. O perdão judicial, vale recordar, é 
causa extintiva da punibilidade do agente (artigo 107, IX). 
 A provocação direta e reprovável da injúria atua, nas palavras de 
NUCCI (2005: 569), como uma hipótese semelhante à da violenta emoção, 
seguida por injusta provocação da vítima: "aquele que provoca outra pessoa, 
indevidamente, até tirar-lhe o seu natural equilíbrio, pode ser vítima de uma 
injúria", e esta injúria não será punida pelo Estado. 
 A segunda hipótese é a da retorsão imediata, desde que consista em 
outra injúria, ou seja, uma injúria é rebatida com outra injúria: há um revide 
imediato. Ao contrário, se a retorsão não for imediata, não há que se falar 
em perdão judicial. Portanto, como corretamente diz CAPEZ (2005: 261): só 
se aceita esta hipótese no caso de injúria verbal. Não se pode confundir a 
retorsão com a legítima defesa: na retorsão, já houve a consumação do 
delito; na legítima defesa, a injusta agressão deve ser atual ou iminente. 
 
CAUSAS DE AUMENTO DE PENA 
 O Código Penal em seu artigo 141 prevê que, caso a injúria, a 
difamação e a calúnia sejam cometidas em pelo menos alguma das situações 
a seguir listadas, a pena cominada será aumentada de um terço. São 
situações: 
 Cometer crime contra a honra do Presidente da República ou de 
Chefe de Governo Estrangeiro. Tutelou-se a dignidade do cargo 
representativo de toda uma nação. Procurou o legislador sancionar de forma 
mais gravosa a conduta ofensiva dirigida ao representante maior da nação. 
Devido à elevada função ocupada, a mácula à honra individual do Chefe de 
Governo e/ou Estado pode vir a representar uma ofensa à coletividade 
representada por ele. Interessante notar que se a calúnia ou a difamação tiver 
motivação política, será aplicada a Lei nº 7.170/83 (Lei de Segurança 
Nacional), e não o Código Penal. 
 Cometer crime contra a honra de funcionário público, em razão de 
suas funções. A tutela aqui é dada à dignidade da função pública. 
HUNGRIA (CAPEZ, 2005: 268) afirma que "a causa da ofensa deve estar 
na função exercida pelo ofendido, e não em um ato qualquer que o ofendido 
haja praticado durante o exercício da função. É preciso que a ofensa se 
insira na função". Embora irrogada a ofensa em razão da função que era 
exercida, não haverá a majorante caso o ofendido não mais seja funcionário 
público. Caso a ofensa seja dirigida ao funcionário, na presença deste, o 
crime poderá ser o de desacato (artigo 331), dês que a ofensa diga respeito 
ao exercício da função pública. 
 Cometer crime contra a honra de outrem na presença de várias 
pessoas, ou por meio que facilite a divulgação. Trata-se de uma majorante 
que tem em vista a maior facilidade de divulgação das ofensas, de modo que 
os danos causados ao ofendido podem ser maiores. A doutrina é pacífica no 
que tange à presença mínima de três pessoas (quando a leise contenta com 
apenas duas pessoas, ela o diz expressamente), a fim de que se configure a 
majorante em epígrafe. É preciso observar os casos regidos pela Lei de 
Imprensa (nº 5.250/67), de modo que na divulgação mediante a imprensa 
não incidirá a majorante prevista no caput do artigo 141. Por fim, há se dizer 
que é suficiente o emprego do meio idôneo para que a majorante incida 
(CAPEZ, 2005: 269). 
 Cometer crime contra a honra da pessoa maior de sessenta anos ou 
portadora de deficiência, excetuando-se o caso da injúria, senão haveria bis 
in idem. O inciso IV oi introduzido no artigo 141 pela Lei nº 10.741/03 
(Estatuto do Idoso), de forma a dar maior proteção às pessoas maiores de 
sessenta anos e àquelas portadoras de deficiência. 
 Outra majorante é a que se encontra prevista no parágrafo único do 
referido artigo: se o crime é cometido mediante paga ou promessa de 
recompensa, aplica-se a pena em dobro. É uma causa de aumento que incide 
sobre a motivação torpe para o cometimento do delito. De acordo com lição 
de BITENCOURT (2003: 397-398), tanto o mandante quanto o executor 
devem responder igualmente pelo crime com a pena dobrada. 
 
CAUSAS DE EXCLUSÃO DO CRIME 
 O Código trata, em seu artigo 142, sobre causas específicas 
excludentes da antijuridicidade. A redação equívoca do artigo poderia nos 
levar a concluir que se trata de hipóteses em que será excluída a pena. 
Assim, confere-se a existência de divergência doutrinária acerca de tais 
causas serem excludentes de ilicitude, atípicas ou excludentes da 
punibilidade. Ficamos com o entendimento de BITENCOURT (2003: 397-
398), preferindo denominar as hipóteses de causas especiais de exclusão de 
crime. Complementa NUCCI (2005: 573) que "é possível que, em tese, 
exista um fato típico, consistente em injúria ou difamação, embora possa ser 
considerado lícito, porque presente uma das hipóteses previstas neste 
artigo". 
 É preciso notar que o delito de calúnia foi excluído, subsistindo 
apenas em relação aos delitos de injúria e de difamação as causas 
excludentes do crime. São, pois, hipóteses em que haverá exclusão do crime: 
 A ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por 
seu procurador. Trata-se da imunidade judiciária. Como afirma CAPEZ 
(2005: 271): "no embate judiciário, deve haver liberdade de argumentação, 
sem preocupação com melindres do suposto ofendido". Portanto, as ofensas 
relacionadas à discussão da causa, embora sejam típicas, não são 
consideradas condutas delituosas, sob pena de inibir o princípio 
constitucional da ampla defesa. 
 A opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica; 
salvo quando inequívoca a intenção de ofender. Todo autor que publica sua 
obra está sujeito à crítica, tanto favorável quanto desfavorável. O Estatuto 
Penal admite a crítica literária, artística ou científica; no entanto, tal 
admissão não é absoluta, de modo que restando comprovada a intenção de 
difamar ou de injuriar, não haverá a exclusão do crime. 
 O conceito desfavorável emitido por funcionário público, em 
apreciação ou informação que preste no cumprimento do dever do ofício. É 
sabido que o funcionário público, no exercício de suas funções, tem o dever 
de fazer relatos, dar opinião, transmitir informações. Todavia, bastantes 
vezes, para que haja fidelidade no relato dos fatos, faz-se preciso empregar 
termos ultrajantes, emitir conceitos desfavoráveis. 
 Neste último caso e no caso da imunidade judiciária, aquele que der 
publicidade às ofensas responderá por injúria ou por difamação. Disto 
decorre que as imunidades dos incisos I e III do artigo 142 são 
descriminantes de natureza pessoal. 
 
CAUSA EXTINTIVA DE PUNIBILIDADE 
 O artigo 143 do Estatuto Penal prevê a hipótese de que se o 
querelado, antes da sentença, retratar-se cabalmente da calúnia ou da 
difamação, haverá extinção de punibilidade (artigo 107, VI combinado com 
o artigo 143). DAMÁSIO (1998: 231) não concorda com o tratamento dado 
pelo legislador, para o famoso jurista "a retratação deveria constituir causa 
de diminuição de pena e não de extinção da punibilidade", uma vez que "por 
mais cabal seja a retratação, nunca poderá alcançar todas as pessoas que 
tomaram conhecimento da imputação ofensiva". 
 A retratação consiste em retirar o agente o que disse, o que só se faz 
possível nos crimes que atentem contra a honra objetiva (social) dos 
indivíduos, em que há imputação de fatos, interessando ao ofendido que o 
ofensor os declare inverídicos. Na injúria, a retratação não é possível, haja 
vista que a reconsideração do que foi dito pode implicar em prejuízos morais 
muito mais amplos dos que foram originariamente provocados. 
 De se observar que, se por um lado, os doutrinadores de direito penal 
explicam que como na calúnia e na difamação o que é ferido é a honra 
objetiva, ou seja, o conceito que a sociedade tem do indivíduo, pode haver 
retratação, a qual extingue a punibilidade (o Estado não vai poder aplicar a 
sanção penal cabível ao crime); no caso da injúria não há que se falar em 
retratação, porque o que se fere é a honra subjetiva, ou seja, o amor-próprio 
do indivíduo. Por outro lado, a nosso ver, depois de oferecida queixa, antes 
de haver sentença, pode haver perdão do ofendido ou perempção, ambas 
previstas no Código de Processo Penal. 
 A retratação é permitida porque, convenhamos, é muito mais útil ao 
ofendido que a condenação penal do ofensor. A retratação é ato unilateral 
que independe, pois, do aceite do ofendido – ora, não se trata de perdão do 
ofendido, o qual é ato jurídico bilateral, que depende do aceite do ofendido. 
Observe-se, também, que a retratação só é cabível nos crimes em que a ação 
penal é de iniciativa exclusivamente privada, não estando, pois, sujeitos à 
retratação os casos dos incisos I e II do artigo 141. 
 
PEDIDO DE EXPLICAÇÕES EM JUÍZO 
 Prevê o artigo 144 que se, de referência, alusões ou frases, se infere 
calúnia, difamação ou injúria, quem se julga ofendido pode pedir 
explicações em juízo. Aquele que se recusa a dá-las ou, a critério do juiz, 
não as dá satisfatórias, responde pela ofensa. O dispositivo é bem explícito: 
na dúvida, aquele que se sentir ofendido pode interpelar o possível ofensor, a 
fim de que este torne claro o que quis dizer: se houve realmente um crime 
contra a honra do que se sentiu ofendido ou se este entendeu errado o que 
aquele quis dizer. 
 Como a decadência do direito de queixa ou de representação se opera 
em seis meses, a partir do conhecimento do autor do possível crime, 
conforme explicita o artigo 38 do Código de Processo Penal, o pedido de 
explicações deve ser feito antes que o direito decaia. 
 
NOTAS 
 1.Interessante notar que a imputação de fato verdadeiro definido 
como crime não será, sob hipótese alguma, calúnia, podendo, contudo, 
constituir-se como delatio criminis, isto é, a comunicação da ocorrência de 
uma infração penal e, se possível, de seu autor, à autoridade policial, feita 
por qualquer do povo. Assim, poderá ser instaurado inquérito policial para 
apurar a materialidade do delito e a autoria do mesmo. 
 2.Neste sentido: MIRABETE (1998: 155); CAPEZ (2005: 236); 
NUCCI (2005: 561). Em sentido contrário: NORONHA (1977: 125). 
 3.Neste sentido: CAPEZ (2005: 237-238); BRUNO (1979: 276-278); 
NUCCI (2005: 561). Em sentido contrário: NORONHA (1977: 125); 
MIRABETE (1998: 154-155). 
 4.(NUCCI, 2005: 564): "Em contrário, manifesta-se Vicente Greco 
Filho, afirmando que essas restrições foram revogadas pela Constituição 
Federal de 1988, ‘tendo em vista a plenitude do regime democrático, no qual 
a verdade não admite restrição à suaemergência, qualquer que seja a 
autoridade envolvida’ (Manual de processo penal, p. 387)". 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte 
especial. 3.ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2003, volume 2. 
 BRUNO, Aníbal. Crimes Contra a Pessoa. 5.ed. Rio de Janeiro: 
Editora Rio, 1979. 
 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte especial: dos crimes 
contra a pessoa a dos crimes contra o sentimento religioso e contra o 
respeito aos mortos (arts. 121 a 212). 5.ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2005, 
volume 2. 
 JESUS, Damásio Evangelista de. Direito penal: parte especial: dos 
crimes contra a pessoa e dos crimes contra o patrimônio. 20.ed. São Paulo: 
Editora Saraiva, 1998, volume 2. 
 LISZT, Franz von. Tratado de Direito Penal Alemão. 1.ed. 
Campinas: Editora Russell, 2003, tomo II. 
 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal: parte especial 
– arts. 121 a 234 do CP. 13.ed. São Paulo: Editora Atlas, 1998, volume 2. 
 NORONHA, Edgar Magalhães. Direito penal. 13.ed. São Paulo: 
Editora Saraiva, 1977, volume 2. 
 NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado. 5.ed. São 
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2005. 
 PRADO, Luiz Régis. Curso de direito penal brasileiro: parte 
especial – arts. 121 a 183. 5.ed São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 
2006, volume 2. 
 
 
 
 
* bacharelando em Direito pelas Faculdades de Vitória (FDV), editor da Panóptica - 
Revista Eletrônica Acadêmica de Direito 
 
 
Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9413

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